Na Britânia, o inverno caiu como uma espada afiada, no início do ano de 516. Mais uma vez paira o medo de um possível ataque dos saxões. Chegam notícias de que, no outono, milhares de barcos foram vistos despejando guerreiros na costa de Sussex, Kent, Essex, Wessex e Ânglia. Há boatos que no coração do Reino de Ælle, tem se fabricado milhares de barris de bafo de dragão. De Silchester vêem a notícia de que toda a floresta que faz fronteira com a terra dos bárbaros, desapareceu para serem fabricado lanças, escudos e trebuchets. Os espiões de Arthur dizem que mais de uma centena de ferreiros forjam armas dia e noite ao redor do castelo de Ælle. Em Logres os nobres se refugiam nos castelos e o povo migra em direção à Cornualha, levando tudo que tem de valor. O medo da guerra permeia o ar.
Quarto da Rainha Guinevere:
Rainha Guinevere: “Aias! Saiam todas! Preciso falar algo privado com Sir Bernard.”
Quando as garotas deixam o quarto e fecham a porta a rainha se entrega aos seus desejos ao cavaleiro da távola redonda e seu protetor.
Sir Bernard: “Não podemos fazer isso minha rainha! Sou leal a Arthur!”
Rainha Guinevere: “Você não gosta de mim? Sou feia? Então você me usa e agora me abandonará?”
Sir Bernard: “Não é isso…”
Então alguém bate a porta.
Aia: “Majestade! Sir Kay está vindo até a sua câmara.”
Sir Bernard: “Se recomponha, abram a porta.”
Sir Kay entra no quarto e todas as garotas fazem uma reverência. Ele se prostra em direção à rainha.
Sir Kay: “Bernard! Meu irmão está te aguardando no pátio, só falta você."
Pedido de Arthur:
O Barão Brian, os escudeiros Cormak e Breno estão no pátio da torre branca. Rapidamente Sir Bernard se junta ao grupo. É início da primavera. As milícias de cada lorde estão se preparando para a guerra, acampados ao redor de Londres. Eles caminham com o rei pelo jardim, enquanto os corvos de Cormak andam pela grama verde, ao redor da área do castelo, cercado por muralhas.
Rei Arthur: “Pois é meu amigos, foi um longo inverno. Como estão os preparativos para a guerra?”
Barão Brian: “Perdemos muitas lanças na última lua, Arthur. Estamos com menos de 2500 homens em nossas fileiras.”
Rei Arthur: “Escutem... Sei que todos estão preparados para lutar e que isso tem ocupado nosso tempo. A maioria dos nossos Lordes não atenderam ao chamado. Perderam a fé, depois que souberam que Excalibur está quebrada e Merlim está desaparecido. Somos tão poucos... Não sei se teremos chance alguma. Mas sabem que só posso confiar em vocês. Existe alguém nos traindo por entre as nossas fileiras… Alguém ajudou os saxões a entrarem em meu casamento e descobrirem todo o nosso problema. Por isso só posso pedir uma coisa aos meus primeiros Cavaleiros da Távola Redonda. Foram criados em Avalon, certo? Preciso que vão até Glastonbury. Procurem Merlim, perguntem por ele, descubram onde o velho está! Algo está acontecendo e não sei se estou tomando o rumo certo das coisas. Preciso dele mais do que nunca. Aliás, a Britânia precisa dele! Então levem o que sobrou de Excalibur. Vejam se em Avalon vocês consigam que a reforgem. Essa demanda é de vocês. Enquanto isso levarei meus poucos homens para Humber. Os saxões estão atacando o norte. Conquistamos a pouco tempo aquela região e não podemos perdê-la. Será mais um sinal de fraqueza se eu não puder proteger o povo romano que vive lá, depois que matamos o seu Rei Centurião. Mandarei notícias homens... Boa sorte, amigos. O destino da Britânia está em suas mãos.”
Viagem até Glastonbury:
O Barão Brian e Sir Bernard partem montados em seus cavalos, seguidos de seus escudeiros Breno e Cormak. Ao anoitecer eles chegam no castelo de Windsor.
Windsor:
O castelo de Windsor, não voltou a ter o resplendor de outrora, com banquetes aguardando nobres a qualquer lua. O castelão, Sir Tor, filho do rei Pellinore, recém ordenado cavaleiro, os recebe em meio há centenas de nobres e plebeus que se acotovelam pelo pátio e os corredores.
Sir Tor: “Bem vindos cavaleiros! Sigam-me! Espero que a comida e a bebida sejam de seu gosto. Infelizmente não posso servir um banquete. O Rei Arthur me designou como tarefa, por ter me tornado cavaleiro, zelar por esse abrigo importante na estrada do rei. Não liguem a bagunça.”
Crianças correm, alguns cachorros andam por ali, uma mulher corta o cabelo cheio de piolhos de seu marido, outra dá a luz num canto e as pessoas passam prestando reverência aos renomados heróis.
Sir Tor: "Estamos tentando receber o maior número de pessoas dentro das muralhas. Quem não puder chegar a tempo deverá ir para oeste. Esperamos resistir até que a guerra acabe. Por isso estamos racionando a comida. Alguns nobres estão reclamando mas Arthur prometeu igualdade, então recebi o maior número de aldeões que pude."
Então eles jantam e dormem ali, em um dos salões, no chão, em meio as crianças, mulheres, nobres, cachorros, velhos e plebeus. Na manhã seguinte o grupo parte em direção à Silchester.
Silchester:
Quando eles entram em Silchester, no final da tarde, estranhamente não encontram patrulhas de cavaleiros protegendo a terra. Ao sul podem se ver árvores e mais árvores derrubadas. Existe algum gado morto pelo caminho. Pequenas vilas abandonadas. Então eles chegam ao portão principal da cidade murada. Poucos guardas estão no passadiço. Eles parecem desanimados. Quando vêem os brasões dos Cavaleiros eles imediatamente tentam demonstrar certa dignidade. Rapidamente eles abrem os portões da cidade.
As ruas estão lotadas e as pessoas e animais jogados as traças. Pessoas magras e sujas. As construções remendadas com barro e palha. O cheiro de água represada misturado ao de merda é forte. Sir Bernard descobre que as vilas foram todas abandonadas e o restante do território tomado pelos saxões. Os heróis se dirigem para o palácio da cidade.
Dentro do palácio romano, cheio de infiltrações, com o piso destruído, mofo tomando as paredes e ninhos de pombos, no forro, que enchem de merda o chão. Quase nenhuma tocha está acesa. Eles chegam até as portas duplas enferrujadas caídas do salão de banquetes. Quando entram se deparam com o lugar mergulhado nas sombras. O Barão Brian acende uma tocha. Dali eles vêem a longa mesa de banquetes encostada na parede. As cadeiras empilhadas em cima dela. A parede inteira, branca ao estilo romano, está desenhada com padrões estranhos. Barris de tinta vermelha estão encostadas na parede oposta. Mas o cheiro denuncia… Não é tinta e sim sangue.
Barão Brian ilumina uma inscrição feita na parede a altura de seus olhos:
“Foi aqui que matei o campeão de Cerdic e mostrei quem eu era para Ælle. Meu irmão me ajudou. Depois tive que matá-lo também. É estranho, não preciso mais dormir. Marion eu sempre te amei! Ele me mandou fazer... Ele é irmão do meu melhor amigo. Não posso... Não posso recusar. Afinal é um Pendragon e tenho que ajudá-lo. Mesmo naquele lugar escuro e úmido… Eu não queria ter visto, não queria. Tem gigantes por toda parte, por toda parte… Seus olhos me fitam pela janela!”
Naquela noite Sir Bernard quase não dormiu preocupado com o seu pai. Na manhã seguinte eles partem debaixo de uma tempestade, o que atrasa o grupo em um dia.
Levcomagus:
Na metade do dia eles passam por Levcomagus e a cidade está totalmente abandonada.
Sarum:
Quase no final da tarde, com chuva forte, eles passam por Sarum que está com a guarda da cidade no passadiço. Poucos arqueiros e lanceiros aguardam o inimigo. Também se vê que a cidade está lotada de aldeões e nobres.
Vagon:
Eles entram na floresta e acampam onde era o forte Vagon, de onde só restou ruínas. Agora só resta um amontoado de madeira que um dia foi a principal proteção de Logres. A noite passa tranquila apesar de o lugar virar uma grande poça de lama.
Warminster:
No dia seguinte o grupo passa pela cidade cristã de Warminster. Centenas de carroças cheias de objetos religiosos de prata e ouro, animais de criação, comida e religiosos viajam em direção ao oeste. Cavaleiros cristãos os escoltam.
Bispo Roger (montado em um burrico): “Deus os abençoe Cavaleiros do Rei Arthur! O Arcebispo Carmelo nos ordenou ir para Tintagel. Lá estaremos mais protegidos. Essa guerra maldita só nos traz tristeza!”
Wells:
No oitavo dia de viagem eles passam por Wells. A cidade tem prosperado e agora ela está se tornando murada e com um castelo de pedra. Barão Brian se aproxima da muralha.
Barão Brian: “Abram os portões em nome do rei!”
O guarda no alto da muralha observa o brasão dos Stanpids e dos Herlews que estão desenhados em uma das ameias e com um grande xis vermelho em cima dos dois. O guarda simplesmente ignora o Barão.
Barão Brian: “Escute aqui homem! Somos cavaleiros da távola eu ordeno que…”
Então um barulho vem do alto da muralha e o Barão salta para o lado. Um balde aparece e todo seu conteúdo, urina e merda, é despejado lá para baixo quase acertando o Barão.
Barão Brian: “Escute aqui, eu vou embora! Mas voltarei! Desgraçado!”
Enquanto isso os escudeiros Cormak, Breno e Sir Bernard riem do derrotado Barão.
Glastonbury:
No dia seguinte eles chegam a cidade de Glastonbury. A muralha foi reerguida. Atrás surge o grande monte com a abadia no topo. Uma centena de guardas, com as cruzes no peito organizam a entrada dos aldeões, peregrinos cristãos e pagãos. Eles usam o broche da resistência Celta.
Sir Joseph: “Como vão cavaleiros! Vieram ajudar na proteção da cidade?”
Sir Bernard: “Infelizmente estamos em uma demanda em nome do rei Arthur."
Sir Joseph: “Entendo! Estamos recebendo os peregrinos das duas religiões por ordem do Arcebispo Carmelo. Sejam bem vindo a Glastonbury! Com licença. Soldados, ajudem aquela senhora, levem as crianças no colo. Abriguem esses na estalagem ainda temos lugar lá.”
Passando pela cidade, em direção ao monte onde está a Abadia, eles observam barricadas sendo feitas dentro da cidade. Crianças recebendo elmos, lanças. Poucos arqueiros treinando tiros. Padres e Druidas abençoam juntos, as pessoas que caminham pelas ruas. O grupo contorna o monte e chegam próximo ao posso sagrado. Dali se vê o espinheiro de José de Arimatéia e um pequeno bosque a esquerda. Diante deles o lago, com algumas garças caminhando a esmo e as brumas cobrindo tudo: Os portões de Avalon. Então os sinos da Abadia no alto começam a soar. Eles ouvem o som de remos e um pequeno barco com dois remadores, uma figura feminina. Os homens usam uma calça de couro de lontra, tem o peito nu escuro e na cabeça raspada apenas os cabelos representando dois pequenos chifres; O povo do Pântano. Na proa a fada olha para os heróis. Ela é estranha, branca e não parece refletir luz. O rosto parece mudar quando ela se move. Ela deve ter uns 16 anos. Brian a reconhece: É Ellen Stanpid, irmã de Sir Bernard.
Ellen: “Olá irmão! Entrem no barco. Ele falou que vocês viriam.”
O barco navega suavemente sendo envolvido pelas brumas. Os homens remam a esmo. Ellen se levanta, fecha os olhos e se concentra. Água pinga de seu vestido. Ela fecha as mãos diante de seus olhos e abre os braços. A Bruma se dissipa em pequenos turbilhões de ar. Um grande pântano surge. Eles estão para lá do véu. O barco passa pelas dezenas de caminhos tortuosos e bifurcados. Caminho só conhecido pelo povo do pântano. Finalmente o barco sai no grande lago. A Bruma permeia tudo.
Ellen: “Nos leve para Inis Wydryn”
Então o barco sai do pântano em outro grande lago e uma ilha surge à frente. Sir Bernard e o Barão Brian a reconhecem, porque a luz do sol que penetra por entre a bruma se reflete ao redor da ilha, no fundo de água cristalina refletindo no chão vítrio, como cristal espelhando a torre e o círculo de pedra ao lado dela, no fundo do lago. Na torre existe uma porta dupla, em formato de ogiva, fechada. Crânios humanos adornam o batente. Existem algumas janelas mais finas no mesmo formato e parece ter 3 andares. No topo as ameias coroam a torre; a casa de Merlim.
O escudeiro Breno, cristão, está muito assustado e faz o sinal da cruz várias vezes.
Breno: “Eu vou ficar aqui no barco. Esse lugar é demoníaco.”
Sir Bernard: “Fique aí então! Não saia da margem. O lago tem mistérios que nem mesmo os druidas conhecem"
Ellen: “Vamos, ele está esperando. Antes, deixem as suas armaduras, elmos e armas aqui.”
Então, quando se aproximam da torre, um garoto de 2 anos corre em direção a Ellen e a abraça nas pernas.
O garotinho olha fascinado para os heróis.
Ellen: “Toda vez que saio do véu para o mundo dos homens o tempo parece cobrar uma dívida. Por isso já sou mulher e agora mãe. Bernard esse é seu sobrinho, Perceval Stanpid!”
O menino fica tímido e se esconde atrás das pernas de sua mãe.
Ellen (pegando o seu irmão pelo braço): “Irmão, não fale de cavalos ou cavaleiros para Perceval. Tudo isso só nos trouxe tristeza e morte em nossa família. Ele está protegido em Avalon de onde nunca sairá.” Me prometa!”
Sir Bernard: “Eu prometo!"
O interior do térreo da torre é simples. Possui uma escada em espiral. Quando eles chegam no primeiro andar existe uma sala redonda com espreguiçadeiras. Nas paredes, runas e tapeçarias com a Deusa e Cernnunos. Peles de ursos brancos estão espalhadas pelo chão. Ellen os convida a sentar enquanto oferece uma gamela de barro, cheia de frutas. Uma coruja voa rapidamente em direção ao ombro de Brian, não sem antes aliviar suas tripas e voar novamente para encará-lo da viga do piso superior. Em uma espreguiçadeira, coberto, enfraquecido, magro, fraco, aparentando 100 anos de idade está Merlim. Ao lado dele, limpando sua boca e colocando panos quentes em sua testa está Lady Marion, a Dama do Lago. A lareira está acesa.
Lady Marion: “Sejam bem vindos. Merlim estava ansioso para vê-los.”
Merlim: “(tosse), Ah, aí estão vocês… Eu não falei que eles viriam? (tosse) Perdoem o meu estado cavaleiros. Mas levar aquela região do acampamento de Lot para o outro lado do véu foi extenuante. Meu corpo está como uma árvore velha atingida por um raio. Se Marion não tivesse me resgatado e trazido para cá eu estaria do outro lado do véu para sempre. E isso já fazem dois anos. Me contem tudo! Como está a Britânia e o nosso novo Rei?”
Barão Brian: “Merlim, o nosso rei se casou."
Merlim: “Arthur? Casou com quem? (tosse)”
Sir Bernard: “Com Guinevere."
Merlim: “Isso é uma surpresa inesperada. Aliás, os presságios não apontavam para isso. Guinevere estava destinada para outra pessoa. Onde Arthur estava com a cabeça?”
Todos percebem Merlim olhando nos olhos de Bernard.
Barão Brian: “E tem mais uma coisa… O Rei quebrou Excalibur!”
Merlim: “A espada sagrada quebrada! (tosse e passa mal) Arthur quebrou aquilo que nunca deveria ser quebrado! Os Deuses não estão olhando para ele no momento. Se o Rei é a terra, a Britânia está doente novamente. E só há uma maneira de extrair o veneno que mata a ilha. Reforjando Excalibur. Há muitas eras a primeira espada sagrada surgiu num lago na floresta Savage. Os primeiros homens a receberam das mãos do próprio Deus ferreiro Weyland. Conta a lenda que Bran, o lendário guerreiro celta que tem a cabeça enterrada em Londres, a quebrou uma vez. Aconteceram duas coisas. Vendo que a espada não era suficiente para que os primeiros homens se defendessem, com os fragmentos da lâmina a Deusa fez os 11 tesouros da Britânia, colocando o metal sagrado em cada uma delas. A própria espada Excalibur reforjada, uma tiara, um broche, uma ferradura, um bracelete, um elmo, um martelo, uma capa, uma lança, um escudo, um chifre e um anel. Para protegê-los a Deusa determinou o fruto do Dragão. O primeiro Pendragon de linhagem sagrada. O décimo segundo tesouro. A Deusa determinou que tudo isso teria uma condição; que os homens deveriam controlar a sua cobiça e nunca usar a espada para seu próprio interesse. Se acontecesse novamente a espada só poderia ser reforjada pelos mesmos fragmentos. (ele se senta fazendo um esforço e tossindo mais uma vez e eles percebem que os tesouros da Britânia adornam as paredes redondas da torre) “Mas existe um detalhe. O guardião, o fruto de Dragão deve ser incorporado pela lâmina. Seu sangue e sua alma devem retornar ao aço. Entendem, o que estou falando?”
Sir Bernard: “Temos que sacrificar Arthur?”
Merlim: “Existe outro Pendragon na ilha.”
Barão Brian: “Padre Pertoines. Mas ele virou algo que não é mais humano.”
Merlim: “Depois de reunirem os tesouros da Britânia, deverão usar a chave de Salomão para invocar Weyland. Tudo isso em Tishea, no Caldeirão de Clyddno Eddyn. Resta saber onde o Pendragon pode estar.”
Então Merlim cai exausto na cama novamente. Ele parece revirar o seus olhos e apaga de cansaço.
Lady Marion: “Agora já chega. No piso superior existe um quarto com camas de palha. Frutas e vinho. Se instalem lá e descansem pois terão uma grande jornada pela frente. Deixem me tratar de Merlim. Quando ele recobrar os sentidos ele irá lhes chamar.”
Revelação:
Sir Bernard, o Barão Brian e o escudeiro Cormak se instalam no quarto superior da torre. As palavras de Merlim ecoam em seus ouvidos. Os desenhos de Enrick nas paredes. O que ele escreveu no teto. Eles começam a fazer um desenho e ficam chocados quando descobrem para onde devem ir. A ilha Wight ao sul da Britânia.
Barão Brian: “É nesse lugar onde nossos pais foram aprisionados e onde quase todos os Cavaleiros da Cruz e do Martelo morreram afogados. É onde está as Masmorras da Lua. Onde na lua cheia tudo que está preso em seu interior é dragado pela maré.”
Então Marion entra no quarto.
Lady Marion: “Venham rápido, o druida está os chamando.”
Merlim: “Existe um barco, o Senhor das Fadas. O barco que usei para retornar a ilha. Presente do avô de Sagramor, Constantino. Ele está atracado para lá de Atalaia. Na saída do pântano, já para fora do véu. Chegarão rápido onde quiserem, apesar do mar está cheio de saxões chegando na Britânia. Ellen, vá até a ilha do povo do pântano e diga que precisamos de 20 remadores. Brian e Cormack sabem se virar no mar, não é? Boa, sorte Cavaleiros!”
Lady Marion: “O baú com todos os tesouros da Britânia está ali. Não os percam por nada nesse mundo. Bernard, não deixe nada de ruim acontecer com o seu pai. Sem ele, todos cairemos.”
A Viagem:
Então, vários barquinhos zarpam através do lago sagrado. Ellen os guia abrindo as brumas, a bordo do bote que segue à frente. Então, eles entram no pântano em um caminho que serpenteia por entre o barro negro e as árvores retorcidas. Até que chegam em um porto de madeira onde está um grande barco a remos e com duas velas.
Ellen (para Bernard) : “Boa viagem, irmãozinho!”
Com todos a bordo, no convés do Senhor das Fadas, eles partem em direção a vazante da maré que os levará até o mar. Em mar aberto o tempo ajuda e o vento sopra a favor. Os dias se alternam entre ensolarados e com chuvas esparsas. Ao anoitecer eles encalham o barco nas praias de cascalho para dormirem.
Saxões:
Ao se aproximarem da ilha, quando o Senhor das Fadas escala uma grande onda, Sir Bernard avista um barco saxão se aproximando rapidamente.
Sir Bernard: “Rápido, peguem os tesouros da Britânia!”
Barão Brian: “Quem perder um desses vai ser empalado por mim!”
O Barão Brian tenta manejar o leme do barco para escapar mas o Senhor das Fadas é abordado. Rapidamente os saxões saltam para o estreito convés e o combate começa. Sir Bernard trava um duelo, ele não consegue se defender, o machado do saxão se choca contra a sua grossa cota. Ele, então empurra o inimigo que tromba de costas no mastro central e ele golpeia com a Sanctu Gladius de cima para baixo arrancando metade do antebraço do guerreiro que espuma de dor. Ao seu lado, o escudeiro Irlandês Cormak, é acertado no meio do rosto com o escudo saxão, o rapaz forte como um touro resiste e acerta a lança Gungnir no pescoço do seu inimigo, o matando instantaneamente. Depois ele agarra o homem que atacava Sir Bernard, levanta o inimigo e quebra sua espinha na murada do barco o lançando no mar. O Barão Brian cai com o choque dos dois navios. O saxão o golpeia de cima para baixo com um machado de duas mãos. O Barão se defende com o escudo sagrado dos celtas e a lâmina do machado inimigo se quebra. Brian se levanta como um tigre e decapita o seu inimigo com seu machado traspassando tendões e parte da madeira do convés. O escudeiro Breno saca a quebra gigantes. O saxão o estoca, ele desvia. No segundo golpe o garoto se defende com os braceletes de Brutus. O saxão se assusta porque o seu golpe seria mortal. Então o garoto golpeia e o inimigo assustado escorrega nas tripas e sangue que se espalham com a água salgada no convés. O garoto, com as duas mãos, atravessa o saxão que urra e morre quase que ao mesmo tempo. Os remadores de Avalon lutam usando as adagas e cordas de enforcar. Brian grita mantendo-os motivados. No final, alguns dos saxões se atiram ao mar para fugir, abandonando seu barco cheio de espólios. Os heróis recolhem o ouro e queimam a embarcação inimiga até ela ser tragada pelas ondas.
Ilha Wight:
Meio dia depois, seguindo a arrebentação, o Senhor das Fadas encalha nas praias da ilha Wight. Deixando a embarcação eles se deparam com um pequeno barco de uma vela, encalhado ali. Pegadas nas areia indicam que hora duas pessoas e hora três caminharam no cascalho. A terceira pegada lembra a de um animal. As falésias à frente parecem vazias. Eles sobem por uma pequena trilha de areia. No topo delas eles percebem a mata que se estende ao longe. Uma colina no horizonte, com o castelo de Carisbrooke no topos, se ergue no lado oposto da ilha. A medida que atravessam a mata eles encontram esqueletos de guerreiros com cotas, elmos e armas enferrujadas. Parece que uma batalha foi travada ali. Eles reconhecem as cotas dos guerreiros de Cerdic e Beothric.
Barão Brian: “Houve uma batalha há alguns anos quando meu pai foi capturado pelos saxões de Cerdic. Eles capturaram a lança Gungnir. Então os homens do rei aleijado, Beothric, foram enviados para capturá-la. E eles se destruíram por causa da cobiça.”
Heiling:
Eles caminham por entre a mata por algumas horas. Perto do anoitecer eles sentem o cheiro de comida misturado ao de fumaça de uma fogueira. Eles escutam o som de risadas infantis. Breno e Cormak rastejam pela mata para espionar. Eles vêem uma gruta. Flores coloridas adornam a entrada. Na frente uma pequena nascente cristalina. Um menino de uns 6 anos brinca com uma espada de madeira. Ele rola na grama, se levanta. Ele é muito habilidoso.
Galahad: “Venham saxões, não deixarei machucarem minha mãe.”
O garotinho golpeia umas florzinhas que lançam suas pétalas ao vento. Então uma luz e uma voz vem dos escudeiros.
Heiling: “Perderam algo aqui, garotos?”
Galahad: “Bandidos! Eu te defendo mãe!”
O garoto passa pelo meio da perna de Breno e o acerta nas partes baixas fazendo o escudeiro cair de dor. Cormak olha para onde o garoto devia estar mais um golpe forte em seu joelho faz o irlandês cair. A luz some. O Barão Brian e Sir Bernard correm para lá.
Heiling: “Já chega, filho! Brian e Cormak, seja bem vindo, meus irmãos.”
Uma mulher com cabelos loiros e pele branca, com olhos verdes. Linda e ao mesmo tempo com um ar que emana fascínio e medo. Seu vestido parece ter sido feito com ramos de plantas. Em seu cabelo usa uma coroa de flores. Borboletas e passarinhos voam ao redor dela.
Cormak fica sem entender o que está acontecendo.
Heiling: “Conte nossa história para ele Brian.”
Barão Brian: “Quando éramos crianças a Britânia foi acometida pela peste negra. Eu e Heiling éramos crianças e ficamos doentes. Contam pela Britânia que ele, o Duque Enrick e Lady Marion se embrenharam na floresta de Sauvage. Ninguém sabem o que encontraram por lá. Mas de alguma maneira ele deixou Heiling para o povo das fadas para que ela vivesse. E meu trouxe de volta curado. Foi o acordo que Algar, nosso pai fez, com o coração cheio de dor.”
Galahad: “Então é você, o meu tio Brian? Eu sou Galahad, senhor!”
Barão Brian: “Que bom te conhecer meu jovem! Gostei do jeito que luta!"
Heiling: “Venham, fiz algo para a janta para Galahad, compartilhem a refeição com ele.”
Enquanto eles sentam, Heiling os servem em pratos de madeira um guisado de ervas e vegetais. Um líquido negro borbulhante que faz cócegas no nariz e os olhos lacrimejarem é servido em taças de madeira.
Heiling: “Nós estamos aqui há algumas luas. Merlim nos procurou e disse que o destino do novo rei tinha sido mudado, que tinha sido morto em campo de batalha, mas que algo poderoso o tinha trazido de volta. Escrituras tão antigas quanto o início da terra. E que ele precisava ocultar esses escritos aqui. Ele também disse que eu precisava estar com Galahad, por que era a única maneira de protegê-lo. Desde então os pesadelos do meu filho com pessoas se afogando embaixo da terra não cessam. Ele nunca foi de sonhar com coisas ruins.”
Sir Bernard: “'É que muitas pessoas, no passado, morreram afogadas nessas masmorras, senhora.”
Heiling: “Não, Cavaleiro. Ele só sonha com o futuro…”
O menino concorda comendo os oferecendo pequenas bolinhas doces negras com granulados em cima enquanto os cavaleiros ficam assustados. No dia seguinte eles partem em direção ao Castelo de Carisbrooke.
A tumba:
O Castelo vai surgindo por entre as copas das árvores. O grupo acha uma passagem que leva para dentro das masmorras. Mas ele está bloqueada por pedras enormes. Mais esqueletos existem ali. Inclusive o de um cachorro.
Sir Bernard: “Esse era o cão Urco. Meu pai me falava bastante dele. De como lutava ao lado do seu dono, Sir Verius, Cavaleiro da Cruz do Martelo. Se afogaram juntos aqui nessa masmorra maldita.”
Por entre a mata, próximo a muralha do castelo, no alto da colina, eles percebem uma tumba. Ela está coberta por pedras e com um elmo enferrujado em formato de cabeça de cabrito em cima. O grupo se aproxima. O Barão Brian lê uma inscrição em saxônico escrita em uma pedra que foi colocada ali.
Lápide: “Está enterrado aqui, pelos seus próprios inimigos, protegendo as muralhas de Carisbrooke, um dos maiores guerreiros que a Britânia já viu; Sir Amig de Tishea que antes de atravessar a ponte de espadas levou consigo 45 guerreiros saxões para lhe servir por toda a eternidade. Sua morte lendária serviu para aprendermos a respeitar nossos inimigos. Glória e coragem! Salve Sir Amig, o cavaleiro do Ragnaroth!”
Emocionados eles se ajoelham diante da tumba de um dos melhores e mais corajosos cavaleiros da Britânia. Eles levam o elmo com eles para deixá-lo onde descansa a esposa de Sir Amig no castelo de Tishea.
Entrando:
Se aproximando do castelo eles percebem que as portas ruíram. A construção parece ter sofrido um grande incêndio em uma das torres. Parte de outra torre parece ter desabado. Não existem sentinelas. As janelas estão escuras. O castelo de Carisbrooke está em ruínas. Cormak começa a escalar para colocar a corda na janela há dez metros. Ele segue se apoiando nos tijolos antigos. Mas perto do topo o tijolo se solta e o rapaz despenca na relva lá embaixo. A maioria dos homens não teriam sobrevivido a queda. Mas Cormak, o Irlandês, desloca o ombro e se fere no lado esquerdo do dorso.
Barão Brian: “Escapou da morte irmão! Volte a gruta de Heiling e fique lá com eles. Mais uma queda dessas e você vai estar morto.”
Desanimado o garoto manca, descendo a colina e sume na mata. O escudeiro Breno segue torre acima, com a mesma missão. Dessa vez ele chega lá em cima. Rapidamente ele dá uma olhada lá para dentro. No interior da torre tudo está destruído. Uma cama e uma mesa estão quebradas pela umidade e pela ação de cupins. O teto está cheio de morcegos pendurados. O chão sujo de fezes de ratos. Logo Sir Bernard, seguido pelo Barão Brian, usando a corda amarrada pelo rapaz, chegam a altura da janela.
Salões:
Eles descem pela escada escura até uma porta derrubada. Esqueletos estão caídos ali com fraturas nos crânios, cortes nas costelas e ossos amputados. Os salões do castelo estão vazios. O de banquete, com conchas e decorações marinhas está todo sujo, com parte do teto desabado, por onde a chuva começa a cair. Eles escutam um som vindo do final do grande salão. Eles respiram aliviados quando uma raposa corre com os seus filhotes escada abaixo. Nas mesmas condições estão a cozinha e os quartos reais que existem nesse andar. O chão também estão repletos de esqueletos de guerreiros saxões. Eles saem dali e encontram uma outra escadaria.
Escadarias:
Descendo as escadas em caracol estreitas eles chegam em um corredor com duas salas.
1º sala:
Ali uma fogueira, com um rato no espeto, deixado semi assado foi abandonada recentemente. Existem fezes num canto e um monte de palha para dormir no canto oposto.
2º sala:
Na segunda sala eles se deparam com um cadáver e as paredes de tijolos cheias de inscrições. Um aldeão está caído sem vida, com um corte no pescoço. Runas foram desenhadas no seu corpo nú. Iguais ao que o Padre Pertoine Pendragon tinha em seus braços e pescoço. No final do corredor, ladeado por essas duas salas, existe uma escada que desce e leva até uma porta. O grupo desce lentamente liderados por Sir Bernard. Um cheiro de podridão misturado ao cheiro de mar permeia tudo. No alto da porta em arco está escrito em céltico: “Todos os pecados serão lavados nas Masmorras da Lua.”
Masmorras da Lua:
O som da água gotejando, misturado ao rugido do mar, ecoa nas profundezas do castelo de Carisbrooke. O teto baixo e os corredores estreitos tornam o lugar claustrofóbico. Os três caminham curvados. A escuridão dificulta enxergar mais à frente. Os ratos trombam aos montes nos calcanhares dos heróis. O cheiro de merda se mistura a umidade. As baratas caminham em bandos pelas paredes. Existem algumas passagens que levam a túneis subjacentes. O caminho hora vira para um lado, hora para outro. Por vezes eles tem a impressão de que estão retornando a porta de entrada da Masmorra. A água barrenta cobre suas botas. O cheiro provoca ânsia de vômito. Dali eles escutam respirações pesadas. Seguindo em frente eles se curvam ainda mais. Logo eles podem ver uma tênue luz amarelada.
Barão Brian: “Armas homens! Todo cuidado é pouco!”
Sir Bernard: “Pai? É você?”
Entrando nesse corredor os heróis ouvem um som pesado e várias criaturas trombam com os seus rostos. Elas batem forte, como se tivessem fugindo de algo. Eles vêem alguns animais caídos e feridos. São morcegos. Centenas deles fugindo dali de dentro. Então eles sentem o cheiro de velas. O final desse corredor desemboca no salão principal da masmorra.
- Salão dos prisioneiros:
O salão principal é aberto com colunas para sustentá-lo. A parede é cheia de marcas de picaretas indicando que ela foi aberta na rocha crua, abaixo do castelo. Correntes saem das paredes. Esqueletos estavam presos ali, agora formam um amontoado de ossos e trapos onde ratos fizeram seus ninhos. O som de passos se arrastando, se aproximam. Por uma das passagens laterais eles vislumbram um vulto. Caminhando ali eles percebem que a marca da parede do nível da água do mar vai até o teto. Uma sombra parece os observar de um canto, arrepiando a nuca de todos. Ela possui unhas enormes e está curvada, atrás de uma coluna de sal.
Mefistófelis: "Vocês vieram lavar os seus pecados? Tenho boas lembranças do seu Pai, Brian!”
Então uma mosca pousa na boca do Barão Brian. Depois dez, cinquenta e a escuridão do enxame das criaturas os envolvem deixando-os sem orientação. Tudo começa a girar enquanto os zumbidos das moscas crescem dentro de sua mentes. Elas entram nos ouvidos e nas gargantas os afogando. Então, tudo escurece!
Como se estivessem despertado de um sonho Cormak, o seu senhor Brian e Sir Bernard, percebem que estão acorrentados à parede. Milhares de moscas cobrem o chão. A sombra urra enquanto o luar parece entrar por um buraco gradeado no teto. A água do mar começa a jorrar lá para dentro. Ela vem gelada fazendo os músculos dos três tremerem. A água sobe até o pescoço e as correntes não permitem que eles fiquem de pé. O desespero toma conta dos homens que tentam arrancar as correntes que lhes ferem os pulsos. A água salgada e gelada começa a os afogar. Mas, nesse momento, Sir Bernard consegue dominar seus piores temores, suas crenças e sua coragem... Ele percebe que estão sendo enganados. Não existem moscas, ou estão presos, ou água, é tudo uma ilusão. Ele começa a gritar enquanto tenta alertar seus amigos de que tudo não passa de um truque do demônio. Cormak e Brian caem em si e enxergam a masmorra sem água e que nem mesmo estão acorrentados. Eles estão caídos com as costas apoiadas na parede e respiram rapidamente ainda sem acreditar no que passaram.
Então alguém entra caminhando nesse salão da masmorra vindo por um túnel estreito. O som das placas segmentadas de metal e os pesados passos ecoam pela masmorra. Então surgindo da escuridão o Duque Enrick Stanpid se aproxima. Ele veste a sua armadura negra, carregando o escudo com a sua cota de armas. Seu martelo de guerra está em sua cintura. Ele para à frente dos três. Seu rosto está cheio de pústulas verdes e negras. Ele dá um gole em um copo de madeira. Limpa a boca, suja com uma crosta amarela.O copo cai quando ele fraqueja.
Duque Enrick: "Quem está aí? (assustado) Bernard?”
Sir Bernard: “Sou eu pai!”
Então a sombra surge novamente, eles vêem como ela se projeta no espaço em frames e entra no corpo do Duque.
Duque Enrick (sacando o seu martelo): "Horsaaaaaaa!"
Sir Enrick vêem para cima de seu filho com os olhos avermelhados, cego pelo ódio. O martelo do duque se espatifa na armadura do seu filho o derrubando. O Barão Brian se atiram contra o cavaleiro possuído o derrubando e o contendo. Então um som de uma voz chega da sala ao lado. O jovem escudeiro Breno corre para lá.
Pertoines: “Me ajudem, por favor!”
Imediatamente a sombra sai de dentro de Enrick e some na escuridão da sala ao lado. O Duque desmaia sem forças. Algo ilumina o salão e um círculo de fogo surge. No centro está o padre Pertoines. Ele está com os olhos vidrados gesticulando enquanto em suas mãos está a Chave de Salomão!
Pertoines: “Et portae inferi satis aperta prodeunt mei salutare tuum de abysso, frater et amicorum! Da indulgentiam de qua loquor? Partem accepit nomen meum Ut vivam, bestia agri, et in vita gaudia materia? Faveo corrupta iustus, et maledicam!”
Brian e Bernard correm até a sala ao lado. Então uma sombra negra parece envolver tudo como um breu. Tudo que já fizeram de errado e ruim parece os atingir. E eles começam a serem sugados pela escuridão, como se tivessem caindo. Mãos frias parecem os tocar e o grito da garganta parece sair instintivamente. Dor e prazer parecem se misturar. Eles vêem olhos de uma horda se aproximarem na escuridão.
Pertoines: “Abaddon, Apollyn, Asmodeus, Beherit, Damballa, Moloch, Sammael...”
Tomado pela escuridão Brian cai sem olhos e coração diante de seus amigos que ficam chocados. Então uma luz forte parece vir do fundo do breu e os sons de grito são substituídos pelo som do mar e dos ecos das vozes proferidas em Latim, por Pertoines. Então eles vêem um garotinho sair da luz. É Galahad que caminha até a frente do círculo de fogo, se ajoelha e junta suas mãos. As sombras tentam alcançar o seu rosto branco e seus cabelos loiros. Com uma voz cristalina ele começa a cantar uma prece.
Então a voz cristalina é amplificada pela masmorra. A fé de Galahad e a pureza do menino é tão grande que a escuridão começa a se dissipar com o seu canto. O fogo se extingue como se o vento soprasse forte e a luz de Heiling toma todo o lugar. O Duque Enrick, exausto, vomita todo o líquido verde que tinha em seu estômago. Enquanto Pertoine cai desmaiado com os seus olhos voltando a ficar da cor normal. Todos são puxados como se fossem levados para cima, enquanto a sombra é sugada para dentro do chão e gritos são ouvidos, como se centenas de criaturas tivessem caindo em um abismo tão profundo quanto as fundações da terra.
Galahad permanece paradinho olhando para os presentes com um leve sorriso no rosto.
Galahad: "Todo o mal se foi, mãe.”
Heiling surge por um dos túneis acompanhada de Cormak, com um braço em uma tipóia.
Heiling (lágrimas nos olhos): "Por isso Merlim nos deixou aqui. Meu filho, você é a alma mais pura que o mundo já conheceu. Só você poderia enfrentar esse mal. Vamos levar Sir Enrick e o Padre para a nossa gruta. Pertoine está exausto, já o seu pai, Bernard, está envenenado por Mandrágora. Essa erva sagrada abre o corpo e o véu para entrar coisas ruins. Seu pai esteve mais do lado de dentro do véu do que na terra dos homens nos últimos tempos.”
Os pergaminhos, conhecidos como a Chave de Salomão, estão caídos diante do Barão Brian que os recolhem cuidadosamente.
Gruta da Fada:
Aos poucos Pertoine e Enrick voltam a consciência. Heiling dá de beber à eles com uma concha de madeira enquanto todos se deitam cansados e feridos.
Heiling: “Terão que aguardar alguns dias aqui. Eles não resistiriam à uma viagem do jeito que estão.”
Alguns dias depois Pertoines e o Duque Enrick estão mais recuperados.
Duque Enrick: “Filho, o que aconteceu? Porque estão aqui?”
Sir Bernard: “Estávamos atrás de você, Senhor. Vimos os desenhos e o mapa que fez em Silchester. Excalibur foi quebrada e precisávamos achar Pertoine para ser reforjada."
Duque Enrick: “Parece que um véu que me cobria os olhos saiu. Como se estivesse febril por luas. Excalibur quebrada é o sinal de um país doente. As inscrições que fiz provavelmente era parte de mim pedindo ajuda.”
Enquanto isso, o Barão Brian vai caminhar até a praia com o Padre Pertoine que tem seu corpo coberto de cortes e cicatrizes das runas auto infligidas, e anda apoiado há um cajado.
Barão Brian: “Padre! Teremos que reforjar Excalibur. Merlim disse que a única saída é você fazer um ritual em Tishea, no caldeirão sagrado. Mas uma vez usando a Chave de Salomão. E tem mais uma coisa…”
Padre Pertoine: “O que exatamente tenho que fazer?”
Barão Brian: “Terá que se unir a espada. Pois você é um Pendragon. O Fruto de Dragão! Um dos tesouros da Britânia. Protetores da espada sagrada."
O padre fica em silêncio olhando para o mar.
Padre Pertoine: “Compreendo…"
Viagem até Tishea:
Finalmente, depois de duas semanas, eles deixam a ilha Wight em direção ao rio Avon, que desemboca próximo a trilha do bode negro que leva a Tishea. A viagem continua e depois de subirem uma colina e entrarem em uma estrada estreita, que está lotada de aldeões escoltados por cavaleiros, eles vêem as muralhas de pedras cinzas do Feudo de Tishea.
Sir Bastien: “Bon Jour, chevalier! Je suis protegendo o povo do Roy Arthur. O Rei Ban me pediu pessoalmente. Souberam das últimas notícias? O Rei Arthur atacou em Humber tentando cortar o desembarque dos saxões e impedir que se multiplicassem ainda mais. Não teve sucesso e teve que recuar. No dia seguinte foram atacados ao anoitecer, mas Arthur conseguiu matar os líderes inimigos. Os saxões recuaram até Eburacum e tomaram a cidade. Arthur estabeleceu um cerco ao redor da cidade e permanece assim. Estão falando que o rapaz está perdendo as suas tropas. Que os deuses o abandonaram. Que não tem honra e por isso Excalibur se quebrou. Dizem que possuem menos de 1.000 homens no momento e que em Lincon os saxões de Cymric, filho de Cerdic, se reúnem para aniquilar as forças do Pendragon.”
Se aproximando do castelo eles vêem o brasão, com os cabritos com o chifre enrolado, tremulando no campo amarelo no alto das torres de arqueiros. A ponte levadiça desce e eles passam por cima do fosso alagado. A estrada de pedregulhos serpenteia pelo pomar carregado de maçãs. Os pequenos arbustos, pontuados de vermelho por morangos e as árvores de amoras e framboesas. O castelo de pedra negra e somente com uma das torres de pedras brancas, se ergue em uma colina central. Toda área do feudo está lotada, com tendas de lonas recém erguidas. Eles se inclinam quando os Cavaleiros passam. Então a comitiva atravessa uma pequena ponte em arco sobre um rio que cruza o feudo. A estrada começa a subir circulando a colina até que chega no portão do Castelo. Aos poucos a grade dentada sobe e eles entram num pátio. Separado por arcadas de pedra eles vêem mais dois grandes pátios de parede de pedra negra e chão de cascalho branco. Um homem velho, um cavaleiro, todo vestido de preto e usando um tapa olho vem até o grupo.
Sir Einion: “Seja bem vindo, Duque Enrick! É muito receber o Senhor dessas terras, Duque Enrick. Bernard e Brian, vejo que o treinamento que tiveram aqui tem lhes sido útil. Tenho acompanhado os seus feitos.”
Druida Mylor: “Olá, cavaleiros! Que bons ventos os trazem?”
Sir Bernard: “Viemos com uma tarefa ordenada pelo Rei. Reforjar a espada Excalibur!"
Druida Mylor: “Pelos Deuses, isso é uma grande tarefa... Não sei se tenho conhecimento para isso. As lendas contam... Mas não sei se podemos fazê-lo.”
Uma cozinheira gordinha, com a roupa cheia de manchas de gordura vem até o pátio.
Senhora Nidian: “Olha se não são os Porquinhos! E voltaram como cavaleiros! Irei preparar uma bela refeição, vocês parecem ter passado por muita coisa. Mas, vão lavar as mãos, agora!”
Barão Brian: “Agora mesmo Senhora Nidian!”
Disse Brian que pega o rosto da velha cozinheira e lhe dá um belo beijo na bochecha, enquanto todos riem.
Reforjando Excalibur:
Ao anoitecer do dia seguinte, a guarda do Castelo retira as pessoas do bosque sagrado e o grupo segue para lá. Cinco homens encapusados caminham à frente. O monte, com o carvalho milenar no topo, achado por Ellen quando criança, parece cada vez mais imponente. De sua base emana uma fumaça que sobe em espirais, passando pelo tronco esculpido com runas e pelos enfeites pendurados na copa. Do lado de trás da colina existe um bonito lago. Eles descem pela escada, carregando os tesouros da Britânia e a Chave de Salomão. Passam pela sala invadida pelas raízes que já quebraram as paredes e entram em um corredor estreito. Então chegam à sala onde está o caldeirão de Clyddno Eddyn. O pequeno poço de lava fumegante com o caldeirão de prata em cima, emana a fumaça que deixa todos entorpecidos imediatamente.
Druida Mylor: “Retirem os tesouros e coloquem dentro do caldeirão, depois sentem-se.”
Eles se sentam no chão. Enquanto isso o Padre Pertoines deixa cair o seu hábito e fica nú. Ele retira uma adaga e começa a escrever em seu corpo, fazendo caretas de dor. O sangue vai caindo no chão de terra e cobrindo a pele do padre. Leva algum tempo para ele acabar de desenhar todas as runas. Ele caminha com dificuldade, arfando de dores terríveis, pois fez as inscrições por cima dos cortes recentes. O Druida Mylor corta seus cabelos e coloca nas pontas de um pentagrama de metal que existe no chão. Ele também corta pedaços de suas unhas e coloca junto aos montinhos de cabelo.
Pertoine: “Tragam os homens. Podem retirar os capuzes e os desamarrarem.”
Quando retiram os capuzes os cinco homens são revelados. São 5 cavaleiros; 2 Romanos, 2 Celtas e 1 Francês. E todos eles estão com a runa da resistência celta pintada no rosto.
Padre Pertoine: “Obrigado por serem voluntários, Cavaleiros! O Rei Arthur não esquecerá jamais os seus nomes e sua famílias serão cuidadas por ele. Títulos e terras serão dadas. Que Cristo ou a Deusa os recebam com alegria. Sir Ovidius, Tullius, Morcant, Bradan e Remi, ajoelhem-se!”
Padre Pertoine olha para o Barão Brian, Sir Bernard e os escudeiros Cormak e Breno, indicando as suas armas. Os heróis entendem o que devem fazer. Os voluntários abaixam as cabeças. Então Pertoines pega a Chave de Salomão e começa a entoar palavras. A escuridão vai tomando a sala enquanto tudo parece rodar. Eles vêem as runas pelo seu corpo brilhando em vermelho enquanto o sangue escorre para a terra, o sugando. O poço onde está o caldeirão vai ficando incandescente. Cada vez mais forte. Os tesouros da Britânia começam a fumegarem e a derreterem. O som de tambores vai sendo ouvido, então o Padre começa a gritar as palavras em um idioma antigo. Então ele fala em céltico.
Padre Pertoine: “Oh Deus da forja, do fogo, Weyland! Atravesse o véu negro! Venha! Eu tenho algo para você. Tenho sangue, almas e os tesouros da Britânia! Excalibur precisa ser reforjada!”
Pertoine olha para os heróis e grita.
Padre Pertoine: “Façam! Agora!”
As suas armas abrem a garganta dos Cavaleiros, que em transe não parecem ter percebido, até que eles colocam as mãos em suas traquéias cortadas e banhados em sangue caem, enquanto agonizam na escuridão da morte. A estrela de aço, desenhada no chão do pequeno templo, vai se enchendo do líquido rubro e quando ele completa o desenho, chamas irrompem debaixo do caldeirão. Eles escutam o som de um cavalo trotando e saltando das chamas. Em cima dele o contorno de um homem formado pelas chamas.
Weyland: “Saiam todos!”
O calor se torna insuportável. Eles saem pela escada de madeira. Pertoine está sem consciência e é carregado enquanto Mylor, esgotado e envelhecido, os seguem. Lá de fora todos escutam o som de batida de martelos contra o aço. Enquanto isso, chamas e fumaça irrompem pelo buraco. O calor torna impossível se aproximar. O tronco do carvalho sagrado vai ficando enegrecido e as folhas vão caindo.
Druida Mylor: “A força vital do grande carvalho está sendo sugada pelo fogo.”
E é assim por três dias e três noites. Ninguém dorme, ou come ou bebe. As pancadas e o som do aço crescem até o chão vibrar. O carvalho sagrado está morto, seco e retorcido. Pertoine treme de febre e dor das runas infeccionadas. Ele tem os olhos vidrados e estáticos e por vezes entoa algumas palavras. Então ao anoitecer do terceiro dia, com as estrelas iluminando o céu limpo e negro da Britânia, o som de trote de cavalo é ouvido lá embaixo e vai ficando mais baixo. O fogo se extingue. Uma fumaça negra sai da entrada do poço carbonizado e sem relva. O Druida Mylor se levanta.
Druida Mylor: “Vão até o lago e aguardem! Barão Brian, você não. Traga Excalibur.”
Brian desce para dentro do buraco. Tudo está destruído e carbonizado pelo fogo. Ele tosse e seus olhos lacrimejam. No pequeno templo o caldeirão se transformou em uma poça sólida de metal derretido. Os ossos dos corpos carbonizados se espalham pelo chão.
Sir Brian: “O preço do feitiço. O fim do Caldeirão de Clyddno Eddyn.”
As paredes estão negras, Excalibur incandescente foi deixada apoiada em uma das paredes. O cabo já está adornado com couro negro e ouro. Brian a empunha com respeito, como fez seu pai uma vez ao recebê-la da Dama do Lago. Ele sobe lentamente se agarrando as raízes do grande carvalho, que adentram as paredes do antigo templo subterrâneo. Quando sobe, em contato com o ar gelado da noite, a lâmina se incendeia e o aço estala em meio a espada flamejante. Ele caminha iluminando a noite até a margem do lago sagrado.
Druida Mylor: “Chegou a hora Padre. Um fruto de dragão! Um pedaço de sua alma para o espírito da espada.”
Pertoine se aproxima cambaleante e se ajoelha diante de Brian.
Padre Pertoine: “O que estou vivendo não é uma vida. Para junto de Cristo ou para junto daqueles que conjurei eu irei. Como um Pendragon darei minha cota de sacrifício. Brian, tempere o aço!”
Então Brian enterra a espada fundo no peito do Padre. Um Pendragon, fundador da Universidade de Oxford e portador da Chave de Salomão. Com um chiado do aço sendo resfriado instantaneamente se misturando ao gemido de dor do padre, que fica com os olhos esbugalhados de dor enquanto sai sangue de sua boca e nariz, seu corpo treme até o último suspiro. Quando Brian retira a lâmina do corpo do homem, Mylor fala.
Druida Mylor: “Atire a espada Barão!”
Então Excalibur voa pelo céu dando voltas no ar e cai dentro do lago. Tudo fica em silêncio total. Uma leve brisa sopra. Enquanto as brumas lambem a superfície da água e do meio dela emerge a Senhora do Lago, com a espada sagrada nas mãos. Ela se aproxima em silêncio e a entrega a Brian Herlews. Lentamente a Senhora do Lago some nas brumas, ela derrama uma lágrima quando vê seu marido, O Duque Enrick Stanpid. Enquanto a água sobe de nível e cobre o corpo de Pertoine que descansa em paz para sempre. Eles se afastam do lago e quase um milhar de aldeões, carregando tochas, se aproximam ao redor dos heróis.
Aldeões: “Excalibur! Estamos salvos. Os velhos deuses voltaram seus olhos novamente para nosso Rei.”
Os cavaleiros misturados a multidão ficam emocionados. Do meio dela um guerreiro se apresenta. É Lancelote Du Lake.
Lancelote: “Graças a Deusa! Excalibur! Estou viajando toda a Britânia atrás de vocês meus amigos. É Arthur, está indo para o norte e está perdendo as Batalhas com tão poucos homens. Ele mandou lhes achar a qualquer custo! Ælle está com os seus vassalos devastando o norte.”
Duque Enrick: “Escutem todos! Quero cavaleiros cobrindo toda a Britânia! De norte a sul de leste a oeste! Espalhem a notícia de que Excalibur vive mais uma vez entre os homens! Digam que nos encontraremos nas muralhas de Londres em uma virada de lua. Exijam que os vassalos do rei lhe prestem assistência ou será o fim da Britânia!”
Lancelote: “Quem estará no comando?”
Duque Enrick: “Diga que eu estarei no comando! Duque Enrick Stanpid! Chegou a hora de matar ou morrer! Diga a todos para despertarem! A Britânia precisa da resistência Celta assim como nosso Rei! Diga também que irei enfrentar pessoalmente o Rei Ælle e dessa vez (PAUSA) não o deixarei escapar!”
FIM
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