domingo, 4 de abril de 2010

Aventura 5: Mar de Sangue, Ano 486 e 487



Inverno de 486, solstício de inverno para os pagãos e para os cristãos dia do natal. A neve cai tornando os campos e pinheiros brancos. Os dias tornam-se curtos. E na metade da tarde já começa a escurecer. As estradas de ambos os portões da cidade de Sarum, neste dia especial, estão com tochas acessas. As árvores estão todas enfeitadas com motivos pagãos. As casas estão com suas chaminés saindo fumaças, com a comida sendo assada para a ceia à noite. As lanternas também iluminam toda a cidade. Sir Algar chega na cidade durante a missa na Catedral de Santa Maria, celebrada pelo Bispo Roger e Hanz de Duplain, onde Sir Edgar está presente, passa pelo portão leste acompanhado pelo seu escudeiro. As ruas estão desertas. A maioria dos habitantes da cidade estão na missa. Atravessando um pequeno beco formado pelos fundos das casas de pedra, com alguns ratos assustados com os cavalos, Sir Algar ouve um cachorro latindo logo atrás, instintivamente se vira para olhar. Então o som de uma flecha atravessa o ar passando há dois centímetros de sua cabeça. Acertando o escudeiro atrás que cai do cavalo gemendo. Sir Algar não vê o arqueiro que o atacou, mas escuta alguém correr pelas ruas de pedra, até que os sons somem a distância. O escudeiro é ferido no lado direito do peito. E está sentado no chão do beco encostado na parede de pedra. Mas o ferimento não parece ser letal por não ter transpassado algum orgão vital.

Escudeiro: “Meu senhor, estou bem! Só preciso de alguma assistência e descansar”

Sir Algar tenta retirar a flecha de penas negras que acaba se quebrando causando o desmaio de seu escudeiro. O projétil tem um pequeno brasão gravado no centro com o desenho de uma caveira no centro com duas manoplas à apoiando. Algar imediatamente lembra das suas leituras sobre sociedades secretas, de um livro que teve acesso na Vila de Ilmer, com Garr, o velho padre do vilarejo, antes de se tornar cavaleiro. Trata-se da cota de armas da guilda de assassinos, conhecida como a Mão Negra, espalhada pelas terras dos norte, britânia e nas terras dos francos e contratada para os mais variados serviços. Ninguém sabe ao certo quem são os seus integrantes. Mas sabe-se que o trabalho custa alguns quilos de ouro. Então Sir Algar coloca seu escudeiro inconsciente em seu cavalo e leva o homem até o castelo de Sarum onde o comandante da guarda do Conde Roderick ordena que o rapaz ferido seja levado ao físico da corte para que tenha assistência médica.

Após a missa todos os nobres se retiram da Catedral em procissão, onde tinham lugares especiais na frente da nave, junto com o Rei Uther, seu filho Príncipe Madoc e sua corte. Sarum está em festa. Nobres de todas as regiões do reino vem a cidade para participar dos festejos de Natal do ano de 486. Os nobres que não puderam comparecer enviaram presentes. Então Rei Uther e seu filho Madoc chegam por primeiro no castelo e recebem a todos no grande salão do castelo da cidade cumprimentando aqueles que entram com muito respeito e carinho. O entretenimento fica por conta dos músicos e de pequenas peças de teatro com temática natalina encenadas pelas crianças da corte. Os cachorros correm por entre as mesas. Os presentes conversam, bebem e dançam.

Dando sequência as festividades o Conde Roderick presenteia todos os seus empregados. Sir Edgar, Sir Algar e outros vassalos recebem sua roupa anual com adornos de pele de urso marrom e detalhes em prata e ouro, calças de algodão e botas de montaria e para caminhadas. Depois os genros de Roderick são presenteados e por último sua família. Então o rei Uther faz o mesmo com seus cavaleiros, membros da corte e oficiais. Finalmente ele presenteia seu filho com uma nova armadura forjada pelos melhores armeiros da Britânia, com vários feudos nas terras de Thames e a posse do castelo de Windsor. O príncipe Madoc parece muito satisfeito. Então o Conde Roderick presenteia o Rei com um manto de pele de urso branco vinda da noruega. Neste momento Príncipe Madoc chama seus serviçais. Eles carregam uma maca cheia de botins de guerra e coloca-os em frente ao rei. Moedas de ouro e prata, taças e pratos, tecidos de seda de outros países, adagas de ouro, esporas de prata. O príncipe se aproxima e desenrola um estandarte de guerra saxão vermelho tomado de um chefe inimigo morto. O rei se levanta do trono e admira a bandeira e os espólios. Ele pega cada peça com carinho e seleciona exatamente o que é apropriado para cada convidado e os presenteia. O Rei Uther dá uma mão cheia de prata para cada cavaleiro no valor de três libras e um punhado do mesmo metal para cada um de heróis. Após a entrega dos presentes o salão é preparado com mesas para o grande banquete. Empregados apresentam faisão recheado, carne de porco, coelho e vinho em grande quantidade. Derrepente uma grito generalizado de espanto e logo após silêncio é ouvido no salão.

O guarda na porta bate com a lança no chão e diz: “Anuncio a chegada de o grande sacerdote druida da Bretanha. O mago Merlim.”

Merlim entra no salão, passando por todos e indo direto ao rei Uther, sentado no trono do Conde, sem olhar para os lados. Ele dá uma piscada de olho para os heróis.

Rei Uther: “Seja bem vindo a estes salões Merlim.”

Merlim: “Roupas, ouro e prata de terras distantes são certamente dignos de se presentear um rei. Mas a nossa majestade merece mais. Nem mesmo os grandes imperadores de Roma tiveram a sua grandiosidade.”

O rei fica lisonjeado.

Merlim: “Mas claramente lhe falta algo. Esse homem merece o melhor. E para ajudá-lo a obter a paz na nossa grande terra. E eu como um humilde servo lhe ofereço com prazer de minhas fracas mãos, isso...”

Merlim retira de dentro de seu manto uma espada brilhante que emana luz de seu interior causando espanto. Todos os presentes ficam maravilhados.
O rei se levanta impressionado. Merlim com a mão coberta pelo manto pega a espada pela ponta e a entrega para o rei Uther.

Merlim: “Para o grande rei!”

Uther empunha a espada maravilhado e diz: “Agora estou preparado para visitar uns amigos.”

Todos os presentes riem. “Sente-se a minha direita a quem com sabedoria e conselhos verdadeiros nos ajuda a reinar nesta boa terra.”

Então os heróis ceiam e bebem quando Merlim os aponta.

Merlim diz: “Cavaleiros se aproximem. Majestade, estes bravos guerreiros foram responsáveis por conseguirmos Excalibur, contem ao rei o que aconteceu.”

O Rei Uther escuta Sir Algar contar a estória atentamente e com admiração. Sir Edgar fala próximo ao rei explicando que a Excalibur é um espada forjada da espada Calibur pertencente a César, o conquistador romano. E diz que a Excalibur é o perfeito equilíbrio entre as duas religiões, a antiga e a nova e como as culturas devem conviver pacificamente. O Rei Uther fica impressionado com a sabedoria do Jovem Cavaleiro. E empunhando a Excalibur explica a corte e pede que as duas crenças vivam pacificamente. Os presentes prestam atenção. Muitos cavaleiros ficam com ciúmes da atenção que o Rei dispensa aos heróis. Outros os olham com admiração. As mulheres olham para eles fascinadas.

Então o Príncipe Madoc se aproxima entusiasmado pega Sir Edgar e Algar pelo ombro e diz: “Homens! Partiremos na primavera para combater os saxões por mar e queimaremos o máximo de barcos inimigos. Preciso dos melhores cavaleiros! Conto com suas armas nessa jornada, nos encontraremos ao sul em Hantonne”

Sir Amig passa próximo e diz baixinho aos heróis: “Lá vamos nós de novo.”

Entre as conversas em meio ao banquete farto e a bebedeira Sir Jaradan se apoia na mesa dos heróis, pega uma taça cheia de bebida da mesa e diz: “Quer dizer que são os homens do momento na corte. Soube que quase tombaram contra o feiticeiro pagão. Um dia desses a sorte acaba e com ela a vida de vocês.”

Os heróis ficam irritados mas não entram em grandes discussões. Então Bispo Roger vem até a mesa dos deles: “Sir Edgar como vai? Gostaria de ver a espada que um dia protegeu o Apóstolo Paulo.” Ele olha encantado com a bonita gladius milagrosa e diz: “Tenho uma sugestão. Vossa graça poderia doá-la para a Catedral de Santa Maria. Assim nas leis de Jesus o nobre Cavaleiro mudaria vidas em vez de tirá-las. Com a Sanctu Gladius usaríamos a relíquia para atrairmos mais fiéis. Poderíamos cobrar para vê-la. O Conde Roderick já doou um prato feito de prata que foi usado na santa seia pelo próprio Jesus. Seguiria tal exemplo nobre e santo meu filho?”

Sir Edgar lhe responde: “Desculpe Vossa Eminência mas prefiro usar a espada milagrosa para defender o povo e a nossa Majestade.”

Neste momento também fascinado com a espada que pertenceu ao Apóstolo Paulo, Padre Wiliam se aproxima: “Sir Algar, percebi que não estava presente na missa de Natal. Parece que os locais lhe chamam por um nome que não pronunciarei. Porque?”.
Sir Algar responde: “Preciso de um nome que seja forte e incentive meus homens no campo de batalha padre.
Padre William: “Por acaso o senhor é Crismado? Se não for, poderemos organizar uma cerimônia o mais rápido possível.”

Sir Algar: “Temo dizer que no momento não poderei por ter que me dedicar a defesa de Logres padre”. Padre William: “Porque eu sempre fico com a impressão que está mentindo meu bom rapaz?”

Então Sir Bag acerta uma azeitona na cabeça de Sir Edgar. Uma risada tão grave só pode vir deste cavaleiro que os chamam para mesa onde está sentado. “Chega de conversar com esses papa hóstias. Vamos jogar um pouco. Quem tirar o maior número vence no 2d6, melhor de seis. uma libra cada um, o rei deu bastante prata para todos nós esta noite.” Então o Sir Bag ganha o jogo dos heróis e satisfeito embolsa quatro libras em meio a piadas e risadas.

Na outra mesa Sir Edgar e Sir Algar vêem Sir Dylan e dirigem-se a mesa onde ele está sentado.
Sir Dylan:“Olá amigos! Vocês acreditam que levei um ano para começar a caminhar. Somente agora voltarei a praticar com armas. Mas, gostaria de agradecê-los. Se não fossem vocês, eu estaria morto em uma hora dessas. Minha espada está a serviço dos senhores quando precisarem. Por hora ficarei aqui cuidando de minha irmã, Lady Marion, que chegará da bretanha no inverno. Ela está prometida ao arrogante Sir Jaradan, infelizmente, por ordem do rei. Sua majestade pediu a meu pai e humildemente temos que aceitar.”

Então Lady Adwen uma bonita jovem com longos cabelos ruivos, com rosto angelical e olhos cor de mel se aproxima de Sir Algar: “Olá Sir Algar!” Ela diz baixinho e com certa intimidade. “É verdade o que andam falando do senhor?” “Que és o demônio do norte e que não tem piedade do inimigo? Então tenho um segredinho.” De dentro de seu espartilho Lady Adwen mostra a meia lua de prata que carrega, símbolo pagão de Avalon. Neste momento Sir Algar fica apaixonado e começa a sentir uma atração irresistível pela Lady. Ela se mistura as pessoas da corte e Sir Algar não a vê mais até o fim do banquete.

Lady Gwiona, a segunda aia da condessa Ellen, esposa do Conde Roderick, é uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis. Os homens dizem que ela é bonita como a primavera mas pé fria como o inverno. Ela sorri e cochicha enquanto olha para Sir Edgar. Uma das aias que conversava com ela se aproxima “Sir Edgar! Minha amiga quer saber se o senhor quer dançar com ela.” Sir Edgar aceita e dança muito bem, mostrando habilidade sem igual chamando a atenção dos integrantes da corte. Depois da exibição, Lady Gwiona se aproxima e joga um lenço no chão. Ela rapidamente deixa o salão. Sir Algar está encantado com a moça mas ressabiado quanto a fama de pé fria da moça.

Sir Bag: “Cuidado com essa beldade Sir Edgar, os últimos quatro pretendentes morreram em combate logo depois de proporem a ela.”

Padre William: “Isso é superstição meu filho, como bom cristão sabes que isto não existe. E está ficando velho Sir Edgar e logo precisará de um herdeiro.”

Depois de oito horas o festim se encerra.

Os heróis tem três dias para se juntar ao príncipe Madoc em Hantonne. Dois dias de viagem até a cidade se não seguirem a estrada. Seguindo pelas estradas levaria quase quatro dias. Então partem por caminhos desconhecidos. Eles seguem viagem, fora das trilhas para o sudeste, cruzando o rio pela pequena ponte de pedra e depois descem para uma estrada de comércio mais simples, até a costa ao sul. Os acompanham dois cavaleiros vassalos Sir Amig, Sir Edward e Sir Harry. Sir Edward é jovem e é um cavaleiro sério e reservado e Sir Harry um guerreiro simpático de meia idade que gosta de contar estórias. Sir Edgar descobre que Sir Edward leva esse nome por ter sido treinado por seu pai que foi seu mentor em armas e nos ensinamentos religiosos.

Sir Harry: “Essa floresta à frente, apesar de as pessoas da corte dizerem que é desabitada guarda muitos segredos. Os druidas dizem que há feras e criaturas aqui que o tempo esqueceu.”

Sir Amig: “Estamos morrendo de medo Sir Harry. Não estrague o momento dos garotos, eles adoram passear pela floresta.”

Após algumas horas de cavalgada os Cavaleiros entram na floresta de Camelot. O interior da floresta é escuro e denso. Muitas folhagens e apenas o espaço entre as árvores servem de trilha. Ao anoitecer o som de água corrente é ouvido. É o rio Test que desemboca em Hantonne. Hora de levantar acampamento.

Sir Amig: “Vocês ficam com o turno de sentinela. Eu vou dormir porque estou muito velho e preciso estar inteiro para quando vocês se meterem em enrascada, como é de costume em todas as campanhas.”

Durante a noite os heróis mostram suas habilidades com armas para os escudeiros. Sir Algar não resiste e como de costume assusta o escudeiro de Sir Edgar com um grito, fazendo uma careta com o seu enorme machado em riste. O pobre menino corre e vai se esconder na barraca de campanha de Sir Harry que o leva novamente até os heróis que se divertem rindo do coitado do rapaz. No amanhecer do segundo dia é preciso atravessar o rio. Todos conseguem atravessar controlando suas montarias. A de Sir Edgar se assusta e escorrega no fundo de pedras mas ele consegue se equilibrar na sela e fazer a travessia escapando por pouco de um afogamento. A floresta fica para trás e um grande mangue se estende à frente. A vegetação é toda igual e as patas dos cavalos afundam com os heróis em cima.

Sir Amig: “Com mil diabos! É impossível atravessar esse lugar fedorento montado, desçam e vamos caminhando. Alguém lidere, não entendo nada desse tipo de terreno.”

Tentando achar os caminhos por entre o chão coberto de lodo negro e a vegetação sempre igual, os Cavaleiros começam a andar em círculos. Então pulando entre as plantas do banhado um bando de homens cobertos de lodo os atacam. Eles vestem somente uma tanga de coro de enguia. Eles são magros, morenos e possuem cabelo e barbas compridas. Usam enfeites feitos de ossos de peixes. O líder usa na cabeça uma arcada de urso. Usam nos narizes, como enfeite, ossos transpassando de um lado ao outro. Gritam um idioma que os cavaleiros nunca ouviram e estão armados com tridentes e arpões de pesca. Eles estão aproximadamente em quarenta guerreiros e os cercaram.

Sir Amig: “Calma rapazes! Eles são muitos! Abaixem as armas!”

Então todos se rendem e são amarrados e levados. Um atado ao pescoço do outro e com as mãos imobilizadas. As armas foram colocadas nos cavalos de transporte e levados pelos homens. Os escudeiros também foram rendidos. Após duas horas de caminhada sob as armas e cutucões dos tridentes Sir Algar, Sir Edgar, Sir Harry, Sir Edward e Sir Amig chegam à uma vila construída no meio do mangue. As casas são palafitas muito pobres. Pilhas de ossos de animais marinhos se acumulam ao lado das cabanas. Cachorros caminham junto à algumas crianças que brincam no lodo. As necessidades são feitas ali mesmo. Os Cavaleiros são levados a maior cabana onde são apresentados a um homem comendo caranguejos vivos sentado em um tosco trono de madeira. Ele tem mais colares de ossos que os outros e possui uns setenta anos. Tem um olhar malvado emanando de seus olhos negros. Usa barba longa que é crespa e grisalha, e está imunda de comida, bem como as suas roupas esfarrapadas. Ele acaricia uma menina de uns doze anos que parece em estado de choque. Ele se aproxima, toca as armaduras, olha os heróis no rosto sem emoção nenhuma. Derrepente cospe em Sir Edgar e ri se divertindo com isso balançando a cabeça. Os heróis , sentados no chão, estão amarrados nas vigas de madeira que sustentam o telhado. O homem vai para fora. A conversa de várias pessoas reunidas vai crescendo no lado de fora da grande palafita. Os Cavaleiros vêm lá de dentro uma grande quantidade daqueles seres primitivos os olharem com curiosidade, apontarem e rirem.

Derrepente o homem volta e agarra Sir Harry, pelo cabelo, que é arrastado, ajudado pelos guardas, lá pra fora com seu escudeiro e é colocado em uma pedra com sua cabeça apoiada no centro da vila. Uns cinquenta locais vem assistir a cena. Sir Edward sem demonstrar emoção também é levado junto com o seu escudeiro. Amarrados ele são despidos de suas armaduras que são exibidas peças por peças com orgulho pelo líder da aldeia. Eles aplaudem celebrando aquilo tudo. Derrepente com um porrete começam a espancar o cavaleiro. Espancam tanto que o homem tem seus ossos quebrados e o crânio partido. Depois fazem o mesmo com os escudeiros. Esse chora e se debate, grita por socorro, até perder os sentidos coberto de sangue. Logo o guarda começa a desmembrar os quatro e distribuir a carne aos habitantes que é assada em uma grande fogueira acesa no centro da vila. Mulheres, crianças, velhos, homens e mulheres se banqueteiam. Os escudeiros entram em pânico e choram implorando pelas suas vidas. Existem dois homens de guarda no fundo do salão onde estão amarrados.

Sir Amig: “Malditos assassinos! Animais! Temos que nos soltar e sair daqui o mais rápido possível.”

Fazendo pressão nos pulsos e desgastando-as, as cordas são arrebentadas pelos heróis. Então Sir Amig surpreende o sentinela. Corre até o homem pegando-o de surpresa e lhe dá uma cabeçada tão forte no rosto quebrando o nariz do inimigo e os ossos do rosto que leva o homem a cambalear e cair de costas. Então, o veterano Cavaleiro toma o tridente do guarda e lhe transpassa o pescoço. O inimigo tenta retirar a arma enquanto se afoga em seu próprio sangue mas morre. Sir Algar e Sir Edgar correm e atacam juntos o outro guerreiro com socos e ponta pés deixando-o inconsciente. Rapidamente os três cavaleiros e seus escudeiros correm para o fundo da palafita. Sir Algar se pendura na janela pegando impulso e acerta o sentinela com os dois pés no peito. Ele cai desequilibrado e o demônio do norte ataca com o tridente na horizontal, que pegou do vigia na casa, abrindo o pescoço do homem matando-o. Sir Edgar se atira pela janela acertando o ombro do homem e com as duas mãos quebra o pescoço de seu rival. Sir Amig logo atrás usa o cabo do tridente como arma de espancamento quebrando o nariz do inimigo e depois transpassando-o com a arma levando o adversário a morte.

Pegando novamente seus cavalos de carga e de viagem, bem como as suas armas, os heróis partem novamente para o mangue. Na noite iluminada pela luz da lua eles e seus escudeiros se esgueiram pelos caminhos difíceis do terreno. Aos poucos começam a achar uma trilha que os guie para fora dali, mas dão de cara com dois homens primitivos que estavam os caçando. A luta é rápida com Sir Amig matando um dos homens com sua espada e Sir Algar e Edgar, o primeiro atacando com o machado em um corte horizontal direto no pescoço e o segundo com a Sanctu Gladius que ilumina a noite, à luz da lua, podendo se ver um portal que a espada abre sugando a alma do inimigo. Em fração de segundo, sem ter tempo de emitir qualquer reação, o homem é morto. Então, depois de uma hora de caminhada finalmente os heróis saem daquele lugar amaldiçoado.
Resistindo ao cansaço e a fome eles chegam ao amanhecer a cidade de Hantonne. O lugar é um porto marítimo. Protegida por muralhas a cidade tem um rio que a cruza de ponta a ponta. Um barco estacionado de cada lado do rio bloqueia a passagem de navios inimigos para dentro da cidade. Vários barcos estão ancorados no porto, principalmente navios mercantes comandados por homens durões e mal encarados que trazem mercadorias de reinos distantes. Alguns fazem comércio ilegal de pirataria e pilhagem. As ruas de Hantonne são estreitas e os becos escuros. É um lugar que cheira a peixe e maresia. Existem muitos lugares para jogos de azar e tavernas. Centenas de prostitutas circulam por ali. O príncipe está no cais cercado por trezentos cavaleiros que se apresentaram. Seis navios estão atracados. São navios com velas e remos, cabem em torno de cinquenta homens cada um. Os marinheiros estão aguardando as ordens de partida do príncipe Madoc. Ao chegarem os heróis contam ao príncipe o que aconteceu e este indignado promete um ataque a vila primitiva no pântano. Então ele se dirige a todos os cavaleiros no porto:

“Homens! Estes são os nobres cavaleiros que lhes falei. Eles ajudaram meu pai a recuperar Excalibur.” Então todos os cumprimentam em aprovação.

“Cavaleiros! Estamos partindo para uma tarefa puramente militar. Não iremos conquistar, nem pilhar ou invadir. Nós iremos em busca de barcos inimigos. Vamos os interceptá-los, capturá-los e queimá-los. Não deixaremos ninguém para trás. Todos os feridos e mortos deverão ser trazidos à bordo. Levantar âncoras e vamos com a ajuda de deus e em nome do Rei.”

Então, abarrotados de cavaleiros os seis navios deslizam rápidos por entre as ondas. Gaivotas os acompanham. Até romper a arrebentação os barcos são movidos por remos e os bumbos de pele de búfalo dão o ritmo aos remadores. Depois em alto mar costeando a Britânia as velas são içadas. Sir Edgar e Algar vão na proa imponentes, apoiando-se nas cordas que sustentam as velas, sentindo o vento soprar e o cheiro da maresia. Os marinheiros correm com as cordas para manter as velas trabalhando. Os navios navegam o mais perto possível para manter a superioridade. O almirante Gwenwynwyn grita ordens para os marujos. O príncipe Madoc vai no barco do Almirante ao lado do timoneiro. Sorri satisfeito. Continuamente os tripulantes procuram barcos no horizonte. Na primeira noite os barcos são encalhados em uma praia e o exército monta um acampamento para cozinhar e dormir.

Na metade da manhã do segundo dia próximo a costa saxã Sir Edgar avista três barcos, do rei saxão Ælle. Quando se aproximam a favor do vento todos notam que os navios inimigos não tem muitos tripulantes. Quando eles vêem que os do Rei Uther estão abarrotados de soldados, os homens tentam desesperadamente remar com as velas içadas para ganhar mais velocidade. Uma hora de perseguição e o inimigo está continuamente em vantagem na fuga devido ao peso dos barcos do rei. Mas, derrepente, a sorte vira a favor dos heróis. O vento muda de lado e empurra as duas esquadras em direção a costa. Os barcos se aproximam, os homens começam a se xingar mutualmente e todos preparam as suas armas e armaduras. Surfando nas ondas os barcos inimigos encalham na terra há dez metros da esquadra real que faz o mesmo. É o território saxão perto de Pevensy. Rapidamente os saxões pulam do barco e tentam se reunir aos berros. Eles formam uma pequena parede de escudos e estão em desvantagem de três para um. São trezentos cavaleiros do Rei Uther contra cem saxões.

Príncipe Madoc: “Formem uma unidade para atacar com os cavaleiros que estão a bordo de seus navios! O inimigo está em desvantagem!”

Sir Amig: “Vamos homens, rápido para a terra! Comigo, em linha, formem a parede de escudos, formação apertada, marchar! Por Logres, pelo Rei. ”

Na areia da praia ainda com água nos joelhos e em um terreno difícil de se equilibrar o estrondo das paredes de escudos enche o início da tarde. Dá para ver o rosto barbado do inimigo, sentir o cheiro de álcool enquanto todos os palavrões são proferidos. Os dois lados tentam achar uma brecha para estocar o outro e romper as linhas.

Sir Amig: “Aguentem firme! Eles estão em minoria! Não tenham piedade! Morte!”

Sir Algar e Sir Edgar atacam um saxão forte como um touro na parede de escudos. O primeiro golpe Sir Algar erra atacando de cima para baixo. Levantando o escudo para se proteger do golpe que vem de cima para baixo, o calcanhar e a panturrilha ficam desprotegidos e são golpeados por um machado de guerra, abrindo um corte fundo tirando seu equilíbrio. Sir Edgar mata o homem com a Sanctu Gladius e corta-lhe a mão fazendo-o cair na água rasa e se afogar estrebuchando de dor. No final da primeira hora de combate olhando ao redor, na parede de escudos, somente um dos cavaleiros da unidade é ferido. Um machado vem de cima para baixo acertando-o e abrindo seu elmo. O homem se afasta cambaleando e sangue escorre pelo seu pescoço. O cavaleiro próximo à ele o afasta para trás do combate. Na segunda hora de luta dezenove cavaleiros combatem aproveitando a superioridade numérica. O inimigo fica confuso e assustado. Sem conseguir matar ou ferir muito cavaleiros de Logres começam a lutar sem disciplina abrindo muitas brechas nas linhas facilitando o massacre na praia. Tendo que fazer mais força na areia submersa pelo mar do que o exército de Logres, já que o seu número reduziu drasticamente e precisam manter a linha para não morrerem, alguns caem e outros ficam exaustos. A praia começa a virar um abatedouro.

Sir Amig: “Eles estão cedendo! Aproveitem os espaços! Mandai-os ao inferno! Dêem a volta na linha deles pelas brechas.”

Sir Edgar e Sir Algar forçam a passagem nas brechas que o inimigo deixou. Com habilidade se movem para o outro lado e atacam o inimigo por trás, que indefeso é morto pela gladius e pelo machado dos heróis que caem com força e sem piedade. No final os homens de Logres golpeiam as águas com os corpos boiando. Outros afogam alguns feridos que tentavam se arrastar para longe. As cabeças de alguns inimigos são cortadas e colocadas em estacas. A água branca da costa da Britânia está vermelha da carnificina. Nenhum inimigo sobreviveu. E mais um cavaleiro de Sir Amig tombou ferido com uma das mãos amputadas. O homem grita de dor mas está vivo. Os heróis estão sujos de areia e sangue. Cabelos molhados e alguns pequenos cortes e hematomas. A unidade permanece com dezoito cavaleiros.

Sir Amig: “Vitória! (erguendo a espada) Lutaram bem rapazes. O Demônio e o Santo, que dupla. Assim que se faz garotos. Parabéns. O comando é de vocês, organizem a pilhagem, este barco à frente é nosso, depois queimem-o e dêem um jeito nestes cadáveres. Preciso de um trago.” E se afasta em direção ao barco principal onde está o príncipe, há uns quatrocentos metros, que cumprimenta e ri abraçando Sir Amig. Provavelmente o veterano cavaleiro fez mais uma das suas piadinhas.

Sir Algar pula para o interior do barco. Ele retira a pilhagem formada por peles de carneiro, cálices de estanho e prata e divide entre os cavaleiros de sua unidade e Sir Amig. Depois jogam os corpos dos inimigos dentro dos barcos e queimam tudo. O saldo do combate para o exército do Rei Uther: seis cavaleiros mortos e vinte e quatro feridos. Sir Algar é costurado na perna por um físico com agulha de madeira e linha de tripa de carneiro.

Dois dias depois, com o tempo bom e o vento a favor a esquadra desliza rápido por entre as ondas altas da costa Britânica. No meio da tarde do quarto dia quando navegam próximo a Dover, enxergam várias fogueiras acessas e quatro barcos estacionados na praia com cabeças de dragão. Sir Edgar reconhece seus brasões, são Jutes, saxões da germânia. Enquanto a esquadra de Logres se aproxima da praia o inimigo tenta se organizar para defender-se. Mas os barcos chegam rápido, poucos jutes conseguem vestir a armadura. Alguns nem acham suas armas. Em vantagem de dois para um, cento e cinquenta saxões estão na praia contra os duzentos e setenta cavaleiros de logres.

Sir Amig: “Veja como correm desesperados como formigas. Nem vai dar tempo de os bastardos entrarem em formação. Atenção! Pulem na areia e matem à vontade.”

As unidades saltam dos barcos no cascalho amarelo que forma a praia, o terreno é estável e permite uma base boa para combater e golpear. Os gritos dos inimigos tentando alertar aqueles que não tinham notado o ataque ecoa no paredão de rochas situado atrás na paisagem.

Sir Amig: “Formar linha! Varrer a praia! Avançar! Com o paredão de rochas atrás os coitados não terão como fugir!”

Os cavaleiros de Logres caminham há um passo um do outro em uma linha única que caminha com os escudos protegendo à frente e as armas levantadas prontas para golpear. A superioridade numérica é tão grande que os cavaleiros apenas varrem o inimigo deixando seus corpos contorcidos na areia a medida que avançam. Sir Edgar e Sir Algar atacam o primeiro Jute, o primeiro estoca o inimigo em seu coração e o segundo pula por cima de seu irmão de armas abrindo-lhe o pescoço. Na primeira hora de combate um dos cavaleiros da unidade dos heróis é ferido. Atacando um dos homens desarmados o cavaleiro não manteve a atenção na retaguarda e de uma maça de guerra levou um golpe nas costas, levando o homem a cair imediatamente paralisado da cintura para baixo. Fazendo com que seu intestino e bexiga soltasse tudo que existia em seu interior. Por sorte o cavaleiro foi salvo por um outro irmão de arma que degolou o inimigo que iria lhe tirar a vida.

Avançando e ganhando terreno os heróis e o exército de Logres empurram o inimigo para a parte de trás da praia. Sir Algar usa a parte não cortante do machado e quebra o rosto do inimigo que erra o golpe tentando revidar sem enxergar nada, então o saxão acerta a armadura em cheio de Sir Edgar que sente o impacto, mas o golpe causa apenas um hematoma, ele revida degolando o inimigo levando-o a tombar. No final da segunda hora de combate nenhum cavaleiro caiu na unidade. Sir Amig continua combatendo e liderando com habilidade.
Sir Amig: “Empurrem-nos para as falésias. Vamos matá-los como ratos encurralados nas rochas.”
Então o exército pressiona o inimigo com agressividade e começa a ganhar território. O inimigo começa a fugir e o exército do Rei encurrala-os nos rochedos. Na fuga centenas são mortos pelas costas. Mal protegidos e armados na terceira hora de combate os saxões lutam até a morte em sua última tentativa desesperada de viver. Todos cansados por correrem de armadura pela praia as duas forças se vêem no momento final do combate. A unidade dos heróis ainda conta com dezessete homens. Os saxãos começam a cantar uma música assustadora de morte batendo com suas armas nos escudos. Menos da metade do inimigo está de pé. Sir Algar e Edgar atacam com força na luta final do combate amputando os braços e cortando a jugular do inimigo. No final do combate os duzentos e setenta cavaleiros estão vivos. Somente quatro feridos. A superioridade do exército foi enorme e quase toda a força inimiga foi aniquilada. Alguns homens com o brasão de uma águia negra com uma faixa transversal dourada retiram a pilhagem de um dos barcos e amarram dez sobreviventes no seu interior. Então, ateiam fogo ao barco e assistem o inimigo morrer queimado aos gritos.

Sir Amig se aproxima com a barba e armadura sujos de sangue: “Não gosto disso. Sempre em campanha se cometem esses abusos. Guerreiros devem morrer pela espada, não como diversão para os vitoriosos. Mas, precisamos manter a moral alta. Sir Lockian sempre é cruel, seus próprios homens o temem. É aquele cavaleiro rindo dessa desgraça, magro e alto. Seu apelido é Espantalho. Fiquem longe dele e seu filho. Sir Jaradan. Recolham as coisas deste barco à direita. Nos pertence. Vou encher o saco de Madoc para que partamos para o norte e entremos pelo Rio Blackwather. Tenho certeza que perto de Maldon devem ter alguns saxões para matar.”

Depois de Sir Edgar e Algar recolherem e distribuirem a pilhagem composta de baús de rubis, um punhado de ouro, oito escravos. Eles queimam os barcos e a quantidade de corpos que acumularam dentro deles.

Príncipe Madoc: “Esta noite acamparemos aqui. Precisamos descansar e comer. Levantem acampamento. Lutaram muito bem homens e tenho certeza de que meu pai e nosso povo apreciarão o que estamos fazendo.”

A praia está coberta de gaivotas que se banqueteiam com os cadáveres espalhados por todo o lugar. Com o calor abafado do litoral, eles começam a cheirar mal. Então com o anoitecer as várias unidades acendem suas fogueiras na praia e preparam seu jantar e bebem rum de barris trazidos pelos marinheiros até a praia.

Sir Amig: “Vivemos em tempos escuros garotos. Estas carcaças jogadas aí na praia desses saxões tinham filhos e mulheres. E os pobres coitados dos nossos cavaleiros feridos nunca mais levantarão uma espada. Mas, precisamos proteger o nosso rei e nosso povo. Essa é a maior virtude de um cavaleiro. Ajudar aqueles que amamos. Talvez um dia tenhamos paz. Daí poderei cuidar de minhas terras, engordar e me dedicar a fazer amor com minha esposa até o dia que voltarei para junto de meus antepassados. Mas por hora, não me importarei de cortar cabeças por uma boa causa.”

Príncipe Madoc caminhando de fogueira em fogueira se aproxima. “Então homens, não houve muitas perdas. Contamos duzentos e sessenta e seis cavaleiros aptos a combater. Os saques estão bons também. É uma bela temporada de caça. Mas Sir Algar, soube que sua família veio do norte. Povo forte e corajoso aquele. Me conte alguma lenda das terras geladas.”

Sir Algar: “Vou lhe contar nobre príncipe! Skadi é a esposa do deus vanir Njord. Enquanto seu esposo prefere viver nas praias e perto do mar, ela prefere habitar as montanhas e os lugares altos. Ela é a linda filha do gigante Þjazi, ela era a deusa do inverno. Depois da morte de Þjazi, assassinado devido a mais uma peripécia de Loki, Skadi decide vingar-se dos Ases, que não sendo capazes de se defenderem batendo numa Mulher, resolvem reparar o mal pedindo a Skadi que casasse com um deles. Tendo em conta, unicamente os seus pés, já que o resto do corpo estava tapado, para que a sua escolha fosse aleatória, Skadi escolhe os pés mais bonitos, pensando ser os de Balder. É o Deus Njörðr que é escolhido e com quem vai viver para as montanhas gélidas e ruidosas. no entanto Njord fosse o Deus da Água das praias ele não conseguiu coabitar com o gelo de Skadi. O casamento não deu certo, pois enquanto seu esposo preferia viver nas praias e perto do mar, em Nóatún, ela preferia habitar as montanhas e os lugares altos, em Þrymheimr, antigo palácio de seu pai. Do casamento de Skadi e Njord nasceram Freya e Frey.”

Príncipe Madoc: “Bela estória para se ouvir na beira do mar Sir Algar. Talvez um dia possamos navegar até lá e conhecermos o norte selvagem, não é mesmo?”

O Almirante Gwenwynwyn é homem forte de meia idade, com a pele maltratada pelo sol, usa um tapa olho e brincos de argola. Cabelos pretos enrolados e possue um pássaro negro em seu ombro. “Homens! Eu vi com meus próprios olhos o maior barco saxão que vi navegar. Foi no verão do ano passado. Por sorte não me avistaram, pois contava apenas com o meu próprio barco e consegui escapar. Dizem ser composto de uma tripulação de homens amaldiçoados. Ele é construído todo em madeira vermelha e comandado por um almirante saxão cruel como uma tempestade em alto mar. Ele tem pilhado toda a costa e abordado os navios mercantes. Vende as tripulações como escravos ou mata a todos e toma seu sangue em honra do deus do mar saxão, Njord. Eu quero caçá-los nem que tenhamos que cruzar o mar que separa a terras dos vivos da dos mortos e mandá-los de volta para o inferno de onde nunca deveriam ter saído.”

Então o arrogante Sir Jaradan se aproxima acompanhado de seu pai Sir Lockian: “Pai, eles são os Cavaleiros que lhe falei. O demônio e o santo. Puxa sacos de Amig. Eles que tem medo de punir camponeses e abandonam as obrigações militares para resolver os problemas dos outros.”

O Espantalho (Sir Lockian) olha os heróis com desprezo e fala: “Soube que não gostaram do que fiz com o inimigo. Então gosta de saxões, pagão?” Cuidado ao andar por aí falando de mim garotos. Ou lhes cortarei a língua. Nunca se sabe o que pode acontecer quando estamos combatendo ou dormindo.”

Sir Algar então responde fumando seu cachimbo: “Você fala porque nunca provou o peso de meu machado como muitos saxões que não respiram mais.”

Sir Edgar responde: “Você e seu filho poderão comprovar minha fé quando lhes mostrar mais de perto a Sanctu Gladius!”

Sir Bag vendo a discussão então se aproxima: “Chega Cavaleiros! O inimigo não está aqui. Somos todos britânicos. Sir Algar e Sir Edgar. Venham. Vamos beber um pouco e comer um assado porque amanhã teremos mais um dia de combate árduo. E as beldades da corte, hein? Dizem que a Lady Marion, filha de Amig é a donzela mais bonita do condado. Cuidado, se ele souber que estou falando isso cortaria nossas partes e daria para os porcos comerem.”

Sir Amig escuta a conversa e se aproxima: “Por acaso eu escutei o nome de minha filha?” “Cortaria as vergonhas de quem ousasse se aproximar dela. Entenderam garotos?”

Ao amanhecer do dia seguinte a frota parte para alto mar. O Almirante Gwenwynwyn grita ordens para os comandantes dos outros navios: “Içar velas! Timoneiros aproveitem o vento! Naveguem próximos. Precisamos manter a superioridade! Para o norte! Sir Amig, entraremos no Blackwather em algumas horas.”

Com uma leve garoa e o mar bastante revirado os barcos enfrentam a arrebentação, alguns homens de estômago fraco sentem enjôos fortes, Sir Edgar e Sir Algar aguentam firme até que finalmente ao comando do Almirante a esquadra vira para bombordo à leste e entram no Rio Blackwather de águas escuras e lisas em Maldon. Então, os barcos recolhem suas velas e começam a usar os remos. Bem mais devagar, dois a dois os barcos navegam silenciosamente. Poucos animais e locais são vistos na margem. A estibordo após a curva no final da tarde a esquadra dá de cara com dois barcos encalhados na praia onde somente trinta saxões estão acampados. Quando eles os avistam imediatamente não reagem, ajoelham-se e levantam os braços em sinal de rendição.

Sir Amig: “Desembarcar! Façam prisioneiros e não matem quem se entregar, tenham honra homens!”

Oito unidades prendem os saxões aos chutes e cusparadas, matando alguns no calor do desembarque. A unidade de Sir Jaradan e a de seu pai o Espantalho começa a sacrificar o grupo de inimigos abordados. Os outros homens que se renderam começam a entrar em pânico. A unidade do príncipe Madoc e as três restantes poupam a vida dos inimigos mas os agridem. Sir Edgar olha em desavio para o Espantalho repreendendo-o. Então o homem vai até ele e diz:

“Intrometidos, bastardos! São uma vergonha para a britânia.” O Espantalho se aproxima de Sir Algar e tenta lhe pegar pelo pescoço. Sir Jaradan saca sua espada. “Sir Edgar, tem alguma coisa contra meu pai e eu? Gostaria de decidir na espada nossas desavenças?” Ao redor alguns homens gritam querendo sangue. Principalmente porque a maioria gostaria de ver pai e filho à sete palmos debaixo da terra. Então vendo a confusão o príncipe se aproxima:

Príncipe Madoc: “O que é isso homens? Precisamos nos manter unidos. Nada de bom pode vir de uma luta entre grandes homens como vocês. Eu os proíbo de lutarem um contra o outro sobe pena de banimento. Sir Lockian, estes homens, apesar de jovens, fizeram muito pelo meu pai e pelo reino. Tenha um pouco de respeito. Agora trabalhem juntos e tragam a pilhagem e queimem estes barcos.”

O Espantalho abaixa a cabeça pedindo perdão a Madoc que aceita, quando o príncipe se afasta ele olha atravessado para os dois heróis e se afasta dizendo: “Não perdem por esperar.” E sai rindo debochadamente.

Então o saque é recolhido e dividido contendo especiarias, diamantes, peles de enguia, talheres de ferro, cálices, foices e braceletes druidas de prata.

A noite passa tranquila. As bebedeiras normais dentro de um milícia e algumas brigas ocorrem. O Espantalho e seu filho se mantêm a distância. Por vezes olham com o rosto fechado.
Sir Amig conversa então com Sir Amig e Edgar: “Não falei que veríamos o inimigo por essas bandas? Na verdade há oito anos esses idiotas vêem a nossa costa pilhar e matar. Estava na hora de dar um basta nisto. E vocês arruaceiros e este parlapatão do Espantalho e seu filho? Guardem essa raiva para a hora certa. Eu lhes garanto que valerá a pena. Finalmente não conseguiram fazer amiguinhos, não é mesmo? Estão magoadinhos? Chega de falar e vamos comer.”

Peixes, hidromel e estórias de combate encerram essa noite de campanha.

No dia seguinte, desencalhando os barcos com todos ajudando a empurrá-los, a esquadra volta a navegar subindo o rio. Algumas crianças brincam na margem de pega pega, são morenas e correm de um lado ao outro. Sir Edgar as reconhecem, são crianças saxônicas. Parecem bem magras e que não tem se alimentado o suficiente. O gado e alguns carneiros parecem em péssimas condições. Após algumas horas no encontro do rio Blackwather com o Colne uma esquadra se aproxima lentamente na direção oposta. São os saxões do leste. Os bumbos começam a ritmar aceleradamente cantando o início da batalha. Nas margens os locais somem e as terras ficam desertas.

Sir Amig: “É o chamado da guerra senhores! Preparar armas!”

Almirante Gwenwynwyn: “Barcos inimigos à frente! Frota, mantenha formação. São seis barcos homens. Eles estão cheios de saxões. Preparem a abordagem. Marujos fiquem prontos com os cabos e ganchos. Atirar ao meu comando. Timoneiros quando eu contar três virar a estibordo.”
Os navios raspam seus cascos um no outro. A esquadra do Rei Uther navega diretamente entre os inimigos.

Almirante Gwenwynwyn: “Se segurem vamos nos chocar.”

Com o impacto vários cavaleiros e marujos caem batendo com a cabeça na murada, outros torcendo o pé. Sir Edgar e Sir Algar conseguem se segurar nas amarras da vela.

Almirante Gwenwynwyn: “Lançar cabos agora. Puxem, puxem, puxem. Ajudem Cavaleiros”

Neste momento os heróis vêem os dois barcos que navegam ao seu lado, onde estão o Espantalho e seu filho. Eles se afastam do combate virando os barcos para direção contrária. Eles olham e riem com uma expressão irônica. Sir Jaradan acena com a mão para a frota de Logres.

Sir Amig: “Desgraçados! Estão nos abandonando. A luta será desigual. Malditos! Esta vai ser difícil garotos. Talvez jantemos nos salões do Vahalla esta noite!”
Os barcos se aproximam e cada barco de sua esquadra tem dois barcos saxônicos enganchados. O combate é de 1 para 2 devido ao abandono de Sir Jaradan e Sir Lockian. Serão duzentos e sessenta e seis cavaleiros contra quinhentos e trinta e dois inimigos.

Príncipe Madoc: “Vamos homens! A luta vai ser difícil! Mas é a hora de sermos heróis. Lembrem-se de suas famílias e porque somos cavaleiros! Ataquem, ataquem!”
Um enxame de saxões pulam para dentro do barco e atacam com fúria armados com machados e espadas. A luta começa selvagem. Com pouco espaço entre os bancos e pouco ângulo para golpear e o inimigo com superioridade numérica será uma luta dura.

Sir Amig: “Lutem por suas vidas! Lutem por Logres! Lutem por Uther! Façam a espada cantar homens! Não quero nenhum saxão vivo dessa vez.”
Sir Algar pega uma das cordas que pendem do grande mastro e voa por entre os barcos aterrizando no meio de dois inimigos que o atacam imediatamente. Eles golpeiam forte e ferem o herói no ombro, abrindo alguns cortes graves e causando alguns hematomas. No outro barco Sir Edgar usa a Sanctu Gladius com habilidade. Apesar de ser golpeado duramente na armadura que deflete o golpe causando algum dano, o cavaleiro neutraliza os dois inimigos que o atacava. Cortando o pulso de um deles e do outro transpassando a espada pelo ombro fazendo-o derrubar sua arma e ser degolado sumariamente. Do outro lado, no barco inimigo Sir Algar fere gravemente no dorso, seu adversário, mas não consegue acertar o segundo. Então Sir Edgar pula pela murada para o outro barco, joga o bornel para Sir Algar, que tinha guardado a água curativa do poço sagrado de Mão Yarrow e abate o inimigo já ferido que lutava com seu irmão de arma. Assustado o saxão restante erra o golpe com seu martelo, Sir Algar agora com energia renovada por ter ingerido a água sagrada, o acerta com o escudo jogando-o na murada e prendendo-o com o pé direito e decapitando o inimigo espalhando sangue para todos os lados. Depois o demônio do norte empurra o corpo sem cabeça para o rio que cai do barco e afunda rapidamente. Olhando ao redor no final da primeira hora de combate os heróis vêem um dos cavaleiros ser atingido no peito por uma massa de batalha e com o impacto ele vira uma cambalhota em cima da borda do barco e cai com armadura na água, desaparecendo em meio a maré negra do rio. Outro escorrega no chão molhado e quando se apoia prostrado abre a sua guarda sendo sumariamente decapitado por um machado de guerra duplo saxão.
A luta segue sangrenta na segunda hora. Um a um os saxões vão caindo enchendo o fundo do barco com corpos. A unidade de Sir Amig agora está com quinze homens. Sir Edgar e Algar estão no centro da embarcação próximos ao mastro e estão cercados pelo inimigo. A morte parece esperá-los neste momento.

Sir Amig: “Sejam fortes! Passamos por muita coisa homens! Lutem com toda a energia que tiverem. Por Deus, pelos Deuses, pela Deusa, por Jesus ou no que acreditarem. Mantenham-se com os pés firmes e golpeiam com força. Sobrevivam!”

Então neste momento, com o terror nos olhos tudo começa a ficar em câmera lenta e o frenesi da batalha faz a espada cantar. Sir Algar entra em fúria e começa a lutar freneticamente, Sir Edgar parece calmo e frio e luta com movimentos fluídos com a espada milagrosa iluminando cada golpe. Os dois heróis lutando ombro a ombro matando mais dois inimigos. No final da segunda hora, o calado do navio, está quase na altura da água, pois as dezenas de saxões que invadiram o barco atacando as duas unidades dentro da embarcação foram dizimados. Uma pilha de corpos e uma quantidade de sangue lhes cobre o tornozelo. O inimigo boia sem vida. E os poucos sobreviventes morrem afogados sobe os pés do exército de Logres. Muitos corpos, cabeças e membros decepados boiam ao redor. Um corpo de um dos cavaleiros boia de costas com o ventre aberto com as vísceras amostra e os olhos vidrados. Rapidamente, desesperados pela reação inesperada dos cavaleiros do Rei Uther, alguns saxões muito feridos conseguem pular para dois barcos e conseguem fugir cortando as cordas que os uniam. E zarpam imediatamente. O príncipe Madoc e o Almirante Gwenwynwyn tentam organizar a esquadra e gritam ordens de partir e perseguir. Os poucos homens que caíram do barco e não se afogaram são resgatados da água com os navios em movimento. Alguns que conseguiram nadar até a margem, sentam ali assistindo a perseguição. Os corpos dos inimigos e suas armas são atirados no rio para aliviar o peso. Os tambores a bordo rufam em ritmo acelerado. Inicia-se a perseguição com quatorze cavaleiros à bordo. O inimigo navega a toda velocidade, mas estão em poucos números nos remos e muitos estão feridos. No caminho vêem centenas de corpos, escudos, bandeiras e alguns bumbos boiando. Dá pra ver a cara de terror no rosto dos saxões. Gritam um com o outro desesperados. Aos poucos vão escapando, jogando os corpos e cargas de saque para o fundo do rio mas a sorte deles acaba, o inimigo encalha em um banco de areia. Os tripulantes pulam no banco de areia e aguardam a luta.

Sir Amig: “Esses desgraçados são corajosos. Vamos, pulem do barco! Atacar vamos acabar com eles de uma vez por todas. Mantenham a atenção! Parede de escudos, protejam seus irmãos de armas, aguentem firme!”

Com água até os joelhos e os pés afundando no cascalho no fundo do rio as duas paredes de escudos se chocam com um tilintar de armaduras e madeira. Primeiro somente os dois lados se empurram e se xingam. Depois as armas começam a golpear por cima do escudo e por vezes as estocadas vem pelos calcanhares. Dos dois lados alguns homens com o tornozelo desprotegido tem os tendões abertos e caem de joelhos sem movimento das pernas. Mesmo na água rasa o afogamento é inevitável. Imediatamente os homens ao seu redor tentam substituí-lo. No inferno que é uma parede de escudos, uma brecha acaba com a batalha em questão de minutos.

Sir Amig: “Força! Empurrem, estoquem. Empurrem, estoquem. Cuidado para não escorregarem, cuidado com os joelhos. Abram espaço saxões desgraçados”

Sir Edgar golpeia à frente enquanto o cavaleiro ao seu lado o protege com o escudo de um golpe que vem do alto. A estocada de Sir Edgar atravessa o escudo inimigo partindo-o em dois e perfurando a armadura e o peito do saxão que some em meio ao avanço das duas paredes de escudos que se empurram. Enquanto isso Sir Algar é golpeado por cima, mas desvia do golpe e acerta seu adversário por baixo. O saxão à frente some, provavelmente com os tendões dos tornozelos dilacerados fazendo-o afundar e se afogar nas águas rasas. Exaustos pelo combate os dois lados abrem algumas brechas. Mas, os homens de Amig conseguem, liderados pela experiência do veterano cavaleiro fechar os espaços cedidos. Infelizmente cinco cavaleiros tombam. Alguns estocados pelas brechas que deixaram, outros por cima com machados e alguns por exaustão, sendo simplesmente abatidos. Então, em uma abertura onde Sir Edgar e Sir Algar mataram seus inimigos, os saxões que estavam nos flancos destes não fecham a abertura por estarem lutando com outros cavaleiros. Sir Amig imediatamente percebe a falha do inimigo.

Sir Amig: “Avançar, peguem-os de costas! Avançar, massacrar! Aproveitem, iniciem a carnificina destes bastardos.”

A quarta hora de combate se inicia com oito cavaleiros da unidade enfrentando quatro saxões. A parede de escudos que somava cem inimigos contra duzentos cavaleiros agora desaba. Então cercados e com as linhas do Rei Uther entrando para o outro lado da parede inimiga, os saxões são mortos como formigas com Sir Edgar e Algar liderando. Sem misericórdia, os gritos de terror e os sons da carne sendo rasgada e de ossos quebrados duram poucos minutos. Suficiente para que todos os inimigos sejam mortos. Os corpos mutilados descem o rio boiando. Alguns afundam e se enrosca nos pés dos cavaleiros sobreviventes. Derrepente o silêncio e tudo acaba. Sir Amig olha ao redor, todo encharcado, sem elmo e com a espada quebrada e com a armadura em frangalhos.

Sir Amig: “Vitória! Vitória! Vida longa ao Rei e Logres! Vencemos homens! Viveremos mais um dia! Aproveitem o momento rapazes!”

No final do combate cento e oitenta cavaleiros restam de pé. Os barcos de Sir Jaradan e de seu pai, o Espantalho, sumiram. Vinte e cinco cavaleiros estão mortos e sessenta homens do Rei Uther feridos. Alguns estão inválidos, outros mutilados, outros estão cegos e ficarão assim para sempre. Um dos homens, ainda vivo, perdeu parte dos ossos da cabeça e seu cérebro está à amostra. Ele não parece saber onde está. Assim o Almirante agrupa a esquadra formada agora por quatro barcos. Depois de buscarem os cavaleiros que ficaram para trás, então estacionados no meio do rio o Príncipe se dirige a todos que escutam com atenção.

Príncipe Madoc: “Homens! Nunca vi tamanha coragem e bravura! Alguns nos abandonaram diante do combate e pagarão com a vida se depender de mim. A forca os aguarda. Só posso concluir que Sir Jaradan e seu pai também queriam que eu também morresse. Talvez por ser bastardo e ter os repreendido. Queriam que fôssemos aniquilados e depois retornariam a meu pai e diriam que somente eles sobreviveram, ficando com as glórias, desgraçados. Quanto a vocês, mostraram que o nosso exército é forte como uma centena de dragões. Meus irmãos de armas que estão feridos. Não temei. Iremos ao porto em Yarmouth e lá poderão receber tratamento adequado que faço questão de prover. Os mortos que pudemos recorrer serão enviados com todas as honras para as suas famílias Partamos então! Levantar âncoras!”

A esquadra formada por quatro navios sai do rio através de remos, rompe a arrebentação e abre suas velas, com o brasão do rei Uther bordado à mão com fios de ouro por uma centena de costureiras, segue para o norte. Sete dias depois, finalmente, por conta do mar agitado e ondas grandes atracam em Yarmouth. O príncipe Madoc está muito feliz e cumprimenta cada cavaleiro que desembarca. Os navios vão sendo abastecidos de comida. A pilhagem é descarregada e deixada sob guarda do Lorde da região. No porto, cavaleiros locais se apresentam e são convocados para substituir os que caíram em batalha e ajudar a proteger as embarcações no retorno a Hantonne, com o arauto real lendo a convocação no porto, prometendo glória e parte do saque. Então, um grande cargueiro bretão atraca e o capitão salta e corre na direção da esquadra de Logres. Com sotaque francês ruim ele tenta falar galês mas não consegue. E fala algo em latim. Sir Edgar traduz então o que o homem tentava dizer:

Capitão: “Senhor! Em nome do rei, a dias que venho fugindo de um navio enorme saxão que vem pilhando e afundando os barcos ao norte. Ele está há algumas horas daqui, perto de Lindsay. É o víbora do mar, o maior navio saxão. E o famoso almirante Egbert o comanda. Ele é construído em madeira vermelha. Dizem que pintado com o sangue britânico e calafetado com os escalpos dos inimigos mortos. Por deus, escapamos por pouco.”

Príncipe Madoc então, fica com os olhos cheios de cobiça e olha para todos.

Príncipe Madoc: “Vamos homens inçar velas, todos a bordo! Rápido! Serás recompensado homem.”

Com os marujos tirando as amarras e com duzentos e vinte homens, só faltando os homens que abandonaram a esquadra, os navios partem remando a toda velocidade para o norte, o mar está um pouco agitado e chove. As velas são içadas simultaneamente quase que dobrando a velocidade. Os barcos sobem e descem as cristas das ondas e até mesmo os cavaleiros se revezam nos remos para tentarem alcançar a todo custo o inimigo. Os bumbos rufam alucinadamente. Depois de algumas horas, no meio da tarde eis que surge navegando lentamente o navio vermelho, feito de madeiras nobres com uma cabeça de serpente na proa. O barco saxão é do tamanho dos quatro barcos que formam a esquadra enfileirada. A distância os cavaleiros começam a ver que eles também os avistaram e que a agitação no convés é grande. Os inimigos começam a vestir suas armaduras e se armarem com escudos, massas e espadas. O Víbora do Mar vira a estibordo na direção da esquadra. Então, Sir Edgar e Sir Algar vêem um homem usando um elmo dourado, aberto na frente. Sua armadura é reluzente e na mesma cor. Tem braceletes de ouro em seus braços e tem barba e cabelos longos loiros. O homem empunha uma pesada maça de guerra e na cintura um chifre de ouro enrolado, todo gravado com runas pagãs, com a deusa e o deus se abraçando e parece emanar uma aura dourada, uma capa vermelha com o brasão de uma serpente marinha bordada é agitada pelo vento. Ele olha para todos com ódio. A borda das duas embarcações raspam uma na outra. Palavras com raiva são proferidas. Os bumbos se calam. Somente o som das centenas de homens gritando enquanto os barcos se aproximam. Ganchos vem dos dois lados e dois dos navios da esquadra conseguem atracar de ambos os lados. Os outros emparelham com esses e os homens saltam de barco em barco até chegar ao navio inimigo. No convés do Víbora do mar, entre os bancos os heróis podem ver uma pilha de tesouros e escravos acorrentados aos remos. Então em caos, com homens pulando de um lado ao outro a batalha começa. As linhas se misturam, não existe mais unidades. Todos os barcos estão cheios de cavaleiros do Rei Uther e de Saxões. A proporção é de um pra um.

Sir Amig: “Não existe mais tática homens! Lutem com tudo que tem! Avancem para o inimigo, sejam agressivos, não tenham piedade! É matar ou morrer”

Sir Algar e Sir Edgar pulam para o Víbora do Mar em meio ao caos e fazem suas armas cantarem ceifando vidas com o aço de suas armas. No final da primeira hora, não dá para saber ao certo quem está ganhando o combate. Homens das duas forças jazem por entre os bancos. As ondas desequilibram um grupo que luta próximo a murada, eles caem no estreito vão entre os navios e são esmagados pelas toneladas dos cascos de madeira maciça que se aproximam com o próximo movimento do mar. Gritos e ossos quebrados são ouvidos. Na segunda hora de combate alguns homens tentam organizar pequenas unidades, mas infelizmente não há tempo nem proteção pelas costas e são mortos rapidamente.

Sir Amig: “Não tentem se organizar! Lutem, o combate é homem a homem! Teremos que matá-los um por um!”

Os heróis vão abrindo caminho e golpeando, já que existe mais espaço para combater, Sir Edgar desequilibra seu adversário com o escudo depois passa uma rasteira no saxão que cai de costas em um dos bancos do navio e enterra sua gladius que brilha ao penetrar rasgando carne e ossos. Sir Algar bate furiosamente em um inimigo com seu machado, o homem escorrega no chão liso de água do mar, entranhas e sangue e cai de quatro. O demônio do norte o golpeia na junção do pescoço arrancando sua cabeça. Com as ondas altas e o mar ficando mexido, com pouca visão do que está embaixo do convés coberto pelo sangue muitos homens tropeçam ou escorregam sendo abatidos. A luta ainda é selvagem e ninguém quer abrir mão de sua vida, pois sabem que quem perder será executado pelo outro lado.
Na terceira hora de combate Sir Algar e Edgar vêem o almirante saxão, ele está coberto de sangue e está no convés superior perto do leme, o homem é enorme, forte e habilidoso. Quase uma dezena de corpos jazem aos seus pés esmagados por sua massa de batalha. Nada está definido. Morrem cavaleiros e saxões aos montes. As forças vão sendo aniquiladas mutualmente. Alguns são massacrados no convés, outros atirados no mar e afundam com o peso da armadura. Decapitações, mutilações e homens segurando o ventre para suas entranhas não caírem no chão é visto. O cheiro da morte se espalha com o odor de maresia. Sir Amig consegue ver em meio ao caos da luta infernal um corredor que leva ao convés superior e grita: “Vão garotos, por ali! Matem o Almirante e seu primeiro oficial antes que ele assopre o chifre de ouro. Vamos por um fim nesta luta.”

Quando o Almirante vê os heróis se aproximando pela escada que leva o deque inferior ao superior ele corta as cordas da vela e faz a grande base de madeira maciça girar direto para eles. Sir Edgar salta à frente desviando do golpe mas Sir Algar, por causa da pesada armadura, leva um golpe forte o lançando ao outro lado onde tem uma outra escada que leva ao deque superior provavelmente quebrando-lhe uma costela. Sir Edgar sobe pela esquerda e Sir Algar pela direita. Eles encontram o primeiro oficial com a espada em mãos e o Almirante Egbert com sua maça de batalha pronto para o combate.
Sir Edgar golpeia o primeiro oficial que desvia do primeiro golpe. Ele revida e atinge o elmo do herói que cai curvado e tonto. Um filete de sangue corre por sua testa até o queixo. Então Sir Edgar revida e a espada santa atinge as articulações do joelho de seu adversário. Ele desaba e a gladius milagrosa suga sua alma tirando-lhe a vida. Então Sir Algar e Sir Egbert giram suas armas andando em círculos e exibindo suas habilidades. Sir Algar o golpeia, o inimigo se movimenta rapidamente, e é pego de raspão, causando pouco ferimento. Egbert contra golpeia ferindo Sir Algar na cabeça. Sir Edgar salta rápido por cima do corpo do primeiro oficial e acerta o braço do Almirante saxão rachando um de seus braceletes dourados. Abrindo um corte em seu braço. Sir Algar golpeia novamente, então Egbert gira e com a sua maça arremessa o machado das mãos de Algar que com uma costela quebrada tem dificuldade em empunhar seu machado. Sir Edgar tenta acertá-lo mas o bravo guerreiro desvia novamente. Então Sir Algar em uma fração de segundo, rola pelo chão e recupera seu machado. O Almirante Egbert gira sua pesada maça de guerra e golpeia. Sir Algar rola e a arma do saxão acerta o convés arrancando lascas de madeira para todos os lados. Então Sir Algar ataca em um golpe final com fúria e gira o seu machado de baixo para cima confundindo seu adversário. A arma acerta desde as partes do inimigo rasgando carne e ossos passando pela barriga e finalizando no topo da cabeça, desfigurando e abrindo a pele inteira do rosto do inimigo. Que derruba sua maça se esvaindo em sangue com seus órgãos à amostra e respirando com muita dificuldade. Ele sente seu final, cambaleia pelo deque tentando se esgueirar. Com a armadura de ferro cortada e seus órgãos à luz do dia em meio a uma imensa hemorragia que aumenta cada vez que seu coração bombeia ele deixa um rastro de sangue tentando fugir dali. Ele tenta soar o chifre de ouro mais uma vez, mais o objeto mágico cai de suas mãos. Sem forças e com sua vida apagando ele tomba com metade do corpo para fora da embarcação com o seu rosto aberto voltado para o mar e dá o seu último suspiro. Sir Algar pega o chifre de ouro e o exibe de cima do deque superior. Os Cavaleiros de Logres urram comemorando. Com a morte do almirante os saxões começam a entrar em pânico e a pular das embarcações. Os que ficam vão sendo dizimados por Sir Amig e o Príncipe que lutam ombro a ombro seguindo Sir Bag que como um touro caminha na frente, batendo cabeça do inimigo com cabeça. Jogando outros para fora da embarcação, arrancando espadas das mãos do inimigo e pregando-os no mastro com suas próprias armas. Os combates vão diminuindo até que cessam completamente. Os poucos inimigos que sobreviveram ao ataque tentam se agarrar a escudos, barris ou algo que flutue no mar. Mas as ondas grandes tragam todos para o fundo do oceano impiedoso. No final cento e setenta inimigos foram mortos e quarenta foram presos ou feridos entre os bancos, os únicos sobreviventes inimigos. Oitenta cavaleiros de Logres foram feridos e cinquenta foram mortos ou estão desaparecidos. Noventa permaneceram de pé.

Sir Amig: “Muito bem homens, trabalho feito! Preparar para partir! Está se formando uma tempestade no horizonte. Sir Algar e Sir Edgar, fiquem no Víbora do Mar. O comando é de vocês e esses vinte homens seguirão-os como tripulação até em casa. Preparem a pilhagem para a divisão entre todos. Este é o comandante Pelegrim, ele é um excelente timoneiro e guiará a embarcação até Hantonne, já que pelo visto os senhores só sabem guiar cavalos. Pelegrim você irá gostar deles, já que são amiguinhos de todos, dos peixes das gaivotas, das marmotas, das sereias, dos peixes....” E a voz vai ficando baixinha enquanto ele salta para o outro barco.

Sir Algar: “Olha só, Sir Amig está ficando gagá!”

Pelegrim, um homem simples do mar, maltratado do sol, com a camisa encardida de sangue e de sujeira pelos dias no mar sorri.

Pelegrim: “Quais são suas ordens meus senhores?”

Sir Edgar: “Nos leve para casa!”

Com vários quilos de prata e ouro, armaduras de alta qualidade, arcos, trinta escravos e vários metros de seda os heróis, por terem conquistado o grande barco inimigo para o rei, dividem as duzentas libras do espólio entre sua unidade. Uma verdadeira fortuna.

Príncipe Madoc: “Atenção homens do exército do Rei Uther! Estamos com os barcos abarrotados de pilhagem e feridos. Infelizmente teremos que deixar os prisioneiros à própria sorte. Joguem-os ao mar. Sir Donavan leve apenas um sobrevivente até Sussex para contar ao seu povo o que aconteceu com os outros desgraçados que nos provocaram. Levantar âncoras Almirante, estamos indo para casa”

Implorando para que não o fizessem, quarenta prisioneiros e feridos inimigos são atirados ao mar. Sir Algar por piedade degola a todos e os joga já sem vida e lhes dá a digna morte pelo aço. Os que foram atirados vivos pelos outros barcos, os seus destinos eram incertos. Mas após alguns minutos não são mais avistados no mar mexido pela tempestade que se aproxima. O Príncipe parece abalado com a ordem que teve que dar.

Finalmente depois de uma semana no mar, depois de uma primavera e parte do verão matando e caçando inimigos a esquadra retorna ao reino de Logres. Lar doce lar. Até o cheiro ruim do porto de Hantonne parece ser bom quando os heróis pisam em terra firme. O Almirante Gwenwynwyn, com seu rosto sério maltratado pelo mar, fumando um grande cachimbo e com poucas palavras os olha e acena com a cabeça com um pequeno sorriso de satisfação. Quando todos estão no porto prontos para retornar, o príncipe Madoc fala:

“Cavaleiros! Tivemos meses difíceis no mar. Perdemos excelentes e corajosos guerreiros e amigos. Agora é hora de voltar para casa e ter um pouco de tranquilidade. Será um ano sem medo do inimigo. Teremos um pouco de paz para as nossas famílias. Vão e aproveitem, pois foram vocês que lutaram por esse momento! Sigam pelas estradas que é mais seguro e no verão do ano que vem, daremos um jeito no povo do pântano e nos cavaleiros traidores.”

Então dirigindo-se à Sir Algar e Sir Edgar: “Vão em paz meus amigos e obrigado.” Então ele cumprimenta-os com orgulho e cumplicidade e diz: “Vida longa a Britânia, vida longa ao rei e vida longa a vocês heróis!”

Neste momento Sir Amig passa ao lado de cavalo e diz: “Vamos meninas, hora de voltar para casa!”

NOTA: Trecho achado nas escavações, na antiga cidade inglesa de Sarum, por arqueólogos em 2002, de um diário de um cavaleiro chamado Sir Amig: “O combate e tudo que o envolve sempre foi o meu meio natural. Apesar disso sempre procurei fazer o meu trabalho buscando um fim maior. A paz! Infelizmente para chegar nela é preciso fazer a guerra. Ao anoitecer, quando tudo está em silêncio e o manto negro da deusa cobre o céu e em meu feudo só se ouve os sons noturnos. Os rostos de todos aqueles que eu matei voltam para me visitar. Por isso aqueles que seguem o caminho do aço devem estar preparados para conviverem com seus piores pesadelos.”


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