domingo, 30 de novembro de 2014

Aventura 42: A Batalha do Monte Badon, Ano 517



Na cidade de Londres, no verão de 517, Duque Enrick Stanpid acorda cedo. Ele vai até a janela e não vê ninguém ao redor da muralha da cidade. Nenhum pavilhão, cavaleiro ou soldado. O Barão Brian, Cormak, Lancelot e o escudeiro Breno acordam com o som do grito que o veterano solta. 

Duque Enrick Stanpid: “Droga, nem sinal dos vassalos de Arthur. Não honram o que possuem no meio das pernas. Nos tempos de Uther não era assim. Cadê o meu filho? Vá chamá-lo Cormak. Temos que partir para encontrar com o rei, nem se formos sozinhos, ele precisa da Excalibur o mais rápido possível.”

O Barão Brian de frente para a janela, vê uma mancha negra, como uma sombra, cobrindo a planície. Ela se aproxima vindo do sul envolvendo a parte sul de Londres, sem muralhas, enquanto os moradores correm dali, cruzando a ponte, levando tudo de valor que podem carregar. Os guardas vão em direção ao norte da cidade guiando as pessoas e trancando as muralhas. Eles rolam os barris de óleo deixando a ponte que liga essa parte da cidade à área protegida por muros, embebida em líquido inflamável. Não há tempo e muitos ficam para fora. As trombetas começam a soar e uma esquadra de navios de guerra contorna a cidade pelo rio barrento. A sombra para de se mover às margens do Tâmisa. 

Milhares de carroças, cavalos e guerreiros se reúnem. Os barcos encalham à margem, enquanto suas tripulações usando proteções e elmos se juntam à eles.

Barão Brian: “Pelos Deuses, são pelo menos vinte mil lanças.”

Quarto da Rainha:

No quarto da Rainha tudo está escuro. A cortina vermelha com o brasão real cobre a janela em forma ogival. Somente a chama de uma tocha tinge de alaranjado as paredes de pedra do castelo. As Aias se retiram com a chegada de Sir Bernard, filho do Duque Enrick, chamado para atualizar Guinevere dos preparativos para a jornada ao Norte dos cavaleiros de Arthur, que portam a Excalibur reforjada.  

Guinevere: “Meu Cavaleiro, meu amado. Conto nas batidas do meu coração para te ver. Nem que seja por uma fração de segundo da nossa existência.”

Sir Bernard Stanpid tenta resistir ao seu coração. Pensa no seu Rei e amigo Arthur e ao mesmo tempo o desejo arde em seu coração. Quando a Rainha se aproxima parece que sons de Batalha ecoam em seus ouvidos. Ele se encolhe como se tivesse com um escudo em suas mãos. Guinevere recua com lágrimas nos olhos.

Guinevere: “Quanto posso sentir a falta constante de você, meu amor, meu protetor… Sei que parece que o que estamos fazendo não é certo! Mas quem manda em nossos corações? Se Cristo nos enviou para sermos duas almas unidas pelo amor e os homens nos separaram. No raio de sol eu sentirei o seu toque… Na brisa leve sentirei o seu suspiro… Você é portador do que me é mais valoroso! O meu coração…!”

Sir Bernard: “Eu sei minha Rainha! Tem o meu coração também. Mas…”

Quando estão prestes a se entregarem ao desejo, o som de uma multidão ecoa pelas paredes da Torre Branca. Cormak chega no quarto da rainha e bate na porta, chamando o seu Senhor. Sir Bernard e seu escudeiro caminham pelos corredores da Torre Branca e sobem as escadas estreitas e baixas, para o último andar do castelo. Eles se juntam ao Barão Brian, Breno e o Duque Enrick, que está de costas, olhando pela janela. 

Sir Bernard: “Me chamou, Pai?”

O Duque Enrick se vira com lágrimas nos olhos. 

Duque Enrick Stanpid: “Estão ouvindo? Eles chegaram! São milhares e estão cantando o hino da Resistência Celta.” 

Salão de Banquetes: 

No salão de banquetes da Torre Branca o Conde Robert chega acompanhado pelo Arcebispo Carmelo e por Bedivere, o qual as Aias ficam encantadas com a sua beleza. Os Cavaleiros estão sujos da viagem, com túnica e brasões rasgados, mostrando a cota que está por baixo. Seus braços e rostos tem ferimentos ainda em processo de cicatrizarão. Breno faz o seu trabalho de escudeiro com tanta habilidade que encanta todos os presentes.

Conde Robert: “Olha se não são os meus amigos de infância! Continuam com a mania de  se meter em confusão seus maloqueiros? Sir Enrick, é muito bom vê-lo pronto para lutar mais uma vez.” 

Sir Bedivere: “É um prazer Duque! Como vão, amigos? Conhecem o novo Castelão do Rei Arthur e Cavaleiro ordenado por Vossa Majestade?”

Barão Brian: “Quem?”

Sir Bedivere: “Eu mesmo, meu amigo."

Conde Robert: “Esse filho da puta salvou Arthur da morte certa e foi investido em campo de batalha. Arthur tem feito o melhor que pode e tem tomado decisões corajosas e certas. Mas, os saxões pilharam Eburacum, achando que o antigo Rei do norte tivesse deixado um tesouro. E vocês sabem como eles são... Bêbados, estupradores e violentos. Queimaram tudo! Então foram para Lincon e Arthur ergueu um cerco ao redor da cidade. Passamos quase três meses naquele mundo de merda e neve. Até que eles saíram das muralhas e lutamos. O estranho é que não era um grande exército. Lutamos quatro horas. Mas eles resistiram com uma parede de escudos sólida. Então ocorreu algo estranho... ”

Arcebispo Carmelo: “Exato meu bom rapaz, surgiu um cavaleiro lutando como um louco. Ele estava vestido todo de branco, com o rosto coberto e usava a mesma roupa que Sir Dylan de Tishea. Ele furou a parede de escudo dos saxões e nos deu a vitória. Mas pediu ao Rei que não precisasse revelar a sua identidade.”

Conde Robert: “Aí os bárbaros recuaram em direção a muralha de Adriano. Atravessaram e se embrenharam na floresta da Caledônia. Arthur nos liderou e fomos atrás deles. Acuamos o inimigo entre um desfiladeiro e a floresta. Bedivere teve a excelente idéia de que podíamos construir uma paliçada, ao estilo romano, e parte do exército saxão está lá, minguando de fome. Erguemos um cerco e devem estar esperando para ver o que acontece. A notícia de que o Duque Enrick e Excalibur retornaram à Britânia correu a ilha e então Arthur nos enviou até vocês.”

Duque Enrick: “Fizeram bem rapazes! Parece que vocês tem miolos ao contrário da maioria de nossos Reis.”

Sir Bedivere: “Infelizmente tenho ordens do Rei para o campeão da Rainha e o Marshall.”

Conde Robert: “Junto com o grande exército que está lá fora, vieram mais de quatro mil aldeões de todas as partes da Britânia. Principalmente do Norte que está em guerra há alguns anos. A maioria são mulheres, crianças e velhos. O Rei Arthur mandou que coletássemos provisões em todos os feudos que encontrássemos pelo caminho para os alimentarmos. Temos centenas de carroças com comida e bebida.”

Sir Bedivere: “Então, meus amigos, nosso Rei ordena que sigam para oeste, escoltem o nosso povo e as carroças com provisões. Ele pediu, Sir Bernard, já que você é o campeão da rainha, que protejam o seu bem mais precioso. Se a perder para o inimigo poderiam lhe chantagear. O Arcebispo Carmelo irá junto com vocês. Os saxões querem-no morto também. Arthur quer que se dirijam até a cidade de Bath. O lugar está distante dos combates. Lá é mais seguro que Logres. Quando o exército de Arthur atacar os saxões e garantir que não se desloquem para Londres, virão ordens para quem vocês partam de Bath e ataquem-os pelas costas, os surpreendendo.”

Barão Robert: “O Rei pediu que escoltemos a Excalibur e levássemos os homens que se apresentaram para o Norte juntamente com o Duque Enrick investido no comando. Tudo indica que o inimigo não saiu de Sussex. E é lá que Arthur quer atacar depois de se livrar dos saxões na Caledônia. Os inimigos capturados tem falado que possuem sessenta mil lanças prontas para combater. Mas Arthur acredita que enfrentaremos pelo menos metade disso.”

Duque Enrick: “Deixarei três mil homens com vocês. Será o suficiente para a escolta.”

Barão Brian: “Está certo, teremos que ir para oeste. Já que alguém tem que proteger a sua rainha.. Não é Bernard?”

O Campeão da Rainha, Sir Bernard Stanpid, fica em silêncio fitando as suas esporas.

Sir Bedivere: “Está certo, amigos! Boa sorte em sua jornada. Espero que nos vejamos   em breve.”

Partida para Oeste:

No dia seguinte, o grande exército liderado pelo Duque Enrick, seguido pelo Conde Robert, Sir Lancelot e Sir Bedivere, parte com a Excalibur marchando para o norte. 

Cumprindo as ordens do Rei Arthur, a escolta liderada pelo Barão Brian e Sir Bernard, parte pelo portão oeste de Londres deixando a grande cidade para trás. Mais aldeões juntam-se ao grupo, sobe os estandartes de Arthur, dos Stanpids e dos Herlews, totalizando uma multidão de oito mil pessoas. A longa fila formada por crianças, velhos, mulheres e mais de uma centena de carroças puxada por bois, seguem pela estrada do rei.  O Campeão da Rainha, Sir Bernard Stanpid, determina que Guinevere viaje disfarçada de Aia. Uma garota segue como a falsa rainha.

Rainha Guinevere: “Nossa, estamos indo tão lentamente que a viagem de três dias vai durar pelo menos uma semana.”

Viagem:

A maioria da viagem é feita com sol, mas alguns dias a chuva impede o grupo de prosseguir com as carroças encalhando o tempo inteiro. Pelo caminho as cidades estão todas fechadas com barricadas em seus portões. A maioria dos feudos sem muros estão desertas. Somente cães andam a esmo procurando algo para comer. Doentes foram deixados para trás. Milhares de pessoas fogem para o oeste correndo da guerra que se aproxima.

Metade da distância foi coberta em cinco dias. Um grande acampamento é erguido com lonas de couro e cabanas feitas de galhos e folhas. Próximo aos pavilhões dos nobres, crianças brincam com galhos como se fossem espadas. Outras correm brincando de pique esconde. Um homem sujo e magro, sem uma das mãos, usa um pedaço de pano para molhar a testa de sua esposa que está deitada e exausta. Um grupo de pagãos rezam para os deuses antigos de mãos dadas, enquanto um druida com um galho de mandrágora os benze. Um homem bem velhinho está deitado embaixo de uma árvore enquanto um padre lhe dá a extrema unção. 

Então um menino vem puxado pelo cangote por Martelo Maximus, o romano escravo  Africano, libertado há alguns anos por Sir Bernard. Ele se solta rapidamente fazendo uma careta para o grande romano. O que chama atenção é que ele está paramentado como um cavaleiro, mas deve ter uns 13 anos. Tem cabelos loiros compridos e olhos azuis. Sua espada longa de duas mãos, forjada para um homem de altura normal, é levada as costas para não arrastar no chão.

Sir Griflet (se ajoelha apresentando a espada): “Meus, senhores! Gostaria de me apresentar. Sou primo de Sir Bedivere, Sir Griflet.” 

Barão Brian: “Você já é cavaleiro? Como conseguiu isso com essa idade?"

Sir Griflet: “É que digamos que eu tenha realizado alguns feitos meu senhor, assim o Rei Arthur me ordenou.” 

Barão Brian: “Feitos? Como o quê?"

Sir Griflet: “Como matar mais de cem saxões em duelo singular. Tenho alguns truques, senhor. Mas não posso revelá-los, aí estaria em desvantagem em combate real. Seria uma honra se pudesse cavalgar ao lado de vocês.” 

Barão Brian: “Aceito você rapaz! Cormak, não desgrude do garoto!” 

A viagem continua e numa noite enquanto os cavaleiros comem peixe seco e tomam um caneco de hidromel no acampamento, uma senhora muito desgastada pela viagem desmaia próximo ao pavilhão. O Barão Brian corre acudi-la. Ao se aproximar o Cavaleiro percebe que ela é uma pessoa muito desgastada pela vida. Ela não possui dentes e suas roupas estão puídas e esfarrapadas. Vendo que está doente e cansada da viagem, devido à idade avançada, então o Barão leva a velhinha até Gwenever que prontamente passa a atendê-la. 

Irwen: “Muito obrigada, meu senhor! Meu nome é Irwen! A viagem está dura para quem tem idade. É a maldita guerra.”

Então ela percebe Sir Bernard se aproximando. 

Irwen: "Eu preciso ir, Senhor! Obrigado, preciso cuidar dos pequenos que viajam conosco. É bom saber que o jovem Rei nos enviou Cavaleiros tão bondosos.” 

E a Senhora se levanta, ainda um pouco cambaleante, e se afasta sumindo na multidão.

A Colina de Bath: 

A medida que o exército segue viagem pela estrada do rei, que serpenteia por entre as colinas, a multidão adentra uma planície. Leva pelo menos duas horas até a estrada chegar até uma colina. Ela possui um grande platô e as ruínas de um forte romano no topo. Ao norte dela, um rio corre sumindo do lado oposto. Então o Barão Brian recebe um recado de um criança, que corre até o seu cavalo onde está montado. Logo após Brian vai direto falar com o seu irmão de armas; Sir Bernard. 

Barão Brian: "A senhora que foi atendida por Gwenever, mandou dizer que está muito orgulhosa do homem que você se tornou e que ter o encontrado só confirmou que um dia ela tomou a decisão certa. A fita que você leva amarrada no pulso só confirmou o que ela sempre soube em seu coração; que um dos cavaleiros de Arthur era na verdade o seu filho. Um Cavaleiro da Távola Redonda. Pediu desculpas por ter se afastado mas a presença dela poderia estragar tudo que você tinha conquistado."

Então a caravana sobe o platô. Os Cavaleiros da Távola, Barão Brian e Sir Bernard, e os nobres, são os primeiros a atingi-lo. Do forte romano, que existia ali, sobraram os muros de terra e construções de madeira desabadas. Ao chegar na borda do platô, onde existe uma entrada entre os muros de terra, uma visão gela o coração dos Cavaleiros. Ao mesmo tempo eles percebem uma confusão, vindo da parte de trás da longa coluna, seguido dos gritos de pessoas em pânico.

Rainha Guinevere: “O que está acontecendo, Bernard?”

Sir Bernard: “Não sei minha rainha! Mas iremos descobrir mais rápido do que queremos.”

Lá de cima eles se deparam com um vale enorme, à oeste da colina. A antiga cidade romana de Bath se estende lá embaixo. Uma grande coluna de fumaça negra sobe ao céu de dentro de suas muralhas. Lá embaixo, cobrindo o vale com guerreiros, trebuchets, cavalos e milhares de celtas capturados, o exército saxão do Rei Ælle de Sussex os cercam.

Então, um dos aldeões chega correndo trazendo sua filhinha no colo. 

Aldeão: “Meu Deus! Muitos foram capturados na parte de trás da coluna! Poucas carroças conseguiram chegar no topo. Os saxões surgiram do nada, como se fossem invisíveis! Algo demoníaco! Capturam centenas de crianças e mulheres que viam mais atrás, os menores e os mais fracos que não conseguiam correr. Mataram os velhos com machados e lanças. Recuaram muito rápido! Meu Deus é o fim… É o fim! Minha mulher está morta!”

A maioria das pessoas choram e gritam se amontoando no platô. Carmelo vem correndo.

Carmelo: "Eles nos cercaram por todos os lados. Perdemos talvez duas mil pessoas. O exército saxão deve ter mais de trinta mil lanças.”

Aldeões:

Ao cair da noite o medo paira sobre a cabeça de todos. As pessoas sentam com um olhar de que desistiram de lutar. Todos sabem que os saxões podem subir a qualquer instante. Ao redor da colina milhares de fogueiras são acesas pelo inimigo.

Arcebispo Carmelo: “Esse forte foi usado na época dos romanos para controlar a região. É irônico, não? Agora serve de proteção para o nosso povo. Aqui é a colina de Bath, mas o povo antigo, aqueles que habitam os pântanos de Avalon sempre a chamaram pelo nome no idioma antigo: Badon.”

A madrugada é lenta. Apesar de ser verão, pode se sentir o frio da noite a céu aberto. Há choro de crianças por todos os lados e a tosse dos mais velhos. Perto do pavilhão dos nobres o som de uma mulher dando a luz perturba a noite inteira. Amanhece e a Rainha Guinevere vem até ali, parece não ter dormido e está com o vestido sujo de sangue. 

Rainha Guinevere: “Bom dia, Bernard! Daqui, até o rio Avon lá embaixo existe um mar de tendas saxônicas. O que pensam em fazer?”

Sir Bernard: “Teremos que esperar para ver o que o inimigo irá fazer. Quem sabe negociarmos…”

Rainha Guinevere: “O povo está sofrendo. Nasceram vinte e duas crianças nessa madrugada. Ajudei alguns a virem a esse mundo. Acho que foi o nervoso que passaram as suas mães. Infelizmente somente nove ainda estão vivos. O frio levou os outros.”

Guinevere coloca algo nas mãos de Sir Bernard. Ninguém percebe, mas ela entrega um lenço bordado com alguns fios de cabelo.

Arcebispo Carmelo: “Tem algo estranho... Porque vocês acham que eles não nos atacam de uma vez?”

Barão Brian: “Talvez esperando mais reforços. Se é que precisa de algum.” 

Visitas:

Então, um som de agitação começa na parte leste do platô.

Sir Bernard: “Vamos Brian, rápido!"

Um homem desdentado se aproxima dos cavaleiros, ele está magro e sujo. Suas mãos tremem e seus olhos estão esbugalhados de medo.

George: “Eu vi Senhor, em meio a bruma da manhã. Eles estão ali, enfiados atrás daquelas rochas ali embaixo. Vários homens! Talvez uma centena deles.”

Então, um dos homens atrás da rocha, mostra uma lança com galhos de azevinho enrolados. 

Sir Agravaine: “Podemos nos aproximar?”

Barão Brian: “Joguem as armas para que meus homens possam recolhê-las e então podem subir. Fiquem atentos…”

Então um Cavaleiro, da mesma idade que Brian e Bernard,  sai de trás de uma pedra. Ele possui cabelos pretos, cavanhaque e um olhar cheio de orgulho. Usa um quilt vermelho e branco. Tem tatuagens nos braços com espirais celtas, parte coberta por braceletes de couro. Seu escudo tem o fundo na cor branca e no canto esquerdo somente um pequeno quadrado em vermelho. Na cintura porta um mangual com 3 estrelas. Atrás dele segue cem guerreiros pintados de azul com runas pictas.

Sir Agravaine: “Viemos em paz, Marshall Brian! Sir Bernard, como vai? Sou Agravaine, filho do Rei Lot e irmão de Gawaine. Meu pai foi traído por Ælle e viramos vassalos do saxão. Somos Celtas e durante a madrugada debandamos para o exército de vocês. Teriam algo para comermos, Senhor? Estamos famintos desde que deixamos o exército inimigo ontem à noite.”

Sir Bernard: “Se quiserem morrer conosco! São bem vindos.”

Sir Agravaine: “AHAHAHAH! Claro… Essa é muito boa!”

Então eles se sentam, enquanto os lanceiros pictus fazem o mesmo. Sir Agravaine come e toma um caneco de hidromel despreocupado.

Sir Agravaine: “Seria uma honra conhecer o Duque Enrick Stanpid, Senhor! Posso falar com ele?” 

Barão Brian: “Como é? Faça o seguinte, mande seus homens se afastarem para conversarmos melhor sobre isso.”

Então os homens se afastam.

Sir Bernard: “Pois é… O fato é que Duque Enrick não está aqui.”

Sir Agravaine: “Não está? Os saxões estão preocupados com o Rei Arthur. Souberam que ele venceu algumas batalhas sem a ajuda da Excalibur ou de Merlim. Por isso não se moveram ainda para atacar. Será que então agora posso falar com meu tio?” 

Barão Brian: “Arthur? Bem… Infelizmente ele também não está aqui. Muito menos Merlim.”

Com a boca aberta cheia de comida, descendo pela sua barba, o Cavaleiro Pictu os observa chocado.

Sir Agravaine: “Como? O Rei não está aqui? São só vocês? (olha ao redor) Então suponho que iremos morrer… É por isso que os saxões não subiram ainda, temem Arthur, Excalibur, Merlim e o Duque Enrick, o Filho de Horsa.” 

O Cavaleiro Pictu fica olhando para o nada com o rosto fechado. 

Desafio:

No meio da tarde o céu limpa e o calor fica forte no alto da colina de Badon. O Arcebispo Carmelo vem correndo, até os pavilhões, segurando sua batina marrom e puída.  

Arcebispo Carmelo: “Chegaram pelo menos mais dez mil saxões. Olhem os estandartes espalhados  pela planície. O corvo de Cynric de Wessex, o cavalo vermelho empinado em fundo vermelho do Rei Aesc de Kent. Parece o de sua família Bernard, desde que eles passaram a ter cavalos Stanpid adotaram esse brasão. Eles dizem que assim o poder de Horsa também está ao lado deles! Aesc é o único rei Saxão com cavalaria! E ali está o brasão com os três Saex empilhados no fundo vermelho de Rei Aescwine de Essex. Mas vejam, a grande maioria são os estandartes do cachorro de Ælle.”

Escudeiro Cormak: “Sir Bernard, rápido! Há uma parede de escudos do outro lado da colina.”

A maioria das pessoas se espremem tentando enxergar o que está acontecendo no sopé da Colina. Os Cavaleiros abrem caminho. Quando chegam na beirada do platô eles vêem a parede de escudos formada por duzentos homens.

Saxões: “Desçam covardes! "Vão ficar aí como meninas, filhotes de gamo, vermes!” 

Barão Brian: “Preparar formação! Soldados, quero uma parede sólida que não se mova um passo para trás.”

Então um feiticeiro saxão surge por entre a parede de escudos. Escorregando de vez em quando, pela encosta úmida na direção dos celtas, ele aparenta estar nervoso e profere feitiços. Ele veste apenas uma capa curta de pêlo de lobo sem mangas e o seu cabelo está estrumado num único espigão alto. Então ele atira uma mão-cheia de pequenos ossos em direção aos Celtas. Então ele volta para lá e trás um garoto arrastado pelos cabelos. Um dos celtas capturados na chegada à colina. O feiticeiro o degola sem exitar. A criança, com não mais que nove verões, se debate e tosse tentando respirar, mas se afoga em seu próprio sangue e é deixada agonizando no capim, por algum tempo. 

Então o feiticeiro cospe três vezes, depois desce correndo, escorregando para a depressão, onde o chefe de tribo saxão está os observando. O feiticeiro pinta o rosto do guerreiro com o sangue do menino. O saxão é um homem corpulento com uma crina emaranhada e gordurosa, um cabelo dourado imundo que pende sobre um suntuoso colar dourado. A sua barba está entrançada com fitas negras, o elmo de ferro, as caneleiras de bronze romano decorado e o escudo pintado a máscara de um lobo mostrando os dentes. O seu elmo tem dois cornos de boi em cada um dos lados e encima uma caveira de lobo.

Chefe saxão: “Arthur! Desça para me enfrentar ou tenho mais crianças dessas para mandar para o inferno dos malditos cristãos! Tragam-no!" 

A outra criança, um menino de cabelos ruivos e rosto coberto de sardas aparece, arrastada, mais uma vez, pelos cabelos e com o olhar assustado. A emoção toma conta do Barão Brian e suas mãos começam a tremer. É o seu filho que não teve nem oportunidade de conhecer verdadeiramente e que o Barão viu uma vez no casamento de Arthur. O Cavaleiro não sabe nem ao menos o nome dele. O saxão atira o machado ao ar, fazendo-o rodar com a lâmina luzindo à luz fraca do sol, que tentava romper por entre as nuvens. O machado é longo e a sua cunha de lâmina dupla é pesada, mas ele apanha-o facilmente pelo cabo.

Chefe saxão: “Sou Cynric, filho de Cerdic e fui levado por seus pais para Avalon. E hoje começara a minha vingança! Nanteleode foi queimado pelas minhas mãos e prometo a vocês, seus filhos de uma cadela, que matarei os diante de seus homens! Quem vai ser o campeão do seu Rei covarde e sem barba, que se esconde por entre o povo?”

Barão Brian: “Eu vou! Você é meu cão maldito!”

Tudo se segue muito rápido. Como um predador bem treinado, mas cheio de confiança, Cynric ataca com seu machado longo. Brian acompanha o movimento da arma de seu inimigo e o desvia com o escudo. O Celta gira aproveitando a energia do golpe desferido pelo saxão e enterra sua espada no meio do peito do seu adversário, que fica com os olhos vidrados de dor e começa a sangrar pela boca e depois pelo nariz, caindo aos pés do Barão e Marshall da Britânia, Brian Herlews. O Cavaleiro Celta ergue a sua espada suja de sangue enquanto no topo da colina as pessoas começam a gritar e a dançar de contentamento. Aproveitando o momento de distração o garoto corre dali enquanto um saxão atira uma lança em sua direção. Cuspindo no chão e fazendo gestos obscenos a parede de escudos inimiga se retira dali, retornando a distância segura do cerco.

O menino por pouco não é acertado e sobe a colina assustado. Ele se joga aos pés de seu pai e ele, Barão Brian, cai de joelhos diante do garoto.

Garoto: “Minha mãe vinha falar com o Senhor! Mas fomos capturados lá atrás. Ela está morta… Os saxões são os monstros que as amas falavam nas histórias. Acho que o Senhor não sabe o meu nome. Ela disse que o Senhor é meu pai… Meu nome é, Tristan.”

Filho e pai se abraçam próximo ao corpo do saxão que tentava varrer os Herlews da história.

Comandantes saxões:

Aquele noite o frio foi bastante forte. Sir Brian sofre com a queda da temperatura. Pela manhã eles despertam com a terra tremendo sobe seus pés. Ao norte três gigantes se aproximam do acampamento saxão, dois deles puxam duas catapultas cada um e o último uma carroça enorme, cheias de barris de bafo de dragão.

Então os Celtas percebem uma agitação lá embaixo e uma grande formação de guerreiros se prepararem para a guerra. Pela trilha entre as tendas de couro ela se movimenta. São uns quinhentos guerreiros todos eles com seus cachorros negros de guerra e escudos cobertos da mesma cor. No centro um grande Rei monta um cavalo de guerra. Ele usa o seu sobretudo de couro, por cima da rica cota de malha. Seu elmo é em formato de cabeça de cachorro adornado com detalhes em ouro. Seus cabelos brancos amarrados, com pequenos pedaços de ossos de inimigos mortos e a barba com tranças vão até a cintura. O grande Senhor da Guerra, levando seu enorme machado de duas mãos nas costas e uma grande espada que descansa do lado direito de sua cinta, passa entre as fileiras inimigas, enquanto os seus homens abaixam a cabeça em sinal de respeito. O Rei Aelle cavalga, sem tirar os olhos do topo da colina, puxando a rédea com a única mão que lhe sobrou. Ele se aproxima e sobe até a metade do talude.

Rei Aelle: “Digam ao meu filho que vim falar de guerra! Só eu e ele.” 

Então faz um sinal para seus homens descerem a colina.

Sir Bernard: “Meu pai disse que não negocia com covardes.”

Rei Aelle: “Então você é o meu neto? Espero que seja tão corajoso quanto o seu pai. Seria melhor se vocês descessem a colina e depusessem as suas armas na estrada. Mataremos alguns como tributo a Wotan e o restante poderá viver como escravos.” 

Bernard desce até o Rei Saxão.

Sir Bernard: “Quanto tempo me dá para dar a resposta do Rei?"

Rei Aelle: “O Rei? Mande Arthur descer até aqui. Se o matarmos, a guerra estará ganha e vocês poderão viver.”

Sir Bernard: “Ele está ocupado com Merlim preparando a sua derrota, Avô!"

Rei Aelle: “Neto, você fala bem, mas soube que é mais calmo que Enrick. Parece que não há mais lugar nesses mundo para homens como eu e seu pai. Quem sabe, se sobreviver há matança que virá, você não conseguirá ser mais homem que nós dois juntos. Tome isso!”

Ele retira sua adaga embainhada e lhe entrega. 

Rei Aelle: "Essa eu retirei do primeiro homem que matei. Ambrosius Pendragon! Irmão de Uther. Ela é sua! Espero te encontrar mais uma vezes Bernard, nessa vida ou na outra… E você aí em cima é o Marshall de Arthur, não é? Tem bolas pra falar pelo Rei em campo de batalha?” 

Barão Brian: “Não perdemos tempo com quem mata mulheres e crianças."

Rei Aelle: “Então queimarei pessoalmente os seus corpos no final de tudo. Arthur será lembrado como aquele que foi responsável pelo final dos Celtas. Como disse um dia, não exitarei em matar meu próprio sangue. Mas o aço cura tudo, não é?” 

Então ele estende a mão boa e cumprimento Bernard, sobe em seu cavalo, cospe para afastar o mau olhado e retorna com os seus homens para o acampamento.

Conselho de Guerra:

Estão presentes no pavilhão da Rainha, Guinevere, Sir Bernard, o Barão Brian e o escudeiro Breno.

Sir Bernard: “Eu não sei quanto a vocês mas não vejo saída. Não temos como resistir. Teremos que entregar nossas armas.”

Rainha Guinevere: “Jamais Bernard. Você sabe o que eles fazem com as nossas mulheres e crianças… Seremos escravizadas, mortas e violadas. Prefiro a morte do meu povo a cair nas mãos desse animal.”

Barão Brian: “Isso aqui já é um cemitério. Todos estamos mortos. Só nos resta lutarmos até o último homem, mulher ou criança. Não podemos nos entregar.” 

Então o Arcebispo Carmelo entra na tenda.

Arcebispo Carmelo: “Senhores, mensagem do Rei Aelle. Ele pediu duzentas mulheres como garantia de que irão se entregar.”

Sir Bernard: “Maldito! Eu não serei aquele que irá entregar os celtas aos saxões. Isso eu não farei! Diga ao meu avô que nos veremos em campo de batalha. Deixem as pessoas comerem e beberem tudo que quiserem.”

A Batalha do Monte Badon:

Então, ao amanhecer do dia seguinte os tambores saxônicos começam ressoar. Os gritos da multidão lá embaixo parecem o anuncio de uma tempestade. Em meio a bruma da madrugada, que se dissipa na planície, eles vêem o inimigo começar a se armar para a guerra. Milhares de homens lá embaixo, seus cachorros e cavalos de guerra. O brilho das lanças, espadas, machados cobrem de prateado a paisagem. Os gigantes urram enquanto seus senhores os chicoteiam montados em cavalos. Os trebuchets, distribuídos ao redor da colina de Badon começam a se aproximarem puxado por cavalos. Fumaça negra e o cheiro ocre pode ser sentido ali, no cume da colina.  

Arcebispo Carmelo: “Bafo de Dragão… Vai começar…”

PRIMEIRO DIA

PRIMEIRA HORA:

Número de soldados celtas: 2400
Número de aldeões celtas: 2600
Número de guerreiros saxões: 40.0000

Cavalgando ao redor da colina, com o machado, sustentado habilmente apenas pela mão que sobrou, o Rei Aelle cavalga sério. Enquanto isso os saxões urram em uma torrente de hesitação e ódio. Então o homem mais poderoso da Britânia, pendura seu machado de guerra nas costas, retira da cintura seu corno de guerra e o assopra! Os braços dos quatro trebuchets começam a cortar o vento. As grandes peças viajam em arco até que travam lá em cima. As cordas de cânhamo com lançadeiras de couro se esticam metros acima do solo. E os barris em chamas, se transformando em bolas de fogo, são lançadas em trajetória de parábola no céu azul. O rastro de fumaça começa a se desenhar e quando perdem a energia elas começam a cair em direção ao cume da colina de Badon. Até que uma a uma elas se chocam lá no alto.

Quando as bolas de fogo atingem o cume da colina, o bafo de dragão incandescente se espalha como um líquido pegajoso varrendo tudo ao redor. As pessoas em pânico se empurram fazendo mulheres e crianças rolarem talude abaixo, sendo arrastadas para dentro das fileiras inimigas. Rapidamente os cachorros de guerra dão cabo delas, ficando loucos e agressivos com  o cheiro de sangue e de carne queimada. Outros se rolam em meio as chamas e os gritos de pavor e pedidos de socorro são abafados pelos sons das chamas altas e da fumaça tóxica. O Barão Brian é acertado pelo líquido pegajoso e se contorce enquanto o fogo lhe queima o rosto. Bernard e Breno saltam sobre ele apagando as chamas com a terra úmida de orvalho.

Na segunda onda de ataque o braço de um dos trebuchets se rompe, sendo lançado em parte do próprio exército inimigo. Os saxões correm com os corpos em chamas. Se rolando no chão com as cotas incandescentes. Mais uma vez as bolas de fogo dos outros trebuchets sobem e caem deixando um rastro de fogo com calor infernal, no topo da colina. Uma delas atinge os animais. Eles atropelam e espalham o bafo de dragão, queimando quem está em seu caminho. A maioria  dos cavalos correm colina abaixo. Um estouro de animais se choca contra a grande parede de escudos inimigas que também se irrompe em chamas. Os próprios saxões atiram lanças em seus guerreiros, extinguindo a agonia daqueles que se tornam pequenos tocos negros de gordura derretida. Bruma, a égua de batalha de Sir Brian, esta entre os animais mortos. O Cavaleiro também é atingido pelo fogo e sofre queimaduras, enquanto o bafo de dragão se espalha por sua cota normanda. Após muita agonia ele é ajudado pelo escudeiro Breno que apaga as chamas. Ali em cima os corpos estão calcinados. Inevitavelmente os Celtas sentem o sabor da fumaça vindo deles. 

Mais uma vez, precedido pelo som da turba inimiga ensandecida, os barris de fogo alçam vôo. Eles começam a cair mais uma vez. Os gritos de pânico não param… Naquele dia claro, nuvens que pareciam não estar ali começam a rugir. Então começa a chover. Forte, grossa e poderosa molhando tudo. O fogo dos barris e do campo de batalha se extinguem. Os barris se chocam no chão se espatifando sem causar danos. Saindo do meio dos aldeões com um menino pela mão, com os olhos cheios de lágrimas ela abaixa o capuz que escondia o seu rosto, em meio a multidão que corre e grita. Ela olha para chuva enquanto faz um gesto ritualístico fazendo-a parar.

Ellen: “Olá Bernard, tentei proteger Perceval de ver uma guerra e quem luta nela. Mas falhei… Então acho que vocês irão precisar de mim, irmão Bernard.”

Os dois se abraçam carinhosamente.

Final da primeira hora:

No final da primeira hora o cume da colina está repleto de fumaça negra. Esqueletos calcinados de adultos, animais e crianças estão espalhados por toda parte. No alto um bando de corvos voam em círculos. Os milhares de saxões riem e gritam o nome de Aelle.

SEGUNDA HORA:

Na segunda hora de combate uma mancha negra parece se mover na altura dos joelhos dos inimigos lá embaixo. Os latidos e rosnados enchem a planície. Milhares de cães rosnam enquanto seus senhores os atiçam com sangue e estocadas de lanças. Aelle continua a cavalgar ao redor da colina.

Rei Aelle: “A Britânia tem um novo senhor! Essa terra agora é saxônica! Wotan, me escute! Eu ofereço as vidas que estão no alto da colina de Badon à você. Eu ofereço o que há de mais precioso para um homem. Eu lhe entrego o sangue de meu neto nesta tarde! Soltem os cães!”

Então os milhares de cachorros começam a correr em direção ao talude. Eles espumam e latem arrancando tufos de grama. As pessoas, ali no alto,  começam a gritar em pânico e a se espremerem em direção ao centro. Muita gente, principalmente os mais fracos são pisoteados. Os latidos soam alto e o segundo de silêncio é seguido por gritos de dor e rosnados, enquanto os cachorros Rottweilers dilaceram suas vítimas, saltando em seus pescoços. O cheiro de sangue e de merda, enquanto as barrigas são abertas, se espalha no ar.

Os cães correm, saltando no ar, em direção a parede de escudos céltica em formação. Eles pesam mais que um homem. Seus dentes se projetam em direção aos  pescoços dos cavaleiros. Treinados para morderem onde não existe proteção, as feras são letais. Por todos os lados surgem cães tentando morder os heróis. Eles se defendem como podem. O Barão Brian golpeia de uma lado, logo surge outro animal do outro. Sua espada faz o sangue espirrar para todos os lados. Bernard se protege com o escudo enquanto mata um cachorro enfiando sua lâmina por baixo da mandíbula do animal atravessando o seu cérebro. O escudeiro Breno golpeia com a sua espada de cima para baixo espalhando miolos de cachorro nos homens ao seu lado.  

Final da segunda hora:

Quando os cornos de guerra começam a serem assoprados, os cachorros, bem treinados, começam a retornar para o exército saxônico. Alguns deles sem um dos olhos, outros com as patas quebradas e outros animais com as mandíbulas cheias de sangue. Um amontoado de corpos dos cachorros cobrem o alto da colina. A relva já se transformou em uma lama de sangue. O mais triste é que a maioria das pessoas atacadas pelos cachorros não morrem instantaneamente. Estão caídas, dilaceradas, com suas gargantas cortadas tentando respirar um ar que se mistura ao sangue e os afoga lentamente. Os olhos cheios de medo imploram para que não os deixem partir desse mundo. Aos poucos os corpos, ladeados por milhares de cachorros mortos e familiares que choram sem poderem fazer nada, estremecem e ficam imóveis.

TERCEIRA HORA: 

Na terceira hora do ataque o silêncio ali em cima é total. As pessoas estão em estado de choque. Muitos estão de joelhos olhando para o nada e outras andam sem direção. Algumas crianças pequenas, que perderam os pais, choram por entre os corpos. Os soldados tremem e tem os olhos arregalados de tenção. Fumaça, cadáveres de pessoas, cachorros, esqueletos calcinados, em meio a lama de sangue, estão por toda a parte. É o meio da tarde e lá embaixo, na parte oeste do acampamento inimigo, pode se ver uma parede de escudos se preparar para subir o talude. Um estandarte de guerra sinistro, formado por cabeças cortadas de homens do Pântano de Maris, é carregado. Um saxão cavalga abaixo dele. Sua cota e elmo são refinados, seus pulsos cheios de braceletes.

Arcebispo Carmelo: “É o Rei de Essex, Aescwine. O Duque Enrick ajudou a destruir o exército do pai dele, Aethelswith, há 10 anos no norte. O povo de Maris entregou a cabeça do rei saxão para o Duque quando ele fugia do cerco, usando a escuridão pelo pântano… Pelo jeito o povo do pântano foi exterminado por eles.”

Sir Agravaine: “E Aelle o está mandando porque ele é um rei sem exército. Neste momento ele deve muito ao Cão de Guerra! Pelo jeito Aelle não quer mandar todas as tropas. Está com medo medo de ter grandes baixas. Precisará dominar todo o território que conquistar, quanto menos perdas ele tiver, melhor.”

O inimigo começa a bater seus escudos enquanto o Rei saxão Aescwine grita palavras de incentivo. Ao mesmo tempo os escudos de tília vão se juntando e estralando. Espadas, lanças e machados saem das brechas entre os guerreiros. Pelo menos duas fileiras engrossam a parede de escudos. Eles começam a caminhar lentamente. Dali os Cavaleiros vêem os heorthgeneats, o equivalente aos cavaleiros saxões, se aproximando. Eles vão subindo o talude enquanto xingam. Dali de cima começam as cusparadas. Eles aceleram no último momento até que os escudos celtas e saxônicos se chocam. O tranco e as armas inimigas começam a vir de todos os lados. Os gemidos de dor e de morte começam a serem ouvidos. Lançam atingem o Barão Brian em seu ombro e em suas canelas. Sua cota absorve a maioria dos golpes. Seu golpe não acerta o saxão que o pressiona com o escudo à sua frente. Surge um outro no lado esquerdo. Ele alivia a pressão de seu escudo e golpeia no vazio mais uma vez. Ele sente uma certa resistência de sua arma e depois rasgar a carne de alguém. Outro lanceiro surge com o braço por debaixo do escudo. Sir Bernard o golpeia lhe cortando o braço fora. O escudeiro Breno luta firme ao lado deles. Uma ponta de lança passa lambendo o seu rosto. O garoto dá um golpe de cima para baixo sentindo a resistência de um elmo de ferro e depois a vibração dos ossos de um inimigo se partindo.

Final da terceira hora: 

Sir Agravaine e seus pictus lutam espremidos entre um grupo de soldados e os aldeões  que começam a atirar coisas na parede de escudos inimigas. Uma lança entra por uma brecha e atravessa o olho de um pictu de sua tropa, que cai com a língua para fora, tentando tirá-la. Ele grita enquanto do outro lado o saxão o puxa. O homem semi morto fica batendo com o rosto no escudo de seu companheiro. A parede de escudos céltica, ali, vai sendo aberta. Sem opção, Sir Agravaine desce sua espada cortando a cabeça de seu próprio soldado. Mesmo assim muito saxões começam a chegar no alto da colina promovendo uma matança ali. A quantidade deles vai crescendo e superando o número de homens do exército céltico. 

QUARTA HORA: 

No final da tarde a parede de escudos saxônica vai fechando os seus braços sobre as tropas celtas. O cansaço começa a tomar conta dos dois lados mas, o maior número de saxões, faz com que a vantagem fique com o inimigo. O movimento da batalha traz um bando de Jutos até a unidade comandada pelo Barão Brian. Eles usam cotas remendadas e elmos maiores que suas cabeças; pilhagem de outras batalhas. Os Jutos atacam e empurram forte com os seus escudos, fazendo aquela seção recuar um passo. O escudeiro Breno atinge um Juto no pescoço fazendo o homem cair e atrapalhar o avanço do outro inimigo que investia vindo de trás. Ao mesmo tempo o Barão Brian leva um golpe em cheio em sua cota, fazendo-o o ajoelhar. À frente de Sir Bernard Stanpid surge um Rei saxão; Aescwine de Essex. 

Aescwine de Essex: “Abram! Você é meu, seu filho da puta! Vou tomar hidromel no seu crânio! Vou acabar com a sua família começando com você seu bosta!” 

Enquanto isso os Jutos caem em cima de Breno e Brian, bloqueando a passagem. Eles enfrentam a guarda real com coragem. Enquanto isso Aescwine salta com o machado golpeando Bernard. Ele erra e o Cavaleiro Celta se movimenta para o lado e tenta acertá-lo com a sua espada. A arma passa no vazio e a cunha afiada do machado acerta sua perna, arrebentando as tiras de couro e fazendo a proteção de ferro cair. O sangue começa a jorrar e a tontura toma conta de Brian que cai desmaiado. O saxão ergue seu machado para desferir o golpe final e Breno percebe. Ele se arrisca dando as costas para o seu adversário que erra o golpe. Breno dá um tranco em Aescwine o derrubando e fazendo sua arma cair. Eles trocam socos enquanto Brian é arrastado pelos seus homens para longe para a parte de trás da parede de escudos. Enquanto isso o Barão Brian corta a garganta de mais um Juto. O Rei saxão se vira buscando desesperadamente seu machado.

Aescwine de Essex: “Não serei morto por um reles escude…”

O escudeiro Breno risca a sua espada na horizontal e a cabeça do Rei saxão voa para longe, em meio a batalha. Vendo a cena os soldados próximos se enchem do júbilo da batalha e empurram os saxões em direção ao talude. 

Final da quarta hora: 

No final da quarta hora o Rei Aescwine está morto. Os saxões ali no alto estão sem comandante, agora eles lutam sem formação. Então todos ouvem o grito de uma mulher; É a Rainha Guinevere. 

Rainha Guinevere: “Agora!” 

Vários aldeões empurram três carroças em chamas em direção a parede de escudos inimiga. 

Guinevere: “Saiam da frente!”

Muitos saltam tentando escapar mas são atropelados. Pegando velocidade, no início do talude, as carroças se chocam com força, pegando fogo contra os inimigos, derrubando muitos saxões lá para baixo. As carroças incendeiam homens, quebram ossos, esmagam crânios e por fim desfaz a parede inimiga. O ataque morro acima fica impossível. Então sem líder ou formação, os saxões começam a correr para a planície. Enquanto a maioria dos celtas se jogam no chão exaustos, sujos de lama e sangue. O alívio toma conta de todos enquanto os aldeões abraçam a rainha.

NOITE PRIMEIRO DIA:

A noite cai e mais da metade das tropas e aldeões estão mortos. As fogueiras lá embaixo são acesas. Os milhares de corpos caídos começam a cheirar mal. Muito choro é ouvido dos órfãos e dos adultos que perderam suas esposas e maridos. O céu começa a relampejar e a chuva começa a cair, baixando a temperatura. Todos ficam tremendo e expostos ao frio. A Rainha Guinevere fica ao lado de seu amado e campeão, Sir Bernard, enquanto Breno estanca o sangue e costura o ferimento do Cavaleiro.

Sir Bernard: “Essa foi por pouco! Obrigado, rapaz.”

Escudeiro Breno: “Não foi nada Senhor. É sempre uma honra!"

Rainha Guinevere: “O corte não foi profundo. Foi a dor do golpe que fez você desfalecer, meu protetor.”

Sir Bernard: “Amanhã lutarei novamente minha Rainha. Não podemos fraquejar.”

SEGUNDO DIA

A chuva continua a cair forte na manhã encoberta e escura. O acampamento saxão parece estar mais lento do que no dia anterior. Muitos se protegem da tempestade nas tendas de couro. Um grupo de celtas é chicoteado enquanto abrem um largo caminho por entre o acampamento usando pás de madeira. 

Bispo Carmelo: “Parece que a chuva vai segurar os bárbaros por algum tempo. Mas o que eles estão fazendo lá embaixo?”

No meio da tarde, desse dia, os tambores começam a soar e muitos deles saem na chuva para ver o que está acontecendo. De um grande buraco, coberto com toras, existente ao fundo do acampamento, saem os três gigantes com correntes em seus pescoços. Eles urram enquanto seus pastores, montados em seus cavalos Stanpid, com os grandes cachorros negros mordendo as suas canelas, são pastoreados em direção ao caminho aberto pelos escravos.

PRIMEIRA HORA:

Então os gigantes começam a caminhar ao redor da colina e do acampamento estremecendo tudo. Um para o norte, outro do lado sul e o último à leste. Aelle cavalga com seu corno de guerra nas mãos. Ele olha para o alto da colina, sério e preocupado. Então ele assopra forte o chifre de guerra. O eco na planície vence o som da chuva. Os pastores de gigantes começam a gritar e a estocar. Os cachorros latem para as criaturas. Irados os gigantes pegam o que há mais próximo em suas mãos. Ao mesmo tempo um deles pega uma pedra enorme, outro duas árvores e o último um cavalo. Eles giram seus braços e os atiram em direção a colina.

O cavalo cai antes, acertando várias pessoas e rasgando-se em pedaços, com tripas e membros se espalhando por todos os lados, deixando corpos e pessoas aleijadas pelo caminho. A árvore faz o mesmo derrubando gente e levando várias lá para baixo. A pedra cai quase que numa trajetória em noventa graus. As pessoas gritam e tentam correr dali. Ela passa raspando o rosto do Barão Brian que se atira para o lado e escapa da morte certa. Um velho com as pernas quebradas coloca a mão na cabeça e fecha os olhos. Outros tentam correr mas, não existe espaço. E a grande rocha cai abafada enterrando metade de sua massa na relva molhada. O sangue dos corpos esmagados se espalha.

Final da primeira hora: 

Os gigantes urram enquanto a multidão de soldados saxões comemoram. Aelle mostra o punho para seus homens, enquanto cavalga vigorosamente ao redor da colina. Ali em cima a morte e o choro estão por toda a parte. Alguns soldados que sobraram se ajoelham e rezam. Outros, parecem ter perdido a vontade de lutar.

Aelle: “Gigantes! Cargaaaaaa!"

SEGUNDA HORA:

Nesse momento os Cavaleiros Saxões, pastores de gigantes, cutucam as criaturas que urram. Leva um tempo até elas entenderem. Mas algumas estocadas de lanças e as três criaturas, mais altas que as muralhas de um castelo, olham para cima da colina. Então, as mulheres começam a gritar de medo. Os Gigantes colocam as mãos nos ouvidos, urram mais uma vez e então começam a correr. Tudo sacode! Algumas tendas caem, assim como guerreiros saxões que estão mais perto. Lama é lançada para trás enquanto eles começam a se deslocar em direção ao alto do talude. Um do norte, outro do sul e outro do oeste. O grito de pânico aumenta anunciando a matança. 

Os dois primeiros gigantes chegam ao mesmo tempo do sul e do oeste. O primeiro ergue um tronco de árvore e desce com força. Um grupo de pessoas coloca as mãos para o alto tentando se proteger mas, morrem em um piscar de olhos. O segundo levanta o seu pé, do tamanho de um barco, para pisotear um grupo mais próximo. Mas, o gigante para por uma batida do coração. Quando os Cavaleiros olham para trás vêem Ellen com os seus olhos revirados, em transe, caída de joelhos. A grande criatura olha para o outro gigante e salta em sua direção. 

Sir Bernard: “Ellen está dentro da mente de um dos gigantes! Se agarrem em alguma coisa!”

O deslocamento de ar arrebata tudo que está no caminho. O impacto entre os dois Gigantes é como se duas montanhas se chocassem. Eles caem no talude leste levantando uma montanha de barro para todos os lados. Neste momento o outro gigante chega ali em cima. As pessoas correm para o lado oposto para escapar da fera. No pânico muitas caem colina abaixo sobe as risadas dos saxões. Os soldados celtas tentam distrair a criatura. Mas, o escudeiro Breno, sem pensar duas vezes, saca a espada que um dia foi de seu pai; Sir Oswalt Stanpid.

Escudeiro Breno: “Quebra Gigantes!"

A criatura olha para o rapaz correndo por entre as suas pernas e tenta agarrá-lo, se prostrando. O garoto com bastante agilidade desvia da grande mão e com um salto sobe pelo pulso, corre pelo braço da fera e salta, fincando a espada no meio da testa do Gigante. A criatura urra, enquanto o peso do escudeiro faz o serviço e o rosto da fera é dilacerado de cima para baixo rasgando nariz e a boca fétida até se desprender embaixo do queixo. Junto com uma torrente de sangue negro e purulento Breno cai e corre para longe enquanto a vil criatura se estatela morta no talude leste da colina.

Do outro lado os dois gigantes lutam furiosamente. Um rola por cima do outro tentando se sufocar. Um deles, que consegue se manter por cima por alguns instantes, desfere um soco. O outro desvia, fazendo enterrar o punho de seu adversário na terra, jogando lama metros acima da colina. O que estava caído se levanta e salta fazendo uma carga. Os dois caem em cima de parte das pessoas no topo da colina. O gigante que está em cima coloca todo o seu peso fazendo o outro bater a cabeça na pedra enterrada, arremessada no dia anterior pelo Trebuchet. Enquanto a criatura urra de dor e um cheiro de podridão amarelo começa a se espalhar pelo gramado, ela começa a esmagar o crânio do outro gigante. 

Final da segunda hora: 

Assim acaba a segunda hora do segundo dia de combate. Os saxões não entendem exatamente o que está ocorrendo lá em cima. Observam em silêncio em meio a chuva fria, enquanto os gritos ecoam na planície e o chão volta a se estremecer.

TERCEIRA HORA:

No início da terceira hora, do segundo dia de combate, quando a cabeça da criatura é esmagada, um dos seus olhos, do tamanho de uma roda de carroça, salta da grande órbita, fazendo cair uma torrente de sangue negro e quente. Um som, como se um grande barco tivesse se partido ao meio, é ouvido. O grande gigante está morto. Sobrando de sua cabeça só a língua e ossos partidos. Ele é atirado jogado para a parte norte da colina. Os Cavaleiros não sabem se foi a criatura que Ellen comandava que está morta. Ela parece bem e estar ainda em transe. Então, o gigante corre em direção ao acampamento inimigo. Ele pisoteia e tenta matar o máximo de saxões que pode conseguir. Até que os milhares de guerreiros fazem a criatura se ajoelhar. Enquanto morre dilacerada em meio a agonia da dor, em espasmos o Gigante causa um terremoto pela última vez. Ellen cai desmaiada e sem forças. Enquanto isso o fim de tarde com céu azulado negro, com as primeiras estrelas, contrasta com fogo subindo ao fundo do acampamento saxão. As chamas vão se espalhando enquanto os trebuchets e seus barris cheios de Bafos de Dragão explodem.

Final da terceira hora:

Assim acaba a terceira hora de combate. A fome toma conta de todos. O fogo queima parte do acampamento inimigo onde o caos se instala. Subindo em direção ao talude, vindo da face sul da colina, um grupo de homens se aproxima. São pelo menos quinhentos deles, armados com bestas. O seu líder usa a mesma armadura e máscara que Sir Dylan, morto há anos em combate.  

Barão Brian: “Ei rapaz! Você é muito mais baixo que Sir Dylan!”

Eles se aproximam, aproveitando o caos que reina lá embaixo e o susto da aparição. Estão sujos de fuligem e cheirando a Bafo de Dragão.

Cavaleiro: “É uma honra estar entre vocês, nem que seja para morrer ao seu lado! Os saxões juram que um fantasma os atacou essa noite.”

Ele se ajoelha e desembainha a sua espada, a entregando ao Barão Brian. Ele retira a máscara. Eles vêem um rapazinho de doze anos, com a pele clara, com os traços aquilinos e com os cabelos duros de cinza de fogueira e mel. O símbolo da resistência celta, em vermelho, está pintado em seu rosto. 

Dragonet: “Minha mãe me enviou, Senhor! E me fez jurar que eu os ajudassem nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Precisávamos de algo que assustasse os saxões. Conseguirmos colocar fogo em tudo que pudemos lá embaixo! Ah, desculpem! Sou filho de Sir Léo, o Romano, Cavaleiro da Cruz do Martelo e de Lady Ellen de Sarum. Eu sou Dragonet de Sarum e gostaria que me aceitassem em seu exército!”

NOITE SEGUNDO DIA: 

Somente mil e quinhentos pessoas estão vivas, entre soldados e aldeões. Naquela noite não se ouve mais choros. Não se escuta nenhum som vindo do acampamento inimigo que parece estar um caos, com os saxões combatendo as chamas. Todos parecem estar desistindo. A solidão que cobre a noite de céu claro parece tomar conta dos dois lados. A Rainha Guinevere corre atendendo os feridos e moribundos. Carmelo distribui as extrema unções, enquanto alguns Druidas sacrificam aqueles que não tem chance de viver. É tocante ver as crianças se refugiando perto do cadáver do gigante para se protegerem do vento, apesar do mau cheiro e do medo que sentem.

TERCEIRO DIA

Ao amanhecer o acampamento inimigo parece desorganizado. O mau cheiro ali em cima é insuportável. A comida acabou. Ironicamente o corpo dos gigantes barram a subida do lado norte e oeste e o outro do lado leste. Formando um corredor e evitando ataques de várias direções. O dia vai passando e tudo parece em silêncio. Algo chama a atenção lá embaixo. 

Sir Bernard: “Olhem, são tochas e mais tochas sendo acesas, um mar delas.” 

Bispo Carmelo: “Parecem estar se armando de novo.”

Guinevere: "Acho que não resta mais saída para eles. Se não vierem de uma vez terão que ir embora. Não conseguirão conquistar o resto do país se não conseguirem conquistar nem mesmo essa colina."

Então os tambores anunciam o movimento. Os milhares de saxões se aproximam fazendo um aglomerado de várias fileiras. Aelle e os outros reis saxões e líderes tribais cavalgam atrás da grande parede de escudos. Os homens da frente batem nos escudos enquanto caminham lentamente. Seus rostos barbudos e sujos, iluminados pelas tochas dos que vem atrás, parecem cansados e raivosos. Eles gritam compassadamente e começam a subir pela parte sul do talude, em direção ao topo da colina de Badon. 

Barão Brian: “Parede de escudos! Falta pouco para acabar homens! Nos vemos do outro lado da ponte de espadas ou no inferno! Rolem os corpos para frente, assim daremos uma chance para eles lutarem antes de sermos mortos.”

Sir Bernard: “Vamos homens! Britânia!” 

PRIMEIRA HORA:

Os guerreiros saxões de trás protegem os da frente com os escudos. No início eles caminham lentamente, então o chifres de guerra começam a soar e o inimigo aos coros de “morte” começam a subir o talude. Uma voz de um adolescente cresce em meio a formação de combate.

Dragonet: “Besteiros! Disparar!”

Quando a trombada das paredes de escudos ocorre, os saxões que vem atrás começam a empurrar. A força que o pequeno número de Celtas tem que aguentar é descomunal. De frente para a unidade do Barão Brian, cuspindo e esbravejando, está um grupo de pictus que não desertaram. Elas usam kiltes xadrezes, braceletes e tatuagens de animais pelo corpo inteiro. São todas mulheres, a maioria delas ruivas. Elas cospem, mostram a língua, enquanto os homens que estão ao redor delas vão caindo, furados pelas suas lanças, enquanto elas saltam pela parede de escudos céltica com os rostos sujos de sangue. Uma delas apoiada pelos pés em botas de pelo de urso, salta por cima do escudo e com uma corda começa a enforcar o Barão Brian. Ele luta para se livrar dela enquanto sufoca. Até que consegue se abaixar e dar um impulso, fazendo com que ela venha para frente e ele dê uma cabeçada e a atire de volta talude abaixo. Sir Bernard é agarrado pela mulher que tenta lhe morder e degolar com uma faca com lâmina de pedra. Ele a puxa para dentro da parede de escudos e explode sua cabeça com o bico de seu escudo. Breno é atacado pela picta, quando ela salta em seu pescoço ele se protege com o escudo a atirando para trás. Ela cai dentro da parede de escudos celtas e é dilacerada pelos soldados.

SEGUNDA HORA:

O primeiro ímpeto da batalha passou. Os corpos no chão atrapalham o avanço saxão. Mas eles continuam lentamente, subindo o talude. Máscaras horríveis surgem de trás dos escudos. As peles de rostos arrancadas de cadáveres celtas, ainda com tufos de cabelos, sangue e barba cobre os rostos dos saxões. Os olhos frios são mensageiros da morte que trazem em suas armas. Eles urram com seus machados de guerra. 

Barão Brian: "São os Anglos e eles querem os nossos rostos como troféus!" 

Eles estocam por baixo do escudo de Sir Brain. O Cavaleiro Celta pisa no braço do inimigo o prendendo entre o seu escudo e o de Breno o corta com um só golpe. Outro homem ataca e acerta o garoto que sente a sua visão escurecer por algumas batidas do coração. Uma lança entra e o atinge causando um hematoma em sua barriga. O Barão Brian toma um golpe pesado em seu ombro mas, sua cota e elmo resistem fazendo sua cabeça girar. 

Ali próximo Dragonet luta como um louco bradando sua espada por entre a parede de escudos. Ele é rápido e habilidoso. Parece não ter medo de estar ali. A força física é compensada pela velocidade de raciocínio e posicionamento. Enquanto o inimigo pensa em um movimento ele já prevê  o que vai ocorrer e faz mais dois movimentos de defesa e ataque. Três homens jazem degolados próximo aos seus pés.

TERCEIRA HORA: 

A Batalha continua. Os músculos ardem e a exaustão torna a luta mais lenta. A parede de escudos céltica cede mais terreno. Agora o inimigo já começa a lutar no platô da colina. A vantagem dos celtas se perde. Os homens cruéis com as suas máscaras terríveis continuam ali. Um bando deles se choca contra os escudos Celtas. Eles urram como animais e lutam como bestas enfurecidas. Esperam primeiro serem atacados pra depois descontroladamente, abrindo suas aguardas, se jogarem no meio dos celtas e matar vários deles. Mesmo amputados e perfurados continuam estocando até a morte. Um soldado grita em céltico no meio da multidão: “Berserkers!"

Eles vão se esgueirando, rodando e se empurrando, dois deles matam seis soldados rapidamente. Brian, Bernard e Breno permitem que só um deles entre, então ele fere o garoto no pescoço e derruba o Barão, quando vai desferir o golpe fatal, Sir Bernard o cala enterrando sua espada nas costas do saxão, fazendo a lâmina sair pela altura do externo. 

Pelas estrelas no firmamento eles percebem que é madrugada. Nesse momento eles sentem os seus soldados fraquejarem e aos poucos vão sendo cercados pelo inimigo. A maior parte dos saxões aguardam subir ali e promover a matança. A grande maioria deles está em meio a multidão, que se estende pelo talude e parte da planície, tentando cruzar o corredor formado pelos corpos dos gigantes caídos. O mar de corpos que se acumulam ali em cima,m forma um chão irregular. Os feridos são pisoteados enquanto o inimigo avança. O cheiro ferroso de sangue causa enjôo. A colina está virando um matadouro. Uma armadilha, já que não existe como escapar dali. Mulheres e crianças se amontoam ao norte da colina e se abraçam esperando o momento que o inimigo chegue  para causar a matança. Mais uma vez os cornos de guerra soam e a multidão inteira empurra. A força é tamanha e o cansaço tão intenso que os Celtas, agora em número reduzido, não aguentam e sedem a formação. O inimigo invade o platô.

Os soldados Celtas vão sendo mortos, enquanto os saxões descem as cunhas dos seus machados de guerra. Um homem ajoelhado implora para não ser morto mas tem sua cabeça arrancada. Um saxão com cabelos longos negros e barba cheia, com os braços repletos de braceletes, pelos seus feitos realizados vê Sir Bernard Stanpid. O imponente senhor da guerra se aproxima pisando duro, por cima dos cadáveres.

Aesc de Kent: “Guarda real siga-me, porque esse bastardo é meu! Eu quero  derramar o sangue do filho de Sir Enrick.”

Então as armas se cruzam, ao mesmo tempo o Escudeiro Breno e o Barão Brian enfrentam dois guerreiros da guarda real. Sir Bernard desvia do primeiro golpe da espada de duas mãos do Rei Aesc de Kent e tenta o derrubar com um golpe seco. A lâmina se enterra na cota, quebrando a clavícula do saxão. Mas ele resiste e acerta o Celta quase o derrubando. Sir Bernard espera mais um ataque. O saxão usa a ponta da espada para tentar furar a cota normanda do Caleiro Celta. Ele deixa a espada inimiga se enterrar em seu escudo e gira desequilibrando o inimigo. Mais uma vez o Rei saxão golpeia e as duas armas se chocam fazendo a espada de Aesc voar de sua mão. O homem dá um tranco em Bernard o derrubando, mas a ponta da espada do celta o aguardava. O homem morre em cima dele em espalmos, espalhando o sangue de suas vísceras. Enquanto isso alguns soldados se juntam a luta e o Barão Brian os lidera para matar o que sobrou da guarda real. 

QUARTO DIA

Nesse momento, quando a Batalha de Badon entra na madrugada, no quarto dia do conflito, eles ouvem o som de algo cortando o ar. Quando olham para o horizonte vêm mais de uma dezena de bolas de fogo, saindo da escuridão, cruzando o ar e vindo na direção do platô, onde eles estão. Elas convergem, como se estivessem sido lançados de trebuchets colocados em uma formação em “leque”. Dá pra se ver contra as estrelas os rastros deixados enquanto elas iluminam a noite. Vão perdendo energia e começam a cair. Os Celtas arregalam os olhos por algumas batidas do coração quando elas caem no meio do talude, onde está a maior parte do exército saxão subindo. A explosão é tamanha que todos sentem o calor e a noite vira dia. As chamas sobem enquanto o fogo se espalha colina abaixo e os saxões se debatem em chamas. A batalha parece parar quando todos olham para trás e novamente as bolas de fogo alçam vôo e dessa vez caem rápido,  explodindo na parte de trás do acampamento saxão. O fogo se espalha por todas as tendas queimando os guerreiros inimigos que estão ali. 

Então uma voz segura e envelhecida se levanta em meio a escuridão.

Duque Enrick: “Horsaaaaaaa!" 

Uma multidão crescente, seguida pelos sons de centenas de chifres de guerra, surge iluminada pelo fogo. Milhares de soldados e uma cavalaria com as lanças prontas para atacar adentram a planície vindos do sul. À frente, os liderando, um estandarte brilha. O dragão vermelho dos Pendragons. Ao lado dele tremula o estandarte dos Stanpid. Liderando o exército um Rei que não é mais garoto, com a barba cheia e o rosto endurecido, agora um homem que já lutou muitas batalhas; Rei Arthur Pendragon. A espada Excalibur brilha em suas mãos em meio as chamas. Ao seu lado, Duque Enrick Stanpid golpeia, abrindo caminho com o seu martelo de guerra, promovendo a matança. A Força Arthuriana ataca o exército saxão pela retaguarda, os deixando presos entre os Celtas no alto da colina e o exército recém chegado. 

PRIMEIRA HORA: 

Os saxões vacilam quando percebem que estão presos no talude. Sem formação e pegos de surpresa eles vão sumindo entre o exército arthuriano. Ali, ao redor da unidade do Barão Brian, estão os saxões plebeus. São agricultores que vêm para guerra tentando fama e querendo o saque. Eles são flagrados tentando capturar mulheres e crianças. Inspirados pela espada sagrada o Barão Brian lidera os seus homens e descem suas lâminas não deixando nenhum deles viver.

SEGUNDA HORA:

As tropas descansadas de Arthur se aproximam, enquanto os saxões exaustos por dias de batalha não tentam mais lutar. Eles tentam abrir caminho para fugir dali. Próximo a Sir Bernard um grupo de Cavaleiros usam cotas normandas e lutam embaixo de um brasão diferente. Eles estão falam francês.

Sir Bernard: “É o brasão do Rei Franco Claudas! O que fazem aqui? Vamos homens matem-os."

Franco: “Precisamos sair ou vamos morrer com esses bárbaros! Viva la Franquia!”

A escaramuça que o ocorre é rápida porque os franceses em desespero tentam abrir caminho por entre o caos. Os Cavaleiros da Távola Redonda, Sir Bernard e o Barão Brian, os atacam pelas costas. Os franceses tentam reagir mais é tarde e as armas dos Celtas os calam rapidamente.

TERCEIRA HORA:

É na terceira hora da madrugada que a cavalaria e os soldados de Arthur chegam no platô, não deixando os saxões escaparem. A maioria dos inimigos, que escalavam o talude, estão sendo mortos por eles. Ali em cima há cadáveres por todos os lados, quase que um morro deles. O fedor de sangue, merda e morte permeia tudo. Os inimigos que tentavam se afastar, para o fundo da colina, encontram a unidade do Barão Brian e os homens restantes que resistem a dias. Os saxões se entregam atirando as suas armas. Celtas e saxões estão cobertos de suor, sangue e terra. Suas roupas, cotas, elmos e armas estão amassadas e embotadas. Cortes, concussões e hematomas estão espalhados pelos seus corpos. Centenas de feridos se arrastam no meio da pilha de cadáveres. 

Um homem surge. Nem saxões e celtas tem coragem de olhar em seus olhos. Eles se afastam a medida que o homem caminha sem lhes dar atenção. Ele parece olhar entre os cadáveres procurando por algo. Na única mão que possui ele arrasta um machado de duas mãos. A cabeça de um cachorro é esculpida na ponta da empunhadura. Ao mesmo tempo um cavaleiro irrompe no alto do platô; Duque Enrick Stanpid contempla a matança de saxões e Celtas.

Aelle: “Então, aí está você, Enrick Stanpid! Então finalmente nos encontramos, filho… No final de tudo! Aquele ali era Wulfric. Um bom homem e guerreiro. Salvou minha vida na primeira Batalha contra Ambrosius Pendragon. O outro era Canute. Cabeça dura, mas não movia um passo na parede de escudos. Estão celebrando no Vahalla a uma hora dessas. Bem, parece que você me deve isto, filho. Como te falei uma vez, se nos encontrássemos em batalha não ia te poupar. Eu te pedi o mesmo e como não sou homem de quebrar minha palavra espero te matar nessa madrugada cheia de agouros. Você está pronto, filho?”

Duque Enrick Stanpid desce de seu cavalo e bate no quarto traseiro do animal fazendo-o sumir em meio a multidão. Ele saca o seu martelo de guerra e atira o seu elmo no chão.  

Duque Enrick Stanpid: “Chegou a hora de realizar o seu desejo, Pai!"

Aelle empunha seu machado acima da cabeça, enquanto mantém o escudo em posição de defesa. Ele anda em círculos lentamente como um predador. O tilintar de seus braceletes, dezenas deles, brilhando contra o fogo em prata, mostrando quantos feitos ele teve ao longo dos anos, pode ser ouvido como um guizo de uma cascavel preparando o bote. Num movimento rápido e eficiente ele desfere o primeiro golpe tentando cortar o tendão do calcanhar direito do Duque. Muito experiente Enrick dá somente um passo para trás e a cunha do machado passa no vazio. O martelo de Enrick desce dando mais impulso para a arma do Rei saxão, em um contra golpe, fazendo o machado enterrar a sua cunha na lama. Aelle arranca a lâmina, levantado torrões de barro.

Aelle: “Você me deve!”

Ele golpeia mais uma vez. A cunha afiada do machado de guerra descreve um arco debaixo para cima. O Duque Enrick Stanpid se inclina para trás e então se impulsiona para frente. Sua cabeça atinge o meio do rosto do Rei Aelle. O som do nariz se quebrando e dos malares afundando com o impacto faz o saxão cair no chão tonto, não enxergando nada com o rosto cheio de sangue. Ele tenta mais uma vez golpear com o machado mas não consegue ver onde está Enrick. Facilmente o Cavaleiro Celta se afasta e depois salta acertando o topo do crânio do Rei Aelle. O som de algo rachando e o gemido do saxão anuncia o final do duelo. Aelle está tão ferido que suas pernas fraquejam e ele cai sem forças em meio ao sangue e a baba. Arfando como um animal abatido ele tenta se levantar mais uma vez. Seus olhos por um momento demonstram incredulidade. Ele observa procurando algo e toca no topo da cabeça onde foi ferido. Ele sente os seus miolos expostos. Enquanto o sangue vai saindo de sua boca e nariz. Ele treme enquanto perde sangue. Duque Enrick Stanpid se aproxima lentamente pegando os cabelos cinzas de seu pai e ergue o martelo para dar o golpe final. Então, rápido como um cão ferido, Aelle surpreende Enrick Stanpid desprevenido e crava uma adaga em seu pescoço. Enrick cambaleia sentindo uma dor lancinante enquanto toca a adaga cravada em sua jugular. 

Arthur: “Maldito!" 

O Rei vem correndo e chuta o machado de Aelle para longe e desce Excalibur, decapitando o Rei Saxão. 

 Rei Arthur: “Aelle, você nunca chegará ao Vahalla!"  

O Duque Enrick sente que o ar não entra mais em seu pulmão. Aquilo dói mas que tudo. Parece que os sons ao redor vão sumindo e sua visão enxerga cada vez menos. O Cavaleiro Celta se debate e luta para se manter vivo mas sente seu corpo desabar. Tudo vai ficando escuro e a dor diminuindo. Imagens vem em sua mente e tudo fica em um silêncio distante. Enrick lembra quando se disfarçou de nobre para competir junto com os nobres na competição de arco. Recorda-se que depois de vencer, mesmo sendo descoberto, por influência de seu amigo e filho do Rei Uther Pendragon, Madoc, foi ordenado Cavaleiro ali mesmo na arena. Se enche de alegria quando lembra do seu casamento em uma imagem vívida e clara e de quando conheceu o seu filho Bernard. Se lembra com tristeza quando a sua filha e mulher passaram para o outro lado do véu. Recordou de quando salvou a vida do Príncipe Madoc e quando a Resistência Celta era a sua esperança de salvar a Britânia. Só se lamenta de ter vivido tanto. Então a sua consciência parece mergulhar na escuridão. Logo uma luz se aproxima.Paz, tranquilidade e uma sensação boa o invadem. O Cristo e a Deusa sorriem para ele. Então,  sua alma se funde à eles em uma luz pura.

O som dos cavalos arrancou Enrick da cama aquela manhã. O seu irmão, Oswalt, está de pé o observando com um sorriso no rosto.

Oswalt: “Bom dia irmão! Está cansado... Também, não é para menos. Venha, temos visita...”

Enrick atravessa a sala da grande casa, toda entalhada em madeira branca com muitos equestres. O cheiro de comida de sua mãe enche o ar enquanto ela o abraça por um bom tempo. Seu pai está na porta de saída e sorri enquanto abre a porta. Os dois parecem jovens. Lá fora, inundado por uma luz que clareia as colinas, fica difícil enxergar alguma coisa. Enrick sente algo lhe tocar o rosto e lhe empurrar pedindo carinho. Hefesto, seu cavalo de batalha, estava com saudades. Um ferreiro sorri enquanto trabalha na forja e aponta o cavalo sorrindo. Os olhos do Celta se acostumam e ele distingue pessoas que estão ali. Um cachorro lhe pede carinho. É Urco e Sir Verius que o cumprimenta. Sir Alein, Sir Jakin e Berethor batem em suas costas. Sir Léo e Sir Caulas sorriem satisfeitos. Sir Bruce, o Pictu, aponta para ele mostrando seu braço forte. Passando por entre aqueles homens Sir Dylan lhe faz uma reverência. Enquanto isso caminhando em sua direção o Barão Algar e o Príncipe Madoc se aproximam. Eles se abraçam e riem. Então, todos olham para trás ouvindo uma voz.

Sir Amig: “Agora chega! Está em paz! Aliás, aqui tem muita paz. Você demorou! Vamos, vou te levar num lugar para comemorarmos. Lá podemos beber, lutar e contar nossos feitos. Quando quiser pode voltar pra cá. Minha esposa fará um bom assado para nós. Quero que me conte tudo que aconteceu… Vamos! Mexam-se seus vagabundos, Sir Amig de Tishea nunca espera ninguém!”

E tudo se desvanece em luz e risadas.

FINAL:

O sol começa a se levantar deixando o céu azul escuro, enquanto as últimas estrelas somem no firmamento. Os gritos dos sobreviventes do exército de Arthur ecoam pela planície logo abaixo. Muitos soldados e cavaleiros erguem as suas armas e saúdam a vitória. O Rei Arthur se ajoelha diante do corpo do Duque Enrick enquanto suas lágrimas caem no chão barrento de sangue. Sir Bernard, o filho do herói faz o mesmo. Os soldados começam a levantar o corpo do Cavaleiro e vão o passando pelo alto, de mão em mão. Por um dia ele é levado dessa maneira para o funeral no feudo em Dinton. Um caminho  formado por milhares de espada e escudos, atirados por soldados e Cavaleiros, se estende por quilômetros marcando a volta para casa do herói. 

Ali na colina milhares de corvos voam e se banqueteiam com os cadáveres humanos e dos gigantes. O cheiro de sangue, merda e lama enchem o ar. Todos estão imundos e cansados. Os feridos se arrastam pedindo ajuda, enquanto os vasculhadores de corpos tomam o que tem de valor. Um saxão, ainda vivo e sem uma das pernas, tem a mão cortada para ser retirado seus anéis de ouro. Lá embaixo pode se ver os soldados de Arthur caminhando pelo acampamento inimigo e matando todos. No horizonte colunas de fumaça se erguem. As aldeias saxônicas estão sendo queimadas e pilhadas. Poucos conseguem fugir quando a própria população sai dos porões dos castelos e torres matando todos os saxões que puderem encontrar. 

Todos os cavaleiros de Arthur se reúnem em meio à um mar de morte e dor. O Rei olha em direção à planície com lágrimas nos olhos. 

Rei Arthur: “Sangue por sangue! Olho por olho. O preço foi caro e gerações foram dizimadas. Sentimos dor e tristeza pelos nossos companheiros que perdemos e pela morte dos filhos e mulheres de nossos inimigos que também agonizam nesse momento e fertilizam nossos campos com sua carne e sangue."

No topo da colina de Badon os principais líderes dos Clãs saxônicos que sobreviveram, são levados a presença de Arthur pelos sobreviventes. Eles são forçados a se ajoelharem. 

Rei Arthur: "Hoje calaram-se milhares de vozes! E as espadas voltaras as bainhas. Terminou uma tragédia. Colhemos uma importante vitória. Os céus não levarão mais mortos, os mares apenas abrigarão comerciantes e os homens, suas mulheres e filhos caminharão, em qualquer parte, de cabeça erguida. A ilha inteira vive em paz mais uma vez. Falo hoje para milhares de lábios fechados, calados para sempre nos campos, nas praias e nas profundezas do canal. Falo para os milhões de valorosos homens e mulheres. Quando olho para o longo caminho percorrido desde os terríveis dias das primeiras invasões saxônicas, numa altura em que a ilha inteira vivia mergulhada no terror, não posso deixar de dar graças ao meu pai e os Cavaleiros da Cruz do Martelo por nos ter dado o heroísmo, a coragem e a força necessárias para alcançarmos a vitória. Conhecemos o sabor amargo da derrota e a doçura da vitória e, com ambas as sensações, aprendemos que não podemos retroceder. Devemos avançar para preservar a paz que ganhamos com a guerra. Esta é a nossa última oportunidade. Se não encontrarmos um forma mais eficaz não tardará que bata à nossa porta mais batalhas. Todos os duques, barões e condes se ajoelhem. Por isso eu digo que somente existe uma solução! Juram sua lealdade a mim?”  

Um dos nobres começa a falar seguido pelos outros: "Uma espada, Um rei, Um país!” e o coro se alastra pelos milhares de presentes ao redor da colina.

Rei Arthur: “Só me resta um último ato para garantir que nossos filhos vivam! Levantem-se Celtas! Apresentar armas! Que Deus tenha piedade de mim… Matem todos os saxões!” 

Arthur vira as costas e fita o horizonte enquanto escuta os saxões sendo assassinados a sangue frio. Nesse momento os raios de sol começam a inundar o monte Badon de dourado. 

Naquela noite, pela primeira vez na história da ilha, a Britânia está sobe um estandarte de um só rei. A paz duradora que era um sonho distante, está ao alcance das mãos dos Celtas. Como Merlim tinha previsto, Arthur Pendragon a conquistou com o aço e fogo. Mas naquela noite de libertação, numa mistura de tristeza e alegria, ninguém se lembrava de que o Rei talvez nem deveria estar vivo. Ninguém se lembrou que em uma Batalha há alguns anos o jovem Rei foi traspassado pelo Rei Lot e Merlim, secretamente, o trouxe a vida. Depois Arthur deitou com uma sacerdotisa de Avalon no Beltane e Merlim descobriu que se tratava da irmã de Arthur, Margawse e nunca contou ao jovem rei. Merlim percebeu ser o preço  que pagava pela magia para trazer Arthur de volta ao mundo dos vivos.

Caledônia:  

Um castelo antigo de pedras enegrecidas se ergue nas highlands, Se ouve um grito feminino, histérico de dentro dele. Igraine, mãe de Arthur, já com idade avançada puxa os próprios cabelos na porta de um quarto. Um garoto de sete verões de idade, sentado no chão, para e olha para ela sorrindo inocentemente. 

Menino: “Que foi Vovó? Estava brincando com ele!”

As mãos dos garoto estão sujas de sangue. Ele seca seu próprio suor da testa tingindo seu rosto de vermelho. No chão do seu quarto uma criança, que trabalhava na cozinha, está com a garganta aberta e sua barriga com as tripas desenroladas no chão. Igraine tira a adaga das mãos de seu neto e o aninha em seu colo. Ela chora com o rosto repleto de tristeza.

Igraine: “De novo não, Mordred! De novo não!”


FIM