quarta-feira, 9 de março de 2011

Aventura 20: Os Reis do Norte, Ano 493-494


É a primavera do ano de 493. Conde Roderick lidera os heróis e os Cavaleiros da Cruz do Martelo, Sir Alain, Sir Verius e Urco, seu cachorro. O grupo ruma para o norte deixando Kineton em chamas. Em estacadas, ao redor do assentamento saxão destruído, foram deixadas as cabeças dos bárbaros mortos, fincadas em lanças, servindo de alerta para os inimigos que tentarem descer rumo ao sul de Logres.

Dia 7:

FLORESTA DE SAUVAGE

A comitiva viaja discretamente à cavalo, em uma coluna dois a dois, margeando a estrada real. Ao meio dia o grupo entra em Sauvage. Está úmido e a medida que os dias passam e o verão se aproxima o calor na ilha vai se tornando mais intenso. A estrada para atravessar a floresta está deserta.

Sir Amig: “Nenhuma alma viva em léguas!”

Sir Alain: “Melhor mantermos os olhos abertos essa floresta deve estar infestada de saxões.”

A medida que avançam para o interior da mata o grupo se sente observado. Todos olham ao redor desconfiados. Urco late para algumas folhagens. Conde Roderick ergue a mão enluvada e eles param. Como se saíssem das árvores, rochas ou dos arbustos alguns druidas surgem. Eles pareciam perfeitamente encaixados na paisagem e são cinco. Um mais velho de meia idade e outros quatro com não mais que vinte verões. O ar se enche de pólen que flutua ao redor. Borboletas, vaga-lumes, que Sir Bag incomodado os afasta com as mãos, e o cheiro de flores invade o ar.

Eles não parecem os druidas que os Britânicos estão acostumados a ver normalmente pelas florestas e estradas. Eles tem orelhas pontudas e os seus mantos brancos, cheios de inscrições, sagradas estão decorados com folhas. Nas suas testas está tatuado o símbolo da deusa o símbolo máximo de Avalon, a tríplice lua. Eles carregam arcos e uma gladius com lâminas de folhas de prata na cintura.

Druida: “Olá Cavaleiros! Vocês vem da vila destruída. Porque o homem não aprende a dividir, não é? Aqui infelizmente vocês não poderão passar! Esta parte da Floresta Sauvage, por hora, é proibida. Ordens do Grão Mestre Druida que descansa sobe a terra. Ele disse que passariam por aqui. Eram amigos do Príncipe, não é?”

Todos concordam positivamente com a cabeça.

Druida: “Não deve ter sido fácil para vocês perdê-lo. Mas a morte foi somente para aquele que um dia foi chamado de Madoc um lampejo na existência. Cada vida, cada ciclo é tão rápido quanto uma batida de coração ou um piscar de olhos na roda da vida. Cumprimos a nossa função na teia de prata do destino e então é hora de partirmos, seguir em frente e tecer novos fios mais fortes e mais interessantes. Imortais! Todos somos meus amigos!”

Ele faz uma pausa enquanto uma borboleta pousa em seu ombro.

Druida: “Uma mulher jovem, descendente do povo antigo mora aqui. Ela é do meu povo. Somos seres da floresta e sempre vivemos em harmonia ao lado das fadas. O Príncipe sempre explorava a floresta Sauvage em busca de seus mistérios e a conheceu. Os dois se apaixonaram. A alma de Madoc foi embora mas ele deixou uma parte sua para trás. Uma criança, um menino e ele está sobe nossa proteção. Só Merlim poderá permitir que alguém o veja. Agora vão em paz, um dia os seus destinos poderão se cruzar.”

Eles se fundem na paisagem novamente. Por um segundo os heróis parecem terem visto uma criança vestida de marrom e verde, muito parecida com Madoc, correndo por entre as árvores e sorrindo. Ela tem orelhas pontudas e carrega uma espada de madeira na cintura. Eles continuam a viajar pela floresta até que em meio à uma clareira, na beira de um rio, surge um castelo à distância.

Conde Roderick: “Castelo de Lambour Senhores! Sir Lote nos receberá com uma bela refeição quente e camas com lençóis limpos. Vamos!”

Sir Bag: “Já era hora!”

Então junto à margem do rio eles seguem em direção à construção de pedra. Há alguns quilômetros do Castelo dão de cara com uma cena triste. Existem três corpos pendurados em um grande salgueiro. Um homem, uma mulher e duas crianças. Eles usam roupas caras de nobres em farrapos e seus corpos já estão em avançado estado de putrefação.

Sir Amig: “Senhores deixem me apresentar Sir Lote e sua bela família!”

Examinando com mais cuidado eles vêem no alto das torres do castelo o estandarte enorme com o lobo com os dentes à mostra desenhado e as gotas de sangue.

Sir Bag: “Octa!”

Conde Roderick: “Melhor não nos aproximarmos mais. Devem existir sentinelas por aqui! Leicéster mais ao norte era uma cidade comercial antes da invasão. Provavelmente também foi tomada. Lá tem um porto fluvial para carga e descarga de mercadorias que vão para o norte. Chegaremos ao anoitecer e tudo que precisamos fazer é pegar um barco para Eburacum. Vamos!”

Anoitece e eles cavalgam silenciosamente e logo saem da floresta. A estrada sobe pelas pequenas colinas à frente. Do alto de uma delas eles vêem as tochas de Leicéster. É logo após ao pôr do Sol e as primeiras estrelas surgem no céu. Alguns homens, carregando algumas lebres abatidas, surgem perpendicularmente à estrada. São quatro. Dois deles tem lanças e os outros dois levam espadas.

Eles vêem o grupo se aproximar. Não parecem desconfiar de nada no escuro. Até que há uns três metros eles percebem que os heróis não são Saxões. Eles olham aterrorizados, jogam as caças, retiram as armas e começam a correr de volta para a cidade. Enrick parte em carga acompanhados por Algar, Marion e Sir Amig. Enrick cavalgando Hefesto passam por cima de um dos saxões quebrando ossos e o mutilando com os cascos do grande cavalo de batalha. Marion usando da velocidade de seu cavalo atira com o arco com precisão. O caçador inimigo cai flechado nas costas e o cavalo da filha de Avalon o atropela enquanto Algar atravessa o seu inimigo, com a lança, arrancando lhe a vida. Sir Amig contorna lateralmente o saxão em fuga e atravessa o cavalo em sua frente. O bárbaro tromba com o lombo do animal e cai sentado. Sir Amig saca a sua espada e se abaixa da sela atravessando o peito do inimigo que estrebucha e morre. Os corpos ficam jogados, contorcidos pelo caminho. Urco ainda morde a perna de um deles o sacudindo.

Sir Verius: “Deixe disso rapaz! Venha!”

Então eles seguem em direção à cidade. As tochas do lugar refletem na água do Rio Trent. Quando se aproximam eles podem ver por entre as árvores o porto de madeira. Existem quatro barcos atracados. Logo à frente uma corrente bloqueia a passagem do rio de uma margem até outra. Leicéster era uma cidade sem muros bem próspera, devido ao porto, com ruas de paralelepípedos e suas casas coloniais. Mas agora, depois do ataque, elas estão todas remendadas com barro e palha. Muitas estão abandonas outras totalmente queimadas. Os escudos redondos estão colocados nas fachadas das casas por toda a parte e a igreja virou um salão para banquetes. As duas tavernas estão entulhadas de bêbados e as mulheres da cidade foram mantidas cativas para servirem de prostitutas ao invasor.

Sir Amig: “Garotos! Temos um problema. Precisamos de mais dez homens para os outros remos. Sir Alain sabe conduzir um barco. Então temos que roubá-lo, retirar a corrente e zarpar para longe daqui bem rápido. Alguém tem alguma ideia de como vamos fazer isso?”

Algar: “Vamos fazer como estes saxões malditos. Entramos na cidade e capturamos alguns deles. Prendemos os desgraçados aos remos e está feito.”

Conde Roderick: “Muito bem! Se espalhem! Se cada um capturar um bárbaro teremos o número de remadores necessário.”

Então os heróis se dividem e cada um usa uma das três entradas da cidade. Marion usando as sombras da noite e se esconde atrás de um barril. Enrick se movimenta rápido e entra em uma ruína de uma casa escura. Algar veste sua pele de urso e oculta seu rosto com ela. O Barão disfarçado perambula pelas ruas procurando a sua vítima.

Marion espera. Então surgem dois saxões. Rapidamente a guerreira celta lança a sua boleadeira. A corda com as duas bolas nas extremidades assobia cortando o ar até que se enrola nas pernas do bárbaro o derrubando. O outro saca a sua adaga e se aproxima do barril e o chuta. Marion atrás salta quando ele lhe golpeia. Ela é tão rápida que utiliza suas duas adagas perfurando as laterais do tronco do saxão que com um grunhindo e se esvaindo em sangue morre. O homem imobilizado pela boleadeira leva um chute no rosto e fica inconsciente.

Enrick de dentro da casa observa vários saxões passarem. Quando um deles passa sozinho, carregando uma rede de pesca, Enrick atira uma pedra próximo à ele. O homem fica curioso e caminha para dentro da ruína. Ele saca a sua espada. Mas logo perde o interesse e decide sair. Então Enrick finge um choro e o homem retorna. Enrick, na escuridão, lança uma pedra, outra e mais outra. Elas atingem o rosto e a testa do bárbaro que desaba desmaiado.

Algar disfarçado com a sua pele de urso anda tranquilamente pelas ruas. Alto e barbado e de origem nórdica Algar passa tranquilamente por um saxão. Logo um deles se aproxima do Barão.

Saxão: “Hello man! Who are you! Do you have some drink?”

Algar: “Yes! Just follow me.”

Algar vai andando até a entrada de um beco e empurra o saxão lá pra dentro.

Saxão: “Where are you from?”

Algar: “I'm from Hell motherfucker!”

Então Algar enfia vários socos, no meio do rosto do bárbaro e uma cabeçada forte, levando o homem ainda surpreso a cair nocauteado.

Do outro lado da cidade Enrick arrasta o saxão enrolado na rede de pesca que o homem levava.

Próximo dali Marion usa a roupa de um dos bárbaros e leva o homem inconsciente dentro de um barril rolando pelo caminho. Desconfiados, pelo tamanho pequeno da guerreira, dois bárbaros se aproximam.

Saxão: “Who are you? You are so small for a warrior.”

Marion não responde nada.

Saxão: “I'm talking with you! Let´s drink this fucking barrel.”

A guerreira continua sem responder nada e a rolar o barril com o homem dentro. Ela tropeça algumas vezes fingindo-se de bêbada. O Bárbaros dá de ombros.

Saxão: “So drunk e so small!”

E finalmente o guerreiro saxão deixa Marion em paz.

Algar finge estar abraçado ao homem inconsciente e atravessa as ruas da cidade cumprimentando os bárbaros bêbados sem ser perturbado.

Quando eles retornam próximo ao porto, levando os homens capturados, vêem Sir Bag se movimentando com as costas nas paredes olhando para os dois lados da rua. O Cavaleiro se nenhuma sutileza derruba um barril. Assustado se encosta na parede novamente. Por sorte não chama atenção. Então o grandalhão entra em um beco escuro. Um grupo de três homens passa. Os heróis observando tudo do escuro escutam uma voz fininha vindo de lá. “Hello!” “Hey!” Os homens se cutucam e sorriem satisfeitos e entram no beco. Três sons secos ecoam do beco. Logo Bag sai lá de dentro com os três homens arrastados. Ele sorri sem um dos dentes para seus amigos que riem baixinho para não chamarem à atenção. No ponto de encontro Sir Amig ainda luta com um homem bem maior que ele e os outros cavaleiros assistem rindo. Três saxões amarrados com as mãos para trás e com panos enfiados nas bocas estão de joelhos com os rostos cheios de hematomas trazidos pelos outros cavaleiros.

Conde Roderick: “Seu pai tem mania de grandeza Marion.”

Marion: “Sempre teve Conde.”
Sir Amig: “Não se metam! Se tocar nessa flecha Enrick te corto o pinto!”

E leva mais um soco no meio do rosto. Sir Amig e o Saxão estão cambaleando um tentando acertar o outro até que o saxão dá um empurrão em Amig. O cavaleiro veterano cai nos ombros de Enrick.

Sir Amig: “Nunca te pedi nada genro. Você pode gentilmente me arremessar contra esse filho da puta. Ah, e filha me empresta uma adaga.”

Sir Amig é lançado e bate com força no saxão sem armadura e cai sentado diante do bárbaro de quase dois metros de altura. Bag passa tranquilamente, entre os dois, arrastando seus prisioneiros, larga um deles e dá apenas um soco na cara do bárbaro que desaba inconsciente. Sir Amig limpando o suor reclama.

Sir Amig: “Mas que droga Bag!”

Todos caem na risada.

Conde Roderick: “Estão todos aqui. Vamos para o porto e rápido!”

Aproximando-se do porto eles vêem os navios atracados em fila. No cais de madeira existem quatro sentinelas armados com lanças guardando a entrada ao redor de uma fogueira.

Sir Dalan e Algar vão pela barranca do rio usando a mata que existe na margem para se aproximar. Ao mesmo tempo Enrick e Marion disparam seus arcos. Rapidamente os homens são mortos. Dois por flechas. Um deles caindo em cima da fogueira e os outros dois surpreendidos pelo machado e pelas lâminas de Algar e seu primo.

Logo os cavalos são trazidos e os saxões capturados amarrados aos remos. O Barão joga um balde de água acordando os bárbaros cativos. Alguns deles tentam se manifestar mas o Barão os intimida com ameaças. Sir Enrick, ainda em terra, vai até a corrente logo à frente, esticada de uma margem à outra. Quando o Flecha Ligeira a remove, pisa em vários galhos secos, jogados no chão, chamando a atenção de um bando de saxões que conversavam e bebiam na borda da cidade. Logo eles gritam e uns duzentos bárbaros correm lá dentro para capturá-los. Ao mesmo tempo, vendo que não terão para escapar, o barco zarpa com Algar cortando as amarras do navio que se aproxima do arqueiro. Algar em um movimento desesperado lança um dos ganchos de abordagem para a margem. Sir Enrick se lança no ar e agarra a corda. Sir Bag e o Barão Algar puxam o Flecha Ligeira que sobe à bordo e beija Marion enquanto os saxões ficam para trás os xingando e os amaldiçoando.

Sir Jakin: “Vamos rápido! Remem! Precisamos nos mandar daqui!”

Então o barco desliza rápido a favor da correnteza, com Sir Alain no leme, passa por baixo da ponte de pedra e deixam para trás as luzes da cidade em meio a escuridão. Cai a madrugada. Conforme o barco avança eles vêem vários assentamentos saxões, iluminados pelas tochas, na beira do rio. Alguns homens, de sentinela, os cumprimentam da margem achando que são a tripulação de um barco bárbaro.

Dia 8:

Lentamente o sol surge no leste cobrindo de luz vermelha o horizonte. Eles continuam navegando rio acima. Passam por outros barcos menores. Sir Alain permanece atento, sempre olhando para frente. Faz uma manobra em uma curva do rio. Sir Amig fica quieto e cada vez mais branco. Ele vira para fora da murada e vomita.

Sir Amig: “Odeio barcos! Odeio saxões...”

Ele olha para frente e seus olhos parecem quererem saltar do rosto.

Sir Amig: “Odeio... Corredeiras!”

Sir Alain: “Recolher remoooos!”

O barco começa a pegar velocidade. Eles sentem o fundo da embarcação raspando nas pedras embaixo. São duas pancadas fortes. Na primeira o barco levanta da água. Eles prendem a respiração e tentam se agarrar onde podem. Então o barco bate a primeira vez. A proa do barco afunda e levanta com violência jogando água gelada. Marion rola por um dos bancos e bate as costas. Então a embarcação pula mais uma vez e quando cai o impacto é maior. Algar é arremessado com violência e voa por cima da murada caindo na água gelada. O peso de sua armadura o puxa pra baixo. Ele tenta respirar enquanto é carregado pela correnteza ao lado do barco. Os animais à bordo começam a ficar em pânico. E alguns se desprendem das amarras. O cavalo de batalha de Dylan rola pelo convés e cai pela proa na água.

Então a velocidade começa a aumentar. A corredeira desce ingrime e com mais violência que a anterior e o fundo cheio de pedras golpeiam o casco com violência. O fundo da embarcação bate e a madeira estala. Mais uma vez e outra. Tudo treme. Até que um pedaço do fundo é arrancado e a água começa a entrar.

Sir Dylan: “Rápido! Ajudem a tirar a água ou vamos afundar.”

Todos com os seus elmos tentam desesperadamente tirar a água que entra. Mas parece que nada é suficiente para impedir que o barco naufrague. Nas águas geladas Algar luta pela sua vida. Ele vai até o fundo do rio escuro e volta à tona enchendo o pulmão de ar novamente.

Então o barco começa a girar. Sir Alan rola pelo convés. O barco perde o controle. As armas e equipamentos correm por entre os bancos. Existem poucas pedras e o barco já não bate no fundo. Mas a descida do rio é íngreme e a velocidade da água na descida é de tirar o fôlego. Então surge uma cachoeira.

Sir Amig e Sir Bag se olham e falam juntos: “FUDEUUUUUU!”

A queda d´água deve ter uns três metros e meio de altura.

Marion: “Os cabos de abordagem Enrick! Rápido!”

Vencendo a força que os grudam na murada do barco em rotação Enrick e Marion giram as cordas e conseguem atirar dois ganchos de abordagem em duas árvores na margem. Então os ganchos se esticam e o tranco lança todos para a outra murada. Roderick bate a cabeça e abre um corte. Sir Jakin parece ter torcido um braço. O Barco fica de frente para a correnteza. As cordas vão fazendo barulho e se esticando ao máximo. Elas começam a desfiar e derrepente se arrebentam diante do pesado barco.

Sir Bag: “Eu quero a minha mãeeee!”

Sir Verius: “Se segurem! Nós vamos voar!”

Algar mais leve segue em frente e cai cachoeira abaixo. Ele desliza um pouco e logo sente o fundo do rio debaixo de seus pés. Cansado e encharcado o Barão se joga na margem de cascalhos.

Mas o barco ainda corre rápido em direção a queda d' água. Então quando chega na borda da cachoeira a proa do barco levanta vôo e vai caindo de ponta pra baixo até que se choca com a água. O impacto é tão grande que os cavalos rolam por cima dos bancos e caem na água. Todos os cavaleiros à bordo são arremessados para fora da embarcação. O barco afunda o bico e salta para fora da água se lançando no ar e caindo novamente. Então devagarinho, cheio de água, encalha na margem.

Os cavalos se levantam da água e trotam até a margem. Dois correm em pânico e desaparecem na mata próxima. Todos estão encharcados. Sir Bag cai de quatro no cascalho da margem cuspindo água e tirando um peixinho da cueca forrada de pelo. Sir Amig tosse enquanto Dylan lhe bate nas costas. Os outros se jogam de barriga pra cima ao lado do barco. Outros ficam sentados olhando para baixo pensando que podiam estar mortos. Os saxões estão feridos, alguns gravemente, com braços e clavículas quebradas por terem ficado fixos nos bancos e o peso dos cavalos rolado por cima deles.

Conde Roderick: “Esta foi por pouco! Recolha os cavalos que puderem Enrick. Marion ajude os feridos, inclusive está escória saxã. Algar, ajude Sir Alain a concertar o barco. Temos que reparar o fundo do barco e o mastro.”

Sir Amig: “Droga! Não temos idéia onde estamos.”

Enrick vai até aos cavalos e os retira da água. Vai reunindo os animais e se mete na mata atrás dos outros. Logo o Flecha retorna com eles. Infelizmente na margem, mais à frente, encontra o corpo do cavalo que pertencia a Dylan. Marion ajuda os feridos fazendo talas com galhos, estancando os cortes e socorrendo até mesmo os saxões. Algar e Alain procuram uma boa árvore e cortam o seu tronco. Isso leva algum tempo. Depois começam a reparar o barco avariado. Após meio dia, parado ali, já com o sol passado do meio dia, Conde Roderick reúne todos.

Conde Roderick: “Precisamos seguir em frente! Subam à bordo. Estamos correndo contra o tempo.”

Todos ajudam a empurrar o barco. Sir Enrick segue por terra, como tropeiro, guiando os onze cavalos. Logo encontram a barranca do rio no nível do convés e os animais são colocados no interior da embarcação. Logo eles seguem viagem. Alguns estão feridos e tremendo de frio. Por vezes tomam um gole de água do alforge e comem um pedaço de queijo com pão velho molhado. Mesmo assim a cada hora é necessário tirar a água do fundo do barco.

Sir Amig: “Não como nada sem pão! Mas esse está com gosto de rio sujo.”

Sir Alain: “Vejo que é descendente do povo do norte Algar. Acho que está na hora de aprender a manejar um barco. Mantenha sempre a proa reta corrigindo o leme. Não esqueça de usar o vento. Se soprar de lateral use o casco do barco como uma casca de noz gigante. De frente mande os homens remarem. Se o vento vier de trás use a vela para ganhar velocidade. Perceba Algar, os pássaros sempre estão no lado mais raso. É ali que eles ficam para pescar. Então navegue do outro lado.”

Sir Alain: “O comando é seu Algar! Vou dormir um pouco. Qualquer coisa me chame.”

Então o Barco é cercado por dois lados de floresta densa. Algar enxerga obstáculos à frente. São vários troncos secos boiando podendo se chocar com o casco. O Barão manobra bem e os desvia com tranquilidade. O barco vai navegando durante todo o dia. Eles passam por uma cidade e reconhecem os brasões das cidades. Primeiro Nottinghan, depois Newark. Então finalmente entram na região de Lindsey. Os Cavaleiros percebem que essas cidades estão todas cheias de saxões. As estradas também. E a maioria deles carregam escudos com o estandarte de Octa.

Ao redor a terra começa a se transformar em lama. Depois a água vai ficando mais negra e a vegetação com capins altos. O Pântano abafado os envolve completamente. O barco vai atravessando aquelas águas negras até que chega em um entroncamento entre os dois rios.

Conde Roderick: “Virar para a esquerda Algar!”

Sir Dalan: “Lembram desse rio? Foi aqui que Sir Amig foi rei por um dia.”

Sir Amig: “Meu reinado foi curto mais justo Conde!”

Enrick “Dois mil saxões, com sede de sangue, nos perseguindo até Lincoln. Foi um bom serviço que prestamos a coroa.”

Então ao amanhecer do nono dia de viajem eles vêem a cidade de Eburacum no horizonte, surgindo na embocadura do rio a enorme muralha romana. O brasão com a cruz vermelha e com os leões dourados ao longo do símbolo cristão tremula em cada sessão da muralha.

Algar: “Vocês não tiveram em Londres! É tão grande quanto!”

Enrick: “Esses arcos de pedras. Como não desabam? Eu não passo embaixo disso nem debaixo de uma chuva de machados!”

Marion: “Um lugar como este. Enorme! É uma agressão a paisagem e a natureza.”

Conde Roderick: “Senhores deixem lhes apresentar uma das maiores cidades britânicas. Eburacum, onde dez mil pessoas vivem dentro das muralhas. O rei Barant de Apres irá nos ajudar! Essa cidade é a nossa tábua de salvação.”

Sir Alain: “Algar, deixe eu manobrar o barco. Toque o chifre de ouro para anunciar a nossa chegada meu amigo.”

Quando o toque é dado os vigias, nas torres do Motte and Bailey, ficam em alerta. Sir Bag asteia o brasão do rei Uther e do Conde Roderick. Imediatamente o homem que está na torre autoriza a retirada da corrente que bloqueia o porto. O barco vai diminuindo a velocidade a medida que Sir Alain vai orientando os remos. Existem uns vinte outros barcos. Eles passam por eles e então atracam. O guarda do porto se aproxima.

Guarda: “Conde Roderick! Meu senhor! Seja bem vindo a Eburacum. Vejo que tem saxões à bordo. Agora estão aos cuidados da cidade. Esse guarda irá levá-los até a corte do Rei. Deixe Vossa Majestade decidir o que fazer com esses bárbaros.”

Conde Roderick se inclina positivamente.

EBURACUM:

Então o grupo de heróis descem no porto. Os Cavalos são levados para fora da embarcação por uma rampa de madeira e conduzidos por cavalariços reais. O porto está movimentado. Centenas de marujos andam de um lado ao outro. Barris com carne seca, enguias, tapeçarias, peles de foca, lontra e urso são trazidas aos montes. Alguns prestam reverência, outros nem dão importância para a presença dos Cavaleiros.

Sir Amig: “Terra firme graças aos deuses!”

Sir Bag: “Adoro o cheiro de cidade. Cheiro de gente, de esgoto e comida!”

Sir Dylan: “Parece que eles não tiveram problemas com as invasões. A cidade está indo muito bem. O porto está movimentado.”

Guarda: “Por favor mestres! Me sigam!”

Em meio aquela multidão eles deixam o porto e entram nas ruas da cidade medieval. Eburacum é uma cidade romana que ainda mantém o seu esplendor. As construções do antigo império são majestosas com palácios, casas enormes e fontes. As pinturas adornam tudo e as ruas pavimentadas com perfeição dão um ar de civilidade. Eles passam pela vielas entupidas de pessoas. Carroças cheias de sacos de mercadorias, frutas, carne, roupas e tudo que se possa comercializar circula pela cidade. As pessoas, na maioria moradores da cidade, se vestem com túnicas romanas e os aldeões que vêem até Eburacum vender seus bens são pessoas mais simples e se vestem mais como os celtas .

O grupo liderado por Conde Roderick vai caminhando pelas ruas largas e movimentadas até que chegam na praça central.

Sir Bag: “Que deuses construíram isso? Quanta frescura!”

Sir Amig: “Esses romanos eram uns filhos de uma cadela mas não me importaria de ter uma casa assim.”

Eles vêem as estátuas, as fontes brotando água sabe-se lá como e a água correndo em estradas para as casas. Todos ficam de queixo caído observando tudo.

A comitiva chega em frente ao palácio romano. Sobe uma dezena de degraus e passa por uma estátua enorme de bronze de um deus com uma lança representando o sol. Caminham por entre várias colunas e uma meia dúzia de centuriões e chegam no salão principal. O chão é de mármore vermelho e branco quadriculado. Estátuas de deuses formam um corredor. Então, dois soldados romanos, cada um de um lado da grande porta dupla de bronze abrem-nas. Lá dentro, em um trono elevado, em cima de uma espécie de altar de mármore com degraus, está um homem usando uma coroa adornada por louros de ouro e uma túnica roxa. Ele tem cabelos curtos grisalhos e está bem acima do peso. Deve ter uns 55 verões. O homem está tomando vinho e comendo uvas. Ao seu redor existem quatro soldados romanos. O teto está todo pintado com deuses e adornos angelicais enfeitam as laterais do teto. Vários escravos andam de um lado ao outro trazendo comida e limpando o salão.

Conde Roderick: “Prestem reverência cavaleiros!”

O rei parece com um ar superior e de desprezo. Sir Enrick, Marion e Bag divertem-se olhando as estátuas nuas apontando e rindo.

Conde Roderick: “Chega os três! Curvem-se! Grande Rei Barant de Apres. Aquele que Uther nomeou como o Rei Centurião. O Rei dos Cem Cavaleiros. É uma honra estar aqui senhor!”

Rei Barant: “Sim, sim. Conde Roderick. Pelo estado de seus homens e da distância de Sarum até aqui vejo que tiveram uma jornada sem precedentes. Eu me pergunto. Como chegaram vivos?”

Conde Roderick: “Com esses Cavaleiros em minha compania Majestade nunca há o que temer! São o orgulho de Logres! Tão corajosos quantos os seus centuriões.”

Rei Barant: “Sei... Então estes homens são os famosos Cavaleiros da Cruz do Martelo! Levantem-se e aproximem-se por favor. Pelo que sei você é o Barão Algar, estou certo? Conte-me! É verdade que matou Gorlois? E como foi tal ato heroico?”

Barão Algar: “Foi um mal necessário Majestade! Gorlois tinha acabado de ferir mortalmente nosso querido Príncipe Madoc. Não tive escolha. Arremessei minha lança e mandei o Conde da Cornualha para o outro lado do véu.”

Rei Barant: “Muito bem. E você? Plebeu e arqueiro de mão cheia! Sir Enrick Flecha Ligeira. O homem dos cavalos encantados! O arco mais ligeiro de Logres! Me diga... Qual o segredo para atirar tão bem?”

Enrick: “Ah, bem, hum. Mirar, puxar a corda e deixar a flecha voar até o alvo. Simples assim.”

Rei Barant: “Marion! Linda e letal! Exatamente como cantam os bardos! Como sabe os Romanos admiram as mulheres fortes. Parece que tem liderado os arqueiros de Roderick e não tem medo de nada. Mas, diga menina. O que a levou a escolher o caminho de uma guerreira em vez de fiar na roca, onde a maioria das mulheres deveriam estar?”

Marion: “Não acredito que as mulheres nasceram para ficarem na roca a vida inteira. Nem para servir. A Deusa é o maior poder da natureza e ela é a essência da energia feminina.”

Rei Barant: “Realmente letal.”

Conde Roderick: “Com licença Vossa Majestade! Venho em uma missão de Embaixador lhe pedir ajuda! Vimos que as terras de Sarum até aqui foram tomadas pelo Rei saxão Octa. Vimos tristeza e morte por todos os lugares. E devido ao nosso bom Rei Uther ter feito uma guerra para tomar a Cornualha estamos com nossos exércitos desgastados.”

Rei Barant: “Quero saber de seus homens, falem francamente! O que aconteceu com Uther? Parece que andou perdendo o juízo!”

Algar: “Majestade, que reis não cometem erros diante de tanta responsabilidade?”

Rei Barant: “Se fosse outros tempos lhe mandaria cortar a cabeça por esse comentário Barão.”

Conde Roderick: “Parece que a sombra dos saxões se move a cada dia em direção a Sarum e que iremos ser dominados. Sussex é território vizinho e a anexação de Salisbury significará que Logres se reduzirá a Cornualha e alguns territórios! Precisamos de sua ajuda senhor.”

Rei Barant: “Entendo! Seu Rei ficou louco! Enfraqueceu sua defesas por puro capricho. Deixou os saxões entrarem sem pedir licença e agora vocês querem que os ajudemos a limpar a merda que fizeram. Falando em merda. Primeiro, vão se limpar. Temos uma terma aqui no palácio. Não são só vocês que bateram em minha porta pedindo ajuda. Reunirei um conselho com os homens de outras regiões que estão aqui para decidirmos o que fazer. Por hora desfrutem da comida, dos quartos, das músicas e das escravas. Conversaremos em breve. Estão dispensados.”

Após todos se lavarem no banho romano são levados para um salão todo de mármore branco onde existem peles de urso pelo chão para que possam dormir. O aquecimento fica por conta de um fogo central que sai de um quadrado do chão. Escravos ficam o tempo todo de pé ali e servem leite, vinho, hidromel, sidra, frutas e comidas. Um bardo romano toca uma música suave preenchendo o ambiente. No teto uma deusa pintada, de pé, nua, coberta com os cabelos longos, em uma concha, acompanhada por um gato. Detalhes de folhas de louro, folhadas à ouro, adornam os cantos superiores das paredes.

Sir Bag: “Isso que é vida! Comida e mais comida!”

Sir Amig: “Tão te engordando Bag pra depois comer seu rabo. Isso sim! Estou é preocupado. O Rei não me pareceu muito empolgado. Não sei, tem algo aí. O que acharam dele?”

Sir Dylan: “Reis são todos iguais pai. Nariz empinado e muita cobiça! Quase igual a você!”

Sir Amig: “Pelo menos não sou afeminado e sou mais bonito que eles.”

Sir Verius: “Esse romano metido a besta deve estar pensando uma maneira de ganhar alguma coisa as nossas custas.”

Sir Dalan: “Não sei o que o Rei vai fazer. Mas não parecia animado com a nossa visita. Vocês não acham?”

Enrick: “Ele não foi nada amistoso.”

Sir Jakin e Urco já dormem em uma das peles no chão do salão.
Sir Alain: “Vocês não acham estranho essa cidade estar prosperando enquanto toda Logres cai em mãos bárbaras? ”

Algar: “Ou os saxões atacaram vindo de Kent, à leste, poupando o norte ou esses romanos estão aliados à eles.”

Conde Roderick: “É nossa única alternativa no momento homens! Espero não termos perdido tempo vindo até aqui. Agora descansem. Eu quero que dois de vocês fiquem acordados se revezando. Não sabemos ainda o que está acontecendo. Aproveitem, fazem dias que não dormimos direito.”

Os dias vão passando e nada de o Rei Barant aparecer ou marcar a audiência. Os heróis são livres para irem e virem na área destinada aos hóspedes no castelo. Mas por ordem de Roderick, conhecendo seus cavaleiros, para evitar confusões, eles não podem ir até a taverna nem participar de jogos ou bebedeiras com os locais.

Já é o meio do verão. Os dias estão lentos e cansativos. Até que em uma manhã, enquanto Enrick observa por uma das grandes janelas do palácio, um escravo e uma escrava, vestidos como romanos, chama sua atenção. Eles passam pelo jardim levando fenos para os cavalos. Enrick os reconhece imediatamente. É seu irmão Guodloiu de 12 anos e sua irmã Glesni de 17. Eles começam a tremer e a chorar quando vêem o arqueiro na janela, no segundo andar, do palácio romano.

Glesni: “Irmão! É um milagre!”

Um guarda centurião se aproxima.

Guarda: “Escravos não podem falar com as visitas. Não tem direito algum! Retirense!”

E os dois são levados pelo braço cada um por um centurião. Eles estão chocados olhando para o Flecha ligeira. Enrick fica louco, sai do grande salão de hóspedes mas é barrado por dois guardas romanos.

Roderick: “Calma Enrick! Na hora certa, na hora certa...”

O arqueiro sem ter como agir é obrigado a esperar.

A temperatura começa a diminuir nesta época do ano e o verão em breve acabará. Na manhã seguinte um arauto romano entra no salão onde eles estão fazendo a primeira refeição do dia.

Arauto: “Nobres! Hoje o Rei Centurião Barant irá mediar o conselho. Estejam prontos próximo ao meio dia!”

Conde Roderick: “Atenção cavaleiros. Algar, Enrick e Marion! São heróis conhecidos e chamaram a atenção do Rei por isso irão comigo. Amig, você também vêm! Iremos participar de uma reunião muito importante. Aqui vai ser decidido o futuro de Logres e de nossas famílias. Cuidado com a língua. Pensem muito bem antes de responderem se forem perguntados. Não sabemos quem vai estar lá por isso todo o cuidado é pouco.”

Então, levados por dois arautos reais eles se dirigem ao salão de audiências. Passam por alguns corredores de mármore decorados com colunas, estátuas e pisos pastilhados, formando imagens mitológicas, até que chegam na ante sala onde alguns guardas os aguardam.

Centurião: “Deixem suas armas aqui! Não são permitidas no conselho.”

Eles entregam suas armas. Marion mantém uma adaga oculta em sua bota que os centuriões não perceberam. Existem cadeiras forradas com peles dispostas em meia lua no salão de audiências. Ocupando o local de destaque, em um elevado de mármore no centro, está o trono do Rei. Barant está sentado no topo os aguardando.

Arauto: “Vossa Majestade, anuncio a presença de Conde Roderick e seus cavaleiros de Salisbury!”

Rei Barant: “Sejam bem vindos. Podem sentar!”

O Rei está entediado e com cara de poucos amigos. O Rei Barant e todo salão fica em silêncio.

Arauto: “Permitam me anunciar senhores! Rei Eurain das tribos dos Rheged das montanhas Pennine à leste de Carduel!”

Um homem vestindo um chale todo azul entra acompanhado de três guerreiros. Seus cabelos são vermelhos e ele manca de uma perna. Na cabeça ele usa uma coroa com uma águia de asas abertas. Nos braços muitos braceletes forjados com o aço das armas de seus inimigos derrotados.

Rei Eurain: “Bom dia à todos! Rei Barant, visitas de Salisbury. Vejo que Uther não quis se dar o trabalho de deixar a sua mulher bonita e vir até aqui, no fim do mundo, para participar do conselho.”

Os dois reis riem e o Conde Roderick fica com um sorriso sem graça.

Rei Eurain: “Então Roderick, são esses os famosos Cavaleiros da Cruz do Martelo?”

Conde Roderick: “Sim, Vossa Majestade!”

Rei Eurain: “Uther estaria morto uma hora dessas se não fosse por vocês! Espero que ele saiba reconhecer o que tem feito por ele. Me contem Cavaleiros! Como é essa tal rainha. Esta tal de Igrane?”

Enrick: “Ela é bela. Mas enfeitiçou o rei. Parece ter virado a cabeça de Uther.”

Rei Eurain: “Mulheres tem derrubado reinos a séculos. Parece que Uther não enxergou isso ainda.”

Arauto: “Senhores! O Duque Eustance de Cambenet recém chegado de Carduel!”

O Duque e o seu secto formado por mais quatro cavaleiros entram. Ele tem barba loira, usa um kilte marrom e botas de pele de urso. Veste uma camisa branca e por cima um colete de couro preto.

Duque Eustance: “Reis, Conde e Barão! Como vão? Mi ladie! Amig, quanto tempo! Você está velho”

Sir Amig: “Não foi o que o inimigo disse há alguns dias. Duque, continua jovem como antes. Jovem como leite fresco. Bem fresco mesmo!”

E todos riem ironicamente.

Conde Roderick fala baixinho: “Controle-se Amig!”

Arauto: “Nobres! Deixem-me anunciar Nentres, Rei de Garloth, vindo de Wandesborow.”

O homem entra. Ele é o mais velho de todos. Tem cabelos longos grisalhos e usa um manto vermelho por cima de uma camisa branca de mangas largas. Na cintura está presa a bainha de sua espada em um cinto de couro preto. No peito o símbolo de um leão bordado com fios de ouro. Na cabeça a sua coroa dourada cravejada de pedras preciosas. Seus homens sentam nas cadeiras próximas a eles.

Rei Nentres: “É uma honra participar de tão nobre conselho! Me lembro muito bem de vocês heróis de Salisbury quando estiveram aqui com o Rei Uther e aquela espada maravilhosa que o Barão presenteou o soberano de Logres.”

Ele vai se sentando.

Rei Nentres: “Por falar em espada. Parece que a gladius sagrada romana que tinha se perdido há alguns anos reapareceu. Um Romano parece andar nas fileiras bárbaras conquistando terras com ela. Dizem que é um homem completamente louco e sanguinário possuído por algo além da compreensão humana. E sempre acompanhado de uma mulher. Dizem que é uma bruxa. Acha que pode ser o famoso Sir Edgar, o louco, Barão?”

Algar: “Sir Edgar não tinha essa alcunha. Não acredito que seja ele.”

Rei Nentres: “E quer dizer que Uther está tão cheio de si que pode abrir mão de seus homens mais leias. Julgando-os. Caçando Merlim! E virando as costas para os deuses antigos?”

Todos ficam em um silêncio desconfortável no salão.

Rei Barant: “Apesar de algumas faltas me parece que podemos começar. Eu gostaria de iniciar o Conselho dizendo a todos os presentes que estamos aqui para discutirmos como agiremos em relação aos últimos eventos ocorridos na ilha.”

Conde Roderick: “Exato Majestades e Duque. Viajamos muito até aqui para lhes solicitar assistência. Não sabemos até que ponto resistiremos. Logres está tomada pelos Saxões e se eles receberem reforços no próximo ano. Não sei se resistiremos.”

Rei Nentres: “E você Barão o que tem a falar sobre isso?”

Algar: “Realmente estamos com problemas. Precisamos urgentemente de reforços.”

Rei Barant: “Isso nós sabemos! Os saxões tem nos invadido. Saqueado e pilhado todo o ano. Mas na verdade convoquei esse conselho não para discutirmos sobre isso. Mas sim, para tentarmos entender o que está acontecendo em Logres.”

Duque Eustance: “Todo o Reino sabe que o Rei Uther está doente e fraco. Todos sabem que ele perdeu o juízo. Está caçando Merlim que o ajudou tanto. Promoveu uma guerra sem objetivo algum para fornicar com uma mulher bonita. Que diabos ocorre na terra de vocês? Deixe eles falarem Conde. O senhor é por demais influenciável pelo seu rei. Flecha Ligeira, não é mesmo? Me diga, nos esclareça o que está ocorrendo?”

Enrick: “Tivemos problemas com Uther. Realmente ele perdeu a cabeça por Igrane. Mas Gorlois raras vezes lhe prestou assistência militar quando precismos atacar os invasores.”

Duque Eustance: “E vocês dois? O que tem a dizer?”

Algar: “Posso lhes assegurar que o Rei está bem. São boatos falsos sobre a sua saúde. Uther continua imbatível em campo de batalha e tem nossa lealdade.”

Marion concorda com um gesto de cabeça.

Rei Barant: “Quanto a ajuda solicitada para Logres eu diria ser difícil. Estamos ocupados combatendo com esses homens aqui no norte. Se o seu Rei não estivesse enlouquecido e enfraquecido toda a Britânia não teríamos todas essas invasões bárbaras.”

Conde Roderick: “E temos menos homens ainda lá. Com as cidades tomadas temos pouca comida para fornecer as nossas tropas.”

Rei Nentres: “O que vocês precisariam para defenderem Logres? E o que nos tem a oferecer?”

Algar: “Precisamos comida, soldados, cavalaria. E nós lhes oferecemos tempo. Enquanto combatemos no centro da ilha os reinos do norte podem se fortificarem e prepararem suas defesas para o ataque do inimigo enfraquecido por nós.”

Rei Barant: “Está certo, então agora retirem-se. Precisamos discutir o assunto. E depois lhes daremos o veredito! Aguardem no salão de hóspedes com os seus cavaleiros.”

Então eles retornam ao salão de hóspedes novamente. Conde Roderick conta aos outros cavaleiros o que ocorreu. Eles ficam preocupados. Sir Dylan está olhando por uma das janelas em arco, por entre o vitral colorido com o desenho da medusa gravado. De fora não dá para perceber quem olha lá de dentro.

Sir Dylan: “Olhem isso, rápido!”

Enrick, Algar e Marion vão atá lá e vêem dois homens cruzando o pátio e sendo recebidos pelos dois Reis que estavam no conselho e o Duque. Eles são bem rústicos. Estão acompanhados por vinte homens. Estão usando suas peles e armados. Em seus escudos estão pintados o lobo pingando sangue. São os saxões do Rei Octa. O líder dos homens chega e abraça os Reis e o Duque como amigos íntimos e aliados. O Rei Barant aponta para a janela onde os heróis estão. Eles riem. Todos sacam as suas armas. Rapidamente trinta centuriões juntam-se à eles sumindo em uma entrada à esquerda do salão de hóspedes.

Algar: “Rápido! Vamos fazer uma barricada!”

Sir Amig: “Eles são muitos. Precisamos sair rápido daqui! Esses homens vem nos matar!”

Conde Roderick: “Armas em punho homens! Estejam preparados. Os corredores são estreitos. Todos juntos. Precisamos achar as estrebarias e sair daqui.”

Sir Amig: “Bag, Algar e Verius na frente. Enrick e Marion com os arcos atrás. Roderick comigo e Alain. Retaguarda Sir Jakin, Dalan e Dylan.”

Sir Verius: “Urco! Na frente!”

Corredor:

Então o grupo de heróis sai pela parte do salão de hóspedes. Nos corredores tudo parece tranquilo. Um escravo entra no corredor, um rapaz novo. Ele derruba a bandeja que carregava.

Escravo: “Por favor! Não me matem!”

Ele se encolhe contra a parede enquanto os heróis passam. Lá embaixo o som das armaduras romanas, passos e gritos de soldados e saxões se aproximando ecoando no mármore do palácio.

Escada:

Eles viram para a direita e chegam em uma escada ladrilhada, verde água, com desenhos de ânforas. O corredor permite três pessoas lado a lado. As pessoas que estão caminhando ali, quando os encontram voltam assustadas.

Soldado Romano: “Parados! Alguém chame ajuda!”

Dois soldados no pé da escada recebem duas flechadas. Uma de Marion e outra de Enrick. Um no gorjal, com a placa de ferro protegendo o seu pescoço e o outro homem no ombro sendo jogado com o impacto do projétil na parede. O cachorro pula no rosto de um deles dilacerando a face de um deles que cego treme de dor e chora. Algar golpeia de cima pra baixo com o seu machado mutilando o outro centurião que cai com uma careta de dor se esvaindo em sangue.

Na retaguarda eles ouvem.

Sir Dylan: “Lá vem eles!”

Sir Dalan: “Escudos, escudos, são dois.”

O som das madeiras se chocando e do som de metal da luta ecoa nas paredes de pedra e o chão de mármore. Os romanos tem vantagem por estarem atacando de cima para baixo. Quando olham para trás os heróis vêem Jakin com os dois Manguais girando. Dalan com as duas espadas fazendo o mesmo e Dylan com a sua espada e escudo de cavaleiro em posição clássica de luta.

Sir Amig: “Isso é um combate, não uma apresentação de circo!”
Então Sir Dalan grita: “Respeitável”

Ele trava o braço do inimigo debaixo do seu ante braço.

Sir Jakin: “Público!”

Ele se desloca para o lado e com o esquerdo usa o Mangual para imobilizar o braço por trás do escudo do Romano.

Sir Dalan: “O Circo chegou!”

Dalan corta o ante braço do homem que cai gritando enchendo de sangue o mármore branco.

Sir Jakin: “Na!”

Jakin curvado com o Romano preso em seu Mangual esquerdo, gira o da direita acertando a bola cheia de espinhos na nuca do outro legionário que luta com Dylan, arrancando um grito horrível dele.

E Dylan completa.

Dylan: “Cidade!”

Abrindo a guarda e furando a traqueia do Romano que cai de joelho fazendo um barulho alto quando escudo, armadura e seu corpo desabam no mármore da escada formando uma trilha de sangue escuro rolando até lá embaixo.

Pátio Principal:

Então eles descem as escadas e chegam no pátio principal. Diversas pessoas da corte romana passeiam pelo jardim. Quando vêem os heróis celtas eles começam a correr. Vindos da ala sul do salão principal vinte guardas comandados por um oficial, todo de preto, formam uma parede de escudos romana. Com lanças e gladius.

Sir Amig: “Preparem-se! Parede de escudos! Ajam rápido ou logo chegarão mais homens!”

As duas pequenas paredes escudos trombam no gramado do pátio e começam a se empurrar. Os Cavaleiros da Cruz do Martelo atacam mas os romanos se protegem muito bem com os escudos. Os poucos golpes que furam a defesa dos centuriões quase não tem efeito. Marion se posiciona mais atrás e fere um dos romanos na perna com o seu arco. Outro ela imobiliza com a sua boleadeira. Ao mesmo tempo Algar e Enrick recebem alguns golpes fortes de lança e recuam. Um apito soa e os romanos avançam mais dois passos. Parece tudo perdido quando Urco dá a volta e os atacam pelas costas. Isso causa uma pequena confusão e a parede de escudos latina se desorganiza. Marion dá uma cambalhota e cai em cima de seu inimigo degolando com as adagas cruzando o seu pescoço. Enrick corre e faz uma carga derrubando no chão um de seus adversários. Ele desce o martelo sem piedade transformando o rosto do inimigo em ossos quebrados e cérebro manchando o gramado. Algar dá um passo à frente e choca a corte do palácio quando decapita a cabeça de um dos legionários.

Sir Verius e Urco lutam com outro Romano. Apesar de bem protegido, com o escudo quadrado, o centurião ataca com a lança de madeira com a ponta fina. Verius desvia o golpe. O homem golpeia novamente. O Celta apara a lança em seu escudo. Neste momento Urco contorna e vem por trás mordendo com toda força o calcanhar do legionário que cai prostrado. Verius lhe chuta no queixo e o homem cai de costas tentando se arrastar para longe enquanto suas pernas são dilaceradas pelo rotwailler. Verius pula em suas costas, cravando a ponta da espada, que o atravessa até furar a grama. Logo toda a parede de escudos romana é morta.

Eles olham e lá no segundo andar estão os saxões e os homens dos Reis e do Duque achando a sala vazia onde os heróis estavam. O comandante vai na janela e grita lá de cima: “Peguem-os!”

Salão Principal:

Conde Roderick: “Rápido para o salão principal!”

Os heróis sobem as escadas e entram no salão de audiências. Não existe ninguém ali. Somente as estátuas e a decoração suntuosa. Sir Bag fica olhando as estátuas nuas enquanto Marion grita com ele para seguirem em frente. Algar com o machado vai quebrando as bonitas estátuas romanas.

Sir Amig chuta uma porta: “Por aqui!”

Corredor Longo:

Ele entra primeiro, dois romanos se assustam e tentam sacar as suas espadas. Tudo é tão rápido que eles vêem os dois homens caírem ao mesmo tempo. Só depois que puderam perceber Sir Amig, em um mesmo movimento, empurrando a cabeça de um deles, que se arrebenta em uma estátua de Júpiter sentado em um trono. O Romano cai tremendo em espasmos com fraturas atrás do crânio. O outro cai com a garganta aberta, degolado com precisão cirúrgica em um golpe horizontal da esquerda para a direita .

Logo dão de cara com três escravos ali. São dois rapazes e uma menina. Eles levantam as mãos. Um deles fala.

Escravo: “O senhor é o Flecha Ligeira? O seu irmão disse que ia libertar a todos nós! Eles estão trabalhando na estrebaria! Por ali!”

Sir Dylan: “Rápido! Estão vindo mais deles! E parece... Que tem um Minotauro com eles!”

Conde Roderick: “Corram rápido!”

Estrebaria:

Eles chegam na estrebaria por uma porta. O chão do lugar é todo de palha e existem dezenas de divisórias onde os animais são guardados.

Sir Amig: “Bag e Algar! Bloqueiem as portas de madeira. Enrick e Marion achem os cavalos!”

Sir Enrick encontra a sua irmã e seu irmão limpando os cavalos. Guodloiu de 12 anos e sua irmã Glesni de 17

Guodloiu: “Irmão! Você veio!”

Glesni: “Eu sabia que não ia nos abandonar!

Eles se abraçam. Sir Enrick assobia e Hefesto derruba a porteira de sua baia e surge correndo. Quando chega até Enrick ele passa a cabeça em seu rosto.

A porta sacode com cada golpe. A lâmina de um machado gigante começa a dilacerar a madeira. Enrick, seus irmãos, Marion e os outros Cavaleiros começam a procurar e preparar seus cavalos. Rapidamente eles vão selando os animais. Mas na porta enquanto Bag e Algar lutam bravamente para manter o Minotauro e os centuriões para fora os golpes são tão violentos que os fazem recuarem a cada golpe. Então um grande pedaço de madeira da porta é arrancado. Um braço enorme entra e com o ombro ele despedaça a porta, explodindo lascas e pedaços da madeira para todos os lados. Os cavalos empinam, se assustam e correm para o fundo da estrebaria. Uma escrava escondida atrás de três barris é pega por uma mão da criatura e ela quebra em seus joelhos a espinha da garota usando seus cotovelos. Ela só dá um granido e morre instantaneamente com os olhos abertos.

Conde Roderick: “Preparar para o combate!”

Sir Jakin: “Parece que o Bag arrumou alguém maior que ele para mexer!”

Sir Amig: “Cerquem! Cerquem! Cuidado! Um golpe dessa coisa e estamos mortos!”

O Minotauro, com três metros de altura, entra espumando e girando o machado criando uma área de proteção. Com os olhos vermelhos olha para os heróis com ódio mortal. Enquanto isso Conde Roderick e os outros seis Cavaleiros se lançam ao ataque contra os quatro soldados romanos que os atacam.

Sir Bag: “Guri! Menina de ouro! Ajudem aqui! Vamos mandar esse filho de uma vaca pro inferno!”

O Minotauro é muito grande e lento. Ele ataca Sir Enrick primeiro. O grande machado passa raspando pela cabeça do Flecha Ligeira que se abaixa e aproveita para acertar o joelho da criatura que solta um grito gutural. Marion retira uma flecha de sua alijava e com destreza acerta o olho esquerdo do animal. Algar com o machado de duas faces golpeia com toda a força as costelas do Minotauro. O Barão sente os ossos do animal se quebrarem e ele cede caindo de joelhos. Sir Bag com um machado curto golpeia a espinha da criatura que geme e joga o grandalhão longe.

Em um golpe desesperado o Minotauro tenta acertar Algar com a lâmina gigantesca. Ela passa muito perto do tronco do Demônio que dá um passo pra trás. Então o Barão salta no ar pegando impulso na lâmina da criatura e pula cravando seu machado no pescoço do bicho que urra. A criatura se debate quebrando a estrutura de duas baias, cambaleante espirrando sangue para todos os lados. Ele está com um dos olhos fechados pela flecha da guerreira e o outro, em choque, esbugalhado. O Minotauro tenta dar um golpe com o machado gigante. Mas é tão lento que a arma assobia e escapa de suas mãos. Ele cai de quatro arfando. O sangue escorre de sua boca e focinho. Algar corta os seus chifres e depois parte seu crânio ao meio matando o animal.

Quando eles olham ao redor vêem os soldados romanos todos mortos. Mas Sir Alain está tonto com um corte profundo no abdômen. Ele cai de joelhos sangrando bastante arrancando uma gladius de sua barriga. Algar levanta o cavaleiro e o coloca em seu cavalo. Sir Enrick leva os seus irmãos em Hefesto e Marion em sua montaria leva o escravo com 12 verões de idade que os ajudou. Sir Dylan e Amig partem em um mesmo cavalo. As trombetas de alerta do palácio soam. O bando de saxões e Romanos que estavam em seu encalço surgem no fundo do corredor aos berros.

Centurião: “Matem-os! Não os deixem escapar!”

Os escravos abrem a porta principal de correr da estrebaria e chamam os outros. Alguns estão no segundo andar e descem. São uns trinta que estão ali e correm para as ruas.

Conde Roderick: “Em frente! Vamos homens! Precisamos sair daqui!”

A comitiva passam em alta velocidade pelas colunas. E saem nas ruas lotadas de pessoas. Alguns pedestres os xingam quando tocam os cavalos em cima para abrir caminho. Com a cidade lotada o grupo tenta se movimentar sem atropelar as pessoas. O tempo inteiro buscam com os olhos por entre as casas e ruas para verem onde está a muralha, tentando achar espaço por entre a multidão. Eles entram no quarterão do mercado onde existem dezenas de barraquinhas de comida. Fumaça das chapas de ferro com espetinhos e bolos de carnes permeiam o ar. Marion, sem opção, atropela um homem que atravessava a rua. Saindo da feira eles dão de cara com uma guarnição romana em uma rua que corre pela muralha. Ainda nada do portão. Mas os centuriões não reconhecem os cavaleiros em fuga. Esse é um bairro mais pobre com os pedintes vindo perturbar querendo esmola e comida. Algar prega o pé no rosto de um pobre mendigo que impedia a passagem. Finalmente eles chegam no portão. Existem dois sentinelas na entrada e dois em cima da muralha com lanças.

Conde Roderick: “Não temos tempo! Enrick, Algar e Dylan na frente. Preparar suas flechas Milady. Cargaaaa! Passem ferro nestes desgraçados!”

Sir Enrick toma a dianteira com Hefesto e passa pelo portão aberto por entre as duas sentinelas que são abatidas ao mesmo tempo por Thunder e Flash, seus martelos de batalha. Os corpos dos centuriões giram e caem sendo atropelados pelos cavalos dos outros cavaleiros que o seguem. Marion dispara o seu arco mas ele se quebra ferindo a arqueira. Eles passam pela entrada em arco da cidade. Então as lanças começam a voar. Uma dela acerta Algar nas costas transpassando e saindo pela sua costela. O sangue jorra quando a arma romana cai com o seu peso. O Barão fica branco e quase cai de sua montaria. Ele luta para manter a sua consciência. Sir Jakin também é atingido na altura do ombro, na omoplata com a lança, quebrando os anéis de sua cota de malha. A montaria que estão Sir Dylan e Sir Amig, já que o cavalo de Dylan morreu afogado na queda do rio, é ferido e o cavalo grita e dá coices descontrolados. Eles caem. Sir Verius e Dalan voltam para ajudá-los desviando de mais lanças e dão carona para pai e filho.

Finalmente eles conseguem se desvencilhar e seguem em velocidade alucinada pela estrada romana. Os viajantes abrem caminho para o grupo passar. Cruzam a ponte e cavalgam seguindo o Conde Roderick em direção a floresta de Roestoc. Até que com os cavalos exaustos eles adentram a mata. O suor espuma pelo couro do animal. As temperaturas já estão em torno dos quatorze graus. É o início do outono e ao anoitecer o grupo adentra o vale por entre as altas montanhas Pennine.

Conde Roderick: “Os cavalos não aguentam mais! Vamos seguir mais um pouco para dentro. Assim é difícil de saberem para onde vamos.”

Dia 1:

A noite o vento assobia por entre o vale. A neblina cai e toma todo o local.

Sir Amig: “Vamos acampar aqui. Algar e Enrick montem uma área de proteção! Marion cuide dos feridos.”

Marion abre as costas de Jakin. Seus ossos foram pulverizados. A filha de Avalon limpa o ferimento e imobiliza o braço do guerreiro. Infelizmente ele perderá o movimento do braço esquerdo. Sir Alain muito branco, por vezes vomitando e muito fraco é atendido pela guerreira que estanca a hemorragia com sangue sugas do brejo próximo e fecha os ferimentos com agulha de madeira e fio de tripas de carneiro. Dylan está com o braço fraturado com muitas dores e Marion o imobiliza e coloca o osso no lugar. Algar também é socorrido. Por sorte ele não teve nenhum órgão transpassado. Os feridos tem febre e dores mas todos viverão.

Dia 2:

No dia seguinte o chão encharcado e as pedras escondidas tornam a viagem muito árdua. O grupo sobe pela montanha lameada por uma trilha. O lugar é um charco bem úmido e barrento. Eles estão famintos. Nem um animal é avistado por ali. O dia vai passando e eles vão vencendo cada subida e descida da cadeia de montanhas. Por vezes tem que caminhar e levar os cavalos puxando pelas rédeas. Mais uma vez anoitece e está cada vez mais frio a cada noite.

Conde Roderick: “Este lugar é impossível de se cavar para conseguirmos nos aquecer dentro de um buraco pelo menos. Esta neblina não nos deixar ver nada. E não parece existir uma alma viva aqui. Minha idéia homens é chegarmos até a costa e de lá pegarmos um barco até Logres.”

Sir Alain: “Permitam-me falar amigos! Eu lhes digo que o norte está tomado. Em Carlion , o meu Rei, Nanteleode admira os feitos dos Cavaleiros da Cruz do Martelo e era grande amigo do Príncipe Madoc. Ele poderá nos ajudar se for persuadido de forma correta. A família do Flecha Ligeira já está lá sobe os cuidados de minha casa.”

Enrick: “Vamos para lá então!”

Conde Roderick: “É para lá que iremos Flecha Ligeira! Não temos escolha! Os reis do norte estão tramando uma aliança traiçoeira contra Uther.”

Dia 3:

No terceiro dia eles seguem cruzando com muita dificuldade as montanhas. Garoa muito e o frio está intenso. Lá de cima da montanha eles acham um rio que desce da montanha.

Algar: “Vamos segui-lo! Nos levará até o mar!”
Marion: “E podemos encher nossos Bornéus e dar de beber para os cavalos.”

Após encherem os Bornéus de água e os cavalos matarem a sede os heróis seguem o curso de água cristalino e pedras até o vale. Pela margem do rio, que fica mais largo a medida que se aproximam da costa, em uma paisagem em meio aos pinheiros, eles seguem cercados pela mata. Após algumas horas de cavalgada eles escutam o som do mar e depois o vêem surgindo no horizonte em um azul escuro mexido pelo vento.

A floresta margeia toda a extensão da costa e o solo é de uma lama negra e pegajosa. O forte vento sopra vindo do mar. O céu está cinza e encoberto. Cavalgando lentamente eles encontram uma vila de pescadores com umas dez casas. Existem redes estendidas, barcos de pesca e peixes secando no sal em um elevado de madeira. Os cachorros da aldeia latem. Sir Verius manda Urco já arrepiado ficar quieto. As mulheres e crianças correm pra dentro das casas construídas em meio à mata. São palafitas feitas de troncos finos e irregulares muito simples. Tábuas finas mal cortadas ligam uma casa à outra em cima do mangue. Uma estreita escadinha de dez degraus permite acesso as habitações simples. Descalços com roupas simples esfarrapadas, barbudos, com cabelos longos e sujos, bem magros, um pequeno grupo deles, falando muito mal a língua da Britânia, se dirige à eles de cima da plataforma com bastante medo e com os olhos baixos.

Pescador: “Não nos ataquem! Não temos metal dourado. Vivemos do peixe. O que querem?”

Enrick: “Comida e um barco para sairmos daqui!”

Pescador: “Se descerem até Wilderspool terão barcos maiores lá senhor. Mas podemos oferecer um lugar para dormir e comida.”

Algar: “Vocês sabem alguma coisa sobre os romanos. Sobre os Reis do Norte?”

Pescador: “Não sei do que está falando meu senhor.”

Enrick: “Que inveja desse povo simples.”

Então quando anoitece as mulheres preparam peixes em fogueiras embrulhados em folhas de salgueiro. O povo do mangue os emprestam casacos de couro de enguia para ajudá-los a os proteger do frio. Antes de comerem eles parecem agradecer erguendo os braços em direção ao mar e falando em uma língua totalmente desconhecida. Os heróis se sentem bem melhor alimentados e aquecidos. Embaixo das palafitas está cheio de água da maré que subiu.

Sir Amig: “Dormiremos nas palafitas homens. Façam a troca de vigias e durmam com um dos olhos abertos. Não sabemos direito onde estamos.”

Urco depois de achar uma namorada dormiu no meio dos vira latas da vila, bem tranquilo e os heróis dentro das casas sem parede. Pela manhã todos os pescadores se despedem acenando enquanto os nobres seguem para Wilderspool. No meio da tarde eles chegam na cidade. Na verdade, uma pequena vila romana decadente de pescadores. Um pequeno porto tem uns dez barcos atracados e umas vinte casas de pedras todas remendadas com lama e palha na beira de um largo rio que desemboca no mar. O lugar é cheio de prostitutas e mendigos.

Quando a comitiva chegam ninguém vem falar com os heróis. Ali existem diversos marujos, bem sujos, com cabelos longos presos. Barbas cheias de piolhos. As roupas encardidas e as peles machucadas do vento e da maresia. Eles ficam olhando mal encarados. Alguns jogam dados no chão de terra. Outros limpam peixes com suas facas. Uns bebem sentados uma garrafa de cerveja azeda.

Conde Roderick: “Vocês três e Amig! Vão conversar com esses homens e conseguir alguém que nos leve até Carlion.”

Marion, Enrick e Algar caminham pela vila e se aproximam de um homem ali de pé. Com vários anéis, usando um casaco longo de pele de lontra marrom, gordo com cabelos grisalhos até o ombro e brinco de argola na orelha esquerda ele vira e olha para eles com a barba cheia de farelos de pão.

Capitão Kirk: “Olha só! Os padres cantantes! Amigos de saxões! Me dêem um abraço aqui! Já fazem quatro anos!”

Ele retira o chapéu e faz um aceno.

Capitão Kirk: “Capitão Kirk ao seu dispor novamente mestres!”

Ele pega a mão de Marion e com a barba suja todo galanteador a beija.

Capitão Kirk: “Bela donzela! Nunca vi coisa mais bela! Opa! Desculpe! Parabéns pela bela esposa senhor Flecha Ligeira!”

Sir Amig: “Vocês tem amigos em tudo o que lugar! É uma pena que fazem inimigos na mesma proporção!”

Capitão Kirk: “No que posso lhes servir?”

Algar: “É muito bom lhe ver novamente Kirk! Mas precisamos ir até Carlion. Urgente e rápido.”

Capitão Kirk: “Hum! Vocês estão dizendo que querem sair desse buraco. Que circulemos toda a costa da ilha até Carlion. No meio do Outono, com ondas altas. Ventos! E talvez nevascas? É claro que eu aceito!!!! Louise está a sua disposição para isso amigos!!! Mas como me conhecem. Tudo tem o seu preço.”

Enrick: “E aquele dinheiro que lhe pagamos? Já gastou tudo?”

Capitão Kirk: “Dados, mulheres e filhos por todos os lados meu senhor. Vejo que tem uma carga pesada. Vários passageiros, cavalos, uma senhora grávida. Bem a carga que eu negocio aqui custa pelo menos duzentas libras. Por quatrocentas pratas levo vocês até a puta que o pariu!”

Sir Amig: “Sujeito simpático!”

Algar: “Vamos fechar por trinta libras. Pagas quando chegarmos em Logres. Você nos conhece.”

Capitão Kirk: “Está certo, está certo. Preciso de meio dia para abastecer com comida, água e bebida o barco. E carregar as suas montarias.”

No meio da tarde eles embarcam os cavalos no porão de carga e sobem à bordo. Os sete marinheiros de Kirk estão preparando as velas de Louise, que é uma embarcação que não possue remos. As condições de Louise estão piores do que há quatro anos quando Enrick e Algar foram para Sussex.

Kirk: “Bem vindos a bordo senhores! O navio mais rápido da Britânia!”

Sir Amig: “Algar, isso flutua?”

Kirk: “Não flutua meu senhor! Louise voa, como uma bela dama!”

Então o navio começa a se movimentar puxado por dois barcos à remo e se afastar do porto. O Rio é bem largo, de águas cinzas mexidas. As velas são abertas e cheias de buracos com uma serpente marinha verde desbotada, toscamente desenhada. Kirk no leme na parte elevada na popa do navio dá ordens pra os seus marinheiros. Eles vão abrindo as velas até que Louise pega velocidade a favor da correnteza.

Sir Amig: “Meu deus isso é rápido! Deixa eu ali vomitar! Já volto!”

Sir Amig branco, caminha tranquilamente, vai até a murada e vomita. Logo Louise cruza a vazante do rio e atinge a arrebentação. O barco pula algumas vezes nas ondas e rapidamente atinge o alto mar. Venta bastante e a a costa rapidamente vai ficando distante. Kirk manobra mantendo a faixa de terra à vista e segue pelo mar Irlandês. Faz em torno de cinco graus nesta época.

Os dias vão passando. A noite eles dormem no porão, cheio de ratos, para se protegerem do frio. Às vezes garoa. Dia e noite os homens se revezam no trabalho dentro do barco. Kirk está no timão guiando a embarcação e conversa com os heróis.

Kirk: “Neste ritmo senhores! Chegaremos em Carlion em dois dias. Ouvi dizer que existe má sorte em todos os locais. Estão dizendo pela Britânia que Merlim juntou-se aos saxões porque são pagãos também.”

Enrick: “Duvido. Boatos. Quem tem boca fala o que quer.”

No meio da noite e do mar agitado pelo vento de outono Louise viaja a toda velocidade. O dia seguinte amanhece coberto por uma leve bruma. Os Cavaleiros parecem cansados. Kirk acorda e assume o timão mais uma vez no lugar de um de seus marujos. O vento sopra de lado e as velas são posicionadas em diagonal. O dia passa tedioso. Ao anoitecer guiado pelas estrelas Louise contorna a Britânia rumo ao sul. Lanternas são acesas para iluminar o barco até que a neblina fecha totalmente.

Kirk: “Baixar Âncora! Teremos que esperar. Impossível navegarmos com o tempo fechado. Se perdermos a costa e irmos além do horizonte que os deuses nos protejam.”

O mar não está muito mexido. Mas o balanço da embarcação faz o casco ranger alto no meio da noite. O vento cortando o alto mastro assobia no início da madrugada. A temperatura fica bem baixa e os marinheiros se cobrem com peles de urso marrom. Então um pequeno ponto de luz surge a distância em meio a bruma espessa.

Kirk fala baixo: “Atenção homens! Alerta! Marujos acordem!”

Emergindo da bruma espessa surge uma carranca no formato da cabeça de um dragão. Depois um barco inteiro aparece impulsionado por cinquenta remos. Vários homens vestidos com peles. Todos com elmos pontudos. Alguns com arcos. Empunhando maças, espadas e machados gritam. Ganchos são atirados em direção a murada da Louise. Eles puxam até os cascos baterem forte. Então os arqueiros atiram contra os cavaleiros no convés. As flechas passam próximas de Enrick, Algar e Marion sem os atingi-los e sumindo na escura bruma atrás da murada. Dois marinheiros são flechados e caem aos berros no convés. Mas Enrick e Algar reconhecem no barco a vela surrada e rasgada com o Brasão de Odirsen II.

Um dos homens do barco misterioso, o único que usa uma cota de malha e uma espada bastarda de três metros, ergue a mão para os outros. Eles imediatamente param e ficam os olhando com os rostos pálidos. Por alguns segundos tudo fica em silêncio e eles se ajoelham no convés.

Sargento: “Comandante Algar? Não nos reconhece? Lutamos pelo senhor contra Odirsen II. Éramos a tripulação do barco que ficou para trás em meio as brumas de Merlim!Estamos há dias perdidos tentando achar o caminho para Figsbury. E a batalha? Já começou? Estamos prontos pra derrotar o seu irmão meu Barão!”

Algar: “A batalha já foi homens e nós vencemos.”

Enrick: “Vocês estão perdidos? Isso foi há cinco anos!”

Os homens se olham confusos sem entender nada. Então os primeiros raios de sol começam a surgir no horizonte. As brumas vão se dissipando com o calor. As estrelas desaparecem do céu. E com ela os guerreiros e depois o barco. Tudo vira fumaça quando o dia amanhece e o mar ao redor ondulado pelo vento fica visível até o horizonte e a costa pode ser vista do outro lado.

Sir Bag: “Cruz credo!”

Comandante Kirk: “Não há nada a fazer por essas pobres almas.”

Com ordens do Kirk, Louise levanta âncora e no quarto dia pela manhã o barco vira em direção a costa britânica e entra em uma embocadura onde eles podem ver terra dos dois lados. Na esquerda, montanhas e florestas do outro lado pântanos. O barco vira a proa para o norte e entra em um rio largo e escuro. São manobras bem difíceis devido ao mar mexido pelo vento. O relevo recortado tornam a navegação complicada. Kirk tranquilamente vai gritando ordens para mexerem nos ângulos das velas, abrindo-as e fechando os vários panos que captam o vento. O timão também vai sendo girado de um lado para o outro até que os heróis avistam uma cidade na beira deste rio largo de águas negras. Um castelo de pedras surge logo à frente.

CARLION:

Louise vai se aproximando da entrada estreita do porto do castelo. Os guardas os observam em alerta.

Sir Alain: “Asteiem o meu Brasão marujos!”
Leva pelo menos meia hora para diminuírem a velocidade do barco. Louise vai girando lateralmente. Kirk leva o leme para um lado e depois o outro. E devagarinho o barco atraca com perfeição no deque de madeira. Enquanto isso o porto se enche de cavaleiros e cortesãos. Um brasão vermelho bordado em fios de ouro com o desenho de uma coroa dourada e duas espadas prateadas de cada lado tremula no alto do castelo.

Sir Alain: “Enfim em casa! Tenho certeza que o rei Nanteleod irá nos receber amigos!”

Conde Roderick e Sir Alain desce pela rampa até o porto. O grupo de Cavaleiros o seguem. Todos se curvam quando chegam até o rei que está no centro os esperando cercado por sua guarda pessoal e côrte. O homem tem uns 44 verões e está vestido com uma capa amarela por cima de suas roupas de nobre marrom com bordados prateados. Na cabeça a coroa dourada cravejada de pedras preciosas e na cintura uma espada de duas mãos .

Rei Nanteleod: “Sejam bem vindos! Conde Roderick e seus Cavaleiros! Acredito que Sir Alain tenha lhes servido com lealdade! Se forem tão nobres e valentes quanto Madoc terão um amigo nesse lado da Britânia.”

Sir Enrick: “Já era hora de sermos bem recebidos.”

Rei Nanteleod: “Levantem-se por favor! Ofereço-lhes minha hospitalidade. Vamos ao castelo!”

A família do Flecha Ligeira corre até ele. Bem mais saudável do que da última vez que foram visto. Eles se abraçam. Enrick pega a mão de seu pai e coloca no rosto dos irmãos resgatados do norte. O pai de Enrick chora quando os reconhece. A família de Sir Alain o aguarda, uma mulher loira com um vestido todo azul com uma tiara de Avalon beija o Cavaleiro. Seus seis filhos, dois meninos e quatro meninas, o abraçam e ele pega os menores e ergue no ar sorrindo com satisfação. Ainda ferido e mancando Alain está muito feliz por estar em casa.

Todos entram no castelo. O lugar é construído em pedras sólidas bejes. Tochas iluminam os corredores e as paredes são esculpidas na própria pedra com figuras do deus Pagão Cornífero, da Deusa e da árvore da vida. Tapeçarias de fadas e divindades ligadas à natureza e aos elementais adornam as paredes iluminadas por tochas.

Eles chegam em um salão de banquetes. O lugar foi construído, no meio do pátio do castelo, com pedras e coberto com telhado de musgo e palha. Todas as paredes do lado externo foram pintadas com desenhos celtas em vermelho.

Lá dentro vários servos os aguardam e quando sentam eles trazem vasilhas de barro para os presentes lavarem as mãos e lhes servem cidra. O Rei e sua Rainha, uma mulher ruiva alta, bem magra com sardas no rosto, vestindo um vestido longo branco e amarelo, como a capa do rei, sentam nos tronos colocados no centro da mesa principal. Existem vários outros cavaleiros e nobres sentados ali. Eles se levantam quando os heróis entram e os cumprimentam curvando a cabeça para frente.

Rei Nanteleod: “Sentem-se amigos! Um brinde à visita de vocês. Permitam-me dizer que recebi uma carta de seu Rei. Ele me solicita assistência. Podem ter certeza de que farei o melhor. Desde que os dois Reinos Escavalon e Logres possam saírem beneficiados. Algum de vocês gostariam de dizer alguma coisa a respeito?”
Enrick: “Gostaria de agradecer a bela recepção e por terem cuidado de meu pai e de meus irmãos. E que seria uma honra se pudéssemos lutar juntos.”

Rei Nanteleod: “Seria uma honra para nós também Flecha Ligeira. Então deixem-me apresentar dois Cavaleiros do ducado de Glevum mais ao norte. Foi o pai desses bons Cavaleiros que os enviaram com uma mensagem do Rei Uther. Levantem-se rapazes.”

Então, dois cavaleiros de uns vinte anos de idade se levantam. Eles são idênticos. Loiros de cabelos em formato de tigela, com olhos verdes. Um se veste todo de vermelho e o outro todo de verde. Eles os cumprimentam.

Rei Nanteleod: “Este é conhecido como o Cavaleiro vermelho de Glevum e o outro como o Cavaleiro verde de Glevum. Seus nomes não são mencionados, porque antes de nascerem sua mãe prometeu aos deuses que se tivesse um filho homem não mencionaria o nome deles. Na época ela não conseguia dar um herdeiro ao Duque, ele teria que guardar esse segredo enquanto vivesse. Então nasceram os dois rapazes de uma vez e eles carregam esse fardo até hoje não é ? ”

Vermelho: “É uma hon...!”

Verde: “É uma honra!”

Vermelho: “Idiota eu estava falando!”

Verde: “Idiota é você seu invejoso...!

Rei Nanteleod: “Quieto os dois e me ouçam. Como trouxeram a carta do Rei Uther de Tintagel irão junto com os Cavaleiros do Pendragon até Pembroke. A mensagem do Rei de vocês também estava endereçada ao Duque de Glevum, pais dos gêmeos, a mim e ao Rei Canan de Estragales. Por isso seguirão até o último remetente ao Reino vizinho. Com Sir Alain os acompanhando em meu nome e vocês representando o Rei Uther. Agora fiquem à vontade e aproveitem o banquete.”

Após comerem e beberem eles dormem no chão do salão de banquetes preparado pelos cortesãos do Rei Nanteleod forrados com peles e a lareira acesa. O outono vai ficando para trás e em breve o inverno chegará e as nevascas cairão sobe a ilha. Os irmãos gêmeos dormem um próximo ao outro. Quando um ronca, o outro dá-lhe um tapa na cara. Depois o que bateu dorme e leva um soco na orelha.

Pela manhã o grupo parte mais uma vez. A comitiva é formada por Conde Roderick, Sir Bag, Sir Amig, Sir Dylan, Sir Jakin, Sir Dalan, Sir Alain, Sir Verius, Cavaleiro Vermelho de Glevum, Cavaleiro Verde de Glevum, Marion, Sir Enrick e o Barão Algar. Eles cavalgam bem protegidos do vento frio com peles de urso fornecidas pelo Rei. À direita se pode ver as montanhas altas. Eles entram na floresta, toda coberta de folhas marrons e as árvores só com os galhos secos. Eles vão passando por algumas vilas e podem lembrar de como era Logres antes das invasões saxônicas. Os servos prestam reverência e trabalham normalmente e em paz. Eles passam por pelo menos três cidades do tamanho de Sarum e percebem que todas são Motte and Bailes Com paliçadas de madeira e castelos de troncos.

Sir Amig: “Um ataque saxão aqui e essas cidades serão tomadas com facilidade. Queimarão como palha seca no verão!”
Nas estradas os aldeões viajam tranquilamente com suas carroças carregadas de grãos, frutas e produtos para a troca. Os dias vão passando e os gêmeos Cavaleiros sempre discutindo.

Vermelho: “Olha só o jeito que você cavalga, parece um afeminado irmão!”

Verde: “E você parece um porco do mato sempre cafungando o nariz quando alguém acende um fogueira!”

Vermelho: “Retire o que disse seu idiota!”

Verde: “Retire você seu saxão!”

Vermelho: “O que?”

E o Verde pula de sua sela no pescoço do outro que cai do cavalo fazendo um barulhão quando suas armaduras se chocam com o solo na estrada de terra. Os dois se batem, esbofeteiam, trocam socos.

Até que Sir Bag desce do cavalo pega um irmão de cada lado pela gola de ferro do gorjal da armadura.

Sir Bag: “Vocês acordarão toda a Britânia com essa briga estúpida.”

Ele coloca os dois cara a cara.

Sir Bag: “Agora façam as pazes ou vão ter que se meter comigo, com o Barão, com aquela menina bonita ali e com o Flechinha. Olha o braço do rapaz. E lhes garanto que vocês não vão querer isso certo?”

Vermelho+Verde: “Não senhor!”

Sir Bag: “Então estamos combinado!”

Os dias vão passando. No quarto dia de viajem eles atravessam uma ponte de pedra por cima de um rio. Na borda de uma floresta eles vêem a distância, subindo algumas colinas, um grupo de dez cavaleiros com peitorais e armaduras compostas completas e com os seus escudeiros e lanças vindo em direção a comitiva.

Sir Alain: “Calma senhores. São os homens do Rei Canan.”

Comandante: “Alto lá! Sir Alain de Carlion boa tarde! Sejam bem vindos ao Reino de Pembroke! Senhores não queremos problemas. Somos a patrulha real de fronteira. São um grupo grande. Não podemos permitir tantos homens armados em nossas terras. Por favor entreguem as suas armas aos nossos escudeiros. Elas serão devolvidas oportunamente. Conde Roderick! É uma honra meu senhor! Por favor, iremos lhes escoltar até Carmarthen in Loughor e ficarão aos cuidados de Sir Orcas, o regente da cidade. Sigam-me senhores!”

Eles acompanham o rio e em seguida sobem o caminho que leva até o castelo. No salão principal eles aguardam de pé por algum tempo escoltados pelos Cavaleiros da fronteira.

Um cavaleiro simpático entra no salão. E já vem cumprimentar Conde Roderick e depois cada um dos heróis.

Sir Orcas: “Sejam bem vindos a Pembroke cavaleiros! Desculpem a demora. Pagens tragam cadeiras para todos. Perdoem, mas não os esperava. O Rei sempre pede para que visitantes de Estragales esperem aqui, próximo à fronteira, até que ele mande seu embaixador ou venha pessoalmente lhes conhecer.”

Então todos sentam. Com um estalar de dedos vinho e hidromel é servido. Depois frutas. Sir Orcas senta na cabeceira da mesa, conversa e ri com todos. Depois ele se dirige aos heróis.

Sir Orcas: “Cavaleiros! É muito bom receber visitas. O castelo fica mais alegre e animado. Quer dizer que a luta com os saxões endureceu no norte?”

Enrick: “Muito. Os reis nortistas estão com Octa. Agora, só os deuses sabem o que poderá acontecer.”

Sir Orcas: “Viram muita coisa ruim na jornada até lá?”

Algar: “Muita morte e tristeza.”

Sir Orcas: “Estamos longe do conflito, mas tudo pode acontecer. Os malditos Romanos dominaram continentes. Não sei se os saxões conseguiriam. Mas eles estão tentando! Será que são capazes de destruir nós celtas e tomar nossas terras?”

Algar: “Isso nunca vai acontecer. Falta-lhes inteligência!”

Todos caem na risada. Depois da refeição eles dormem ali mesmo no salão. Depois vem o outro dia e depois mais um. O tempo vai passando e a comitiva fica ali aguardando a resposta do rei Canan mas nada acontece. Sir Orcas não aparece mais. As refeições são feitas só com o grupo dos heróis. Então, os primeiros flocos de neve caem e cobrem a ilha de branco e quase ninguém sai por causa do frio. Só comem, dormem e esperam. Os dias passam até que vêem o Natal e o solstício de inverno, Yule. Então Sir Orcas surge no salão. Todos levantam e lhe prestam reverência. Marion já está com uma bela barriguinha de gravida.

Yule e Natal:

Sir Orcas: “Como vão todos? Feliz Yule amigos! Sei que já faz um mês que estão aguardando. Mas posso lhe assegurar que o Rei irá lhes receber dentro de alguns dias. Por hora lhes convido a participar da comemoração de Yule. Nossos costumes são tradicionais celtas e tenho certeza de que irão apreciar. Vamos lá fora?”

Então à meia noite eles saem do castelo. Uma neve fininha flutua caindo do céu. Tochas iluminam a grande área entre a muralha e o castelo. Quando todos se aproximam vêem que um grande buraco foi cavado. Uma grande árvore existe em uma das extremidades. Os Cavaleiros e guerreiros de Pembroke também estão ali, bem como seus familiares. Bardos Druidas estão a beira da vala.

Druida: “Nesse Sabath, não esqueçam filhos da Deusa, que todos damos adeus à Grande Mãe e bendizemos o Deus renascido que governa a metade escura do ano.”
Ele ergue um punhal com a mão direita e um garoto é trazido. Colocado de joelhos em frente à uma pia escavada em uma pedra. Ele parece complacente. Rapidamente o seu pescoço é cortado. Ele se debate por alguns minutos e logo morre. O Druida pega o sangue derramado e com a ajuda dos guerreiros vai formando um círculo ao redor do buraco.

Druida: “ABENÇOADO SEJA ESTE CIRCULO SAGRADO DO SABBAT EM NOME DO GRANDE DEUS. O SENHOR DIVINO DAS TREVAS E DA LUZ, O DEUS DA MORTE E DE TODAS AS COISAS DO ALÉM, ABENÇOADO SEJA ESTE CÍRCULO SAGRADO DO SABBAT EM SEU NOME. OH GRANDE DEUSA, MÃE TERRA DE TODAS AS COISAS VIVAS, NÓS NOS DESPEDIMOS, POIS VAMOS DESCANSAR. ABENÇOADO SEJA! E NÓS TE DAMOS AS BOAS-VINDAS, OH GRANDES DEUS DA CAÇA, PAI TERRA DE TODAS AS COISAS VIVAS. ABENÇOADO SEJA! ÁGUA, AR, FOGO, TERRA, NÓS CELEBRAMOS O RENASCIMENTO DO SOL. NESTA NOITE ESCURA, A MAIS LONGA, ACENDEMOS O LUME DAS TOCHAS SAGRADAS.”

Então todas as tochas são acessas. E as velas que todos carregam também. Uma grande fogueira agora arde ao lado do buraco. Tambores começam a rufar. Tudo começa a pulsar e a girar rapidamente. A energia parece se concentrar a cada batida do coração. Algar e Marion sentem a proteção dos deuses e entram em transe.

Druida:“O FOGO DO RAMO SAGRADO DO NATAL ARDE, A GRANDE RODA SOLAR GIRA MAIS UMA VEZ. QUE ASSIM SEJA! TRAGAM AS OFERENDAS!”

Então primeiros dez cavalos são trazidos. Eles são colocados dentro do buraco. Parecem se assustar com o cheiro de sangue do menino que foi sacrificado.

Sir Orcas: “Venham amigos, Epona vai receber esses cavalos com muita alegria!”

Então todos os guerreiros entram na vala, com as suas armas, e começam a abater os cavalos. Sir Enrick sente a energia daqueles animais e pensa na deusa celta dos cavalos e sente uma ligação espiritual com os animais. O buraco fica cheio de sangue e entranhas enquanto as pessoas dançam ao redor em transe. Os guerreiros lá dentro ficam em frenesi com sangue até os calcanhares. Logo os prisioneiros são trazidos. Piratas, saxões, ladrões, estupradores. Estão amarrados e gritam e imploram por suas vidas. O Druida os empurra para dentro e mais uma vez o aço tira suas vidas. Com machados, espadas e martelos os prisioneiros são abatidos. A energia das vidas atravessando o véu enche todos os guerreiros de habilidade com as suas armas e entram em frenesi em uma dança no sangue e restos mortais das oferendas.

Então, Hidromel é servido e todos dançam no buraco, sujando-se de sangue girando e cantando enquanto os tambores rufam. Quando amanhece todos se retiram bêbados e sujos para se banharem. Os corpos são pendurados na árvore pelos Druidas e oferecidos aos primeiros raios de sol que surgem no Horizonte.

Após o Yule os dias passam lentos no castelo. Os heróis jogam, se distraem com longas conversas. Até que vem o ano de 494. Eles estão longe de casa há muito tempo. Tudo está coberto de neve e as estradas estão intransitáveis. Em uma manhã Sir Orcas vem até a comitiva em um dos salões do castelo.

Sir Orcas: “Sei que a espera é grande Cavaleiros! Temos muitos aliados pelo nosso reino. Um líder tribal importante de um clã celta que vive nas montanhas soube que o filho do Encantador de Cavalos está em Pembroke e os convida para participar de um banquete. Diz que será uma honra receber os heróis de Logres e que está curioso para conhecê-los!”

Na manhã seguinte aos primeiros raios de sol o grupo parte através da paisagem gelada. A floresta está coberta de neve e as patas dos cavalos afundam. As árvores estão todas sem folhas e a comitiva, mais os dez Cavaleiros de Sir Orcas cavalgam em direção a montanha. A estrada de gelo que leva até o alto da montanha contorna os montes lentamente até chegar no pico. A paisagem é linda. Os picos cobertos de neve contrastam com o céu azul sem nuvens. Lá embaixo a paisagem branca reflete a luz do sol.

Após algumas horas um platô, onde existe uma paliçada, um salão de banquetes e ao redor dezenas de cabanas surge diante dos olhos dos heróis. O lugar está em festa. Todo enfeitado com fitas coloridas. Os guardas todos pintados com linhas azuis e verdes, protegidos com peles, escudos ovais e lanças os aguardam. Quando entram na área eles sorriem e prestam reverência. O cheiro de carne assada e as dezenas de barris de hidromel os aguardam. Lá de cima alpes e mais alpes cobertos de neve e pinheiros formam a bela paisagem. Alguns lagos existem lá embaixo. Uma paisagem incrível. Todas as construções tem cavalos esculpidos nas colunas. São cavalos menores. Pôneis.

Guallonir: “Cavaleiros de Salisbury! Sou Guallonir! É muito bom recebê-los em Ystrad Tyi! Este é o meu povo que os recebe com muita alegria!”

Enrick: “É uma honra senhor!”

As crianças, mulheres e homens da vila vêem os saldar. Eles estão vestidos com peles e chales quadriculados.

Guallonir: “Conde, é muito bom recebê-lo aqui mais perto dos Deuses, em cima das montanhas. Fiquem à vontade, lhes ofereço o nosso melhor cordeiro e um saboroso hidromel.”

Sir Bag come e bebe junto com Sir Dylan e Sir Amig. Sir Dalan já vai conversar com algumas moças. Sir Jakin caminha observando as montanhas. Sir Alain, Conde Roderick, Sir Verius, Urco e os heróis caminham junto com Guallonir.

Guallonir: “Então vocês são os famosos Cavaleiros da Cruz do Martelo. Conde, Salisbury está muito bem falada. Um guerreiro capaz de matar os inimigos mais fortes do rei. Uma mulher que comanda tropas e vence guerras e um arqueiro que não erra nunca com um cavalo digno dos deuses!”

Conde Roderick: “Sim Guallonir! Eles são o orgulho e maior fonte de dor de cabeça do reino!”

Eles riem.

Guallonir: “Entendo. Me digam heróis! Vocês acham que essa guerra que parece que virá como uma tormenta do norte pode ser vencida?”

Algar: “Acho que podemos vencer com aliados Senhor. Se Logres estiver sozinha será uma tarefa árdua.”

Guallonir: “E sinceramente vocês acham ser uma guerra justa?”

Enrick: “Justa pelas nossas famílias. O que ocorre entre reis não justifica o que pode acontecer com as pessoas que não estão no poder.”

Guallonir: “Vamos até o seu cavalo Flecha Ligeira?”

Guallonir acaricia Hefesto que parece gostar muito dele. Vários aldeões se aproximam curiosos admirando o belo animal. Os guardas ficam em volta impedindo que o povo fique perturbando o cavalo. Guallonir bate as mãos e dois guerreiros trazem um baú cheio de tesouros. Cavalos de prata, braceletes, correntes, anéis, lascas de ouro e prata.

Guallonir: “Tenho uma proposta pra você Sir Enrick! Uma corrida! Você pode notar que temos nossos pôneis da montanha. O orgulho de nossa aldeia. Por anos cruzamos e oferecemos aos deuses esses animais para termos esses cavalos! Lhe ofereço esses baú com 150 libras se disputar uma corrida de cavalos comigo! Seria uma honra lhe derrotar!”

Enrick: “Proposta aceita! Será uma honra!”

Guallonir: “Atenção! O Flecha Ligeira aceitou a disputa. Venham todos assistir! Tragam os cavalos”

Então no meio da vila os aldeões fazem um corredor que vai de uma beirada do platô até a outra. Enrick e Guallonir sobem nas montarias. O de Guallonir é um pônei marrom de crinas loiras.

Guallonir: “Até a beirada e voltamos Flecha Ligeira. O primeiro a cruzar a fita colorida que as belas moças esticarem de cada lado vencerá!”

Bag se posiciona ao lado dos competidores. Com a sua espada ele faz um gesto dando a largada. Os cavalos partem em velocidade arrancado neve. Cabeça a cabeça Hefesto e o Pônei das montanhas de Guallonir seguem lado a lado. Quando chegam na beirada do platô eles fazem a curva jogando pedras pequenas lá para baixo. Os dois continuam juntos. Até que Sir Enrick comanda Hefesto em uma arrancada fenomenal e cruza na frente levando a faixa com flores desidratadas que Marion e a Rainha seguravam. Todos aplaudem entusiasmados o final da corrida.

Depois da disputa Guallonir desce de seu pônei e abraça Sir Enrick.

Guallonir: “Realmente os bardos tem cantado a verdade! És digno de Epona rapaz! É um dia muito feliz aqui. Vamos nos divertir.”

Então, eles passam o dia nas montanhas comendo e bebendo, dançando e conversando e ao pôr do sol deixam o lugar com todos da vila se despedindo. Enrick deixa o seus pai em Ystrad Tyi para aproveitar o ar das montanhas.

Sir Alain: “Vocês tem idéia que é Guallonir? É o aliado mais poderoso do Rei Canan. É o Rei de todos os Clãs selvagens dessas montanhas. Ele me pediu pessoalmente para não revelar quem era. Parece que ele gostou muito de vocês. Acho que em breve o Rei de Pembroke nos receberá.”

Quando a comitiva chega na estrada congelada no vale, Sir Orcas se encontra com o grupo acompanhado por mais um cavaleiro e um escudeiro, os dois bem jovens. Eles estão vestindo armaduras caras com adornos dourados e capas brancas. Espadas cravejadas com pedras preciosas e levam três cavalos de carga. Sir Orcas levanta a mão e os cumprimenta. Eles vêem um homem montado em um pônei conversando com ele. Ele concorda afirmativamente com a cabeça passa pelo grupo e os cumprimenta e começa a subir a montanha novamente.

Sir Orcas: “Boa noite Cavaleiros! Deixem me apresentar. Esses homens são os filhos do Rei Canan. Sir Dirac e o escudeiro Lak.”

Sir Dirac: “Como vão! Cavaleiros de Logres! Como é bom conhecê-los! Sabemos que conhecem toda a Britânia! Isso é, isso é incrível!”

Lak: “Queremos saber de tudo que acontece fora de nosso reino!”

Sir Dirac: “Pois bem. Meu pai os aguarda em Carmarthen! O guerreiro do Rei Guallonir disse que vocês são homens dignos de sua presença. ”

Quando a comitiva chega em Carmarthen, em um outro salão do castelo, um homem de idade avançada os aguarda sentado em um trono. A guarda pessoal com dez cavaleiros permanece ao redor do salão.

Sir Orcas: “Nobres de Logres esse o Rei Canan!”

Rei Canan: “Olá senhores! Realmente estou muito feliz em conhecê-los! Esperaram bastante. O Reino está com problemas na fronteira. Irlandeses. Sempre os malditos Irlandeses. Mas vou compensar a paciência que tiveram. Sentem-se por favor! Vamos obedecer a hierarquia. Mas estou bastante curioso. Pode começar Conde Roderick!”

Em cadeiras dispostas em meia lua todos se sentam.

Conde Roderick: “Bom, primeiramente gostaria de dizer que é uma alegria e ao mesmo tempo um alívio poder ser recebido por vós meu rei! Segundo gostaria de dizer que as coisas não andam nada bem por toda a Britânia. São afortunados de não terem tido nenhum problema por aqui. Mas lhe asseguro Rei Canan de Estragales que a tempestade de machados saxões baterá em suas portas se não fizermos algo agora!”

Rei Canan: “Entendo Conde Roderick! Me parece que desde que Uther matou Gorlois e casou com Igraine tudo virou de pernas pro ar. Sei do poder que Logres tinha. E sei que não existe mais essa força. A não ser por homens cuja a fama ultrapassou as fronteiras.”

Conde Roderick: “Sim! Me permita apresentar quem vem liderando as nossas forças em nome do rei. O Barão Algar.”

Enrick: “Como vai Majestade. Espero que façamos um acordo justo. Uma aliança de proteção mútua.”

Rei Canan: “Demônio do norte! Seja bem vindo aos meus salões. Dizem que desde o norte o povo está sendo dizimado e as terras ocupadas. Vocês sabiam que essa cidade onde estão é onde nasceu Merlim? E aqui foi batizado! Estória incrível. Hoje o maior líder dos pagãos já foi criado como um verdadeiro cristão romano. A vida da voltas! Por isso temos que pensar antes de agir.”

Conde Roderick: “Precisamos de sua ajuda Majestade! Aliás, precisamos da ajuda de todos os homens de Estragales e Escavalon. Estamos com a espada pendente diante de nossas cabeças. O norte inteiro me parece que irá nos atacar. E não sei o que pode acontecer quando o próximo verão chegar.”

Rei Canan: “Preciso pensar! Mas acredito que existam momentos onde não há como fazer a paz se não tivermos guerra. Vamos comer e beber senhores!”

Conde Roderick e Sir Amig são convidados para se sentarem ao lado do Rei na mesa principal, junto com o Regente Sir Orcas e dos filhos de Canan, Sir Dirac e o escudeiro Lak. Todos comem. Os cavaleiros e nobres do Rei de Pembroke riem e conversam.

Sir Bag: “Então, o que vocês estão achando? Conseguiremos aliados por aqui?”

Marion: “Tudo indica que sim.”

Sir Dylan: “Eu vou falar abertamente pra vocês. Não acho que do jeito que as coisas estão trata-se somente de proteger o Rei. Trata-se de nossas famílias!”

Sir Jakin: “Todos sabem que Uther está fraco e doente. Todos os outros querem Logres. É o maior Reino. O mais rico.”

Sir Dalan: “Olhem para nós! Somos ainda os Cavaleiros da Cruz do Martelo. Lembrem o que já fizemos. Lembrem de Madoc. Fizemos muito e podemos fazer mais. Temos que lutar!”

Sir Alain: “Todos teremos que lutar. Pelo jeito os saxões tentarão tomar toda a Britânia. Estamos no fim do mundo. Na encruzilhada entre dois tempos.”

Sir Verius: “Eu e Urco marcharemos com vocês. Se permitirem amigos!”

Enrick: “É bem vindo Sir Verius! Precisamos o maior número de escudos possíveis.”

Então algo chama a atenção de Algar. Ele vê o Rei Canan rir com um comentário de Roderick. O Rei pede para o seu filho mais hidromel. Ele vê Sir Orca encher um cálice de estanho e colocar algo dentro e passar para Sir Dirac que nem percebe o que o regente fez. O filho do rei passa o cálice para o seu pai novamente. Sir Enrick e Marion não vêem nada.

Então o Rei pega a taça e toma todo o seu conteúdo de um só gole. Ajeita a barba e continua a conversar. Derrepente ele levanta do trono olha para todos com os olhos esbugalhados. Ele pega na sua garganta e cai de costas na cadeira. Vai ficando azul. Sangue corre de seu nariz. Ele vomita se contorce. Se afoga. Mais sangue sai agora de sua boca até que a sua agonia acaba e ele cai da mesa. O Conde Roderick se abaixa atrás da mesa e anuncia.

Conde Roderick: “O Rei está morto!”

Alguém grita: “Foi Sir Dirac!”

O jovem cavaleiro está congelado de horror com a morte de seu pai.

Algar: “Com a autoridade de Barão lhes digo que vi quem fez isso! Foi Sir Orcas. Eu te acuso de alta traição e de assassino do Rei.”

O salão inteiro suspira e cochicha.

Sir Orcas: “O que estrangeiro? Está me acusando de algo que não fiz? Estás pondo a minha honra em jogo na frente de meu povo, maldito? Nem seus amigos viram. Eu o desafio escória de Logres, para um julgamento pela espada. Deixemos que os deuses determinem quem é culpado! Quem me garante que não foi o seu Conde que envenenou o Rei?”

Um Druida que estava sentado por entre os nobres se levanta e fala.

Druida: “A única forma de decidirmos isso é o tribunal dos deuses. O duelo do aço. Até a morte! Amanhã pela manhã. Guardas mantenham o regente e o Conde Roderick e seus homens protegidos até amanhã. Nos vemos no círculo de pedra no pátio do castelo. Aceita o desafio Barão?”

Algar: “É claro que aceito. Os deuses estarão do lado da verdade!”

Começa a chover. Todos se retiram em silêncio. O corpo do Rei é levado pelos seus filhos aos prantos. A rainha chega com uma escolta no início da madrugada e se tranca nos aposentos reais com o corpo do Rei Canan. A noite passa devagar e triste. A comitiva fica confinada no salão de hóspedes.

Sir Bag: “Então, como vai ser Demônio?”

Algar: “Vou mandar o maldito do Orcas direto pro inferno.”

Enrick: “Ele se fez de bom! Que droga!”

Sir Dylan: “Este Sir Orcas é traiçoeiro. Todo cuidado é pouco.”

Sir Jakin: “Intimide-o, use todas as formas para distraí-lo. Não o deixe te ganhar com jogos mentais.”

Sir Amig: “Lembre-se levante o escudo rapaz! Você sempre luta com ele baixo! Não morra! Não quero levar um presunto pra sua mulher em Salisbury!”

Sir Dalan: “Primo, gostaria que usa-se esse anel com as iniciais de nosso sobrenome. Ele foi forjado com o metal da espada do primeiro homem que matei em combate. Vai te dar sorte.”

Algar: “Obrigado primo!”

Sir Verius: “A verdade é que foi bastante corajoso. E os deuses lhe beneficiarão se tiver razão! Fez o que qualquer cavaleiro deveria fazer.”

Sir Alain: “Se eu pudesse arrancaria eu mesmo a cabeça desse maldito e dava para o Urco mastigar o que restou desse assassino.”
Conde Roderick: “Amanhã todos os nobres dos Reinos vizinhos deverão vir assistir o duelo. É ali que você deverá mostrar que Logres está aqui pra fazer justiça. Deverá mostrar, Algar, a força de nosso Reino e que não estamos fracos e o que pode acontecer com quem não estiver do nosso lado.”

Algar: “Pode deixar! Orcas vai se arrepender de ter nascido!”

JULGAMENTO PELA ESPADA

Na manhã chuvosa do dia seguinte no pátio do castelo toda a corte e soldados se reúnem. Eles estão em volta do círculo de pedra. São umas duzentas pessoas. A comitiva caminha até lá. Algar vai na frente e entra sozinho no círculo. Um druida o aguarda no centro. Do outro lado, Sir Orcas já está esperando. Ele está vestindo uma luva de couro, depois ajusta o escudo em sua mão. Ele pega a sua espada longa bastarda. Seu escudeiro lhe coloca o elmo aberto e amarra um cinto de couro por cima da cota de malha. Ele não tira os olhos de Algar.

Druida: “Nobres! Estamos aqui para o julgamento do aço, o tribunal de sangue dos Deuses. Ontem perdemos o nosso amado Rei Canan, hoje, representado aqui pelo seu filho Sir Dirac.”

O Príncipe está setado em um trono de madeira trazido com a cabeça baixa e triste. Quatro servos seguram um toldo para que ele não se molhe.

Druida: “Aproximem-se os dois. Barão Algar! Qual é a acusação?”

Algar: “Sir Orcas assassinou covardemente o Rei Canan!”

Sir Orcas: “Desgraçado!”

Druida: “És culpado Sir Orcas?”

Sir Orcas: “Eu nego!”

Druida: “Em guarda Cavaleiros! Que a Deusa nos dê o vencedor e nos diga quem é o culpado! Até a morte!”

E todos gritam: “Até a morte!”

Os dois guerreiros se movimentam procurando uma brecha na guarda do outro.

Sir Orcas: “Estrangeiro! Deveria ter vergonha de se meter em negócios que não lhe dizem respeito.”

Ele cospe no chão.

Sir Orcas: “Quando o seu sangue sujar a minha espada e você for comida de corvos, cuspirei em seu cadáver e irei atrás de sua família!”

Algar: “Eu duvido! Você estará morto!”

Os dois se golpeiam com força. O machado do Barão Algar e a espada de Sir Orcas se cruzam. Eles medem forças. Até que Algar mais forte empurra o homem para longe. Ele tropeça e abre a guarda caindo nos braços da plateia, do outro lado do circulo, que suspira quando Algar tem a chance de matá-lo. O Barão para e honrosamente lhe concede a chance de se recuperar.

Sir Orcas: “Não adianta demonstrar honra e me humilhar na frente de meu povo desgraçado.”

Orcas estoca Algar com a ponta da espada. Mas o Demônio do Norte coloca o escudo na trajetória e a arma enterra na madeira de tília. Desesperadamente naquele centésimo de segundo Orcas não consegue arrancar a sua arma. Algar abre o braço e gira. Orca vem junto segurando no cabo da espada. E quando ele solta o Cavaleiro vai indo de ré desequilibrado até que cai de costas no cascalho próximo as pessoas que assistem o combate. Todos ficam em silêncio.

Algar se aproxima olhando nos olhos de sua presa. Como um lobo ele caminha lentamente.

Sir Orcas: “Não! Piedade! Nãooooo”

Algar ergue o machado passando por trás de sua cabeça e com um golpe da lâmina no meio do crânio de Orcas, abrindo a cabeça do inimigo e espalhando o seu conteúdo na lama preta o Demônio do Norte, da fim ao duelo.

Druida: “Os deuses deram o seu veredito! Sir Dirac é inocente! Sua honra está preservada.”

As pessoas se retiram em silêncio enquanto o corpo de Orcas jaz na lama enquanto as poças de água são tingidas de vermelho.

Sir Dirca: “Obrigado Barão! Nunca esquecerei tal feito! A nossa casa está preservada. Não será fácil manter os clãs unidos com a morte de meu pai. Mas com a minha honra e de meu irmão intacta poderei lutar pela coroa. Tens a minha eterna gratidão!”

Algar: “Não fiz mais que a minha obrigação de Cavaleiro!”

Conde Roderick: “Tudo está acabado! Vamos embora imediatamente.”

Sir Alain: “Escutei os nobres falando. Isso aqui vai virar um caos. Ninguém quer apoiar Sir Dirac como herdeiro de Canan. Parece que os clãs nas montanhas estão se armando para atacar e tomar o poder.”

Sir Verius: “Vamos embora o mais rápido que pudermos!”

Então quando estão descendo o caminho do castelo e rumando para Escavalon eles vêem milhares de guerreiros surgindo no horizonte com os estandartes dos Pôneis. A comitiva deixa Estragales mergulhada no caos. Neva bastante e o grupo viaja com dificuldade pela paisagem coberta de neve e gelo. Alguns dias depois chegam na corte do Rei Nanteleod.

Conde Roderick: “Sérios problemas em Estragales meu Rei! Se não fosse o Barão estaríamos metidos em uma enrascada sem precedentes.”
Rei Nanteleod: “O que ocorreu lá senhores?”

Enrick: “Uma traição do Cavaleiro braço direito do Rei! Ele o envenenou! Agora o reino mergulhou no caos. E parece que não aceitarão Sir Dirac como o novo Rei daquelas terras.”

Rei Nanteleod: “Maldição! Temo que nossas fronteiras sejam invadidas. Estragales mergulhará em uma disputa de poder. Não sei se Sir Dirac tem a força do pai para resistir. Por hora estamos protegidos pelo inverno. Vocês também não irão longe com toda essa neve e terão que esperar a primavera para retornar para casa. Além do mais com esse barrigão mileide, acho que teremos uma criança nascida em Carlion na primavera. Mas posso lhes adiantar que recebi uma mensagem de Sarum em nome da Condessa Ellen. Uma nova onda de ataque saxão veio do norte. Um homem romano com uma espada sagrada tem lutado ao lado deles. Lindsey ao norte já caiu. Octa formou um exército enorme e está recrutando cada vez mais homens como nunca se viu na estória de Logres. Os nobres de Logres estão se trancando em suas fortalezas e pedem que no início da primavera vocês retornem o mais rápido possível.”

Conde Roderick: “É isso Cavaleiros de Sarum! A guerra chegará em Logres! Será uma luta sangrenta e difícil. O inimigo tem muitos aliados. Estejam preparados para tudo. Eu disse tudo. Acho que todos precisamos de um trago não é Amig? Será um conflito sem precedentes na estória da Britânia.”