quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Aventura 33: As Batalhas de Ebble e de Hertford: Ano 507




Escute a Aventura aqui: https://vimeo.com/69281175

AVALON:

ESCUDEIROS:

A ilha da briga em Avalon, amanheceu com o céu cinzento e com a neve cobrindo a vila.  A lareira está cheia de cinzas e a cabana do intendente ainda está quente. Bernard, Brian, Ellen, Bigorna, Robert, Accolon e Sagremor foram dormir ali naquela noite, pois  os garotos tiveram que arrumar as suas coisas até tarde e escutar as instruções do mestre armeiro Cynbel, para a grande jornada que os aguarda pela manhã. Será o dia de deixar Avalon.

A FUGA: 

Bernard, filho de Sir Enrick, desperta antes de todos. Sua cama está quente com cobertas recheadas de penas de ganso. Lá fora a neve e o som do vento anuncia o dia frio. Estranhamente o chifre da alvorada não soou despertando os outros meninos para mais um dia de treinamento na Vila dos Escolhidos. Bernard escuta um som incessante da batida da porta da cabana. Então o rapaz, com os seus dezoito anos, acorda os outros garotos, veste a sua pele de leão e deixam o quarto. 

Os garotos chegam na sala da cabana do Mestre Cynbel. A porta que leva pra fora da cabana bate sem parar com o vento. Estranhamente a armadura do mestre, toda de ferro, está colocada nos suportes de madeira. Somente a espada e escudo não estão ali. Eles saem para o pátio coberto de neve. Lá fora está frio e a água do lago sagrado está encrespada pelo vento. Um estranho silêncio paira sobre a neve branca que cobre o chão. Eles vêem as pegadas que se dirigem aos alojamentos na área de treino. Ali identificam duas pegadas que se misturam. Uma delas está descalça e cheia de sangue e a outra é a da bota de Cynbel. Eles param de frente para as três cabanas dispostas em V. 

Assustados e preocupados eles decidem entrar na primeira da esquerda. Da entrada dá pra se ver cinco camas. Nelas existem cinco meninos aprendizes. Eles sabem ser as camas de Denzel, Vaughan e outros três garotos que conheciam de vista. Eles estão debaixo das cobertas. Ao se aproximarem percebem que estão brancos e gelados e vêem os cortes nas cobertas e o sangue pingando por debaixo da cama de palha. Todos estão mortos.

Brian: “Droga! Vamos olhar as outras cabanas. Eu vou na frente.”

A segunda cabana está com a porta encostada. Eles entram e se deparam com a mesma cena de sangue e morte. Bernard nota um movimento embaixo do assoalho. Alguém ou algo está ali. Bernard tenta arrancar o assoalho com as mãos, com ajuda da sua irmã Ellen, e encontra a menina Nimue. Ela está imunda por ter se escondido embaixo da cabana. Ela está em choque, tremendo, muda e com os olhos cheios de medo. Bernard a carrega no colo.

Na terceira cabana eles vêem as botas de alguém caído para o lado de dentro. É o Mestre Cynbel caído em uma poça de sangue fumegante em meio aos seus cabelos longos loiros. Brian vira o corpo do Cavaleiro cuidadosamente. Ele está com diversas facadas no peito e respira lentamente, enquanto o seu peito chia com perfurações no pulmão. Sua espada e seu escudo desapareceram. Nas outras camas a mesma cena: mais crianças assassinadas. Cynbel abre os olhos enquanto a sua respiração se condensa. Ele sorri quando olha os rostos dos garotos e fala com a voz trêmula..

Cynbel: “Fui pego de surpresa. Ele parecia um maltrapilho com os seus cabelos longos sebosos e a barba cheia de piolhos. Matou as crianças sorrindo. Cheio de ódio e com os olhos de um louco. Desconfiei que algo estava acontecendo porque os garotos responsáveis pelo treino não vieram até a minha cabana.” (ele tosse) “Ele veio guiado por aquela mulher sedenta de poder: Viviane, a Dama do Lago! Ele não conseguiria sair nunca sozinho daqui. Cymric, filho de Cerdic, escapou de Avalon. Que a deusa nos proteja porque agora o pai do desgraçado vai querer vingança contra todos nós. Eu escutei a voz de Viviane lá fora: “O combinado era que você não os matasse. Só ajudaria você a fugir e em troca o exército de seu pai me ajudaria.” E mesmo assim ele revirou os alojamentos atrás de Robert. Então me esgueirei e o ataquei. Parecia fácil até quando Viviane ergueu sua mão e meus músculos fraquejaram. Cynric se virou e com um punhal me atacou. Aí eles foram embora. (então ele reúne as suas últimas energias) Vão, peguem o barco e se juntem ao exército de Nanteleode como combinado. Se ficarem na ilha quando saírem tudo pode ter virado um caos com esse bárbaro a solta. Seus pais precisam saber o que aconteceu. Vão ou não existirá esperança! Viviane e Cynric acham que vocês estão mortos. Eles devem estar a solta por aí. Só vocês estão vivos, por isso são os escolhidos... A Senhora de Avalon me batizou como Cavaleiro das Lágrimas mas nunca revelou o porque... Agora entendo.” 

Ele olha pra fora enquanto lágrimas correm pelo seu rosto pálido, já quase sem vida, e como que por magia o céu começa a chover no mesmo ritmo das lágrimas que vertem de seus olhos. Então ele estremece e dá o seu último suspiro e seus olhos ficam fixos. A morte leva Cynbel e a chuva se transforma em neve novamente.

ATRAVESSANDO AS BRUMAS:

Rapidamente os garotos se dirigem ao barco que flutua tranquilamente nas águas escuras. Eles olham a última vez para a ilha da briga adentrando nas brumas. Ironicamente parece tudo em paz e em silêncio. Ellen tenta abrir as brumas e eles começam a vagar, perdidos pelo lago sagrado.

Ellen: “Podemos nos perder para sempre aqui!”

Em uma ultima tentativa NImue ajuda a menina e uma parte da Bruma se abre e os canais do pântano surgem à frente. Eles navegam pelas dezenas de caminhos em vão. Muito tempo passa enquanto as duas meninas, Nimue e Ellen, tentam usar os auspícios da Deusa para achá-los. Após um tempo e muito nervosismo eles desembocam no lago de Glastonbury. O tor está coberto de neve e a Abadia no topo parece deserta. O espinheiro de José de Arimatéia, ao lado do poço, está cheio de estalaquetites de gelo. Faz muito frio. A cidade está vazia, abandonada. Não se vê druidas nem cristãos peregrinos. 

Bernard: “Vamos até o poço. A água sagrada pode ser bastante útil.”

Não é comum viajar a pé essa época do ano. A tarefa é difícil e perigosa. A viagem pode ser feita por fora das estradas, mas a neve e o frio atrasarão a viagem em dez dias. Então, eles seguem pela estrada tentando vencer o rigoroso inverno.

MODRON FOREST: 

Em meio a floresta que leva para o leste a marcha pela neve é árdua com vento e neve.   Após horas de caminhada o grupo é surpreendido. No meio da estrada surge um cavaleiro bloqueando a passagem. Atrás acontece o mesmo. Vindo da mata mais seis deles os cercam. Seus escudeiros levam a bandeira com o brasão com as três cabeças de Leão sobe o fundo vermelho com o lambel amarelo. (lambel: marca o estandarte do filho herdeiro de um nobre)

Brian: “Merda! Os homens da Cornualha!”

Bernard: “Não falem nada. Eles não sabem que somos.”

Sir Rufon: “Parados! Se pensarem em mexer um músculo mataremos todos vocês. Estão em zona de guerra e terão que me seguir. Para Wells, senhores!”

Então os garotos seguem escoltados pelos cavaleiros da Cornualha. Quando se aproximam de Wells depois da metade do dia, debaixo de chuva, eles vêem um exército enorme acampado ao redor da paliçada de madeira. Apavorados não ousam olhar ao redor. Então chegam ao portão de Wells e eles são abertos com um toque do chifre de guerra. Lá dentro, em meio à lama, as casas de telhado de palha trançada estão ocupadas por Cavaleiros que surgem nas portas para olhar para recém chegados. A ponte levadiça sobre o foço desce  e aí eles são escoltados pela rampa íngreme de madeira até o topo do forte. Na porta do Motte and Baile os aguarda um guerreiro de uns vinte e poucos anos com anéis e braceletes de ouro. 

Príncipe Mark: “Entre Sir Rufon! Saia desta chuva maldita!”

Sir Rufon: “Chegou quando, Príncipe Mark?”

Príncipe Mark: “Voltamos ontem de Donchester. Sitiamos os desgraçados por semanas. Um Pretor maldito, Jonathel, estava com os seus celeiros cheios de suprimento e resistiu. Agora clama uma vitória pois desde 496 foi a primeira vez que alguém resistiu aos nossos ataques. Mas vitória sem combate! Não... Covardes se escondem atrás de muralhas. Pelo menos Somerset caiu e pertence ao Reino de meu pai.”

Sir Rufon concorda com aceno de cabeça e rindo. Eles são empurrados em um grande salão de audiências e banquete todo de madeira. Ali dentro está cheio de Cavaleiros e escudeiros sentados no chão afiando espadas e remendando as cotas de malha. Eles nem dão atenção ao grupo dos jovens.

Sir Rufon: “Os encontrei na floresta meu Príncipe.”

Príncipe Mark: “Sentem-se por favor! Escudeiros tragam hidromel quente e um pouco de carne para as nossas visitas. Tragam alguns panos para que possam se secar. Irei lhes perguntar uma coisa.”

Nesse momento, de frente para eles soldados puxam um homem por cordas nas traves do teto do salão. Ele está pendurado pelos braços e pernas em X. As suas articulações resistem até que ele uiva e todos os seus membros são destroncados. O homem estrebucha e morre. Os garotos ficam apavorados.

Príncipe Mark: “Quem são vocês e o que fazem em meio a floresta nesse frio maldito?” 

Bernard: “Somos de Glastonbury. Estávamos isolados por causa do inverno. A cidade está abandonada.”

Príncipe Mark: “O estranho é que estão bem alimentados.”

Então ele esmurra a mesa levando todos a se encolherem. 

Príncipe Mark: “Estão mentindo pra mim! Sei que são nobres ou algo parecido. As meninas tem a marca de Avalon! Ficarão aqui detidos e trabalharão em meu exército.”

Mesmo assim Mark manda seus escudeiros servirem hidromel e comida. O tempo passa enquanto cai a noite e o Príncipe da Cornualha, filho do Rei Idres, os encara desconfiado. Então o salão se abre. Venta muito e o frio entra congelando. Uma pessoa entra e está coberta por um capuz de couro. Ela se revela: É Nínive, a Senhora de Avalon. Todos ficam em silêncio.

Nineve: “Julgo que está em seus salões a oportunidade de você Príncipe, conquistar Logres, ou seu pai. Estão aqui o Conde Robert, Bernard e Ellen, os filhos do Marshall de Logres e de Lady Marion e Brian, sucessor do Barão Algar.”

Os olhos de Mark brilham como fogo olhando para a Senhora de Avalon. A ambição enche o seu coração.

Príncipe Mark: “Como conseguiu entrar?”

Nineve: “A Senhora de Avalon não pode ser barrada em nenhum lugar sobe o céu. Mas posso lhe assegurar que os tesouros da Britânia estão reunidos e cada vez mais perto de todos, Príncipe. Mas, você não é o escolhido. Se agir com cobiça, guiará a Britânia direto para o final dos tempos. Os antigos Deuses, que sua família já cultuou antes do cristo, se vingarão e a história lhe cobrirá de trevas e desonra. Não lhe cabe o papel de Rei supremo. Se conseguir eu lhe garanto que será seguido por fogo e morte.”

O Príncipe se levanta desembaiando a sua espada bastarda com o punho de cabeça de leão. 

Príncipe Mark: “Feiticeira!”

Os homens do Príncipe observam a cena apavorados. O silêncio do salão é sepulcral. Ele prepara o golpe e Nínive o encara com a cabeça erguida. Mark estremece tentando conter a sua ira e abaixa a sua espada de duas mãos. 

Príncipe Mark: “Vão embora imediatamente! Retirem-se da minha frente e se vê-los novamente serão mortos sem piedade. Guardas!”

Quando saem dali escoltados já parou de nevar. É noite e eles atravessam o exército acampado sobe o olhar desconfiado de todos.

Sir Rufon: “Sigam em frente! Por mim eu teria estripado vocês! Mas quem manda é o Príncipe. Se mandem seus merdas.”

Nineve: “Fujam o mais rápido possível! Provavelmente vocês estão sendo caçados por todo reino e Mark pode pensar melhor sobre o erro que cometeu. Vão!” 

Ela beija a testa de Marion e Nimue e se despede. A viagem continua. Faz cada vez mais frio. Anoitece e eles se aproximam de Warminster com as suas muralhas antigas. O frio castiga como uma lâmina invisível. As ameias estão lotadas de arqueiros. Eles vêem tachos de ferro fervendo lá em cima. Pilhas de pedras preparadas para serem despejadas. Os portões estão trancados e escorados por dentro e por fora. No dia seguinte eles seguem fora da estrada. Está muito difícil de se caminhar. Dormindo ao relento quem mais sentiu foi Brian e Sagremor que acordam bastante debilitados.

VAGON:

Até que no meio do dia cinzento, em meio a nevasca, eles passam pelo forte Vagon. 

Bigorna: “Não aguento de fome! Meu estômago está doendo. Não temos nada para comer.” 

Nimue: “Eu vou acender a fogueira!”

Bernard: “Não faça isso! Irei caçar algo”

Bernard some na mata e perto da metade do dia ele retorna com um cervo vermelho abatido. Então a comida é dividida. Eles prosseguem a caminhada. Saindo da floresta eles percebem os feudos ladeando a estrada. Muralhas e paliçadas, uma atrás da outra, trancadas. Não se vê arqueiros ou sentinelas nos passadiços. Não parece que alguém esteja vigiando ou tomando conta das estradas ou mesmo das terras dos lordes de Logres. Seguindo em direção a Sarum eles entram na planície, pontuada por suaves colinas cobertas de neve essa época do ano. Eles vêem as colunas de fumaças se erguendo à leste. Quando chegam no topo de uma delas, com o vento cortando os seus rostos, Ellen percebe uma movimentação lá embaixo.

Ellen: “Silêncio! Se abaixem. Olhem...”

No pequeno vale, na beira do rio Wilton, existe um grupo de quinze homens montados e parados na neve, enquanto os cavalos bebem a água. 
Robert (baixinho): “São saxões! Batedores... Escutem.”
Saxão 1: “Não há mais comida. Os aldeões fugiram e levaram tudo. Temos que voltar e dar a notícia para os Reis de que não achamos nada.”
Saxão 2: “Smouth e Cerdic não gostarão disso. Quatro mil soldados para alimentar e erguer um cerco sem provisões não vai ser fácil.”
Saxão 3: “A maioria das vilas estão queimadas. Alguém mandou fazer isso antes que chegássemos. Os poucos Celtas que encontramos já foram mortos e oferecidos a Wotan. Essa travessia entre o Rio Ebble e o Naddar terá que ser feita rapidamente. Por Winterbourne Gunnet será impossível. É uma passagem muito óbvia.”
Saxão 4: “Vamos para o Sul. Não há mais nada aqui. Os batedores de Sarum devem ter visto movimento nas fronteiras de Salisbury e por precaução mandou todos os nobres se refugiarem no castelo mais uma vez.”
Então eles partem.
Sagremor: “Vamos para Sarum. Precisamos avisá-los!”
SARUM: 

Depois de algumas horas eles chegam no fosso que circunda a cidade de Sarum. Todos estão debilitados pelo frio. Nas muralhas estão a milícia da cidade, com os brasões em listras horizontais azuis e amarelas. Muitos são arqueiros e lanceiros. Eles observam movimentos no horizonte. Parecem em alerta. Nas várias torres que pontuam a muralha existem fogueiras sinalizadoras. 

Bernard: “Sargento! Abra os portões, por favor. Precisamos nos recuperar do frio. Vimos batedores saxões eles estão guiando seu exército direto para cá.”

Sargento: “Desculpem mestres. A Condessa ordenou que não abríssemos os portões por nada. A cidade está lacrada para qualquer nobre ou plebeu. Todos os lordes e suas famílias se refugiaram em Tishea. O exército Britânico está reunido ao norte na Colina do Cavalo Branco.”

Conde Robert: “Quando o trono de Salisbury for meu isso nunca acontecerá, ouviram bem? Vamos amigos para o norte.”

WANDBOROUGH: 

Eles atravessam alguns vaus e seguem para o norte encontrando algumas vilas. Quase não restou nenhuma delas. A maioria queimadas até as fundações. Não se vê uma alma viva por ali. Na esquerda no horizonte eles enxergam Stone Range. Sagremor tem uma tolerância baixa ao frio, pois vem do oriente quente e é o primeiro a desmaiar de hipotermia seguido por Brian. Eles dão de beber a água sagrada do poço de Glastonbury mas nada ajuda os rapazes. Accolon e Bigorna os ajudam a caminhar com extrema dificuldade.

Ao meio do dia eles entram nas Westdowns. Uma grande extensão de terras baixas. Uma espécie de bacia com quilômetros e quilômetros de terras. Venta muito em terreno aberto e eles batem os dentes. O frio cortante machuca os rostos. Eles caminham tentando vencer aquele mar branco. Começa a nevar muito forte e é difícil de se enxergar. Um por eles desmaiam até sobrar apenas o mais velho: Bernard Stanpid. Eles se ajoelha com as suas mãos e rosto congelado até que sente uma pancada forte na cabeça e tudo fica escuro. 

No delírio, enquanto tem traços de consciência, eles percebem que estão sendo carregados em uma maca de palha e estão embrulhado em peles de animais. Outra vez alguns deles vêem a entrada de uma caverna. Na entrada existem corpos pendurados sendo descarnados e um tacho com um cadáver sendo fervido. O cheiro é nauseante. Eles perdem a consciência novamente.

O BANDO:

As peles de urso e a fogueira aquecem os corpos. As sombras se projetam nas paredes da caverna. O cheiro da lenha queimando misturado ao de comida fazem as barrigas roncarem. Um homem cheio de cicatrizes, um saxão, se aproxima seguido por duas mulheres celtas, oferecendo combucas de madeira com sopa. Accolon, Robert, Bigorna, Nimue, Sagremor, Ellen, Brian e Bernard se sentam instintivamente.

Saxão: “Estão melhor jovens? Se não tivéssemos os achado estariam mortos em uma hora dessas. Tomem a sopa porque depois serão levados à presença do Ferve Corpos.” 

Enquanto os olhos dos garotos se acostumam com a claridade e tomam a sopa revigorante eles notam a longa caverna onde não se pode ver a saída. As tochas iluminam toda a extensão do lugar que está lotado. Eles distinguem saxões, romanos, celtas, Irlandeses, cavaleiros com estandartes esquecidos. Crianças, velhos, mulheres caminham entre eles. Todos dividem a comida igualmente. Muitas espadas, machados, escudos, de todos os tipos de exércitos e povos são carregados. Quase todos levam bestas. Existem milhares de virotes guardados em barris. 

Bernard: “Meu deus! É o Bando Branco!”

Um Cavaleiro Celta se aproxima com uma grande sacola de couro de foca.

Sir George: “Brian, Bernard, Ellen e Nimue, levantem-se e sigam-me.”

Enquanto passam pela multidão daquele lugar gigantesco cheio de túneis. Alguns grupos cuidam dos feridos, outros cozinham. Outro grupo reza orações cristãs, outros fazem rituais à deusa e outros ainda cultuam os deuses antigos de Roma. Eles caminham e vêem barris e mais barris de comida e provisões. Também vêem pilhas que se perdem por todos os corredores com peles, objetos de prata e ouro, libras, tapeçarias. Uma verdadeira fortuna para deixar qualquer Senhor Feudal rico por várias gerações. 

Então eles caminham por algum tempo até que chegam em uma porta toscamente feita de madeira e peles. O Cavaleiro abre a porta. Lá dentro está um homem de costas. Ele usa uma túnica encardida toda branca por cima da cota de malha. Uma grande mesa finamente talhada, com várias cadeiras, ocupa o centro, provavelmente roubada de algum grande castelo. Uma fogueira aquece o salão pequeno e redondo. Uma cama de palha ocupa a parede oposta e a coroa dos Pendragon repousa em cima dela. Ele se vira usando um elmo aberto e por cima do seu rosto uma balaclava branca. Os garotos ficam apavorados.

Sir George: “Ferve Corpos, aqui estão seus novos...!” (entrega um saco)

Ferve Corpos: “Deixe me ver.”

Então ele abre  o saco e retira cuidadosamente quatro crânios. Ele se aproxima e coloca todos cuidadosamente em cima de outros. Na verdade percebem que a parede inteira é preenchida por ossos circulando todo o salão.

Ferve Corpos: “Vejo que melhoraram. Sentem-se por favor! Sir George, aguarde lá fora.”

O Ferve Corpos fica andando ao redor da mesa. Eles não vêem expressões e só escutam a sua respiração. 

Ferve Corpos: “Dormiram dois dias. Não sabia se aguentariam. Fiquei muito preocupado. Preciso que confiem em mim. Me digam, vocês não estavam em Avalon? Porque saíram de lá pra morrer nas Westdowns congeladas?”

Bernard: “Aconteceu uma tragédia em Avalon. O filho de Cerdic matou todos os garotos escolhidos e fugiu.”

Ferve Corpos: “Ótimo! Está começando... Está certo. Aqui, nós começamos com poucos. Porque lutar por alguém? Se você não tem mas nada na vida só resta sobreviver dia após dia. Por isso recebemos todos e tratamos todos igualmente, sem distinção. Nesses tempos escuros dei uma razão para lutarem. Somos o Bando Branco, uma cor neutra, a união de todas as outras. O Bando Branco é diferente do que a maioria pensa. É a única forma de sobrevivência para os excluídos e parias nesse mundo que vivemos. Duas coisas ameaçam o mundo: A ordem e a desordem. Tentamos ordenar nossas vidas. Mas é o caos que geramos que ordena a vida do bando. As vozes nunca mentiram pra mim. Elas sempre falaram: deixe seus inimigos devorarem uns aos outros. E elas sempre querem sangue, se alimentam disso, vida e morte, ordem e caos. Então, como direi... Vocês sabem que os salvei, certo? Teremos que fazer um trato. Se concordarem, poderão ir.”


Então ele retira o elmo e a balaclava branca. Diante deles surge um rosto conhecido. Seus cabelos, negros longos e seus olhos mais vivos do que nunca. Olhos parecidos com o de Sir Amig. Os olhos de Sir Dylan de Tishea. 

Ellen: “Tio Dylan!”


Bernard: “Você tem que nos ajudar Tio. Lá fora está acontecendo coisas horríveis. Nossos pais, Logres! Por favor, pense um pouco.”

Ferve Corpos: “Dylan... Esse era o nome de um homem ingênuo e fraco que não existe há alguns anos. Eu sou o Ferve Corpos. Mas vocês estão aqui porque não tive escolha, ou deixaria vocês, meu próprio sangue, padecerem na neve. Meu pai parecia sussurrar no meu ouvido que eu tinha que fazer a coisa certa. Por isso vocês não contarão quem sou ou como somos, ou ainda quantos somos para os seus pais, nem para nenhum nobre amigo ou inimigo.  Essa menina, Nimue, não é? Ficará aqui conosco como garantia. Não se preocupem, ela será bem tratada desde que cumpram a sua parte. Sir George, levem-na.”

Nimue: “Eu não quero! Não me deixem aqui. Por favor!” 

Então um romano e uma mulher Irlandesa a seguram e a levam. Dez homens entram ali. Eles estão todos com bestas, espadas e cotas quebradas. 

Ferve Corpos: “Então é hora de partirem. Os outros meninos poderão ir com vocês. Coloquem as mãos para trás.”

Então eles amarram os pulsos dos garotos e colocam capuzes nas cabeças de todos.

Ferve Corpos: “Adeus e lembrem-se, bico calado!”

Brian sente que algo foi colocado em suas mãos. 

Ferve Corpos: “Um presente de seu tio!”

Então eles caminham. Os homens não falam nada e sentem que são cobertos com peles e colocados em cima de cavalos. No trajeto eles comem pedaços de carne de cavalo seca. Eles adormecem em cima da montaria durante horas e horas de viagens.

Irlandês: “Ajoelhem-se!”

Eles sentem espadas os cutucando na altura da costela.

Irlandês: “Contem até cem aí poderão tirar os capuzes. Se abrirem os olhos antes, lhes mataremos com as bestas.”  (Ele corta as amarras dos pulsos dos garotos)

COLINA DO CAVALO BRANCO: 

Quando eles retiram os capuzes percebem que é noite. O grupo está ajoelhados na neve. Ao lado de Brian, foi deixado na neve, um chifre de guerra, um dos dez tesouros da Britânia, o chifre de guerra de seu pai: Barão Algar Herlews. 

Diante deles está a Colina do Cavalo Branco e ao redor dela um exército acampado com oito mil tendas em meio à neve. Os brasões amarelos e vermelhos, com a coroa no centro, ladeada pelas duas espadas prateadas, tremulam. Os pavilhões e as cotas de armas de milhares de nobres dos vários lugares da Britânia se erguem. Milhares de fogueiras estão acesas mas não se vê ninguém ali. Mas um alto som vêm do centro do acampamento. Os garotos caminham pelos corredores o seguindo. 

Eles vêem alguns cachorros lutarem por um pedaço de carne. Algumas prostitutas dormem nuas em algumas tendas. Se embrenhando em meio aquela mar de tendas e pavilhões o cheiro de comida, misturado aos de dejetos humanos e estrume de cavalo permeiam o ar. Eles escutam marteladas no metal e vêm duas centenas de ferreiros trabalhando sem cessar afiando espadas, desentortando elmos, emendando placas e perneiras. Então eles avistam uma multidão. 

Embrenhando-se naquela massa humana formada por Irlandeses, Romanos, Celtas e Pictus eles conseguem se posicionar mais à frente. Dali eles vêem seus pais: Sir Enrick, Lady Marion e seus Cavaleiros. Nesse momento um homem sai do grande pavilhão. Ele está montado em um cavalo de guerra avermelhado. Todos gritam excitados. O homem levanta as mãos e logo todos ficam em silêncio. Ele é um homem de cabelos brancos, com a barba na mesma cor e deve ter mais de 45 verões. Ele veste uma cota de malha dourada e no peito uma couraça com motivos celtas. Sua coroa de ouro, forjada em seu elmo, tem o deus cernnunos gravado e a deusa. Uma espada de duas mãos pende de sua cintura e o escudo vermelho, com o seu brasão, é levado na mão direita. Ele é canhoto: É o Rei Nanteleode de Escavalion.

Rei Nanteleode: “Irmãos! Sim! Eu disse irmãos! Todos nós somos filhos da mesma mãe, vocês não sabiam? (Alguns riem) Estou falando sério homens! Irmãos! Nascemos todos da mesma terra! Romanos, Pagãos, Cristãos de Escavalon, Salisbury, (alguns gritam outras terras natais) Silchester, Malahaut, Bedegraine, Sussex. Mas isso não importa! (silêncio) Somos todos Britânicos! Somos todos um só! Temos que ser um só! Ou nada irá mudar. Fazem dez anos que esses malditos saxões destruíram tudo que tínhamos. Nos tiraram a liberdade, nossas famílias e nosso ouro! Todos tivemos perdas! Agora mesmo isso está acontecendo. Cerdic voltou enfurecido! Mais uma vez Sarum está ameaçada. Da última vez perdemos homens bons como o Barão Algar, Sir Bruce, Sir Caulas, Sir Galardoum, Sir Léo, Sir Amig e muitos outros! Agora é a nossa vez de nos sacrificarmos. Não posso mentir. Não será fácil. Então a única coisa que poderei lhes prometer é o seguinte. Serei o primeiro homem a brandir a espada no campo de batalha e o último a sair de lá! Os bardos cantarão no final as conquistas do vencedor. Mas são vocês com suas botas sujas de barro e sangue e as armas embotadas e sem corte que trarão a vitória para as nossas mães, pais e filhos. Nesse momento os saxões estão logo ali depois do horizonte. Chegou a hora e vamos pegá-los! Britânia!” (Então todos gritam Britânia com as suas armas para cima!)

VETERANOS:

Rei Nanteleode:  “Lady Marion, Sir Enrick, Sir Oswalt, venham comigo, por favor!”

DENTRO DA TENDA REAL:

Sir Enrick, Lady Marion, Sir Oswalt, Sir Alain, Duque Corneus e Sir Brastias seguem o Rei para dentro de sua tenda. Nanteleode apeia de seu cavalo. Eles notam que o Rei está bastante preocupado.

Rei Nanteleode: “Os homens devem estar motivados. Não podemos falhar. Temos dois inimigos mais próximos. Um mais ao norte: Aethelswith e ao sul: Cerdic. Devemos partir o mais rápido possível! Mas, antes formaremos o conselho de guerra. Preciso tomar decisões difíceis, Senhores.”

Então um dos guardas, pintados com pinturas Celta, abre a tenda e seus filhos e amigos entram ali. Ellen entra afobada empurrando o Rei e abraçando Sir Enrick e sua mãe Marion. Nanteleode só sacode a cabeça dando uma risada discreta. Brian não vê seu pai e nem a sua mãe. A morte do Barão Algar deixou um vazio em sua vida. Então rapidamente  os garotos contam da fuga de Cynric, filho do Rei meio saxão e meio celta Cerdic.

Rei Nanteleode: “Maldito, agora Cerdic não tem nada a perder! De qualquer forma atacaremos! Eu mesmo escolherei a quem devem servir como escudeiros. Brian será escudeiro de meu filho, O Príncipe Alan, Ellen será a escudeira de Sir Brastias, Bernard, Sir Bag está sem escudeiro, o último morreu em Londres. E os outros rapazes irão servir homens da minha guarda pessoal. Conde Robert me acompanhará e aprenderá. Agora, vocês sentem-se e assistam o conselho de guerra. Poucos escudeiros tem o privilégio de verem decisões reais serem tomadas em tempos decisivos. Aqui, aprenderão na marra.” 

CONSELHO DE GUERRA:

Então anoitece e o conselho de guerra se reúne na tenda. Um mapa de couro é colocado em cima da mesa enquanto os principais nobres Sir Alain, príncipe herdeiro de Nanteleode, o Conde Corneus, seus filhos Sir Derfel e Sir Lucan, Romulus, Centurião de Malahaut representante do Rei Heraut de Apres, Sir Bag, Sir Dalan, Arina, Sir Brastias, Sir Dirac (Irlandês filho do Rei envenenado Canan vingado pelo Barão Algar), Malgwen e Rei de Norgales (depois de Nanteleode ter morto os filhos de Pelinore o escolheu como sucessor). Outros Senhores menores da Cambria estão sentados mais ao fundo do salão. Líderes tribais das montanhas Irlandesas também aguardam com suas roupas rústicas e peles de ovelha para se protegerem do frio. O mais importante e com aros de ouro nos braços e correntes de prata indicando vitórias em campo de batalha  é o ruivo e entroncado Guallonir. (Líder das tribos das montanhas recebeu os heróis no Reino de Penbroke em 494) e os Cavaleiros Vermelho e Verde de Glevum representando o conselho daquele Reino. (Gêmeos que brigam o tempo inteiro e ninguém sabe o seu nome, promessa feita pela sua mãe se tivesse filhos homens)

Rei Nanteleode: “Pois bem Senhores! Estão reunidos nesse conselho de guerra todos os meus aliados. Aqueles que prestaram vassalagem a mim. Tivemos nossas desavenças. Mas agora é hora de deixarmos de lado nossas diferenças e discutirmos nossas táticas de guerra. Os batedores avistaram o exército saxão atravessando as montanhas ao sul de Sarum. Levará muitos dias para conseguirem.”

Guallonir: “Majestade permita-me começar. Estão seguindo esse caminho para nos surpreender. Escolheram o pior caminho. Mas, somos das montanhas. O Senhor derrotou, desculpem falar na frente deles, Sir Dirac e os filhos de Pelinore em um lugar igual à esse. Então sugiro cruzar o rio e destruímos o inimigo nas montanhas antes que atravessem a fronteira. ”

Sir Enrick: “Desculpe nobre Guallonir, mas, Majestade, o inverno está muito rigoroso esse ano. Nem todos temos a habilidade de vivermos quanto mais lutarmos nas montanhas.”

Romulus: “Os Celtas tem a Cavalaria e arqueiros, nós temos a melhor infantaria da Britânia, os Irlandeses são rápidos. Os homens das montanhas peritos em emboscadas. A situação é a seguinte: existem pelo menos quatro mil saxões atravessando as montanhas e necessitam cruzar a ponte do rio Naddar e não se esqueçam que nossos espiões descobriram uma aliança forjada na escuridão desses tempos.”

Rei Nanteleode: “Sim! É verdade. Senhores, os saxões se uniram. De norte a sul, de leste a oeste. Todos eles. Wessex, Kent, Essex e os piratas de Smouth e suas dezenas de barcos e Sussex não responde nossas mensagens. Deixem me ver o mapa. (ele observa o mapa como um jogador de xadrez) Então Senhores, uma vez que o inimigo atravessar os seus 5.000 homens, a Cavalaria abrirá o ataque junto com os arqueiros os apoiando. Eles sairão escondidos de trás da mata ao oeste e os arqueiros deverão estar no interior escondidos. Devemos impedi-los de recuar pela ponte e fugirem. Os romanos sairão da torre que protege a ponte e a bloquearão com a formação tartaruga. Os Irlandeses prepararão uma emboscada na mata leste. Enquanto isso os Cavaleiros Celtas deverão impedindo com que o inimigo fuja pela margem norte ou sul. Os seguiremos os empurrando. Então a última cartada que darei será com os arqueiros sendo levados por barco para o outro lado da mata leste pelo rio. Essa será a manobra mais arriscada. Quem comandará a esquadra com trinta navios será...” 

Um homem de uns sessenta anos surge por entre os Lordes.

Gwenwynwyn: “Comandante Gwenwynwyn Majestade! O homem do mar com mais glória nesse pavilhão! Depois do que aconteceu com meu grande amigo Sir Amig senti que precisava fazer algo.” (ele faz uma vênia com um leve sorriso aos Cavaleiros de Sarum) “Meus 30 barcos que venho usando como escolta de um certo sábio que morou nessa ilha, alguns anos atrás, estão prontos para zarpar.”

Rei Nanteleode: “Vejo que recebeu o pássaro com meu pedido. Que bom que aceitou.  Podem enviá-los imediatamente. (O Comandante Gwenwynwyn deixa o pavilhão)  Continuando, e é nesse momento que o ataque deve ser massivo nessa região. Marshall de Logres, o Senhor comandará a cavalaria. Lady Marion, os arqueiros são sua responsabilidade. Príncipe Alain comandará os Irlandeses. Sir Romulus dos romanos comandará o bloqueio da ponte. Sir Brastias, os arqueiros são a chave do sucesso e será responsável pela sua proteção. Eu estarei na vanguarda todo o tempo como jurei aos homens. Usaremos a escuridão da noite para manobrarmos sem sermos vistos. Preparem-se, daqui algumas horas estaremos em marcha.” 

UNIDADE DE ARQUEIROS: (Lady Marion)

É fim de tarde. Os arqueiros estão acampados próximo ao centro do acampamento e a margem do rio. As carroças com as flechas são trazidas. Existem Romanos, Celtas e Irlandeses formando filas em várias delas. Aproximadamente mil homens se apresentam. As flechas começam a serem distribuídas. Enquanto Marion circula por entre aquela multidão, ninguém dá atenção à guerreira.

Bedivere: “Olhe só, Senhora! Os ferreiros do Rei Nanteleode fizeram essa mão de ferro para mim. (Ele aperta e dá um impulso e uma lâmina surge da luva) Estou apanhando de Sir Brastias fazem luas e melhorando. Acho que em breve conseguirei a lutar bem.”

Lady Marion percebe que apesar de um bom número de arqueiros. Como são de várias culturas eles estão separados em grupos que não se falam um com o outro. 

Romano: “Porque deveríamos seguir uma mulher?” 

Irlandeses: “Cale a boca arrogante! Como a Senhora quer que lutemos lado a lado com esses malditos romanos que nos exploraram por gerações.” 

Celtas: “E vocês? Ladrões de segunda categoria. Vivem do nosso gado roubado da fronteira! E vocês Romanos cretinos? Ladrões de terra. Respeitem a Filha de Avalon.” 

Então tudo vira uma confusão com gente gritando, se empurrando e trocando socos. 

Lady Marion: “Você escudeiro romano se afaste até que fique do tamanho de meu polegar. Espere... Leve essa maçã com você.”

A guerreira grita: “Atire a maçã para cima escudeiro!”

Com muita agilidade Lady Marion atira com seu arco. A flecha corre assobiando pelo ar atingindo em cheio a fruta. 

Lady Marion: “Sua vez Irlandês!”

E o homem atira com o seu arco fazendo a sua flecha se perder no horizonte.

Lady Marion: “Sua vez Romano!”

Romano: “Atenção homens! Vocês viram do que a mulher é capaz. Não preciso atirar, preciso lhe seguir, Senhora!”

Então todos os homens olham uns aos outros. Eles se cumprimentam inclinando a cabeça. Eles se olham e em seus olhos percebem que não haveria Britânia sem os Irlandeses não se mantivessem vivos, mesmo roubando os Celtas, mantendo o território sobe seu domínio. Não haveria Britânia se os Celtas não tivessem permitido que os Romanos construíssem seus fortes como o Vagon e protegeram por alguns séculos a ilha dos invasores. E os Romanos que sobraram na ilha perceberam que todos nasceram ali, diferente de seus ancestrais, e agora também são Britânicos.

UNIDADE DE CAVALEIROS: (Sir Enrick)

Os dois mil Cavalos e Cavaleiros ocupam uma enorme extensão do acampamento. Sem falar no pôneis de carga. O cheiro de bosta de Cavalo é forte. E os pavilhões cobrem uma área enorme. Os milhares de estandartes tremulam com as luzes das fogueiras. São mais de três mil homens trabalhando. Os escudeiros afivelam as couraças de aço, herdadas dos romanos, por cima das cotas de malha de seus senhores. Por último vestem as túnicas com os seus brasões. As manoplas articuladas são uma cortesia dos ferreiros do Rei Nanteleode, que aprenderam a fazê-las com o mesmo princípio das armadura segmentadas dos romanos, para proteger as mãos e apagar mais fácil o fogo do Bafo de Dragão. O escudeiro Deverell veste a armadura em Sir Enrick, o Marshall de Logres.

Deverell: “Senhor, acredita que o inimigo vai engolir a isca?”

Sir Enrick: “Terá que engolir.”

Deverell: “Estão bem presas as correias da armadura? ” 

Sir Enrick: “Sim, trabalho bem feito rapaz.”

Sir Enrick nota que todos os cavaleiros passam algo no rosto. Todos estão pintando a Runa da Resistência Celta no rosto com tinta vermelha.

Sir Oswalt: “Hora de dizer algumas palavras Senhor Comandante!”

Sir Enrick: “Deverell, tire os elmos da carroça para que eu possa subir. Irei falar aos homens.”

Sir Enrick: “Chegou a hora Cavaleiros!  Lembrem-se do Barão Algar, Sir Amig, Sir Caulas e outros que morreram como heróis. O que sente falta Romano? E você Irlandês? E o Celta? ”

Romano: “Água quente meu Lorde.”

Celta: “De fazer a colheita.”

Irlandês: “Da bebida e das mulheres!”

Sir Enrick: “Todos sentimos a falta das mesmas coisas. Das famílias, dos cachorros, das nossas terras enquanto nossos filhos brincavam tranquilamente sobe o sol. Deixei para trás um pai cego, uma mãe morta e um tapete de dor e sangue provocado por eles. Tudo isso foi tomado de todos nós pelo maldito inimigo!  O tempo chegou irmãos Britânicos. O tempo de ir buscar, arrancar o que é nosso por direito.”

Sir Enrick veste o seu elmo negro com crina de cavalo e ergue o seu martelo. Todos os Cavaleiros e seus escudeiros da primeira fila se ajoelham colocando a espada à sua frente apoiada pela ponta no solo. Então os outros fazem o mesmo. Se faz um silêncio. E eles começam: “Somos um pra golpear! Somos um pra golpear! Somos um pra Golpear! Somos um pra golpear!...” E vai ficando cada vez mais forte e eles vão subindo em suas montarias e colocando os seus elmos enquanto repetem aquele mantra. Os escudeiros entregam suas espadas, machados e lanças. E depois montam logo atrás de seus Senhores. Sir Enrick não é mais Enrick, Flecha Ligeira. Ele é o Marshall de Salisbury! O Sine Nomine! O Cavaleiro Amaldiçoado, líder da Resistência Celta. Um assassino, um herói! Um louco!

Sir Oswalt, irmão de Sir Enrick, se lembra de todo o sofrimento que o seu povo, sua família, Sir Amig, do Barão Algar, de Caulas morrendo de fome, de Sir Léo morrendo esquecido num quarto no cerco de Londres, de Sir Bruce sendo trucidado, da sua mãe morrendo abandonada, do seu pai sendo cegado pelo inimigo, de um de seus melhores amigos Príncipe Madoc tombando em uma emboscada na Cornualha. Tudo vem como uma torrente. 

Bernard, filho de Sir Enrick, ajuda Sir Bag, o enorme cavaleiro, a se armar em cima de um banco de madeira. O veterano parece sério e concentrado. Bernard pega a sua massa de guerra e lhe entrega o escudo. O som dos golpes cortando o ar e os músculos erguendo a arma como se fosse de brinquedo é espetacular. 

Sir Bag: “Está confortável gurizinho. Está aprendendo o ofício. Agora pega aquela coxa de frango e segure para eu comer. Nunca luto de estômago vazio. E não esqueça o pão. Nunca como nada sem pão seu porquera!”

Bernard: “Vai ser uma grande batalha!”

Sir Bag: “Vai ser um show!” E o cavaleiro dá um belo arroto.

UNIDADE DE IRLANDESES:

Enquanto isso ao lado, os Irlandeses em menor número bebem hidromel e cerveja azeda com corante verde. Cantam, gritam e dão risadas. Mitos ruivos e cabelos castanhos e bigodes. Todos vestem túnicas xadrezes e escudos redondos verdes. Eles afiam suas lâminas em pedaços de couro. O Príncipe Alain e Brian estão ali com eles. O Príncipe não recusa um chifre de hidromel que ele passa imediatamente para Brian, o filho do finado Barão Algar. Os Irlandeses próximos gritam incentivando. No final o garoto virou tudo aos berros de comemoração dos homens da infantaria.

Guallonir (líder das tribos das montanhas): “Tudo pronto Príncipe, temos que ser como lobos caçando. Já falei com os rapazes. Nada de querer mostrar que são loucos e sim lutar com a cabeça. Usar a mata e o fator surpresa.”

Príncipe Alain: “Muito bom Guallonir. Veja Brian, é importante estar com os homens que lutarão por você, celebrar com eles e ouvir suas histórias. Cada um deles tem uma coisa para contar. Em campo de batalha, quando atacarmos, use a inteligência. Já vi escudeiros sem experiência morrerem nos primeiros momentos do combate. É preciso ser esperto e aprender observando e pra isso é preciso que saia vivo. Você entendeu?”

Brian Herlews concorda com o herdeiro do Rei Nanteleode.

UNIDADE DE ROMANOS:

No outro lado da tropa Irlandesa está o acampamento dos Romanos. Todas dispostas simetricamente. Todas de cor neutra. As cores vermelhas do seu uniforme são as únicas vistas ali. Os estandartes de águia são erguidos. As gladius e os escudos quadrados são empunhados. Eles se colocam em formação com disciplina e silêncio enquanto o centurião grita ordens e apita sinalizando como cada tropa deve se posicionar. Romulus passa por entre as fileiras incentivando cada homem. Padres, os benzem, enquanto eles se ajoelham sobe uma perna e fazem uma oração cristã. 

PARTIDA:

Nesse momento os chifres de guerra começam a soar por todo acampamento alertando que as unidades estão prontas para a guerra. Então, como um espetáculo ensaiado, a Cavalaria segue ao redor da grande coluna. Os arqueiros no centro. Na frente a infantaria romana e atrás os Irlandeses e os pictus. Na Vanguarda acompanhando por sua guarda pessoal está o Rei Nanteleode, ele cavalga com orgulho e com o queixo levantado ostentando a sua cota dourada e o seu peitoral de aço com a runa celta gravada em fios de ouro, parece que nada derrubará aquele homem. Robert o acompanha observando tudo fascinado e aterrorizado. O grande exército de Nanteleode deixa o acampamento com representantes de toda a Britânia. Estandartes Pagãos e Cristãos são erguidos. Para trás ficam as mulheres e as tendas de socorro. A neve cai em flocos finos flutuando ao redor. A respiração de milhares de cavalos e homens se condensam com o frio da madrugada.

Rei Nanteleode (Sacando a espada): “Batedores à frente! Robert, Brian, Ellen e Bernard. Vocês irão com eles. Seus Senhores ficarão bem! Aprenderão a se mover com cuidado em terreno inimigo e observá-lo. O Sargento Steapa cuidará de vocês. As trezentas iscas que me pediu já estão designadas, sargento. Todos voluntários. Atenção Britânia! Marchem!”

Então a grande coluna  marcha para o sul mergulhando na escuridão da noite. Os garotos seguem na vanguarda com Steapa. Um veterano batedor com quase dois metros de altura, de fala forte, ombro largo, cabelos negros e um grande rosto quadrado. 

Steapa: “Vistam essas roupas de aldeões por cima da armadura de couro, vamos.”

Os cem batedores partem pela mata. Se movem rápido e em total silêncio se comunicando por sinais. Steapa ensina os garotos a se movimentarem usando os calcanhares para não fazerem barulhos e as árvores para se esconderem. Nas duas margens do Bourne os batedores trabalham sem cessar. Eles caminham em linha tentando cobrir o espaço que o exército  passará.

Steapa: “Olhem a terra remexida. Passaram quatro cavalos. Podem ser batedores inimigos!”

Então eles cruzam a estrada real, que leva à Sarum, atravessando o Rio Bourne. 

Steapa: “Agora falta cruzar o Rio Avon e depois o Naddar. São duas pontes e a única maneira de chegarmos próximo ao exército inimigo. Com certeza os batedores saxões  também estão tentando nos rastrear. Temos que nos mover com cuidado.” 

A medida que se aproximam, as brumas do rio encobrem a visão. Steapa faz um sinal para que os garotos se abaixem na neve e não façam barulho. 

Steapa: “Estão vendo ali embaixo do outro lado do rio? Existem dois batedores inimigos ocultos pelos arbustos.  Vocês irão pegá-los com muito cuidado. Peguem-os de surpresa. Eu estarei aqui os vigiando... Vão.” 

Robert: “Ellen! Cuidado está bem?” 

Ellen sente carinho por Robert se preocupar por ela e sorri para o jovem Conde. Então eles atravessam a ponte pelo caminho de neve usando as sombras. Os quatro se posicionam atrás do arbusto e então atacam nervosos e o mais rápido que podem.  O Barão Brian e o Conde Robert em um batedor inimigo e Ellen e Bernard em outro. Os saxões nem tem tempo de reagir. Em um piscar de olhos o treinamento de Avalon funciona e os homens são degolados. Mas na hora do ataque Robert ficou nervoso e errou o alvo. A sorte é que Brian calou o homem rapidamente. O jovem Conde derruba sua adaga e fica congelado de medo.

É a primeira vez que Brian e Ellen matam. Estão com sangue nas mãos trêmulas olhando aqueles homens com os rostos contorcidos de dor. Eles se cumprimentam com um sinal de cabeça. Steapa sorri satisfeito.

Então o grupo segue até a segunda ponte. Somente o som do rio e dos pássaros noturnos podem ser ouvidos. A ponte está vazia e eles atravessam.

Steapa: “Os saxões confiaram só nos sentinelas da primeira ponte. Não sejam descuidados, eu disse nunca, pode ser a diferença entre morrer ou viver. Vamos nos aproximar pela mata leste e observar a margem. Realmente eles não sabem que temos oito mil homens vindo para cá.”

Eles caminham pelo interior da mata leste que ladeia a estrada à beira do Rio Ebble. Lugar onde Nanteleode pretende posicionar sua infantaria para emboscar o inimigo. O lugar é cheio de samambaias e folhagens congeladas pelo gelo noturno. Existem muitas árvores, umas próximas das outras. Eles se aproxima da parte da mata que dá para o norte, onde existe uma grande cadeia de montanha do outro lado do rio e dali enxergam as luzes de milhares de fogueiras. Quando olham se deparam com o exército inimigo acampado nas montanhas.

Steapa: “Droga, eles estão com mais de trinta barcos encalhados do outro lado do rio para passar à noite. Contornarão pela água e sairão em Sarum diretamente, sem passar pela nossa armadilha. Vamos ter que queimá-los. Temos que fazer tudo isso antes do amanhecer.”

QUEIMAR OS BARCOS: 

Sargento Steapa: “São jovens e rápidos, mas estão muito verdes! Não travem batalha ou morrerão! Vamos ter que nadar até o outro lado. Levem somente uma adaga e deixem as roupas de couro bem amarradas para evitar entrar muita água e vocês morrerem de frio.” 

Sargento Steapa: “Prontos para atravessarem? Retirem as cotas de malha. Vamos nadar.”

Apesar da correnteza e da largura do rio eles atravessam em silêncio e em segurança. O frio é mortal, mas Steapa junta todos para se aquecerem abraçados por um breve momento. Quando saem do outro lado eles se movimentam silenciosamente atrás do último barco se escondendo nas sombras.

Sargento Steapa: “Quietos! Esperem aqui.”

O veterano batedor some por entre os barcos e depois de um tempo retorna.

Sargento Steapa: “Não dá pra saber ao certo mas devem ter uns seis homens cuidando dos barcos. Precisamos distraí-los. Usaremos a cabeça. Estamos em menor número. Brian, você com essa cara de nórdico passaria facilmente por um saxão, não é? Então... Os distraia, e os mantenha ao redor da fogueira e nós quatro daremos cabo dos outros.”

Então ele puxa Brian pelo colarinho e espalha os cabelos do garoto e o empurra por entre os barcos em direção à fogueira. Quando os seis saxões, ao redor da fogueira, se viram na direção do garoto.

Saxão: “Rapazinho o que faz aqui? Os outros estão dormindo? Você é filho de quem?” 

Brian: “Não sei. Acho que de manhã. Sou filho é... Filho...”

Saxão: “É um filho da puta! Isso sim! AHAHAHAH! Da onde é meu rapaz? Esse sotaque eu não conheço.”

Brian: “Sou de Sussex.”

Saxão: “Ah sim, eu tenho um primo lá e...”

Ao mesmo tempo Steapa, Bernard, Robert e Ellen se aproximam rápido e letais. Brian vê o homem que estava falando com ele cair morto com a garganta cortada. Com os outros quatro saxões acontecem o mesmo. Somente o sexto se assusta. Brian retira a sua adaga e o golpeia mas o homem salta para trás. Steapa dá um passa à frente e risca a garganta do saxão. O homem olha para o seu peito e parece não ter acontecido nada. Até que um risco de sangue surge. Ele leva a mão ao pescoço cai de joelhos e se afoga no próprio sangue morrendo rapidamente.

Sargento Steapa: “É assim que se faz garotos. Se recomponha Brian Herlews. Peguem a própria lenha das fogueiras do inimigo e comecem a jogar dentro dos conveses. Os barcos foram calafetados faz pouco tempo e a gordura de baleia deve espalhar o fogo.” 

Todos começam a jogar as lenhas em brasa para dentro dos barcos o mais rápido que conseguem. Primeiro surge muita fumaça. O cheiro de lenha queimada enche o ar. Então as chamas começam a crepitar. É impressionante como elas começam a se espalhar alimentadas pelo vento. Logo uma colina de fogo se ergue iluminando e aquecendo a noite.

Sargento Steapa: “Não relaxem ainda. Temos que regressar! Logo tudo isso estará repletos dos saxões do acampamento principal.”

Usando a correnteza eles chegam rapidamente na mata oeste.

Sargento Steapa: “Se sequem rápido ou o frio pode nos matar. Usem as roupas de aldeões. Vistam as cotas e as túnicas secas e vamos embora. Os outros batedores tentarão levar o inimigo em direção a nossa armadilha.”

Quando olham para trás mais uma vez eles vêem milhares de saxões descendo das montanhas e correndo aos seus queridos barcos em chamas. O grupo desaparece na mata enquanto o sol começa a nascer. 

EXÉRCITO DO REI NANTELEODE: 

UNIDADE DE IRLANDESES: 2000, CAVALEIROS: 2000, UNIDADE DE ROMANOS: 1000, INFANTES: 2000  ARQUEIROS: 1000

O exército margeia o Rio Bourne. É muito difícil enxergar qualquer coisa com a noite encoberta. O terreno coberto de neve dificulta o trote dos Cavalos. A coluna deixa a floresta Chute para trás. Feudo após feudo é vencido. A visão melhorou um pouco depois de sair da floresta que bloqueava a pouca luz. As pedras que brotam na margem do Bourne são traiçoeiras já que estão encobertas pela água congelada que transbordou do rio. Após atravessarem o vau, a longa coluna, segue para o sul em direção a Ebbe. Terra que pertencia a Sir Léo. Mais ainda ao Sul está a Pedra do Bispo. Lugar que foi devastado pelo bafo de dragão em uma gigantesca explosão de uma torre depósito alguns anos atrás. (Joguei com o John online enquanto ele usava a Resistência Celta para destruir um depósito de Bafo de Dragão, fogo grego saxão, de um Celta traidor)

Sir Bag: “Dizem que o fogo ainda arde embaixo do solo da Pedra do Bispo e que nada cresci ali. Terra amaldiçoada. Os saxões não tomarão a estrada do rei. Eles tem medo dali. ”

Os Irlandeses caminham ladeados pelos cavalos. Sempre um com a mão no ombro do outro para não se dispersarem. Sir Alan cavalga de um lado ao outro, com sua guarda pessoal, tentando manter os irlandeses em marcha compacta. Ele segue dizendo palavras de incentivo.

Príncipe Alain: “Vamos homens! Força! Pensem que em pouco tempo daremos fim a esses malditos e poderemos voltar para nossas terras! Nossas famílias!”

O exército passa próximo à Sarum e cruza a ponte na escuridão. Atravessam o Naddar por outra ponte e seguem direto para o capão oeste que ladeia a estrada real. Os romanos em total disciplina marcham em uma coluna formada por quatro soldados. Romulus segue montado na frente seguindo o estandarte de sua legião. Os legionários marcham rapidamente como uma máquina militar bem azeitada. Marion segue liderando os arqueiros montada em sua égua branca. Todos caminham em silêncio. Quando atravessam a última ponte os Romanos se escondem dentro da torre que a protege. Os Irlandeses se movimentam para o capão da floresta leste. A Cavalaria se posiciona ao norte, na borda do capão da mata à oeste e os arqueiros adentram essa região. O restante da infantaria se posiciona atrás da Cavalaria, ocultos pela mata. 

MADRUGADA:

A neve cobre tudo. Os arautos chamaram cada comandante para se reunirem com rei na mata oeste. Todos os comandantes, lordes e o Rei estão ali. 

Rei Nanteleode: “Bem senhores, as tropas estão posicionadas. À partir de agora não há volta. Envie os trezentos homens, meu filho, a alvorada está se aproximando.” 

Ele segura no braço do Príncipe Alain e parece bastante preocupado.

Príncipe Alain: “Sim, meu pai! Não se preocupe. Farei como combinamos.”

Nesse momento, eles observam as chamas se erguendo para lá da mata leste, iluminando o outro lado do Rio, tão altas e largas quanto uma muralha.

Sir Brastias: “Bom sinal, Senhores!”

A BATALHA DO RIO EBBLE: 

Passam-se três horas. No capão da mata onde estão reunidos com o Rei eles vêem um homem, com o cabelo longo preso por uma trança, se aproximando por entre a mata, vindo do sul, com um grande corte no ombro. Ele é muito rápido e magro. Ele carrega uma espada e escudo sujos de sangue e no peito a túnica rasgada com o brasão do Rei. Ao fundo, a fumaça densa da madeira dos barcos sendo queimada, se ergue para o céu. 

Batedor: “Majestade! O inimigo mordeu a isca. Acharam que éramos uma milícia local. Quando formamos a parede de escudos eles vieram das montanhas e correram desordenadamente. Os homens de Smouth estavam enfurecidos por causa dos barcos queimados. Então Cerdic, é ele que está no comando, gritou ordens e eles se organizaram em uma parede de escudos e vieram se aproximando. Fomos recuando fingindo medo. Eles se aproximaram! Em breve atravessarão a ponte. Estamos do outro lado os provocando.”

Rei Nanteleode: “E os garotos e Steapa?”

Batedor: “Não nos encontraram como o combinado.”

Rei Nanteleode: “Vamos torcer pelo melhor Sir Enrick e Lady Marion. Romulus! Retorne a sua legião e iniciem o ataque. Envie um arauto para nos informar o que acontece.” 

PRIMEIRA HORA: 

No início da primeira hora o Rei Nanteleode lança sua primeira cartada contra o exército inimigo. Romulus segue a cavalo. Todo a estratégia agora está nas mãos dos Romanos.

Rei Nanteleode: “Uma traição agora e seria o fim.”

Amanhece. O céu está azulado e a mata coberta de neve. Os sons de batalha podem ser ouvidos ao longe. Depois de algumas horas o batedor retorna. Dessa vez, coberto de terra e tremendo. Seu rosto está suado e seus olhos saltados de excitação. Sua espada coberta de sangue.

Batedor: Majestade! Foi um caos quando o inimigo atravessou a ponte. Eles vieram rapidamente. Ela é relativamente larga. Estavam totalmente desorganizados porque estavam enfurecidos, mas os desgraçados são rápidos. Atravessaram quatro mil homens e deixaram mil do outro lado do Rio. Então os romanos surgiram dos dois lados da estrada. Nesse momento os saxões se viraram e ficaram confusos. Os que ficaram partiram para atacar a parede de escudos romana. Corajosamente os legionários tomaram a ponte e fizeram a sua formação tartaruga recebendo ataques dos dois lados. Enquanto isso os outros homens de Cerdic correm nesse momento atrás da isca Majestade.”

Rei Nanteleode: “Excelente! Eles estão divididos. Não sei quanto tempo os romanos irão resistir. Se os saxões se voltarem à eles será o fim. Lady Marion! Prepare os arqueiros  e ataque-os. Marshall, já sabe o que fazer.” 

MATA OESTE:

Quando Marion chega nas suas tropas eles estão sentados. A maioria apoiados com as costas nas árvores conferindo os arcos e as flechas. 

Marion: “Vamos! Levantem-se! Eles estão chegando!”

Começa a chegar ali o som de homens correndo. Primeiro os batedores de Nanteleode, então os saxões. Lady Marion opta por atacar ali de dentro mesmo e comanda uma saraivada de flechas. Os saxões são atingidos. Mil homens pelo menos tombam surpreendidos. Mas como não existe nada para bloquear o recuo, muitos deles voltam em direção aos romanos para tentar uma rota de fuga para o Sul pelas montanhas. A parede de escudos romana é ataca dos dois lados.

ATAQUE CAVALARIA: 

Sir Enrick está em meio a multidão de cavalos e cavaleiros que está comandando. 

Sir Bag: “Esperamos muito por isso Enrick.”

Sir Oswalt: “Chegou a hora da libertação! Trabalhamos muito pra chegarmos aqui.”

Arina: “São tão poucos Cavaleiros da Cruz do Martelo. Lutaremos por eles hoje. E morreremos por eles se for preciso.” 

Então o som das flechas sendo disparadas chama a atenção do Marshall de Salisbury. Seguidos pelos gritos de dor e os chifres de guerra soando. Sir Enrick na vanguarda começa a se mover, esporando sua montaria, e o som de milhares de cascos de cavalos o seguem. A velocidade aumenta, enquanto o exército sai por entre as duas matas. O chão estremece como uma tempestade de raios e trovões, naquela manhã, quando Sir Enrick gira o seu martelo de guerra no ar e grita como um selvagem. A infantaria de Nanteleode vindo do norte, seguindo pela retaguarda, começa a correr em direção ao inimigo. Os saxões estão perplexos. Eles vem milhares de cavalos em carga se aproximando em velocidade enquanto assistem seus amigos caídos ao redor agonizando espetados por flechas. O impacto é forte, Sir Enrick atropela e golpeia rachando o crânio do seu inimigo que cai com a língua de fora, tremendo, lançando lascas de ossos e miolos para todos os lados. Outro tenta atingir, com uma lança, as patas de seu cavalo. Ele golpeia com o martelo do outro lado matando o saxão. Oswalt, com um golpe só de sua espada, quebra o escudo no meio de um saxão e depois esmaga o topo da cabeça do inimigo fazendo saltar seus olhos das órbitas. 

ARQUEIROS:

Lady Marion vê o inimigo correndo para floresta, em sua direção, tentando escapar da carga da cavalaria. 

Lady Marion: “Sacar armas! Teremos um combate corpo a corpo!”

Quando entram ali os guerreiros saxões lutam com desespero para escapar daquela armadilha pensada por Nanteleode. Muitos arqueiros caem mortos à golpes de machado e espadas saxônicas. Marion duela com um saxão. Ele tenta derrubá-la com a bossa do escudo duas vezes. Na primeira ela deixa passar e usa sua espada, mas na segunda quando o homem erra, ela salta por cima dele, cai de joelhos do outro lado e com um golpe em arco, da esquerda para a direita, o divide em dois. 

MATA LESTE: INFANTARIA IRLANDESA: 

Do outro lado uma multidão de saxões desordenados somem por entre a mata leste, por algum tempo, tudo fica em silêncio. Steapa, Robert, Ellen, Brian e Bernard estão escondidos por entre as samambaias e os salgueiros cobertos de neve. Estranhamente não existe nenhum sinal dos Irlandeses ali dentro. De repente eles se vêem cercados por saxões por todos os lados. Um deles está há cinco passos de distância.

Saxão: “Ajudem a carregar esse feridos e deixem para trás que não conseguir caminhar. Precisamos atravessar essa mata! Tem um rio do outro lado. Se conseguirmos podemos seguir para leste em direção as terras saxônicas.” 

Então eles escutam um estrondo. Um grito ensurdecedor! Irlandeses saltam de todas as árvores ao redor. Seus xales verdes se confundem com a mata. Os saxões tentam lutar desesperados, intimidados e acuados.

SEGUNDA HORA:

A segunda hora começa com mil saxões do outro lado da ponte sendo retidos pelos romanos. A Cavalaria e a Infantaria, que a seguiu, aniquilam os últimos focos de resistência inimiga. A luta prossegue nas matas oeste e leste. Falta a última cartada de Nanteleode e ele se prepara para a manobra mais ousada. 

Rei Nanteleode: “Sir Enrick, lidere a infantaria e a Cavalaria para dentro da mata! Proteja o recuo para os barcos dos arqueiros!”

Sir Enrick: “Venham homens! Pelo Rei!”

Então numa proporção descomunal de seis para um os homens comandados pelo Marshall de Logres caem como lobos matando o inimigo. Escoltado por sua guarda pessoal, comandada por Sir Brastias, Nanteleode se aproxima de Lady Marion.

Rei Nanteleode: “Acredito que chegou a hora, Senhora. Subam para o norte até a margem do Naddar. Os barcos os aguardam. Vocês comigo homens! Sir Enrick leve a Cavalaria  para o Sul até a ponte. Ataque total! Ataque total! Infantaria me siga! Vamos!”

DESLOCAMENTO DE BARCO: ARQUEIROS

Lady Marion consegue unir pelo menos oitocentos de seus mil arqueiros. Ela sai da mata e seguem correndo em direção aos barcos atracados na margem do Naddar. É preciso remar contra a correnteza. Os barcos movem-se enquanto o sol ilumina a água. Lá dentro da mata gritos. Um saxão coberto de sangue sai da mata olhando para trás e cai morto na margem. Outros correm e se jogam no rio tentando atravessar. Os barcos contornam para o leste e param na formação em U na junção do Rio Naddar e do Ebble. Então  mais saxões em fuga surgem na margem do rio e eles se deparam com os barcos cheios de arqueiros.

Lady Marion: “Disparar!” 

MATA OESTE:

Sir Enrick olha ao redor e sente a pressão do combate diminuir por completo. Não existem mais inimigos vivos ao redor. Todos respiram exaustos, cobertos de suor e sangue. A Cavalaria promoveu um massacre ali. Toda a infantaria de Nanteleode, que restou, continua matando os saxões caídos e feridos. Um tapete de corpos, atropelados, mutilados em meio a lama de sangue e tripas mancham a neve de vermelho. O cheiro de morte enche o ar. 

MATA LESTE:

Ali a luta ainda continua. Ao redor o caos se instaura. Os Irlandeses atacam furiosos e o ataque surpresa é mortal. A mata virou um abatedouro. Centenas de corpos e poucos feridos se amontoam ali no barro e no meio das folhagens. O gemido e o choro entremeado pelos gritos da batalha que se afastam para leste pode ser ouvido. Naquele local só ficam os corpos.

Steapa: “Vamos! Acho que agora estamos seguros.”

Os jovens escudeiros e o sargento Steapa caminham por entre as árvores. O som da batalha parece ter chegado na margem leste na beira do rio. Então um corpo se mexe e um homem se levanta. Ele é loiro, está usando elmo prata e dourado e uma lança toda trabalhada presa às costas: é a lança sagrada que um dia pertenceu ao Barão Algar.  Forte como um touro, com um bigode loiro e braceletes de ouro pelos braços, ele observa ao redor. Ele se esconde atrás de uma árvore. Então olha para o grupo. Steapa dá um passo à frente deixando os meninos atrás dele.

Steapa: “Está perdido saxão? Se fingindo de morto, covarde? Fiquem aqui garotos. Sabia, Saxão? Seus barcos deram grandes fogueiras. Tive a honra de acendê-las pessoalmente, Smouth.”

O grande Steapa saca sua espada de duas mãos e ataca o saxão. Ele golpeia o escudo do bárbaro que racha. O saxão revida com o machado mas o forte Steapa apara o golpe e o atira no chão. Steapa se aproxima com a espada de duas mãos e a ergue atrás de sua cabeça. Mas então o bárbaro saca a grande lança que levava nas costas, fica de joelho e a arremessa. Quase não dá para enxergam e ela viaja num piscar de olhos. Steapa cai  morto atravessado pela arma. Smouth se levanta, vai até ele e puxa a lança. O som de cavalos se aproximando tira o sorriso do rosto do saxão. Ele não reconhece quem são os garotos.

Smouth: “Digam que Athelin Smouth está vivo, Celtas!” 

E então some por entre a mata. Eles escutam Smouth saltar na água e se afastar.

ATAQUE DO OUTRO LADO DA MARGEM DA MATA LESTE: ARQUEIROS: 

A chuva de flechas cai em cima dos inimigos. A saraivada é disparada várias vezes e os saxões correm sem direção. Não há para onde voltar. Alguns se ajoelham e jogam as armas se rendendo. Então surge o Rei Nanteleode, vindo de dentro da floresta, ali na margem. Logo a infantaria que o segue o alcança. Ele está coberto de sangue.

Rei Nanteleode: “Matem todos!” 

Então a infantaria degola, esfaqueia, quebra pescoços, asfixia os inimigos, ali mesmo, enquanto o rei levanta a espada em sinal de cumprimento a Lady Marion. 

PONTE:

Sir Enrick e seus cavaleiros trotam até a ponte extinguindo os últimos focos de resistência inimiga. Ali se depara com homens da infantaria. O regimento romano recebeu o ataque durante toda a batalha, dos dois lados da ponte, para impedir a fuga do exército inimigo para as montanhas ao sul. Isso custou caro à eles. Quase todos estão feridos ou mortos. Romulus, o comandante romano, está ferido e com cara de poucos amigos. Ele está com o rosto fechado e em choque. Então um arauto se aproxima de Sir Enrick.

Arauto: “Senhor Marshall, o Rei pediu para que fosse ao acampamento saxão para ver se sobrou algo de valor ou prisioneiros.”

Sir Enrick: “Infantaria! Sigam-me, preciso de quinhentos homens!”

Sir Enrick atravessa a ponte coberta de cadáveres e tripas. A margem do Naddar e as montanhas são feitas de cascalhos e rochas estéreis. Ele vislumbra os barcos queimados. Eles ainda ardem em brasas enquanto a fumaça negra sobe ao céu azul do inverno. 

Subindo a trilha a unidade vai encontrando as tendas de couro saxônicas. Centenas e mais centenas abandonadas as pressas. Alguns assados fora deixados e queimam na fogueira. 

Ali, na metade do caminho da base ao topo das montanhas, próximo as latrinas cavadas no chão, acorrentado há um barril cheio de Bafo de Dragão existe um homem forte de meia idade. Ele tem cabelos brancos alaranjados e a barba por fazer, vestido com o brasão com o Dragão Vermelho e Dragão Branco, usando uma capa de urso negro, com uma cota de malha reforçada por baixo. Na cintura uma bainha vazia. Ele está cego, com os olhos cauterizados pelo fogo. É o Rei Cerdic de Wessex. Em seu pescoço uma tábua pende em uma corda e nela foi escrita com um punhal: “Presente para o Rei Nanteleode. Assinado: Sir Geoffrey.”

Rei Cerdic: “Quem está aí? Eu lhe ofereço prata... Ouro! Me leve pra longe daqui! Lhe dou terras, mulheres! Um reino! Sim... Um reino!”

Sir Enrick: “Reconhece a minha voz seu pedaço de merda?”

Imediatamente Cerdic se encolhe tentando se proteger encostado no barril. Sir Enrick acerta em cheio as pernas do Rei saxão o derrubando.

Sir Enrick: “Sou Sir Enrick de Tishea, seu desgraçado! Nos aprisionou na ilha de WIght, morreram bons homens ali. Maldito!”

Então Sir Enrick  amarra os pulsos de Cerdic e o prende em seu cavalo. Ele desce a montanha arrastando o Rei enquanto os homens da infantaria cospem e atiram pedras. O homem perde parte de suas pele arrancada pelo chão de cascalho e quando chegam até o Rei Nanteleode, próximo a ponte, milhares de homens se acotovelam para ver o Rei inimigo e o xingar. O Rei Nanteleode se aproxima o circundando. Até que grita e esmurra o saxão que cai de joelhos diante do seus pés cuspindo seus dentes. 

Rei Nanteleode: “Sou Nanteleode da Britânia! Sou o homem que lidera esse exército para acabar com gente como você. A escória saxônica. Sou o homem que levará você, filho de uma cadela, para o esquecimento! Tragam o barril de Bafo de Dragão!”

O próprio Rei Nanteleode o acorrenta e o puxa como um cachorro até prendê-lo ao barril.  

Rei Nanteleode: “Seu machado, Guallonir.”

O Rei Nanteleode entrega o machado à Cerdic. 

Rei Nanteleode: “Sir Enrick, pegue o tronco em chamas da fogueira.”

Nanteleode atira a madeira em brasas no chão, próximo ao pé de Cerdic. Um óleo espalhado em um filete começa a pegar fogo. Cerdic grita quando sente o cheiro e sem visão golpeia a esmo tentando escapar. Uma, duas, três. Às vezes acerta a corrente que vibra e não cede. Ele sente o calor e se debate. O fogo incandescente irrompe pela boca do barril. Ele golpeia gritando em pânico! Ele acerta primeiro a sua perna arrancando um pedaço dela o levando a cair e depois em cheio o barril. O Bafo de Dragão espalha pelo chão e sobe pelas suas pernas. Ele grita. Suas roupas se desmancham, sua carne ferve. Ele pões a mão cheia do líquido e passa no rosto. A carne  do rosto se desprende e borbulha. A barba pega fogo. Ele cai enquanto seus ossos a amostra aparecem enquanto ele passa a mão nos braços. O cheiro de carne queimada é nauseante. Então o seu corpo é tomado pelas chamas que se levantam há metros de altura. O corpo fica caído ali em meio a neve derretida e uma poça de restos mortais que queimará por dias até os ossos se calcinarem e virarem pó. 

MATA OESTE:

Robert, Ellen, Brian e Bernard caminham saindo da mata em meio aos milhares de corpos. Os Irlandeses estão rindo e bebendo. Então, os jovens escudeiros se deparam com um homem caído de bruços nas folhagens congeladas. A capa da túnica vermelha e amarela voa, remexida pela brisa. Em uma das mãos a espada está sendo segurada pelo cabo. A cabeça desapareceu. Ali jaz o Príncipe Alain de Carlion. Os garotos carregam o corpo de Steapa e do Príncipe. Logo os Irlandeses se espalham pelo campo de batalha e se colocam a vasculhar os corpos, cortar dedos que tem anéis, quebrar dentes de ouro dos mortos. Centenas de corpos bóiam rio abaixo. Então os lordes e comandantes se reúnem diante do Rei. Todos se protegem com peles sentados ao redor de uma fogueira. São quase cem lordes ali. Todos se cumprimentam. 

Sir Bag: “Perdemos mais da metade da força romana na maldita ponte.”

Rei Nanteleode: “Sir Enrick e Lady Marion, eu mesmo achei seus filhos. Eles estavam vindo para cá. Eles estão bem, já o meu...!”

Arina: “Os escudeiros precisam de comida quente e algumas horas de sono. Venham comigo.”

No final da tarde centenas de fogueiras são acesas e todos estão cansados. Hidromel corre pelas fileiras enquanto um grande acampamento é montado e em uma pira o corpo de Alain é cremado. Nanteleode olha fixo para as chamas enquanto sacrifica o seu cavalo de guerra. Há cantoria mas paira uma dúvida: Onde estará o filho de Cerdic, Cerdwin que escapou de Avalon? 

Logo depois do anoitecer um cavaleiro romano se aproxima escoltado por uma guarda formada por cinquenta guerreiros. 

Sir Rufius: “Majestade, quem me enviou foi o Padre Pertoines (filho bastardo de Uther e fundador do centro de estudos de Oxford). Meus Deus, parece que tiveram uma grande batalha aqui... Pois bem, estávamos caçando saxões em Rydychan, próximo a sua terra, Senhora, em Oxford! Como sabem meu forte nas Colinas Chiltern tem nos servido para pacificar a região. Há alguns dias notamos que algo estava errado. Fomos verificar e capturamos batedores: São os homens do Rei Aethelswith. Peço a Vossa Majestade apoio nessa empreitada.” 

Rei Nanteleode: “Pois bem Sir Rufius, beba hidromel e honre meu filho que cruzou a ponte de espadas! Acamparemos essa noite aqui e pela manhã comunicarei o que faremos.”

DISCURSO NANTELEODE:

Ao amanhecer as centenas de cavaleiros e suas milícias parecem sérias e descontentes. Um dos lordes menores se aproxima.

Lorde Cadman: “Majestade! Com todo respeito. Venho falar em nome de todos. Senhor! Estamos há anos lutando. Estamos cansados, meus homens exaustos com saudade de casa. As colheitas precisando ser feitas. Nossa famílias estão abandonadas. Nem vimos nossos filhos crescerem, Majestade. Conquistamos metade da Britânia e não temos nada.”

Rei Nanteleode (ele sobe no cavalo de batalha) : “Entendo Lorde Cadman, muito obrigado! Atenção homens! (Ele Cavalga para perto e mantém o animal em movimento) Lorde Cadman trouxe algumas questões para mim. E por diabos, são as mesmas que eu tenho... Estamos longe de casa. Enfrentamos frio, enfrentamos o cansaço, e dançamos com a morte. E como dançamos, não é? E porque? Por glória? (Soldados: Sim) Por ouro? (Soldados: É claro) Sim! Eu também gosto de ouro, de glória e do poder! Não posso negar. Isso nos torna humanos, não é! Voltaremos pra casa, então! (Soldados: Isso!) Lá nós teremos um bom verão! Sentiremos o sol no rosto sem preocupação! Colheremos e teremos comida em nossas mesas. (Soldados: Aê!) Virá o inverno e faremos amor com nossas mulheres. (Soldados: Estou precisando!) Então outro verão nos aquecerá e colunas de fumaça se erguerão nas nossas terras. Barcos e mais barcos chegarão. Nos trancaremos nos nossos fortes enquanto nosso povo é estuprado, mutilado e torturado. E então por último cada reino que nos seguiu cairá e seus Reis com eles. No final quem colherá, fará amor com suas mulheres e chamarão nossas terras de lar serão eles! Os saxões.”

O silêncio é total. Todos se olham enquanto milhares de corvos se banqueteiam com os corpos da batalha do dia anterior. O Rei espora seu cavalo e ele contorna a multidão de Lordes, Cavaleiros e Soldados.

Rei Nanteleode: “Então, vamos para a casa? (todos se olham constrangidos) Parecem que agora estão vendo as coisas mais claras, Senhores. Não podemos deixar que os mil homens que tombaram e derramaram seu sangue aqui tenham morrido por todos em vão. Mas lhes faço uma proposta. Cavalgaremos três dias até o coração da Britânia e enfrentaremos o Senhor de Essex! Depois teremos algum tempo para nos refazermos. Virão mais libras, treinaremos novos homens, faremos filhos e prepararemos o embate final. Retornaremos pra casa no outono e depois lançaremos nossos olhos e nosso ódio para Idres. Mas, quem quiser agora mesmo está dispensado. Só quero aqueles dispostos ao sacrifício! (somente uns 60 homens vão embora) (Ele saca a sua espada e começa a cavalgar em velocidade ao redor) Então! Quem está comigo?” 

E todos os homens juntos gritam a pelos pulmões: “Nanteleode! Nanteleode! Nanteleode!”

VIAGEM: 

Dia1:

Depois do almoço a marcha em direção ao Norte se inicia. Pra trás são deixados os corpos e os esqueletos dos barcos queimados. Colina a colina, tudo está deserto. Nem sinal de inimigo. 

Rei Nanteleode: “Bernard, leve o Conde Robert e seus amigos para Tishea. Dêem a notícia a Condessa. Entraremos em território hostil e não posso me dar ao luxo de perder mais um nobre que faz parte do Colégio Supremo. Em Logres os caminhos estarão seguros. Mas mantenham os olhos abertos.”

Na metade do dia eles se deparam com milhares de pegadas humanas e de animais. Do alto de uma colina eles vêem lá embaixo uma grande fila de pessoas se movendo rápido para o leste em meio a neve branca.

Sir Oswalt: “Os saxões de Wessex devem estar fugindo dos assentamentos. Demos um golpe duro e estão desprotegidos. As notícias de nossa vitória já devem ter chegado.” 

Sir Annan: “Queremos pilhagem Majestade! Precisamos dar o troco aos desgraçados.”

Mesmo contrariado o Rei Nanteleode diz: “Autorizado Sir Annan.”

Sir Enrick, Lady Marion e os Cavaleiros da Cruz do Martelo não tomam parte da ação. Os homens que formavam a coluna seguem seus senhores em direção as milhares de pessoas na estrada. A Cavalaria segue na dianteira realizando, separada em vários grupos, uma carga mortal. Centenas correm, mas os cavalos vigorosos vão os colhendo facilmente. A esteira de corpos vai crescendo. Mulheres, velhos e crianças formam uma lama de sangue no descampado congelado. Depois chega a infantaria Britânica. Seus escudeiros ficam chocados com a cena.

Deverell: “Senhor! Se existe deuses ou um deus ele nos abandonou.”

Em menos de uma hora mais da metade dos saxões estão mortos. E as carroças com prata, ferro, animais, peles e tudo de valor, capturadas. Depois de viajar durante o resto do dia o exército acampa em Silchester. O lugar parece  estar um pouco decadente e vazio. 

Padre Carmelo: “Parecem que todos fugiram!”

Dia 2:

No dia seguinte a grande força de Britânicos partem mais uma vez. Bem alimentados, com prata nos bolsos, os homens tem o ânimo redobrado. Então o exército real adentra as fronteiras de Sussex. 

Deverell: “É o caminho mais curto, levaríamos quase 3 dias para contornar.”

Um grupo de cavaleiros saxões, bem armados, surgem acima de uma colina no final da tarde e rapidamente desaparecem.

Arina: “Batedores de Ælle!” 

Ao anoitecer Ælle e cinquenta homens os aguardam na margem do rio Tâmisa. Os lordes ficam agitados. Nanteleode ergue a sua mão enluvada e toda força para.

Lorde: “Podemos matar esse saxão agora mesmo e tomar Sussex. Resolveremos mais um problema. Vamos Majestade! Os esmagaremos facilmente.”

Rei Nanteleode: “Acalmensem todos. Venha comigo Enrick... Os outros esperem.” 

Eles se aproximam e Ælle os aguarda desmontado. 

Rei Ælle: “Parece que estão atravessando minhas terras sem pedir Rei Celta.”

Rei Nanteleode: “Temos pressa Rei Saxão!”

Rei Ælle: “Desafiando minha autoridade diante de meu filho, meus homens e meu povo?Quer duelar Nanteleode de Escavalon!”

Rei Nanteleode: “Até onde sei, éramos aliados. Pergunte ao seu filho, Sir Enrick.”

Rei Ælle: “Filho, até onde sei, se fizesse isso em suas terras lutaríamos como dois cães famintos.”

Sir Enrick: “É verdade meu pai, mas quero lembrá-lo que temos um trato e chegou a hora de honrá-lo. Parte das terras de Wessex são suas agora.”

Rei Nanteleode: “Em outros tempos diria que aceitaria o duelo, Majestade. Nos tempos de hoje diria que precisamos de mais lanças ao nosso lado. Mas não temos tempo para esperar. Só queremos passar.”

Rei Ælle: “O que ganho com isso?”

Rei Nanteleode: “Irei travar batalha em Essex, Ælle e parte do território de Aethelswith também será seu.” 

Rei Ælle: “E o saque?”

Rei Nanteleode: “Estou disposto a cedê-lo... Em parte.”

Rei Ælle: “Temos um trato de honra aqui homem. Não ouse desrespeitá-lo! Que Enrick venha entregar minha parte do botim e se ele não for satisfatório matarei-o com as minhas próprias mãos. Vamos homens, deixem os celtas partirem.”

Nanteleode assente com a cabeça. Ælle sobe no cavalo e faz um sinal para Sir Enrick, cumprimentando-o. Então eles partem atravessando a ponte, entrando nas colinas Chiltern. O exército fica em silêncio. Muitos lordes parecem descontentes porque Ælle receberá parte do saque. A noite passa com todo acampamento inquieto com que pode acontecer. 

Dia 3 e 4: 

No dia seguinte no horizonte começam a surgir as primeiras vilas de Essex e mais uma vez a força real parte para o saque. Assim o terceiro e quarto dias vila após vila são queimadas. Existe morte por todos os lados. Aldeões são torturados e obrigados a contar onde os tesouros estão enterrados. Centenas de animais são capturados e pouca resistência é oferecida. 

CAMBRIDGE:

No meio do quarto dia eles entram na floresta de Quinqueroi. (Em 501 os pjs foram atacados pelos Anglos). As cidades que foram dominadas pelos Anglos tem o mesmo destino. Finalmente no início da noite, cansados, próximo a Cambridge, ao longe, eles vislumbram uma alta colina. No topo, as centenas, talvez milhares de fogueiras iluminam as nuvens baixas. Uma paliçada de madeira protege o acampamento lá em cima. 

Rei Nanteleode: “Malditos! Os saxões estão todos lá em cima. Temos que derrotá-los antes do amanhecer. Sir Enrick, quero Carmelo com as armas de Cerco atirando de frente. Marion no flanco esquerdo com arqueiros. Do outro lado quero a infantaria subindo o morro. Você irá os comandar, Sir Oswalt, em memória de meu filho. E a Cavalaria, com  o Marshall de Logres no comando, no lado oposto. Vamos homens, não temos muito tempo. Temos que arrancar os ratos da toca.”

A BATALHA DE HERTFORD:

PRIMEIRA HORA: 

A batalha se inicia com a movimentação na escuridão. Ao redor da colina o chão é de barro e o cheiro do pântano chega com o vento. Em cima do morro pode ser ouvido sons de canto e conversas. Leva algumas horas para a construção dos Trebuchets enquanto a madrugada avança. Padre Carmelo usa mais de cem homens para fazê-los rápido com os engenheiros do Marshall. As unidades são organizadas pelos Sargentos, que correm de um lado ao outro dando ordens. 

FACE NORTE: CAVALARIA: Sir Enrick 

A Cavalaria parte com os cavalos contornando a colina. Na escuridão é difícil manter as unidades em um movimento coeso. O terreno é fofo e barrento. Até que os cavalos se desequilibram e entram até metade das patas num pântano na face norte da colina. 

Sir Bag: “Guri! Estamos num pântano gelado e mal cheiroso!”

FACE OESTE: ARQUEIROS: Lady Marion 

Os arqueiros com o equipamento leve seguem atrás da Cavalaria. A escuridão é plena, mas, os arqueiros seguem a sua comandante confiantes. O Rei Nanteleode e mais cinquenta homens da guarda real, liderados por Sir Brastias, seguem para protegê-los. Lady Marion consegue posicioná-los em um bom terreno no lado oeste do morro.

FACE LESTE: INFANTARIA: Sir Oswalt 

A infantaria parte em total silêncio. Sir Oswalt segue a pé acompanhado do escudeiro Gawaine. Então a multidão se movimenta na escuridão. Oculta pela noite gelada com todos usando peles tiradas dos saques e com algumas armas e elmos tirados dos saxões eles contornam a face leste do morro e aguardam com todos prostrados.

FACE SUL: TREBUCHETS:

Quando estão todos posicionados os arautos vem até cada flanco e levam a notícia ao rei. Então se escuta um som de algo assobiando no ar. Depois outro e mais outro. De repente três explosões surgem em um clarão em cima da colina. Gritos de homens, gritos de dor. Os soldados de Nanteleode não resistem e a adrenalina fala mais alto. Todos gritam. Mais três barris em chamas voam lá para cima. Sir Enrick vê, do outro lado, uma daquelas bolas de fogo passar por cima de sua tropa.

SEGUNDA HORA: 

FACE SUL: TREBUCHETS:

Na segunda hora de combate o inimigo está preso lá em cima. As chamas irrompem altas. O topo da colina vira um inferno com o fogo se espalhando pelas tendas. O lugar vira um inferno.

FACE LESTE: INFANTARIA: Sir Oswalt 

Então a paliçada leste é colocada abaixo por machados dos próprios saxões em desespero. Os destroços rolam até o sopé do morro. Os sobreviventes começam a correr de lá de dentro. Sir Oswalt vê chamas altas se levantarem e do meio delas saxões e mais saxões descem a colina desse lado. Eles param no meio do morro quando vêem a infantaria. Oswalt não tem como conter o ímpeto de seus homens e eles correm escalando a íngreme e barrenta colina. 

Gawaine (escudeiro): “São milhares deles! E estão com a vantagem da altura.” 

Quando os saxões percebem que esse lado está cercado eles gritam alto, encolerizados. A voz do Rei Aethelswith soa alto em meio aos gritos: “Mantenham posição! Parede de escudos!” Soam três toques nos chifres de batalha inimigos. 

Num nível mais abaixo um saxão tenha chutar o rosto de Oswalt mas escorrega e cai de costas. Oswalt segura a espada com as duas mãos e atravessa o inimigo. Ao redor os mil homens de Nanteleode conseguem sobrepujar o mesmo número de saxões, mesmo estando em desvantagen. Por algum motivo, eles não parecem seguir o seu rei com grande entusiasmo e correm para a face oeste.

Rei Atelswifth: “Liberem os olhos de Horsa! Agora!”

Oswalt escuta um som de algo vindo do alto da Colina.

FACE OESTE: ARQUEIROS: Lady Marion 

Nesse momento os primeiros saxões, que travavam luta na face oeste, surgem pela colina iluminada pelas chamas de dezenas de metros de altura. Logo o bando inteiro. Atrás uma grande explosão vai varrendo a lateral da colina oposta iluminando a noite. 

Rei Nanteleode: “É com você, Senhora!”

Lady Marion: “Segurar! Calma! Agora, disparar!”

O som, no meio da noite, de milhares de flechas alçando vôo faz o inimigo fraquejar. Por um momento as pontas de ferro são iluminadas como se mil pequenos vaga-lumes voassem em uma velocidade espetacular. Os inimigos são atingidos. Eles rolam para o sopé da colina. Muitos estão mortos, outros feridos. Mas não o suficiente para subjugá-los.

FACE NORTE: CAVALARIA: Sir Enrick 

No lado da cavalaria só se ouvem os sons de batalha e o horror dos gritos. Não se sabe quem vence ou perde. A escuridão da noite é iluminada pelo fogo, que reflete os olhos dos cavalos e os elmos dos cavaleiros. De repente se ouve gritos de pânico e gemidos vindos da retaguarda seguido por algo chapinhando no pântano.

Sir Enrick: “Estamos sendo atacados! Descobriram que estamos aqui.”

Então um estrondo ecoa quando a paliçada desse lado cai e seiscentos cavalos descem a colina em disparada. Alguns Cavaleiros inimigos caem com os animais quebrando as patas na lama fofa e seus cavaleiros caem por cima quebrando a espinha. Cavalos e cavaleiros em chamas descem o morro aos gritos. Mas outros, com machados e martelos empunhados, trotam na direção em carga veloz na cavalaria estática atolada no Pântano.

Sir Enrick: “Aguentem firme!” 

A carga vem forte e mortal! Eles abrem o centro da cavalaria com uma força tão descomunal que muitos saxões são atirados muitos metros adiante com os seus cavalos com os pescoços quebrados matando dezenas de cavaleiros Celtas. O que trota direto para Sir Enrick atola primeiro as patas dianteiras e é arremessado em direção ao Marshall de Salisbury. (FUMBLE) Então Sir Enrick o acerta com um golpe do martelo quebrando metade do rosto do saxão, fazendo seu inimigo cair na água negra, sumindo no pântano sujo.

TERCEIRA HORA: 

No meio da madrugada, em um frio de congelar os ossos, os trebuchets quebram e param de atacar. O alto da colina agora arde como uma pira funerária. Dá para sentir o calor emanando lá de cima.

FACE LESTE: INFANTARIA: Sir Oswalt 

Vindo lá de cima da colina, cinco carroças são atiradas. Elas vêm em chamas descendo em velocidade desordenada em direção a infantaria. E uma delas salta num degrau de barro lançando bafo de dragão incandescente no ar, caindo com uma manta de fogo mortal. Sir Oswalt rola para a base barrenta do morro escapando por pouco da morte. O choque é fatal para muitos infantes. Atropelando e depois espalhando bafo de dragão como uma torrente de lava os “Olhos de Horsa” matam muitos Irlandeses e os homens das montanhas de Gorre que rolam em chamas aos gritos de desespero. A infantaria é varrida. O cheiro de carne queimada invade a colina. Muito são feridos com o impacto e outros com as chamas que não se apagam transformando todos em caveiras que arderão dias sem parar. 

FACE OESTE: ARQUEIROS: Lady Marion:

Na face oeste os saxões sobreviventes, descem pela colina indo em direção aos arqueiros. Eles correm com as suas armas sem formação. Suas barbas e rostos cobertos de sangue e ódio. Atrás as chamas derretem a neve que começa a cair. Corajosamente o Rei Nanteleode é o primeiro a trotar contra o inimigo para proteger seus arqueiros.

Sir Brastias: “Cavalos à frente comigo, sigam o Rei!”

Marion vê Nanteleode, de cima de seu cavalo, ele golpeia de um lado matando, golpeia de outro decapitando. Sir Brastias grita com a sua voz arranhada, dentro de sua couraça de chumbo e elmo aberto. Ele usa uma massa de batalha enorme. Ele explode a cabeça de um saxão enquanto usa o cavalo para atropelar mais dois. Nanteleode acha o Rei saxão Aethelswith. Desce do cavalo! Ele escala a colina. Seus homens lutam ao redor dele ferozmente tentando lhe proteger. Ele não se importa e olha somente para seu inimigo. Ele ataca o Rei saxão no peito. Aescwine apara o golpe com o escudo e se defende. Então em mais uma tentativa ele passa a espada por cima da cabeça em um corte horizontal da direita para esquerda. O saxão se joga para frente enterrando a espada em sua barriga. Mas ela encontra a couraça de aço e ouro. Nanteleode empurra o homem no chão e o mata com a borda de seu escudo redondo fazendo a cabeça explodir em miolos e lascas de ossos sujando o seu rosto. Nanteleode levanta o braço do homem e o amputa. Ele ergue em direção aos seus homens lutando ao redor.

Rei Nanteleode: “Não é Aethelswith! Um Rei saxão nunca iria lutar sem seus braceletes conquistado por glória!”

Os arqueiros castigam os saxões que vão caindo do morro. Outro pedaço da paliçada em chamas rola os levando para baixo. A maioria deles sai de formação e passam pelos arqueiros fugindo para a mata em pânico.   

FACE NORTE: CAVALARIA: Sir Enrick 

Enquanto o inimigo tenta abrir caminho para a fuga. Os sons vindos da retaguarda estão cada vez mais baixos. Os saxões tentam lutar ferozmente naquele terreno pantanoso. As chamas brilham na água negra enquanto os gritos da batalha ecoam ali. Um saxão emparelha sua montaria enquanto usa o seu machado para tentar derrubar Sir Enrick. Eles medem força até que Sir Enrick consegue sobrepuja-lo usando seu cavalo para desequilibrá-lo. O saxão cai pendurado pelo estribo e se debate com metade do tronco mergulhado no Pântano enquanto enche os seus pulmões de água negra. Ao mesmo tempo Arina faz o mesmo chutando de sua sela um outro cavalo que se desequilibra e cai afogando o seu cavaleiro. Bag estilhaça um elmo junto com o crânio de um saxão com sua massa, mas, no escuro ele não percebe a lança que fura os anéis da cota lhe adentrando o peito na altura do coração e saindo do outro lado, na altura da omoplata. A mão que segurava a massa fraqueja enquanto o pesado cavaleiro cai da montaria e some na água negra do pântano. Sir Enrick consegue ver o elmo de seu amigo refletindo as chamas do alto da colina e o puxa enquanto Deverell, escudeiro do Marshall, o agarra fazendo Sir Bag boiar.

Então o inimigo descobre as brechas da formação tentando lutar no pântano e muitos conseguem escapar sumindo na escuridão. Os que ficam são estripados pelos Cavaleiros que golpeiam cercando cada um dos bárbaros. Mas então o som ouvido na retaguarda cresce, sons de algo cortando o ar, cavalos relinchando, sons secos de dor. Novamente tudo fica em silêncio. Após algum tempo as nuvens se abrem e a lua cheia ilumina muitos corpos boiando junto aos de seus cavalos. Os corpos dos saxões que fugiam. Ao fundo dá pra se ver os olhos e dentes brancos refletindo. Nus, cobertos de barros, usando seus tridentes e fundas: o povo de Maris. 

Arina: “Por Odim! Íamos receber um ataque pelo Pântano! Eles sabíamos que viríamos.”

Sir Oswalt: “Mas não esperavam pelos Trebuchets!”  

Então um daqueles homens do povo de Maris, caminha por entre a cavalaria, e ele tem algo nas mãos. Os cavaleiros os olham assustados com as suas armas em riste. Ele, pequeno, olha nos olhos de cada Cavaleiro. Ele enxerga, Sir Enrick, e esboça um leve sorriso. O pequeno homem de pele escura se aproxima e levanta o que está em suas mãos. A verdadeira cabeça do Rei Aescwine de Essex! Ele faz uma vênia e se afasta sem dar as costas. Falando duas palavras: “I ad-dalu!”

Padre Carmelo: “Para retribuir!”

Então, eles somem como espectros na escuridão do Pântano. Então todos os homens erguem as suas armas e gritam: “Marshall! Marshall! Marshall! Marshall!” (E essa foi a retribuição por Sir Enrick ter salvado as crianças do pântano na sua juventude)

Final: 

Passada algumas horas amanhece. Enquanto o sol inunda a coluna ao redor mostrando os milhares de corpos carbonizados, mutilados, alguns com cara de dor, outros sem a cabeça. Todos amontoados como se fossem uma paliçada infernal feita de cadáveres. O outro lado o pântano já engoliu os cavalos e cavaleiros mortos, onde só os pássaros pescam como se nada tivesse acontecido. Lá em cima tudo foi destruído. O exército do Rei saxão de Essex foi varrido. Nem sinal de seu herdeiro. Os homens acharam carroças com peles, objetos de pratas e ouro. As várias tendas são armadas enquanto todos bebem e comem. Os escudeiros andam de um lado para o outro cozinhando, limpando as armas e preparando os cavalos de carga para a viagem de regresso. 

Padre Carmelo: “Bag está se agarrando a um fiapo de vida que lhe resta. Não estão conseguindo estancar o sangue e costurar. Os melhores físicos de Nanteleode estão tentando o salvá-lo. Fora que a água envenenada do pântano parece ter o infectado. Temos que rezar para que ele aguente firme.”

Nesse momento Nanteleode sai da tenda de comando. Da batalha leva cortes no rosto e seu braço está enfaixado. Quebrou quando golpeou a cabeça do impostor de Aethelswith. Sua túnica está rasgada e imunda. Sua grande barba por fazer está crescida e mal aparada. 

Rei Nanteleode: “Guerreiros Britânicos! Essa noite tivemos a primeira noite de sono em muito tempo. Apesar dos choros dos feridos e do sangue em nossas mãos. O Rei de Essex caiu como prometido! Eu honrei nosso compromisso e vocês me pagaram derramando o seu sangue e suor. Infelizmente três mil almas partiram nas duas últimas batalhas. Eu quero que vocês se lembrem que nenhum idiota jamais ganhou uma guerra morrendo por seu país. Ganhou-a fazendo outros idiotas morrerem pelo país deles. (todos riem) Os Celtas sempre lutaram, todos os verdadeiros Britânicos amam o calor do combate. Mas também amam suas famílias! O Calor do Sol! Os seus filhos! Fazer amor com sua amada! O inimigo também ama isso! Mas, nós, não tomamos nada disso deles. Eles nos tiraram tudo. Agora terão a cota de sofrimento que merecem. Chegou a hora irmãos! Voltem para as suas terras! Cultivem-na e cuidem dos seus! Lhes chamarei novamente para voltarmos nossos olhos para o oeste em breve. Só terei para lhes oferecer mais sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento. E qual será nosso objetivo final? Posso responder com uma só palavra: Vitória! Vitória a todo o custo, vitória sobe o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz, porque sem a vitória não sobreviveremos. Porque somos todos filhos desta ilha, porque somos todos filhos da Britânia! Voltaremos nossos olhos para Londres e para Idres e eles pagarão como Aescwine e Cerdic pagaram! Tenho uma última cartada, um plano que se der certo e tudo funcionar da maneira que imaginei, eles não perdem por esperar! ”

FIM