terça-feira, 23 de abril de 2013

Aventura 34: A Batalha de Tintagel: Ano 508






No ano 508, os Celtas podem colher as vitórias obtidas por sua aliança com o Rei Nanteleode de Escavalon. Os feudos começam a se recuperar dos doze anos de domínio saxão. Com a população bem alimentada as doenças não se espalham. Os aldeões que fugiram retornam as terras. As milícias podem ser mais uma vez treinadas. Com dois reis saxões mortos, Cynric de Wessex e Aethelswith de Essex, no último ano, novos ares começam a soprar na Bretanha. 

FEUDO TISHEA: 1 Mês antes do Beltane

Os dias tornam-se mais longos. O sol descongela o solo e a terra alagada se torna fértil novamente. Nessa época os aldeões começam a arar as terras ao redor dos castelos, nas encostas e nas terras planas. 

Os escudeiros Brian e Bernard, filhos respectivamente do falecido Barão Algar e de Sir Enrick, foram para a Tishea e aguardam instruções de seus senhores, para se juntarem novamente ao exército de Nanteleode. 

Mais de duas mil pessoas vivem no feudo nessa época. São as esposas e filhos pequenos dos nobres de Logres que vieram buscar a proteção das muralhas de Tishea. 

Um dos tesouros da Britânia, o local do Caldeirão de Clyddno Eddyn, na colina onde está o carvalho sagrado, virou ponto de peregrinação, no meio do bosque de caça.

O treinamento não para no pátio central. Mestre Einion, com o seu tapa olho, vestido todo de preto, com os seus cabelos brancos amarrados por uma fita e barba por fazer, comanda os escudeiros em escaramuças contra a milícia do castelo. O treinamento ocupa os rapazes o dia inteiro.

Mestre Einion: “Vamos seus molengas, golpeiem esses bonecos com vontade! Estão pensando que isso é brincadeira? Se não estiverem em forma serão mortos como galinhas! Lutavam com mais vontade quando eram jovens. Será que tenho que jogá-los no Caldeirão para virarem crianças novamente? Já chega Robert não ter vindo treinar porque está há três horas trancado no quarto discutindo com a Condessa, querendo o trono de Sarum antes da hora. Já chega! Quero que aprendam uma coisa. Me ataque Brian!” 

O mestre saca a sua espada e deixa os braços caídos com a guarda baixa. Brian o golpeia. Somente com um pequeno movimento ele desvia e pisa nos pés do garoto, o mantendo imóvel. Brian tenta achar espaço para golpear e não consegue. Mestre Einion gira a espada, por cima da cabeça, e acerta o elmo na lateral da cabeça do rapaz que sente a sua visão escurecer e cai sentado no chão vendo tudo rodar.

Mestre Einion: “Agora você, Bernard. Já é um homem então lute como um.” 

Bernard observa e sente que o mestre irá tentar um truque e chuta areia no rosto dele. Einion abaixa a cabeça e consegue prender a espada horizontalmente por trás do escudo de Bernard. O rapaz fica preso se debatendo até que o mestre o empurra e ele cai sentado no chão. 

Mestre Einion: “Agora você pode tentar desestabilizar o seu inimigo, quer ver? Já pensou como os saxões de Cerdic se divertiram com a sua mãe em Hantone, bastardo?” 

Bernard fica indignado e louco se levanta tentando atingir o mestre a qualquer custo. Mas a espada do mestre ergue alta e o golpe o atinge forte, bem no meio do balde de madeira que ele costuma usar como proteção, desde pequeno, que se estilhaça em vários pedaços. Bernard sente sua visão turvar e cai sentado no chão. Ele tenta se levantar mas o golpe foi muito forte e ele cai novamente na areia branca do pátio do castelo.

Mestre Einion: “Já chega garotos. Desculpe meu rapaz! Não esqueçam. Tirem vantagem de tudo o que puderem ou vão comer capim pela raiz. Te mantendo vivo te mantenho com a oportunidade de achar a sua mãe um dia... Não me leve a mau garoto. Agora vá até a forja e peça ao ferreiro Óengus que te ajude com o seu elmo. Brian, se recomponha rapaz e vá se lavar. Eu disse rápido!” 

ELMO DE BERNARD:

Bernard vai até o ferreiro. Um homem velho de barbas brancas longas e forte como um touro, curvado pelo tempo. 

Enquanto ele pega os pedaços do balde e coloca uma chapa de metal na forja o ferreiro observa Bernard.

Óengus: “Aperte os foles Bernard. Sabe, rapaz, se apegar à um balde não é bom, não... Nada bom! Mas já que insiste garoto. Sabia que o elmo, com a cabeça de bode, de Sir Amig foi um trabalho feito por mim? Vamos fazer assim, preciso que me ajude a martelar. Desse jeito faremos o elmo na metade do tempo.”  

O ferreiro Óengus e Bernard martelam o elmo moldando a sua forma aberta no aço quente. Então os dois escutam um som de alguém cantando e olham do interior da construção de pedra abafada, pela fumaça, alguém se aproximar. Então, eles vêem o Padre Carmelo caminhando feliz para perto das colmeias, usando a sua touca de couro de criador de abelhas. Ali próximo existem os barris para fermentar hidromel. Quando o Padre se aproxima um enxame de abelhas levantam vôo. Primeiro Carmelo se assusta mas rapidamente ele abaixa uma máscara com uma rede, presa no topo da touca, e continua a cantar feliz e a colher os favos de mel. Enquanto isso as abelhas tentam atacar o seu rosto batendo, sem sucesso, na proteção fechada de tela.

Óengus: “Vamos garoto passe aquela chapa fria. Acabo de ter uma grande idéia. Se cortarmos e adaptarmos, imitando o encaixe das alças do tal balde, você terá um elmo que possa abrir e fechar. A proteção será maior. Vai enxergar pior. Mas é melhor tomar um golpe direto e sobreviver do que se mover rápido e no primeiro golpe ser morto.”

BARONESA ADWEN:

O Druida Mylor, o jovem Barão Brian, filho do finado Barão Algar e Sir Enrick estão no salão de banquetes do grande castelo de pedra de Tishea. Sir Enrick está particularmente chateado já que seu pai de criação, Gondrick Stanpid, morreu no último inverno. As portas do grande salão se abrem e a Baronesa Adwen entra no local. Ela vem apoiada em um cajado e do outro lado é aparada pelo comandante da milícia do Barão Brian; o sargento Hagen que faz uma vênia, enquanto coloca a Baronesa sentada perto do fogo da lareira.

Baronesa Adwen: “Meu filho! Me dê um abraço.” 

Imediatamente Brian abraça sua mãe por longas batidas do coração.

Baronesa Adwen: “Eu vim para os ritos de Beltane. Está cada vez mais difícil presenciá-los. Parece que os tempos difíceis estão varrendo a religião antiga. Muitos estão se voltando ao novo Deus. Vocês sabem que esse corpo tem me feito sofrer demais. Depois da morte de Algar perdi a vontade de viver. Ter me perdido nas brumas de Avalon, em busca de ajuda para o seu pai, foi um custo muito alto para o meu corpo. Meus poucos anos de juventude foram substituídos por esse corpo velho. Tenho falta de ar e dores em minhas juntas. Sinto a morte próxima meu filho e nem quarenta primaveras eu vivi.”  

Mylor parece parar um instante e pensa enquanto brinca com os rubis, que enfeitam a taça de estanho.

Druida Mylor: “Barão! Posso tentar algo que os antigos fizeram. Mas é preciso, pela tradição, que peçam para que eu possa ajudá-la e que me digam como.”

Barão Brian: “O Caldeirão de Clyddno Edin! Pode ser usado? Ele reverteria o feitiço das Brumas que envelheceram minha mãe?”

Druida Mylor: “Vocês sabem que qualquer magia envolve uma troca. Não podemos usar a energia da terra sem devolvê-la. Entendem o que eu quero dizer?”

Sir Enrick: “Ele está falando que será necessário um sacrifício Brian!”

Barão Brian: “Será preciso que alguém possa oferecer a sua vida espontaneamente?”

Druida Mylor: “Não! O que importa é a sua força vital.”

Baronesa Adwen: “Isso é possível? Eu não sei se aguento muito tempo. Nunca vi alguém com idade tão avançada quanto a minha. Meu corpo parece um tronco de árvore seca.” 

Sir Enrick: “Então ofereço um dos meus maiores inimigos. Beothric, o Rei aleijado, que está preso nas minhas catacumbas há 5 anos. É hora dele pagar as suas dívidas.”

Druida Mylor: “Sim, no Beltane podemos tentar! O Caldeirão de Clyddno Eddyn pode nos ajudar. Pelo menos é o que as tradições contam. Mas há milhares de anos que ninguém tenta usá-lo dessa forma e terei que ter a sua ajuda e de alguém do sangue da Baronesa. Então comece a se preparar desde já, Brian. Jejuando e meditando. Precisarei de suas energias também, Sir Enrick. Peço a sua autorização para cortar lenha, Senhor! Toda que puder ser derrubada nessa lua.”

Sir Enrick: “Permissão concedida Druida.”

Então, após um mês, chega o Beltane: o primeiro dia da primavera. Os comuns com bonecos de palha, levados em hastes de madeira, caminham pela lavoura. As garotas virgens despejam leite com jarros de barro, na terra remexida pelo arado e rezam para a Deusa. Pilhas e mais pilhas de toras, tão altas quanto a muralha de Sarum, são aglomeradas e untadas com piche por toda a extensão do feudo. Os Aldeões dançam, bebem e fazem amor pelos campos. Os nobres vêem tudo do alto da muralha do castelo. Quase não sobrou uma árvore no bosque. Tudo foi posto abaixo. Então, eles vêem Arina e Sir Bag, com o dorso enfaixado e bem magro, chegando para a festa. O Cavaleiro escapou da morte após ter se ferido em batalha e se afogado num pântano no último ano.

Sir Bag: “Olhem só os meus escudeiros favoritos! Bernard e Brian, me dêem um abraço. Feliz Beltane! Gurizinho e o Pimenta, cheguem aqui. Sentem aí... Ah, não sei se já conversaram com vocês sobre isso. Vocês já, atacaram o calabouço? Penetraram a parede de escudos? Colocaram a excalibur na pedra? Em bom galês, comeram alguém, porra?”

Barão Brian: “Como assim?”

Sir Bag: “Já viram as cabras?”

Bernard: “Comendo capim?”

Sir Bag: “Não é nada disso... É só fazer a mesma coisa. Montar na moça, como as cabras fazem! Estão com barba, já fedem igual à homens, então está na hora. Vocês vão adorar... é gostozinho. Aproveitem! É Beltane, vão e não me voltem aqui sem ter guardado a espada na bainha. Se é que vocês me entendem.”

Os garotos saem pelo feudo em busca de garotas. Mas nem a bebida lhes deu coragem suficiente. Bernard com a paixão de infância na cabeça e Brian mais interessado nas comidas servidas nas cornucópias espalhadas pelo campo, passam a noite sozinhos. 

Próximo a metade da madrugada o Druida chama Brian para o ritual principal. Todos os nobres se reúnem nas muralhas para observar. 

Druida Mylor: “Precisávamos chamar a atenção dos Deuses. Eles precisam olhar para nós para a magia funcionar. A cada ano a magia, junto com Avalon, caminha mais para dentro do véu. Mas hoje parece estar tudo perfeito. A lua nova totalmente escura é perfeita para magias de renovação.” 

Lá embaixo alguns animais são levados para o centro de um caminho feito de toras no meio do bosque. Um casal de cavalos, outro de carneiros, um boi e uma vaca. Um garoto segue na frente os puxando. Ele está pintado de azul, sem roupas, carregando uma tocha. 

Sir Bag: “Meu menino!”

Alguns aldeões tocando tambores aumentam a intensidade das batidas. Uma centena de pessoas dançam ao redor. Quando o garoto e os animais chegam no centro, onde as toras foram dispostas, Mylor faz uma vênia com a cabeça. Com um sorriso sereno no rosto, a tocha cai incendiando as toneladas de toras cobertas de piche. O fogo se espalha para todos os lados e uma espiral celta envolvendo todo o bosque explodindo em chamas gigantescas surge no lugar das toras. Nunca eles tinham visto algo tão grandioso. Todos ficam excitados gritando e dançando, vendo o mundo girar, enquanto os animais e o rapaz são consumidos pelas chamas que atingem seis metros de altura, iluminando as nuvens. Sir Bag observa com lágrimas nos olhos.

Sir Bag: “É uma honra poder ajudar a sua esposa Algar... Onde quer que você esteja amigo.”

Druida Mylor: “A Deusa será eternamente grata, Sir Bag. Tudo está pronto. Vamos até o Caldeirão de  Clyddno Eddyn.”

Adwen caminha curvada com a ajuda de um cajado. Atrás vem Brian e Sir Enrick carregando o Rei saxão prisioneiro Beothric, nos ombros. Eles descem para o pátio do castelo e seguem para o bosque sagrado. Eles caminham pelo escuro sobe a luz das tochas. Ao longe os tambores tocam. Os azevinhos, tílias e salgueiros balançam com a leve brisa. As rosas e orquídeas enchem o ar de perfume. Então eles chegam no alto da colina sagrada. Ali existe o enorme e antigo carvalho no topo. Espirais celtas estão esculpidas em seu tronco milenar. O vapor parece emanar de sua base.

Um alçapão camuflado com terra e folhas é aberto. O cheiro forte faz todos lacrimejarem. Uma escada de madeira leva para o interior da colina. 

Druida Mylor: “Venham!”

Uma tênue luz vermelha surge no final da passagem e um corredor estreito. Eles o atravessam. Mesmo com a pouca luz eles podem perceber que este salão, onde estão, é circular e em forma de abóbada. No teto, de três metros de altura, está pintado um céu estrelado e em cima existe uma roda de prata com oito raios saindo dela do mesmo metal. Eles refletem uma cor incandescente vinda do chão de pedra onde existe uma espiral celta esculpida do diâmetro do salão. Muitos pontos das paredes já caíram com as raízes do carvalho acima invadindo o salão. No centro da espiral o pequeno poço de lava fumegante irradia um intenso calor. A fumaça e o cheiro forte os deixam tontos fazendo com que os seus braços e pernas pareçam formigar. A sensação de entorpecimento e calma turva a visão.

Druida Mylor: “Tragam Beothric!”

O saxão tenta não ser levado e se debate, chora e grita. Brian fica com pena dele por um instante. O Druida Mylor pega algumas ervas maceradas, em uma cumbuca de cerâmica, e enfia goela abaixo de Beothric, o homem responsável pela morte da mãe e a cegueira do pai de Sir Enrick. O saxão vai ficando com o corpo mole e os olhos fixos. O Druida pega a mão de Adwen e a amarra na dele. Ele são levados até o centro do templo subterrâneo, próximo do caldeirão. 

Druida Mylor: “Brian, trace um círculo mágico com a sua adaga ao redor da espiral.”

O Druida coloca uma coroa de flores do campo na cabeça de Adwen. 

Druida Mylor: “Ajoelhem-se Adwen e Beothric, perante a mãe e ao pai!”

No fundo da caverna existe uma pintura rupestre do deus e da deusa. Mylor pega um recipiente de prata com um gamo gravado, ao lado de Cernnuno e da Grande mãe, e o leva até Brian. 

Druida Mylor: “O útero da Deusa. Despejem a água do poço sagrado aqui. Só esse item sagrado resiste ao calor do caldeirão. Qualquer outro se derreterá se for posto ali.”

Brian, despeja toda água de seu bornal, coletada no posso sagrado de Glastonbury. Em seguida, o Druida vai até a boca fumegante de lava e o coloca em cima de uma pedra central. A radiação do calor e a fumaça se misturam a água sagrada. O Druida, usando a meia lua de prata afiada, corta a palma da mão de Adwen e depois de Beothric, que delira. O Druida colhe o sangue dos dois e o mistura. Depois com a lua de prata corta uma mecha de cabelo cinza da Baronesa e outro negro de Beothric. Ele os entrelaça e junta tudo no cálice. Então ele levanta a foice ritualística  diante do caldeirão.

Druida Mylor: “Ergam as mãos e limpem os pensamentos.”

Druida Mylor: “OH, DEUSA DE TODAS AS COISAS SELVAGENS E LIVRES, A TI EU CONSAGRO ESTE CÍRCULO. ABENÇOADA SEJA A PRIMAVERA, PARA ELA EU CANTO ESTA PRECE DE AMOR EM NOME DE ALGAR HERLEWS A SUA ESPOSA ADWEN HERLEWS. OH, DEUSA, TORNE VERDE AS FLORESTAS E OS PRADOS. OH, DEUSA DA NATUREZA, A SENHORA REINA SUPREMA. NESSA NOITE DE LUA NOVA QUE RENOVARÁ O MUNDO EU LHE INVOCO PARA RENOVAR A VIDA.” 

Sir Enrick parece ter visto Algar, ao fundo caminhando nas sombras, vestido como um Senhor da Guerra acompanhado de seus mastins. Então o Druida Mylor joga a taça com o sangue e os cabelos entrelaçados na lava do caldeirão. 

Druida Mylor: “MUDAM OS CICLOS, VOLTAM AS ERAS, GIRA O TEMPO PARA TRÁS! NOVA   VIDA, VOLTA A RODA E A IDADE SE DESFAZ! MUDAM OS CICLOS, VOLTAM AS ERAS, GIRA O TEMPO PARA TRÁS! NOVA  VIDA, VOLTA A RODA E A IDADE SE DESFAZ! MUDAM OS CICLOS, VOLTAM AS ERAS, GIRA O TEMPO PARA TRÁS! NOVA VIDA, VOLTA A RODA E A IDADE SE DESFAZ! MUDAM OS CICLOS, VOLTAM AS ERAS, GIRA O TEMPO PARA TRÁS! NOVA   VIDA, VOLTA A RODA E A IDADE SE DESFAZ!”  

E tudo vai ficando mais intenso enquanto o Druida recita o mantra. O templo fica cercado de sombras. A visão parece girar. Tudo parece tremer. Eles vêem estrelas nos céus tão antigas quanto a fundação da terra se movendo na abóbada pintada. Vêem gelo, rios, fogo, pedras caindo do céu em um grande mar sem fim. Todos em transe pulsam e mexem seu corpo no mesmo ritmo, cada vez mais intenso. O Druida vai até o caldeirão e pega o recipiente de prata com as mãos desnudas. Não parece estar quente, mas a água está fervendo. 

Ele despeja todo o conteúdo em Adwen que grita com as mãos no rosto: “Aaaaaaaaaa!”

Druida Mylor: “Beothric, volte para a Grande mãe e cruze com o seu corpo sombra a ponte de espadas. Que sua doação sirva e pague os seus tributos por uma vida escura. Que você encontre seus ancestrais e a paz! Que assim seja!”

Druida Mylor: “Agora Brian! Mate Beothric!”

Brian saca a sua espada e golpeia. Nesse momento a lâmina dilacera o pescoço do Rei saxão arrancando sua cabeça. O sangue fresco voa manchando a parede e os rostos de todos.

A espiral se encher de sangue com os caminhos desenhados no granito. A energia é tão intensa que explode como se fosse uma bolha invisível parecendo lhes roubar o ar dos pulmões... Tudo escurece. 

O JURAMENTO:

Início do verão, dois meses depois:

É manhã de verão na Britânia. Milhares de pessoas lotam as estradas até as ruínas de Grovely, no caminho para o forte Vagon, a oeste de Sarum. Uma longa fila contorna a estrada cheia de mato que circula a colina. A Baronesa Adwen, está linda e ruiva, com a aparência de dezoito anos. Ela segue ao lado de Brian parecendo sua irmã. Sir Oswalt, ladeado por Gawaine, seu escudeiro. Bedivere, o escudeiro belo, com uma mão de ferro, ao lado de Lady Marion e Deverell escudeiro do Marshall de Logres: Sir Enrick, seguem carregando seus estandartes. O Padre Carmelo, o Druida Mylor e o sobrinho Breno com  dez anos, filho de Oswalt, não desgruda de Sir Enrick imitando tudo que o tio faz. Nínive, a Senhora de Avalon, está presente com seus arqueiros e algumas iniciadas da antiga religião. Bernard segue ao lado de seu pai.

Pedras e arbustos atrapalham a cavalgada. Eles circulam, lentamente, a colina até o topo das ruínas do castelo. Então, entram no pátio cheio de pedras caídas. O foço soterrado de pedras é ladeado pelos lanceiros usando as cores de Nanteleode, amarelo e vermelho. Os brasões de Logres e do Rei de Escavalon tremulam no alto da muralha semi destruída. Lá dentro o pátio está lotado de nobres. A base da colina também está cheia de pessoas do povo. Nanteleode e sua Rainha Erlina estão sentados em tronos improvisados em um elevado. A Condessa Ellen está sentada ao lado deles, junto com o Conde Robert, em outros dois acentos iguais. Uma ama, segura pelas mãos, o filho  do finado Sir Léo, morto de peste no cerco de Londres, e da Condessa Ellen: Dragonet, com dois anos de idade.

Condessa Ellen: “Há exatamente 10 anos eu recebi esses homens aqui mesmo em Grovely. A maioria infelizmente já não estão entre nós. O Barão Algar Herlews se foi, e foi ele quem jurou os seus homens para protegerem meu filho. E hoje o seu filho Barão Brian Herlews está aqui o representando. O Marshall, sua esposa Lady Marion e seu irmão Sir Oswalt assumiram o comando militar de Salisbury. Sobrevivemos com o sacrifício de todos vocês. Foi aqui que falamos pela primeira vez em um novo país. Na Britânia de todos os povos. Um Sonho de Conde Roderick e do Grande Rei Uther.”

Ela se levanta com o Conde Robert, com dezessete anos, pelas mãos e se ajoelham diante de Nanteleode. Todos os presentes repetem o gesto.

Condessa Ellen: “E é com muita alegria que juro lealdade e disponho minhas armas, meus cavaleiros, meus soldados e o povo de Salisbury para te servir: Rei Nanteleode de Escavalon.”

Rei Nanteleode: “E eu de minha parte Senhora e Conde, me comprometo a continuar defendendo Salisbury e trazendo dias mais iluminados aos Britânicos.” 

Conde Robert: “Só faço um pedido Majestade...”

Condessa Ellen: “Não, filho...”

Rei Nanteleode: “Deixe ele falar Ellen. O que é meu jovem?”

Conde Robert: “Me dê a honra Majestade de comandar um dos seus flancos em campo de batalha!”

Todos riem com a ousadia do garoto. O Rei sorri por um instante.

Rei Nanteleode: “Já é um homem! Mas não tem experiência. Mas, gosto como pensa garoto. Na hora certa lhe convocarei, jovem Conde!”

Conde Robert: “Junto com os meus amigos?”

Rei Nanteleode: “Sim, claro! Aproximem-se garotos. E então, se acham prontos a lutar sozinhos? O que acham do Conde?”

Bernard: “O manco! Quer dizer... Ele é muito bom e corajoso Majestade!”

Todos riem, menos Robert que olha seu amigo e faz um gesto discreto o mandando para aquele lugar.

Rei Nanteleode: “O comando da infantaria no flanco esquerdo é seu rapaz. Não me decepcione! O que mais menino? Talvez umas mulheres pra lhe fazer agrados e o castelo de Tintagel pra passar o verão?”

Conde Robert olha para Bernard e Brian e fala baixinho. 

Conde Robert: “Ele está falando sério?”

E todos explodem em uma risada. Então, o Rei e sua família, cercados pela guarda real comandada por Sir Brastias, seguidos pela Condessa Ellen e Robert, Sir Enrick e Lady Marion, sua esposa, do alto da colina, acenam para o povo, lá embaixo, que os saudam entusiasmados. 

Rei Nanteleode: “Sir Enrick, preciso lhe falar urgente. Vamos ao pavilhão real. Tragam os Cavaleiros da Ordem da Cruz do Martelo seus escudeiros e filhos. Eles precisam aprender... Lady Marion, a Senhora de Avalon a aguarda para que a escolte, juntamente com sua filha Ellen. Ela não disse o que é, mas parece importante... Vamos senhores?”

PAVILHÃO REAL: 

Rei Nanteleode: “Sentem-se por favor. Escudeiros, tragam hidromel e arenque. Não esqueçam o pão para o Bag. Ele não come nada sem pão.”

Sir Bag: “Obrigado, Majestade!” 

Rei Nanteleode: “Cavaleiros, gostaria de lhes dizer que todos os tributos que eram pagos aos inimigos foram suspensos. Essa época acabou. Temos que deixá-los sem recursos. Começarmos a golpeá-los como um punho invisível. Estão com medo. Aesc em Kent, Idres na Cornualha e os herdeiros dos saxões: Cynric e Aescwine. Esses últimos sem exército, estão apavorados em seus tronos.”

Sir Brastias: “Majestade, soube que os aldeões tem falado sobre uma mulher. Uma Sacerdotisa de Avalon. Ela está sempre acompanhada de um garoto. Viram os dois indo para Wessex em Hantone e depois partiram em um barco de Cerdic para a Terra dos Francos.” 

Condessa Ellen: “Me digam escudeiros! Vocês que estiveram em Avalon. Sabem alguma coisa a respeito?” 

Barão Brian: “Era Viviane! A Dama do Lago. O menino era Galahad! O garoto que foi roubado e filho do príncipe Madoc. Ele luta muito bem. Ensinou Robert a lutar com a mão esquerda.”

Bernard: “Foi ela que libertou o filho de Cerdic quando ele era refém em Avalon.”

Arina: “Isso é um problema. Igraine é que foi esperta e levou suas filhas para o norte! Há rumores de que Aescwine, filho de Aethelswith, fugiu para Londres e é o novo rei dos Anglos. Eles se ajoelharam perante ao Rei depois da morte de seu líder na batalha de Winterbourne Gunnet.”

Sir Bag: “Sem falar que conversei com um mercador e ele me contou que o norte está instável novamente. Os Reis pra lá da muralha de Adriano invadiram as terras romanas e estão em guerra com o Rei Centurião Malahaut.”

Rei Nanteleode: “Droga! Não pensei que a paz naquela região desmoronasse tão rapidamente. Aquilo é um ninho de vespas. Se não nos mexermos poderemos perder Lindsey e todas as regiões uma atrás da outra. Os romanos tiveram pesadas baixas na batalha de Ebble a sua lealdade será posta a prova. Pois bem Senhores! Exijo convocar o Supreme Collegium. Só sendo reconhecido como High King terei apoio de todos os nobres britânicos e poderei reunir forças suficientes para manter o que já foi conquistado e a ilha em paz. Carmelo! Envie os pássaros! Quero todos os Duques, Condes e Lordes, nas terras de Sir Enrick, em Silchester. Deixe bem claro para aqueles que não aparecerem que irão sofrer as consequências! Se não estão comigo, serão meus inimigos!”

SILCHESTER: 

Dez dias depois a comitiva parte de Sarum. Cinco mil homens deixam o grande acampamento ao redor da cidade. Seguindo na Vanguarda o Rei Nanteleode. Ao seu lado a Condessa Ellen e o seu filho Conde Robert. Os heróis os escoltam no centro e ao redor Sir Brastias comanda a guarda real. Atrás a grande coluna composta pelos romanos, Lordes das várias regiões de Logres, os Irlandeses, pictus e homens das tribos das montanhas da Cambria. Todos seguem vestidos como senhores da guerra com suas melhores armas e armaduras. Levam jóias prendendo suas capas, anéis em seus dedos, braceletes e colares de ouro e prata.

Sir Bag: “Grande demonstração de poder amigos.”

A comitiva chega em Silchester três dias depois. Pelo caminho a população se curva com a passagem do novo Rei de Logres. Todos percebem uma alegria sincera e respeito pelo rei. O grande grupo passa pela ponte de madeira, em cima do Rio, onde lanceiros romanos de Silchester, que a protegem, abrem caminho. Após algumas horas, surge à esquerda, uma cadeia de montanhas em formato de ferradura e então o vale por entre os montes verdes com as pedras antigas brotando do solo. Eles percebem poucos guardas e quase nenhum estandarte do Stanpids. 

Então eles percorrem a estrada real, reduzida a terra e tufos de grama. Existem várias aldeias que surgem ao longo do caminho. Eles percebem sinais de violência, celeiros e algumas casas queimadas. Em algumas árvores corpos de homens enforcados. Poucos aldeões são vistos. As muralhas no estilo romano, bem desgastada, surgem à frente. Os estandartes dos Stanpides estão rasgados, alguns caídos. Metade do coliseu, do lado de fora da muralha, desabou. A ponte levadiça abaixa. Nas ruas, ao redor do grande palácio romano, poucos moradores da cidade caminham. Ali também são vistos poucos soldados.

Logo o palácio romano, com buracos de desabamento por toda a construção tapados com palha e barro, surge no centro da cidade. As duas grandes portas de madeira estão abertas. A lama escorre lá de dentro. Dominicus, comandante da guarda da cidade, vestindo sua cara armadura romana negra, seguido por cinco homens da guarda pretoriana aguardam ao pé da escada de mármore quebrada.

Dominicus: “Salve, Majestade Nanteleode e Sir Enrick Stanpid! Seja bem vindo. Como pode ver, Senhor. As chuvas da primavera destruíram o palácio. Tentamos fazer os reparos mas ninguém sabe mais como. E... estamos com alguns problemas em Silchester, Senhor. Primeiro como pode ver a cidade foi abandonada pela guarda, o que fez as pessoas irem embora. Há rebeliões por todos os lugares. E o Rei Ælle e seus irmãos Senhor... Bem eles tem empurrado as fronteiras para oeste. E o povo fugiu assustado. Os guardas e aldeões se rebelaram. Estou fazendo de tudo mas tenho poucos homens. Tivemos que enforcar alguns que se aproveitaram para estuprar e roubar. Me parece que o Rei Ælle está reunindo riquezas, gado, comida e mais barcos chegam a cada lua.” 

Dominicus: “Um mensageiro saxão pediu para lhe dizer, Senhor, que o Rei Ælle de Sussex sabe que está em Silchester e que o aguarda na estrada que leva à Londres, esperando receber a parte do botim que ele tem direito, por permitir o exército do Rei Nanteleode cruzar Sussex. Disse para aguardarem perto da pedra sagrada de Tor e que vocês saberão qual é quando chegar lá.”

Rei Nanteleode: “Parece que o cachorro louco já sabe que estamos aqui. Existem olhos do saxão espalhados por todos os lugares. Atenção cavalariços preparem a parte do Rei de Sussex para ser transportada. Leve cem homens, Sir Enrick.”

Sir Enrick: “Dominicus! Tome cem libras. Eu quero que ordene a construção de dez torres na fronteira com Sussex. Ordeno que os aldeões desterrados se estabeleçam à sombra dessas torres. Isso é uma ordem direta do Senhor de Silchester!”

SUSSEX: 

Então, sua comitiva acompanha as dez carroças com o botim dos saxões. Dentro das fronteiras de Silchester as vilas estão desertas e eles notam saxões morando na antigas casas romanas. A comitiva chega na floresta Perdue de Sussex, fronteira com Silchester. Passando pela mata eles vêem riachos e pedras cobertas de limo. Hora o terreno sobe, outras vezes desce. Até que entram em uma estrada de terra que serpenteia as altas árvores. Entra pouco sol ali e existe bastante barro e umidade. Eles vêem saxões levando gado. Alguns carros de boi carregando carne salgada e enguias defumadas. No meio do dia eles passam ao lado de uma rocha, esculpida pelo tempo, em forma de martelo de guerra. Quando param ali, vêem os cachorros rottweillers de Ælle saírem da mata os cercando. O Rei de Sussex com a sua guarda pessoal, mais de trinta homens pesadamente armados, vêem logo atrás deles, montados. Os meio irmãos de Sir Enrick estão entre eles. O seu irmão, Scur, Rei dos Gigantes, olha sério para ele. Todos desmontam. Sir Enrick o cumprimenta à distância mas Scur cospe no chão.

Sir Enrick: “Como vai Majestade e meu pai?”

Ælle : “Que Wotan esteja com você, Filho de Horsa! Homens, verifiquem o botim.” 

Guarda pessoal: “Está tudo certo, Majestade!”

Ele caminha examinando as carroças enquanto Sir Enrick anda ao lado dele.

Ælle: “Vocês Celtas são engraçados... Fazem juramentos e os quebram. Orelhas para fazer juramentos posso obter a hora que quiser. Vocês cinco, cortem as orelhas imediatamente.” 

Cinco guerreiros de Ælle retiram as suas adagas e cortam imediatamente suas orelhas.

Ælle: “Fora de Sussex você pode ser um homem importante. Aqui só é o Bastardo do Rei! Tomei algumas liberdades, tomando parte do território de Silchester, já que vocês tomaram as suas jurando sua lealdade a outro rei. A Condessa Ellen fez uma aliança com Sussex e o primeiro Rei que lhe estendeu a mão, cuspiu em nossa cara. Isso não vai ficar assim. Ninguém cospe na cara de Ælle de Sussex. A partir de agora cuidarei de meus próprios interesses e vocês Celtas, cuidem dos seus. Enrick Stanpid. Avise a Condessa Ellen e ao seu Rei Nanteleode que qualquer um que cruzar as fronteiras de Sussex será morto sem piedade.”

Sir Enrick: “Está dizendo que não tenho honra? Você também não cumpriu o que tinha combinado. Não atendeu o nosso chamado quando precisamos.”

Ælle: “É melhor controlar a língua ou terei que acabar com você agora bastardo. Retire-se!”

Sir Enrick: “Nos encontraremos em campo de batalha, Majestade!”

Ælle: “E eu o procurarei em meio ao caos do combate!”

Ælle passa por Sir Enrick e fala baixo em seu ouvido. 

Ælle: “Vá embora e controle a sua língua ou terei que te usar como exemplo.”

Sir Enrick percebeu que continha um certo tom de cumplicidade na voz do Rei saxão...

BANQUETE: 

A comitiva que foi até Sussex chega ao anoitecer. É servido um banquete na tenda real. Ali estão reunidos os Lordes mais poderosos de Nanteleode. Eles são: Irlandeses, Romanos, Celtas e Pictus. Mais de cem deles. Todos conversam animadamente bebendo hidromel, enquanto um bardo toca. Sir Oswald conta histórias de batalhas para os escudeiros mas o Rei Nanteleode parece tenso e preocupado.

Rei Nanteleode: “Padre Carmelo! Como bom Romano, poderia nos falar sobre o Supreme Collegium?”

Padre Carmelo: “É claro, Majestade! Permitam-me então falar sobre a grande e poderosa fonte de justiça e poder da ilha. Foi o pai dos reis Ambrosius e Uther, o Imperador Constantino, que criou essa instituição. Ambrosius foi eleito pelo Colégio e se tornou High King. Já Uther conquistou a coroa à força, se intitulou High King mas governou somente Logres e nunca conseguiu reunir o Collegium. São vinte e oito lordes que fazem parte do Colégio Supremo. Para ser válido, Majestade, é necessário que  dezesseis desses Lordes se apresentem e três quartos deles votem à seu favor, ou seja  doze homens que lhe apoiem majestade. A decisão final é irrevogável e pode levar dias. Precisamos o maior número possível de votos. Gostaria de sugerir Sir Oswalt, para representar Oxford, com o seu consentimento, já que Lady Marion Stanpid não está presente.” 

Nanteleode: “Farei melhor! Sir Enrick e Sir Oswalt! Por favor se aproximem. Curvem-se por favor. Como todos sabem vocês tem trabalhado e derramado sangue por Logres há 12 anos. E nada mais justo do que reconhecermos seus esforços. Por favor Carmelo traga os colares. Recebam esse rubi representando o sangue dos Britânicos em uma corrente de elos com espirais celtas. Eu os nomeio, com o poder a mim concedido de Rei de Logres, o título de: Duque Enrick de Silchester e agora com muita honra o título de Marshall de Logres é seu, Sir Oswalt Stanpid.” 

Todos aplaudem... Uns mais entusiasmados do que outros...

COLLEGIUM: 1° Dia 

Os Lordes começam a chegar pela manhã e até o final do dia as comitivas montam os seus acampamentos, do lado de fora da muralha, com seus lanceiros, Cavaleiros, mulheres e empregados. Ao cair da noite mais de oito mil pessoas circulam a cidade murada de Silchester com as suas tendas e estandartes coloridos. O escudeiro de Sir Enrick, Deverell, chega ofegante, onde os nobres estão almoçando, uma pata de cordeiro assada, ao redor da fogueira.

Deverell: “Senhor! Senhor! Andei de um lado ao outro. Conversei com uns bardos. Falei com uma aia e descobri: Não vieram todos os Lordes do Collegium.” 

A noite passa com o som das conversas dos soldados de todos os lordes, risadas e música por entre os pavilhões. Pela manhã o Padre Carmelo entra na tenda:

Padre Carmelo “Duque Enrick, bom dia! O Rei Nanteleode solicita a presença de todos os Lordes nas ruínas da arena.” 

Somente os lordes e seus conselheiros caminham pela trilha de terra para o sul, debaixo de seus estandartes. Ladeando as estradas os nobres, soldados e comuns, assistem o espetáculo enquanto cochicham e olham curiosos. Os guardas e cavaleiros de todos os lordes são colocados fazendo uma barreira à margem da estrada e ao redor da construção. Cada escudeiro se posiciona na entrada das ruínas da arena e recolhe a arma de seu senhor, organizados por Carmelo.

Os nobres passam pela entrada em arco, que está semi destruída, e chegam no centro do lugar de chão de areia. As arquibancadas, do lado direito, estão completamente destruídas. O lugar enorme parece ter sido construído por gigantes. A medida que entram o Duque Enrick e Sir Oswalt avistam os seus estandartes, um dos quinze que estão dispostos em círculo. Abaixo de suas bandeiras existem troncos cortados para serem usados como cadeiras. Todos estão vestidos com as suas melhores armaduras, cotas, elmos e jóias. 

No centro do círculo está um homem de cabelos e barbas curtos e grisalhos, com olhos finos, usando uma coroa dourada e roupa negra com uma capa amarela. No peito o brasão do leão dourado em fundo preto: Rei Leodegrance, pai da jovem Guinevere.

Rei Leodegrance: “Reis, Condes, Duques, Lordes e Conselheiros. Fiquem de pé por favor. Como sou o nobre mais velho sou eu quem preside a convocação do Rei Nanteleode para a formação do Supreme Collegium. Isso será rápido! Como podem ver, Majestade, não temos a quantidade mínima para o Collegium ser convocado. Então declaro inválida essa reunião e ...”

Nesse momento uma voz cala o Rei Leodegrance de Cameliard.

Bispo Dubricus: “Não tão rápido, Majestade. Estou aqui para completar o número que faltava. O Supreme Collegium está instaurado.” 

Eles reconhecem a víbora imediatamente. É o Bispo Dubricus, visto pela última vez na mesa de banquete do Rei saxão Cerdic de Wessex, no cerco à Sarum.

Rei Leodegrance: “Por favor. Tome o seu lugar Arcebispo. Todos devem se apresentar dizendo o seu título, nome e região que representam.” 

St. Albans: Arcebispo Dubricus 

Dorchester: Duque Jonathel: (Pretor Romano) Tem 44 verões de idade. Possui cabelos cinza, curtos e sem barba. Usa capa e armadura em placas negras. No centro do peitoral da armadura te um javali prateado.
Sinadon Caernarfon: Rei Maelgwn (Galês): Usa um longo bigode. Tem cabelo Loiro longo, 40 verões de idade,  veste  uma roupa vermelha e xale quadriculado amarelo e vermelho. 

Alclud: Rei Brangore: Tem cabelos negros abaixo da cintura, barba farta e cheia, mal encarado, forte e gordo, voz rouca, veste uma túnica amarela e verde.

Carohaise: Rei Leodegrance, pai de Gwenever. 

Carduel: Rei Uriens. Possui uns 30 verões de idade. Tem os braços tatuados com espirais e leões. Ele tem cabelos marrons e barba na mesma cor, seu kilte é azul e branco e seu cinto tem uma grande cabeça de leão de ouro como fivela. O Rei usa uma coroa de couro, também com desenhos do leão em alto relevo. Ele usa botas de pele de urso. 

Caer Caradoc: Duque Escan, tem 55 verões. Possui cabelos brancos longos, barba da mesma cor cheia de tranças. Tem uma verruga grande no meio da testa. Faltam-lhe alguns dentes. Mas o homem parece ser forte como um touro. Falta-lhe uma perna, substituída por uma de madeira

Oroquelenes: Duque Gwarfen, tem 35 verões. Possui cabelo vermelho longo e está sempre com os braços à mostra. Leva um grifo como brasão. Ele o tem tatuado saindo o bico do animal pelo seu pescoço e as asas  envolvendo seus braços. 

Lothian: Rei Lot, deve ter mais de 40 verões. Tem cabelos curtos grisalhos e barba por fazer. Usa uma coroa de ouro cravejado de pedras preciosas coloridas e kilte vermelho e branco. 

Cambenet: Duque Escan, aliado, tem uns 25 verões. Usa uma túnica azul e branca.  Sua cabeça é completamente raspada. Possui uma queimadura grave do lado direito do rosto o que o deixou cegou de um olho. 

Oxford: Sir Oswalt (personagem do jogador Emidio, irmão de Sir Enrick)

Sarum: Condessa Ellen, senhora de Salisbury, viúva do Conde Roderick e mãe de Conde Robert. 

Silchester: Sir Enrick (personagem do jogador Jota)

Lindsey: Duque Corneus. Ele é um cavaleiro de cabelos longos cinzas com barbas e bigode até a metade do peito. Tem cicatrizes no rosto e pescoço. Ele usa uma túnica verde e amarela. Seu falcão está sentado em um poleiro colocado ao seu lado. Possui 50 verões de idade.

Hertford: Conde Gilbert de Hertford tem cabelos e barbas vermelhos. Usa vários braceletes de ouro. Tranças na barba e uma tatuagem de harpia enrolando a cauda ao redor dos seus  olhos verdes.

Exeter, Cornualha: Pretor Flavius. Usa uma túnica roxa para demonstrar riqueza.  Mas ela está puída e desgastada. Usa cabelo curto branco. Anéis e colares. Está sobe o ataque de Idres e resistindo. Deve ter uns 55 anos. 

Rei Nanteleode: “Lordes da Britânia! Convoquei o conselho porque preciso de seu apoio. Como sabem, eu estive lutando nos últimos dez anos por essa ilha. Quando milhares de saxões desembarcaram em nossas praias e o Grande Rei Uther foi morto por homens de Idres. Acreditei que se não nos uníssemos sobe um só estandarte, sobe só uma idéia de nação, esse país se transformaria em um país saxão. Estivemos muito perto disso... Eu e meus aliados fizemos o máximo e conseguimos manter a ilha ainda em nossas mãos. Mas... O meu trabalho ainda não terminou. Temos que retomar o que pertence ao povo Britânico e o que ameaça diretamente. Enfrentarei, de uma vez por todas, o Rei Idres e depois voltarei minhas forças à Londres. E para isso preciso do apoio de cada um dos Senhores.” 

Sir Oswalt: “Peço para que pensem bem e pesem bem as suas decisões, Senhores. É o momento dos Lordes pensarem na Britânia como um só país. O Duque Jonathel está sendo ameaçado por Idres. Ele quer suas terras Senhor. O Rei Nanteleode poderá lhe libertar do julgo desse tirano.”

Duque Jonathel: “Pois bem... O Rei Nanteleode já provou ser um homem de respeito em combate Majestade. É um conquistador. Angariou seguidores em vez de matá-los. Em meio a lama desses tempos montou um exército enorme e capaz de enfrentar o inimigo. Mas, seria um bom Rei? Ou somente um Senhor da Guerra? Lhe confesso, eu que sou vizinho da Cornualha, que seria tentador destruir Idres de uma vez por todas. Duque Enrick poderia opinar melhor sobre isso. Já que conhecem Nanteleode e conheciam o seu filho melhor que qualquer um do Colégio Supremo.” 

Duque Enrick: “Deixem me ver... Temos cristãos e pagãos aqui. Todos exibindo as suas crenças com orgulho, certo? Estão esquecendo uma coisa! Somos Celtas! Nanteleode já provou que pode comandar um exército com povos, culturas e crenças diferentes. Mas qual dos nobres se levantaram contra o inimigo, se não ele? O que parece na verdade é que os nobres presentes estão colocando suas crenças na frente de seu povo e estão esquecendo do principal: Os saxões estão vencendo e só pensam neles mesmos.”

Rei Banglore: “Um Reino não se faz somente através da conquista. Majestade Nanteleode e seus vassalos mantiveram seu exército unido. Mas, e quando ou se o inimigo for derrotado, Duque e seus Conselheiros. Quando o exército de todas as regiões da ilha estiverem se restabelecidos. Como o seu rei irá manter todos os senhores da ilha sem se atacarem mutualmente?”

Rei Nanteleode: “Deixe me ver se estou entendendo. Quer dizer que todos estão querendo a coroa? E ao mesmo tempo ninguém se moveu para fazer algo até agora? E depois que tudo isso passar ainda assim desejam guerrear um contra os outros. Eu diria:  mais que a espada que eu e meus aliados podemos oferecer à esses ambiciosos senhores. Eu poderia lhes oferecer, justiça.”

A maioria dos lordes riem da ingenuidade do Rei de Escavalon.

Rei Nanteleode: “Se acham que um rei de Escavalion, surgido de um reino iletrado, não sabe o que está dizendo deixem-me me falar o que meu tutor me ensinou, quando criança. Uma vez disse um romano: considera-te como injusto aquele que viola a lei, aquele que toma mais do que lhe é devido, como também aquele que viola a igualdade, de sorte que evidentemente o homem justo é, portanto, o que observa a lei e respeita a igualdade. E é isso que lhes ofereço. Tratamento igual para Romanos, Celtas, Saxões, Galeses, tribos das montanhas de Gorre, Irlandeses e todos que estiverem dispostos a viverem em paz.”

Rei Gwarfen:  “Do contrário? Se não tiver nossa aprovação?”

Rei Nanteleode: “Continuarei a conquista até obter a paz. Não jogarei doze anos de sangue Britânico derramado para virar as costas e ir embora. E assim terei o seu reino, o seu, as suas terras nobre duque e de todos os presentes. ” 

Pretor Flavius: “Em Exeter, na Cornualha, de onde venho a cidade está sobe o julgo de Idres e seu filho Mark. Sou um homem sem terras. Tive que fugir como um rato para sobreviver. Como protegerão nossas terras? Pergunto ao Marshall de Logres, como manterá Idres e os Reis Saxões longe de nossas cidades?”

Sir Oswalt: “A única solução é unirmos força! O único caminho é sermos conquistados, já que os Senhores não enxergam o que possa acontecer. Se não tivermos um líder, como Nanteleode, para nos guiar até a paz, teremos uma Britânia saxônica, mais rápido do que pensam.”

Bispo Dubricus: “Com licença nobres gostaria da palavra. Estou aqui representando St. Albans e o Deus único... O Deus vivo. Por isso falo em nome dele e de sua palavra. Trago boas novas Senhores. Notícias de um milagre. Ælle me procurou... Disse que tinha tido uma visão de Cristo e do seu cálice e que se converteria e se dobraria ao novo deus se nós o apoiássemos como o Rei Supremo Saxão. Sendo assim, Ælle, manteria os outros Reis bárbaros sobe o seu julgo e permitira os outros povos da ilha a terem o seu próprio Rei.” 

Sir Enrick: “Vocês acreditarão nessa víbora? Nesse homem que nos apunhalou pelas costas? Os saxões só pensam neles. Quando um deles cumpriu sua palavra? Nenhum! Eles querem terras, riquezas, tributos, escravos! E nós precisamos reagir!”

Bispo Dubricus: “Você invalida seu voto, já que é filho de Ælle, Sir Enrick! Apesar de ter tido uma aliança com alguns de vocês, não sofreu nenhum ataque e juntou mais tributos, prata, ouro e gado do que todos os senhores da Britânia juntos. E por isso, nesse momento, ele possui o maior exército saxão que essa ilha já viu. Smouth se juntou à ele e foi a Germânia trazer mais homens. E o novo Rei de Kent, Aesc, trará seus exércitos e mais anglos, agora seus vassalos. Cynric e Aescwine, herdeiros dos reis mortos, estão sedentos por batalha e vingança. O seu pai, Sir Enrick, não é burro. Ele sabia que estava isolado. Ele foi o único Reino saxão a não se aliar ao seu próprio povo. Ele seria obliterado em pouco tempo se não mobilizasse os outros reinos saxônicos.”

Começa uma discussão entre os Lordes. O medo e tensão está nos olhos de todos. O arcebispo Dubricus sorri maliciosamente com a confusão provocada por seu discurso.

Rei Leodegrance: “Atenção Lordes! Atenção! Chega! Já anoiteceu. O Colégio está em recesso! Hoje não conseguiremos falar mais nada. Não temos mais como avançar os debates. Retornem aos seus pavilhões. Pensem à respeito e retornaremos as primeiras luzes da manhã para votarmos em segredo. Essa audiência está encerrada. Guardas, escoltem esses homens e garantam que mantenham a hospitalidade e a honra do Supremo Colégio. Cada tenda deverá ter uma escolta, pois os membros do Colégio não poderão se comunicar.”

COLLEGIUM: 2° Dia

Às primeiras luzes do dia todos se dirigem novamente para a arena, escoltados pela guarda. Todos se sentam à sombra de seus estandartes, ladeados pelos seus conselheiros. Um dos membros do Colégio não se faz presente: O Bispo Dubricus. 

Rei Leodegrance: “Nobres! Provavelmente o Bispo abandonou a votação. Dominicus, Vossa Santidade foi embora?”

Dominicus: “Não, Majestade! O acampamento do Arcebispo está montado.”

Rei Leodegrance: “Precisamos decidir logo, não temos muito tempo. Os saxões estão se movendo. Precisamos fazer algo. Se cancelarmos o Collegium temo que não teremos como reagir ao inimigo. Vá buscá-lo Dominicus. Comecemos a votação. Quando Dubricus chegar terá a oportunidade de votar. Vocês servirão de testemunhas de que estamos fazendo isso corretamente.”

Então uma ânfora de barro lacrada é colocada no centro do círculo. É distribuído uma pequena peça de madeira para cada um dos nobres e um instrumento pontiagudo para cada um escrever o seu voto.

Rei Leodegrance: “Coloquem o nome de Nanteleode no voto se acham que o Rei de Escavalion, da Cambria e de Logres deverá ser o Rei Supremo da ilha. Do contrário não escrevam nada. Eu inicio a votação e os outros façam o mesmo, começando pelo nobre à minha direita.”

Todo esse processo leva algum tempo. Quando ele se encerra todos os nobres se sentam e esperam por duas horas. Finalmente Dominicus retorna.

Dominicus: “A guarda cristã não me deixa entrar na tenda, meu Senhor.”

Condessa Ellen: “Senhor Marshall! Por favor! Resolva isso de uma vez.”

PAVILHÃO DO ARCEBISPO:

O Marshall recém nomeado, Sir Oswalt, segue escoltado por dez centuriões de Malahaut e Duque Enrick. O acampamento do Arcebispo é composto pelo pavilhão principal. Uma tenda na cor roxa com cruzes vermelhas desenhadas. A guarda cristã tem cinquenta cavaleiros, ironicamente, com São George (um cavaleiro morto que fazia parte da Ordem de Duque Enrick e Sir Oswalt) costurado na túnica, na altura do tórax, cobrindo a cota de malha. Eles circulam todo acampamento. Os cem lanceiros do arcebispo cercam o local. Eles notam que o corcel branco e as mulas de viagem do arcebispo estão ali e que muitos lanceiros e cavaleiros são de origem saxônica.

Sir Julius: “Salve, Senhor Marshall! Acredito que o seu acampamento é para lá. Vossa Santidade só encerra as suas orações e as conversas com o Deus vivo quando lhe aprouver. Enquanto isso todos devem esperar” 

Eles decidem esperar. Passa-se uma hora e nada acontece.

Duque Enrick: “Quantos homens já matou em batalha, Sir Oswalt?”
Sir Oswalt: “Já perdi as contas quando cheguei a cem, Duque Enrick!”

Duque Enrick: “E eu parei quando cheguei a matar mais de cento e cinquenta!”

Sir Julius: “É melhor que passem, Senhores! Mas estarei com os meus homens em alerta!”

Então eles chegam no pavilhão do Arcebispo. Ele é enorme com uma cobertura que cobre todo o caminho até a entrada, fechada por três fechos de madeira e corda em formato de losango. Sir Enrick saca o seu punhal e o corta. A tenda está escura com os archotes apagados. Sentado de costas para eles, de frente para um crucifixo, está o bispo olhando para o alto. Na cama, coberta com peles de ursos, alguém está deitado. Roupas estão jogadas no chão ao lado da grande cama. Duque Enrick ergue as cobertas e se depara com uma mulher chorando. É a Baronesa Adwen, viúva do Barão Algar, rejuvenescida no ritual de Beltane. Eles ficam chocados a observando e ao se aproximar do Arcebispo percebem que existe algo no chão... Uma poça de sangue. Olhando Dubricus de frente ele está com a cabeça jogada para trás com os olhos abertos. No seu manto sangue coagulado e cheio de gordura do seu papo gordo e com a garganta cortada de orelha a orelha. 

Baronesa Adwen : “Foi esse desgraçado que tinha recebido prata de Cerdic pra entregar vocês quando foram capturados na ilha Wight. Eu me aproximei querendo conselhos, como uma viúva carente, pois queria saber o porque do ódio contra o meu marido. É claro que o bispo, que odiava Algar, queria me possuir e ele me contou tudo: Quando vocês foram capturados por Cerdic, o Arcebispo tinha pago o peso de vocês em ouro para que Smouth e seus barcos fossem tomar Gungnir de Cynric, pois sabia que o filho do saxão tinha capturado os homens da Condessa Ellen. Mas antes disso houve a fuga de vocês, mas Algar foi preso pela segunda vez em Wight. Os homens de Cerdic e de Beothric lutaram pela relíquia sagrada: a Gungnir. Então Algar, no meio da confusão, fugiu levando a lança sagrada. Dubricus disse que quando Algar pegou o pequeno bote e fugiu de Wight ele não sabia que poupava o trabalho de Smouth que o encontrou voltando para a Britânia e o resgatou do mar. Então fizeram um acordo: o Barão e Smouth atacariam o cerco que Cerdic fazia ao redor de Sarum em troca de que a derrota de Cerdic, permitiria Smouth ficar com as terras do Rei de Wessex. Quando Algar fez um plano e liderou os saxões para a vitória Smouth o traiu, pois viu que poderia ter também  a cidade de Sarum. Algar ficou enfurecido e duelou com ele. Infelizmente estava muito ferido para lutar! Salvou Sarum e perdeu a vida. A sorte foi que Cerdic não estava no cerco e voltou com seus lanceiros e contra atacou Smouth. Com Smouth e Cerdic enfraquecidos a Condessa Ellen os atacou e acabou com o cerco atraindo o inimigo para dentro da cidade e o dizimando. Ao mesmo tempo o Arcebispo Dubricus se aliava a Cerdic, pois achava que tinha se livrado de vocês e que a Britânia viraria uma ilha saxônica. Ironicamente Smouth e Cerdic, antes de ser morto por Nanteleode, se aliaram no último ano. Quando soube de tudo isso, degolei esse filho de uma puta! 

A Baronesa Adwen cospe no cadáver do Arcebispo.

Sir Julius: “O que é isso? Essa vagabunda assassinou Vossa Santidade?”

Nesse momento os nobres do Supremo Colégio chegam ali. Os cristãos ficam indignados: “Prendam essa cadela e queimem a herege!”

Rei Leodegrance: “O Colégio não é mais válido. Temos um membro à menos.”

Rei Nanteleode fica perdido sem saber o que fazer. 

Sir Julius: “Prendam-na!”

A guarda cristã avança sobre ela que grita. Arina, jurada a família Herlews, saca sua espada. Duque Enrick se coloca entre eles evitando a morte da cavaleira e ele mesmo prende a Baronesa Adwen.

Sir Enrick: “Está presa Senhora e sobe a minha guarda! Eu mesma a punirei! Cumprirei a justiça em nome do Rei Nanteleode e da Condessa Ellen.”

Rei Nanteleode: “Parem! Acalmem-se! Não podemos provocar uma guerra Civil, Senhores! Agora não é o momento. Acalmem-se todos!”

Duque Enrick: “Guarde a sua espada Arina! Agora!”

Rei Nanteleode: “Não há mais nada a fazer! Esses reis não enxergam um palmo à frente de sua cobiça! Vamos embora. Duque Enrick, o Senhor comandará parte de meu exército e o conduzirá até NETLEY MARSH. Nos encontraremos lá daqui há algumas luas. Então nos reuniremos mais uma vez e iremos para Londres. Você irá proteger a retaguarda de nosso exército dali. Não posso sofrer um ataque dos dois lados ou perder mais territórios de Logres para os saxões. Eu irei pessoalmente para a Cornualha e arrancarei os olhos do maldito Idres e descarnarei seu filho Mark! O Conde Robert terá a oportunidade de comandar o meu flanco esquerdo como prometi. Preparem-se para partir. Que os deuses nos guiem!”

Duque Enrick e Sir Oswalt comandando parte do exército de Nanteleode partem para o leste com dois mil homens. Quando passam pela frente das ruínas do Coliseu eles vêem que lá dentro ainda estão os estandartes e a ânfora com os votos. Os Lordes do Suprimem Collegium já foram embora. Sir Enrick e Sir Oswalt desmontam e entram na arena sozinhos. Quando o Duque Enrick golpeia com o seu martelo, o gargalo de barro, os votos de madeira se espalham pelo chão. O Duque Enrick e Sir  Oswalt ficam chocados quando vêem o resultado da eleição. Se Dubricus não tivesse sido morto, Nanteleode seria eleito o High King da Britânia. 

A BATALHA DE TINTAGEL: 

No mesmo dia os dois exércitos partem de Silchester. Um com três mil homens para a Cornualha no oeste e dois mil para NETLEY MARSH no leste. É a primeira vez que o Rei Nanteleode divide suas forças.

Em direção a Cornualha o tempo está bom e a marcha transcorre rápida através das terras abandonadas de Somerset. Se aproximando da Cornualha o Rei opta por usar a mata e sair da estrada. Apesar de que batedores inimigos já devam ter identificado os milhares de homens em marcha para oeste. Os jovens Conde Robert, o Barão Brian, o Duque Bernard e outros Cavaleiros de Logres, cavalgam ao redor da coluna. 

Pela manhã finalmente a força se aproxima de Tintagel. O Rei Nanteleode sempre escoltado pela guarda real, comandada por Sir Brastias, aguarda à frente de suas linhas, na parte externa da floresta. Enquanto os milhares de homens se ocultam na mata colocando os flancos do exército posicionados. Então, um arauto se aproxima de Robert, Brian e Bernard.

Arauto: “O Rei solicita a suas presenças! Venham armados e montados.”

Ali fora da mata ele se encontram no centro da formação. A guarda real, comandada por Sir Brastias, abre passagem. São vinte lanceiros, bem armados, com cotas reforçadas, escudos em forma de gota e luvas articuladas. Os sargentos das unidades também estão ali desmontados. 

Rei Nanteleode: “Brian, traga um cavalo extra e os outros, galhos de azevinho. Sargentos: Preparem as tropas e aguardem como combinado. Venham garotos, vamos conversar com o inimigo! ” 

Então, saindo da mata, enquanto o restante do exército real aguarda, eles se aproximam de Tintagel. Seus elmos brilham ao sol da manhã. Na metade da distância entre a mata e a fortaleza de Tintagel o Rei Nanteleode levanta a sua mão enluvada: a sua escolta e os rapazes param no vale, entre a colina na borda da floresta e a outra elevação onde se ergue a entrada da ponte que leva ao castelo. 

Conde Robert (falando baixinho): “Estamos fudidos!”

Então um som vem dos portões da fortaleza e eles se abrem. É o Rei Idres e seu filho Príncipe Mark, acompanhados por mais de trinta guerreiros, que atravessam a ponte estreita por sobre o mar que liga o rochedo, onde o castelo foi erguido, à falésia do continente. Eles cavalgam vigorosamente até ali enquanto os portões se fecham. O Rei Idres é um homem alto, com uns cinquenta verões. Sua barba e cabelos longos são grisalhos. Ele usa uma coroa celta com os três leões desenhados. Mas o que chama atenção é a sua face: Toda destruída pela lepra, dando para ver os dentes pela bochecha descarnada, onde uma baba viscosa escorre a qual o seu escudeiro real limpa, o tempo inteiro, com um lenço branco. Brian fica apavorado com a visão do rei.

Rei Idres: “Então veio conversar, Nanteleode? Algo me diz que teme ser subjulgado diante de minhas muralhas. (Ele baba e o escudeiro limpa) Porque não tentou assaltá-las  ao invés de conversar?”

Rei Nanteleode: “É um celta como nós Idres. Quase toda a ilha já se submeteu ao meu reinado. Estou lhe dando essa oportunidade, como fiz à todos os outros Reis e Senhores.”

Rei Idres: “Tintagel é inexpugnável. Centenas de metros de altura de falésia, mar de todos os lados e do outro as muralhas seculares. Você sabe que seus homens morrerão aqui (aponta para a colina) se não dobrar meus joelhos à você. A Cornualha sempre foi o túmulo dos seus aliados.” 

Rei Nanteleode (olha para o mar e para as gaivotas): “Esse lugar é lindo. Um bom lugar para morrer. Talvez Vossa Majestade deseje isso mais que eu... Mas, desculpe a minha falta de cortesia. Este é o Barão Brian e o Duque Bernard. Vocês sabem de quem eles são filhos, não é? Ah, me desculpe, este é o Conde Robert de Sarum!”

Conde Robert: “Isso mesmo! Aquele que você tentou matar para usurpar Salisbury. E eu comandarei o flanco esquerdo do exército e prometo que não sairá vivo de campo de batalha!”

Príncipe Mark: “Cachorro insolente! Eu não lhe matarei! Pessoalmente lhe procurarei em batalha e arrancarei a sua perna boa!”

Rei Nanteleode: “Calma rapaz. Cachorros menores sempre são os que latem mais. Mas, preciso ser sincero com seu pai. Na verdade não vim aqui conversar, nem negociar Majestade. Estou esperando o meu filho.”

Príncipe Mark: “Seu filho está morto!”

Então eles ouvem um burburinho vindo de dentro da fortaleza... E o portão da ponte se abre mais uma vez. Todos se viram para lá. Inclusive o Rei Idres e o Príncipe Mark. Lá de dentro homens correm em fuga. Flechas voam dos arqueiros de Idres, das ameias para o pátio de Tintagel, e um incêndio se ergue no castelo atrás. Um grupo de dez guerreiros correm. Muitos deles caem flechados. Talvez  meia dúzia passem pela arcada da muralha cruzando a ponte. Um deles os lidera com o escudo levantado. Quando ele abaixa todos o reconhecem imediatamente: É o Príncipe Alain de Carlion. Mais dois deles caem flechados. Sir Alain e mais quatro homens do Rei correm tentando se evadir das flechas. Mais dois guerreiros de Nanteleode caem mortos por flechas. Sir Alain é flechado no ombro e cambaleia pelo vale. Ao mesmo tempo o Rei Nanteleode grita.

 Rei Nanteleode: “Agora!” 

Nanteleode dá um tapa no traseiro do cavalo que relincha e empina enquanto tromba com a guarda de Idres e dispara em direção ao portão. A guarda de Idres saca suas espadas assim como a guarda de Nanteleode. 

Rei Nanteleode: “Lutem! Sir Brastias, ordene o ataque.” 

Então Sir Brastias retira o corno de guerra e assopra duas longas notas que ecoam pelo vale estreito. Saindo de lá, todo o exército de Nanteleode caminha em uma gigantesca parede de escudos com três linhas de espessura em direção a borda da colina. Enquanto isso o cavalo chega em Sir Alain. O príncipe monta e cavalga contornando a guarda do Rei Inimigo enquanto o Príncipe Mark e o Rei Idres recuam. O Rei Nanteleode faz o mesmo acompanhado de sua guarda e dos rapazes. Da ponte estreita, que liga a fortaleza ao continente, começam a sair os guerreiros da Cornualha, desordenadamente, inundando a planície com milhares de homens sem formação. Enquanto o exército do Rei Nanteleode grita e levanta as suas armas quando vem o Príncipe Alain vivo e cavalgando à frente das linhas. Ele ergue a sua espada incitando e inspirando seus homens.

Príncipe Alain: “Venham garotos! Para o flanco esquerdo. Os homens estão esperando seu comando, Conde Robert!”

A primeira hora de combate se inicia com a parede de escudos do Rei Nanteleode se movendo em direção a borda da colina. Uma gigantesca linha com três mil guerreiros. Eles batem em seu escudos marcando a marcha: O trovão da guerra. De dentro das muralhas o exército de Idres não para de fluir empurrados pelas chamas que tomam toda a fortaleza. Eles tentam formar uma parede de escudos rapidamente mas ficam muitas brechas. Eles se posicionam no vale abaixo. 

Primeira hora de Combate:

  • Arqueiros: Do alto das muralhas os arqueiros começam a disparar tentando manter a parede de escudos longe do vale. 
Nanteleode: “Arqueiros à frente. Parede de escudos aguardar. Disparar!”

Dois dois lados as flechas voam. Uma delas acerta de raspão o pescoço de Brian que faz uma careta de dor. Os oitocentos arqueiros de Nanteleode, rapidamente, sobrepujam os arqueiros de Idres, os dizimando.

  • Flanco esquerdo: Quando Conde Robert, Barão Brian, o Duque Bernard e o Príncipe Alain chegam, as centenas de cavaleiros Irlandeses, Galeses e Cavaleiros de Logres se aproximam abraçando o Príncipe e rindo, não se contendo em felicidade. 

Sir Alain: “Fiquem atrás das linhas para comandar! Assim estarão mais seguros!”

Robert, com os seus dezessete anos, respira forte e parece bem nervoso. Ele olha ao redor e pensa rapidamente.

Conde Robert: “Atenção todos! Desçam de seus cavalos! Mostrem para o inimigo que não tem medo. Lutem junto com os seus homens. Vamos pra parede de escudos.”

Sir Alain: “Não acho uma boa idéia...” 

Conde Robert: “Desculpe, é uma ordem meu Príncipe! Foi assim que o Barão Algar falou que Madoc fazia...” 

Sir Alain sorri. Então os homens abrem espaço para os rapazes tomarem seus lugares lhes dando tapas nos elmos. Homens rústicos e simples; Homens que atenderam o chamado; Homens da Britânia.

Conde Robert: “Agora é com a gente, amigos...” 

- Parede de escudos: Então a voz de Nanteleode soa como um trovão em meio ao campo de batalha.

Nanteleode: “Avançar! parede de escudos! Acelerar!” 

Brian correndo com o escudo erguido retira o seu chifre de guerra herdado pelo o seu pai. Ele o faz soar e os guerreiros começam a gritar. Eles seguem juntos e mantém a formação fechada mesmo em velocidade na descida da colina. O centro se transforma em uma ponta de lança com Nanteleode gritando como um selvagem, sozinho, na frente de seu exército. 

  • Flanco esquerdo: Eles marcham em velocidade olhando para frente. O inimigo corre sem formação. Eles gritam. São muitos vindo desordenadamente. Os rapazes vêem guerreiros velhos e novos com os olhos cheios de ódio. Os que estão chegando saltam nos escudos tentando cair dentro da formação inimiga e abrirem brechas. 

Um guerreiro forte com a barba negra cheia. Com os braceletes de ouro reluzindo ao sol, corre protegido pelo seu escudo e faz uma carga em Bernard. O jovem Duque resiste a investida. O homem atrás deles engancha o machado e abre a guarda do inimigo. Bernard o transpassa com a sua espada enquanto o homem cai à sua frente. Os cem primeiros inimigos, que chegam no flanco esquerdo, dão voadoras e tentam saltar para dentro da formação. Um deles, na frente de Brian, com os seus quarenta e poucos anos acerta o escudo do garoto tentando derrubá-lo. O Barão recua com o golpe. Ele usa a bossa do escudo empurrado o homem que mede forças mais uma vez. Brian resiste, até que acha uma brecha e sente a carne do inimigo ceder a sua lâmina. Ele rasga a barriga e vê os intestinos, do soldado inimigo, se espalhar em suas botas enquanto o homem estremece de dor e cai pisoteado pela parede de escudos que avança.

Conde Robert mantém a sua perna fraca para frente. Um homem faz uma carga contra ele. Espertamente ele deixa o grande e forte guerreiro da cornualha com a sua espada e escudo passar e troca a arma de mão. Quando o homem golpeia ele já é atacado pelos homens que ladeiam o Conde e com um furo nas costelas do inimigo ele derruba a sua arma. Robert pisa no pé do homem da Cornualha. O inimigo se prostra quando a espada desce em seu pescoço enterrando até a clavícula lhe arrancando metade do rosto. O cérebro do homem se espalha pelo chão enquanto ele é pisoteado. Robert vomita instantaneamente enquanto os guerreiros veteranos são tomados fúria.

A primeira hora acaba com a parede de escudos do Rei Nanteleode se chocando com a de Idres sem formação. Ela continua a avançar em direção ao vale. Agora a parede de escudos começa a se vergar em uma meia lua em direção ao centro do campo de batalha. Atrás vai ficando um rastro de corpos, na maioria dos inimigos. No momento Nanteleode vence.

Segunda Hora de Combate:

Os dois exércitos se encontram no vale, entre a floresta e a fortaleza de Tintagel. Existem muitos homens na parte de trás da parede de escudos de Nanteleode formando mais filas. Pelo menos três. Mas, aos berros de Príncipe Mark, o exército de Idres consegue se colocar em formação. 

- Parede de escudos: Nanteleode: “Empurrem! Estoquem! Eles já tiveram muitas perdas! Vamos! Idres será morto pelas minhas mãos! Vamos!”

Por vezes as duas paredes se arcam e se movimentam. Algumas brechas são abertas mas logo são preenchidas pelos dois lados. 

- Flanco esquerdo: Os inimigos agora não tem espaço para realizar uma carga e a luta continua em uma disputa de força na parede de escudos. O som da madeira se trombando, os gritos de dor enquanto as estocadas entram pelos calcanhares ou por cima, enquanto os homens de trás tentam puxar os escudos dos que estão à frente para abrir suas guardas e os cadáveres no chão dificultando o equilíbrio na lama de sangue e merda, tornam a parede de escudos um inferno escorregadio e mortal. 

O empurra, empurra na linha é de um calor e cheiro sufocante de sangue, suor e álcool. Eles escutam um som de algo cortando o ar e um enxame de machados de arremesso os atinge. Brian e Bernard levantam os escudos no último momento se protegendo. De trás do exército de Nanteleode voam lanças respondendo ao ataque.

Brian está espremido, o soldado de trás o empurra contra o escudo do inimigo a frente.   O rapaz não sente o cansaço. Os machados tentam enganchar em seu escudo tentando erguê-lo enquanto ele sente as estocadas batendo em seu escudo e tirando tiras de suas botas. Ele sente um golpe forte entrar em sua virilha e o sangue escorrer quente. Sua visão turva. O soldado inimigo, um homem com barba espessa negra, começa a golpeá-lo com tanta força que Brian pensa que será o fim. Mas o garoto por lealdade ao seu Rei grita alto enquanto esquece a dor e golpeia em arco de baixo para cima, abrindo a barriga de seu inimigo, enquanto o soldado da Cornualha desaba em sua própria poça de sangue. O homem à frente de Brian golpeia o seu escudo várias vezes. Enquanto os inimigos o empurram tentando fazer com que seu corpo se renda ao cansaço. Ele vê o suor e sangue caindo na terra misturada a grama. Espremido entre as fileiras da parede de escudo o jovem Duque só pode sacar a sua gladius no pequeno espaço. Ele sente os golpes que desfere tentando passar pelos escudos inimigos. Um golpe de uma lança lhe atinge direto no rosto. O elmo fechado absorve o choque. Aliviado ele se abaixa mais uma vez e ele estoca e sente a gladius entrar no meio das pernas de alguém. Escuta o grito, sente o sangue escorrer e sente a parede de escudos caminhar um pouco para à frente pisoteando os mortos e feridos.

Conde Robert se expõe! Sua perna fraca treme enquanto Sagramor por vezes o coloca mais para trás e usa a bossa do escudo para afastar os inimigos. Robert aproveita e respira um pouco e se agacha estocando um homem na barriga e recebendo um golpe de escudo no rosto quebrando o seu nariz. Bigorna com um grande corte na altura do ombro tenta lutar mais vai perdendo energia e aos poucos entra uma ponta de lança. Ele se curva quando entra outra e é arrastado no último minuto pelo Príncipe Alain para a retaguarda.

Então uma visão lhes tira o fôlego. Eles vêem saindo pelo portão da ponte estreita, que leva a Tintagel, quatro carroças. Cada uma puxada por quatro cavalos. Cada uma leva três homens. Um que guia a carroça e outros dois que vão na parte de trás. Os animais disparam em direção ao campo de batalha. Na liteira da carroça seis grandes braços de tília com cordas enroladas e retesadas. Nas pontas dos braços manguais do diâmetro de uma boca de um barril. Uma carroça vai para o centro, e as outras para cada um dos flancos. São as máquinas de guerra do finado Sir Warren: Os braços de Odim.

Próximo do choque os homens da infantaria de Idres se jogam para o lado abrindo caminho. Então os homens da liteira começam a girar duas alavancas e os braços giram com uma velocidade impressionante, deslocando o ar, como hélices afiadas. Tudo fica em silêncio por um instante e eles vêem aqueles enormes engenhos saltando na relva. Isso desfaz a parede de escudos de Nanteleode. 

Ali no flanco esquerdo eles vêem alguns homens de costas tentando entender o que está acontecendo, sem perceber a chegada da arma demoníaca. Dez deles giram sem cabeça e caminham sem rumo por algumas batidas do coração antes de caírem. Outros tentam se proteger com as mãos e tem elas arrancadas e depois metade do tronco. Enquanto os cavalos e carroças passam mutilando eles também atropelam dezenas, os deixando retorcidos, inválidos ou mortos. O chão estremece e próximo aos rapazes mais um homem tem o tronco dividido. O sangue e os pedaços de seus órgãos são arremessados para todos os lados os atingindo e manchando seus rostos e roupas com sangue e pedaços de órgãos.

Bernard e Brian se movem rápido escutando o ar sendo deslocado pelos manguais girando e matando tudo ao redor. Por uma batida no coração eles saltam no chão escapando da morte certa. As carroças chegam na retaguarda e sobem a colina. Então os arqueiros  do Rei Nanteleode começam a disparar e os cavalos empinam, feridos e cheios de terror. O cocheiro e os homens na liteira tombam mortos enquanto as carroças correm em disparada. Uma para o meio da floresta, outra tomba em uma pedra e outra capota para trás, em meio ao flanco direito, com os cavalos caídos, mortos, com mais de cem flechas pelo corpo. 

A segunda hora de combate acaba com as linhas do Rei Nanteleode desordenadas. O centro e os outros flancos se desarticulam e os homens da Cornualha aproveitam se infiltrando nos grande buracos. Agora tudo se desarticula e se mistura. Não dá mais pra saber quem vence. É cada um por si. 

Terceira hora de Combate:

Na terceira hora de batalha, o inimigo parece surgir de todos os lados. As unidades tentam seguir os seus líderes mas só resta uma multidão de guerreiros matando ou morrendo. Não se vê mais os reis comandantes do exército e nem se ouve mais suas vozes no campo de batalha. O exército de Nanteleode perde os líderes e tudo começa a afundar.

- Flanco esquerdo: No flanco esquerdo, cercado por colinas dos dois lados, quando eles se viram depois do ataque surpresa, vêem a confusão e o caos que se transformou o campo de batalha. Uma linha desordenada de guerreiros da Cornualha correm em direção à eles. Ali ninguém consegue ver onde o outro está. O vale virou uma piscina de lama e sangue. 

Bernard é atacado por um guerreiro forte com um machado de duas mãos. O homem golpeia. O rapaz consegue se mover e o machado enterra no chão. Bernard gira sua espada com o escudo à frente cortando o ante braço do homem que tentava arrancar sua arma presa ao solo. Brian respirando forte nem pisca tentando acompanhar o homem da cornualha sem elmo que corre em sua direção preparando para atacá-lo com uma espada. Ele acompanha cada movimento. Parado ele observa e quando o homem desfere o golpe ele se inclina com a lâmina passando muito perto do seu rosto. Ele então gira a espada cortando as costas do homem, junto com a sua cota que se quebra em dezenas de anéis de ferro. O homem cai se contorcendo e se esvaindo em sangue.

O caos domina o campo de batalha. Uma espada entra na barriga de um guerreiro de Idres e sai pela sua omoplata o homem grita vomitando sangue enquanto metade de sua medula vaza pelo ferimento enquanto ele treme em convulsões.

No final da terceira hora de combate as trompas romanas começam a soar. Os romanos do Norte começam a recuar de costas, subindo para a floresta. Romulus, o seu comandante montado em um corcel de batalha sinaliza com a sua gladius o recuo. Uma grande formação de escudos é feita. Os da frente protegendo ataques frontais e os de trás fazendo a cobertura. Assim os Romanos desaparecem, abandonando o campo de batalha, e fazendo com que o flanco direito do Rei Nanteleode desabe. A proporção de inimigos cresce assustadoramente. Então o som, como se fossem milhares de pássaros batendo asas, invade o campo de batalha. Eles vêem primeiro uns seis homens que estão lutando ao lado caírem e tudo desmorona como um castelo de cartas. São os guerreiros de ambos os exércitos. Depois mais uns dez caem. Vinte, trinta, enquanto os rapazes vêem o chão se transformar em um roseiral de virotes. Um exército se aproximava vindo da retaguarda. Eles erguem seus escudos que são cravejados de projéteis de besta.

Robert: “O Bando Branco! Eles estão atacando os dois exércitos!” 

Quarta  hora de Combate:

A quarta hora começa com o exército de Nanteleode sendo atacado por uma tempestade de virotes de besta. Ao mesmo tempo que milhares de homens, velhos, mulheres e crianças saem de dentro da floresta atirando. Muitos deles com armas e espadas, com roupas esfarrapadas cinzentas e por cima cotas de malhas de todos os tamanhos e tipos, elmos que não se encaixam na cabeça. Eles parecem um bando de insetos envolvendo tudo e todos. 

  • Flanco esquerdo: No flanco esquerdo chega a tempestade de virotes e os homens começam a cair ao redor como se todos fossem todos mortos ao mesmo tempo. Por muita sorte Bernard e Brian escapam se protegendo com os seus escudos. Nesse momento os maltrapilhos chegam até eles. São muitos. Crianças, adultos, mulheres e velhos. Todos desdentados tentando se sobrepujar e matar pela quantidade. Eles vão os cercando. Cada um é atacado por três deles. Um homem quebra um pedaço de pau nas costas de Brian, enquanto ele decapita um outro que lhe atacava com uma espada antiga. Depois ele gira usando a ponta da espada matando uma mulher que o ataca com uma pedra. Bernard contra ataca um golpe de um aldeão velho, quebrando a espada enferrujada do seu adversário. Um golpe de cima para baixo o cala. Uma velha com um ancinho quebra a ferramenta contra o seu peitoral de couro. Bernard a derruba com um tranco do escudo e estoura a cabeça dela com a borda contra o chão fazendo a cabeça explodir em miolos e pedaços de ossos pela terra. O garoto com um machado de cortar lenha tem a cabeça dividida ao meio quando ele tenta surpreender Bernard pelas costas.

Sagramor luta alucinadamente. Seus olhos em fúria, com a sua espada curva cheia de sangue. Parece estar cansando a cada golpe. Ele uiva. Um golpe entra em sua clavícula enquanto o rapaz cai e se dobra. Robert deixa o escudo. Passa a espada para a mão direita. Seu inimigos se posicionam no lado oposto e no último minuto ele troca a arma de mão e os surpreende no lado da guarda aberta. Com um golpe em arco ele mata três homens de uma vez. Um golpe de uma clava em sua cabeça derruba o Conde enquanto o seu elmo amaça inteiro e ele cai.

Centenas e centenas de maltrapilhos mortos se amontoam no vale. Mas eles não param de vir em uma torrente sem fim pela floresta. Os homens de Idres e de Nanteleode tentam se proteger e lutar. A força de Nanteleode não consegue suportar e começa a recuar só para ser atacada pela multidão que chega pela floresta descendo a encosta. Com Idres acontece o mesmo e suas tropas estão todas dispersas. E o bando branco vai cercando os dois exércitos. É então que eles vêem em meio ao caos do campo de batalha, O Ferve Corpos: Sir Dylan de Tishea.

Quinta hora de Combate:

Sir Dylan, com a balaclava branca cobrindo o seu rosto e usando a coroa dos Pendragon, atravessa o campo de batalha com o seu corcel de guerra branco espumando de tanta velocidade. Ele atropela muito guerreiros sem distinção. Ele parece muito inspirado e luta exatamente como o seu pai, Sir Amig: Rápido e letal. Ele golpeia de um lado com a sua espada decapitando um homem de Nanteleode. Do outro o seu cavalo morde o rosto de um soldado de Idres. Ele gira a empunhadura da arma e estoca do ombro até sair pelo estômago de outro inimigo. Outros se aproximam com uma lança e tentam atingir o seu cavalo que dá um coice jogando o homem longe. 

  • Flanco esquerdo: Lá de longe enquanto ele assassina mais um homem com um golpe em arco nas costas. Dylan para por um instante... Ele parece ter visto os rapazes. Nesse momento próximo a entrada de Tintagel eles vêem o Rei Nanteleode ser cercado pelos homens do Bando Branco, derrubado do seu cavalo, se debatendo e sendo arrastado para dentro de Tintagel, enquanto lanças apontam para o seu peito. Ao mesmo tempo eles são cercados pelo bando branco. 

Os garotos aparam golpes de todos os lados tentando sobreviver dos golpes desajeitados dos maltrapilhos. Eles matam mais dois deles quando Dylan, cavalgando, se aproxima vigorosamente. Eles percebem crânios, ossos de mãos, coluna cervicais, fêmurs pendurados na cela de seu cavalo: “O Ferve Corpos!”

Ferve Corpos: “Deixem os viver! Adiante!” 

Os esfarrapados do Bando Branco os deixam. Dylan rasga a balaclava expondo o seu rosto. Retira a coroa dos Pendragon e atira para Brian. 

Ferve Corpos: “Cuide bem disso! Cumpra o que seu pai prometeu Brian! De onde ele estiver deve estar muito orgulhoso de você.”

Ele empina o cavalo, dá um grito e sai dali em disparada. O cavalo corre achando os espaços, pisa nos cadáveres como se fosse feitos de barro. Atropela mais seis guerreiros, passa a espada mais oito. Sempre em linha reta enquanto se aproxima de um grupo de homens da cornualha. Lá está Idres e Mark lutando sem sua guarda real, já dizimada. 

Então Mark cai do cavalo com três virotes o acertando. Um no olho, um no braço e outro no peito. Enquanto Dylan se aproxima e Idres não o vê. Dylan inspirado, enlouquecido por tudo o que viveu, por ter mergulhado nas brumas, ter perdido o seu pai, ter mergulhado na insanidade joga a sua espada e agarra o Rei da Cornualha pela sua cota e o arranca do cavalo. Então ele arrasta Idres e maneja seu cavalo na mais alta velocidade em direção a Tintagel. Idres, com o seu rosto deformado grita em pânico e tenta lutar, mas Dylan está determinado. Os tufos de grama levantam enquanto ele muda a trajetória puxando a rédia para a direita, subindo a colina pela lateral da entrada da ponte de Tintagel. 

A falésia se aproxima na lateral da muralha. Tudo parece silenciar quando o Rei Idres, Sir Dylan de Tishea e o cavalo saltam no vazio lá de cima caindo de centenas de metros nas rochas e depois no mar.

Nesse momento o bando branco parar de lutar e começa a correr desordenados para todos os lados. Eles largam Nanteleode, que fica de costas no chão tremendo apavorado, enquanto Mark é carregado pelos trezentos sobreviventes do exército da Cornualha que fogem em desespero para o sul, ao longo da falésia. O que sobrou do exército real de Nanteleode, mil e duzentos homens, ficam de pé observando o campo de batalha devastado, com milhares de corpos cobrindo a relva. Mais da metade dos homens de Nanteleode caíram. Então eles olham ao redor e percebem que só a força do Rei de Escavalon ainda está ali. Nanteleode se ajoelha, retoma o folego e lança a sua espada para o alto que cai em arco ficando na terra. Ele grita a todo pulmão e desaba de joelhos de exaustão, medo e cansaço. 

Os homens gritam e correm para Tintagel destruída pelo fogo, deserta e começam a saqueá-la retirando bebidas, objetos de valor, capturando mulheres, crianças e animais. Logo o brasão de Escavalion sobe nas muralhas. Robert e Bigorna são trazidos apoiados por Sagramor que sorri com os dentes brancos. 

Sagremor: “Cabeça dura.”

Conde Robert: “Foi só uma pancada das grandes. Estou vendo pontinhos pretos até agora. Mas vou ficar bem. Sinto muito pelo Tio Dylan.”

Um dos sobreviventes do flanco esquerdo. Um velho soldado Irlandês se ajoelha perante ao Conde Robert, Barão Brian e o Duque Bernard e outros cinquenta homens sujos de sangue, os mais pobres do exército,  se aproximam humildemente.

Desmond: “Sou Desmond, Senhor! Obrigado por nos inspirarem, hoje. Os jovens nobres mostraram que conhecem os antigos heróis. Eu estava diante dos portões de Bayeux quando o príncipe Madoc juntou-se aos seus homens e correu para a batalha ao nosso lado.” 

O Príncipe Alain de Carlion surge mancando e os abraça. O Rei Nanteleode seguido pelos seus comandantes restantes se aproximam deles. Eles vão fazendo um círculo ao redor. Todos os soldados se acotovelam. Todos sujos de suor, sangue e terra.

Príncipe Alain: “Foram meses longe de casa. Preocupado com os sentimentos daqueles que achavam que eu tivesse morrido. Eu e meus homens nos infiltramos em Tintagel como mercenários francos. Quase fomos descobertos. Mas, foi um excelente plano, meu Pai! A minha parte  eu cumpri. Agora é sua vez Majestade.”

Rei Nanteleode: “Consegue se levantar, Conde?”

E Robert faz um esforço para ficar de pé apoiando-se em sua espada.

Rei Nanteleode: “Ajoelhe-se rapaz! Pelos Deuses novos e antigos aproveito a bradar a todos os homens nesse campo de batalha que Robert é o homem que comandará o flanco esquerdo de meu exército. A partir de hoje sobe os olhos dos homens bravos que lutaram nesse campo de batalha o invisto como Conde Robert de Sarum e Cavaleiro: Senhor de toda Salisbury (bate no rosto do garoto). Levante-se Conde Robert de Sarum!”

Todos os homens gritam com as armas no alto. Então Robert surpreende à todos.

Conde Robert: “Esperem! Acho que quando a gente quer uma coisa nós devemos ir atrás dela. Então, aqui vamos nós! Ajoelhem-se perante mim meus amigos!” 

Eles ouvem: “Ele mandou os garotos se ajoelharem também!”

Soldado: “Ele pode John! Hoje ele pode...”

Accolon, Bigorna e Sagremor se juntam à eles. Os soldados simples e os cavaleiros ficam em silêncio com um ar respeitoso. Ao fundo os milhares de corpos e Tintagel em chamas. As centenas de corvos e pássaros do mar voam ao som das ondas quebrando lá embaixo, enquanto a fumaça negra, em vários pontos do campo de batalha, sobe ao céu azul.

Conde Robert: “Nobres, vocês me reconhecem como o verdadeiro e herdeiro de direito de Sarum? Vocês garantem sua lealdade e juram a sua espada a mim, por toda a vida?

Nobres: “Sim!”

Conde Robert: “Repitam depois de mim: Eu solenemente juro minha espada à Robert de Sarum, para defender e obedecer, até ele partir dessa vida, ou a morte me levar, pela honra da Britânia e de toda Cavalaria.”

Todos repetem o juramento.

Conde Robert: “Então, eu os nomeio Cavaleiros, (toca com a sua espada nos ombros dos rapazes), sempre quis fazer isso (O Conde desfere um tapa no rosto de cada um) Que seja a última vez que recebem um golpe sem um justo reconhecimento. Levantem-se Cavaleiros de Logres ou melhor: Cavaleiros da Britânia.”

Sir Brastias está ali e olha com orgulho para os rapazes enquanto aqueles homens humildes os carregam em triunfo. O Rei Nanteleode e o Príncipe Alan sorriem orgulhosos. 

Rei Nanteleode: “Muito bem, Homens! Seguiremos em frente e encontraremos com a outra parte de meu exército comandada por Duque Enrick. Iremos atrás de algo que validará o meu Reinado e fará o Colégio Supremo me apoiar incondicionalmente. Tomaremos Londres e Excalibur me tornará o Rei da Britânia.”

Naquele dia o exército Romano traiu a aliança e retornou ao norte para se defender dos pictus. E assim morreu o Rei Idres da Cornualha e seu exército foi derrotado. O Brasão com as três cabeças de leão voltou para o lugar de onde nunca deveria ter saído... E o Bando Branco nunca mais foi visto na Britânia.





FIM