terça-feira, 29 de novembro de 2011

Aventura 26: A Ilha Wight, Ano 499


Ano 499 D.C. Logres continua cercada pelos Reinos saxões. O inverno tem matado aos montes os servos e nobres mal alimentados. As estradas estão avariadas devido as cheias dos rios descongelados. Sem ouro é difícil fazer as obras necessárias para mantê-las transitáveis. Leva-se quase o dobro de tempo para se chegar aos destinos pois os caminhos estão alagados e as pedras das antigas estradas romanas se deslocaram formando buracos que machucam as montarias. A busca pelos doze tesouros da Britânia continua já que é a única esperança de expulsar o invasor saxão. De todos os lados os reinos inimigos pressionam Logres por mais tributos. Não há mais solução pacífica e o conflito é eminente nas fronteiras de Logres.

Castelo de Sarum:

O conselho está reunido mais uma vez. No grande salão do castelo de Sarum todos estão sentados à grande e longa mesa de carvalho, com o brasão de Sarum esculpido no centro. Os archotes iluminam as paredes de pedra cinza e as tapeçarias que retratam a batalha de Saint Albans decoram o lugar. Estão presentes Sir Amig, Sir Berethor, Sir Verius, Sir Lycus, Sir Dylan, Sir Dalan, Sir Léo, Arina e Sir Bag. Canecos de hidromel circulam enquanto os heróis aguardam a Condessa Ellen.

Sir Amig: “Então garotos! Quer dizer que naufragaram na costa de Thule verão passado?”

Barão Algar: “Sim. Não foi nada agradável...”

Sir Dylan: “Soube que Syan morreu irmã.”

Lady Marion: “Foi muito triste.”

Sir Berethor: “Eles tem morrido muito cedo... É uma pena. Perdemos muitos deles nos últimos anos. Desse jeito o número de Cavaleiros irá diminuir consideravelmente.”

Sir Verius: “É verdade. Mas... Quer dizer que Merlim deixou a ilha e Avalon parece cada vez mais distante? Não tivemos mais notícias de Nineve. Dizem que Glastonbury está com os portões fechados pelos padres da Abadia de José de Arimatheia.”

Sir Lycus: “Mas meu amigo, Merlim sequestrou o filho de Igraine e dizem que o filho do falecido Madoc também foi raptado por ele! Secretamente o velho deve odiar os Pendragons.”

Barão Algar: “Não acredito nisso. Talvez ele tenha desejado protegê-los.”

Sir Lycus: “Duvido. Vocês pensam que Merlim é amigo? Ao velho só interessa seus Deuses e Avalon. Não esqueçam que o filho do demônio causou mais problemas para o reino do que ajudou. Ou vão me dizer que não foram manipulados pelos interesses deles?”

Sir Enrick: “Talvez os interesses de Avalon e os nossos sejam os mesmos Lycus.”

Sir Léo: “E o Rei Idres da Cornualha? O seu poder está enorme. Suas forças continuam marchando do sul para o norte e conquistando cidade por cidade. Logo baterá as portas de Salisbury.”

Sir Bag: “Sim, o filho mais velho do conde Tegfan veio aos meus salões pedindo ajuda. O condado de Jagent (Condado situado ao norte da Cornualha) está sendo invadido pelo Rei do oeste. Dizem que o conde mandou queimar todas as plantações e casas, matou os animais e trancou-se em sua fortaleza em Ilchester. Nada disso parece barrar Idres, infelizmente não podemos ajudar ninguém. Estamos com a corda no pescoço tanto quanto os outros lordes. Não acham?”

Todos os Cavaleiros concordam com Bag.

Sir Léo: “Enquanto Sir Enrick, Lady Marion e o Barão Algar foram levar Merlim para a Terra dos Francos fomos falar com Duque Ulfius, como a Condessa Ellen determinou. Ele foi bastante receptivo. Mas não conseguimos falar com Ælle. Ele nos mandou a seguinte mensagem: “Vocês, malditos celtas não são de confiança. Tenho interesse em conversar com vocês mas na hora apropriada e com a pessoa certa. Aí talvez possamos ter um acordo. Em breve mandarei uma mensagem e quero que Sir Enrick seja o seu embaixador.”

Sir Bag: “Por que diabos esse Rei saxão que falar com você guri?”

E todos olham espantados para Sir Enrick.

Sir Enrick: “Não sei nem como começar... Há 3 anos meu pai, Gondrik Stanpid veio até mim e revelou uma história assustadora. Minha mãe, na Época que Ælle chegou na ilha, foi capturada como escrava pelos saxões e o rei bárbaro a tomou como sua amante. Ela foi submetida à vontade do rei a força. Mas aí ela se apaixonou por um outro escravo celta que servia as estrebarias de Ælle: Gondrik Stanpid. Então arquitetaram um plano de fuga e foram embora de Sussex. Mas minha mãe carregava uma criança em seu ventre, filho do Rei saxão. E essa criança era... Eu.”

Um silêncio sepulcral invade o salão. Todos ficam boquiabertos.

Sir Amig: “Genro! Sei que já fez muito por todos. Mas... Terá que daqui para frente cuidar com cada passo que der para não acabar em uma forca.”

Barão Algar: “Porque não nos contou antes?”

Sir Enrick: “Não sabia a reação que teriam.”

Lady Marion: “Marido! Você seguirá outro Rei? Um saxão desgraçado?”

Sir Enrick: “Nunca! Sou Celta! E protegerei nosso povo como sempre fiz e jurei. E contem comigo para negociar com o Rei Bárbaro.”

Todos agem com certa frieza depois da notícia.

Sir Amig: “Tenho notícias dos únicos homens que estão lutando nessa guerra.”

Barão Algar: “Quem?”

Sir Amig: “A Resistência Celta porra! Sacas e mais sacas de aveia, cevada, nozes, frutas desidratadas, carnes e peixes salgados capazes de diminuir a fome nos feudos de Salisbury consideravelmente foram deixadas em meu feudo. Ao lado de 250 cabeças de gado, 38 ovelhas e 45 porcos.”

Barão Algar: “Isso é ótimo! Alguém soube de algo que tenha acontecido?”

Sir Amig: “Parece que foi num feudo ao sudeste de Sarum. Ali existia uma torre, a Pedra do Bispo, que todos acreditavam estar abandonada. Parece ter ocorrido uma grande explosão de fogo grego no último ano varrendo as terras e queimando tudo ao redor. Sei que os suprimentos vieram daí porque o bilhete que foi deixado pela Resistência mencionava algo à respeito.”

Barão Algar: “Fogo grego me parece trabalho dos saxões. E quem estaria fazendo isso? Quem teria o preparo adequado?”

Sir Amig: “Não sei quem seria louco o bastante para isso. Só sei que tem funcionado.”

Então a porta de trás do trono se abre e a Condessa Ellen entra seguida de um rapaz. Ele tem cabelos pretos e curtos. Ele veste uma cara armadura composta de ferro e por cima uma túnica amarela com uma brasão vermelho com as três cabeças de leão, símbolo da Cornualha. Uma capa de pele de leão lhe cobre as costas e uma espada de duas mãos, com uma garra do felino esculpida na empunhadura, pende de sua cintura. Debaixo do seu braço ele leva um elmo em formato de cabeça de leão. Seis lanceiros com o mesmo brasão pintado em seus escudos o escoltam com capas amarelas.

Condessa Ellen: “Boa tarde Cavaleiros! Fico feliz que vocês tenham retornado com vida de Thule. Deixe-lhes apresentar. Este é o Príncipe Mark, Filho do Rei Idres, senhor da Cornualha.”

Sir Amig: “Este brasão não era de Gorlois, Príncipe?”

Príncipe Mark: “Sir Amig, não é? Pois então. Depois de usurpar as nossas terras Gorlois passou a adotar essa cota de armas e nos obrigou, sobe a lâmina da espada, a mudar o nosso, foi uma desonra para a minha casa, pois nos tornamos Vassalos do Conde morto por Algar. Por isso essa Cota de Armas é minha de direito e com o meu pai se tornando o Rei do oeste novamente, voltamos a usar nossos velhos símbolos. Mas não estou aqui para dar explicações. Senhores e senhoras, venho em nome de meu pai, Rei Idres, lhes trazer uma proposta de uma aliança. Apesar de já ter tido uma recusa no passado.”

Ele olha para Sir Enrick com um olhar de reprovação.

Príncipe Mark: “Os reis saxões estão competindo um contra o outro. Se tivermos sorte também matarão uns aos outros. Os três reis bárbaros, Rei Aethelswith, Rei Cerdic e Rei Ælle tem algo em comum, se odeiam com todas as forças. Então, o que posso dizer na frente de mulher tão bela quanto a Condessa. Somente ela poderá salvar Logres. Pensei na possibilidade de poder desposá-la senhora.”

Ele vai até a Condessa Ellen pega em uma de suas mãos e a beija. Ela tem uma reação extintiva e a puxa rapidamente. O Príncipe Mark dá um pequeno sorriso irônico para ela. Os heróis percebem que Sir Léo parece encolerizado.

Condessa Ellen: “Príncipe, me pegou de surpresa. Essas coisas não são decididas da noite para o dia. Nem lhe posso dar uma resposta, assim, sem consultar o meu conselho.”

Príncipe Mark: “Quero uma resposta agora. Estou lhes fazendo um favor. Não estão em posição de negociar. Saibam que o exército de meu Pai marchou contra Jagent e conquistou castelo por castelo até chegar a cidade de Ilchester. O Conde resistiu enquanto pode. Mas quando os moradores da cidade começaram a morrer como moscas ele se rendeu e mais uma parte de nosso território foi expandido. Logo estaremos marchando para Salisbury e se não tivermos um acordo não lhes posso garantir nada.”

Sir Enrick: “A Condessa acaba de lhe dizer que não tem interesse em se casar.”

Barão Algar: “Não force a situação homem. É a Condessa que deve decidir e ela disse não.”

Lady Marion: “Quem é você para impor amor à uma mulher.”

Príncipe Mark: “Casamento não é para ser consumado por amor. Esse conceito é primitivo. Casamentos são para se fazer alianças e manter nossos povos seguros, Mi Lady.”

Sir Amig se levanta olhando nos olhos do Príncipe.

Sir Amig: “Escute aqui rapazinho. A Condessa disse que precisa pensar. Não se pode tomar tudo a força. Melhor, saia já daqui seu barra bosta. Cansamos de ameaças vindas de todos os lados.”

Príncipe Mark: “Acalme-se velho. Já estou de saída. Talvez tenha o prazer de ter as suas cabeças em lanças em cima dos muros de Sarum. Aliás com a nova muralha construída será um prazer derrubá-la com os nossos trebuchets. A sua cabeça será a primeira, velho. Pensem bem, é melhor uma aliança com um nobre britânico do que com um Rei saxão.”

Ele cospe no chão e dá as costas se retirando e colocando o seu elmo na cabeça. Seus lanceiros o seguem.

Sir Amig: “Isso vá embora! Dá próxima vez que nos encontrarmos talvez não tenha mãos para colocar o elmo em sua cabeça.”

Conselho de Guerra:

Condessa Ellen: “Depois dessa proposta estranha de casamento e dessa demonstração de carinho por parte do Príncipe é hora de conversarmos à respeito dos nossos inimigos bárbaros. Recebi o Arauto do Rei Saxão Cerdic há uma semana. Como não pagamos tributo no último ano ele exige que nos tornemos seus vassalos. Se não o fizermos Salisbury será queimada, o povo morto e todos os nobres enforcados. Mas... acredito que chegou a hora de Cerdic provar de seu próprio veneno, pois pretendo evitar por enquanto uma aliança com algum outro Rei Saxão.”

Sir Berethor: “Condessa e Cavaleiros. Temos poucos homens disponíveis. Teremos que pensar em algo diferente para lidarmos com essa situação. Três de meus soldados relataram movimento nas fronteiras de Logres. Temo que Cerdic já esteja se movendo.”

Sir Amig: “Sim, por isso, a Condessa teve uma ótima idéia durante o inverno."

Condessa Ellen: “O que é isso Sir Amig, foi o senhor que teve essa idéia. Perigosa, arriscada, mas no momento que vivemos... Necessária.”

Sir Amig: “Isso mesmo senhora. Me respondam garotos, qual o ponto fraco de qualquer pai?”

Barão Algar: “Os filhos!”

Condessa Ellen: “Exato! Lembram quando o Barão encontrou aqueles Cavaleiros da ilha Wight que foram conquistados pelo Rei saxão Cerdic? Pois bem, alguns deles fazem a proteção de Igraine na Abadia de Amesbury. Uther era aliado do Rei Leodegrance e o irmão da Rainha deste Rei é o líder destes homens.”

Sir Dylan: “Mas essa ilha está sobe o domínio do filho do Rei bárbaro, Cynric.”

Sir Amig: “Isso mesmo! O Algar não tem um barco? O Bag também? Atravessamos o estreito e desembarcamos em Wight. Invadimos o castelo e sequestramos o maldito Príncipe usando a escuridão.”

Condessa Ellen: “Com ele em nossas mãos Cerdic não terá coragem de nos atacar e muito menos de nos cobrar tributos.”

Sir Lycus: “Vocês estão loucos! Perderam a razão? Isso será uma declaração de guerra contra o Rei inimigo. Não participarei dessa loucura. E se não der certo? ”

Sir Léo: “Sir, você não é forçado a nos seguir. Mas não admitiremos que nos atrapalhe.”

Sir Lycus toca o osso de Santo Albano, prendendo o seu cabelo, se levanta e sai sacudindo a cabeça e pisando forte com as suas esporas de pratas fazendo um som forte no chão de pedra até deixar o salão.

Sir Bag: “Xi você magoou o homem.”

Sir Dylan: “Problema dele. Pai, primeiro precisamos de um destes cavaleiros de Wight que possam nos guiar dentro da ilha. O problema é como convencer Igraine. A rainha nos odeia.”

Sir Enrick: “Ela nos quer mortos!”

Condessa Ellen: “Está certo Cavaleiros! Preparem seus homens e tripulações. Antes gostaria que Lady Marion, o Barão Algar, Sir Enrick, Sir Bag, Sir Dalan e Sir Amig fossem falar com Igraine. Em dois dias reúnam as suas forças no portão oeste e partam para Donchester com a benção dos Deuses novos e antigos.”

Sir Amig: “Vocês ouviram garotos mexam-se esses traseiros! Temos trabalhos a fazer!”

Barão Algar: “Antes de encerrarmos, gostaria de convidar a todos os integrantes da Ordem dos Cavaleiros da Cruz do Martelo e a Condessa Ellen a participarem de um banquete em minhas terras, em Winterbourne Gunnet, na véspera de nossa jornada. Será uma ocasião especial.”

Todos confirmam que irão comparecer na Toca do Lobo, o Motte and Bailey do Barão, e se despedem.

A Abadia de Amesbury:

Imediatamente eles partem do castelo descendo a rampa de paralelepípedos que leva a cidade. O trabalho da muralha foi concluído. Ao redor do castelo e de Sarum ela se ergue em pedra cinzenta, nova em folha. Os brasões do Conde Robert tremulam acima delas. A cidade com poucos habitantes está tomada pelo barro e mau cheiro. Os heróis seguem pelo portão leste e rumam para o norte margeando o Rio Avon. A relva está bem verdinha e as flores tomam os campos. O comércio é inexistente e não se vê ninguém caminhando pelas trilhas. Surge uma ponte romana à frente, eles atravessam e logo a Abadia pode ser vista próxima ao rio. Os muros cercam o lugar, que na época dos romanos era um templo dedicado a Deusa Tellus, uma divindade da natureza. Uma torre de madeira foi erguida do lado de dentro e um lanceiro, com um elmo pontudo com o brasão azul com um castelo e dois cavalos marinhos de cada lado (Brasão da ilha Wight) cozido em sua túnica, os observa.

Lanceiro: “Alto! O que querem?”

Sir Bag: “Tem comida aí meu bom lanceiro?”

Sir Enrick: “Viemos falar com a Rainha Igraine. Diga que é urgente.”

Sir Amig: “Abram essa porra de porta de uma vez! Não temos o dia inteiro homem. Mexa essa bunda branca e rápido.”

O lanceiro sacode a cabeça em sinal de desaprovação.

Lanceiro: “Um minuto senhores irei falar com o Abadessa.”

O grupo aguarda meia hora quando finalmente o portão de madeira duplo se abre. Outros dois Lanceiros escoltam o pequeno grupo. Lá dentro alguns gansos e galinhas andam pelo pátio de terra e a grande construção com janelas em ogiva e o crucifixo no alto parece ser bem antiga. Na primeira sala de pedra iluminada por velas, decorada com tapeçarias contando a paixão de Cristo e com uma mesa quadrada de salgueiro no centro, uma freira velhinha os aguarda.

Abadessa Aldyth: “Ah, são vocês? Eu lembro muito bem de você mocinha! Aquela cusparada no meu rosto serviu para lembrar que o mau e o pecado original se esconde na beleza onde se menos espera. Deixem as armas em cima da mesa. A Rainha Igraine os aguarda na capela. Lembrem-se que é proibido derramar sangue em solo sagrado. Sigam-me.”

Barão Algar: “A Senhora é corajosa de falar com Marion desse jeito.”

A freira não dá atenção à eles.

Sir Bag fala baixinho para Marion: “A velha não te perdoa menina de ouro.”

Eles entram em uma capela. Existe um altar de pedra com uma grande cruz. Os archotes nas paredes lançam as suas sombras. Cinco bancos longos de cada lado preenchem o salão. A bela Igraine está ajoelhada em frente à uma imagem de Maria esculpida em pedra. De pé ao lado esquerdo dela, com a cabeça baixa e com as mãos cruzadas vestindo a sua túnica azul por cima da cota de malha, está Sir Cinnor. O Cavaleiro deve ter uns cinquenta verões e tem cabelo curto e branco. No lado direito o Arcebispo Dubricus com o seu cabelo abajur preto e liso, debaixo de seu solidéu roxo e suas roupas vermelhas com o seu rosto já demonstrando a velhice, olha para os heróis com escárnio.

Arcebispo Dubricus: “Espero que tenham vindo em paz Cavaleiros. Das últimas vezes que nos encontramos nunca demonstraram civilidade e bradavam uma arma cheia de sangue e uma alma pagã cheia de rancor.”

Sir Amig: “Quieto seu maldito papa garotos! Eu vou lhe enfiar a mão na cara!”

Sir Bag já vai erguendo um banco longo pra acertar a cara do Arcebispo.

Barão Algar: “Esperem! Seu desgraçado... Fique calado, eu não esqueci o que nos fez sua víbora maldita. Ninguém encoste um dedo no maldito. Esse padreco é meu!”

Então Igraine se levanta e grita.

Igraine: “Todos, tenham respeito por esse chão sagrado. Gerações cultuaram os deuses aqui. Olhem para essa imagem. Antes esse lugar era o bosque sagrado da Deusa. Os Romanos derrubaram e enforcaram os Druidas nos Carvalhos que o cercavam e depois o puseram abaixo com machados. Depois eles ergueram o templo para a deusa Tellus, a deusa da natureza e centenas e até milhares de pessoas a cultuavam. E agora convertidos, a nova crença cultua Maria, a mãe do Cristo, nesse mesmo lugar.”

A Rainha parece estar desequilibrada e melancólica.

Arcebispo Dubricus: “Mas veja Rainha, agora o lugar está purificado, longe das abominações desses não convertidos.”

Barão Algar: “Mais um piu e lhe arranco a cabeça.”

Igraine fica olhando séria para a imagem de Maria no altar e logo depois sorri docemente.

Igraine: “Vejam Cavaleiros! Vocês conseguem enxergar? O bosque sagrado continua vivo. Aqui continua sendo a casa da Deusa. A grande mãe ainda vive nesse chão. Ela não nos abandona.”

Arcebispo Dubricus: “Senhora!”

Ela faz um gesto e o Bispo se cala na hora.

Igraine: “Mas... O que os trazem aqui?”

Barão Algar: “Precisamos de sua ajuda Rainha. Sei que tivemos nossas desavenças mas Salisbury depende disso. Estamos na eminência de sofrermos um ataque do Rei saxão Cerdic e só existe uma maneira de barrá-lo... Sequestrando o seu filho.”

Igraine: “Vocês tem experiência nisso, não é? É estranho que vocês queiram minha ajuda depois de tudo o que aconteceu. Uther sempre falava que sem vocês não existiria Logres. Na verdade minha irmã talvez tenha mais culpa que vocês no meio da confusão que foi o desaparecimento de meu filho.”

Barão Algar: “Sua irmã, Senhora?”

Igraine: “Vocês não sabem não é? Nineve! A grande sacerdotisa de Avalon. Por isso ela me ajudou a fugir na nevasca do castelo de Uther quando estávamos impedidos pelo Rei de ir embora aquela noite. Mas como tudo que se faz à Avalon, se paga à Avalon, um dia, tal ato benevolente, me foi cobrado. Eu teria que gerar a criança que seria o sucessor de Uther, o protetor de Avalon e seus preceitos. Então, me recusei a deixar Gorlois. Era um homem bruto, não entendia muito de mulheres, mais com o tempo eu aprendi a amá-lo. Sempre foi um pai carinhoso e mais velho começou a compreender o meu coração. Aí Merlim e Uther me enganaram, e isso foi o início do fim de tudo.”

Arcebispo Dubricus: “Falsos deuses sempre promovem falsas promessas senhora.”

Sir Enrick pega o bispo pelo cangote e o sacode fazendo voar o seu pequeno solidéu vermelho. Ele se prepara para aplicar um soco na cara do Arcebispo quando vê Igraine abaixar a cabeça e as lágrimas molharem o chão de pedra da capela.

Igraine: “Mas está certo. O pouco que sobrou de nossa terra foi graças a vocês terem a mantido viva. Uther estava certo. Sir Cinnor peço para que acompanhe esses heróis e os ajudem.”

Dubricus fica calado com os olhos ardendo de ódio.

Sir Cinnor: “Claro minha Rainha! Como desejar.”

Igraine: “Mas gostaria de lhes pedir uma coisa em troca. Eu conto com poucos Cavaleiros para me protegerem. Toda a nobreza virou as costas para mim depois da morte de Uther. Perdi dois maridos, fui jogada de um lado ao outro, mas a culpa sempre é das mulheres nesse mundo. Nossa sina filha de Avalon. Eu precisarei no futuro que me ajudem e lhes peço quando forem chamados que honrem com o compromisso aqui firmado.”

Barão Algar: “Honraremos, Sua Graça. Pode contar conosco.”

Sir Enrick: “Sempre fomos fiéis a seu marido, Rei Uther, e ao seu enteado, Príncipe Madoc e seremos à senhora. Se um dia seu filho aparecer, lhe seremos fiéis também.”

Igraine: “Obrigado! Que Maria esteja com vocês.”

Então enquanto o grupo se retira da capela a rainha começa a gritar.

Igraine: “Esperem! Eu tive uma visão numa destas noites! Vi meu filho Arthur, adulto, cavalgando pelas charnecas da Britânia e um cavaleiro com o rosto de Madoc cavalgando ao seu lado. Vi castelos brotarem do chão como flores e um grande salão com uma mesa redonda de pedra. Vi um cálice e um caldeirão e eles estavam cheios de sangue.”

Então Igraine começa a chorar e a repetir: “Eu vi, eu vi, eu vi.” e a se balançar enquanto as freiras entram e a confortam levando-a para o seu quarto.

Os heróis saem da capela e aguardam no pátio principal depois de pegarem as suas armas novamente. Sir Cinnor e seu escudeiro prepararam seus cavalos e pertences para partirem.

Sir Bag: “Igraine está lelé da cabeça.”

Barão Algar: “Não me parece que esteja louca. Ela deve estar prevendo algo já que o Caldeirão é o principal tesouro da Britânia.”

Sir Amig: “Concordo, a mulher teve os seus problemas Bag.”

Sir Dalan: “Tenho nove filhos e mais uma dúzia de bastardos. Se perdesse qualquer um deles seria como perder um pedaço de minha alma.”

Sir Amig: “O que vocês acharam desse favor que ela pode nos pedir?”

Sir Enrick: “Isso me assusta. Melhor nem pensar nisto.”

Então os Cavaleiros partem em seus cavalos cada um para o seu feudo para fazerem a preparação de seus exércitos. Sir Cinnor parte com Sir Amig em direção a Tishea.

Dinton:

Dinton essa época do ano está cheia de flores e as montanhas que se erguem por fora da muralhas estão verdes com só os picos cobertos de neve. Os falcões voam acima no céu azul. Nesse ano o feudo melhorou e mais ouro sobrou com a recusa de se pagar os tributos aos saxões. Muitos aldeões continuam doentes mas existe novamente a esperança dada por Merlim e os doze tesouros da Britânia. As pessoas parecem animadas com a perspectiva de enfrentarem o inimigo novamente.

Em uma urna de vidro em cima do altar da igrejinha, próxima à vila, a Sanctu Gladius é cultuada pelos cristãos. Inclusive muitos milagres de cura foram atribuídas a espada que pertencia ao São Paulo. Sir Enrick e Marion estão na entrada da igrejinha que foi construída com quatros paredes simples de madeira, com bancos longos sem encosto e um simples altar com uma cruz feita de dois troncos de salgueiro. O povo faz uma fila e entra para tocar a lâmina da Sanctu Gladius.

Padre Carmelo: “Lady Marion e Sir Enrick! Que honra! Vieram ver a espada milagreira?”

Lady Marion: “Sim padre! Belo trabalho.”

Padre Carmelo: “Todo esses aldeões com esperança novamente. Isso nos ajudará um bocado. Mas tenho que lhes confessar algo. Tenho medo que algum fanático roubem-na. Por isso a verdadeira gladius está bem escondida. Ninguém tem coragem de chegar perto das tumbas dos cavaleiros Sine Nomine. Ela está lá em uma delas. Inclusive, minha senhora, existem rumores de que à noite a Caveira Negra surge e treina com os homens que já se foram. Dizem que nem grama cresce ali. Nada que um pouco de óleo fervente não resolva durante a madrugada.”

Oswalt com o seu bebê no colo: “E a caveira quem se disfarça Padre?”

Padre Carmelo: “Não sei meu rapaz. Nunca pedi à alguém que fizesse isso.”

Bernard e Ellen vem correndo abraçar seus pais. Atrás apoiado em um cajado Gondrik, pai adotivo de Sir Enrick, vem sorrindo.

Bernard: “Senhor... Pai? Soube que vão lutar.”

Sir Enrick: “Vamos sim...”

Bernard: “O Vô está me ensinando a cuidar dos cavalos! É muito legal!”

Ellen: “Eu também. Mãe e Pai! O Bernard me ensinou a atirar com o arco!”

Lady Marion: “Isso filha! Muito bem!”

Gondrik Stanpid: “Filho e nora! Que alegria! Sabe as crianças estão aprendendo rápido. A próxima campanha é perigosa e vocês tem crianças pra criar. Tragam Oswalt vivo por favor. Já perdi muita coisa para esses saxões desgraçados.”

Sir Enrick: “Farei o máximo que puder pai.”

Lá na área de treinamento dos soldados, próximo as cabanas construídas para eles morarem com as suas famílias, a movimentação é grande, enquanto os armeiros limpam as espadas, preparam as lanças. As flechas vão sendo feitas com cuidado uma a uma. O ferreiro Caradoc, sogro do irmão de Sir Enrick, desentorta elmos e conserta as armas rachadas e embotadas de outras campanhas. As cotas de malhas são roladas em barris cheias de areia para serem limpas e depois remendadas com novos aros.

Sargento Wistan: “Senhora e senhor Stanpid os homens estão ansiosos para lutar novamente. E querem ser escolhidos a todo custo. Soube que não levaremos cavalos. Os barcos não são próprios para o transporte de montarias. Quantos homens levaremos?”

Sir Enrick: “Escolha os melhores! Não mais que seis. Iremos no máximo em sessenta homens. Cada cavaleiro da Ordem levará esse número.”

Winterbourne Gunnet:

No feudo do Barão Algar, as árvores estão carregadas de frutas. Os aldeões as colhem em cestos sobe a supervisão de seus homens de armas. O roubo devido a fome tem feito cair muito a produção. As mortes das crianças recém nascidas e dos velhos continuam altas mas o ânimo parece melhorar quando eles vêm os guerreiros prepararem suas armas e equipamentos de guerra. Sargento Tegfryn, Hagen, o comandante do novo barco de Algar ganho na Dinamarca, o antigo comandante Dwyfor, sem um dos braços perdido na última campanha, Arina, a princesa Dinamarquesa guerreira, Sir Verius e o Barão Algar conversam animadamente.

Dwyfor: “Então chegamos em Saint Albans e o Barão e o Flecha ligeira estavam no meio de um caos de fogo. Aí a menina de ouro correu para o barco. Entramos na cidade e lá dentro o pau comeu e a guerreira foi ferida. Mas quando chegamos no alto da muralha não teve pra ninguém. Botamos o inimigo pra correr com flechas como tarado em noite de Beltane.”

Sargento Tegfryn: “Foi épico mas morreram muitos heróis naquela tarde quente.”

Sir Verius: “Inclusive Urco por uma noite. Não sei como ele apareceu depois e sobreviveu.”

O cachorro pula pedindo carinho

Hagen: “Quero ver como esses Britânicos lutam no mar! Sempre é o mais difícil e o mais perigoso.”

Arina: “Eu também. Mas esse calor da ilha é ruim demais. Como aguentam ficar dentro de uma armadura com esse verão maldito?”

Sargento Tegfryn: “Barão! Estamos tentando preparar o mais rápido possível suas tropas!”

Então Brian vem correndo. Com os cabelos longos ruivos e sardas no rosto, o menino com nove anos vem vestindo a túnica com o brasão dos Herlews. Os mastins, martelo e trovão, já ficando com os pelos do focinho branco, andam ao lado dele. O garoto carrega uma espada de madeira na cintura e o pingente da espiral celta de Avalon no pescoço.

Brian: “Pai, vai ter guerra?”

Barão Algar: “Sim filho.”

Brian: “Meu sonho é assistir uma! Me leva junto por favor!”

Barão Algar: “Deixa eu pensar... NÃO!”

Brian: “Ah pai! Hagen me levou navegar pelo Rio! Ele está me ensinando a andar em cima das pás dos remos. É verdade que uma vez você caiu do barco em uma corredeira?”

Barão Algar: “Ah bem, sabe...”

Brian: “É verdade ou não pai?”

Barão Algar: “É...”

Brian: “Que demais! E você ficou com medo de morrer?”

Barão Algar: “Medo não é bem a palavra certa.”

Adwen chega ali perto do cercado de areia onde os homens treinam, próximo ao poço de pedras. Ela está com trinta e duas primaveras e os primeiros cabelos brancos surgem em sua cabeça. A Baronesa se aproxima e abraça o Barão.

Adwen: “Brian, sei que você está empolgado mas deixe o seu pai trabalhar. Você terá tempo para fazer a guerra. Sir Amig já disse que quando voltarem irão para Tishea começar o treino para Pagem. Até lá tenha paciência. Diga para ele Algar.”

Barão Algar: “Isso mesmo rapazinho.”

Brian: “Droga! Pelo menos deixem eu ajudar o sargento a preparar as coisas!”

Sargento Tegfryn: “É um bom garoto Barão, deixe ele me ajudar! Falando nisso, quantos homens e unidades levaremos senhor?”

Barão Algar: “Está certo! Pode ajudá-lo! Levaremos 3 piqueiros e 2 peles de lobo Tegfryn.”

Brian fica feliz da vida e sai pulando atrás de Tegfryn.

Hagen: “Senhor! Os barcos estão prontos e aguardam no Rio Avon, já que Hantonne está dominada por Cerdic. Mesmo assim acredito que este rio deva estar bloqueado à algumas léguas daqui. Poderemos partir ao amanhecer.”

Banquete:

Ao anoitecer os convidados começam a chegar pra o banquete proposto ao Barão, no salão de Winterbourne Gunnet. Todos os Cavaleiros da Ordem da Cruz do Martelo chegam escoltando a Condessa Ellen convidada de honra da festa. Ao som de alaúdes e flautas, os membros da Ordem da Cruz e do Martelo comemoram o fim de mais uma campanha no salão da Toca do Lobo. A comida não é tão farta quanto no passado, mas ainda assim se divertem com quedas de braço, jogos e dança.

O barão Algar Herlews está em seu adornado trono de madeira, ao lado da baronesa Adwen. Ao se lado, estão Sir Enrick e sua esposa Marion, recebidos com certa frieza pelos convidados depois da revelação de que o Flecha Ligeira é meio saxão.

Arina: “Mais um perna de javali pra mim, e traga mais hidromel também!”

Com os lábios brilhantes de gordura e dentes sujos. Apesar dos sete canecos derramados sob a mesa ele não aparenta estar embriagada. Sir Bag comenta baixinho para Sir Enrick.

Sir Bag: “Essa é mulher é uma bárbara guri!”

Então o Barão bate com o talher em um prato, mas pouco se viram para ele. Bate com mais força, mas a bagunça generalizada é mais audível. Ele pega uma grande jarra a sua frente, a sacode, se certificando de que ela está vazia, e arremessa para o outro lado do salão, estilhaçando na parede e quase acertando o pobre Bjork que servia Sir Verius de mais pão e carne. Todos se viram para o barão, que sorri satisfeito, erguendo os braços.

Barão Algar: “Senhoras e senhores, membros da Ordem da Cruz e do Martelo! Essa festa hoje não é somente para comer e beber as custas do ouro do rei dinamarquês, mas para congratular aqueles que são bravos em batalha! Eu não estaria aqui comendo e peid... E cheio de saúde hoje, se não fossem por vocês, grandes cavaleiros, que tantas vezes me ajudaram em campanha contra nossos inimigos. Todos vocês são ordenados cavaleiros, e não tem esse ‘Sir’ antes do nome à toa! No entanto, um dos mais bravos membros desse seleto grupo jamais recebeu título algum, e ainda assim luta como um gato selvagem, com força, agilidade e esperteza! É graças a esse grande guerreiro que voltamos com glória, ouro e aliados do estrangeiro. E hoje, desfarei essa grande injustiça!”

Algar se levanta, olha para Lady Marion.

Barão Algar: “Faça a gentileza de se ajoelhar diante de seu suserano, sim?”

Ele saca sua espada, raramente usada em batalha, e entoa com orgulho enquanto a Filha de Avalon se ajoelha com o rosto surpreso.

Barão Algar: “Lady Marion de Tishea Stanpid, você jura diante de teu senhor e pela espada por mim empunhada, a sempre lutar pela glória de Logres, pelos deuses dessa terra e pelo seu rei?”

Lady Marion: “Sim!”

Barão Algar: “Jura manter a tradição sagrada da cavalaria, amando seu rei, sua família, sua honra e hospitalidade?”

Lady Marion: “Eu juro!”

Barão Algar: “Jura lutar com bravura e força contra os inimigos da Bretanha sempre que isso lhe for solicitado?”

Lady Marion: “Sim!”

Barão Algar: “Então, pelos poderes a mim concedidos, lhe condecoro como Valkyria da Bretanha, Senhora das Batalhas e Espírito da Sabedoria. Que seu exemplo faça florescer nas mulheres dessas terras o espírito guerreiro que levará Logres e toda a Bretanha à vitória contra os malditos saxões. Que assim seja para todo o sempre! Lealdade, Força e Honra!”

Todos os Cavaleiros repetem o lema da Ordem dos Cavaleiros da Cruz do Martelo e prestam reverência a guerreira. Depois a abraçam chamando-na de irmã.

Condessa Ellen: “Parabéns Lady Marion! É a primeira mulher investida na Cavalaria Britânica. Você merece guerreira. É uma honra tê-la em nossas forças.”

Encontro em Sarum:

Ainda, nessa mesma madrugada, as tropas dos Cavaleiros da Cruz do Martelo partem de seus feudos para se encontrarem à sombra da muralha de Sarum com as últimas estrelas no céu azul escuro. A Condessa Ellen os aguardam com dez lanceiros da cidade de Sarum.

Condessa Ellen: “Que bom todos vieram. Cavaleiros! Essa jornada será perigosa. Talvez a mais mortal aventura que já participaram. Sei que muitos de vocês não retornarão e que os estou olhando pela última vez. Mas desde os nossos ancestrais é necessário realizar feitos, às vezes, além de nossas forças. A única maneira de fazermos a diferença é irmos até o inimigo e pegarmos o que queremos. No final de tudo isso não esqueçam que Salisbury poderá ser um lugar melhor se conseguirem concluir essa tarefa. Boa sorte e que os deuses novos e antigos estejam com vocês! Adeus!”

Então a pequena força com 60 homens marcha pela margem do Rio enquanto os dois barcos seguem com as provisões e arqueiros mais atrás.

Sir Amig: “Atenção comandantes. Entraremos em território dominado por Cerdic. Se avistaram algo dentro da floresta de Camelot nos avisem imediatamente. Batedores sigam nos flancos e vanguarda.”

Sir Bag: “Qual o nome do seu novo Barco Algar? O meu com o aríete na proa se chama Marlim. Sugestão do Flechinha.”

Sir Amig: “Todos para o fundo?”

Sir Dalan: “Destroços?”

Barão Algar: “Muito engraçado vocês! Se chamará Heiling. O nome de minha filhinha que ficou em Sauvage.”

Todos aprovam o nome dado a embarcação. Sir Enrick segue liderando os batedores. Já é meio dia quando eles entram na floresta. Os guerreiros ouvem somente o cantar dos pássaros, a água corrente do rio e a marcha dos soldados carregando seus escudos nas costas. Eles marcham no meio da mata abafada por algumas horas e então escutam um chifre de alerta soar.

Um dos batedores se aproxima. Um dos rapazes dos Ventos do Pântano vem da vanguarda, carregando um saco de couro de foca, em direção a Sir Enrick.

Weylin: “Sou Weylin meu senhor! Achamos esses três saxões na margem do Rio (ele retira com as unhas sujas de terra uma das cabeças que levava no saco). Tivemos que matá-los antes que descobrissem que nossa força inteira viria por aqui.”

Noite na Floresta de Camelot:

O dia vai passando e eles param uma vez no meio da tarde para comerem um pouco de pão preto com queijo e rapidamente seguem viagem para o Sul até o cair da noite. O acampamento é montado em círculos e os sentinelas guardam o perímetro ao redor. Fogueiras, bebidas e cantorias foram estritamente proibidas. O céu acima de suas cabeças está com milhares de estrelas e a lua brilhante reflete nas águas do rio. Os dois barcos estão encalhados na margem barrenta com sentinelas os guardando. Os batedores continuam fazendo seu trabalho noite adentro. Os heróis estão sentados em troncos longos, colocados como bancos e conversando, enquanto tomam um pouco de hidromel e observam as estrelas.

Sir Amig: “Já pensaram o que vamos fazer com o Príncipe quando pusermos as mãos no maldito?”

Sir Berethor: “Temos que levá-lo à um lugar seguro. Capturar o nobre será a única maneira de evitarmos uma guerra.”

Sir Enrick: “Que tal espalharmos alguns saxões em diversos lugares, como reféns falsos. Isso confundiria o inimigo. Nunca saberiam onde estaria o filho de Cerdic realmente.”

Sir Amig: “Perfeito meu rapaz.”

Barão Algar: “Mas diga Sir Cinnor, como vamos entrar na fortaleza inimiga?”

Sir Cinnor: “Lhes guiarei pelos túneis embaixo da castelo de Carisbrooke mas não temos como saber onde o Príncipe está. Existem três túneis por debaixo da fortaleza. Nossos soldados eram chamados de fantasmas, o orgulho de Wight, pois surgiam atrás do inimigo quando estávamos sobe cerco. Na verdade eram essas passagens que permitiam que nós atacássemos sem sermos vistos.”

Sir Bag: “Muito engenhoso! Aprendi essa palavra com Carmelo.”

Sir Dalan: “Temos que esperar Cavaleiros e Saxões lutando juntos contra nós. Isso é que me preocupa.”

Sir Cinnor: “O problema é que não sabemos o que nos aguarda lá embaixo. Podem estar cheios de sentinelas. Esses desgraçados criam gigantes, tem fogo grego, as armadilhas da própria fortaleza, a água do mar. Todo cuidado é pouco, não é fácil lutar em meio a escuridão em um labirinto onde dois homens mal conseguem lutar lado a lado com o inimigo conhecendo o território.”

Sir Amig: “Iremos pelos túneis e se conseguirmos pegá-los de surpresa e invadirmos o castelo teremos uma boa chance. Vou ser realista, se algo acontecer com um grupo, o outro deve prosseguir.”

Sir Verius: “Tudo terá que ser feito as escondidas! Se o inimigo perceber seremos encurralados e ninguém sairá vivo.”

Vem a madrugada e Sir Enrick, Algar e Marion vão dormir na tenda de comando de Algar. O sono é agitado. Sonhos com um sensação claustrofobia em corredores baixos e estreitos e a água do mar invadindo tudo e afogando todos os seus homens na escuridão ficam se repetindo a noite toda. Já Marion sonha com algo diferente...

Sonho Marion:

Marion vê o lago de Glastonbury coberto de brumas e parece voar como um pássaro entrando nas brumas e saindo em um pântano depois dele. Existem dezenas de caminhos por entre o lodo negro. Ela vê Nineve sentada olhando fixamente para o fogo em uma sala de pedra. Ela tem a lua azul tatuada na testa. Ela fala: “É você Marion? Seja bem vinda filha. Venho lhe dizer que os tesouros deverão ser reunidos para Excalibur renascer. Porque ela é a espada dos Deuses celtas guerreira. A espada existe, mas sua a sua essência não está no nosso mundo. Sempre que é necessário "limpar a terra da maldade humana" uma alma enviada pelos deuses encarna e a ela é entregue a espada sagrada. Excalibur foi forjada pelo próprio Goibhniu, no começo do nosso mundo. Terminada a missão, a espada retorna ao seu lugar, do outro lado das Brumas. E o seu sangue guerreira a carregará para lá.”

Então todos acordam pela manhã com o som de vozes fora da tenda. Três batedores conversam com o rosto fechado com Sir Amig, sem o peitoral de aço, com ar preocupado coçando a barba branca.

Sir Amig: “Uma guarnição de Cerdic bloqueia a saída do Avon. Precisamos mandá-los para o inferno. (Ele atira para Sir Enrick um alforje de sidra) Cavaleiros da cruz do martelo... É com vocês.”

Weylin (batedor): “Sir Enrick, eles tem um pequeno porto na margem e uma corrente de um lado ao outro. Vi 3 tendas e quatro sentinelas. Eles tem cachorros também.”

Sir Amig: “Garotos, eles não podem saber que somos um exército cruzando pelas suas terras. Nenhum deve escapar! Voltem inteiros para o almoço!”

Barão Algar: “Está certo! Vocês ouviram vamos! Venha Arina.”

Sir Bag: “Se levar a grandona vão ter que me levar também!”

Sir Dalan: “Todos os Cavaleiros da Cruz do Martelo querem ir Algar!”

Barão Algar: “Está certo venham! Como nos velhos tempos rapazes!”

Então o pequeno grupo com 10 Cavaleiros se desloca pela mata em silêncio. Após uma hora de caminhada eles escutam conversas na beira do rio e sentem cheiro de comida. Sir Enrick segue em frente sozinho. O Flecha Ligeira se esgueira e observa. Dali ele pode ver as 3 tendas feitas de couro de gado. Quatro homens conversam na beira do rio com seus escudos e espadas deixados de lado ao redor de um caldeirão de comida fumegante pendente em um tripé. Eles riem enquanto comem com as mãos em pratos de madeira. Dois pastores alemães estão deitados junto à eles entretidos com os restos de comida. Sir Enrick escuta.

Saxão: “O problema é que os outros desgraçados dos Reis Saxões se odeiam. Sinto o cheiro de guerra no ar amigos.”

Então o Cavaleiro retorna.

Sir Enrick: “A margem do rio está da maneira que os batedores informaram. Marion pegue seus dez arqueiros e use a mata. Posicione os dez ao redor do acampamento em formação de ferradura. Eu estarei com você. Algar e os Cavaleiros da Cruz do Martelo depois de nossos disparos corram lá para dentro e matem tudo que se mexer.”

Então Marion conduz os arqueiros em total silêncio. Quando estão todos posicionados os cachorros começam a latir.

Saxão: “Calma garotos, o que foi?”

Então Marion ordena o ataque e as flechas alçam vôo. Os quatro saxões e os cachorros são mortos instantaneamente sem dar um gemido. De dentro das tendas saem vários guerreiros inimigos. Eles gritam quando vêem os outros mortos. Alguns estão sem armaduras e umas prostitutas cobertas com peles de urso saem de lá pra ver o que está ocorrendo e voltam para a tenda quando percebem que trata-se de um ataque. Os bárbaros tentam desesperadamente achar seus escudos e armas.

Arina: “É um pra um!”

Barão Algar: “Atacar!”

Os Cavaleiros da Cruz do Martelo correm aos berros com as suas armas em riste. Algar gira para o lado desviando da lança de seu inimigo e a puxa com o machado desequilibrando-o. Enquanto isso Lady Marion e Sir Enrick cospem flechas matando dois saxões que correm sem entender o que está acontecendo. Algar é atacado novamente enquanto o bárbaro cospe na sua cara tentando o confundir. A lança ponte aguda novamente vem e ele se abaixa alguns centímetros esperando o momento certo para acertar um golpe de baixo para cima com o seu grande machado de guerra abrindo o seu adversário desde a virilha até o pescoço, espalhando todas as suas tripas na terra.

Próximo à uma das tendas Sir Dalan absorve um forte golpe de machado com as suas duas espadas, gira por trás de seu inimigo e rasga a garganta de um guerreiro ruivo segurado de joelhos pelos cabelos. Arina empurra um homem com o pomo de seu martelo de guerra. Ele cai com a cabeça em uma pedra pontiaguda. Com o martelo de guerra a guerreira explode a cabeça dele espalhando pedaços de cérebro por todos os lados.

Sir Bag olha para os heróis enquanto outro saxão se debate segurado pelo gorjal de couro em suas mãos: “Acho que vou me apaixonar por essa garota.” Arina fica vermelha. Então Bag quebra o pescoço de seu inimigo, tão fácil quanto se faz com uma galinha, tentando impressionar a princesa Dinamarquesa. Perto da margem Sir Dylan decapita um saxão com a sua espada e o seu corpo inerte se ajoelha e cai dentro do rio.

Sir Enrick: “Não podemos deixar ninguém para trás. Essas prostitutas tem que ser passadas no aço agora.”

Prostituta: “Não, tenham piedade! Queremos viver!”

Então uma delas em desespero corre e Sir Enrick a acerta com uma flechada nas costas matando-a instantaneamente. As outras gritam e choram.

Barão Algar: “Não podemos matá-las Enrick! Homens levem-nas amarradas para o acampamento. Deixem que Sir Amig decida o que fazer com elas.”

Após acharem trinta libras e retirarem a corrente que bloqueava o Rio Avon eles retornam para o acampamento.

Sir Amig: “Como foram com os desgraçados? Pelo visto bem, trouxeram até mulheres peladas com vocês. Se livrem delas, matem-nas, façam alguma coisa! Não temos como levá-las.”

Então sobe o comando de Sir Enrick os soldados levam as mulheres e com gritos desesperados seguidos de um profundo silêncio eles as executam na mata.

Sir Amig: “Ótimo! Sigamos em frente! Vamos bando de vagabundos!”

Então eles continuam a marchar pela mata. Os barcos são desencalhados e os acompanham à distância. A pequena força passa pelo local onde a guarnição saxônica estava e seguem até o estuário do Avon. Logo à frente do alto de uma falésia verdejante eles vêem o mar cinza e o céu azul se encontrando no horizonte. A longa ilha Wight pode ser vista ao fundo. Os barcos estão lá embaixo e encalham na praia para a milícia subir.

Sir Amig: “Vamos, 30 homens em cada barco. Rápido, temos que retornar ainda esta noite.”

Todos vão subindo à bordo enquanto a tarde vai se aproximando do fim.

Dwyfor: “Vamos aguardar a maré subir senhor.”

Os barcos então cheio de guerreiros. Todos usando as suas cotas de malha, elmos, espadas, flechas e botas com proteção para os tornozelos. Finalmente as ondas começam a quebrar no costado e em meia hora o Marlim e o Heiling flutuam novamente.

Então os barcos giram em uma perfeita coreografia e apontam contra a arrebentação. Sir Amig toca a espiral tríplice pendurada no pescoço e começa a ficar marejado. Urco, também enjoado, apoia o queixo na perna do veterano. A arrebentação bate de encontro ao casco. Os barcos levantam nas ondas e caem do outro lado. O vento sopra forte e o sol se pondo no final da tarde ilumina o céu claro de dourado.

As grandes velas com o brasão de Algar e na outra o de Bag, com o falcão verde no campo amarelo, se enchem de vento e os navios entram no alto mar escuro. Os pássaros marinhos voam no alto enquanto eles observam alguns peixes saltarem fora da água. Aos poucos o sol vai se pondo. As estrelas vão surgindo no céu e a temperatura cai um pouco. A ilha vai se aproximando. Pode ser visto o contorno da alta falésia ao fundo.

Sir Verius: “Peguei um pouco de terra, ajuda a esconder nossas caras brancas do brilho da lua. Querem?”

Ele pega um pouco de água do mar que entrou no barco e misturam a terra. Ele vai passando até que seu rosto fique bem camuflado. Todos imitam o Cavaleiro Celta. Na escuridão todos ficam em silêncio. Nenhuma lanterna é acesa dentro do barco. Os barqueiros se guiam pelas luzes de fogueiras acesas na Ilha.

Barão Algar: “Essa ilha é um pedaço de rocha! Espere... Mais a leste existe uma faixa de areia.”

Os barcos rapidamente atingem a arrebentação e surfam nas ondas. Dwyfor bate três vezes no costado e os remadores sabem que é hora de recolher seus remos. Logo eles atingem a praia encalhando na areia branca de Wight.

Hagen: “A maré irá descer e levará algum tempo até subir novamente e o barco flutuar. Talvez algumas horas. Alguém ficará senhor?”

Sir Enrick: “Dez guerreiros! Os mais novos. Fiquem e protejam.”

Sir Amig pula com água na cintura e os outros os seguem. É difícil de se equilibrar. Alguns homens caem e outros os ajudam a se levantar evitando se afogarem por causa do peso das cotas de malha. Quando todos chegam na areia da praia eles observam a faixa litorânea antes da alta falésia. Logo percebem que existe uma aldeia de pescadores ali próxima. As janelas das palafitas estão abertas. Eles podem escutar alguns cachorros latirem e vêem luzes das lanternas acesas dentro delas. É necessário atravessá-la para se chegar na trilha que leva acima das falésias.

Sir Amig: “Estão vendo? É uma vila de pescadores ali. Olhem as canoas encalhadas na praia.”

Sir Cinnor: “Antes costumava ser uma vila celta. Mas com a invasão não posso dizer com certeza.”

Sir Berethor: “O problema é que eles podem nos descobrir fácil com esse céu limpo e a lua cheia. Como todos passando por ali será impossível não nos verem.”

Arina: “O que quer que façamos? Invadimos? O que está olhando gordão? Tá com medo?"

Sir Bag: “É que você é meio... bruta.”

Arina só levanta seus ombros indiferente.

Sir Enrick: “Invadimos e matamos todos.”

Barão Algar: “Já era hora de termos essa conversa. Não concordo! Já vi e matei desse jeito e levo essas mortes em minhas costas, em meus sonhos. Não queiram passar por isso.”

Sir Amig: “Assumirá a morte dos nossos soldados que nos seguem fielmente se os pouparmos?”

Barão Algar: “É preciso arriscar para se fazer a coisa certa. A Honra deve prevalecer sobe o assassinato.”

Sir Enrick: “Se alguém fugir ou tentar algo estaremos todos mortos.”

Então todos os Cavaleiros votam e a decisão é poupar os aldeões.

Barão Algar: “Cerquem a aldeia! Não deixem que escapem. Acendam tochas quando ela estiver sobe cerco.”

Então o Barão Algar, Sir Bag, Lady Marion e Sir Enrick vão até o centro da vila. Sentem o cheiro de peixe assado e escutam conversas em céltico e algumas em idioma saxão. Ouvem vozes de crianças. Algar escolhe uma da cabanas, sobe uma pequena escada de madeira de três degraus e arromba com um chute a porta. Na pequena casa uma mulher nova loira, um homem ruivo e uma criança estão sentados à uma mesa. Eles se levantam assustados. Todos estão desarmados e vestindo túnicas marrons esfarrapadas.

Algar percebe que o homem é saxão, a mulher não. Eles estão desarmados.

Saxão: “What is that?” (O que é isto?)

A mulher grita e se encosta na parede de madeira com a criança atrás.

Saxão: “Shut up woman!” (Calada mulher!)

Sir Enrick pula no pescoço do homem e o imobiliza o silenciando.

Mulher: “Meu senhor não nos mate, por favor! Eles nos obrigam a viver com eles. Nós pescamos para alimentar os saxões do castelo e eles tiveram filhos conosco.”

Sir Enrick: “Mate os homens Algar! Vamos!”

Lady Marion: “Mas poupe as mulheres e as crianças. Levamos todas até os barcos e as deixamos sobe vigia.”

Barão Algar: “Boa idéia Marion.”

Wistan vem carregando um saxão pelos cabelos. O bárbaro está com um corte profundo no braço.

Sargento Wistan: “Barão, esse aí tentava fugir pela praia! O que faço com ele?”

Barão Algar: “Invadam as casas e matem todos os bárbaros, só poupem as mulheres e crianças!”

Os gritos de medo e pedidos de clemência, quando as casas são arrombadas, são carregados pelo vento para o mar. Seguido pelos sons de aço cortando carne e de vasos e copos de cerâmica sendo quebrados. A morte veio dançar em Wight. Pode se ver o braço de um corpo caído pela porta aberta de uma casa. Um homem com as costas quebradas caído na areia, morto, quando tentava fugir e seu cachorro o puxando pela túnica. Uma palma de mão impressa em sangue na parede da cabana. Corpos jazem na areia tingindo-a de vermelho. Seis guerreiros aliados morrem na vila.

Depois de escoltarem as mulheres e as crianças prisioneiras até os barcos os heróis e seu pequeno exército sobem a falésia pela trilha atrás da vila. A areia atrapalha a caminhada. No alto o campo verde se estende à frente e um grande bosque de carvalhos pode ser visto. Um castelo em uma colina no centro da mata se ergue no meio da mata. Dá para se ver em contraste com o brilho da lua cheia, sentinelas andando por entre as ameias.

Sir Cinnor: “Sigamos pelo bosque! Venham, as entradas ocultas ficam lá!”

Eles caminham pelo campo por pelo menos meia hora. Tudo está em silêncio e a lua cheia os guia. Eles percebem os elmos de seus homens e as armas brilhando levemente em meio a mata mergulhada na escuridão. Se escuta o som leve de caminhada. Todos estão tensos e em silêncio total. Então eles parecem ouvir algo e todos param instintivamente. Todos ficam nervosos se olhando com o coração acelerado. O som vem se aproximando, até que um bando de cachorros do mato correm assustados. Algar respira aliviado.

Eles continuam a marcha, passam por entre três carvalhos antigos e embaixo do terceiro, que cresce junto à um pequeno morro por entre a mata, Sir Cinnor vai até uma pedra muito antiga que parece estar ali à milênios.

Sir Cinnor, em vão, tenta mover a pedra. Sir Bag e Arina vão ao seu auxílio e os dois a rolam com facilidade. Uma entrada quadrada existe atrás dela e um túnel estreito mergulhado na escuridão, com não mais que um metro de altura. Um cheiro ruim emana dali de dentro.

Sir Cinnor: “Temos que entrar rastejando. Depois teremos mais espaço, não muito, mas melhor do que esse.”

Arina: “Ai meu Odim! Você falou em água... Eu não sei nadar!”

Sir Baga fala baixinho: “Eu sabia que essa aí ia arregar uma hora dessas.”

Sir Cinnor: “Calma Arina, só terá água se eles nos descobrirem.”

Então, um a um, todos vão se arrastando se sujando de terra. Alguns com o rosto no chão e outros roçando a cara no teto baixo. Os primeiros acendem tochas do outro lado. Sir Bag quase não consegue passar mas ele tira a armadura e depois de meia hora veste ela novamente. De cueca de pele de lontra ele chega do outro lado.

Arina: “Você podia ir assim Bag, chegue na frente gritando, o castelo inteiro correria para o mar.”

Sir Amig: “Silêncio!”

O túnel permite que se fique de pé, mas os guerreiros mais altos ficam arcados. As paredes são de calcário e dá para se caminhar dois a dois. Algumas tochas são acesas ao longo da linha e em alguns lugares mergulhados na escuridão os soldados se guiam colocando a mão no ombro do homem que está a sua frente. As paredes são irregulares escavadas há muitos anos com picaretas. Está abafado, deve fazer perto de quarenta graus, e os guerreiros sentem o rosto e as costas cheias de suor dentro das armaduras. Sir Cinnor segue em frente. Ele vai observando e iluminando o caminho com a tocha. A água que pinga do teto dá a impressão que vai apagá-la fazendo um chiado. Eles andam naquele lugar mal cheiroso e sentem algo em seus tornozelos. Quando iluminam vêem dezenas de ratos se esgueirando pelos cantos.

Eles caminham e sentem que hora o túnel curva para um lado, após algum tempo vira para outro. O silêncio é total. Somente o som dos homens caminhando no chão de pedra ecoa no subterrâneo. Então Sir Cinnor para por um instante.

Sir Cinnor: “Estão escutando?”

Arina: “Hvad fanden!” (Que merda!)

À frente o túnel se bifurca. Sir Cinnor, faz sinal para que fiquem quietos. A ordem passa de homem para homem. Então ele aponta para a esquerda e eles seguem por ali. Depois surgem mais quatro passagens e o Cavaleiro de Wight os guia por uma das passagens sem demonstrar insegurança. Depois as possibilidades vão aumentando, existem passagens laterais. Todas mergulhadas na escuridão total. Não dá para se distinguir muito os caminhos. Então o som que eles ouviram começa a crescer. Ele vai aumentando e ecoando pelos túneis.

E lá atrás da fila eles avistam primeiro um clarão e depois escutam seus homens gritando. Um coro de vozes urram. E aí começam os de pânico e depois os de dor. A fila virá uma bagunça com todos tentando olhar para atrás. Mas ela é grande. Os gritos de homens morrendo e de aço cortando a carne continuam assustadoramente pelos túneis e duram por longas batidas do coração. Então... Lá atrás as tochas se apagam.

Tudo fica mergulhado no breu e em silêncio novamente. O cheiro de sangue fresco e de merda invadem os túneis fazendo muitos vomitarem. Os soldados começam a entrar em pânico.

Soldados: “Meus deus! Vamos sair daqui!”, “Rápido! Todos na parte de trás foram mortos!”

Então o clarão lá atrás é visto novamente.

Soldados: “Eles estão voltando! Ajudem por favor, aju...! Arrrrrgghhhh!”

E aí o pânico se espalha pela fileira e cada homem ao mesmo tempo tenha sacar a sua arma. Um pisa no outro e se empurram. Alguns caem e a gritaria e a matança continua. É impossível ver o que está acontecendo lá atrás. Desesperados e com medo de serem mortos muitos saem da fila e começam a se espalhar pelas passagens adjacentes. Os heróis vêem por um desses túneis laterais espadas de fogo grego passando por essas passagens adjacentes. Armas e elmos brilham pelo reflexo do fogo. São centenas e a luz é forte como se mil sois estivessem acesos.

O som da batalha nos túneis se espalha por todo subterrâneo. Pode se ver as tochas de seus homens se apagando. Eles vêem a sombra na parede projetando um homem de joelho tremendo com as mãos levantadas e sendo traspassado por uma espada no meio da garganta. Então a luminosidade fica intensa e as espadas de fogo surgem de todos os lados os cegando pela claridade. O pior, eles não sabem de onde vem os golpes nem com quem estão lutando.

Algar em um vislumbre percebe que os homens usam um elmo de ferro negro com peles os cobrindo e dois chifres saindo fogo grego incandescente queimando inclinados na direção de seus olhos. Eles lutam com espadas curtas, ideais para se combater em um espaço apertado.

Então o inimigo cai sobre eles com sede de sangue. Eles se escondem na escuridão e surgem golpeando por todos os lados. Depois desaparecem para logo depois surgirem do outro lado. Eles urram e fazem barulhos horripilantes e com a luminosidade extrema os heróis não sabem quantos nem de onde são desferidos os golpes. Algar é atingido várias vezes nas costas. Ele é bastante ferido. Mas, no espaço apertado, tenta acertar algo. Ele vê um elmo caindo e girando no chão impulsionado pelas espadas de fogo grego e o som de um gemido enquanto quebra a cabeça de um inimigo de encontro a parede.

Barão Algar: "Acho que matei um!"

Sir Enrick tomado pelo frenesi da batalha grita: “Horsaaaaa!”

Ele gira por cima da cabeça o seu martelo de guerra em meio ao mar de luz incandescente. Ele sente esmigalhar ossos e alguns golpes fortes lhe atingindo. Marion também usa seu martelo e golpeia. A Filha de Avalon cega pela luminosidade gira rapidamente de um lado. Depois ataca do outro, com os seus sentidos a toda. Até que algo dá errado e ela tropeça caindo com o rosto no chão em meio aos ratos e sua arma some no meio da confusão.

E então ela vê uma cena estarrecedora: Sir Cinnor, com a perna amputada do joelho para baixo, caído próximo à guerreira. Ele aponta para o túnel da direita.

Sir Cinnor: “Por ali! Por ali ou morrerão!”

Marion grita para os seus amigos e eles vêem um homem com as duas espadas incandescentes, saindo da lateral do seu elmo, se aproximar do Cavaleiro Cinnor e com uma espada lhe atravessar a espinha lhe arrancando um grito desesperado. Então eles ficam cegos pela luminosidade novamente. Eles tateiam cegos na direção que Sir Cinnor indicou até que acham uma passagem. A primeira a entrar é Lady Marion que se desequilibra e puxa Sir Enrick pra dentro seguido por Algar. Então eles caem...

Parece existir ali uma descida íngreme e eles rolam para baixo. Não existe nem cima nem embaixo. Eles sentem a dor dos seus corpos batendo contra as paredes do estreito túnel até que ficam em total breu. Sentem seus braços torcidos e recebem pancadas fortes por todo o corpo. Então... Tudo fica em silêncio.

Barão Algar: “Estão todos aí? Que dor! Foi uma longa descida.”

Lady Marion: “Estou! Enrick? Você está bem?”

Sir Enrick: “Acho que feri meu braço. Tem mais alguém aí? Acho que estamos em uma espécie de poço.”

Então tudo parece tremer. E lá de baixo eles escutam o som de uma explosão e sentem o calor irradiando pelas paredes. A luminosidade lhes cega e o som os ensurdece por alguns segundos. São ouvidos os gritos e sons de corpos se debatendo contra as paredes e silêncio novamente. Lá longe a luta continua e eles escutam o som do aço contra o aço da batalha diminuindo até que tudo parece ter acabado.

Sir Bag: “Tem alguém aí? É você guri? Mas alguém?”

Sir Enrick: “Sou eu Bag.”

Lady Marion: “Estou aqui.”

Barão Algar: “Eu também!”

Aí eles começam ouvir os gemidos de dor e o choro vindo lá de cima seguido por um rugido que vai crescendo, crescendo até que eles ouvem ao longe Sir Amig gritando.

Sir Amig: “Os túneis estão sendo inundados! Precisamos achar uma saída!”

Então o som da água chega pelos túneis aumenta e logo começa a invadir o lugar onde eles estão. A água salgada do mar começa a cair ali para baixo, bem gelada, como uma cascata mortal. Os heróis ficam com água pelo tornozelo. Eles sentem alguns cadáveres caírem lá de cima. Logo eles escutam mais uma voz.

Arina: “Quem está aí?”

Eles reconhecem a voz de Arina.

Arina: “Acho que eu estava desmaiada!”

Barão Algar: “Precisamos sair daqui! Rápido, procurem uma passagem nas paredes!”

Eles tateiam as paredes de calcário enquanto a água gelada sobe até os seus joelhos.

Barão Algar: “Achei uma porta! Aqui rápido! Bag e Enrick, ajudem!”

Sir Bag: “Rápido ou vamos nos afogar!”

Depois de sucessivos golpes Arina teteia Bag no escuro e o empurra para o lado.

Arina: “Sai gordão!”

Eles se lançam contra a porta mais uma vez, com as águas quase lhes cobrindo os ombros em total desespero, eles sentem o nível baixar. Vindo lá de cima a torrente diminui. Eles são empurrados pela pressão da água e caem em uma escadaria.

As chamas dos archotes iluminam uma escada que eles sobem rapidamente. Quando chegam no último degrau o nível da água, que espuma na cor verde, cobre quase toda a escadaria. Alguns cadáveres bóiam ali. Eles reconhecem o brasão dos guerreiros de Algar e um soldado de Sir Amig desfigurados pelo fogo. Então eles se dão conta que estão em um longo corredor de pedras no nível inferior do Castelo.

Lady Marion: “Meu pai! Meu irmão! Estão todos mortos.”

Barão Algar: “Calma Marion. Só nos resta fazermos uma coisa... Cumprirmos nossa missão.”

No final do corredor eles encontram uma escada em caracol. O grupo sobe e quando saem dela existe um outro corredor com quatro portas, três na direita e uma na esquerda. Eles se esgueiram tentando ouvir algo. Quando se aproximam da última eles escutam uma conversa.

Sargento: “Comandante, tivemos invasores! É a terceira vez nas últimas semanas. Despachei os línguas de fogo. Esses saxões são assassinos eficientes e estão treinando há semanas lá embaixo. Parece que muitos inimigos foram mortos. Só saberemos quando a água baixar. Acordo o príncipe senhor?”

Comandante: “Não vale a pena, ele pediu para não ser perturbado Sargento. Eram saxões de que Rei nos atacando dessa vez?”

Sargento: “Não dá para saber. Mas quando descobrir lhe aviso. O Príncipe pediu para que ficássemos atentos nesses dias porque teríamos mais visitas.”

Sir Enrick: “Arina e Bag! Atacaaaar!”

Arina prega o pé na porta enquanto Bag usa seu ombro. Ela voa em pedaços lá para dentro enquanto quatro homens os olham sem compreender o que está acontecendo. O sargento, careca e com várias cicatrizes no rosto, sem um dos olhos, se assusta e saca uma machadinha. Ele tem no peitoral o brasão do Rei Cerdic, com os dragões vermelhos e brancos pintados em um fundo negro. O Comandante, um cavaleiro com cinquenta verões se levanta sacando uma lança de duas pontas. Ele veste uma cota de malha e por cima um peitoral de aço. Existem dois guerreiros com eles sentados à mesa. Os dois se levantam e partem pra cima de Bag e de Arina. O sargento e o comandante chutam a mesa em cima de Sir Enrick, do Barão Algar e de Lady Marion.

A mesa quadrada voa acertando os dois Cavaleiros os atirando na parede no fundo da sala os ferindo e os derrubando. Marion gira no ar desviando do golpe e lançando sua boleadeira que enrola no pescoço do sargento e quebra o seu rosto no lado direito. Marion rola para trás dele sem dar tempo do homem reagir e com as suas adagas o degola pelas costas usando a sua adaga.

O Comandante usando a sua lança de duas pontas bloqueia um ataque de Algar o acertando e golpeia Sir Enrick passando a lâmina rente ao seu rosto. Então Enrick o acerta no ombro com o martelo de guerra. Ele cai para trás enquanto Marion salta no ar novamente e ataca o inimigo pelas costas o enforcando.

Um dos lanceiros ataca Arina que desvia do golpe e gira o martelo por cima de sua cabeça quebrando a arma de seu adversário. Então ela usa o cabo do martelo acertando a cabeça do homem que cai sentado. Então de cima para baixo ela gira o seu grande martelo de guerra e ela quebra o elmo, depois o crânio fazendo o maxilar do homem ficar pendurado, só por pele, escorrendo parte de seus miolos pela barba banhada em sangue. Bag com seu machado fica espantado com a guerreira e quando se distrai leva a lança em seu ombro. Ele faz uma careta de dor, larga o machado, quebra a arma do inimigo e com o pedaço ele fura o homem, na barriga, que grita. Ele tenta correr mas Bag segura-o pelo gorjal pelas costas. Até que Arina vem pela frente e lhe dá uma cabeçada e ele desmaia. Arina pisa no cabo enfiado na barriga do homem matando-o.

Sir Bag larga o cadáver e diz: “Pô Algar! Era meu duelo! Pô assim não dá! Fala aí pra ela.”

Sir Enrick: “Vejam o pergaminho, existem 1200 homens registrados nesse castelo.”

Subindo uma outra escada em forma de caracol eles chegam em uma porta. Ela está aberta. Um grande salão de banquetes decorados com esculturas de pedra de cavalos marinhos e conchas do tamanho de escudos adornam as paredes. Chama a atenção tapeçarias com Netuno soprando barcos em meio à uma tempestade. Do outro lado mais uma porta. Ela também está aberta. Eles seguem lentamente com as armas preparadas e entram num corredor que tem três portas. Duas na esquerda e uma na direita.

Algar entra na primeira à direita. Esse quarto está mergulhado nas sombras. As chamas dos archotes do corredor iluminam em parte o interior. Existe uma cama e uma lareira ali dentro. Do outro lado existe uma janela estreita em formato ogiva. Ninguém está ali. Algar observa o mar do lado oposto ao desembarque. Tudo está iluminado pela lua.

Eles seguem e entram no segundo quarto da esquerda. Eles enxergam três mulheres dormindo no chão, em cima de peles de urso, e duas crianças na cama. Parecem ser duas meninas com sete primaveras. Lentamente eles se retiram e seguem até a última porta da esquerda.

Ali existe o brasão com a torre no centro e os dois cavalos marinhos. Ao mexer na maçaneta ela abre. A lareira está acesa. Existe uma mesa com uma ânfora de vinho e chifres de ouro para tomá-lo. Do outro lado do quarto existe uma porta dupla grande. Em uma grande cama está o príncipe deitado. No pé da cama está um homem dormindo usando cota de malha com a espada ao alcance de sua mão. Uma mulher de cabelos negros está deitada com o príncipe. Ela está nua e ele coberto com uma pele de gado. Algar se aproxima com as mãos nuas preparadas para subjugar o saxão. Ele agarra o homem enquanto ele se debate. Sir Enrick e Lady Marion disparam os seus arcos e acertam a mulher e o guarda. Mas não mortalmente o que faz com que o protetor do Príncipe se levante sangrando e aos berros acerte com a espada as costas de Algar, rachando a sua cota de malha e cortando as suas costas. O Barão sente o sangue jorrar quente e uma dor lancinante. Então olha para o Príncipe saxão Cynric e sua nuca se arrepia enquanto o homem consegue se livrar dele. O homem é uma isca. Não é o príncipe. A mulher nua cai morta ao lado da cama enquanto Algar decapita o guarda que Sir Enrick tinha flechado.

Então um estrondo ocorre e da porta de onde eles vieram vêm três homens lado a lado com escudos. Eles entram em uma carga tentando derrubar Arina e Bag, mas não conseguem. Mas atrás deles vem uma torrente de soldados britânicos e saxões. Eles enchem metade do quarto. Os heróis vêem homens e sangue voando enquanto Arina e Bag lutam bravamente contra cinco, depois dez e doze guerreiros. Do outro lado a porta dupla se abre e o mesmo acontece e dezenas de guerreiros entram ali precedidos por uma parede de escudos tripla e que vai ficando maior os cercando. Existem outros escudos barrando as duas portas pelo lado de fora. Arina e Bag apanham muito e cheio de hematomas no rosto são atirados no chão e dez lanças pressionam seus corpos.

Comandante Inimigo: “Joguem as armas ou eles morrerão!”

Sir Bag de quatro cuspindo sangue e três dentes olha para seus amigos com o olho fechado por um hematoma.

Sir Bag: “Desculpem!”

Os heróis jogam no chão as suas armas imediatamente.

Saindo lá de trás surge o verdadeiro príncipe. Usando uma manopla de ferro prateada e capa verde, com cabelos pretos longos crespos e traços fortes, com uns vinte verões.

Comandante inimigo: “Pode vir príncipe! Está seguro agora!”

Príncipe Cynric: “Obrigado Comandante. Vocês estão presos em nome do Rei Cerdic de Wessex e do Rei de Nohaut, Beorthric, o sem joelhos! Acredito que vocês tenham uma dívida a pagar à ele. Comandante, joguem esses malditos Britânicos nas Masmorras da Lua. Ah, ia esquecendo. Pague o Arcebispo em dobro... ele nos foi bastante útil.”

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Aventura 25: A Lenda de Beowulf, Ano 498


No verão de 498, o barco dos heróis, O Fúria de Njord, depois de ter sofrido um ataque de piratas saxões, em meio à uma tempestade, perde o leme e a vela, ficando à deriva no meio do canal entre a Britânia e a Terra dos Francos. Debaixo de chuva, quando o dia vai ficando claro, o barco vai sendo gentilmente levado por uma corrente marinha e uma leve brisa.

Os sobreviventes se alimentam com um pouco de queijo e pão molhado. Alguns peixes são pegos ocasionalmente. O alimento precisa ser consumido cru porque é impossível acender fogo no convés todo molhado. Os dias são quentes e o sol queima forte. Nenhum outro barco é avistado. Assim ocorre nos três primeiros dias. Alguns guerreiros sentem o sinal da desidratação. Principalmente aqueles que foram feridos na luta contra os piratas. Grievous, o leão, parece ficar cada vez mais faminto.

No quarto dia um vento forte começa a soprar novamente do oeste para o leste. A tarde está cinzenta e abafada. As ondas começam a ficar maiores, às vezes, elas atingem a embarcação de lado. Todos percebem que dois dos marujos que tinham ferimentos mais graves ficaram em silêncio. Eles estão mortos e o leão farejando os cadáveres se alimenta de uma das pernas de um deles. Restam quinze guerreiros. Na madrugada o vento sopra muito forte e faz frio. O céu está encoberto.

Ao amanhecer do quinto dia, a temperatura está mais amena. Mais três homens, feridos em batalha, estão em silêncio. Morreram durante a madrugada. Agora eles são doze. Os corpos são atirados ao mar. Todos estão famintos e com muita sede e sentem vontade de beber água do mar desesperadamente. Mas resistem tentando manter a mente longe de pensamentos insanos.

No sexto dia, perdidos no mar, eles já não sabem onde estão. Nem sinal de pássaros, nem de terra. Só alguns peixes que saltam em cardumes. A água, nessa região, é bem escura. O vento encrespa o mar fazendo surgir dezenas de pequenas ondas que chacolham o Fúria de Njord de um lado para o outro. Um dos guerreiros grita.

Guerreiro: “Não aguento mais! Eu preciso de água! Estou ficando louco!”

Então com os próprios dentes ele rasga o seu pulso e começa a beber o próprio sangue que escorre pelo seu queixo se misturando a água do mar do convés. O corte fundo foi feito de maneira tão desesperada que em poucos minutos ele cai delirando e morre. Agora eles são onze almas perdidas. No frio da madrugada é difícil dormir. A umidade e maresia maltratam as peles dos aventureiros ressecando e cortando.

Na manhã do sétimo dia Sir Enrick e Lady Marion acordam de um sonho quase febril. Sentem os lábios quebradiços e secos. A temperatura deve estar em torno dos dez graus. Quatro guerreiros estão de pé diante do casal. Três deles com machados curtos e um outro com uma espada. Eles tem cabelos grudados de maresia e as barbas cheias de sal.

Marujo: “Temos uma maldição no mar! Sempre que se traz uma mulher à bordo algo de ruim acontece. Se acabarmos com essa aí voltaremos para casa logo.”

Um dos homens desce o machado em um golpe em arco vertical vindo de trás de suas cabeça. Marion deitada na proa do barco atira a sua boleadeira. A arma da guerreira se enrola no machado e o seu adversário puxa lateralmente Marion fazendo com que a guerreira bata com o rosto na murada. Sir Enrick salta se agarrando com ele, escapando de um golpe de espada e de outros dois machados desferidos pelos outros guerreiros. O homem bate com as costas na murada e Enrick o atira para dentro da água. Algar sentado no centro do Fúria de Njord assiste a confusão. Ele se levanta, corre por cima dos bancos e com o machado dourado abre a cabeça do marujos, que estava armado com a espada, enterrando a lâmina de seu machado de ouro até a sua espinha, matando-o. Um outro homem vê a aproximação de Algar e tenta acertá-lo, mas o Barão salta um passo para trás e o machado crava em um dos bancos arrancando lascas de madeira. Um terceiro vendo Lady Marion vulnerável a ataca com uma machada, a guerreira se esquiva e a arma enterra na murada. Sir Enrick se aproveitando de que seu inimigo lhe deu as costas lhe acerta um golpe mortal com o martelo, quebrando a sua espinha, matando-o instantaneamente. O último guerreiro de pé cercado, pelos três heróis, joga seu machado no chão e abaixa a cabeça se rendendo. Sir Enrick joga o seu martelo de guerra no chão e lhe dá um soco tão forte que quebra a sua mandíbula. O homem cai de costas batendo a cabeça num dos bancos do barco, quebrando o seu crânio com a queda, o levando a morrer em poucos minutos.

Dwyfor: “Desgraçados, enlouqueceram! Quase todos mortos. Não sei até que ponto resistiremos até todos sucumbimos.”

O restante do dia passa com todos em silêncio. A morte parece rondar o Fúria de Njord.

No meio da noite do oitavo alguns deliram de sede, fome e frio. Os corpos tremem como se não fossem resistir. A respiração congelada dos tripulantes sai esfumaça. O leão Grievous parece exausto e fraco, deve ter perdido uns dez quilos. Está muito difícil de manter a consciência. Por vezes eles parecem ver terra, mas quando se aproximam ela desaparece. Então de início, parecendo mais um delírio, eles escutam uma batida seca no casco, depois outra e mais outra. Isso faz faz com que todos despertarem do delírio febril. Quando olham na água vêem pedaços de gelos do tamanho de uma mesa batendo contra o casco. Algar e Marion capturam os pedaços de gelo para usá-los como fonte de água potável.

Ao anoitecer eles vêem o contorno de uma montanha no horizonte. O céu abre e milhares de estrelas na escuridão refletem no oceano negro ao redor. Horas se passam, amanhece e a montanha se aproxima. Quando ela está bem perto, passando pela lateral do barco, eles percebem não ser uma montanha. É um Icebergue do tamanho da catedral de Santa Maria. Todos tremem de frio ao longo do dia. O som de animais estranhos ecoam na tarde em alto mar. Eles vêem um bando de focas brancas passarem nadando acompanhando o barco. Eles comem mais peixe cru. Quando anoitece mais uma vez, eles enxergam algo estranho no céu. O céu limpo e frio parece emitir uma luminosidade como se dez mil fogueiras se espalhassem na escuridão com luzes multi coloridas. Eles observam curiosos e fascinados o estranho fenômeno.

Dwyfor: “Ull está nos observando, espero que ele nos guie para terra!”

Amanhece e já é o nono dia que eles estão a deriva. O céu está carregado de nuvens negras. Faz muito frio e eles estão exaustos e cochilam mesmo tentando se manter acordados. Por vezes com os olhos entreabertos eles olham o horizonte. Numa dessas vezes eles vêem uma faixa verde no horizonte e montanhas com os picos cobertos de neve.

Mas, então, raios rugem e o céu fica escuro, o mar vai ficando iluminado pela listras pratas de flashes que correm por entre as nuvens. O mar tem um tom cinza-ardósia. Chove forte. Ondas formam espumas e rugem como animais raivosos. Elas vão ficando mais altas. Derrepente os heróis vêem uma delas vindo do lado esquerdo do barco. Ela tem a altura de uma catedral. A onda vem deslizando como um monstro. Derrepente ela começa a se dobrar e o Fúria de Njord se encaixa no rolo da onda e o mundo fica de cabeça para baixo. Eles se sentem sem peso e começam a cair. Derrepente a água gelada machuca a pele e todos ficam em meio à escuridão. Seus pulmões tentam puxar ar mas só sentem a água salgada invadi-los. Os heróis são carregados pela força da onda enorme e vem a tona na esteira de espuma que ela deixou. Algar se agarra em um barril, Enrick acha um pedaço de madeira para conseguir flutuar usando a sua armadura pesada e Marion acha um banco que a mantém à tona. Dwyfor e Caulas também se agarram nos destroços do Fúria de Njord. Está muito frio. Eles despertam da letargia que sentiam. As ondas sobem altas. Eles olham ao redor e nem Oswalt e Grievous são avistados. Sir Enrick perdeu um de seus martelos, mas conseguiu agarrar o seu arco antes de cair do barco. Marion perdeu o arco e só ficou com a sua adaga presa em sua cintura. Algar fica desesperado pois a Gungnir, a sua lança sagrada, se perdeu no mar.

Anoitece e a chuva para. Mas os ventos sopram fortes. O céu fica estrelado e uma estrela enorme brilha por entre as milhares que cobrem o céu. A lua surge iluminando o mar escuro.

Perdido por entre as grandes ondas Sir Enrick vê algo iluminado pela lua passar debaixo de suas pernas. Algar também percebe flashes prateados passando pela água escura. Quando eles olham ao redor perceber ser dezenas delas. Algar sente uma mordida forte nas costas. Então duas serpentes marinhas saltam no rosto e outra no braço do Barão que luta só com uma mão tentando se livrar delas. Sir Enrick, sente uma debaixo de suas pernas e a outra salta em seu ombro. Uma das criaturas, com os seus dentes afiados ataca o rosto de Marion emitindo um silvo agudo. Desesperados, levando mordidas eles lutam contra os animais marinhos. Algar estrangulas duas delas, enquanto arranca a terceira de suas costas, tirando um naco de carne enorme, e a arrebenta contra o barril no qual está agarrado. Enrick sente uma mordida em suas pernas e uma dor lancinante. Ele tenta pegar a criatura mexendo suas pernas, até que consegue agarrá-la e bater a sua cabeça no pedaço de madeira usado para flutuar. A outra serpente ele arranca de seu ombro e a estrangula até os olhos negros do bicho saltar. Marion pega a sua adaga e a enfia no queixo do animal que se debate. Ela torce a sua arma e grita enquanto a criatura se contorce morrendo lentamente mexendo a boca cheia de dentes e o sangue azul marinho escorrendo pela mão da guerreira.

Os heróis, sem poder fazer nada, vêem os dentes de quatro delas morderem Syan e o puxarem para baixo. Ele volta se debatendo desarmado. Outra morde o seu ombro e a última a garganta. O rapaz sobe mais duas vezes gritando: “Deusa! Deus...! Aaaaaa!” Até que na última vez ele submerge e os heróis só vêem a mão do escudeiro, separada do corpo, boiando no mar do norte. Já Dwyfor, lutando desesperadamente, estrangula uma delas quando recebe uma mordida. O guerreiro recebe mais uma mordida na barriga debaixo da água, até que agarra uma delas e arranca a sua cabeça. Ele vira os olhos delirando. O escudeiro do Barão, Caulas, quebra o pescoço de uma das criaturas. Depois quando leva uma mordida em um dos braços morde-a arrancando um pedaço de seu couro prateado. Ela se debate e boia arrebentada sumindo na escuridão do mar.

O resto da madrugada do décimo dia se passa com os feridos tentando se mantarem acordados, apesar da dor e todos lamentando, chocados, a morte do escudeiro Syan. Eles podem ver luzes de fogueiras iluminando a costa. Logo amanhece e o grupo chega na arrebentação. Então as ondas começam a empurrá-los para a praia. Até que eles se embolam no mar todo mexido e são jogados na praia de areia negra de um fiorde. Não conseguem mover um músculo. Erguem a cabeça e vêem que depois de uma faixa com o mesmo terreno com rochas cinzas brotando do chão existem as montanhas dos dois lados com pedras escuras cobertas de neve no topo. Todos tremem de frio e estão exaustos. Depois de quase quinze dias de viagem o corpo dos heróis não resiste e eles caem inconscientes na praia.

Puxando-os da inconsciência, um cheiro de carne assada e conversas em uma língua estranha os despertam. Quando eles olham estão no mesmo local onde caíram desacordados. Eles percebem estar desarmados. Oswalt está sentado ao lado de cinco homens em silêncio coberto com uma pele de urso branco e tomando alguma bebida quente em um chifre e comendo um pedaço de uma carne vermelha com uma capa de gordura imensa e um couro preto por cima, ao redor de uma fogueira. Grievous, magro, está apoiando o queixo em seu colo enquanto o irmão de Sir Enrick lhe dá pedaços de comida. Um dos cinco homens chama a atenção dos outros para eles. O loiro com barbas longas ri e faz um gesto para se aproximarem enquanto seus homens desembaiam espadas e machados e ficam de pé. Os cavalos, menores que os Britânicos, dois bejes e três avermelhados estão ao lado deles.

Oswalt: “Irmão, graças a Deus você está vivo!”

Osric: “Havet spyttede mærkelige ting i dag!” (O mar cuspiu coisas estranhas hoje!)

E todos eles riem. Algar lembra de seu pai falando na língua de seus antepassados e entende a piada:

Osric: “Hvor er du fra?” (De onde são?)

Barão Algar: “Vi er fra Storbritannien.” (Viemos da Britânia)

Osric: “Hvordan kan du vide taler mit sprog” (Como sabe falar a minha língua?)

Barão Algar: “Min far blev født i nord” (Meu pai veio do norte)

Osric: “Então entendem gálico estrangeiros! Eu sou Osric. Compramos, vendemos e por vezes tomamos de vocês. Ahahhaa. Infelizmente alguns de nós temos que falar essa língua estranha dos celtas. Estão três dias desmaiados aí. Devem estar com fome. Venham partilhar de carne de sereia... Não está certo, como se diz no seu idioma, Baleia.”

Então Enrick, Marion, Algar, Dwyfor e Caulas se aproximam aceitando a carne e tomando hidromel para aquecer os seus corpos fracos.

Osric: “Em todos os anos tenho vivido como sentinela aqui no fim da terra e nenhum estrangeiro pode aterrar na Dinamarca sem permissão. Vocês não tem nenhuma garantia de boas-vindas. Nem disseram os seus nomes, nem de seus senhores. Até agora os considero espiões nas terras da Dinamarca."

Barão Algar: “Sou Barão Algar Herlews! Esses são Sir Enrick Stanpid e essa é Lady Marion Tishea Stanpid. Somos jurados a Condessa Ellen de Salisbury na Britânia.”

Osric: “Esses são os jarls de meu Rei. Eu os comando. O de cabelo e barba negra é Bannus. O ruivo se chama Runo. Os dois loiros são meus irmãos, Urbun e Valo. Iremos levá-los a presença do rei. Se for da vontade de meu senhor terão as suas armas devolvidas. Vamos!”

Então eles sobem em seus cavalos enquanto os heróis caminham. O grupo segue por uma trilha estreita de pedra subindo o gigantesco fiorde, que nessa época do ano, está coberto de relva verde. A vista é de tirar o fôlego. As águas azuladas lá embaixo refletem como um espelho as montanhas e o céu azul escuro sem nuvens. Lentamente eles sobem a encosta. Chegando no topo vêem o oceano infinito para oeste e para o outro lado os campos imensos verdes com pedras brancas e cinzas brotando do solo. A temperatura é mais temperada ali. O vento incomoda um pouco, mas é o suficiente para eles ficarem secos novamente. Eles caminham por algumas horas atravessando campos de trigo, cevada e centeio prósperos. Vêem vacas em um pasto distante e muitos montes arborizados. Olhando adiante em uma colina coberta de grama eles chegam em uma muralha redonda, feita de pedra.

Osric “Esse é Lethra, a sede real da Dinamarca. É o maior assentamento dessa ilha!”

Osric e seu homens desmontam e trazem as suas montarias pelas rédeas. Eles notam que existe um paliçada por dentro conferindo proteção extra ao lugar. O grande portão de madeira é aberto por duas sentinelas armados com lanças e com cotas de malha. No interior de Lethra eles vêem cinquenta construções para alojamentos, armazenamento, galpões e oficinas. Todas de pedra com telhado relvado. O som incessante de um ferreiro martelando o aço enche o ar. Mais de uma centena de Dinamarqueses entre mulheres, crianças e homens circulam levando sextos com comida, conversando, cortando lenha e curtindo peles em enormes tinas fumegantes. Enquanto os heróis passam eles os observam curiosos. Lobos são levados na coleira pelos sentinelas e rosnam para Grievous que não lhes dá atenção.

No coração de Lethra existe um salão de banquete no alto de uma colina verdejante.

Osric “Esse salão se chama Heorot! Alguns dos grandes artífices da Europa trabalharam por um ano inteiro para construí-lo. É indestrutível. Este grande salão foi construído a partir da mais poderosa madeira e reforçado com bandas de bronze. É coberto por um telhado de ouro. Vejam como brilha. A porta de carvalho é duas vezes mais alta que o mais alto homem do norte.”

Lá em cima dois homens untam com um balde cheio de gordura de baleia as dobradiças enormes.

Osric “Para abrir e fechar suave e silenciosamente. Vamos subir!”

Um par de uma enorme galhada de alce adorna a entrada principal do salão. Dois guardas com aparência feroz protegem a porta. Um terceiro usando uma capa azul, com um machado brilhante prateado e vestindo uma armadura cara, mostrando ser um homem de alta posição, se aproxima.

Wulfgar: “Eu sou Wulfgar, Príncipe dos Wylfings e sou o arauto do Rei. E vocês são?”

Barão Algar: “Somos Britânicos, Barão Algar Herlews, Sir Enrick e Lady Marion.”

Wulfgar: “Que belo animal esse aí com vocês! Só conhecia de relatos de nossos mercadores. Aguardem aqui.”
Depois de algum tempo ele retorna.

Wulfgar: “Vossa majestade irá lhes receber! Por favor sigam-me!”

Heorot é ainda mais impressionante no interior, parecendo maior do que o exterior. O salão tem cerca de quinze metros de largura e cinquenta metros de comprimento, o salão de teto alto flutua sobre um mar de fumaça. Apenas toras servem de vigas o sustentando. Um buraco em formato quadrado, no telhado, funciona como uma saída para a fumaça que se eleva de um braseiro no centro do lugar. Pinho polido cobre o resto do piso, bem como as paredes. Entalhes dourados intrincados retratam cenas da religião e das lendas locais. As mesas e os bancos são esculpidos em formas de serpente.

Os heróis percebem que o salão Heorot tem uma capacidade para centenas de guerreiros mas apenas uma fração deles está presente. Eles parecem mais fracos do que os outros homens que os acharam na praia. Manchas de sangue podem ser vistas fracas nas paredes e chão.

Barão Algar: “Parece que tiveram uma grande festa aqui.”

No final do corredor, o rei Hrothgar senta em um trono dourado. Ladeando Hrothgar estão seus jarls. Um sentado ao lado do Rei outro de pé à sua esquerda. Os dois homens parecem irmãos. Seis guerreiros estão atrás do trono armados com as melhores armaduras, machados, elmos e espadas. O Rei tem cabelos cinzas e barbas da mesma cor. Veste roupas vermelhas e uma coroa cravejadas de pedras preciosas com a runa de Odim no cento:

Hrothgar: “Aproximem-se Britânicos! Sou o Rei Hrothgar. Estão em um estado lastimável. O que os trazem a Lethra?”

Os heróis fazem uma reverência ao Rei vicking que fica muito satisfeito olhando ao redor para os seus jarls.

Barão Algar: “Levávamos o Mago Merlim para a Terra dos Francos quando fomos atacados por piratas saxões e ficamos dias à deriva até que naufragamos e chegamos as praias da Dinamarca Majestade.”

Hrothgar: “Entendo. Parece ser um dos nossos. Deixe me abraçá-lo meu bom rapaz. Seu Bisavô era um grande Guerreiro, quis o destino que você deitasse em nossas praias e voltasse as terras de seus ancestrais.”

Yrmenlaf: “Deixem-me apresentar. Sou Yrmenlaf o poeta e a voz do Rei. Existe uma profecia que a Velha Sábia Slajava declamou. Ela dizia que um filho de Thule regressaria as suas terras. E que ele se ergueria do mar com o próprio corpo e que teria compania daqueles que viviam além do horizonte, seguidores do Dragão.”

Hrothgar: “Acham que são vocês?”

Barão Algar: “Lutávamos sobe o estandarte do Dragão do Rei Uther Pendragon. Viemos de longe pelo mar e meus irmãos de armas estão comigo. Meus antepassados viveram em Zealand muito séculos. Parece que sim Majestade, somos aqueles que a profecia citou.”

Sir Enrick: “Mas exatamente o que está acontecendo aqui Majestade?”
Hrothgar: "Celtas! Existe luto em meu coração, humilhação e dor angustiante. Em Heorot meus guerreiros frequentemente ostentavam taças de hidromel, cantavam, se empanturravam e riam. Mas quis o destino que uma criatura, não sei nem como lhes contar isso, um espirito maligno, um troll maldito, começasse a perturbar o meu povo... Já se vão doze anos. Em meio à um banquete ele veio e quando a manhã trouxe a luz do dia, Heorot era um abatedouro. Que Wyrd olhe por eles. Muita morte e dor rondou os meus salões... Conversaremos sobre isso mais tarde porque essa noite vai ser diferente. Tem que ser diferente. Farei um banquete para celebrar a chegada de vocês. Devolvam as armas à esses heróis, Osric. Um filho de nossa terra voltou para casa e isso não pode passar em branco.”

Logo dois jarls se aproximam devolvendo as armas com respeito.

Hrothgar: “Mais uma vez Heorot será símbolo da alegria e da força Dinamarquesa. Essa noite será feito um banquete para lhes receber. Que a maldição vá embora com a nossa celebração. Vão com os escravos. Eles lhes oferecerão comida, água e um bom banho quente nas águas que brotam das pedras. Podem ir!”

Sobe os olhos de Grievous, deitado na borda de pedra, os heróis se banham em uma piscina natural de água quente em meio as rochas negras vulcânicas em uma colina de areia negra próxima ao assentamento. Depois de comer e descansar eles começam a se sentir revigorados novamente .

O Banquete dos Heróis:

Ao anoitecer o grande salão de banquetes está lotado com homens e mulheres. Os lobos caminham por entre as mesas e a carcaça de um grande servo é assada num braseiro. Grievous está deitado embaixo da mesa aos pés de Enrick. Mingau de cevada e Hidromel são servidos para acompanhar os pratos. Os serviçais parecem serem todos escravos pela forma que são tratados. Risadas e conversas enchem o ambiente de som. Então o rei fala em gálico e Yermelaf vai traduzindo aos ouvintes em Dinamarquês.

Hrothgar: “É com muita alegria homens da Dinamarca que recebemos os estrangeiros. Algar, filho de Odirsen I que regressa a sua terra, acompanhados por heróis e campeões da Britânia. Sir Enrick Flecha Ligeira e Marion, Filha de Avalon. Um viva para nossos aliados!”

E todos batem nas mesas com os punhos e gritam para lhes saudar.

Yrmenlaf: “Gostaria de cantar uma canção de nosso povo para vocês heróis.”

Bebam para os ventos gelados
Bebam para os lobos serem livres
Bebam para os barcos com as velas como asas
Bebam para a tempestade brava

Bebam para a última noite
E aqueles que esquentaram a nossa cama
Bebam o hidromel que aquece o coração
E o frio que clareia a percepção

Bebam pelos olhos do pai
Por Odim que os filhos nós somos
Bebam pelo aço da espada forjada
E os mistérios das runas sagradas

Bebam pelo segredo do aço
E o sangue que cai como a chuva
Bebam por Vahalla e os seu muros de ouro
E bebam por aqueles que se foram

Bebam pela glória dos campos
Onde os homens são abraçados pela morte
Agradecemos os deuses que vivem em nós todos
E a árvore da vida que trás sorte

Bebam para os ventos gelados
Bebam para os lobos serem livres
Bebam para os barcos no oceano sem destino
Odim todos nós somos os seus filhos

Todos aplaudem entusiasmados enquanto mais bebida é servida. A rainha linda, move-se sobre o salão com um copo de hidromel. Ela está vestida com um manto prateado bordado, seus olhos são azuis e os cabelos dourados. Possui um belo sorriso. Osric e seus homens estão sentados em uma das dezenas de mesas, junto com os heróis.

Osric: “Está é a rainha Wealhtheow.”

A rainha então oferece uma taça de hidromel primeiro a Hrothgar, então a seus guerreiros e, finalmente, aos Britânicos. Então todos ficam em silêncio os observando tomar o Hidromel

Sir Enrick: “Um brinde ao escudeiro Syan! Um rapaz fiel e corajoso que enfrentou a morte em alto mar.”

Todos os presentes erguem seus chifres e taças cheias de bebida e saúdam o jovem guerreiro morto pelas serpentes marinhas.

Runo, o guerreiro vicking ruivo, que os achou na praia junto com Osric se levanta da mesa e fala para todo o salão.

Runo: “Queremos que vocês contem alguns atos heroicos que realizaram. Nossos guerreiros querem saber o que já conquistaram para merecerem serem chamados de, como é mesmo a palavra na língua de vocês, heróis.”

Barão Algar: “Irei lhes contar sobre a Batalha de Saint Albans. Seguíamos nosso Rei Uther para enfrentar os malditos saxões. Chegamos a uma cidade que parecia estar deserta. Era a cidade de Saint Albans. Entramos com uma pequena tropa pelos portões e foi aí que tudo virou um caos. Dois gigantes e uma horda saxônica invadiram as ruas da cidade como uma tempestade feita de aço. Os gigantes nos encurralaram! Íamos todos morrer, mas aí um padre.”

Vicking: “Padre? Esses malditos são desprezíveis.”

Barão Algar: “Mas ele é um bom Padre!”

Vicking: “Padre bom é aquele que está na ponta de minha espada.”

Então todo o salão ri.

Barão Algar: “Pois bem! O homem nos salvou lá dentro com o braço do trebuchet apoiado na muralha e uma corda... Perdemos um grande amigo lá e todo o resto da tropa foi abatido como animais... Mas ao amanhecer, os saxões saíram da cidade e nos encontramos em campo de batalha. Os dois gigantes retornaram.”

Todos o saxões suspiram prestando atenção em cada palavra do Barão.

Barão Algar: “Então, eu enfrentei a temível criatura! Pulando em uma de suas mãos!”

Sir Enrick: “Tem certeza que foi desse jeito?”

Algar lembra quando o gigante lhe agarrou da sela de seu cavalo e ia lhe matar se Lady Marion e seus arqueiros não o tivessem libertado.

Barão Algar: “Quieto Enrick. Então! Lady Marion sentindo que minha vida corria perigo. Com apenas uma flecha.”

Sir Enrick: “Tá passando o papo!”

Barão Algar: “Cala a boca! Com seu arco acertou o olho do gigante que cai e me soltou no chão enquanto era destruído pelo nosso exército. Depois o outro caiu sobe uma tempestade de flechas comandada pela nossa grande guerreira. Mas...”

Eles riem e aplaudem enquanto mais uma rodada de comida e bebida é servida.

Barão Algar: “Mas então um antigo cavaleiro Britânico que lutava ao nosso lado surgiu. Nos atacando a traição. Acompanhado de uma mulher! Uma alma cheia de maldade e ambição. Nix, a deusa dos romanos surgiu ao seu lado, em um corpo humano e a ataquei com minha lança sagrada. A Gungnir abençoada por Odim!”

Todo o salão cospe para afastar o mal e os vickings gritam: “Odim!”, “Romano Traidor!”, “Mostre a lança! Todos queremos vê-la!”

Sir Enrick: “Ela afundou no mar! Deve estar na praia numa hora dessas.”

Barão Algar: “Não afundou não. Eu a empunhei como um filho da Dinamarca e a lancei matando a deusa e extinguindo a vida do Romano com um pedaço da sua alma roubado por ela. Infelizmente Gungnir se estilhaçou em mil pedaços. Vencemos e no final nosso Rei foi envenenado. Droga!”

Sir Enrick fala baixinho para Algar: “Algar, sobre a lança ter se despedaço é mentira!”

Algar ergue sua voz e estufa o peito olhando para todos os presentes no salão e diz.

Barão Algar: “E essa é a mais pura verdade!”

Todo o salão bate seus pratos e aplaudem erguendo seus chifres cheios de hidromel saudando os heróis. Nesse momento Sir Enrick vê Oswalt sumir com uma bonita garota loira, que servia as mesas, pela porta do salão de banquetes.

Dwyfor: “Espero que o garoto não arrume confusão Enrick.”

Sir Enrick: “Eu também.”

Então Sir Enrick decide ir atrás de seu irmão. Ele segue o casal que entra em uma das casas de paredes de grama. Sir Enrick bate na porta. Oswalt já sem camisa o atende. Atrás a garota Dinamarquesa está semi nua, com o seu corpo perfeito a amostra, deitada em uma pele de urso marrom.

Sir Enrick: “Escute garoto, eu não quero confusão aqui. Esses homens nos receberam muito bem. Sai daí e volte para o salão.”

Oswalt: “Mas irmão...”

Dinamarquesa: “Vamos Oswalt ou os Celtas não são homens suficientes para satisfazer uma mulher Dinamarquesa?”

Sir Enrick: “Somos sim minha senhora, mas não queremos confusão aqui. Tenha certeza de que ela não tenha dono rapaz.”

Oswalt concorda com um aceno de cabeça enquanto Enrick fecha a porta e deixa os dois para trás. Quando Sir Enrick retorna ao salão vê Caulas disputar uma queda de braço com uma vicking usando cota de malha, com dois metros de altura. Ela é muito forte e do tamanho de Bag. Suas bochechas rosadas e duas tranças ruivas contrastam com a sua aparência. Ela derrota muito fácil Caulas o derrubando da cadeira. Todos aplaudem e riem gritando: “Arina, Arina, Arina!”.

Uns outros quatro guerreiros estão ao redor deles batendo nas mesas torcendo e apostando pedaços de ouro de seus braceletes que eles quebram com machados.

Bannus, barba negra, um dos homens de Osric os chama.

Bannus: “Vamos estrangeiros ou estão com medo da Demônia do Norte?”

Barão Algar: “Demônia do Norte é? Vamos ver se ela merece o título!”

Arina e Algar sentam frente a frente. O Barão espera alguma resistência e se prepara. A última coisa que ele se lembra é estar sentado. Algar está estatelado no chão de pinho do salão enquanto todos ao redor riem.

Arina: “Próximo!”

Sir Enrick senta na frente da guerreira. Os dois se olham no olho enquanto se preparam para a quebra de braço. Arina começa a forçar o braço do Flecha Ligeira que sente suas forças irem embora. Ele tenta reagir e nada. Arina faz muita força tentando vencer. Mas Enrick reage e grita ao mesmo tempo até que consegue virar o jogo e bater a mão da vicking na mesa de banquetes, do outro lado, vencendo-a.

Todos aplaudem enquanto pedaços de ouro voam para a frente de Sir Enrick.

Arina: “Muito bem Celta! Gostaria de tentar guerreira Marion?”

Marion: “Vamos lá grandalhona!”

Arina cruza as mãos com Marion e aí começam a medir forças. O golpe da vicking é tão rápido que Marion sente que vai ser jogada no chão, mas Arina com o seu antebraço enorme segura a guerreira celta no ar e a coloca sentada novamente em sua cadeira.

Todos aplaudem enquanto os pedaços dos braceletes de ouro caem na frente de Arina sobe o aplauso do salão inteiro. Então um dos vickings, um homem de um metro e noventa, usando braceletes de ouro e cabelos e barbas loiras até a cintura vêm até os heróis.

Thorstein: “Então você é Algar? Sou Thorstein, quebra queixos!”

Algar só assente positivamente com a cabeça.

Thorstein: “Gostaria de lhe desfiar para um jogo que fazemos em festins como este. Eu tiro sarro de sua cara e depois é a sua vez de me responder. Acaba quando um de nós for muito aplaudido ou em socos e ponta pés!”

Barão Algar: “Pois então vamos lá!”

Thorstein: “Algar é tão corajoso, tão corajoso que às vezes se veste de vicking para espantar seus inimigos!”

Barão Algar: “Corajoso eu sou, mas mais corajoso é seu pai, que casou com sua mãe!”

Todos aplaudem e dão risadas.

Thorstein: “Algar é tão amado, mas tão amado na Britânia que fugiu nadando para a Dinamarca.”

Barão Algar: “Nada disso, vim para cá porque vim ensinar aos bárbaros um pouco de coragem.”

O som de um suspiro em coro seguido por um silêncio toma conta do salão. Mas então os vickings batem na mesa e explodem em risadas.

Thorstein: “Algar gosta tanto dos cristãos tanto que mandou tatuar uma cruz no peito para seus amigos rezarem quando não acharem uma igreja.”

Algar entende da onde vem a sua mania de escarnear os seguidores de cristo. Todo o salão imita os cristãos e alguns se ajoelham aos pés do Barão fazendo Mi, mi, mi, mi, mi.

Barão Algar: “E você meu amigo vicking Thorstein é tão cristão, tão cristão que vai transformar seu forte num convento só pra poder ser a madre superiora!"

Alguns se afogam com o hidromel, outros se jogam no chão de tanto dar risadas.

Thorstein: “Então me respondam. Quantos Algares precisam para matar um saxão? Nenhum, ele fugiu nadando para a Dinamarca!”

Barão Algar: “E quantos Thorsteins são necessários pra matar um saxão? Nenhum, ele não batem em moças indefesas..."

E todo mundo aplaude os dois enquanto Thorstein o cumprimenta.

Thorstein: “Foi uma honra amigo! Na verdade você não fugiu para Thule, veio nos libertar do mal.”

Então eles vêem duas mulheres brigando em um canto rolando por cima de uma das mesas derrubando comida e bebida. Todos riem da cena e aplaudem. Uma disputa de bebidas ocorre em outro canto do salão com dois homens caindo desmaiados e outro vomitando todo o assado que tinham comido. Um vicking se levanta, ele tem cara de poucos amigos, ele é loiro, é de meia idade. Seus cabelos estão sujos e o seu bigode é grande e mal aparado. Suas roupas estão manchadas de hidromel e cerveja. Seu rosto é cheio de rugas mas aparenta ter sido um homem bem apessoado. A bebida parece ter levado muito de seu explendor.

Unferth: “Vocês riem! Se divertem! O que pensam que estão fazendo?”

Ele tropeça e derruba um serviçal que levava uma bandeja. Todos ficam em silêncio.

Unferth: “Saia daqui seu escravo nojento. Homens morreram nesse salão! Grendel nos tomou muito mais que a nossa paz. Ele e aquela bruxa, sua mãe, devem morrer. Vocês estrangeiros podem ter tido sucesso no mundo em que vivem. Eu duvido que tenham algum aqui com Grendel, espreitando na noite, em seu próprio solo.”

Todos ficam incomodados olhando constrangidos.

Hrothgar: “Já chega! Unferth tenha respeito com nossos convidados. Mas, infelizmente meus súditos, o Jarl está certo. Guerreiros e guerreiras! Tenham uma boa noite. Sou um velho que deseja cumprir suas obrigações de marido com a minha bela rainha. O comando do Heorot é de vocês estrangeiros. Dormirão aqui. Deixarei os meus melhores homens para que nada de mal aconteça. Todos os outros vão se recolher e rezar para os Deuses nos protegerem mais uma vez.”

Então o rei levanta e de braços dados com a rainha Wealhtheow deixa o salão pelas enormes portas escoltados pelos seis guerreiros reais. Atrás deles todos se retiram quietos. Eles olham com pesar e batem nas costas dos heróis os cumprimentando. Algumas mulheres beijam seus rostos.

Unferth (bêbado): “Ficarei com vocês! (ele saca a sua espada) Hrunting lhes servirá essa noite! Em 12 anos Grendel nunca sangrou. Mas a minha lâmina foi forjada pelos gigantes e acredito que só ela poderá matá-lo se ele vier.”

Algar percebe ser uma espada vicking com uma lâmina bem forjada. Mas não existe nada de espetacular na arma.

Os archotes iluminam o grande salão. Tudo está em silêncio. Treze guerreiros estão ali presentes. Arina (guerreira) , Unferth, Bannus (Preto) , Runo (Ruivo), Valos (Loiro irmão), Urbun (Loiro irmão), Osric (Loiro irmão), Oswalt, Caulas, Dwyfor, Marion, Enrick, Algar e o Leão Grievous. O braseiro mantém o lugar aquecido enquanto a fumaça flutua, para o céu estrelado de Thule, através de um quadrado no teto. Dali dá para ver a estrela do norte. Seis homens colocam uma grande viga de carvalho atravessada por entre as duas portas. Lá fora o som do vento assobia nas soleiras das construções.

Arina: “Como querem que preparemos o salão estrangeiros?”

Sir Enrick: “Mas porque? Vocês acham que pode acontecer alguma coisa?”

Arina: “Toda noite de banquete ele veio. É melhor ficarmos de olhos abertos.”

Então eles se sentam ao redor do braseiro, na madeira do assoalho, em cima de peles de ursos.

Bannus: “Que Odim permita que vivamos mais um dia! Os últimos homens que dormiram em Heorot atravessaram Bifrost.”

Arina: “Não tenho medo de Grendel! Ele é uma criatura maior que um homem. Mas um urso também é e já matei quase uma dúzia deles.”

Lady Marion: “Eu também acho. Já enfrentei dois gigantes e venci. Grendel não será páreo para nós.”

Unferth: “Quanta asneira vocês duas falam. Da outra vez foi impossível reconhecer os cadáveres dilacerados que a criatura se banqueteou. Só sobraram as costelas com carne entre os ossos e as pernas. O gigante adora comer as cabeças. Nunca mais esquecerei o som delas sendo quebradas. Ursos não nos odeiam Arina. Nós entramos na casa deles e não o contrário. Gigantes Lady Marion, são grandes e lentos. Grendel é rápido como uma corsa.”

Runo: “Chega (cospe no chão), parem de falar besteiras, isso dá azar. Mantenham as armas à mão. Não acredito que ele venha essa noite. Ele sabe que dessa vez estamos o esperando.”

Valos: “O que sabemos é que o destino está escrito. Relaxem e aguardem. O que for para acontecer já está predestinado. Nada que fizermos mudará os fios que as fiandeiras teceram.”

O tempo vai passando. Alguns cochilam e outros conversam.

Dwyfor: “Esperem, silêncio! Vocês escutaram alguma coisa?”

Oswalt e Caulas estão sentados assustados olhando para a porta fixamente enquanto tremem ansiosos. Os lobos uivam por todo o assentamento. Derrepente eles ouvem só três deles. Depois dois e por fim os animais se calam. Eles escutam passos na grama do lado de fora entremeado pelos sons do vento. Logo tudo fica em silêncio novamente. Mas nesse momento a porta do salão parece ser tocada pelo lado de fora. Um som de alguém passando a mão na madeira. Logo o som de três chaqualhões fazem um eco no grande salão. Todos lentamente vão retirando suas armas em silêncio e devagar. Pegam os seus escudos e colocam os seus elmos lentamente e ficando de pé.

Urbun começa a falar em sua língua e Algar vai traduzindo. Todos os outros vickings falam junto com ele.

Urbun: "Se, der ser du min far … (Olhai, que ali vejo meu pai)
Se her for at se min mor, (Olhai que ali vejo minha mãe)
mine søstre og brødre … (minhas irmãs e meus irmãos...)
Se her for at se den linje af mine forfædre, (Ali vejo a linha dos meus ancestrais,)
fra begyndelsen … (desde o principio...)
Se de kalder mig, (Olhai que eles me chamam)
så jeg tager min plads hos dem, (para que eu ocupe meu lugar junto a eles)
i Hall of Valhalla, (no salão do Valhalla)
hvor den modige kan leve evigt … (onde os bravos podem viver para sempre..)

Derrepente um estrondo e as duas portas e a trava, as enormes dobradiças e tudo que a barrava voam para dentro do salão. Um pedaço grande de estilhaço da porta atinge Enrick fazendo rolar para o fundo do salão machucando o seu ombro. Um vento forte e frio vem lá de fora apagando as tochas das paredes. A única fonte de luz que ilumina as paredes do salão é o braseiro. Nas sombras todos escutam passos no piso de pinho. Tudo está mergulhado em vermelho. Por vezes eles parecem ver uma silhueta se deslocando rápido na escuridão e sombras na parede. Eles escutam um som vindo de cima.

Sir Enrick: “Ele está andando pelas vigas do teto.”

Derrepente um som seco é ouvido atrás dos guerreiros, voltados para a porta, seguido por um grito pavoroso. “Ingen! Ingen! Odim!” (Não, Não, Odim!). Eles vêem, próximo ao trono real dourado, o ruivo Runo tremendo em convulsões enquanto Grendel se revela e arranca um braço e o morde ficando com a boca e o queixo cheios de sangue. Ele arranca o outro braço e o atira contra Enrick. O Flecha Ligeira se abaixa e o membro do vicking se quebra contra a parede deixando uma marca de sangue na madeira branca. Depois ele morde o topo do crânio do guerreiro ruivo que está com os olhos esbulhados e a língua pra fora e come parte do cérebro que escorre como uma massa viscosa amarelada do crânio sem a tampa da cabeça. Valos vomita. Algar vendo a terrível cena fica tomado pelo pavor.

Osric muito corajoso rola para as costas de Grendel e grita: “Por Thor! Morra desgraçado!” Ele ataca o Troll que é atingido por trás com o seu martelo de guerra. O Gigante olha para trás sentindo o golpe e acerta o guerreiro que voa contra o trono e cai inconsciente rolando com o pesado móvel real. Unferth tenta se aproximar girando e cortando um dos joelhos da criatura. O golpe foi certeiro mas nada acontece. O guerreiro loiro Urbun faz o mesmo tentando estocar no meio das pernas do Troll e a ponta da espada não rompe a sua pele grossa. Grendel pisa e o dinamarquês rola pelo chão gemendo de dor. Caulas e Oswalt juntos atacam com as espadas com toda a força. Mas falham e são jogados para perto do braseiro com uma joelhada na cara dos dois. Os outros guerreiros tentam se movimentar para atacar a criatura. Marion, usando o arco de seu marido, Sir Enrick, dispara uma flecha no ouvido do monstro. A flecha é certeira mas não tem força suficiente para penetrar a grossa pele de Grendel. Sir Enrick corre, desvia das garras do Troll e despedaça o pé da criatura. Algar faz o mesmo do outro lado e acerta a mão do monstro com o seu machado dourado. A lâmina não tira uma gota de sangue da criatura apesar do golpe forte.

Bannus tenta sair da visão da criatura e ataca uma das pernas de Grendel. Mas o seu golpe com o machado de duas mãos, mesmo bem executado, não lhe causa dano algum. Grendel olha direto no rosto do barba negra e com as garras arranca metade do rosto do vicking o cegando do lado esquerdo e o desfigurando. Bannus cai tremendo e gritando de dor. Dá para se ver a caveira do lado esquerdo do homem. Enquanto isso Grievous salta na perna da criatura que o sacode até que o Leão é jogado quebrando uma das longas mesas e fazendo o felino levantar e rugir preparando-se para voltar a luta. Arina golpeia o outro pé de Grendell que é quebrado pela guerreira. Ele urra e manca encolerizado.

Dwyfor bate, em um dos joelhos da criatura, com o escudo. Grendel grita e arranca a proteção do guerreiro. Ainda com o braço preso nas correias ele tem seu corpo sacudido até o osso de seu braço sair de dentro da carne causando uma fratura exposta. Dwyfor grita de dor e desmaia e o gigante joga o seu corpo contra o trono caído que rola para o fundo do salão com o corpo do guerreiro. Urbun tenta atacar com a sua lança mas Grendel pega a arma com o homem pendurado enquanto quebra a lança em seu joelho. O vicking loiro rola pelo meio das pernas da criatura e some do raio de visão da criatura.

Sir Enrick: “Lâminas não adiantam de nada contra esse Troll maldito.”

Então Grendel se sentindo acuado e assustado corre e atira uma mesa em Arina arremessando a guerreira contra uma das colunas. Ela bate de costas e desmaia. O gigante olha para o lado e agarra Oswalt em uma mão que grita em pânico e com um aperto impede o irmão de Sir Enrick de respirar o levando a desmaiar e a derrubar a sua espada. Com a outra mão agarra Valos, irmão de Osric. A criatura olha para os heróis e dá um urro e corre, tão rápido que em um piscar de olhos desaparece pela porta do grande salão levando os dois guerreiros em suas mãos. Grievous some na escuridão atrás dele.

Arina se levanta segurando as costas machucadas e mancando um pouco.

Arina: “Droga! (Ela chuta o elmo de Bannus). Maldito! Desgraçado!”

Unferth com o rosto congelado de ódio e ofegante: “Eu disse que a morte rondava esses salões. Vocês viram? Nem a minha espada foi capaz de feri-lo.”

Dwyfor está desfalecido e provavelmente perderá o braço. Bannus está morto. Osric respira mal. Provavelmente tem costelas quebradas e sua respiração assobia indicando que teve os pulmões perfurados. Urbun está tetraplégico pelo pisão que recebeu. Caulas está em choque tremendo sentado em um canto do salão com as mãos cobrindo o rosto enquanto o sangue dos guerreiros assassinados vai manchando o piso de pinho branco. O cheiro de morte permeia o ar. Vem a manhã e com o som dos gritos todos os Dinamarqueses do assentamento acordam. Eles ficam chocados com a visão aterradora da morte. As mulheres e filhos dos guerreiros assassinados choram e os feridos são levados para o físico do Rei Hrothgar. Lá fora eles vêem os sentinelas e os lobos mortos e o rastro de sangue que faz um caminho por cima da paliçada e depois pela pedra branca da muralha redonda.

Sir Enrick: “Temos que ir atrás dele. Meu irmão não pode estar morto!”

Hrothgar: “Que tragédia. Porque Odim? Porque? Limpem o sangue e juntem os restos daqueles que morreram e lacrem Heorot. Esse é um lugar amaldiçoado.”

No meio da tarde, na frente do salão, uma grande pira é acesa cremando os guerreiros mortos com os seus cavalos, armas e armaduras. Algumas mulheres se sacrificam e se jogam atrás de seus maridos. Um circulo com todos os moradores do assentamento é feito ao redor do fogo. Muitas lágrimas são derramadas. Após o funeral o Rei Hrothgar se aproxima acompanhado por um guerreiro veterano.

Hrothgar: “Deixem apresentar-lhes. Esse é o Jarl Ashhere Herlews.”

O Jarl do Rei tem uns quarenta e poucos verões. Seus cabelos e barbas são grisalhos. É alto e usa uma cota de malha. Ele usa um tapa olho na vista esquerda e tem uma grande cicatriz no lado direito do rosto. Usa o martelo de Thor pendurado no pescoço.

Hrothgar: “Esse é o meu melhor guia. Ele pode lhes ajudar a achar o desgraçado. Acho que Algar irá gostar de conhecer o seu primo, também bisneto de Odir que teve um filho bastardo reconhecido por ele. Mortem Herlew era o nome dele. Ele teve um filho chamado Lars, vô de Ashhere e pai de Jesper Herlew o qual este Jarl é filho.”

Ashhere Herlews: “Como vão? É uma honra. Que Odim nos una Algar e que não nos separe na morte contra Grendel. Vamos partir, temos que aproveitar a luz do dia!”

Barão Algar: “Muito bom lhe conhecer primo! Este é Caulas, meu escudeiro, ele é um Herlews e filho do primo Dalan.”

Ashhere Herlews: “É uma honra rapaz!”

Arina: “Irei junto! Precisarão de alguém que tenha a coragem de um lobo e a força de um urso. Esperem preciso levar um pedaço de pão. Não como nada sem pão.”

Unferth: “Quero a cabeça da mãe e do filho em uma estaca! Também irei.”

Caulas sai do salão quando escuta.

Caulas: “Vamos matá-lo! Não vou deixar o meu melhor amigo nas mãos dessa criatura. Nem que seja a última coisa que eu faça!”

Sir Enrick: “Precisamos de martelos de guerra! Armas de corte são inúteis contra Grendel.”

Explorando as Terras Ermas:

O grupo parte depois do meio dia sobe os olhos dos habitantes de Lethra. Eles saem do assentamento seguindo o rastro de sangue que Grendel deixou, levando os melhores martelos que o Rei poderia prover. O grupo atravessa as grandes plantações de aveia e cevada. O dia está cinza e tem temperatura de dez graus. Depois de andarem por horas finalmente eles saem em uma charneca. Lá do meio dela vem correndo Grievous que corre pedindo carinho para Enrick. A paisagem é amarelada por causa do capim baixo e diversas pedras negras brotam do solo. Venta muito e diversos poços de água negra e escura são vistos. Árvores com o tronco quase pretos com galhos retorcidos, sem folhas, com as pontas dos ramos parecendo dedos esqueléticos crescem espaçadamente uma das outras.

Ashhere Herlews: “Essas são as Terras Ermas. O Covil de Grendel deve estar nessa região.”

Eles caminham por algumas horas. Existem alguns poços de onde sai uma fumaça mal cheirosa que cobre a charneca impedindo a visão em alguns trechos. Sir Enrick ouve o som de passos no capim seco e depois um barulho seco de pancada. O Leão levanta as suas orelhas e corre por entre a fumaça sumindo mais uma vez. Eles seguem pela paisagem inóspita. O céu cinzento trás uma garoa fina que faz a temperatura cair.

Eles se aproximam de um lago de águas negras encrespadas pelo vento gelado do norte, com uns dois quilômetros de extensão. Um pouco para dentro de sua margem existe uma ovelha presa na lama tentando sair. Na beira do lago, salivando, um grande lobo negro a espreita. Ele coloca a pata na água gelada mas não cria coragem de ir até lá e matá-la. Os animais não prestam atenção nos heróis. Existe um anão na beira do lago. Não tem cabelos e sua barba longa vai até a cintura. Ele usa um corselete de couro e braceletes do mesmo material em seus braços fortes. Está com o seu escudo nas costas e com um martelo de guerra em sua cintura. Mas está com uma corda em suas mãos, parece diferente das que eles estão acostumados a ver. Ela é prateada e parece ser de um material suave. Sua carroça puxada por bois está estacionada na margem do lago. Ele fale em Dinamarquês enquanto Algar traduz para os seus amigos.

Hogni: “Velkommen til ødemarker udenlandske! Je ger Hogni” (Bem vindo as terras ermas estrangeiros! Eu sou Hogni). Kunne hjælpe en dværg Nidavellir at indfange en sort ulv? Jeg beder denne fordel for Odim. (Poderiam ajudar um anão de Nidavellir a capturar um lobo negro? Por Odim peço esse favor) Men han skulle blive fanget i live fordi skæbnen allerede er skrevet.” (Ele deverá ser capturado vivo porque o destino já está escrito)

Os heróis ficam em dúvida se deverão se meter na contenda. Mas decidem fazer uma meia lua, com Sir Enrick e Verina no centro, e vir fechando o círculo lentamente. O Lobo negro, com o dobro do tamanho do que o normal, olha para os heróis e rosna quando começam a se aproximar. O animal fica acuado e se prepara para saltar pela meia lua e escapar. Quando o lobo pula por cima de Enrick e Verina, os dois o agarram pela pele negra tentando imobilizá-lo. Os outros guerreiros segundos saltam nele tentando pará-lo. Mas um segundo é suficiente para Sir Enrick levar uma mordida no braço. A dor é lancinaste e o Flecha Ligeira perde a consciência. Enquanto isso Hogni, o anão usa a sua corda, enrolando o enorme Lobo, de suas patas traseiras até a mandíbula. O animal rosna, arfa e treme, mas está imobilizado.

Hogni olha satisfeito, se aproxima com respeito e coloca um martelo de batalha na mão direita de Sir Enrick ferido. O braço do Flecha Ligeira está mordido e machucado. Marion se aproxima de seu marido e despeja um alforje de água do poço de Avalon em sua boca. Ao mesmo tempo ela esmaga algumas ervas e aplica no braço do Cavaleiro que lentamente volta a consciência com uma dor enorme no antebraço machucado.

Hogni: “En gave på Nidavellir den tjeneste, som ydes til guderne.” (Um presente de Nidavellir pelo favor concedido)

Então o anão com a ajuda dos heróis colocam o lobo negro na liteira da carroça. A fera se debate um pouco e rosna. Hogni sobe e antes de partir fala algo em uma língua que Algar não entende. Ashhere em silêncio com os olhos baixos concorda assim como Arina e Unferth. Então o anão parte, conduzindo a carroça, contornando a margem do lago negro sumindo por entre a bruma que sai de um buraco no solo. O cordeiro consegue se livrar da lama e corre pela margem desaparecendo em um piscar de olhos.

Ashhere Herlews: “Hogni falou na língua antiga. Aqueles que os antigos disseram ter sido ensinada pelos deuses. Ele disse: Nós e vocês somos filhos dos Deuses, perseguidos e amaldiçoados, herdeiros de tua força, portadores da tua Maldição. O povo do Dragão nos teme, mas quando o fim chegar, o Rei Dragão renascerá, trazendo fogo e destruição. Mas, não restarão nem nós nem seus filhotes e o grande lobo e o dragão se tornarão discípulos do cordeiro. Nornes Urd, Verdandi e Skuld, as três fiandeiras já sabem disso. Seus fios já estão trançados. O Ragnarock chegará e o Deus vindo do oriente prevalecerá. ”

Arina: “O que está determinado pelas três está feito. Vamos embora! Daqui a pouco a noite cairá e acampar pelas terras ermas pode ser muito perigoso.”

Sir Enrick com esforço volta a caminhar ainda meio tonto e com dores no braço. Curioso ele lança o martelo.

Sir Enrick: “Pode ser o de Thor. Ele sempre volta para o seu escolhido.”

A arma cai a frente. Caulas olha curioso e rapidamente trás para Enrick.

Verina: “Voltar ele voltou Enrick.”

Logo cai a noite e a temperatura. O grupo caminha mais alguns quilômetros e logo surge à frente uma paliçada com tochas em cima. Eles vêem na frente do portão aberto do assentamento doze karls ao redor de um estranho espetáculo. Dois homens seguram uma moça jovem, enquanto um terceiro martela forquilhas de madeira nos braços e pernas dela.

Ashhere Herlews: “Aqui é a fazenda de Cynewulf. Ele era um berserker da guarda de Hrothgar. Até o primeiro dia que Grendel visitou Heorot e o guerreiro viu seu irmão desaparecer dentro da boca do Troll. Ele enlouqueceu e fugiu para a fazenda de sua família. Mas o horror parecia segui-lo. Dizem os rumores que nos últimos 12 anos as pessoas da fazenda usam sacrifícios para apaziguar o espírito irritado de Grendel.”

Unferth os cumprimenta e fala em dinamarquês. Unferth vai traduzindo.

Cynewulf: “De skal bekymre sig om deres problemer og orlov.” (Deveriam se preocupar com os seus problemas e irem embora)

Enquanto isso a mulher chora e tenta se livrar das forquilhas.

Saral: “Hjælp mig please!” (Me ajudem por favor!)

Gizur: “Hold kæft slave!” (Quieta escrava!)

Os karls entram novamente para dentro da paliçada do assentamento. O grupo de heróis se oculta na escuridão e aguarda na charneca. A noite vai passando e nada de Grendel aparecer.

Sir Enrick: “O Troll deve estar alimentado. Não virá! Temo pela vida de Oswalt.”

A manhã vai chegando e aí os heróis decidem libertar a escrava. Sir Enrick ainda dolorido vai até lá e retira as forquilhas. Nesse momento o portão duplo da paliçada se abre e os karls, liderados por Cynewulf os atacam.

Cynewulf “Damn! Dræb dem alle!” (Malditos! Matem todos!)

Cynewulf salta sobre algar girando o seu machado pelas costas e cabeça enquanto grita. Ele deixa Algar lhe atacar lutando como Berserker. O Barão ameaça atacá-lo para esquerda, o vicking vai para a direita e Algar muda o lado do ataque o confundindo e o decapitando. Os outros Karls, são atacados com os martelos por Sir Enrick e Lady Marion. Os aldeões são mortos rapidamente com ossos e crânios esmigalhados. Arina ataca um outro karl, mas ele acerta com o pomo de sua espada no peito da guerreira que tropeça para trás. Mas antes de cair ela puxa seu adversário o atirando em uma cambalhota no ar. Ela se ajoelha e roda o seu martelo de guerra por trás de sua cabeça quebrando a coluna de seu inimigo. Unferth usa a sua espada e escudo, apara o primeiro golpe e faz uma carga em seu inimigo que tropeça e antes de atingir o solo tem a sua mão decepada. Logo uma estocada em seu pescoço o silencia. Caulas luta com a sua espada e escudo. Um aldeão o derruba mas no último segundo o escudeiro rola para o lado e o homem enterra seu machado de duas mãos na grama. Quando o karl ergue a arma novamente é tarde demais. Caulas corta sua perna do joelho para baixo. Arina ao seu lado aproveita e esmaga o crânio do homem que explode sujando de miolos a paliçada.

Depois da luta a moça fica agradecida por ser libertada. Ela é linda com umas 17 primaveras. Com cabelos loiros cacheados e olhos azuis. Ela vai até os heróis e agradece em Dinamarquês.

Saral: “Tak mine redningsmænd! Jeg er norsk og kalder Saral.” (Obrigado meus salvadores! Me chamo Saral e sou norueguesa)

O portão do assentamento é trancado e ninguém mais aparece. Exaustos por passarem a noite em claro o grupo monta um acampamento quilômetros à dentro das terras ermas. Durante a madrugada Sir Enrick de sentinela escuta os mesmos sons que ouvira no lago negro. Os uivos de lobos e o gralhar de corvos perturbam o sono no meio da manhã fria. Enquanto todos dormem embrulhados em peles de lobo cinza Saral, a escrava norueguesa salva, vem se aninhar debaixo das peles junto de Algar. O Barão sente o corpo quente dela. A garota vai ficando nua enquanto se aproxima para o beijar lentamente. Algar não resiste aos encantos da norueguesa e faz amor com ela.

Já com o sol alto eles acordam. Os guerreiros comem um pouco de enguia salgada, levada do assentamento do Rei ,e tomam um pouco de hidromel quente antes de seguir viagem.

Ashhere Herlews: “Vamos seguir em frente! Andei ao redor do acampamento e me parece que a trilha de Grendel está viva e segue em direção ao mar.”

Então eles caminham pela charneca amarelada ouvindo o som das ondas quebrando na praia. Eles chegam em um desfiladeiro de rocha cinza. Lá embaixo existe um pântano de água salgada coberto por uma bruma lúgubre. A vegetação de mangue e o cheiro de podridão sobe até a borda do rochedo. Do outro lado existe um paredão de pedras que se ergue de dentro da neblina.

Ashhere Herlews: “Parece que a trilha de Grendel acaba aqui.”

Lady Marion: “Existe uma trilha lá embaixo por entre as brumas. Temos que descer.”
Arina: “Vejam! O sal do mar e o gelo formaram uma base cobrindo as rochas. Podemos nos apoiar. Mas pode ser traiçoeira. Se pisarmos em uma delas e ela quebrar, adeus!”

Grievous deita na beira do penhasco apoia as suas patas e fica os observando. Ele não consegue descer. Saral se ajoelha ao lado dele e fica os observando descer. Algar desce, escorrega em um dos trechos quando uma pedra de sal se dissolve em sua mão. Mas o Barão se agarra e chega até o chão negro lamacento que afunda até o seu joelho. Sir Enrick vai logo depois. Ele escorrega várias vezes e com a sua agilidade reduzida por sua cota de malha pesada, tornando o trabalho de descida árduo, várias vezes ele fica dependurado e ameaçando despencar. Mas o Flecha Ligeira consegue usar a sua força a seu favor para se apoiar e chegar lá embaixo. Marion com extrema agilidade vence o paredão com segurança. Caulas, Ashhere Herlews, Arina e Unferth os seguem.

Lá embaixo a paisagem está coberta de névoa do pântano. Eles caminham lentamente em meio a água e lama negra. Por entre a neblina eles vêem Grendel os observando. Rapidamente ele some. Ao lado dele eles parecem ter visto uma mulher enorme. Na verdade a altura dela é o dobro dos heróis. Eles vislumbram rapidamente a sua feiura e o seu corpo disforme.

Unferth: “Grendel e sua mãe! Cuidado, deve ser uma armadilha!”

Quando eles entram no estreito caminho de lama preta mal cheirosa e borbulhante eles vêem dezenas de esqueletos humanos. Várias trilhas surgem os confundindo e os levando ao coração do pântano. A névoa envolve tudo ali. Alguns cadáveres com carne nos ossos apodrecem. Eles percebem mordidas em suas barrigas e crânios. O cheiro de decomposição e amônia beira o insuportável. Por entre as brumas eles vêem o sol somente como um círculo branco no alto.

Derrepente de um dos lados do caminho o som de algo grande saindo da água os assusta. Eles são molhados por aquela água fétida cheia de lama negra.

Arina grita enquanto saca o seu martelo de guerra: “Grendel! Forsigtig!” (É Grendel!Cuidado!)

Caulas e Unferth pegam os seus escudos e as espadas. Sentem pavor frente à terrível criatura. O Troll gigante os observa e em seus olhos pode se ver o ódio o dominar.

Ashhere Herlews: “Herlews!”

Ashhere grita enquanto saca seu machado e salta para dentro do banhado tentando acertar a criatura, seguido por Arina, Unferth, Algar, Marion, Enrick e Caulas. Grendel, ferido nos pés, pela luta da noite anterior, se arrasta na lama negra. Os heróis tem dificuldade em combater no chão mole e escorregadio.

A criatura bate com o punho em Caulas que voa longe que cai longe em uma velocidade incrível, quebrando braços e pernas, enquanto o escudeiro rola por entre as poças de lama do mangue. Arina se aproveita e golpeia com muita força o gigante nas costas. A criatura urra em um som gutural. Unferth tenta golpeá-lo mas Grendel lhe aplica uma cabeçada o jogando para o barro onde ele cai perdendo a sua arma. Ashhere Herlews acerta o seu martelo de guerra na costela do Troll, um lado do dorso da criatura afunda e o som de ossos quebrando é ouvido. Ele vomita sangue negro e urra. Grendel se volta enfurecido para Marion, que se movendo com muita destreza, escapa de suas garras e apoiando em uma de suas pernas acerta o outro lado das costelas que cedem enquanto a criatura se espalha na lama. Sir Enrick, ainda com o braço machucado e dolorido da mordida do lobo negro, luta com dificuldade. Grendel percebe sua proximidade e com o punho fechado acerta o Flecha Ligeira que rola, atingido pelo pesado golpe, o ferindo. O punho de Grendel cai em direção a Marion que gira pelo chão. A guerreira rola se esquivando do ataque. Algar se aproxima e acerta as costas do Troll que com um urro ensurdecedor se volta para ele. As unhas infectas, dos quatro dedos, vem como lâminas de uma espada longa em direção ao corpo de Algar. O Demônio do Norte gira lateralmente quando o gigante escorrega na lama e se espalha diante de seus olhos.

Algar levanta o martelo de guerra e desce no meio da testa de Grendel. O golpe final é forte e certeiro. O gigante se debate arfa, urra e joga barro enquanto se enterra até os joelhos na lama negra do pântano nojento. Ele vira os olhos tentando não perder os sentidos mas cambaleia. Ele parece perder a consciência mas acorda. Sem forças ele cai de joelhos em frente à Marion e em um último esforço tenta agarrá-la e afogá-la na lama. Por alguns segundos ele consegue, mas Marion escapa lisa, como um peixe de suas mãos. Grendel fica a procurando sem acreditar como ela escapou. Algar então enlouquecido pula nas costas da criatura semi morta e a mata com uma martelada certeira em sua nuca quebrando os ossos da base do crânio.

O sangue negro da criatura sai por sua cabeça e se mistura à água. Grendel se mexe, mesmo morto, em espasmos. Ashhere cumprimenta Algar com um aceno de cabeça. Sir Enrick levanta meio tonto e com os braços arranhados e vai ver Caulas caído longe do lugar onde ocorreu o combate.

Sir Enrick: “Como está garoto?”

Caulas: “Sigam em frente. Estou muito ferido. Devo ter quebrado os braços, talvez algumas costelas e uma das minhas pernas. Eu fico aqui! Deixem minha espada e meu escudo! Salvem Oswalt.”

O Covil de Grendel:

Então finalmente saindo da bruma que cobre o Pântano eles chegam do outro lado. O sol está no crepúsculo e as sombras começam a cobrir o desfiladeiro. Existe uma caverna logo à frente. Eles acendem tochas. A sua entrada cheira a bosta e lixo. Pedaços de carne e ossos putrefatos estão jogados pelo chão. Não se pode distinguir se são de pessoas ou animais. Aranhas do tamanho de ratos andam pelas paredes tecendo teias. E alguns morcegos voam passando perto de suas cabeças. Existe uma piscina no fundo do salão com o teto cheio de estalactites. A água ali dentro é mais limpa. O lago desemboca em uma entrada menor dentro da água.

Arina fica vermelha e muito irritada. Ela dá o seu martelo de guerra para Algar com os olhos baixos.

Arina: “Lort! Lort! Idiot! (Merda, Merda, Idiota!) Eu não sei nadar! Podem ir, vou voltar e ficar com Caulas!”

Barão Algar: “Está certo! Mas tenham cuidado lá Arina.”

A guerreira vicking assente com a cabeça e sai da caverna.

Então os heróis se preparam para a travessia da caverna submarina. Algar é o primeiro. Ele caminha com água até a cintura e quando chega na abertura mergulha. Ele atravessa uma passagem estreita guiado por uma tênue luz debaixo da água. Por um momento parece ter se perdido mas tocando as paredes de pedra o Barão acha o caminho certo e sai do outro lado.

O segundo a mergulhar na caverna submarina escura é Sir Enrick que arrisca usar a sua armadura pesada para nadar. Ele entra na caverna. Com dificuldade ele acha o caminho para sair, mas logo na saída ele se perde. O Flecha Ligeira segura o fôlego tentando descobrir por onde deve ir. No último instante ele consegue ver a luz em meio a água escura e sai do outro lado.

Marion mergulha, logo na entrada da caverna submarina ela se vê em meio a escuridão. A guerreira fica tensa. Ela vai cansando e sente a água invadir os seus pulmões. Com grande probabilidade de se afogar Lady Marion começa a sentir que pode ficar presa ali e morrer. Até que a guerreira olha para a sua esquerda e acha a saída para o outro lado.

Ashhere e Unferth chegam logo depois dos heróis. Quando eles erguem um pouco a cabeça para fora da água vêem uma fogueira. Centenas de ossos se espalham pelo chão. Armas, armaduras e escudos estão jogados ali enferrujados. As paredes de pedra manchadas de sangue e o chão está cheio de urina e fezes. Restos de Valos estão jogados no meio da caverna. A cabeça aberta sem cérebro com os olhos para cima e a língua branca para fora. O tronco ainda com a parte das costas inteiro com os ossos da costela abertos se projetando pra fora com nacos de carne por entre eles. Parece que a fera tirou o intestino e jogou em uma pilha que fervilha de vermes brancos no canto oposto.

Oswalt está perto dessa pilha jogado no chão não se sabe se vivo ou morto. Uma criatura branca, cadavérica, com cabelos grisalhos longos saindo da lateral da cabeça grudentos e calva em cima, com seios muxos, está abaixada no cadáver de Valos, imunda e nua, com a boca cheia de carne humana crua e sangue que verte do coração do vicking em suas mãos. Suas unhas estão pretas cheias de sangue coagulado. Ela é duas vezes mais alta que um guerreiro normal. Ela tem uma faca em suas mãos que usa pra cortar o cadáver e comer. Na verdade é uma espada curta vicking.

Então ela vê os guerreiros observando da água e vira o pescoço rápido em alerta soltando um silvo agudo e estridente. A mãe de Grendel fica agachada e os aponta a faca. Depois, muito rápida, salta para trás e vai caminhado de ré em direção ao fundo da caverna. Então ela pega uma bola de couro que estava em uma algibeira ainda no pescoço de um cadáver e atira neles. Num piscar de olhos ela arremessa uma tora em chamas que cai em uma mancha oleosa de fogo grego que flutua na água. Uma bola de fogo incandescente ilumina a caverna escura. Algar é queimado nos braços de raspão. Mas Unferth é atingido em cheio. A criatura urra com um grito estridente e gira sem rumo, insana pela caverna. O vicking se debate e se joga desesperado na água berrando de dor. O cheiro de carne queimada invade o lugar. O corpo flutua com a pele se descolando dos ossos com o impacto do corpo quente na água gelada. Unferth está morto boiando de bruços.

Barão Algar: “Desgraçada! Morra!”

Algar corre da água seguido por seus amigos e acerta um golpe na panturrilha da Troll que grita. Mas ela é rápida e dá um tapa, com a parte de dentro da mão, no Barão. Algar rola batendo nos cadáveres e ossos espalhados no chão e sente a sua cabeça bater na rocha dura. Ele olha o teto cheio de estalactites e desmaia. Marion contorna a mãe de Grendel. Escapa das unhas afiadas da criatura e esmaga suas costelas. Sir Enrick tenta se aproximar, mas a criatura pega um pedaço de lenha da fogueira e atira nele. A madeira em brasa bate em seu peito com tanta força que com o impacto joga faíscas para todos os lado derrubando o Flecha Ligeira de encontro a parede. A dor do impacto é tamanha, somada aos ferimentos sofridos pelo herói que ele também cai inconsciente.

Ashhere Herlews salta no ar com o seu martelo mas a Troll é mais rápida enfiando as unhas em sua barriga. A armadura é transpassada e o sangue brota escuro. O vicking cai de joelhos e a mãe de Grendel acerta de baixo para cima, com o punho esquerdo, o queixo do guerreiro que é jogado num canto do salão.

Marion está sozinha. Seus companheiros caídos ao redor. A Troll ferida e encolerizada salta em sua direção tentando chutá-la. Marion salta e rola pela pedra conseguindo se posicionar ao lado da Troll. A guerreira novamente golpeia com o martelo acertando a bacia da criatura que cai com o forte golpe. O corpo da Troll treme inteiro com o ferimento. Ela se debate no chão e se mija e uiva naquela imundice. Provavelmente sua bexiga foi furada por algum osso quebrado. Sua bacia deve estar esmigalhada. Ela tenta levantar mais desaba gritando com sangue saindo pela sua boca. Ela olha para o teto e parece cantar uma melodia sinistra e se curva e se levanta, se curva e se levanta... A criatura tem lágrimas nos olhos. Marion, em frenesi da batalha, começa a recitar o encantamento de Avalon:

“Morte e vida, gira a roca, o destino escreve assim
As fiandeiras vão tecendo os caminhos de carmim
Me perdoe meu irmão se te levo dessa vida
Que a deusa te receba e que cure sua ferida
Viveremos em outros tempos, tão perdidos na memória
E poderá cobrar de mim e escrevermos nova estória”

Então a mãe de Grendel tenta pegá-la mas está sem força. Marion no peito da criatura deitada e com uma força descomunal golpeia com o martelo. Não se sabe quanto tempo ela continua a golpear. Mas, no final de tudo a cabeça da Troll está desfigurada em uma maça de ossos, sangue negro e miolos espalhados por toda a caverna.

Quando Marion sai de seu frenesi deixa o seu martelo cair da mão e vai até Ashhere. O guerreiro senta segurando seu ventre e faz uma careta de dor.

Ashhere Herlews: “Me ajudem por favor! Dói muito!”

Quando ela vê o abdômen de Ashhere percebe que as quatro perfurações das unhas infectadas são profundas e mortais. Ele vai ficando branco, começa a tremer e a suar frio. Então dá um suspiro e ele vira os olhos e sua cabeça cai para o lado e seus olhos ficam fixos, sem vida. Marion se lamenta e vai até Sir Enrick, seu marido. Ela o ajuda a sentar e ajuda a recobrar os sentidos lentamente, enfaixando seu braço ferido. Algar também é assistido pela guerreira que enfaixa a sua cabeça e cuida de suas queimaduras.

Ela se aproxima de Oswalt deitado no chão. Ele respira e está amarrado e amordaçado com cipós. Marion nota que ele não tem mais os dois dedos da mão esquerda e uma das orelhas. Oswalt fica em silêncio quando é desamarrado. Ele está em choque. Seu braços, rosto e pescoço estão arranhados por ele ter sido arrastado pelo chão da caverna.
Oswalt tremendo: “Vamos embora daqui! Vamos embora...”

Algar usa a fogueira da Troll morta e faz uma pira queimando o corpo de seu primo Ashhere Herlews. Depois de algum tempo e de recobrarem as forças eles partem daquele lugar maldito. Antes de saírem pela caverna submarina Oswalt olha para trás e observa o lugar com tristeza. Ele cospe para afastar o mal e entra na água. Os heróis já sabem como voltar pelo caminho submerso e chegam com facilidade do outro lado da caverna submarina. Saem dali e chegam em uma das trilhas do Pântano onde está Caulas e Arina. Ao redor deles existem umas oito serpentes marinhas, como aquelas que os atacaram no mar. Os dois guerreiros estão um apoiado nas costas do outro. A espada curta de Arina suja de sangue azul marinho e os dois comem tranquilamente os pães que a guerreira trouxe em sua algibeira presa na cintura e tomando Hidromel de seu alforge.

Arina: “E os outros?”

Barão Algar: “Estão mortos.”

Arina: “Odim nem sempre é justo! Aqueles que não retornaram estão nos salões comemorando a essa hora. O que é para ser, já foi tecido! O destino é inexorável.”

E escorre uma lágrima de seus olhos. Caulas mesmo sem poder se mexer com uma das pernas quebradas dá a mão para Oswalt de pé à sua frente.

Caulas: “Bom te ver novamente Oswalt!”

Oswalt: “É bom estar vivo amigo. Me faltam alguns dedos mas ainda posso levantar um escudo.”

Caulas: “É bom mesmo! Arina teve trabalho mas ela luta melhor que o Bag!”

Arina: “Quem é Bag?”

Sir Enrick: “Um grande guerreiro de nossas terras.”

Arina mexe os ombros meio confusa. Eles fazem uma maca com cordas trançadas e galhos para remover Caulas. Antes de partir Algar arranca um dente do cadáver de Grendel. Uma das trilhas que eles seguem leva à uma outra caverna. Na verdade um túnel que sai do outro lado na praia. Grievous está ali embaixo, sujo de lama e sal do paredão, os esperando, se lambendo na porta, junto com a norueguesa Saral.

Oswalt agradando o bicho: “Achou um caminho é?”

O leão pede carinho para o escudeiro. Eles andam com água pelos tornozelos e saem na praia de areia negra e cascalhos. O mar mexido com o vento soprando forte e encrespando o mar de cor cinza abaixa um pouco a temperatura.

Arina: “Vamos pela costa.”

Eles caminham horas pela praia. Cai o crepúsculo, a noite fica escura, cansados e exaustos eles seguem até o amanhecer sem dormir. Até que avistam a falésia onde foram achados pelos guerreiros do Rei. Eles sobem, passam novamente pelas plantações e vêem a muralha circular de pedra subindo a trilha até a colina. No alto eles podem ver o grande salão do Rei Hrothgar com o telhado de ouro reluzindo ao sol. Os sentinelas soam a trombeta e os moradores do assentamento correm para os receber. Na frente vem o Rei Hrothgar e atrás os seus poucos guerreiros. Dwyfor só com a parte de cima do braço embrulhado em um tecido os acena com a única mão que lhe sobrou. Yrmenlaf, o poeta do Rei, está ao lado dele. Ao lado direito do Rei a bonita rainha Wealhtheow de braços dados com ele. Hrothgar olha melancólico mas satisfeito.

Hrothgar: “Vejo que nem todos regressaram.”

Os heróis assentem com a cabeça.

Hrothgar: “Estão junto de seus antepassados agora. Melhor que todos nós. Sentiremos a falta deles e celebraremos os seus nomes. Ashhere e Unferth serão lembrados como heróis da Dinamarca e suas famílias viverão em fartura até o resto de suas vidas. O destino está escrito, melhor o encontrarmos com o aço em nossas mãos.”

As mulheres e filhos dos guerreiros emocionados se curvam diante do rei.

Barão Algar: “Grendel e sua mãe estão mortos. Seu povo está livre para viver em paz majestade. Está aqui o dente do maldito para lhe provar.”

Todos suspiram espantados quando vêem aquele pedaço marrom e mau cheiroso, na forma de um quadrado todo irregular do tamanho de uma espada curta, nas mãos do Barão.

Hrothgar: “Até ontem, eu duvidava que nossas aflições iriam ser remediadas. Pelos menos durante o meu tempo de vida. Mas esses guerreiros nos defenderam contra nosso mau. Não tenham dúvida que iremos honrá-los, com o nosso tesouro. Vocês escreveram o seu nome na história da Dinamarca. Vocês pelos seus atos e pelas as suas próprias mãos serão coroados com a honra eterna. Devemos pedir ao Pai Odim suas bençãos sobre vocês! Como os Deuses nos sorriram duas vezes, trazendo a tempestade com os heróis aos portões de Heorot e fazendo com que esses heróis acabassem com o horror que nos assombrava todas as noites, eu gostaria de lhes recompensar.”

Ele bate palmas e dois guerreiros vem carregando um baú. O Rei o abre. Existem seiscentas libras em barras de ouro no baú.

Hrothgar: “Algar como é filho de nossa terra. Na praia onde foram achados deixei um presente para você. Um Drakkar. Não esqueça de tirar o lobo que mandei esculpir para colocar na proa quando estiver próximo da terra firme, não queremos espantar os espíritos. Levará toda a tripulação com você. São bons homens. Imbatíveis no mar. São cinquenta hábeis remadores e guerreiros Dinamarqueses. Suas famílias os seguirão para Britânia em outro barco. Ajoelhem-se guerreiros! Sir Enrick, Lady Marion eu os ordeno Karls e serão considerados nobres e heróis respeitados por toda Thule.”

São entregues braceletes dourados para cada um de vocês com runas desenhadas simbolizando Odim.

Hrothgar: “Demônio do Norte! Barão da Britânia! Filho de Odirsen I Herlews! Filho da terra onde o gelo eterno vive. Lugar onde Reina Odim e seus filhos. Onde o céu se ilumina com a Aurora Boreal quando as Valkirias vestem as suas armaduras e onde o trovão tem o poder do martelo. Em Thule para sobrevivermos é preciso viver como um lobo e pensar como um lobo. Pois, aquele que na sua essência é um lobo aqui prevalece. Algar lhe concedo o nosso título máximo de protetor de Zealand e com grande honra lhe ordeno, Beowulf da Dinamarca!”

Todos aplaudem entusiasmados enquanto o Rei recebe uma pele de lobo branco de um escravo e cobre Algar que ergue a sua cabeça e vê, contrastando com o céu cinza, dois corvos voando por cima do assentamento.

Arina: “Amigos gostaria de lhes pedir uma coisa! Se me aceitarem, chegou a hora de eu conhecer a terra verde dos celtas. ”

Sir Enrick: “Não precisava nem pedir Arina! É claro que é bem vinda!”

Hrothgar: “Mas filha...”

Ela se ajoelha diante do rei e pega a mão de Hrothgar.

Arina: “Pai, não era para eles saberem. Não quero ser tratada diferente. Chegou a hora de seguir meu caminho e conquistar a minha glória em nome do aço e de Odim.”

Hrothgar: “Então vá guerreira e só volte coberta de glória e ouro!”

Arina: “Sim meu pai!”

Barão Algar: “Majestade. Um dia o sangue Dinamarquês foi embora com meus antepassados para a Britânia e um dia o seu sangue real retornará, coberto de feitos e glória para a Dinamarca.”

Então Hrothgar levanta a sua filha curvada diante dele. Ela abraça o Rei e depois se curva fazendo uma reverência a rainha.

Naquele mesmo dia os heróis partem da Dinamarca. Do Barco eles vêem em cima da falésia os Dinamarqueses os acenando, com os lobos cinzas entre eles, enquanto o vento sopra. Algar antes de entrar no barco olha na areia e vê algo brilhando. Enterrada no cascalho negro coberta pelo mar raso, em meio a maré baixa, está Gungnir, a sua lança sagrada.

Barão Algar: “Aí está você! Vamos voltar para casa.”

Antes de subir a bordo Algar beija na boca de Saral se despedindo dela. Assim o barco viking, no final do verão, parte rumo a Britânia levando os heróis. Eles ainda viram uma última vez a aurora boreal, os blocos de gelo e as focas do mar do norte. Dois mil anos depois os Dinamarqueses e homens de outras terras ainda contam a lenda de Beowulf escrita pelo poeta do Rei Hrothgar, Yrmenlaf. Algar nunca mais retornou a Dinamarca.