terça-feira, 19 de julho de 2011

Aventura 23: O Coração de Sauvage, Ano 497


É o final do inverno do ano de 496, um dos mais rigorosos de que se teve notícia. O natal cristão e o Yule pagão foi comemorado com simplicidade. A maioria dos pedidos para Cristo ou para a Deusa foi para que os maus tempos fossem embora. A ilha está coberta de neve. O frio e o gelo acumulado nas estradas, impedindo as viagens, mantém os saxões em seus assentamentos. A falta de braços para trabalhar nos campos fez com que os feudos produzissem metade de sua capacidade e os tributos cobrados pelos invasores aumentaram a fome e a doença que continuam a se espalhar como uma maldição. Os celtas acreditam que a Britânia está sendo castigada porque o seu povo está dividido por duas crenças.

FEUDO DINTON

É bem cedo no Feudo Dinton. Sir Enrick, Marion e Oswalt estão na pequena igreja de madeira ajudando o Padre Carmelo e cinco aldeães jovens a dividirem vários pães e um pouco de queijo colocando-os em barris, que sobraram, para serem distribuídos para os camponeses e soldados famintos. Alguns barris com frutas, trazidos das terras de Sir Edgar, também estão sendo estocados. Todos estão de pé ao redor de uma mesa longa fazendo a tarefa. O leão Grievous está deitado próximo abanando o rabo e com a língua pra fora.

Padre Carmelo: “Esse bicho tem que ficar aqui senhor?”

O Leão levanta as orelhas olhando sério para o Padre.

Sir Enrick: “Não se incomode Padre ele é só um gato grande.”

Padre Carmelo: “Espero que sim. Treinei o leão o inverno inteiro com Hefesto e o corcel de Marion no Piquet. Os cavalos e o leão já se suportam. Mas felinos o senhor sabe, sempre são mau humorados. Mas Lady Marion e Sir Enrick isso é tudo o que temos para passarmos até a primavera. O gado não está sendo cuidado da maneira adequada e os porcos estão doentes. Temos poucas pessoas que sabem fazer o trabalho. Os dois criadores morreram mês passado. A notícia boa é que os quinze aldeões que pediram abrigo e vieram fugidos de Hantonne ano passado já foram acomodados em suas casas na vila. Logo poderão nos ajudar na lavoura.”

Oswalt: “Carmelo, eu pensei que com todas essas fazendas que foram queimadas até abaixo teríamos mais caça. Sem fazendeiros para matarem os animais que comiam as plantações ou atacavam o gado era óbvio que teríamos mais bichos andando livres por aí. Mas está difícil achar animais nas florestas, esse inverno foi muito rigoroso. E quanto aos saxões, vocês acham que irão coletar mais impostos este ano?”

Lady Marion: “Eu espero que não Oswalt. Não teremos nem como reclamar se eles o fizerem.”

Padre Carmelo: “Oswalt mandem trazer a carroça e vamos a vila distribuir estes alimentos. Preciso que você vá armado e não deixe os aldeões pegarem mais do que podem. Temos gente nova morando em Dinton então é preciso dar o exemplo.”

Oswalt: “Sim Padre!”

Padre Carmelo: “Vamos então! Mas antes acho que é hora de conversar com o seu irmão.”
Oswalt olha com uma cara de assustado e abaixa a cabeça.

Oswalt: “Irmão. Preciso falar com você. É que... eu não sei bem como dizer...”

Padre Carmelo: “Vamos meu rapaz você já tem dezessete anos. Honre o que tem no meio das pernas, afinal você soube usá-lo quando bem quis.”

Oswalt: “É que eu... Vou ser pai.”

As cinco aldeães se olham, uma delas fica vermelha e elas falam ao mesmo tempo.

Aldeães: “Eu achei que você gostasse de mim!”

Padre Carmelo: “Pra fora meninas! Já!”

Elas saem choramingando empurradas lá pra fora por Carmelo.

Sir Enrick: “Escute aqui rapaz. Você fez e agora vai casar e assumir essa criança. Quem é a garota?”

Oswalt: “A filha do Ferreiro. E não vou casar irmão, nem que Carmelo me excomungue.”

Padre Carmelo: “Não tenho poder para isso, infelizmente. Mas, não é isso que tínhamos combinado garoto.”

Oswalt: “Eu não quero e não vou! O meu irmão tem um filho bastardo e fica tudo bem. Eu sempre tenho que fazer o que vocês querem.”

Sir Enrick pega o seu irmão pelo pescoço e o põe contra a parede.

Sir Enrick: “Oswalt! Você vai cuidar dessa criança. Não quero ouvir mais nada a respeito!”

Padre Carmelo: “Se acalmem todos, vamos distribuir essa comida porque o povo está faminto. Acho melhor o senhor e a senhora irem conversar com Caradoc, o Ferreiro, a casa dele fica próximo ao centro da vila. Melhor, vamos juntos? Assim os mestres podem me ajudar com os aldeões.”

FEUDO WINTERBOURNE GUNNET

Em Winterbourne Gunnet, na toca do lobo, o Barão Algar está sentado no grande salão em seu trono de madeira esculpido no estilo nórdico, esperando o início de uma importante audiência. Verius e Urco estão ao seu lado. Björk entra pela porta do salão, aquecido por um braseiro no chão, e três homens o acompanham. Eles limpam a lama e a neve de suas botas.

Björk: “Barão, gostaria de anunciar a chegada de Valeirus Wasser, administrador de Cholderton, Arweinnyd Gwich, administrador de Winterbourn Stoke, e o capitão Taran, administrador de Pitton.”

Os três homens se aproximam e se curvam diante do Barão. Eles vestem túnicas caras e exibem anéis e braceletes.
Valeirus Wasser, é um homem de meia idade com cabelos e barbas loiras: “Barão, obrigado por nos receber! Solicitamos a audiência pois estamos passando grandes dificuldades. A fome e doença estão espalhadas por todo o Reino. Em Cholderton não é diferente. Também trago notícias de sua sogra. Lady Sofia está bem doente Barão, não sei se sobreviverá ao inverno.”

Arweinnyd Gwich, é o mais velho dos três, tem cabelos e barbas cinzas e anda apoiado à um cajado: “Sim meu senhor. Não temos mais saída. Em Winterbourne Stoke já estão falando que o Deus cristão está se vingando por viverem sobe a autoridade do Demônio do Norte. Tivemos duas rebeliões. Consegui contê-las. Mas infelizmente até os soldados juntaram-se aos aldeões e sem homens suficientes Winterbourne Stoke está nas mãos dos rebeldes. Me deixaram ir embora para negociar uma saída. Estão exigindo comida e prata.”

Capitão Taran, o homem deve ter uns cinquenta verões: “Em Pitton a fome atinge todos. Até mesmo a grande casa meu senhor. Os cristãos se uniram. Um padre romano, Marcus, os liderou. Os soldados juntaram-se à eles. Entraram nas casas dos seguidores da antiga religião os arrastaram para fora no meio da noite e em grandes fogueiras queimaram à todos. Sobrevivi porque sou cristão mas fui expulso de lá por continuar fiel ao senhor. Os cristãos querem que todos os pagãos deixem aquelas terras sobe pena de morte na fogueira como fizeram com os outros.”

Valeirus Wasser: “Temo que em breve o senhor terá que enfrentar esses rebeldes. Por hora o que quer de nós Barão? ”

Barão Algar: “Estou na mesma situação difícil aqui em Winterbourne Gunnet. Terão que aguardar até que eu possa reunir uma força com homens suficientes para conseguir retomar minhas terras.”

FEUDO DINTON

Então Enrick e Marion, Oswalt e o Padre Carmelo, conduzindo a carroça cheia de barris, saem da igreja e passam pela vila coberta de neve. O Leão Grievous salta na carroça e se deita na liteira por entre os barris. Os cachorros e gatos magros andam por entre as casas. Uns ratos correm quando a roda da carroça atropela um deles. Os aldeões e soldados saem de suas casas, largam os seus afazeres e os seguem. Existem alguns corpos caídos, amontoados. São três crianças e quatro adultos. Padre Carmelo faz o sinal da cruz.

Lady Marion: “Mande queimar os corpos o mais rápido possível Carmelo!”

Uma aldeã se aproxima e se ajoelha pegando as mãos de Lady Marion montada em seu cavalo.

Aldeã: “Senhora se os queimá-los não retornarão nunca para o dia do julgamento final quando Cristo voltar. Por favor, não queime meus netos e filhos. Tenham piedade!”

Lady Marion: “Calma Senhora! Iremos enterrá-los então. Mas que seja o mais rápido possível.”

Aldeã: “Muito obrigado! É muito bondosa mileide.”

Então a carroça para e as pessoas começam a se acotovelar ao redor dela. Crianças, velhos, homens, mulheres e soldados. Todos com as mãos erguidas. Alguns dizem: “Comida! Por favor!”, “Nos ajudem Lady Marion”, “Não aguentamos mais, Sir Enrick!”

O Leão começa a ficar agitado em cima da carroça e dá um rugido. As pessoas se encolhem apavoradas. Mas logo começa o empurra empurra novamente. O leão levanta e fica batendo no ar com a pata mostrando as unhas e abanando a cauda nervosamente. Nem isso é suficiente para intimidá-los. Oswalt saca a sua espada.

Oswalt: “E agora irmão?”

Sir Enrick: “Não faça nada!”

Sir Enrick pega a espada Sanctu Gladius que estava na cintura de Carmelo e o seu martelo de guerra na cintura e os ergue.

Sir Enrick: Atenção todos! Iremos distribuir o pouco que temos. Todos estamos na mesma situação. Primeiro as mulheres e as crianças. Tenham calma.”

Então, um homem arranca de uma criança os pães e os queijos que caem no chão. Um outro a defende e dá um soco no homem o derrubando. A comida cai na terra e muitos tentam pegá-la. Mas aqueles que entenderam as palavras de Sir Enrick vão até o aldeão que começou a confusão, levantam-no pelos braços e o jogam em frente as patas dos cavalos de Enrick e Marion.

Sir Enrick: “Com que direito se acha melhor que os outros?”

Rupert: “É fome meu senhor, meus filhos estão sofrendo, estão morrendo.”

Sir Enrick: “Como é o seu nome?”

Rupert: “Rupert, Senhor.”

Sir Enrick: “Então se levante e leve-me a sua casa.”

Sir Enrick entra na pequena casa de pedra e paredes de palha. Existem duas crianças em colchões de palha deitadas, seus corpos são pele e osso. O herói fica muito abalado de ver seu povo sofrer desse jeito.

Sir Enrick: “Que o que aconteceu não se repita. Volte para a fila e aguarde a sua vez.”

O homem se ajoelha e pega a mão de Sir Enrick.

Rupert: “Muito obrigado Senhor! Obrigado! Obrigado!”

FEUDO WINTERBOURNEGANNET

Então a porta adjacente ao grande salão se abre e Lady Adwen chega descendo a escada que leva ao segundo andar do Motte and Bailey. Ela está com lágrimas nos olhos, todos os homens presentes se levantam em respeito a Baronesa.

Lady Adwen: “Marido! É Brian e Heilin ! Eles estão cheios de manchas pretas na pele. Estão doentes. É a morte negra! Que os deuses se apiedem de nossas crianças. Venha comigo.”

Arweinnyd Gwich: “Acho que está com mais problemas que nós meu senhor. Pedimos sua hospitalidade e partiremos amanhã. Em breve lhe mandaremos mais notícias sobre suas terras.”

Barão Algar: “Então vão! Nos falaremos mais tarde.”

Chegando no quarto de Brian o menino está deitado na cama. O quarto do garoto está escuro com somente uma vela acesa no criado mudo. A luz entra pela estreita janela em forma de ogiva. O garoto está coberto com peles de urso. Brian está suando e com a pele cheia de manchas negras. Ele tosse e se afoga algumas vezes, depois fica quieto e delira de febre. Duas damas de compania velhinhas colocam um pano em sua testa. Em um dos bracinhos foi inserido um tubo de madeira de onde sai o sangue da criança e cai em uma bacia de ferro.

Dama de compania: “Senhor Barão, estamos fazendo tudo que podemos. Sacrificamos uma ovelha para os deuses, as sangrias regulares para abaixar a febre e as orações.”

No quarto ao lado a pequena Heilin chora sem parar. As lágrimas correm dos olhos de Adwen.

Adwen: “Marido! Eu não sei mais o que fazer. Não sei se posso engravidar novamente, o Parto da menina foi tão difícil.”

Barão Algar: “Calma querida, vai dar tudo certo!”

Dama de compania: “Só nos resta esperar senhora, as estradas estão fechadas e o frio pode levá-los em poucas horas se estiverem expostos.”

Adwen abraça seu marido e chora.

FEUDO DINTON

Depois da confusão desfeita Lady Marion e Sir Enrick seguem até a casa do Ferreiro Caradoc próximo a vila.

Padre Carmelo: “Irei rezar uma missa agora senhor e senhora. Boa sorte com o ferreiro. Oswalt, tenha juízo e seja homem.”

Oswalt abaixa a cabeça e fica quieto. Eles acham a casa de Caradoc facilmente seguindo a fumaça preta que sai por entre os telhados de palha.

Casa do Ferreiro Caradoc

A casa tem a oficina em frente com a forja e a bigorna em uma área coberta e rodeada por um balcão de madeira escura. Correntes pendem do teto e vários tipos de martelo estão pendurados na parede. Quando eles chegam o homem, de uns quarenta verões, ruivo, gordo e barbudo com os cabelos presos para trás, usando um avental de couro, esfria o aço de uma espada em um monte de neve do lado da área de trabalho. Um rapaz de uns doze verões o ajuda. O ferreiro examina o aço e olha para os heróis. O homem se assusta. Então eles se ajoelham em sinal de respeito.

Caradoc: “Meu senhor! Milady! É uma honra lhes receber na humilde casa dos Smiths.”

Sir Enrick: “Levante-se homem!”

Sir Enrick pega no ombro de seu irmão e o obriga ajoelhar junto com ele.

Sir Enrick: “Diante dos acontecidos, nós nos curvamos a você.”

Ele olha com cara de poucos amigos para Oswalt.

Caradoc: “Não senhor, por favor! Não faça isso”

Então ele os convida para sentar em uma mesa de madeira redonda na frente de sua oficina. Eles usam como bancos tocos de madeira e batem a neve para se sentar.

Caradoc: “Awen venha cá!”

Uma menina com a idade de doze primaveras, baixa, com os cabelos ruivos crespos e de olhos verdes surge pela porta, usando um vestido cor de areia. A barriga de gravidez já é proeminente.

Caradoc: “Fique de pé aqui do meu lado filha. Pois bem meu senhor. Pode falar.”

Sir Enrick: “Viemos aqui para conversar. Soube de meu irmão e sua filha.”

Oswalt: “Já vou adiantando que não vou me casar!”

Sir Enrick: “Quieto! Não quero ouvir mais nada rapaz.”

Caradoc: “Com todo respeito. Seu irmão senhor, fornicou com a menina e fez um filho nela. Daqui há algumas luas a criança nascerá. Muitos já estão falando dela e se não resolvermos essa situação, a minha filha nunca conseguirá casar novamente. Será uma paria, excluída por todos da vila! Logo será mais uma prostituta ou uma mendiga pedindo esmola pelas estradas reais.”

Sir Enrick: “Queria lhe dizer que iremos acolher sua filha. Ela será Aia de Lady Marion e quando nascer a criança será criada em minha casa e terá o mesmo privilégio de meus irmãos e filhos. Já o casamento é uma questão de escolha dos dois e como pode ver o meu irmão não está inclinado a isso.”

Caradoc: “Eu compreendo mestre. Mas uma criança é uma boca a mais para sustentar nestes duros tempos, não temos dinheiro. Se nascer menina então, nem mãos para trabalhar comigo terei. Eu aceito com humildade os seus termos. Mas Awen será enviada para Glastonbury e viverá no convento para sempre. Dedicará a sua vida a Deus e a criança irá ter seu destino determinado pela freiras. Faço isso meu senhor, com o meu direito de pai.”

Sir Enrick: “Então está certo. Oswalt irá assumir o que fez e irá se casar e tratar com respeito a sua filha. Mantenho os outros termos que lhe ofereci não é Oswalt?”

Oswalt só concorda positivamente com um aceno de cabeça olhando para o chão.

Caradoc: “Obrigado por vir conversar Lady Marion e Senhor Flecha Ligeira. São pessoas honradas, como cantam os bardos.”

FEUDO WINTERBOURNE GANNET

Os dias passam lentamente no final do inverno. No feudo do Barão, Adwen não sai dos quartos nem por um minuto. Ela e o Barão Algar oram aos deuses antigos todo o tempo. Após duas semanas a saúde das crianças permanece instável. As febres continuam a atacá-las ao entardecer. À noite eles passam chorando ou delirando e ao amanhecer ficam em silêncio, exaustos, para algumas horas o flagelo recomeçar. Em uma manhã Algar vai até a vila falar com o Bardo sobre a doença das crianças.

Barão Algar: “Druida Vougan, por favor o que podemos fazer para salvar as crianças.”

Druida Vougan: “Nada do que vi o povo fazer parece ter resultado. Sinto muito. Por hora tome esse alforge com um pouco de água do poço sagrado de Glastonbury. Dê a elas de beber todo o dia um pouco. Pelo menos irá mantê-las vivas até que a neve vá embora, desobstruindo as estradas, permitindo vocês irem atrás de ajuda.”

Neste momento O Sargento Tegfryn chega afobado na vila dos aldeões coberta de neve.

Tegfryn: “Senhor! Desculpe lhe interromper. Mas o Barão tem que ver isso!”

Então Algar, Tegfryn e um sentinela saem da toca do lobo e com os cavalos chegam ao portão principal de Winterbourne Gunnet. De suas respirações saem vapor devido ao frio. Na estrada que leva ao feudo estão paradas duas carroças. Ao lado delas sessenta cabeças de gado amarrados um no outro e atados em dois salgueiros.

Sentinela: “Era madrugada senhor. Estava nevando e ventando. Não tinha nada ali até que quando amanheceu e a bruma se dissipou eles surgiram como que por encanto.”

Algar vai verificar e encontra na liteira da carroça sacas de lentilha, cevada, aveia, avelãs, nozes, cementes, litros de hidromel e barris com carne salgada. Um saco de couro com 400 libras. Uma runa foi escrita com sangue nas carroças. Ela é celta e quer dizer Vitória. O Barão encontra uma mensagem escrita em um pergaminho fixado com um punhal ao lado da runa:

“Nesses tempos difíceis, onde o crepúsculo de nossa civilização vai se transformando em noite e a escuridão parece destinada a nos envolver é chegada a hora dos deuses antigos retornarem e acenderem nossas esperanças como uma pequena chama e se espalhar pelos campos, como fogo na palha seca, para na hora certa expulsarmos nosso inimigo. Por hora, exigiremos o que é de direito e o que pertence aos Britânicos e tomaremos daqueles que fizerem alianças com o inimigo. E esse espólio será entregue para ser usado para proteger o nosso povo sendo para fazer alianças, sanar a fome ou fazer a paz. Barão, que essa mensagem chegue a todos os homens e mulheres da Britânia.”

Ass: A Resistência Celta.

Barão Algar: “Björk mandem essa mensagem imediatamente com os nossos pássaros a todos os Cavaleiros da Cruz do Martelo.”
Logo o gelo derrete e a primavera se inicia. As estrada estão cheias de lama devido a cheia dos rios que subiram com o derretimento do gelo. As raposas e lebres correm pelo campo que começa a florescer. Os aldeões começam a preparar a terra para ser plantada. Apesar da população no feudo estar menor que o normal. Com o saque da Resistência Celta entregue por Algar nos feudos dos nobres, por algum tempo, a fome é controlada e as mortes diminuíram bastante, apesar de terem que abater alguns animais e fazerem alguns sacrifícios. Sir Enrick sai durante a noite para caçar, período mais seguro para deixar o seu feudo, mas sofre uma torção grave ao cair de um cavalo de marcha. Então no segundo dia de Primavera do 497, após o Beltane, como combinado no ano anterior, todos os Cavaleiros jurados vão a Sarum para aconselharem a Condessa Ellen quanto a situação política de Salisbury.

SIR ENRICK E LADY MARION

Na manhã de primavera, coberta de bruma, Sir Enrick, Lady Marion, Oswalt e Syan partem com os seus cavalos com a água nos calcanhares de suas montarias. Padre Carmelo surge atrás com o seu pônei de pelo avermelhado. O leão segue ao lado deles. As montarias já se acostumaram com a presença da fera.

Padre Carmelo: “Senhor! Senhora! Esperem por mim. Preciso ir até Sarum. Tenho que falar com o Bispo Roger. Parece que a igreja está inclinada a permitir que os casamentos sejam feitos sem a permissão do bispo e sim com a do Senhor de cada comunidade para agilizar o nascimento de bebês. ”

Os cavalos respingam água e fazem barulho. Uma carroça cheia de corpos cruza a estrada. Os dois cocheiros usam panos negros no rosto. Carmelo faz o sinal da cruz. Diferente do ano passado os heróis percebem que não existem bandos de saxões caminhando pelas estradas. Logo eles se aproximam de Sarum. Dá para ver a muralha dali e um gigantesco andaime de madeira ao redor dela. Um homem com o brasão da Cornualha no peito, usando uma cota de malha por baixo, vem cavalgando em sentido contrário pela estrada.

BARÃO ALGAR

A estrada seguindo o rio está cheia de água. Algar o seu escudeiro Caulas, Verius e Urco, viajando atravessado no colo do celta, seguem lentamente com os cavalos com a água quase batendo na altura das barrigas de suas montarias. O Barão passa pelas ruínas de Figsbury e segue para o sul em direção a ponte que leva até Sarum. Lá no fundo da planície, à leste, dá pra se ver o círculo de pedras sagrado na parte seca onde as águas que transbordaram não subiu. Urco, atravessado no colo de Verius em cima do cavalo, olha para lá e começa a latir. Algar lá de longe, percebe duas crianças. Elas estão de costas. Um é um menino ruivo de mãos dadas com uma menina menor de cabelos mais escuros. Eles tem guirlandas de flores na cabeça e andam em direção à uma luz brilhante no círculo. Então elas somem.

Caulas: “O que foi tio?”

Barão Algar: “Eu vi duas crianças ali e derrepente sumiram.”

Verius: “Não tinha nada ali amigo.”

Um grupo de homens armados vindos do sul se aproximam. Eles seguem um cavaleiro. Ele tem um brasão azul com um castelo, rodeado por dois cavalos marinhos, possui cabelo curto e deve ter uns cinquenta verões de idade. Eles sacam as suas armas.

SIR ENRICK E LADY MARION

O homem que cavalga em direção ao Flecha Ligeira e sua esposa ergue a mão e para a montaria. Tem cabelos curtos pretos e tem uns vinte verões. Usa um corselete de couro e uma espada de meia mão na cintura.

Sir Sulgen: “Sir Sulgen ao seu serviço senhor e senhora!”

Grievous ruge e mostra os dentes. O Cavalo do homem empina quase o derrubando.

Sir Sulgen: “Meu deus um leão! Bem, estou buscando Lady Igrane, por todo o Reino de Logres senhor e senhora. O Rei Idres de Lyonesse está atacando Tintagel. Ele se proclamou Rei da Cornualha. Há meses ele estabeleceu um cerco. O castelo deve ter sido capturado uma hora dessas. Não sei se Lady Igraine nos ajudará, eu pessoalmente acredito que não, mas ela tem que saber que não possue mais aquelas terras.”

Sir Enrick: “Sir Sulgen, irá encontrar Igraine no mosteiro de Amesbury. ”

Sir Sulgen: “Irei imediatamente até lá. Obrigado Senhor e Senhora! Passar bem, tenham um bom dia!”

Então Lady Marion e Sir Enrick seguem até Sarum. Próximo da cidade existe um acampamento de operários, eles vêem um gigantesco andaime de madeira rodeando toda a estrutura. Uma dezena de trabalhadores cortam as pedras com cinzais e as amarram em guindastes, que funcionam com rodas abertas, onde homens em seu interior caminham e os erguem até a altura certa, onde são acomodadas por outros mestres construtores. Eles seguem a estrada real até entrarem pela ponte levadiça que cobre o fosso os levando para o interior da cidade pelo portão oeste.

BARÃO ALGAR

Algar percebe que os soldados, uns vinte e o cavaleiro que os lidera estão em um estado lamentável. Com as cotas de malha rasgadas, alguns desarmados. O Barão percebe também que os machados e espadas deles estão quebrados. Os homens estão feridos nos braços e rostos, inclusive um deles perdeu a mão que está enfaixada.

Sir Cinnor: “Está a procura de combate homem?”

Verius: “E você está a procura de um machado no meio do seu crânio?”

Barão Algar: “Calma Verius!”

Sir Cinnor: “Estão a serviço de quem Cavaleiros?”

Barão Algar: “Da Condessa Ellen de Salisbury. Sou o Barão Algar e se for preciso vamos combater.”

Sir Cinnor: “Barão Algar. Guardem as armas homens. Desculpe, como vai senhor? Sou Cinnor da ilha de Wight ao sul. Atravessamos o canal até as praias de Dorset ontem ao anoitecer. Nosso senhor recusou pagar o tributo ao Rei Cerdic e fomos atacados. Fugimos com um barco enquanto vimos nossas terras serem queimadas e nosso povo morto. Cynric, filho de Cerdic é o novo senhor daquelas terras. Somos um bando sem senhor agora.”

Barão Algar: “Estão procurando alguém para seguir homem?”

Sir Cinnor: “Estamos indo para Cameliard senhor! A rainha é minha irmã e prestaremos vassalagem para o Rei Leodegrance. Eles precisam de um protetor para sua filha que nasceu. Minha sobrinha, Lady Guenever.”

Barão Algar: “Muito bem. Boa sorte Cavaleiro!”

Sir Cinnor: “Então até mais Barão que nossos destinos se cruzem novamente.”

Então o Barão, Claudas e Verius seguem em frente atravessam a ponte. Uns soldados com o brasão de Sarum aguardam na entrada.

Soldado: “Alto lá! São 14 dinares senhor!”

Verius: “Olha aí Barão! O que você acha?”

Urco já começa a latir para os homens.

Barão Algar: “Abram passagem. Sabem com quem estão falando?”

Um soldado cochicha no ouvido do outro.

Soldado: “Senhor, Dem...Demônio do Norte pode passar!”

Caulas: “Quero ser como você quando crescer tio.”

Barão Algar: “É claro meu bom rapaz.”

Logo, seguindo o portão do tolo no lado oeste, eles entram na cidade pela ponte levadiça. O som de pedras sendo quebradas e esculpidas estão por toda a cidade, bem como os andaimes de madeira.

CIDADE DE SARUM

Dentro da cidade todos eles vêem um bando de mendigos esfomeados andando pedindo dinheiro. Enrick e Marion passam pelo mercado da águia tomado por cachorros vira latas e mendigos. E os ratos estão por toda parte em meio aos gatos gordos que os caçam. Grievous corre atrás de um destes gatos e o prende com as duas patas. Logo o animal vira seu almoço. Perto da Catedral de Santa Maria, no mosteiro, Algar vê os monges, tratando pessoas doentes na rua mesmo, deitados na terra ao lado das ruas de paralelepípedos da antiga cidade romana. Alguns corpos estão amontoados em um beco próximo cheios de moscas verdes em cima. Eles percebem que o número de mendigos diminui consideravelmente. Provavelmente morreram de peste. Em frente ao caminho que leva ao monte Sir Enrick e Lady Marion se encontram com Algar.

Verius: “Como vão amigos? Quieto Urco! Para trás, deixe o Leão em paz!”
Grievous se lambe sem dar atenção ao rotwailler que rosna para ele.

Sir Enrick: “Como vai Barão? E as terras e as crianças?”

Barão Algar: “Tempos difíceis. Infelizmente as crianças estão doentes.”

Então eles seguem pela rua inclinada e chegam no pátio do castelo. Ali eles se encontram com Sir Bag, Sir Amig e Dylan enquanto os escudeiros levam os cavalos para as estrebarias.

Sir Bag: “Menina de Ouro! Demônio! Guri! Sarum virou a sede do inferno meus amigos. Este gato grande aí. Não sei se gosto dele Marion. Sou um homem casado senhores! Eu e Mared nos unimos em uma cerimônia simples no bosque do meu feudo neste inverno. Só nós, minha mãe e o Druida embaixo de um salgueiro na beira do riacho. Não temos nem comida e bebida para fazermos uma festa. Não podemos chamar a atenção destes vira latas saxões.”

Sir Amig: “Parabéns texugo!”

Sir Dylan: “Como vão? Viram os corpos? Credo! E como vocês estão? Parece que os saxões não nos atacaram e cumpriram mesmo o que tinham prometido.”

Sir Amig: “Saxões cumprindo sua palavra essa estou pagando pra ver. Mais fácil Algar ser cristão e o Dalan virar um gamo. Vocês acham que está ruim hoje. Estão mal acostumados mesmo. Precisavam ver quando os Romanos deixaram a ilha e os Pictus atacaram. Não tinha nem um gole de vinho, quanto menos uma prostituta pra nos esquentar a cama! Princesinha, Genro e Barão. Que trio! Agora anda com um padre para te proteger é Flecha Ligeira? Depois de Saint Albans acho que estão certo não é Carmelo?”

Carmelo concorda inclinando sua cabeça com um sorriso. Os Cavaleiros percebem que ele tem a Sanctu Gladius na cintura.

Sir Dalan surge pela porta do salão de audiências.

Sir Dalan: “Olá amigos! Fizeram boa viagem? Vamos entrar que a Condessa já está nos esperando.”

AUDIÊNCIA

Quando eles entram a Condessa Ellen está sentada no trono no elevado de pedra ao fundo do salão. Todos se curvam. Sir Léo, Sir Lycus, Sir Warren e Sir Berethor já estão ali esperando com os elmos debaixo do braço. Eles os cumprimentam já com certa formalidade porque a audiência já vai começar.

Condessa Ellen: “Sejam bem vindos Cavaleiros! Obrigado por terem vindo, sentem-se por favor. Gostaria de iniciar nossa audiência dizendo, como vocês sabem, que a dominação saxônica está tornando as nossas vidas bem difíceis. Revoltas, fomes e doenças se espalham como uma maldição. Qual a situação das terras de vocês?”

Então todos os Cavaleiros relatam histórias parecidas. Fome, doenças e revoltas são o tópico principal.
Condessa Ellen: “Compreendo! Estamos todos com problemas sérios. Não descobrimos nada ainda a respeito de quem tentou matar meu filho. Conde Robert, está se recuperando aos poucos de saúde depois do ataque sofrido. Ele acordou do coma há algumas semanas, mas ainda não consegue caminhar... Temo que fique aleijado para sempre. Rezo para que melhore logo e peço que dentro da crença de cada um de vocês façam o mesmo. Tenho notícias do Supreme Colegium que tentava nomear um novo rei. Eles não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. Dizem que ficaram dias discutindo protocolos e procedimentos e no final tudo acabou em uma grande discussão.”

Sir Dalan: “A boa notícia é que estive visitando uma de minhas esposas e soube que em Caercolun ocorreu uma batalha pequena entre os cavaleiros do velho Duque e os saxões do oeste. Os bárbaros perderam finalmente!”

Sir Amig: “E nas terras daquele louco do Pellinore a guerra contra os Irlandeses está sangrenta. Os três irmãos do Rei malucão se juntaram, mas não tem a força dele. Até pensei em irmos até lá e ajudá-los para conseguirmos saque e escravos. Mas os Irlandeses são tão pobres que só acharíamos garrafas de hidromel vazias e cerveja azeda para trazermos de volta. Quando chegássemos em Logres, Algar e Bag já teriam tomado tudo.”

Condessa Ellen: “Aquele Mosteiro que você esteve Lady Marion, ano passado e confiscou alguma prata lá foi atacado. Recebi alguns monges e eles estavam aterrorizados. Relataram que viram demônios que surgiram na escuridão e levaram o seu gado, comida e prata. Pareciam bastante assustados. O Abade Pullo foi degolado em seu quarto, três andares acima, e encontrado com essa máscara medonha com a runa celta da vitória desenhada. Um noviço foi morto a flechadas, no gramado, junto com os três cães de guardas e ninguém viu nada. Sabem alguma coisa a respeito?”

Barão Algar: “Sim senhora! Recebemos uma carta, espólios com sacas de comida e sessenta cabeças de gado. Se intitulam A Resistência Celta.”

Condessa Ellen: “Resistência Celta? Interessante...”

Sir Amig: “Parece que alguém começou a reagir. Isso é muito bom.”

Condessa Ellen: “Não sei, tenho medo que o pânico se espalhe. Vamos ver como os nobres e o povo reagirão.”

Sir Warren: “Senhores, Milaidie, Condessa! As obras estão avançando. Teremos mais três anos pela frente de trabalho pesado. Mas, perdi metade dos meus mestres construtores para a peste. Não bastasse a guerra na Cornualha cortou nossa rota de fornecimento de pedras. Não recebemos nada vindo do oeste há semanas.”

Condessa Ellen: “Está certo Sir Warren. Enviarei alguns Cavaleiros em meu nome para verificarmos o que está acontecendo por lá. Estamos cercados por todos os lados e acredito que seja natural que suprimentos de qualquer natureza não cheguem a nós.”

Sir Warren: “Obrigado senhora! Por hora é isso!”

Condessa Ellen: “E quanto aos tributos que teremos que pagar a Aethelswith?”

Sir Amig: “Isso é uma grande merda Condessa!”
Sir Dylan: “Olha o respeito pai.”

Então o arauto da Condessa abre a porta do salão de audiências.

Arauto: “Condessa, senhora de Salisbury e tutora do Conde Robert! Anuncio a chegada do Rei saxão Aethelswith e do Príncipe Cynric.”

Os dois saxões surgem pela grande porta. Deixam as suas armas com o armeiro da Condessa e atravessam o salão pelo centro. Eles inclinam a cabeça cumprimentando Ellen. E depois olham para os heróis fazendo o mesmo. Grievous se levanta rosnando. Urco faz o mesmo.

Condessa Ellen: “A quem devo tão ilustre visita?”

Os dois nobres se olham e riem ironicamente.

Rei Aethelswith: “Como tem passado senhora? Realmente dever é a palavra certa para conversarmos. Vejo que todos os seus vassalos estão presentes. Venho me apresentar. Sou o Rei de Essex, conheceram o meu filho ano passado.”

Príncipe Cynric: “Para um reino numa situação como Logres, venho trazer uma proposta justa em nome de meu pai.”

Condessa Ellen: “Justa? Vocês tem olhos onde? Em seus traseiros?”

Sir Amig: “Assim que se fala!”

Condessa Ellen: “Não vê a situação que o meu povo está. Fome, doenças, morte. Isso não é suficiente?”

Rei Aethelswith: “Eu acredito que é justa sim. Foram dominados. Mas poderíamos atacá-los a qualquer hora ou dia se quiséssemos. Mas lhes damos a escolha de pagamento de tributo. Do contrário Salisbury já seria nossa desde o ano passado. Sejam sensatos.”

Príncipe Cynric: “Vocês estão enfraquecidos, sem aldeões ou exército. Se pagarem o tributo da forma combinada lhes deixaremos em paz mais um ano. Do contrário lhes tomaremos as terras pela força e os escravizaremos.”

Rei Aescwine: “Vocês tem dez dias para nos entregarem cem cabeças de gado e quarenta e cinco quilos de prata, ou seja, 300 Libras para cada um de nós.”

Condessa Ellen: “Isso é um ultraje! Vocês querem um tributo duplo?”

E ela atira um vaso de cerâmica, que os homens desviam, e se quebra na parede de pedra atrás deles. O Barão Algar bate na mesa e encara os bárbaros.

Príncipe Cynric: “Eis que lhe apresento minha proposta Condessa. Deixe que eu contrate os seus homens para lutar em meu exército e meu pai deduzirá os serviços de seus Vassalos em impostos.”

Lady Marion: “Não lutarei ao lado de vocês bárbaros!”
Condessa Ellen: “Não sujeitarei meus leais Cavaleiros a essa humilhação. Não são mercenários. São heróis! Podem esquecer.”

Rei Aescwine: “Sendo assim, nos retiramos. Dez dias e nada mais! Do contrário lhes atacaremos sem piedade! Vamos!”

E o Príncipe e o Rei inimigo se retiram pisando forte nas pedras do assoalho.

Condessa Ellen: “Desgraçados! Iremos a ruína. Eles querem nos destruir sem lutar. O que iremos fazer conselheiros?”

Sir Amig: “Não temos homens o suficiente para atacá-los.”

Sir Léo: “Uma aliança com esses malditos só os deixariam mais fortes.”

Barão Algar: “Devemos pagar o tributo enquanto pudermos até acharmos uma maneira de recrutarmos mais homens e fazermos os nossos feudos prosperarem novamente.”

Sir Dylan: “Mas se os saxões perceberem que estamos bem novamente eles nos arrancarão mais prata e gado.”

Sir Enrick: “Esconderemos isso deles. Eles não podem perceber.”

Sir Bag: “Todos os reinos ou condados que tem se recusado a pagar estão sendo invadidos, seus nobres mortos e suas famílias sacrificadas. Vocês viram o que aconteceu com a ilha Wight.”

Sir Dalan: “Condessa, parece que teremos de agir mais cedo ou mais tarde. Ou o fim de Logres será rápido.”

Condessa Ellen: “Eu sei Dalan, Infelizmente estamos sem opção. Eles conseguiram. Com as mãos atadas temo pela vida de todos. O tributo duplo será pago. Arauto, escreva a ordem de confisco do gado. Mandem para todos os feudos do Condado.”

Neste momento a porta adjacente do salão se abre abruptamente. O Físico Flavius entra desesperado no salão seguido pelo padre da corte Tewi.

Físico Flavius: “É Robert senhora! Ele entrou em coma novamente. Está respirando mal e delirando de febre. Sua perna parece estar inchada e preta e o pulmão do garoto está cheio de líquido. Ele está fraco e a morte negra tomou conta do seu jovem corpo.”

A Condessa começa a chorar.

Condessa Ellen: “Meu deus! Porque? É o fim de Salisbury. Os saxões venceram.”

Então o Padre Carmelo se aproxima de Marion e fala baixinho em seu ouvido.

Carmelo: “Senhora, desculpe a intromissão, mas a criança talvez tenha uma chance. A senhora é filha de Avalon, não é? Talvez na floresta Sauvage o povo das fadas possam ajudar o menino. Soube de um aldeão que conseguiu curar sua mulher assim no verão passado. Algar poderia levar seus filhos também.”

Lady Marion: “O Padre Carmelo tem razão. Estamos a disposição Condessa para realizarmos tal tarefa.”

Padre Tewi: “Isso é um absurdo! Os senhores querem levar o garoto para os filhos do diabo cuidarem e venderem a sua alma? Eu ouvi bem? Dentro de Sauvage é uma anarquia de seres mágicos, bestas perigosas e morte desde que o Rei Uther nos deixou.”

Barão Algar: “Não me interessa sua opinião padre! Iremos salvar as crianças!”

Condessa Ellen: “Silêncio todos! Mandarei Barão Algar, a segunda maior autoridade de Salisbury para falar em meu nome. Marion, a filha de Avalon para conversar com as fadas e Sir Enrick, Flecha Ligeira, para proteger meu filho. Castelão, prepare a carroça e Físico Flavius prepare Robert para a viagem até Sauvage. Você vai junto com eles Físico.”

Físico Flavius: “Como queira Condessa.”

Sir Amig: “Algar vá por Oxford. É a entrada mais segura para Sauvage.”

Barão Algar: “Está certo Sir Amig. Arauto envie uma mensagem a Baronesa Adwen de que levarei as crianças para Sauvage.”

Condessa Ellen: “Os outros Cavaleiros da Cruz do Martelo deverão confiscar o gado que falta e explicar a situação para cada nobre. Em caso de recusa usem a força. Depois irão com Sir Warren resolver os problemas do fornecimento de pedras para as muralhas. Devo ir à capela e orar. Desculpem.”

E a Condessa se retira em lágrimas pela mesma porta de onde entrou o físico e o Padre seguida pelos dois.

VIAGEM PARA A FLORESTA SAUVAGE

1 Dia: Epona e Levcomagus

Os heróis, os escudeiros Caulas, Syan, Oswalt, acompanham a carroça fechada, conduzida por um servo, com Robert deitado em um colchão de palha em seu interior. O Físico Flavius o acompanha fazendo sangrias e resfriando o corpo do menino com panos molhados. O pequeno Conde está com o rosto branco. A criança delira e dorme exausto um tempo depois. O garoto parece respirar mal. O grupo sai pelo portão do Tolo e segue para leste pela estrada de terra sobe uma fina garoa no dia abafado de verão. É perto do meio dia e alguns mendigos caminham à esmo pela beirada da estrada. A maioria cheio de marcas negras no corpo. Parecem zumbis.

A caravana sobe para o norte pela planície de São George pela margem esquerda do rio Bourne. Vêem as ruínas de Figsbury à direita no horizonte. Depois passam pela ponte em arco do feudo de Algar entrando em Winterbourne Gunnet. As sentinelas se curvam quando eles passam. Cruzando as terras de Algar o grupo se desloca próximo a vila dos servos. Depois contornam a toca do Lobo, o Motte e Bailey do Barão. Seguem pelo pomar próximo a área de caça e saem no portão da antiga muralha romana que protege o feudo. Lady Adwen está os esperando na saída
do lugar. Um druida está a acompanhando. Brian e Heilin estão no colo de duas damas de compania.
Lady Adwen: “Marido! Recebi sua mensagem de que ia partir para a Floresta Sauvage. O pobre Robert também está mal?”

Barão Algar: “Infelizmente sim meu amor.”

Druida Vougan: “Fiz tudo o que pude Barão. Essa viagem é a nossa última esperança. Vocês precisam chegar no máximo em uma semana senhor ou as crianças não aguentarão.”

A Baronesa Adwen e Algar se beijam emocionados. As crianças são colocadas na carroça e cobertas. Elas dormem com o balanço da liteira. Logo o grupo passa por entre a floresta Chute e a Harewood. Cruzam a ponte de pedra sobe o rio e chegam nas colinas na borda da mata. Eles vêem o que era o Haras Epona da família Stanpid lá embaixo. O lugar está tomado pelo mato. Só existem as fundações das antigas construções. Enrick vai até lá seguido de Oswalt e vê algo se movendo por entre o capim alto. Quando o Flecha Ligeira trota com Hefesto com o capim até o seu pescoço tem a impressão que algo lhe espreita. Então ele escuta um som atrás. Quando se vira, saindo do emaranhado de mato surge a cabeça de um animal. Uma potrinha com no máximo de dois meses, toda preta. Ela passa a cabeça no rosto de Sir Enrick pedindo carinho.

Sir Enrick decide levá-la e eles seguem viagem. Hefesto parece sempre querer cavalgar ao lado da éguinha. Ele corcoveia e brinca com ela quase derrubando o Flecha Ligeira. O leão mau humorado ruge para eles. O dia vai passando. Logo a luminosidade vai diminuindo e eles passam pelo antigo coliseu, que está com a face norte desabada e chegam aos portões de Levcomagus ao pôr do sol. A cidade de Camelot, para os celtas, está suja e decadente.

Oswalt: “Não teremos abrigo no castelo aqui. Sir Blains odeia os homens do Conde Roderick por causa da disputa que tiveram pela mão da Condessa.”

Caulas: “Vamos acampar no mato ou ficaremos em uma estalagem na cidade tio?”

Barão Algar: “Vamos montar um acampamento. Não podemos nos arriscar.”

Sir Enrick: “Nem perdermos tempo!”

Já passa da meia noite quando eles deixam a cidade de Levcomagus para trás. O grupo segue a estrada em direção a Silchester madrugada à dentro procurando um lugar seguro para descansar. Até que em certo ponto da estrada escura eles vêem um homem de joelhos. Ele usa uma batina cinza, deve ter uns vinte verões de idade. Ao redor dele estão três Cavaleiros e seus cavalos estão mais atrás. Então o Cavaleiro arranca das suas mãos um saco e lhe aplica um golpe no meio do rosto com a parte redonda de baixo do cabo de sua espada. O homem cai. O Leão vendo o movimento na escuridão fica com o olhar fixo e vai caminhando em silêncio com cada movimento calculado. Com as orelhas para trás e os bigodes para frente. Mas os homens ouvem o barulho do animal se aproximando e os cavaleiros rapidamente sobem em suas montarias e desaparecem na escuridão. Mas um deles é perseguido por Grievous que pula no lombo do cavalo e o derruba. O homem preso embaixo da montaria em pânico não tem chance e é rasgado pelas unhas e dentes do Leão enquanto grita apavorado. Logo tudo se silencia e o leão fica comendo os pedaços de sua vítima enquanto o cavalo foge ferido para a escuridão.

Enrick, Marion e Algar se aproximam do homem de batina. Ele senta na estrada com a mão na testa que sangra.

Pertoines: “Deus lhes abençoem. Ainda bem que vocês chegaram. Eu achei que seria morto. Não deixem essa fera me atacar por favor.”

Sir Enrick: “Fique tranquilo. Quem é você padre?”

Pertoines: “Sou monge Pertoines e vocês que são?”

Lady Marion: “Sou Marion, esse é meu marido Sir Enrick e ele é o Barão Algar.”

Pertoines: “Muito prazer. Dessa vez tive sorte. Perdi todo ouro que tinha, mas pelo menos me deixaram a vida. Essas estradas estão cheias de salteadores e ladrões. Esses pecadores que me atacaram eram cavaleiros sem senhores. Essa terra sem Rei está abandonada aos malfeitores.”

Ele se levanta batendo a terra de sua batina. O padre tem uma bolsa cheia de pergaminhos.

Pertoines: “Ainda bem que esses ignorantes não sabem que às vezes papel vale muito mais do que o vil metal. Bons Cavaleiros e Milady posso saber para onde estão indo? Estou viajando para Oxford.”

Barão Algar: “Nós também Padre.”

Pertoines: “Posso desfrutar de tão boa compania?”

Barão Algar: “É claro!”

Pertoines: “Muito obrigado que deus os abençoe! O que levam na carroça?”

Barão Algar: “São os meus filhos e Conde Robert, herdeiro de Salisbury. Estão todos doentes. Vamos pedir ajuda em Sauvage.”

Pertoines: “Pobres crianças! O reino de Deus é delas mas são muito jovens para ir para lá.”

O Leão com o focinho e juba cheio de sangue do homem morto vem pedir carinho para Enrick. Eles seguem em frente até que ao lado da estrada encontram um lugar cercado de árvores e armam um acampamento. Marion presta socorro com ervas limpando os ferimentos da testa do Padre. Eles montam guarda durante toda a madrugada.

2 Dia: Silchester

Bem cedo, eles são acordados com um cheiro maravilhoso de lebre assada com verduras. O monge Pertoines está cozinhando e Grievous se banqueteia com os restos jogado pelo Padre.

Pertoines: “É bom sempre deixar essa fera alimentada. Bom dia! Venham comer! Pedi para os meninos caçarem duas lebres para o desjejum.”

Eles comem e logo já estão na estrada novamente. No lado esquerdo uma cadeia de montanhas baixas cobertas de relva verde surge no horizonte.

Físico Flavius: “Robert está dormindo. E parece que não vai acordar mais... Heilin está com muita febre e Brian não se mexe desde ontem à noite.”

Pertoines: “Pobres crianças! Que deus olhe por elas.”

Então eles se aproximam da ponte de madeira em cima do rio, deixando as montanhas para trás. Um portão bloqueia a passagem. Cinco homens estão sentados antes dela. Eles levantam. São guerreiros saxões. Um deles levanta a mão.

Saxão: “Parados aí Britânicos! Quem são e o que querem?”

Eles percebem que dois deles estão armados com arcos simples e flechas com ponta de aço com penas de corvo. Os outros, dois com machados e o que parece o líder com uma espada bastarda.

Saxão: "Em nome do Rei Ælle. Uma libra de cada um para usarem a ponte e um cavalo para que os deixemos passar. E mantenham esse animal longe.”

Barão Algar: “Não lhes daremos nada! Sou Barão Algar e exijo meu direito de passagem.”

Saxão: “Armas homens! Se não derem meia volta, por Wotan, matarei todos vocês.”

Pertoines: “Droga! Hora de ir para baixo da carroça e rezar!”

Barão Algar: “Que assim seja.”

Então Os dois arqueiros saxões disparam suas flechas. Algar empina seu cavalo e a flecha passa no vazio. Marion se abaixa e o projétil passa por cima da guerreira. A Menina de Ouro contra ataca e dispara o seu arco. O arqueiro saxão cai com o impacto em seu peito se debatendo de dor. Enrick com o braço machucado pela caçada para conseguir comida para o seu feudo atira mas a flecha sai para cima sem precisão. O Leão faz um estrago correndo em direção aos inimigos. Pula mais de dois metros do chão e bate no peito de um saxão que cai e tem o seu pescoço mutilado. Um outro tenta lhe acertar mas o felino é muito rápido e com uma patada arranca a cota de malha e o braço do homem na altura do ombro. Depois segura sua presa enquanto o homem grita e estrebucha e o come ali mesmo. Os escudeiros ficam contornando com os seus cavalos a carroça para protegê-las e Enrick se junta a eles.

Marion Cavalga contra um dos bárbaros arremessando a sua boleadeira que o acerta em cheio enrolando em seu pescoço. Uma das bolas de pedra batem no rosto do homem, quebrando a maçã de seu rosto. Algar faz uma carga. Um dos saxões com um machado acerta a sua armadura desviando do Barão. Aí o Demônio do Norte empina a sua montaria fazendo a curva e consegue enterrar sua lança na clavícula do inimigo fazendo sair a ponta pelo peito do bárbaro. O outro saxão corre desesperado se jogando no rio e some levado pela correnteza. Pertoines sai debaixo da carroça.

Pertoines: “Não se pode mais viajar tranquilo pela Britânia. Esses bárbaros ignorantes vão transformar a ilha em um lugar sem cultura e ignorância. Deus nos deu o Trivium, a gramática, a lógica e a retórica para que conseguíssemos conversar e o Quadrivium, a geometria, aritmética, cosmologia e a música para entendermos de onde viemos. E esses aí só pensam em matar e pilhar. O dia em que todos puderam estudar a pena será mais poderosa do que a espada.”

Então eles seguem em frente passando por algumas pequenas colinas. Logo surge mais uma cadeia de montanhas, prolongamento das outras, em formato de ferradura que se curva à esquerda da estrada. Ao meio dia eles entram no vale entre as montanhas verdejantes, fronteira natural do ducado do Duque Ulfius.

Então eles escutam um som vindo do alto da montanha. Seguido por uma chuva de pedras e flechas. Na saída do vale um amontoado de troncos de árvores é rolado bloqueando a passagem. Atrás acontece o mesmo. Várias toras são roladas impedido uma rota de fuga. O Leão guincha assustado e corre de um lado para o outro. Os cavalos se assustam com a fera enlouquecida. Marion cai de seu cavalo e Algar também. Eles conseguem rolar e amortecer a queda enquanto uma chuva de flechas continuam caindo ao redor deles. Olhando para o alto eles percebem que são homens e garotos atacando. Usam roupas esfarrapadas e são muito magros. Dali conseguem ver quatro deles escondidos atrás das rochas, atirando coisas neles.

Bandido: “Rendam-se Cavaleiros! Podemos jogar pedras, flechas e lanças em vocês o dia inteiro. Queremos a carroça, os cavalos e as armas! Deixem tudo e vão para próximo a entrada do vale. Talvez os deixem viver!”

Barão Algar: “Com que direito atacam as pessoas nas estradas?”

Ladrão: “Com o direito de quem tem fome!”

Barão Algar: “Sou Barão Algar e ordeno que parem!”

Então dez homens e cinco garotos surgem próximo a entrada. Eles estão armados com foices enferrujadas, espadas velhas, arcos e lanças rústicas. Estão maltrapilhos e sujos.

Oswalt fala baixo: “Vamos pegar esses idiotas! São dois pra cada um.”

Eles apontam as armas enquanto três deles removem as toras abrindo com um machado uma saída. Eles parecem assustados.

Bandido: “São nobres, matem-os!”

Oswalt: “Caulas, Syan! Juntos! Protejam a carroça! Lanças em baixo, escudos!”

Os homens atiram com os arcos e os escudeiros recebem flechas em seus escudos. Enquanto Grievous corre no meio dos cascalhos promovendo o pânico entre os ladrões. Enrick prepara a sua flecha e dispara. Mas com o braço ainda se recuperando da torção ele puxa a corda de cânhamo mais forte que o necessário quebrando o seu arco longo.

Oswalt grita: “Carga!”

Os três no pequeno espaço lado a lado atacam em formação fechada atravessando com a lança os inimigos e depois com o peso dos cavalos passando por cima deles. Os outros recuam. Marion dispara o arco ferindo gravemente um dos homens em fuga que cai e se arrasta para trás dos troncos que bloqueiam a passagem. Os arqueiros ladrões disparam e duas flechas acertam o Leão que não é detido e ataca em um salto dois homens os derrubando, arrancando as suas mãos e os retalhando até a morte. Algar segue os escudeiros com a lança e o escudo prontos pra lutar. Então eles escutam o som de cavalos se aproximando, vindos pela saída do vale. São saxões!

A chegada dos bárbaros assustam o bando de salteadores que correm desesperados descendo a encosta e passam correndo pela entrada do vale sumindo. Uns trinta guerreiros a pé rapidamente removem as toras e os doze saxões entram no vale montados e os circulam com os cavalos.

Saxão Wigelm: “Vão embora salteadores malditos! Dá próxima vez lhes enforcarei com as próprias tripas.”

O Leão Grievous começa a caminhar ferido em direção ao cavalo do saxão rosnando e mostrando os dentes.

Saxão Wigelm: “Afastem essa fera! E vocês? Quem são?”

Sir Enrick: “Somos forasteiros. Estamos levando essas crianças doentes para Sauvage.”

Saxão Wigelm: “Vão embora! Não há nada que vocês queiram para frente.”

Então os heróis escutam uma voz conhecida: “Calma Wigelm! Eles são amigos!”

Saxão Wigelm: “Mesmo senhor?”

O homem inclina a cabeça positivamente.

Saxão Wigelm: Guardem as armas!”

Eles vêem um homem entrando pelo vale escoltado por dez cavaleiros. Eles reconhecem o cavaleiro que parece ter envelhecido uns quinze anos, com o rosto cheio de cicatrizes, com os braços e pernas tortas vestindo a sua armadura romana. É Duque Ulfius. O heróis percebe que o Monge coloca o seu capuz e fica em silêncio.

Duque Ulfius: “Boa tarde Cavaleiros. Segurem esse bicho. Meu físico o tratará se conseguirem acalmá-lo. Bem vindo ao meu Ducado. Assustados com a minha aparência? O pior são as dores. No inverno elas beiram o insuportável. O que há de tão valioso assim na carroça?”

Barão Algar: “Meus filhos Conde.”

O Conde desce com bastante dificuldade de seu cavalo ajudado por seu escudeiro. Ele caminha escorado por dois Cavaleiros devido aos suas pernas tortas e olha lá dentro.

Duque Ulfius: “Entendo. Aceitem minha hospitalidade. Venham a Silchester e passem a noite lá.”

Sir Enrick: “Desculpe Conde mas temos pressa. Iremos acampar mais à frente.”

Duque Ulfius: “É uma pena. Iremos lhes escoltar até a fronteira de meu Ducado. Mas, quem é esse Padre?”
Pertoines: “Um pobre sacerdote que veio orar pelas crianças senhor!”

Duque Ulfius: “Está certo! Partamos então! Vamos homens!”

Os heróis e o Conde seguem na frente ao entardecer. Os Cavaleiros de Ulfius e os saxões cercam a carroça protegendo-a. Depois de deixar o vale para trás eles cruzam uma grande planície. Um campo verde. Vêem algumas lebres correrem. Passam por duas vilas. A estrada aqui fica mais movimentada com vários servos com carroças com grãos e levando porcos e patos em gaiolas. Os heróis notam que eles são saxões e britânicos. Os dois povos parecem dividir a vila. Em uma área próxima de plantação eles trabalham colhendo cevada.

Duque Ulfius: “Estão vendo como as nossas terras estão sendo cultivadas? Tivemos alguns problemas ano passado com fome e doenças. Mas saibam que o Rei Ælle está aberto a conversação. Conheci o homem e me pareceu o mais forte dos Reis saxões que estão na ilha. Como estão as coisas em Salisbury?”

Barão Algar: “Nada bem Duque! Tributos duplos, fome e doenças.”

Duque Ulfius: “Como eu disse a vocês. O Rei de Sussex é o mais forte deles. E não pensem que eles vivem em paz. Os bárbaros vivem um invadindo a terra do outro. Roubam gado e prata. Depois os culpados são mortos ou tem as mãos cortadas e os reis fingem serem atos isolados. Mas acredito que eles disputarão cada pedaço de terra na Britânia. Logo virá uma guerra entre eles, sinto o cheiro no ar, e acredito que teremos que escolher um lado. Pretendo estar do lado vencedor. Eu tive que fazer uma escolha ou perderia Silchester e condenaria meu povo ou seria Vassalo de Ælle. Escolhi a segunda opção e me aliei ao maldito saxão. Agora tenho homens suficiente para defender as minhas terras e braços trabalhando nos feudos. As fomes e doenças se foram.”

Sir Enrick: “São escolhas que temos que fazer Duque.”

Conde Ulfius: “Eu recomendo aos senhores que aconselhem a Condessa a fazer o mesmo. Pagar tributo duplo todo ano acabará com vocês e se aparecer outro Rei pedindo mais prata e gado vocês estarão mortos até o próximo verão. Por hora convenci Ælle a deixar Salisbury em paz mas não sei por quanto tempo conseguirei.”

Então o grupo chega na fronteira do Ducado no campo próximo à um bosque.

Conde Ulfius: “É isso então Cavaleiros. Tenham uma boa noite e que tempos melhores venham. Tenham uma boa jornada. Pensem bem no que lhes disse.”

Eles montam um acampamento e assam uma codorna enquanto conversam ao redor do fogo.

Sir Enrick: “Porque se escondeu do Duque Padre?”

Pertoines: “É a profecia. Não posso deixar que ninguém interfira na missão. Não confio no Duque.”

3 Dia: Atravessando o Tâmisa

Pela manhã eles acordam fazem uma refeição com as sobras da noite anterior e partem novamente. O grupo percorre as planícies ponteadas por colinas percorrendo uma trilha simples na relva.

Físico Flavius: “Lady Marion as crianças estão mal. As três parecem estar dormindo mas a febre as derrubou. Não se mexem, só dormem. Temo que o fim esteja próximo.”

Algar parece ter visto uma aura negra ao redor das crianças. Eles entram na planície do Tâmisa no condado de Rydychan. Logo o rio surge à frente caudaloso e largo. Na outra margem eles vêem dois soldados desaparecendo por entre as árvores.

Seguindo para o norte eles passam perpendicularmente por uma estradinha de terra, por entre as colinas, margeando o Tâmisa. Uma cidade pequena sem muros ao redor de um Motte and Bailey aparece com os lúmens acesos no fim da tarde. Logo uma comitiva formada por dez cavaleiros se aproxima. O estandarte de um búfalo branco em um fundo azul, com um lambel amarelo, indica ser o filho mais velho de um nobre de Oxford. Enrick percebe que os cavalos deste grupo são muito grandes e bonitos. Os animais são garanhões perfeitos. Alguns marrons, outros negros, com manchas no rosto. Muito parecidos com Hefesto.

Sir Basile, tem uns 30 verões, veste uma armadura de placas de ferro e uma cota de malha. Tem cavanhaque preto e cabelos negros. Na cabeça usa um elmo em forma de cabeça de touro com chifres: “Alto lá! Quem sois vós Cavaleiros?”

Barão Algar: “Sou Barão Algar de Logres, essa é Lady Marion, esposa de Sir Enrick.”

Sir Basile: “Sou Sir Basile de Wallingford. Procurando por confusão em Rydychan?”

Nervoso ele os circula com o seu garanhão com pelo avermelhado. O Leão começa a ficar impaciente de novo.

Sir Enrick: “De maneira nenhuma.”

Sir Basile: “Estão longe de casa! O que tem na carroça?”

Barão Algar: “Apenas meus filhos.”

Ele vai até a carroça e manda o seu escudeiro erguer a cobertura de linho.

Sir Basile: “Trazendo doenças e animais selvagens para nossas terras. Escoltarei vocês de onde vieram ou os jogarei na prisão?”

Pertoines: “Deixe me falar Barão?”

Barão Algar: “Siga em frente Padre!”

Pertoines: “Sou Pertoines. Irmão do falecido Príncipe Madoc e filho do Rei Uther. É bom que trate bem esses homens Sir Basile. Não estaria aqui se não fosse por eles. E saiba que sou o único herdeiro conhecido do antigo Rei. Gostaria que respeitasse eu e meus amigos pois um dia você poderá estar debaixo de meu cetro.”

Ele mostra um anel com um dragão que Uther usava. Sir Basile abaixa a cabeça complacente.

Sir Basile: “P...Pois têm minha hospitalidade. Deixem me levá-los até Wallingford esta noite. Meu irmão é senhor de Oxford e lhes oferecerá abrigo quando chegarem lá.”

Enquanto cavalgam em direção a cidade, escoltados pelo cavaleiros de Sir Basile, eles conversam.

Sir Basile: “Tenho patrulhado estas terras dia e noite. É meu dever. Meu pai, Sir Medrod, está lutando contra os saxões em Caercolun. Já conseguiram algumas vitórias por lá. Soube que Logres está dando seus últimos suspiros. É verdade?”

Sir Enrick: “Histórias exageradas Sir Basile!”

Eles percebem que os aldeões que andam pela trilha carregando comida, lã e ferramentas de trabalhar no campo, tem muito medo de Sir Basile.

Sir Basile: “E você Padre Pertoines o que o traz à Oxford?

Pertoines: “Uma profecia. Realmente preciso ir até lá e fazer o que meu pai ordenou.”

Sir Basile: “Contanto que não traga confusão.”

Então o grupo chega na cidade de casas de madeira e telhado de palha. Sir Basile bate na porta de uma igreja construída com pedras cinzas. Um monge de uns sessenta verões abre a porta segurando uma lanterna que ilumina seus rosto velho e os poucos cabelos brancos que sobraram dos lados da cabeça. Ele se curva, puxando a batina cinza e baixa os olhos quando vê Basile.

Padre Servius: “Meu senhor! A que devo tanta honra.”

Sir Basile: “Como pagamento do imposto que a sua igreja me deve, Padre Servius, receberá esses nobres em sua casa. Não os incomodem, alimento-os e lhes ofereça camas limpas e lugar para os escudeiros tratarem os cavalos.”

Padre Servius: “Sim senhor! Mas essa besta selvagem?”

Sir Basile: “É problema seu. Boa noite senhores e senhora! Pela manhã estão livre para ir.”

Ele retira um brasão encrustado em sua bainha e atira para Marion.

Sir Basile: “Milaidie, mostrem em Oxford e serão recebidos por Sir Beleus, meu irmão do meio. Adeus!”

Sir Basile parte com os seus cavaleiros enquanto o Físico Flavius e o cocheiro removem as crianças para dentro da Igreja. Eles percebem que elas estão em coma. Bem magras, cheirando mal e suadas. Os cavalos e a carroça com o cocheiro são levados à estrebaria na área lateral do templo cristão. A igreja de Wallingford é alta. Sua janelas na nave principal são estreitas. Eles atravessam a igreja escura vendo as sombras dos santos esculpidos nas paredes. O Padre abre uma porta que dá para uma escada em caracol de madeira para o segundo andar. Lá existe um quarto grande com palha forrando o chão. Na parede um crucifixo de madeira.

Então o Padre trás um pouco de pão preto e queijo, com canecas de cerveja. Ele acende as velas em nichos na pedra. Pertoines se senta na palha pega o seu saco de pergaminhos e cuidadosamente escolhe um deles. Na verdade um grimório com capa dourada e iluminuras por entre símbolos estranhos.

Pertoines: “Está aqui! A Chave de Salomão! Conhecem esses escritos? Estão em latim. Clavis Salomonis. Este livro, dizem os sábios, foi escrito pelo próprio Rei Salomão. Dizem que existem trinta e seis símbolos mágicos, pantáculos, que possibilitariam uma ligação entre o plano físico e os planos sutis. Os antigos sábios que esses textos tem a sua inspiração em ensinamentos cabalísticos e talmúdicos. Ainda não o decifrei. Mas um dia pretendo conseguir. Deixe me ver. Escutem só, segundo os ocultistas, os pantáculos são fontes inesgotáveis de energias e forças que encerram incalculáveis poderes dentro de si. Por isso fiquei com medo quando fui atacado na estrada. Esse livro não pode cair em mãos erradas. Estou indo para Oxford porque todos os escritos desse livro me levam a crer que tenho que me estabelecer ali e cumprir aquilo que meu pai pediu antes de morrer. Oxford parece ser um lugar com energias vivas. A própria floresta Sauvage ao redor é uma prova disso. Com suas lendas de duendes, dragões e fadas. Merlim sugeriu ao meu pai que a Britânia deveria ter um centro de estudos. Como sempre foi um homem dos livros decidi cumpri-la. Assim vim parar aqui.”

Sir Enrick: “E quanto Uther ser seu pai? É uma honra estar na compania de um Pendragon novamente.”

Pertoines: “Uther sempre foi bom pra mim. Dizem que meu pai me entregou a Igreja para agradar os Cristãos. Talvez tenha sido mas ele nunca deixou faltar nada. Esse livro, a Chave de Salomão, foi me dado pelas suas próprias mãos. Disse ter sido um presente de Merlim à ele. Espero não ter problemas aqui em Rydychan, porque antes da morte de Uther essas terras eram um Condado que pertencia a própria Lady Rydychan. Uma mulher de meia idade muito bonita. Apesar dos filhos e das tristezas da vida. Coitada, ela já perdeu dois maridos em batalha. Mas, três irmãos, conhecidos como os usurpadores que eram vassalos da Condessa, tomaram essas terras quando meu pai morreu. Um deles já conhecemos, Sir Basile.”

Quando a noite fica bem escura e mais fria eles dormem. Até que Sir Enrick acorda com Grievous arranhando a porta de madeira insistentemente. Então o sino da igreja começa a soar perto da hora do amanhecer. Todos acordam. Sir Enrick olha pela janela estreita para ver o que está acontecendo e se depara com uma cena assustadora. A parte de baixo da igreja está pegando fogo. Então a fumaça começa a subir e invadir o quarto.

Pertoines: “Droga meus pergaminhos”

Oswalt: “As crianças rápido!”

Caulas corre para a porta e tenta abri-la junto com Sir Enrick e Syan. Enquanto Algar, Marion e o Físico Flavius pegam as crianças no colo.

Syan fala tossindo: “Pela Deusa! Está trancada pelo lado de fora.”

Eles forçam a porta com os ombros até que ela cede. Quando a porta abre, um calor infernal vem na direção deles lá de baixo. Eles podem ver as chamas atingindo a escada. O Leão corre e some por entre as labaredas.

Syan: “É a única saída!”

Eles se jogam pela escada em caracol atravessando as chamas. Sir Enrick sofre queimaduras, Algar também. Eles resistem a dor para salvar as crianças. Quando chegam na nave da igreja as chamas consomem as paredes e os bancos. A fumaça preta é intensa. Derrepente a escada atrás, por qual desceram, desaba consumida pelo fogo. O Físico Flavius que vinha por último cai com ela e com Heilin em seu colo. Mas ele consegue atirar, a filha do Barão para longe, aos pés de Algar. A quantidade de entulho ardendo em chamas envolve Flavius. Um grito é ouvidos e depois só silêncio. No alto o forro de madeira que fica há dez metros de altura arde em labaredas amarelas e vermelhas e começa a ranger. Enrick vê o Padre, que os recebeu, caído por entre as chamas dos bancos.

Padre Servius: “Me ajudem por favor! Pelo amor de Deus.”

Mesmo ferido, com queimaduras e o braço torcido Sir Enrick se arrisca e consegue chegar até o Padre e ajudá-lo. Sir Enrick acha a porta e aponta para os seus amigos. O fogo os cerca. Está difícil de respirar e os olhos lacrimejam. Quando chegam na porta o lugar inteiro range e estala. A igreja está trancada e Grievous arranha a porta com as orelhas baixas assustado com a língua pra fora. Eles olham para cima e o forro inteiro de madeira tomado pelo fogo irá desabar em instantes. Marion, Enrick e Algar se jogam contra porta desesperados. Eles forçam enquanto a fumaça os deixam tontos. Então a porta é arrombada. Finalmente o ar entra com o arrombamento da porta e o ar alimenta as chamas e a igreja vira uma bola de fogo. Eles saltam para fora rolando pelo chão de terra na frente da igreja. O Leão é o primeiro a saltar e some por entre as pessoas que fogem aterrorizadas com e presença do animal. Neste momento o teto inteiro e o gigantesco sino de ferro maciço vem abaixo.

As chamas saem pelas janelas e as duas torres laterais colapsam para dentro. Os moradores estão do lado de fora olhando de boca aberta o que aconteceu. Os heróis estão suados, pretos de fuligem e tossindo. As crianças desmaiadas parecem estar muito mal. Brian vira os olhos. A fumaça cobre toda a cidade. Duas senhoras trazem um balde com água e canecas e lhes dão para beber.

Pertoines: “Nos trancaram e atearam fogo! Tentaram nos matar!”

Caulas: “Mas quem e porque?”

Sir Enrick pega o Padre Servius pelo colarinho da batina.

Sir Enrick: “Porque nos trancou Padre! Porque?”

Padre Servius: “Eu nunca tranco a igreja senhor. A casa de Deus sempre deve estar aberta. Agora é um amontoado de pedras sem utilidade. O que vai ser de mim. Mas, obrigado por terem me salvado!”

Próximo a porta da igreja está um corpo de uma mulher com uma facada na base do crânio.

Pertoines: “A única que sabia quem tentou nos matar deve ser essa coitada aí que deve ter surpreendido o assassino.”

Então eles vão até a estrabaria que fica à uma distância segura da igreja. Os animais estão assustados mas sem ferimentos. Logo o cocheiro, que não tinha percebido nada, é acordado e ao amanhecer eles deixam a cidade com as chamas consumindo o resto da construção. Quando seguem a trilha que leva a Oxford para o norte um menino de uns nove anos os alcança correndo e os entrega algo.

Menino: “Deixaram cair isso senhor! Estava perto da defunta meio pisado e enterrado no barro.”

Eles recebem do menino um pingente em uma corrente com o fecho quebrado. Um pequeno brasão gravado com o desenho de uma caveira no centro com duas manoplas à apoiando. É a cota de armas da Guilda de Assassinos Mão Negra.

4 Dia: Oxford

Eles seguem em frente pela estrada. Atravessam a ponte e passam por Dorchester. A cidade romana é cercada por uma muralha. Muito da antiga construção desabou e dá para se ver no interior do lugar centenas de casas e um grande monastério. Os guardas ao longo da muralha inclinam a cabeça.

Syan: “Já devem ter os alertado de nossa presença.”

Seguindo para o norte, na mata em formato de ferradura, no estuário do Tâmisa surge uma grande cidade à frente. O Brasão do Búfalo tremula nas torres. Dá para se ver o monte com o Motte and Bailey no topo.

Pertoines: “Chegamos! Oxford! É aqui que construirei o maior centro de aprendizado da Britânia.”

O portão da cidade se abre e um cavaleiro e seu escudeiro carregando o Brasão se aproxima seguido de vinte cavaleiros. O homem que os lidera deve ter em torno de vinte e cinco verões. Usa o equipamento completo de guerra. Seu cavalo também usa armadura. Ele ergue a mão lhes cumprimentando.

Sir Beleus: “Boa tarde Cavaleiros! Sejam bem vindos a Oxford. São intrusos em minhas terras. O que querem aqui?”

Sir Enrick: “Estamos indo para a floresta Sauvage!”

Lady Marion: “Está aqui o brasão de seu irmão.”

Sir Beleus: “Floresta Sauvage! Precisa ter culhões para irem até lá. Revistem a carroça homens!”

Um dos cavaleiros desce e olha dentro da liteira. Ele se volta assustado.

Cavaleiro: “Sir Beleus! Crianças doentes. A morte negra! Meu deus! Não os deixem entrar!”

Sir Beleus: “É melhor seguirem o seu caminho para a floresta já que o meu irmão deixou que vocês entrassem por nossas terras.”

Pertoines: “Eu seguirei com vocês amigos se não se importarem.”

Barão Algar: “É claro Padre!”

FLORESTA SAUVAGE

Ao anoitecer do quarto dia eles chegam em Sauvage. Aqui a carroça não pode mais entrar. Enquanto os heróis se preparam para seguir viagem Grievous surge. Ele vem correndo e passa a cabeça nas mãos de Enrick deixando as montarias agitadas. A floresta é fechada. E o Rio corre para o seu interior. O chão de terra é coberto por raízes e folhas. Os troncos dos antigos Carvalhos e Salgueiros são preenchidos por folhagens baixas. Mandrágoras brotam do chão e cogumelos nascem nos lugares escuros e úmidos de troncos caídos. O canto dos pássaros e da água corrente do afluente do Tâmisa são ouvidos. Uma leve brisa sopra enquanto borboletas e beija flores voam por entre as folhagens.

PERDIDOS:

A medida que caminham, floresta à dentro, todos os lugares por onde passam parecem iguais. Alguns marcos de pedra são vistos com runas desconhecidas. Por vezes eles seguem uma trilha. Derrepente ela some em uma rocha grande no meio do caminho.

Lady Marion: “Runas dos povo da floresta a tempos esquecidos pelo homem.”

Logo escurece e os sons da noite ficam intensos. O som de sapos, de cigarras e grilhos. Os cheiros das flores que só se abrem durante a noite enche o ar. Logo eles organizam um acampamento.

Caulas: “Dizem que essa floresta é mágica e que o véu é fino.”

Syan: “Os Padres falam na verdade que é uma passagem direta para o inferno. Quem sabe?”

Pertoines: “Na verdade meus amigos, pode ser as duas coisas. A morte de meu pai e a Excalibur presa no aço impedindo qualquer um que não seja o escolhido de usá-la criou um rasgo no véu e os mundos agora parecem caminhar juntos aqui dentro.”

Cai a noite e a escuridão toma conta da mata. A fogueira mal pode iluminar o pequeno acampamento.

GALOPANDO O DEMÔNIO:

No meio da madrugada a temperatura parece cair drasticamente. O Leão se embrenhou na mata. Provavelmente foi caçar. Derrepente os sons dos bichos param. Sir Enrick está de sentinela na porta da tenda olhando a mata escura e pensando no dia difícil que teve. Então, por cima das copas das árvores, ele vê os relâmpagos iluminando o acampamento. Logo começa a chover. Os Cavalos se assustam e empinam. O local onde está a tenda vira um lamaçal. O vento fica forte assobiando e carregando as folhas. Sir Enrick escuta lamentos carregados pelo vento. Eles são terríveis, melancólicos e assustadores.

Vencendo o medo Enrick sai da tenda e fica na lama abaixo de chuva. Ele escuta um galope se aproximando. Mais um raio corre pelo céu e o clarão ilumina mais à frente e ele vê um cavalo negro. Em cima dele um cavaleiro saído de algum conto de terror que sua Aia costumava contar quando ele era crianças. Seu rosto é cadavérico e seu elmo enferrujado. Sua capa negra está esfarrapada. Pela cota de malha quebrada Enrick vê o seu dorso de carne mumificada aparecendo as costelas e alguns órgãos secos. Ele usa um kilte de pele de urso na cintura e uma adaga. Nas pernas uma armadura de ferro e nas suas mãos uma grande lança de caça. Ele deve ter quase três metros de altura. Logo a escuridão vem novamente e não dá para enxergar onde ele está. Os outros acordam.

Oswalt: “Vocês viram isso?”

Pertoines faz o sinal da cruz: “É o Galope do Diabo, caçador das almas más. Ele as caça e as leva para o seu mestre: O próprio Satanás.”

Então mais um raio cai e Sir Enrick percebe estar diante da enorme criatura e seu cavalo. A cabeça do animal está logo acima do Flecha Ligeira e a água da chuva escorre pela cara do cavalo no rosto de Sir Enrick. O animal espuma enquanto é puxado o enorme arreio preso em sua boca.

Galope do Diabo: “Viajantes! Estive caminhando pelas charnecas desertas e florestas escuras da Britânia. Vocês tem algo para mim nesta noite de tempestade?”

Ele surge montado na frente da tenda.

Galope do Diabo: “O Abade Verus, já se juntou ao mestre! AHHAHAHA!”

Ele ergue a cabeça de um padre e a atira no chão aos pés do Flecha Ligeira.

Galope do Diabo: “Vamos! Dêem-me algo! Uma alma má e prometo que não sofrerão!”

Ele começa a rodear o acampamento. E arremessa sua lança em Caulas que cai com um gemido de joelhos vira os olhos e cai de bruço. A arma desaparece e surge nas mãos da criatura novamente.

Barão Algar: “Pode me levar! Estou pronto! Já matei padres, mulheres e crianças!”

Galope do Diabo: “Ah Droga! Malditos homens e sua crenças inabaláveis! Mal sabem que o que acreditam é somente um vislumbre da realidade! É melhor do que pensa Demônio do Norte. AHAHAHAH!”

Então o Galope do Diabo assobia. Os cavalos dos heróis entram em pânico e as crianças doentes gritam.

Galope do Diabo: “Sir Enrick? Gostou do presente?”

Sir Enrick: “É o que estou pensando?”

Galope do Diabo: “Belo nome escolheu para o seu esquadrão! Um dos que eu mais gosto, que os homens antigos me chamavam: Sine Nomine. Mas Cavaleiros da Morte à Cavalo é novo e perfeito... Faça bom uso deles. Me poupa muito trabalho. Raaaaa!”

Ele empina o seu cavalo negro e desaparece na escuridão da floresta. Mais um raio cai iluminando por entre as folhagens a criatura infernal de costas que depois some na escuridão. O escudeiro Caulas se senta, sacode a cabeça. Parecem estar bem mas o susto os deixou em choque. O resto da noite ninguém dorme. Todos ficam ansiosos e assustados com a visão que tiveram. Tudo volta a ficar em silêncio. Ao amanhecer a chuva para e Grievous aparece na área do acampamento.

O Eremita:

Seguindo em frente pelas trilhas intermináveis da floresta, sujos de barro, andar à cavalo é impossível. O grupo caminha pela floresta encharcada pela chuva do dia anterior. Parece que todos os caminhos e sons são iguais. As horas vão passando. Eles já não sabem ao certo se é tarde ou manhã. Eles chegam numa área onde as árvores são mais esparsas. Eles caminham quando derrepente as árvores balançam ao redor e uma rede de cânhamo se fecha. O galho de um grande salgueiro vergado se lança para trás e Marion, Pertoines, Caulas, Syan e Oswalt são envolvidos por uma armadilha e são inçados para cima há três metros do chão. O pedaço de carne que servia de isca voa longe e some na mata. Grievous corre atrás dele e desaparece. As crianças, que vinham carregadas pelos escudeiros, caem no chão.

Neste momento Algar e Enrick escutam um som vindo de trás. Parece uma respiração ofegante. Hora surge na direita, logo depois os rodeia. O som de algo arranhando o tronco próximo, de onde estava a armadilha, é ouvido. Lentamente a enorme cabeça de um urso negro de 500 quilos surge. Ele está babando de fome. A besta olha para cima e depois para os heróis que estão embaixo. Cheira! Sente o odor das crianças e caminha na direção delas. Algar se entrepõe entre as crianças. O urso fica de pé e fecha as duas patas arranhando o ombro rasgando cota de malha e sua armadura causando uma dor lancinaste. Sir Enrick se atira com o seu martelo nos joelhos do animal que cede e solta o Barão. A grande besta fica enlouquecida e volta a sua atenção para Sir Enrick, que tinha o golpeado, e corre em sua direção. O urso usa sua grande mandíbula para morder o pescoço do Flecha Ligeira. Quando o animal dá as costas para Algar ele pega a sua lança e enterra nas costas do animal que urra enquanto dispara carregando o Demônio do Norte em suas costas. Sir Enrick no último instante ataca com o martelo de cima para baixo a cabeça do animal. O Urso ainda morde o pescoço do Flecha Ligeira que sufoca até que o pesado animal cede e cai morto diante de seus pés.

Refeitos do susto eles cortam a corda que sustenta a armadilha e libertam os seus amigos. Mas, neste momento, pelas costas, eles vêem o mato se mexendo novamente. Mas aí, um homem grisalho e barbudo aparece. Ele está vestido com uma cota de malha toda quebrada. Anda se apoiando em um cajado. Seus dedos das mãos e pernas são deformados. Metade de seu corpo está paralisado. Está imundo e parece cego.

Sir Mathew: “Quem está aí usando minhas armadilhas para caçar o almoço?”

Barão Algar: “Somos peregrinos, Cavaleiros buscando ajuda para salvar essas crianças em Sauvage.”

Sir Mathew: “Saibam que já fui um poderoso cavaleiro. Daqueles das estórias e das lendas!”

Então ele fala todo orgulhoso estufando o peito.

Sir Mathew: “Sir Mathew de Wells!”

Ele tosse e se apoia em uma árvore.

NOTAS DO MESTRE: Sir Mathew é um Cavaleiro que foi torturado pelo Rei Uther em punição do que ele e o Arcebispo Dubricus fizeram para Algar em Tintagel.

Ele escuta Grievous retornar da mata. Sir Mathew se encolhe próximo de um tronco tremendo e o leão surge atrás do homem.

Sir Mathew: “Não me façam mal!”

Sir Enrick: “Fique tranquilo Sir Mathew! Mas o que faz aqui, perdido no meio dessa floresta?”

Sir Mathew: “Depois que fui torturado, perdi o meu título e banido por Uther, que deus o tenha. Vaguei cego. Presa fácil pra ladrões. Vim morrer aqui. Mas o Povo da Floresta me acolheu. Me ensinaram os caminhos. Me ensinaram a sobreviver da floresta.”

Ele vai até as crianças e toca seus rostinhos suados e doentes.

Sir Mathew: “Essas crianças, pobres criaturas, parecem estar deixando esse mundo. Eu sei guiá-los pelos caminhos certos. Posso lhes ajudar em troca de um favor e levá-los até o Passo dos Sussurros. Lhes garanto que se tentarem sozinhos nunca sairão daqui e as crianças morrerão. Aliás! Todos morrerão. Mas... Tenho um preço.”

Barão Algar: “Qual é o preço?”

Sir Mathew: “Um cavalo, uma armadura e uma espada.”

O Barão Algar dá sua espada e seu cavalo para o homem e Sir Enrick sua cota de malha.

Sir Mathew: “Então temos um trato, sigam-me Cavaleiros! Em direção ao Passo dos Sussurros!”

O PASSO DOS SUSSUROS:

O grupo caminha seguindo Sir Mathew para dentro da mata. Eles percebem que o céu parece estar escurecendo, pouco tempo depois observam o amanhecer. Uma hora no máximo parece estar o sol a pino novamente. Então por entre duas rochas gigantes, que somem no alto entre as copas de dezenas de carvalhos, surge uma trilha escondida por folhagens.

Sir Mathew: “Senhores! O Passo dos Sussurros. Boa sorte, irão precisar... Adeus!”

E Sir Mathew desaparece pelo caminho por onde veio. Eles seguem em fila única a medida que caminham por entre as rochas. Os cipós descem pelo paredão cinza. Depois de quase meia hora saem em uma área coberta por arbustos floridos. As árvores de tília se fecham às centenas. As copas das grandes árvores impedem a entrada de luz. Tudo vai ficando escuro. Eles caminham admirando aquele lugar estranho e lúgubre. A floresta abafada pela umidade produz uma névoa que começa a cobrir os pés dos aventureiros até o tornozelo. Então um bando de pássaros passa voando. Parecem ratos enormes com asas. Grievous Fica os observando louco para pegá-los.

Oswalt: “Olhem! Parecem morcegos, mas do tamanho de uma criança de sete anos!”

Logo eles estão em total escuridão envolvidos pelas brumas. Olhando para trás só se vê uma tênue luz, como a saída de um túnel. Eles não enxergam um palmo à frente. Após caminhar mais um pouco, nem isso é visto. Então os cavalos empacam e relincham.

Em meio a escuridão só resta aos heróis acenderem tochas. Quando as chamas lançam sua luz ao redor do grupo eles se deparam com olhos vermelhos vindo de todos os lados, os cercando. O Leão ruge, se arrepia inteiro balançando o rabo. Os olhos vão saindo lentamente da mata. Eles se revelam. São Lobos negros com mais de um metro e meio de altura. Seus dentes são afiados e da sua boca verte uma baba viscosa. Eles uivam e se aproximam fechando o cerco lentamente cheirando o ar. Então eles começam a correr em direção aos heróis mostrando os dentes e no último instante o lobo maior salta e os outros o seguem no mesmo movimento com violência. Os escudeiros sacam suas armas e erguem seus escudos.

Pertoines grita: “Meu deus!”

Então, como uma miragem espectral os lobos passam através deles, como fumaça, desaparecendo nas brumas da margem do passo. Todos estão ofegantes e assustados. Os cavalos empinam e gritam, os meninos tremem e Grievous fica tentando os achar.

Pertoines faz o sinal da cruz: “Deus nos proteja!”

Então assustados eles seguem em frente em meio a escuridão. Andam por horas à fio. Só se enxerga o que a tocha ilumina à frente. Eles estão muito cansados e famintos. Parecem ter andado, talvez um dia ou dois, sem referências é difícil dizer. A maioria dorme exausto enquanto Grievous desaparece para caçar. Um sono estranho e profundo sem sonhos. As crianças gemem e seguem suando. A pele dos filhos de Algar estão negras. Algar fica com o segundo turno de sentinela e derrepente vê Robert se sentar como se estivesse curado.

Robert: “Ela chegou!”

E cai desmaiado. De sua perna sai uma pasta amarelada. Seu pé sem circulação adequada cheira podre. Algar nota pela sua visão periférica que existe alguém ou algo se aproximando atrás dele. Quando o Barão se vira dá de cara com uma mulher. Ela é translúcida e veste uma armadura toda quebrada e enferrujada. Sua orelhas parecem serem pontudas. Ela tem uma marca em seu pescoço, dedos como se alguém a tivesse estrangulado.

Mulher espírito: “As crianças não pertencem mais ao mundo dos vivos! Estão dentro do mundo das Fadas! Perdidos entre as brumas, na fronteiras dos dois mundos. Mortais errantes. Vocês é que são as assombrações deste lado do véu.”

Então ela some como se sua energia etérea se concentrasse em somente um ponto e se dissipasse na névoa da floresta, diante dos olhos do herói. Todos acordam assustados. Os cavalos entram em pânico e se assustam, empinam e se debatem. As montarias de Caulas e Syan se soltam e somem na mata. É ouvido apenas os gritos de dor dos animais e rosnados. Depois só silêncio.
Caulas: “O que foi isso?”

Syan: “O que assombra essa parte da floresta?”

Pertoines: “Não me parece magia Druida!”

Oswalt: “As coisas estão ficando cada vez piores.”

Logo que amanhece eles continuam a viajar pelo Passo dos Sussurros. Parece o entardecer, um crepúsculo que nunca escurece. Seguindo a estreita trilha de terra por entre as árvores, por vezes, tendo que cortar os galhos que se fecham diante deles. Um som vem da direita e saltando da escuridão surge, pedindo carinho a Sir Enrick, Grievous.

Sir Enrick: “Assim você me mata de susto rapaz!”

No passo, ao redor, dá para se ver as folhagens e árvores mergulhadas na profunda névoa. É difícil enxergar por onde pisam pois está tudo coberto. Algo começa a estalar debaixo dos pés dos heróis, parecem pedras e tocos. Oswalt se abaixa e toca em um destes objetos e o ergue. É um fêmur humano. Ele joga rápido e faz o sinal da cruz assustado. Logo à frente bloqueando a passagem da trilha surge um pequeno monte e atrás um paredão de rochas vertical que desaparece acima das copas dos carvalhos gigantescos. Ele é todo coberto de cipós e parece ser feito de terra. A trilha leva para o interior do lugar por uma ponte levadiça longa e uma fenda enorme no chão se abre em um abismo profundo com um rio de águas negras passando lá embaixo. A ponte é antiga e sacode a medida que eles atravessam. O único apoio que existe nela são os corrimãos de corda que balançam de um lado para o outro. Na entrada da tumba, na arcada da porta em pedra, existem runas celtas da guerra e da morte.

Eles caminham e no interior do morro um caminho estreito leva para baixo. Está escuro como breu. Acendendo a tocha eles percebem que tudo é de pedra. Os heróis vêem gavetas mortuárias dos dois lados. Cadáveres embrulhados em trapos jazem ali. E o cheiro de decomposição e de podridão é nauseante. A medida que entram na cripta os ratos correm assustados por causa da luz da tocha. Do teto pingam goteiras de umidade tremulando a chama e faz frio ali dentro. Eles caminham pelos corredores. A luz amarela das tochas iluminam as gavetas com os corpos mais antigos. Cadáveres mostram os dentes e suas peles estão esticadas sobre os ossos. Eles tem a estranha sensação de que já viram alguns deles. Logo à frente eles entram em uma sala redonda com uma tumba aberta no centro. Então algo chama a atenção. Quando eles olham para trás todas as gavetas estão vazias. E passos lentos se aproximam vindos da escuridão. Surgindo da entrada da sala o temor dos heróis se concretiza e o medo lhes gela o coração. São mais de cinquenta deles, os mortos levantaram e eles querem os vivos.

O mais sinistro é que os heróis sentindo o medo congelar seus corações reconhecem alguns dos cadáveres. A luz da tocha ilumina aquela cena aterrorizante lançando sombras nas gavetas. Eles vêem Sir Olaf O impiedoso, Swefred O feiticeiro saxão, Egbert o Navegador, Barão Hemilton de Londres, O Pretor Syagrius, Odirsen II, Sir Jaradan O Sem Pele, O Espantalho, Conde Gorlois, Oswood O Colecionador de Escalpos, Eomund O Germano e muitos outros guerreiros. Eles estão pálidos e com os ferimentos sofridos em combate causados pelos heróis. Até um padre está ali no meio degolado. Alguns tem a cabeça como uma massa vermelha despedaçada feita de carne, miolos e ossos fraturados e mesmo assim caminham. Outros as carregam nas mãos. Alguns cadáveres com os seus olhos vazando os olham assustadoramente com o rosto desfigurado por uma lança e outros caminham com as tripas arrastando pelo chão deixando um rastro viscoso. Alguns desconjuntados com as costelas fraturadas e sem maxilar, outros com flechas nas gargantas e peitos emitem um chiado horrendo. Eles gemem com a mesma dor que agonizaram. O Leão se encolhe tremendo com o pêlo eriçado de medo.

Caulas: “Rápido, armas!”

Syan: “O que faremos? Eles são muitos.”

Syan agita uma tocha tentando os afastar em vão. Pertoines corre assustado para o outro lado, atrás da tumba. Então uma voz ecoa.

Banshee: “Descansem pobre almas que caminham junto de seus executores! Eles não os deixarão jamais. Aqueles que tem as suas vidas ceifadas antes da hora determinada buscam a luz em seus executores. Não é a carne que vêem mortais é o espírito daqueles que se foram por suas mãos.”

Então os mortos caminham lentamente para trás sumindo na escuridão. No interior da tumba existe o corpo de uma mulher, ele está intocado. Parece muito bonita. Suas roupas negras estão esfarrapadas e ela tem uma meia lua tatuada na testa. Seus cabelos são vermelhos. Pertoines começa a abençoá-la e a fazer uma oração. Derrepente ela abre os olhos. Pega o padre pelo colarinho e o atira na parede do salão da cripta. Pertoines cai inconsciente. Diante de seus olhos ela se transforma em uma velha cadavérica e seus cabelos ficam negros e ela sai do túmulo.

NOTAS DO MESTRE: Banshee provêm da família das fadas e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo: os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee: cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite alguém estaria morto. Sejam quais forem suas origens, as banshees aparecem principalmente sob um dos três disfarces: uma jovem, uma mulher ou uma velha esfarrapada. Isso representa o aspecto tríplice da deusa Celta da guerra e da morte.

Então ela olha para cada um deles com os olhos cheios de cataratas. E eles começam a escutar um som baixo. Ele é agudo como as notas mais tristes de um violino. O som vai crescendo e ficando mais grave depois bem alto como um lamento e um choro dos mais sofridos os atingem o coração. Então eles olham para a velha e ela se transforma novamente na mulher de negro e cabelos vermelhos que eles viram na tumba. Ela sorri para Marion enquanto olha para o seu broche.

Banshee: “Seja bem vinda filha. Banshee ou Morrigan como queira chamar a sua mãe guerreira.”

Ela toca o rosto de Marion e depois em seu broche. A meia lua igual a da Deusa surge na testa da guerreira. Então uma espécie de terremoto sacode o grande salão e tudo gira e fica febril como se eles pudessem vislumbrar do outro lado do véu. Deuses lutando, outros celebrando, eles são de vários panteões diferentes. Deuses de olhos puxados e em forma de animais. Thor, Odim, A Deusa e o Deus cornífero. Batalhas titânicas entre Deuses e entre Anjos. Sangue, fogo, castelos caindo. Tudo gira rápido. A Excalibur saindo da pedra. A última visão é de torres de pedra e vidro tão altas que alcançam o céu e pássaros de ferro se chocando contra elas explodindo.
Banshee: “Vão guerreiros! Mas lembrem-se. Um de vocês não retornará!”

Então eles acordam no chão da floresta caídos. Um pequeno homem, vestindo botas e de cabelos crespos castanhos cutuca Grievous com um bastão. Ao redor existem uma dezena deles. Usam coletes bordados e calças que vão só um pouco até abaixo do joelho e camisas bufantes. Eles parecem assustados e desconfiados. Existem pequenas mulheres usando vestidos. Um deles fala.

Surifim: “Cuidado Triglol eles tem um gato gigante!”

Quando acordam eles correm para trás das folhagens enquanto Grievous acorda e corre dali se embrenhando no mato. Os pequenos suspiram juntos de medo. Os heróis percebem que existem fungos no topo dos gigantescos carvalhos, do tamanho de telhados de uma casa. Eles são empilhados e eles notam que embaixo deles saem luzes. São as habitações daquelas pequenas criaturas. Ligando cada árvore, pontes de cipó trançam uma rede de caminhos. Centenas de pequeninos os olham lá de cima.

Caulas: “São crianças?”

Syan: “Parecem duendes.”

Os pequenos olham ofendidos para Syan.

Pertoines: “As lendas celtas sempre falaram dos Kerions mas não sabia que existiam.”

Oswalt: “Eles parecem bem reais pra mim.”

Robert e a menina Heilin estão com a pele preta e coberta de feridas. Robert parece estar com a pele no mesmo estado e a sua perna fede.

Triglol: “Elas parecem doentes!”

Ludilala: “Precisamos ajudá-los. Se não fizerem mal para nós é claro. Acho que podemos prolongar a vida dos pequenos por algum tempo.”

Um dos pequenos desce da árvore por uma escada de corda. Ele tem cabelos crespos ruivos e deve ter menos de um metro e meio. Ele usa uma capa de veludo marrom, colete verde e calças amarelas. Em suas mãos leva um cetro de madeira.

Quintel: “Olá homens grandes! Vejo que estão com sérios problemas. Sou Quintel e esse é o meu povo. Somos Kerions e essa é a vila de Sunim. O que estão fazendo perdidos em Sauvage? Estão longe das terras mortais.

Barão Algar: “Estamos tentando ajudar essas crianças doentes. Meus filhos.”

Quintel: “Se querem ajuda podemos lhe oferecer. Sigam-me por favor.”

Uma gaiolas de madeira desce do alto e as crianças são inçadas para o alto de um passadiço. Os heróis vão pela escada de corda. Existem barris nas portas das casinhas e tochas espalhadas pelos corrimões e lanternas nos telhados fungos das habitações. Lá em cima dezenas de Kerions se aproximam e os pequenos tocam em suas armaduras. Uma criança de um metro da uma mordida na Gungnir. Quando Algar fala elas correm se escondendo por trás dos barris. O grupo é levado a maior casa seguidos por todo o povo de Sunim. Eles entram e lá existe uma lareira, peles forrando o chão e dezenas de vaga lumes voando. Existe um trono elevado na frente de várias cadeiras esculpidas como galhos de árvores. Todo o povo se acotovela nas duas janelas redondas do salão. Alguns deles barram a entrada dos pequenos ali. Os três Kerions que acharam os heróis estão juntos.

Quintel: “Sentem-se! Deixem-me apresentá-los. Esses são Triglol, Ludilala e Surifim. Triglol e Ludilala são casados e são os líderes de nossos caçadores. Surifim chefia nossos guerreiros quando temos que lutar. ”

O Kerion estufa o peito cheio de orgulho com a sua pequena espada de madeira na cintura.

Quintel: “Deixem as crianças no chão! Entre Krintonkrikri!”

Abrindo caminho pelo povo um Kerion velhinho com o crânio de um javali na cabeça e uma mão de alguma criatura peluda negra pendura no pescoço entra apoiado em um cajado. Ele está coberto por um couro cheio de escamas verdes cintilantes. Quintel só aponta com as mãos as crianças. Krintonkrikri se abaixa próximo à elas. Escuta a respiração de cada uma. Ele retira de uma algibeira de couro pendurada em seu pescoço algumas ervas e coloca dentro da boca de cada criança. Os vaga lumes pousam em seus ombros. Ele parece escutá-las. Robert, Heilin e Brian se acalmam e suam.

Krintonkrikri com a voz rouca: “Se as crianças não estivessem em Sauvage já teriam morrido. Aqui dentro o tempo passa diferente. Sauvage é um lugar limítrofe. Aqui o véu se rasga em muitas pontas. Existem lugares que estão deste lado e outros nas terras dos mortais. Na verdade as três crianças já estão mortas. Mas vocês estão tão para dentro do véu e embrenhados na floresta que elas permanecem entre os dois mundos, como a própria floresta. Só existe uma maneira de vocês salvarem essas crianças. É irem para onde o véu é mais fino em toda floresta. O próprio coração da mata. O coração de Sauvage!”

Todos os Kerions que os observam suspiram de medo.

Krintonkrikri com a voz rouca: “Mas...Todo cuidado é pouco pois lá serão testados!”

Krintonkrikri então se levanta, se curva e sai do salão em silêncio. Lá fora já é noite.

Quintel: “Amanhã levaremos vocês até lá. Tragam a comida e a bebida.”

Então umas cinco criaturas de um metro de altura, escuras, aparecem por uma pequena porta basculante atrás do trono. Eles entram trazendo bandejas com comidas e bebidas. Eles são desastrados e trombam um no outro. Um deles derruba toda a bebida no chão. Mas nas outras taças de madeira tem o suficiente para cada um. Frutas douradas do tamanho de maçãs, carne de porco cheirosa e uma bebida preta borbulhante é servida em chifres.

Quintel: “Muito bem. Saiam, deixe-nos conversar.”

E novamente as criaturas tropeçam uma na outra e saem por uma porta adjacente tentando todos passarem ao mesmo tempo. Um deles soca e consegue passar antes. Outro empurra e bate com a cabeça e cai enquanto os outros se aproveitam e passam. O último levanta sacode a cabeça e desaparece atrás deles. Quintel sorri.

Quintel: “Quem vinha sempre aqui era um Príncipe, ele se chamava Madoc.”

Então os vaga-lumes sentam na careca de Enrick. Um deles tenta entrar no ouvido de Algar e outro bando deles iluminam o cabelo de Marion.

Quintel: “Elas gostaram de vocês guerreira. Bom sinal.”

Sir Enrick: “O Príncipe era um grande homem e um grande amigo nosso.”

Quintel “Que maravilha! O Príncipe era muito simpático. Seu herdeiro é protegido da floresta. Ele viverá deste lado do véu e quando voltar a terra dos mortais ajudará a manter os dois mundos próximos. Madoc foi um dos poucos homens que chegou até aqui e não tentou tirar vantagem de meu povo. Esperem um pouco. Ludilala traga pra eles o que o Rei Uther nos deixou.”

Ludilala trás uma espada e a entrega com respeito a Quintel, os heróis a reconhecem, é a espada que pertencia a Madoc. Pertoines fica boquiaberto e faz o sinal da cruz. Os Kerions imitam o gesto do padre desajeitadamente.

Quintel: “Aqui está a verdadeira espada do herdeiro de Uther. Ela foi nos enviada pelo Rei de vocês quando Madoc morreu. O Príncipe foi enterrado com uma réplica. Agora está aos cuidados de vocês. Um dia terão que entregar ao seu herdeiro, o menino que está com o povo da floresta. Essa é a ferrão de prata.”

E Ludilala entrega a espada para Sir Enrick.

Então eles são acometidos por um sono muito forte e logo caem dormindo no chão forrado de pele.

Quintel: “É hora de dormirem! Já é tarde e amanhã a jornada de vocês deve continuar.”

De manhã eles acordam no salão com um cheiro de comida maravilhoso. Parecem estar ótimos. Todos os ferimentos dos guerreiros foram curados. As crianças parecem com as peles mais clarinhas. Os Kerion estão ao redor deles e todos continuam a os observar pela janela. Eles estão se sentindo renovados e descansados. É servido a bebida negra novamente, pão de ló e um doce preto redondinho com pequenos granulados da mesma cor. Nunca comeram em suas vidas algo tão gostoso.

Quintel: “Hora de partirmos!”

Quando eles passam pelo passadiço todos os Kerion correm se escondendo com medo dos heróis. Ludilala e seu marido Triglol e Surifim e dez pequenos guerreiros com atiradeiras e espadas de madeira os aguardam. Eles descem pelas gaiolas. Raios de sol entram pelas copas das gigantescas árvores. Borboletas, vaga-lumes e pólen flutuam ao redor. Os cavalos estão calmos e são trazidos de uma porta feita no tronco do carvalho milenar. Uma grade estrebaria redonda existe no interior da madeira. Como muito esforço eles conseguem deixar para trás aquele lugar mágico.

Eles vão atravessando a floresta. Às vezes percebem pequenos olhinhos os observando por entre as folhagens. Um pássaro lindo verde e vermelho com a cauda longa passa por cima da cabeça do grupo. A trilha no meio do mato, sobe, depois desce. O cheiro de rosas enche o ar. O som de pássaros cantando e de água pode ser ouvido. Logo a trilha acaba em um paredão de rochas e Grievous surge tranquilo se lambendo. Os pequenos, com medo, se protegem atrás dos heróis.

Oswalt: “Será que eles sabem voar também?”

Triglol: “Infelizmente não. Mas vamos por baixo.”

Camuflado no chão um alçapão se abre quando dois pequenos guerreiros puxam um cipó. Uma escada escavada na rocha surge diante de seus olhos. Quintel retira uma lanterna pendurada em seu pescoço abre a pequena portinhola e a acende. Ele fecha a portinha de vidro e segue na vanguarda. A luz amarela ilumina o chão sujo de folhas das escadas. O som de água pingando do teto parece cantar uma melodia.

Ludilala: “Esse é o Portão que Canta!”

Então uma porta com uma fina cascata de água, como uma cortina, surge à frente.

Quintel: “Temos que nos despedir guerreiros! Nenhum pequeno pode entrar no coração da floresta. Não somos bem vindos. Na verdade todo Kerion que atravessou a cortina nunca mais foi visto. Aliás, só o velho Krintonkrikri quando jovem mas ele se tornou nosso curandeiro e só fala com os mortos e doentes depois disso. Boa sorte.”

Então os heróis atravessam a cortina de água, saem por uma gruta, cheia de cipós caindo do alto e chegam em um descampado. Grievous fica parado tremendo de medo da água. Sir Enrick volta e arrasta Grievous pela juba que quando sai do outro lado está todo molhado com o pêlo escorrido arrancando risadas de todos.

O lugar é um jardim. As árvores estão distantes. Rosas de todas as cores cercam o lugar. Canteiros de plantas exóticas decoram o fabuloso jardim. Cercas de heras e lebres e raposas correm, brincando por entre as folhagens. Um estrada de terra com os carvalhos plantados em linha margeando o caminho se estende à frente. No fundo um monte verde e alto com um grande castelo no topo.

Pertoines: “O Coração de Sauvage!”

O CORAÇÃO DE SAUVAGE:

Após uma hora de caminhada surge uma área à frente. Uma clareira com quilômetros de extensão. Ao redor dela no horizonte a floresta. Incrível como possa existir um lugar assim na Britânia. Bem no centro um monte e um castelo de pedra. Diferente de tudo o que eles já tinham visto. Com torres ponte agudas azuis e o brasão com um unicórnio branco em um fundo vermelho e verde. As folhagens cobrem suas paredes. A medida que eles caminham pela estrada de terra podem ver campos sendo cultivados. Servos trabalham neles. Logo no fundo da estrada dois cavaleiros se aproximam. Um com o brasão de sol no peito e o outro de lua. Estão armados com lanças e escudos e usam armaduras, as quais eles nunca tinham visto. Elas são forjadas todas de metal. O do brasão do Sol é toda prateada e o da Lua toda negra. O Leão não parece temê-los e os cavaleiros não se importam com o animal.

Sir Sun: “Parados aí! Quem são vocês?”

Sir Enrick: “Viajantes mortais do outro lado do véu. Viemos buscar ajuda para essas crianças doentes.”

Sir Moon: “Sejam bem vindos aos domínios do Rei Madog de Sauvage!”

Sir Sun: “São pessoas boas ou más?”

Barão Algar: “Somos pessoas boas!”

Sir Moon: “Então lhes oferecemos nossa hospitalidade. Sou Sir Moon e este é Sir Sun. Comandantes da guarda real. Sigam-nos por favor! Ah, os escudeiros, as montarias e o padre devem esperar aqui.”

O CASTELO DE SAUVAGE:

Eles os seguem e passam por uma cidade ao redor do castelo. Ela não tem muros. As casas são bonitas e as pessoas fazem os seus afazeres diários. Andam de um lado para o outro sorrindo e conversando. Todos parecem felizes e em harmonia. Eles seguem em frente e sobem a estrada que serpenteia o morro até o pátio do castelo onde cavalariços, vestidos metade de vermelho e a outra metade de verde, os recebem. Eles entram no castelo. O lugar é esplendoroso. Estátuas gregas, romanas e de civilizações que nunca ouviram falar adornam os salões. Tapeçarias que parecem, por vezes, se mexerem como que por encanto com temas de caça, animais mitológicos, batalhas entre deuses pendem das paredes. Candelabros enormes de prata e ouro iluminam os salões por onde passam, decorados com armaduras, outros com armas e espadas fabulosas. Até que se abre uma grande porta dourada com entalhes de seres míticos e um salão dez vezes maior que o do castelo de Sarum surge diante dos olhos dos heróis. O lugar é lindo, bem decorado com os brasões do rei. Corujas e falcões estão empoleirados. Chifres de gamos brancos adornam as paredes e um grande tapete vermelho demarca o caminho onde há um trono todo de ferro, em formato de tronco de carvalho, em cima de um elevado do salão. Ele está vazio.

Então, do fundo do salão, um anão se aproxima. Ele é gordo, feio e com dedos curtos e gordos. Tem barba longa preta e é careca. Sir Moon e Sir Sun prestam reverência e falam juntos.

Sir Moon e Sir Sun: “São visitantes em busca de ajuda senhor Torfim.”

Torfim: “Muito obrigado Sir Moon e Sir Sun! Estão dispensados! Belo animal você tem aí cavaleiro. Aproximem-se visitantes. Por hora nosso grande Rei não pode lhes receber mas tenho certeza que poderão esperar um pouco. Sim, tenho certeza. Servos levem as crianças para o quarto e lhes de conforto.”

Servos vestidos metade de vermelho e a outra metade de verde entram no salão e levam as crianças em macas.

Torfim: “Vamos ver, vamos ver. O Cavaleiro Nórdico. Por hora, que tal um jogo de cabeça, de raciocínio e de inteligência? Um belo jogo de xadrez. Eu o desafio Barão.”

- O desafio do anão:
Algar e o anão sentam em lados opostos em cadeiras de madeira, com encostos vermelho, próximo a grande lareira do salão. O tabuleiro de xadrez é de mármore e as peças brancas e pretas.

Torfim: “Pode começar Cavaleiro!”

Então o Barão Algar faz a primeira jogada abrindo o jogo com um peão.

Torfim: “Belo movimento mas o seu rei não estaria morto? Ahahahha, Perdoe a minha ironia.”

Torfim movimenta o seu bispo e come a peça que Algar tinha movimentado. Então Algar pensa novamente e move uma torre.

Torfim: “Me diga uma coisa, saberia me dizer porque o tal Deus cornífero tem galhos na cabeça?”

Barão Algar: “Para canalizar melhor as energias divinas.”

Então Torfim movimenta o seu peão mas é comido no outro movimento pelo bispo que Algar movimentou.

Torfim: “E se esse cavalo fosse rápido como Hefesto e destruísse sua rainha? O que seria de um rei sem rainha. Apesar de Uther ter provado o veneno de uma e ter se lambuzado, não é?”

Barão Algar: “Aí eu moveria a rainha e daria um belo xeque mate em seu Rei nobre anão.”

Torfim: “Olhem só amigos! O Cavaleiro não é só músculos. É cérebro também. Xeque mate para você Algar. Não tinha percebido que as torres estavam tão frágeis e os meus cavalos mortos. Parabéns! Você me venceu.”

- O desafio de Gallant:

Então um cavaleiro alto, magro e loiro, entra no salão. Ele veste roupas bonitas e caras. Sua espada pende na cintura.

Sir Pur: “Que bela vitória Barão. Torfim, eu disse que ele conseguiria. Deixem-me apresentar. Sou Sir Pur. Por favor queiram me seguir até as cavalariças. O belo leão deve ficar.”

Os heróis caminham atrás dele, descem uma escada em caracol e saem no viveiro dos falcões. Existem vários deles. As estrebarias estão juntas e o canil com os cães de caça também ficam na mesma área.

Sir Pur: “Olhem que animais bonitos! Exóticos e leais. Nunca se escondem. Qualquer presa na floresta sabe que o falcão pode lhe tirar a vida e que ele não terá misericórdia. Isso é justo! O animal que espreita e ataca sem avisar e a traição, é um covarde que facilita o seu próprio trabalho. Mas cada animal tem uma virtude. Sir Enrick. Lhe convido a escolher o animal que mais lhe chamou a atenção.”

Então Sir Pur pega o falcão escolhido por Enrick e o solta. O Cavaleiro escolhe outro e também o põe para voar. Os dois animais seguem em círculo rente ao teto alto de pedra. Primeiro o de Sir Enrick ataca. Penas caem mas o falcão de Sir Pur bica o pescoço de seu oponente e os dois animais giram enquanto caem do teto ao chão. Um segundo antes de ser morto o falcão de Sir Enrick bate a sua asa e voa para trás da outra ave. Com o grande bico ele quebra o pescoço do pássaro que Sir Pur escolheu.

Sir Pur: “Bem escolhido cavaleiro e belo movimento o da sua ave! Vamos jantá-la. São os nossos convidados de honra. Voltemos ao salão então? Milaidie”

Ele gesticula para Marion ir na frente

- O desafio da Lady:

Eles voltam para o salão e existe uma mulher sentada em uma grande mesa. Seus cabelos loiros e brilhantes chamam a atenção. Ela tem orelhas pontudas. O anão está com ela.

Lady Silmara: “Chegaram em tempo! Lady Silmara ao seu dispor. Soube que vocês estavam em Sauvage e vim lhes conhecer. Não poderia deixar de estar na presença dos amigos de minha alma gêmea e de meu amor, Madoc. Nosso filho está crescendo e um dia ficará forte e corajoso como o pai. O neto de dois reis só poderá ser um grande homem. Meu pai o Rei Oberon das Fadas e Uther eram grandes homens.”

Sir Enrick: “E entregarei a ele a espada que um dia pertenceu ao seu pai.”

Lady Silmara: “Meu filho sempre me diz que aguarda ansioso tal dia!”

Então Lady Silmara se aproxima de Lady Marion.

Lady Silmara: “Lady Marion não é? Tão bela. Seria prudente lhe chamar para demonstrar seu respeito a meu título de princesa? Curve-se diante de mim e preste reverência. Lhe desafio!”

Marion pensa um pouco inclina a sua cabeça e se ajoelha perante a Lady Silmara. A Princesa então levanta a Guerreira pelos ombros e ela se curva diante Marion.

Lady Silmara: “Uma Princesa se curva a outra. Marion, Princesa das Batalhas. És humilde e digna Milaidie. O Rei de Sauvage, Madog, irá lhes receber imediatamente. Os mortais estão bem representados por vocês.”

O REI DE SAUVAGE:

Uma porta se abre atrás no salão e um homem entra. Sua coroa é feita de galhos de carvalho e seu manto é de veludo verde com folhas bordadas com fios de prata. O homem tem cabelos e barba curta castanhos. Seus olhos são azuis. O leão se levanta e passa como um gatinho o corpo nele e a cabeça em suas mãos lhe pedindo carinho.

Madog: “Ah, ah! Belo gatinho! Como vão heróis? Sejam bem vindos a minha corte! Torfim, Lady Silmara e Sir Pur lhe propuseram testes e vocês passaram com louvor. Como o esperado de grandes heróis.”

O anão Torfim, Lady Silmara e Sir Pur se curvam e sorriem em cumplicidade.

Madog: “Porque vieram ao coração de Sauvage?”

Barão Algar: “Preciso de ajuda com as crianças! Elas estão morrendo!”

Madog: “Está certo! Eu estava com elas nos aposentos reais. Realmente seus espíritos já estão presos do outro lado do véu. Mas talvez haja uma solução. Mas não lhes prometo nada. Servos tragam as crianças. Grievous você fica aqui.

O Leão se deita com cara de triste.

Madog: “Sigam-me!”

O CAMPO DOS SONHOS:

Eles atravessam salões exuberantes e saem na parte de trás do castelo. Um grande bosque se estende a perder de vista. A mata circunda essa gigantesca área lá no horizonte. O grupo caminha por entre as árvores.

Madog: “Deixem as crianças perto daquela macieira. Se escondam e façam silêncio.”

Depois de algum tempo, uma criatura surge. Um cavalo todo branco. Tem um chifre em sua testa. Um unicórnio.

Madog: “Lindo como a neve e poderoso como o vento da tempestade.”

Ele contorna as crianças e parece curioso, o animal fantásticos as fareja, depois passa a cabeça nelas. Então ele olha para os lados e parece ter visto Algar. Ele mexe suas orelhas, parece assustado e prepara-se para correr.

Madog: “Vá Marion! Se aproxime do Unicórnio. Você é a única mortal capaz disso.”

Marion lentamente se aproxima sem olhar nos olhos do animal. O unicórnio se assusta e recua. Ele levanta suas orelhas e olha para a guerreira desconfiado. Ele se prepara para correr. Então o unicórnio recua quando Marion vai tocá-lo. E aí devagarinho sua mão se aproxima dele. Quando ela o toca o Unicórnio passa a cabeça na guerreira e vai se acalmando. Madog sorri satisfeito. O animal fantástico parece relaxar novamente e volta sua atenção as crianças mais uma vez. Uma lágrima cai de um de seus olhos negros. Marion escuta uma voz e uma mulher muito bonita, de cabelos vermelhos, usando uma coroa de flores e um vestido coberto com caules verdes surge por entre as árvores. Uma fada.

Fada: “Filha de Avalon! Os pequenos estão entre o mundo dos vivos e o outro lado do véu. Para trazer uma vida de volta é necessário dar outra em troca. O homem que viajava com vocês e padeceu no fogo é uma delas e sua alma ficará conosco em troca de Robert. A outra deverá ser escolhida por entre estas duas crianças do mesmo sangue. Uma delas terá que ficar. Duas almas por duas Vidas. Dois voltarão com vocês, uma ficará. A escolha é de vocês.”

O Barão fica muito triste com a decisão que terá que tomar. E com a garganta embargada de emoção e os olhos cheios de lágrima fala: “Heilin ficará. Ela será bem cuidada?”

Fada: “É claro Barão. Heilin será bem recebida em nosso jardim. Pois é assim que nascem as fadas!”

Barão Algar: “Obrigado! Adeus filha!”

Então o Unicórnio se aproxima de Robert e Brian e os lambe o rosto. As peles das crianças vão clareando. A perna de Robert parece se cicatrizar. Então o animal fantástico e a fada somem por entre as árvores.

Madog: “Vamos! Deixem a criança escolhida aí mesmo. Elas a levarão. Será jovem para sempre. As outras crianças só dormem agora. Estão cansadas e passaram por muita coisa. Sir Moon e Sir Sun os escoltarão até uma das saídas da Floresta.”

Então os heróis voltam para o castelo. Atravessam o salão e lá fora ao lado da ponte levadiça juntam-se aos Cavaleiros. Sem dizer nada eles os escoltam até seus escudeiros, as montarias e Pertoines. O Padre entende o que aconteceu e apenas cumprimenta Algar com um aceno de cabeça.

Sir Moon: “Sigam-nos por favor, iremos lhes ajudar a sair da floresta!”

Eles percorrem toda a extensão da clareira e entram pela mata e seguem uma trilha. Depois de algumas horas chegam à um rio. Existe um grande barco ali iluminado com lanternas. O barqueiro e seus homens são homens vestindo calças dobradas até debaixo do joelho. Usam camisas marrons abertas e tem pele escura, cabelos crespos e barbas negras. A tripulação é composta por uns quinze homens nos remos.

Sir Sun: “Hansam, o sem língua, os levará pelo Tâmisa. Em breve estarão fora de Sauvage. Adeus Cavaleiros!”

O barco parte com os heróis e suas montarias seguindo a correnteza calma do Tâmisa. Em lugares que parecem acabar o rio o barqueiro segue em frente e por entre as árvores se abre um rio mais largo. Eles começam a sentir frio e a neve suave começa a cair do alto flutuando ao redor da embarcação. A medida que se afastam do coração de Sauvage o céu está cinza e o inverno parece estar batendo as portas de Logres. Logo a floresta fica para trás e eles passam por Oxford e o barco encosta na barranca. Parece ter passado alguns meses desde que partiram mas dentro de Sauvage parece que foram somente alguns dias.

Padre Pertoines: “Obrigado amigos! Digamos que a experiência foi... interessante. Espero lhes encontrar em breve. Quem sabe um dia vocês nos ajudem a derrubar os usurpadores. Por hora tenho um compromisso com a ciência e o conhecimento. Até breve!”

Depois o barco passa por Dorchester e Wallingford. Cai a noite e eles chegam próximo a nascente do Rio ao norte em Silchester. Hansam encosta o barco. Ele os cumprimentam com um aceno de cabeça e o barco parte. Eles descem e seguem viajem. É noite e as cidades muradas estão todas fechadas. As crianças começam a abrir os olhinhos. Brian aponta para o céu cheio de estrelas tentando pegá-las enquanto de sua respiração sai uma fumaça por causa do clima gelado. Ele olha para Algar e estica os seus bracinhos pedindo colo e depois se aninha em seu colo.

Passam por Levcomagus sobe os olhares da guarda da cidade. Amanhece e eles rumam para Sarum. Passa o dia e as vilas pelo caminho estão cheias de pessoas famintas e doentes. Ao anoitecer eles já podem ver as muralhas e os andaimes da cidade. Logo tomam a estrada simples de neve e seguem para Winterbourne Gunnet. Ao chegar na entrada do feudo do Barão seus soldados ao reconhecerem seu senhor soam o chifre de guerra e abrem o portão. Os lúmens, em suportes de ferro, iluminam o caminho. O grupo atravessa o pomar sem folhas coberto de gelo e sobem para o grande salão no estilo nórdico no Mote and Bailey. Os cavalariços recebem os seus cavalos. Um velho druida vestindo um manto branco cheio de runas celtas pintadas está presente. Ele está com a cabeça coberta pelo capuz de seu manto sentado próximo ao braseiro e fumando um cachimbo horizontal longo, rústico, como um fino galho de uma árvore. Sentada à frente dele está a Condessa Adwen.

Condessa Adwen: “Algar! Pelos deuses! Faz muito tempo. Pensei que tinha perdido todos vocês. Merlim disse que vocês chegariam ainda nesta lua.”

Ela então abraça Algar e Brian.

Merlim: “Boa noite guerreiros! O frio chegou novamente à ilha. Mas as peças do tabuleiro de xadrez não param de serem movimentadas.”

Eles lembram da partida de xadrez do anão com o Algar. A Baronesa Adwen percebe que sua filha não retornou e parece entender o que aconteceu. Ela olha para o chão e escorre uma lágrima pelo seu rosto. Então ela abraça Algar e Brian novamente e os três ficam um bom tempo assim.

Merlim: “Barão, Enrick e Marion. Estou deixando a ilha nesse inverno.”

O Leão deita a sua enorme cabeça no colo de Merlim que sorri enquanto o Druida lhe acaricia a juba.

Merlim: “Somente os antigos Deuses saberão quando retornarei. Mas vislumbrei uma época de cavaleiros brilhantes como prata e a Excalibur surgindo novamente nas mãos de um grande homem e então nos reuniremos mais uma vez.”

Ele olha para Brian e para Robert e dá um sorriso.

Merlim: “Com a exceção de vocês, verdadeiros heróis celtas, não tenho mais aliados na ilha. Chegou a hora de deixar tudo que eu preparei cozinhando. É muito melhor que se esconder. Cruzarei o canal e então irei primeiro para Europa. Certamente Roma. Talvez as notas de Virgílio ainda estejam lá. E depois irei além visitando os francos e seus druidas por entre os Merovíngios. Depois subirei imensas pirâmides. Sempre quis estar no Egito pelos segredos de Hermes. Então viajarei à Babilônia para estudar as estrelas e quem sabe me sentar por entre os rishis e sábios indianos. Deixarei que os Deuses me guiem. Ah, Claro! Quem vai me levar até o outro lado do canal, nessa empreitada que inicio, serão vocês. Os velhos deuses, mais uma vez, clamam os seus serviços. Os deuses do mar, dos ventos e do gelo lhes chamam Algar. Por hora, bem vindo ao lar. ”