segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Aventura 17: O Expurgo de Merlim, Ano 492


O inverno no ano de 491 foi relativamente tranquilo em Salisbury. Com a chegada de 492 todos os cavaleiros de Logres estão se recuperando mentalmente e fisicamente dos horrores que viveram na campanha anterior e o luto pela morte do Príncipe Madoc. As baixas na batalha da Cornualha foram pesadas e no norte as invasões saxônicas aumentaram consideravelmente com o enfraquecimento de Logres devido as guerras internas. Com o rigoroso inverno tudo fica parado. Com o solo endurecido pelo clima não se planta nada. Os animais estão confinados e tudo está coberto de neve. As estradas estão difíceis de se transitar.

FEUDO DINTON:

Enrick finalmente consegue ficar em seu feudo por alguns meses. Marion e o Flecha Ligeira estão se adaptando a vida de casados. O casal está lá em cima no Motte and Bailey, na janela do quarto, observando o lago congelado onde Padre Carmelo está com as crianças do feudo. Todos usam peles de animais por cima das roupas e toucas de couro para se protegerem da temperatura que está abaixo de zero. O Padre e elas estão com placas de madeira bem lisinhas, que ele ensinou-as a fazer, presas com tiras de couro aos pés. Eles deslizam rápido em cima do gelo. Alguns caem. Estão todos felizes rindo e se divertindo. Então, curiosos, o casal de heróis desce até lá.

Padre Carmelo: “Bom dia Senhor e Senhora Stanpid! Olha que alegria desses Aldeões! Querem experimentar? Deslizar no gelo é uma das coisas boas do inverno!”

Sir Enrick e Lady Marion se aventuram e após alguns tombos aproveitam a diversão com as crianças no dia frio do inverno.

Padre Carmelo: “Lady Marion e Sir Enrick! Você sabe que eu não tenho muito tempo de sobra cuidando das crianças e dos servos. Então eu, como ex soldado, nunca mais combati e estou bastante fora de forma. Gostaria de sua permissão para treinar, pode ser bem cedinho pela manhã, com os seus soldados.”

Sargento Wistan: “Senhor Flecha Ligeira! O Padre lutava com a Gladius, mas acho que seria difícil agora que está gordo. (o padre olha espantado com a sinceridade do sargento) O homem come um frango inteiro sozinho no almoço e outro no jantar.”

Padre Carmelo: “Não abro mão de uma boa refeição! As criaturas que Deus criou realmente são irresistíveis! O Senhor já percebeu senhor como uma galinha é burra? Quase como um saxão! E qual outra utilidade elas teriam! O homem lá de cima sabe bem o que faz.”

Sir Enrick: “Vamos fazer assim! Sargento, treine Carmelo. Mas Padre, se dedique e não incomode Wistan.”

Então o Padre começa a treinar com os soldados logo que amanhece. Todos os dias pode ser ver na área de treino, no escuro, com a sua gladius, o Padre praticando, chegando antes dos homens da milícia e saindo depois. Nos primeiros dias parece ter dificuldade. Com o passar das semanas ele melhora consideravelmente.

FEUDO WINTERBURNE GUNNET:

Nas terras de Algar tudo vai bem. Seu soldados treinam e se revezam protegendo as terras. Enquanto os Aldeões aproveitam para fazerem queijo, cortarem lenha e se prepararem para a primavera e o reinício dos trabalhos nos campos. Apesar de alguns falecimentos, de duas crianças por gripe e um senhor de idade avançada, tudo está normal. O Barão Algar, a Baronesa Adwen e seu filho Brian, estão instalados em seu novo lar. O Motte e Bailey no alto da colina, chamada agora pelos servos de Toca do Lobo, ainda cheira a madeira recém cortada.

Lá embaixo próximo a vila existe um bosque. Com macieiras, salgueiros e carvalhos. Todos os servos, mais de cem deles, estão aguardando o Barão Algar para dar início ao festival de celebração das árvores. Mesas longas para banquete são colocadas próximas e leitões e carneiros são assados em braseiros. Todos estão bem agasalhados. Os dias são bem frios e escuros na ilha esta época do ano, como se fosse sempre o final da tarde. As nuvens baixas e os flocos de neve flutuam suavemente.

Björk: “Salvem o Barão!”

Todos os servos se ajoelham e depois falam juntos.

Servos: “Salvem!”

Björk: “Senhor Algar! Sei que não é o costume o senhor do feudo participar desta cerimônia mas seria uma honra se pudesse!”

Barão Algar: “Não perderia isso por nada!”

Então todos os aldeões, entre mulheres, crianças, velhinhos e homens começam a enfeitar a macieira. Eles usam fitas coloridas e bolas de madeiras pintadas nas diversas cores. Existe um barril cheio de cidra e Björk vai servindo à todos em canecos de madeira e colocando três sementes de avelã dentro deles. Então Algar, mais onze aldeões começam a andar em volta da árvore e começam a cantar. Todos que estão assistindo batem palmas.

Música: “Salve a amiga, A macieira mais antiga, Para cada ramo, Dê maçãs todo ano, Cresça, Viva, Alimente e também Floresça, Brindamos nos braços da mãe natureza!”

Eles vão circulando ao redor da macieira e despejando parte do conteúdo. Sempre cantando e celebrando. Todos estão felizes. Algar por alguns segundos vê algumas criaturinhas correndo por entre as árvores vestidas de folhas. Eles riem e desaparecem. Depois dos canecos esvaziarem eles dão uma última volta.

Björk: “Povo de Winterburne Gunnet! Podem colocar uma das sementes nos galhos da macieira. Depois comam uma delas e deixem a outra em uma viga dentro de casa para a Deusa nos proteger. Acho que acordamos os espíritos para a chegada da primavera e eles nos ajudarão a termos uma colheita boa.”

Todos aplaudem. Então o banquete tem início nas várias mesas longas colocadas no bosque. Uma grande fogueira é acesa próxima. Algar e sua família sentam com o sargento Tegfryn, um homem com uns trinta verões de idade, muito respeitado pelos soldados. Tem cabelos longos loiros, cavanhaque, alto e forte como um viking, também é de origem nórdica como Algar, usa vários braceletes indicando ser um guerreiro respeitado. Ele chegou há alguns meses indicado por Sir Dalan, já que o seu último sargento, um senhor, cansado de campanhas e batalhas se aposentou. Os soldados mais graduados da melícia do Barão também estão ali.

Sargento Tegfryn: “Barão quero que saiba que é uma honra servir ao seu lado! Realmente existem poucos descendentes de nossas linhagens na ilha! Lá nas terras do norte onde cresci quase não tinha o que comer. Mas luta-se bastante por lá. Quando cheguei aqui, há três anos, mal podia imaginar que me tornaria Sargento. Seu primo é um homem bom e sem preconceitos, apesar de meu pai ser nórdico e de só minha mãe ser de Logres, que os Deuses a tenham, ele me recebeu muito bem. E ela sempre falava desta boa terra e que quando fugiu com o meu pai, em um navio para a terra do gelo, pensava todo dia na Britânia e das colinas verdejantes daqui. Bem, eu fiz parte da milícia de seu primo por um tempo, mas graças a Thor, ele viu valor em mim e me enviou ao seu serviço! E lhe prometo que transformarei seus homens em guerreiros fortes e sem medo!”

Barão Algar: “Então bebamos a isso Tegfryn e que no próximo verão possamos cortar as cabeças do inimigo mais uma vez!”

Então o gelo derrete e a primavera chega com o festival de Beltane deixando os dias mais longos, os campos verdes e o solo macio para se plantar. Já faz quase um ano da morte do Príncipe Madoc, em Terrabill. A vida continua no reino de Logres. Com o conflito na Cornualha resolvido as estradas para o oeste estão seguras. E os senhores daquelas terras estão felizes, pois podem negociar as suas mercadorias nas cidades e aldeias no oeste. Agora essa região também está sobe o domínio de Uther e pertence a Logres.

A maioria dos Lordes pagãos e outros adeptos da nova religião, mas que respeitam os valores antigos, vem para Tishea, no grande feudo de Sir Amig, ao redor do castelo de pedra na colina, para a celebração do Beltane. O dia é de festa. Quase mil pessoas compareceram entre Cavaleiros, Lordes, Druidas e suas famílias. Enormes bonecos de palha de quatro metros de altura foram construídos nas áreas de cultivo, bosques e na área de caça. E mesmo de dia, centenas de fogueira estão acesas. Os mais tradicionais se pintam de azul e usam poucas roupas. Todos se sentam na relva mesmo. Existem barris por todo lado de Cidra de Maçã, Hidromel e Cerveja.

As crianças brincam, os cachorros correm soltos, os bardos tocam por todo o lugar. Um grande mastro cheio de fitas coloridas foi armado na área central da festa. Gado, carneiro, porcos, codornas, galinhas, gansos são assados. Cornucópias cheias de frutas foram deixadas ao pé das árvores enfeitadas para todos poderem se servir. Cômicos encenam peças de teatro sobe o deus e a deusa, outros engolem espadas, cospem fogo. Ensinam danças.

Sir Enrick e Lady Marion se encontram com Sir Amig e Sir Dylan. É próximo a hora do almoço.

Sir Amig: “Boa tarde Flecha Ligeira! Que Alegria! Princesinha! Quanto tempo! Foi um longo inverno!”

Sir Dylan: “Tudo bem irmã! Cunhado! Como vão?”

Sir Amig: “Está faltando alguma coisa aqui! Cadê o meu neto?”

Sir Enrick: “Praticamos bastante Paizão! Mas até agora nada.”

Sir Amig: “Vocês tiveram o inverno interno para fazer um! Seu apelido não é Flecha Ligeira genro?”

Sir Enrick: “Calma Sir Amig! Em breve, em breve!”

Neste momento o Barão Algar e a Baronesa Adwen chegam trazendo Brian pela mão. Ele vem andando devagarinho com o seu cabelo ruivo, olhos verdes e sardas na pele branca. O pequeno está vestido com uma camisa pequena com o Brasão dos Herlews, uma calça de camurça marrom e botinha de couro amarrados com fitas. Olha para Sir Enrick e Lady Marion e sorri. Ele corre e abraça suas pernas.

Brian: “Padrinho e Madrinha legal!”

Então ele olha para Sir Amig, todo barbudo, cabelos longos grisalhos, o rosto cheio de cicatrizes e faz uma careta. E chora.

Sir Amig: “Calma rapazinho existe coisas piores para se ver nesta vida! Dá ele aqui!”

Então Sir Amig pega Brian e joga umas três vezes para cima e o segura sem frescura. Por baixo dos braços. Brian dá uma gostosa risada.

Brian: “De novo!”

Sir Dalan chega com uma de suas mulheres e suas nove crianças que já saem correndo. Umas brigam, outras brincam de se esconder, outras simplesmente caminham olhando tudo curiosas.

Sir Dalan: “Olha os cavaleiros mais descolados de Logres! Foi um longo inverno! Saudades de vocês! Ué? Cade o neném Marion?”

Marion: “Iremos providenciar um em breve! Você tem tantos que poderia nos dar um deles.”

Sir Dalan: “Muito bom Milady! Mas sabe que fui a Glastonbury levar a sobrinha de minha esposa para ser freira na Abadia de José de Arimateia e escutei algumas coisas por lá. Primeiro que a fé e a alegria de Uther parece estar voltando. Segundo, vocês não vão acreditar, Igraine está grávida meus amigos. E mais, a rainha dará a luz ainda neste verão. A única coisa boa disso tudo é se nascer um menino, pelo menos a linhagem dos Pendragon teria continuidade.”

Jogo de arremesso de pedras

Os heróis escutam uma risada conhecida. Na área de relva verde onde as pessoas formam um corredor Sir Bag e Sir Jakin correm com uma grande rocha cada um e as atiram. Os nobres, aplaudem. Claro que o grandalhão consegue jogar bem mais longe a dele. A mãe dele, Lady Demether, torce alucinadamente.

Lady Demether: “É meu filho! É meu filho! Vai Junior!”

Sir Bag: “Demônio, Guri! Venham, vou arrasar vocês na frente desse povo entojado!”

Os nobres olham feio pra Bag que não está nem aí.

Sir Bag: “Só faltam vocês e as dez libras são minhas! Um ano de produção no meu feudo!”

Então os três correm cada um com uma rocha nas mãos e as arremessam. A de Sir Bag cai bem mais longe e ele vence a competição. Todos os aplaudem.

Sir Bag: “E aí amigos, tudo bem? Guri cadê?”

Sir Enrick: “Cadê o que Bag?”

Sir Bag: “O neném poxa!”

Sir Enrick: “Que saco, até você!”

Sir Bag: “Então, vou precisar da ajuda de vocês! Mas falo depois, minha mãe não pode escutar de jeito nenhum.”

Lady Demether: “O que Bag?”

Sir Bag: “Eu preciso de ajuda mãe! Eu não consigo emagrecer e o Algar, Marion e Enrick aqui estão me dando umas dicas.”

Ele pisca para os heróis.

Lady Demether: “Ah, é mesmo? E como são essas dicas? Contem para mim meninos!”

Barão Algar: “É uma dieta baseada em capim. Você come o mato! Experimente Bag.”

Então Bag se abaixa e põe um chumaço na boca.

Sir Enrick: “Gravetos!”

Marion: “E terra!”

Bag enfia tudo na boca e engole tudo sem falar nada.

Lady Demether: “Parece ser muito boa! Quero ver você fazer direitinho Junior.”

Sir Bag: “Obrigado pela ajuda viu? Com amigos assim quem tem medo de saxões?”

Campeonato de Arco

Então se ouve a voz do mestre de cerimônias que Sir Amig contratou. É Adrien de Calé. Ele anuncia o próximo evento com seu sotaque francês carregado.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Atencion nobres arqueiros! Quem quiser participar da competição é só comparecer daqui dez minutos no estande de tiro próximo a área de arremessos de pedras.”

Sir Amig: “Você viram o rapaz alegre apresentando os jogos? Pelo menos ele cobra barato e não dá em cima da mulher de ninguém!”

Ao redor do estande se acotovelam centenas de pessoas. Eles torcem por seus heróis favoritos.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Aproximem-se campeões! Aqueles que tem ajudado a vencer as guerras pelo bom rei Uther. Que vença o melhor senhores! O prêmio é de vinte libras meus nobres, ulálá, nem mais nem menos.”

Sir Dalan finge espirrar: “Bixa!”

A competição é bem acirrada. Um a um os arqueiros são eliminados. São colocadas frutas para cada arqueiro acertar. E o tamanho de cada uma vai diminuindo tornando cada tiro mais difícil. Primeiro uma grande abóbora, depois uma melancia, um melão. Então sobram três arqueiros. Sir Enrick, Lady Marion e Sir Godofrim, um arqueiro romano. Marion é eliminada ao errar o tiro na maçã. Sir Enrick acerta uma ameixa em cheio enquanto Godofrim erra o tiro, então o Flecha Ligeira é mais uma vez campeão de arco longo.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Aplausos e mais aplausos amigos! O campeão de arco do Beltane de 492 é Sir Enrick! Com extrema habilidade e precisão conquistou nossas mentes e corações! Os saxões que se cuidem! Venha receber as suas vinte libras meu belo jovem. Agora convido a todos a se dirigirem à tão aguardada e disputada corrida de barris de Hidromel!”

Corrida com barril cheio de hidromel

Sir Amig: “Essa eu vou participar! Vocês também! O velho vai chutar os seus traseiros. Essa tradição celta eu não abro mão desde que perdi a virgindade com sete anos. Vamos!”

A corrida fica em uma área ao sul do estande de tiro. Oito raias em linha reta seguem por quarenta metros e um barril para cada uma em cima de um pequeno elevado de madeira quadrado com um metro de altura, pesando cem quilos cada um, com Hidromel até em cima. Quando os nobres vêem os Cavaleiros da Cruz do Martelo se dirigirem até lá, todos os seguem.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Todos os nobres de Logres! Venham participar e ...!”

Sir Amig sobe no pequeno palco, com um sino pendurado, construído para a apresentação dessa competição colocando o dedo indicador nos lábios mandando o coitado de Adrien ficar quieto. O mestre de cerimônias obedece imediatamente.

Sir Amig: “Todos nada Gamo saltador! Minha casa, minhas regras. Quero competir com esses garotos aqui! Os outros assistam como é que se faz! O Paizão está na área!”

E todos aplaudem rindo enquanto o veterano desce do palco. Conde Roderick, ao lado de sua mulher Condessa Ellen e Sir Elad, com quase sessenta anos acompanhado de sua esposa bonita de dezessete, levantam os canecos de bebida para os cumprimentar. Sir Amig cheio de marra, só usa uma camisa branca sem mangas. O homem, apesar de velho, é cheio de músculos. Ele fica se alongando, estrala todos os ossos do pescoço, ajeita o cavanhaque branco e com a ajuda de Marion prende o cabelo longo e grisalho.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Atencion senhores! Aos seus postos! Corram até o final da raia, contornem a pedra e voltem. Sem derrubar a bebida dos deuses, hein?”

Sir Amig: “Estou mudando o prêmio de dez libras meus amigos por uma coisa muito melhor. Um barco de guerra roubado dos saxões de cinquenta remos!”

Todos vão até ao Barril e se preparam para agarrá-lo. O mestre de cerimônia pega um martelo de duas mãos e se aproxima do sino.

Mestre de Cerimônias: “Atencion! Preparar! Apontar! Valendo!”

10 metros: Os cavaleiros se aproximam do barril que está no elevado e o apoiam na barriga envolvendo-o com os braços. Ele é muito pesado. Eles dão um passo para o lado e tentam ajeitá-lo. É escorregadio. Então começam a dar os primeiros passos. Parece impossível mas eles conseguem começar a caminhar. Sir Amig, Sir Bag, Sir Algar e Sir Enrick largam na frente.

20 metros: Nos próximos metros parece que está ficando mais fácil. O suor começa a escorrer pelas costas. Os heróis continuam empatados. Sir Dylan já fica para trás com Sir Jakin.

30 metros: A respiração acelera. Já não parece tão fácil carregar o Barril pesado. Os músculos começam a fraquejar. A panturrilha treme. Eles sentem que cada passo fica menos seguro de dar. Neste momento Algar fica um pouco para trás. Sir Bag, Amig e Enrick seguem na dianteira.

40 metros: Então eles chegam no fundo da raia e começam a contornar as pedras. A curva é difícil e necessita equilíbrio e força. A respiração começa a ficar bem acelerada e os músculos do braço começam a não aguentar mais.

50 metros: Quando fazem a volta a respiração já atingiu o máximo. Eles sentem a boca seca e estão cobertos de suor. O corpo treme inteiro. Algar alcança os homens da frente.

60 metros: No meio do caminho de volta eles se concentram ao máximo tentando se superar. As pessoas ao redor gritam os incentivando. As costas doem, as mãos queimam e a sensação de espasmos é terrível. Algar vai ficando para trás exausto. Sir Bag, Sir Amig e Sir Enrick ainda estão no páreo.

70 metros: Eles olham pela lateral do barril com todos os músculos sofrendo de cãibras. Dali eles já podem ver a linha de chegada. Os pulmões estão queimando e todo o ar que eles inspiram não parece ser suficiente. O suor faz o Barril escorregar. Eles estão vermelhos de tanto fazer força. Algar já não consegue os alcançar.

80 metros: Falta pouco para acabar. Os nobres estão empolgados assistindo. Faltam alguns passos. Sir Bag, Sir Amig e Sir Enrick começam a gritar em um último esforço tentando chegar por primeiro. Então Bag se supera e consegue dar um passo a mais na linha de chegada e ganha a competição. Sir Jakin se joga no chão ofegante. Sir Dalan e Dylan estão apoiados um no outro. Até mesmo Sir Bag está detonado e vomita o assado e o hidromel que tinha bebido antes da corrida. Sir Amig está vermelho, ensopado de suor e fica desfilando na frente de todos com os braços para cima pedindo aplausos pela sua bravura. Obvio que todos o aplaudem. Sir Enrick e Algar apoiam-se um no outro cobertos de suor. Seus braços e pernas tremem do esforço.

Mestre de Cerimônias Adrien: “Aplaudam mesmo nobres de Logres. Eles merecem o seu incentivo. Mas infelizmente só existe um vencedor que levará o barco e ele é Sir Bag.”

Sir Amig: “O velho aqui dá trabalho garotos! Tá pensando o que! Então eu vou verificar os assados como estão indo. Venha com o pai Dylan deixa eu te ajudar.”

E os heróis vêem ele saindo tranquilamente e quando acha que não estão olhando Sir Amig põe a mão no ombro de Dylan e eles escutam à distância.

Sir Amig: “Me ajude filho, acho que minhas bolas caíram nos primeiros trinta metros. Ai, sinto músculos que nem sabia que tinha filho! Preciso de um trago, tô ficando muito velho pra isso!”

E todos escutam a risada de Dylan.

Então o dia vai passando regado a muita bebida e comida até que anoitece. Eles estão sentados no chão e vêem os grandes bonecos de palha ardendo em chamas nas áreas de cultivo. Sacerdotes e sacerdotisas Druidas dançam ao redor deles ao som de tambores. Alguns animais são sacrificados e o sangue jogado na terra e muitos casais se escondem na mata para namorarem.

Sir Bag: “Meus amigos! Eu vou precisar da ajuda de vocês. A minha mãe não desgruda de mim. Tem uma Lady me esperando no bosque. Se é que vocês me entendem! Estou indo, boa sorte com a velha.”

E Sir Bag se manda sumindo entre os convidados que dançam e passeiam pelo feudo.

Lady Demether: “Junior? Junior? Cadê você? Olá meninos! Vocês viram o Junior? Ele disse que vinha falar com vocês! Mas, eu acho que vi ele ir até o bosque.”

Marion: “Não, acho que a senhora está enganada eu vi ele ir pra lá.”

Lady Demether: “Bom, vou continuar procurando!”

Neste momento chega Sir Elad.

Sir Elad: “E aí garotos! Bela festa! Vocês viram minha mulher, Lady Linwen por aí?”

Sir Enrick: “Não vimos nada! Tenho certeza que não vi!”

Então depois de uma hora Sir Bag retorna. Com um sorriso no rosto todo descabelado e eles vêem ao longe Sir Elad discutindo com a sua bela esposa de dezessete anos que também apareceu como que por encanto. Ela dá um beijo no Cavaleiro Veterano que se acalma rapidamente. Os heróis ficam olhando para Bag.

Sir Bag: “O que foi?”

A mãe dele chega.

Lady Demether: “Há, você está aí é Junior? O que está você estava pensando? Que desrespeito deixar a sua mãe sozinha!”

E ela dá uns tapas nele que só alcançam a altura do peito. Mesmo assim ele se encolhe. E ela puxa o Cavaleiro pelo braço o levando para longe dali.

Sir Dalan: “O que foi isso?”

Sir Jakin: “Esse aí está brincando com fogo.”

Barão Algar: “Ninguém consegue se controlar e pensar com a cabeça de cima! Que coisa!”

Existem centenas de mesas longas na área de banquete próxima a estaca cerimonial cheia de fitas onde os pagãos dançam animadamente ao redor. A comida vai sendo servida. Os bolos de mel, tradicionais do Beltane, e as carnes e bebidas são trazidas pelos servos. Foi construído um pequeno palco de madeira por entre as mesas. Um bardo, com o seu alaúde, sobe ali. Sir Amig está ao lado dele.

Sir Amig: “Como só sei cantar as mulheres bonitas da corte contratei esse bardo aqui a peso de ouro. Lhes apresento Eduardo Coração de Dragão. Esta meio gordinho hein rapaz! Não vai gastar tudo que lhe paguei em frango frito, depois vai passar mal. (qualquer semelhança comigo não é mera coincidência). Bem! Gostaria de prestar uma homenagem aqueles que são meus familiares mais amados. Começarei com Sir Enrick Stanpid, Flecha Ligeira. Encomendei esta música para este grande campeão do Rei e é claro que só poderia ser meu genro. Essa é pra você rapaz.”

Ele era um arqueiro plebeu

Igual a você igual a eu

E na terra de Logres viveu

Um tiro no alvo e a lenda nasceu

Com o rosto de prata o rei enganou

Com a falsa bravata ele se entregou

Com a Excalibur o Rei o ordenou

Em um cavaleiro o plebeu se tornou

Enrick flecha ligeira

Protetor da plebe e dos fracos

Enrick flecha ligeira

A mão dos deuses é o seu arco

O bravo homem já salvou a vida do rei

Com o martelo e o seu arco eu nunca esquecerei

Montado em Hefesto o seu cavalo de batalha

És bravo e destemido e forte como uma muralha

Sir Amig: “Agora, essa vai para o homem que um dia será mais casca grossa que eu! O Demônio do Norte! Ui, estou morrendo de medo! Ainda ele cheira a leite de cabra. Mas tem potencial. Algar! O Barão fanfarrão! Escuta essa guri!”

Mesmo no inverno o machado de ouro

Cortando a noite com gritos e fogo

A lança sagrada tirando vidas

Não quera ver a sua alma enfurecida

Ele é o demônio do norte

O senhor do caos

Ele é o rei do gelo

O martelo de Thor

Como um corvo de Odim

Uma ave de rapina

Ele vem chegando

Então corram paras as colinas

Quando Logres está em perigo

O nosso bom rei lhe pede abrigo

Ele chama o demônio do norte pra lutar

Sem medo e sem misericórdia ele vem matar

Sir Amig: “Muito bom! Agora deixei por último uma homenagem. As Ladies presentes que me desculpem mas ela é a moça mais bonita de Logres! A única que comanda homens e vence batalhas! Aquela que conquistou o coração do Flechinha! Cadê meu neto rapaz? Essa canção é pra você Princesinha, Lady Marion de Tishea Stanpid!”

Surgindo nas brumas da noite

Quem vem lá?

Forte como a tempestade

Você não verá!

Matando como um tufão

Letal como um trovão

É ela que surge Marion, Marion. filha de Avalon, Marion

Com o sangue celta nas veias

A força da deusa se erguerá

O destino traçando suas teias

Ela surgirá

Mas amigo não vai se enganar

A beleza pode te cegar

Se errar você não vai viver

Porque Flechas e adagadas mortais voarão pra você

Todos aplaudem e então Conde Roderick se aproxima. Todos se levantam.

Conde Roderick: “Cavaleiros! A festa está muito boa, mas não esqueçam dos seus juramentos e obrigações prestados. O Rei Uther, me enviou uma mensagem ontem convocando Algar, Enrick e Marion para irem até Terrabill ajudarem Sir Warren com a segurança do castelo e depois comparecerem a Tintagel. Disse que quer vê-los o mais rápido possível. Vocês partem pelam manhã! Escoltem Sir Elad até Vagon. Aproveitem a festa! Boa noite!”

Dia 1 de viagem:

Então ao amanhecer eles partem para o oeste. As estradas estão cheias novamente. Carroças com mercadorias, grãos, tapeçaria, carnes salgadas estocadas em barris viajam em direção a Sarum para serem distribuídos nas cidades do Leste e em Hantonne de onde partem em navios para outras terras. Pedintes desdentados e pobres também caminham pela antiga estrada de paralelepípedos romana. Alguns Cavaleiros passam, eles os cumprimentam. Ao cair da noite eles chegam as ruínas do castelo Grovely, situado no topo de um monte artificial.

Dia 2 de viagem:

Na outra manhã. Na hora do almoço eles passam pelo forte Vagon. Os arqueiros das quatro torres soam as trombetas e ficam em alerta com a proximidade dos heróis. Eles puxam a corda dos arcos até a orelha.

Sargento: “São Sir Enrick, Barão Algar e Lady Marion!

Acompanhando de dois soldados com o brasão do Conde Roderick, Sir Léo, o sempre educado e simpático cavaleiro romano cristão, os recebe.

Sir Léo: “Relaxem rapazes. É uma honra terem vocês aqui Cavaleiros.”

Ao descer dos cavalos, seus escudeiros imediatamente os guiam para a estrebaria, depois de fazer uma reverência ao Xerife do condado os soldados estacionados no forte os prestam o respeito.

Sir Léo: “Lhe passo o comando do forte, Sir Elad! Está tudo calmo por aqui.”

Então eles almoçam em compania dos cavaleiros. A estrada está bem movimentada. Depois do almoço eles seguem em frente e entram na floresta de Selwood. As copas das árvores fecham a entrada do sol. A umidade dá um intervalo para o calor que sentem dentro das armaduras e os sons de pássaros estão por todos os lados. Por vezes animais passam correndo. Anoitece e tudo fica vazio. Eles acampam no meio da floresta.

Dia 3 viagem:

A viagem continua. O dia transcorre com Marion, Enrick e Algar trotando pela mata. Em algumas partes a estrada tem floresta dos dois lados e outras entra realmente por entre as árvores. A estrada romana ali está bastante avariada por causa das raízes que arrancaram grande parte dos paralelepípedos. Em 492 não se sabe mais como foram feitas. Quase ninguém passa por ali. Alguns servos a pé cruzam o caminho levando alguns pássaros abatidos. Ao anoitecer, os pássaros param de cantar e os sons da floresta no verão estão por todos os lados.

É madrugada. A fogueira queima na beira da estrada. O céu está estrelado sem lua para ofuscá-las. Na alta madrugada Algar está de sentinela. Ele escuta sons ao redor do acampamento, como vários pequenos passos no mato e nas folhas, os cavalos parecem se assustar. Então vê vultos ao redor de todo acampamento. Eles estão se aproximando lentamente fechando um círculo. São pelo menos cinco. Quando Algar os ilumina com um pedaço de lenha da fogueira pode ver claramente do que se trata. São lobos caçando o seu jantar.

Algar tenta reagir mas os animais são rápidos e agressivos. Quando tenta alertar os seus companheiros um dos animais o agarra pelo pescoço e o sacode. Outros furam a cota de malha e rasgam os seus braços com os dentes. Até que por pura sorte Enrick e Marion acordam e com os arcos matam um por um dos animais. Lady Marion ajuda o Barão e trata os seus ferimentos. Sir Enrick vai verificar as carcaças, desconfiado, porque não é comum lobos atacarem humanos. Ele observa e percebe que os animais estavam muito magros.

O restante da noite passa calmo. Apesar da adrenalina do combate eles adormecem cansados. Naquela noite Sir Enrick sonha com o Príncipe Madoc que diz que está bem e que é para Sir Enrick encontrar o seu destino no posso sagrado em Glastonbury.

Dia 4 de viagem:

Pela manhã, depois da noite mal dormida, após subirem e descerem colinas, circuladas por árvores e capões, os três heróis e seus escudeiros chegam à Wells ao meio dia, local onde eles, há dois anos, tiveram uma briga em plena corte do Regente da cidade, Sir Onofre. Eles vêem a cidade de chão de terra batida e o grande Motte and Bailey no alto do morro com o brasão tremulante e a grande paliçada que circula tanto lá em cima quanto a vila embaixo. Todo o local é protegido por um profundo foço. Torres com arqueiros rodeiam toda a cidade. Um soldado, que parece ser o mais graduado por estar usando a armadura mais cara, grita para eles.

Sargento da Paliçada: “Salve cavaleiros do rei! O que os trazem à Wells?”

Barão Algar: “Estamos de passagem para Cornualha em Tintagel.”

Sargento da Paliçada: “Esperem um pouco.”

Após algum tempo ele surge novamente.

Sargento da Paliçada: “O Regente oferece a sua hospitalidade!”

Barão Algar: “Aceitamos a gentileza!”

Eles entram na vila através da ponte levadiça que desce. Passam pelas casas simples cheias de pó. Alguns cavalos tomam água nos coxos cheios de água. Algumas mulheres fazem pratos e jarros de cerâmicas cozinhadas em um forno. Outros homens, sentados ali fora, chamam a atenção dos outros enquanto eles passam. Não são todos que os cumprimentam. Eles sobem em direção ao Motte and Bailey e chegam no pátio do grande castelo de madeira.

Serviçal: “Cavalariços! Sejam bem vindos à Wells senhores! Podem me seguir. Sir Onofre os aguardam.”

Os heróis entram no castelo feito de toras, decorado com armaduras e tapeçarias finas. Passam por vários salões até que entram na sala de audiências do Regente Onofre, onde ele e seus sete cavaleiros estão os esperando. Ele está sentado em um trono rústico e seus homens com armaduras de pé atrás dele. Todos eles lhes olham com insolência deixando bem claro que Enrick, Marion e Algar não são muito bem vindos ali.

Regente Onofre: “Olá Cavaleiros de Sarum! Espero que não tenham trazido confusão desta vez para nossa pacata cidade. Agora que a Cornualha está sobe o domínio do Rei Uther, queremos paz por aqui. Graças ao rei continuamos independentes apesar de sermos do condado de Logres como vocês. O que os trazem à Somerset?”

Sir Enrick: “Estamos de passagem. Viajando em nome de Vossa Majestade e não queremos confusão.”

Regente Onofre: “Vocês sabem que da última vez que estiveram aqui quebraram a minha hospitalidade e me ofenderam profundamente. Principalmente aquele cavaleiro. Como é o seu nome? (Sir Dalan diz um deles) Saibam que a mulher que provocou toda aquela confusão foi sumariamente enforcada. Infelizmente vocês estão sobe proteção do Rei viajando para encontrá-lo. Acho que não faltará oportunidade para resolvermos em outra ocasião o incidente causado não é mesmo?”

Os Cavaleiros da Corte do regente riem maliciosamente.

Regente Onofre: “Sir Turguert e Sir Alawan irão escoltar esses homens até Glastonbury. Façam com que cheguem em segurança lá.”

Então eles seguem a estrada de terra para o Sul. Os Cavaleiros do Regente não falam nada. Eles cavalgam um de cada lado da estrada e os heróis no centro. O grupo entra nos pântanos abafados. A estrada desaparece. Uma fina bruma vai tomando tudo enquanto eles adentram cada vez mais o terreno pantanoso. O grupo vai avançando até que percebem estarem rodeados só pelo pântano com vegetação fechada e alta e o solo coberto por uma água escura onde os cavalos pisam e as patas dos cavalos afundam.

Então, os Cavaleiros do Regente concordam um com o outro se olhando com um aceno de cabeça, fazem meia volta e adentram a vegetação alta desaparecendo por entre as brumas que não deixam os heróis enxergarem nem cinco metros à frente. Eles só escutam as suas risadas irônicas.

Cavaleiros: “Boa sorte! Vocês vão precisar já que os lobos não deram certo o pântano vai se encarregar de vocês! Ah, ah, ah!”

Ainda é dia. Não existem pegadas deixadas por eles. A água encobre tudo. Em volta eles vêem alguns pássaros. Pousados. A vegetação ao redor alcança três metros de altura. O mato é cortante. O Pântano parece todo igual. A medida que avançam lentamente e com dificuldade para se locomoverem tudo está calmo e a umidade torna o clima abafado. O cheiro de podridão torna o ar difícil de respirar. Derrepente os cavalos empacam. Parecem assustados. Bufam e reclamam. O de Lady Marion empina. Eles não conseguem prosseguir montados. Descem dos cavalos e os levam pelas rédeas. Marion e Enrick pedem para que Algar e seus escudeiros esperem um pouco mais atrás com as montarias. Eles estão com água na cintura.

Marion percebe que bolhas de ar sobem para a superfície da água escura nesta parte do pântano. Enquanto eles olham ao redor. Só escutam um cantar de uma ave. Derrepente um bando delas voa do meio do capim. E vão embora rápido. Tudo fica em silêncio. Marion chuta algo e um crânio sobe para a superfície. E uma parte de ossos de costela humana com carne ainda putrefata boia. Enrick percebe que estão cercados por três destas bolhas de ar.

Derrepente três criaturas saltam de dentro da água escura. A água preta mal cheirosa respinga atrapalhando a visão. Ao redor parece que tudo ficou um pouco escuro. Elas parecem répteis do tamanho de cavalos. Sapos sem patas. As criaturas tem asas que saem do corpo gordo e esporões afiados na frente e atrás delas. A cauda longa sacode quando as criaturas se lançam em um salto de cinco metros e caem em direção aos heróis. As mandíbulas tem dentes afiados como vinte adagas grandes. O dia parece ter ficado mais escuro. Como uma sombra que permeia tudo ao redor.

Barão Algar: “Cuidado é um Saltador da Água, um Water Leaper! Saquem as armas!”

Os escudeiros ficam em pânico encolhidos. Quando os quatro animais descem com velocidade Marion acerta uma flechada no olho de um deles. Outro derruba Algar com o impacto do peso no escudo. Enrick acerta um deles com o martelo de guerra e o animal cai com os dentes quebrados e o crânio esmagado longe do Flecha Ligeira. Os três Saltadores somem na água escura. Derrepente um dos cavalos de carga é atacado gritando em pânico e se debatendo a montaria some na água escura. Em alerta Algar vê algumas bolhas a direita e golpeia várias vezes com força. Os pedaços de um dos saltadores aparecem na superfície. O último Water Leaper salta mais uma vez com as presas no rosto de Marion. A guerreira celta, corajosamente atira suas flechas rapidamente. Cega o segundo olho da criatura e outra entra pela boca saindo pela parte de cima do crânio da criatura. Marion se abaixa e o Saltador cai atrás dela morto com a barriga pra cima. As criaturas boiam na água preta, uma delas com as entranhas expostas. De seus órgãos escorrem uma mistura purulenta amarela envolvidas por uma gosma esverdeada.

Marion: “Porque sempre tem que ser verde?”

O sol volta a brilhar e as sombras que os cercavam se dissipam. O cheiro de carniça é insuportável. Finalmente os heróis acham o caminho e saem do Pântano atravessando um capinzal. Logo o pântano se torna um lamaçal e chegam à relva verde cercada de árvores espaçadas uma das outras. As brumas que cobrem o pântano ficam para trás.

Dia 5 de viagem:

Então eles chegam a Glastonbury. A muralha romana já desgastada pelo tempo e suas torres de arqueiros é vigiada por vários soldados com o brasão da cidade. O pendão tem fundo verde e um rato de pé com a língua de fora. A muralha se abre em formato de meia lua até o grande lago sagrado de Avalon. Em cima de uma alta colina, ao fundo da cidade, à margem do lago eles podem ver a Abadia de José de Arimateia onde ao pé da colina da Abadia existe o poço de águas curativas que é usado há mais de trezentos anos. Dizem que o cálice sagrado de Jesus foi banhado nesta fonte por José de Arimatéa e o sangue depositado tornou as águas vermelhas. Desde então o lugar é considerado sagrado por cristãos e pagãos.

Os portões da cidade estão abertos. O guarda os recebe.

Guarda: “Pois não meus senhores! O que traz os nobres a cidade sagrada?”

Sir Enrick: “Viemos ver o poço sagrado!”

Guarda: “Sejam bem vindos! Os heróis de Logres são bem vindos podem entrar!”

Pelas ruas eles caminham pela cidade medieval simples. Apesar de ser menor que Sarum o lugar é cheio de Peregrinos da nova e velha religião. Alguns Druidas circulam pelas ruas. Eles vêem monges andando pelas ruazinhas de terra e as calçadas de relva verdinha bem aparada. A medida que se aproximam da colina podem ver o lago de águas escuras e uma bruma perpétua que está ali à qualquer hora do dia ou época do ano.

Marion: “Esse lugar é muito especial! Sabem, somente uma sacerdotisa escolhida pode abrir as brumas para se chegar a Avalon. Muitos tentaram e não retornaram. Os que conseguiram voltar ficaram totalmente loucos. Mas do outro lado está a sagrada Avalon!”

Então eles chegam na margem do lago. Alguns pássaros brancos passam voando. E as brumas impedem de se enxergar do outro lado. Então os heróis chegam em um poço em meio à um lindo jardim. Os passarinhos cantam e borboletas voam em meio as flores. Enquanto estão enchendo os seus odres de água do Poço Sagrado, um grupo de freiras da Abadia lá em cima caminha pela estrada que circula a colina do velho mosteiro.

As freiras os recebem bem quando vem o símbolo heráldico de Salisbury e do Rei Uther. Mas ficam um pouco desconfiadas com a presença deles estarem carregando no pescoço símbolos pagãos.

Irmã Josephine: “Olá irmãos! Que a paz do bom Deus esteja em seus corações! Vejo que alguns de vocês são adeptos da velha religião. Digam meus filhos, vocês não acreditam em nosso senhor Jesus Cristo?”

Barão Algar: “Acredito! Oh, se acredito!”

Irmã Josephine: “É bom mesmo. Quando o nosso senhor Jesus esteve nestas terras sagradas há mais de quinhentos anos nos advertiu de que coisas além de nosso entendimento iriam acontecer na ilha. Mas, satanás enebria as nossas visões às vezes.”

As outras feiras, cinco no total entre elas, três noviças, parecem com medo e se protegem atrás de Irmã Josephine.

Irmã Josephine: “Vamos irmãs! Enquanto a vocês, não causem confusões por aqui. Não esqueçam que estão em território sagrado. Aqueles de lá estão há muito tempo se escondendo atrás das antigas crenças e desse nevoeiro de mentiras. Cuidado! Dizem que do outro lado mal espíritos e o próprio diabo caminha e trama a queda da Britânia e o início do Apocalipse. Passar bem!” (Faz o sinal da cruz)

Quando elas se retiram os heróis escutam uma risada abafada. Com runas bordadas em seu manto branco um druida de barbas longas brancas, com o rosto coberto por um capuz e uma foice em formato de meia lua carregada na cintura se aproxima. Ele surgiu não se sabe de onde e ergue sua cabeça. Ele sorri, eles o reconhecem imediatamente. Merlim.

Merlim: “O destino é inexorável não é mesmo Cavaleiros? Encontros em encruzilhadas importantes. A vida é feito delas. A estrada romana nos leva a vários caminhos. Mas as estradas de terra e pedra é que nos levam aos lugares mais difíceis e distantes. Pobres freiras! Pois bem! Vocês me protegeram uma vez. Preciso de seus serviços novamente. Me sigam.”

Então sem falar nada o mestre druida caminha em direção a sagrada árvore de José de Arimateia. Um espinheiro encontrado somente no oriente mas que, conta a lenda, nasceu ali quando José tocou com o seu cajado o solo. No lado norte do poço, situada há uns cinquenta metros dentro do jardim. Passando pela árvore Merlim começa a percorrer, seguido por Marion, Enrick e Algar. Eles percorrem diversas trilhas dentro de um bosque que circunda a colina do mosteiro. Leva um tempo até que ele para e pede silêncio.

Merlim: “Eu preciso que vocês esperem por aqui. Tenho um importante encontro e quando retornar precisarei de seus serviços. Eu conto com o seu dever junto ao Rei e a Britânia. O futuro senhores! Esse indecifrável lugar a que chegamos a cada batida do coração está em nossas mãos. Aguardem aqui Cavaleiros de Logres! Estejam prontos! Permaneçam em seus cavalos!”

O grupo aguardam por longas cinco horas. Já é próximo do meio dia e faz bastante calor no bosque de Salisbury. Então eles escutam um som de cavalgada ao longe e alguém mais perto dizendo: “Maldito nevoeiro. Odeio esta lama. Árvores malditas!”

Então surge Merlim. Ele parece agitado e em alerta. Mas parece determinado e sem medo algum. Merlim parece carregar algo com ele e anda em passo acelerado por entre os altos arbustos do bosque apressadamente.

Merlim: “Atrasem-os!”

O som dos cavalos se aproximam, o tilintar das armaduras, os gritos de homens.

Homens: “Volte aqui Merlim seu traidor!”

Um grupo de cavaleiros surge por entre as árvores. Estão armados com suas espadas e olham ao redor procurando algo.

Um deles diz: “Merlim?”

Então Sir Brastias e a guarda pessoal do Rei surgem. Eles estão em vinte homens.

Sir Brastias: “Sir Enrick, Marion e Algar, o que fazem aqui?”

Marion: “Estávamos de passagem por Glastonbury e encontramos Merlim.”

Sir Brastias: “Vocês viram ele? Onde está o traidor, o maldito cão?”

Outros cavaleiros chegam no meio do bosque procurando pelo druida neste momento. É Sir Filipe, um cavaleiro de uns quarenta verões, cabelos negros longos e lisos, usando uma armadura romana lidera o outro grupo: “O velho veio daqui. Tenho certeza. Estão a serviço dele traidores?”

Sir Enrick: “Estamos a serviço do Rei!”

Sir Filipe: “Merlim sequestrou o filho recém nascido do rei seus idiotas e vocês estão nos atrasando. O rei ouvirá sobre isso. Agora! Para onde ele foi?”

Barão Algar: “Para lá!”

Sir Filipe: “Avante! Vamos homens! Deixem esses molengas aí estamos perdendo tempo.”

Então ele sinaliza para o seu grupo e partem.

Sir Brastias: “Vamos deixem esse Sir Filipe para lá! Me ajudem! O Rei vai nos enforcar se não encontrarmos o seu herdeiro!”

Barão Algar: “Sigamos em frente então Sir Brastias!”

A medida que os heróis cavalgam junto do grupo de Sir Brastias e se embrenham cada vez mais na floresta o dia vai passando. O curioso é que de fora, o bosque parecia ocupar uma extensão pequena. Agora parece interminável, uma brisa leve sopra, as folhas voam suavemente e o perfume de flores invade todo o lugar. Já é noite.

Sir Brastias: “Droga! Cuidado homens! Fadas!”

Sir Enrick: “Droga! Calma escudeiros! Fiquem próximos!”

Marion: “Fiquem juntos homens! Olhos abertos!”

Eles escutam sussurros no bosque vindo de todos os lados. Uma torre surge próxima. Então ela desaparece. Os outros Cavaleiros parecem assustados. Uma tênue bruma começa a envolver tudo. Por um momento Algar vê uma saída para uma clareira. Parece ser dia lá fora. Ele seguem para lá e saem exatamente no jardim, ao pé do morro onde está a Abadia. O sol estranhamente está brilhando na hora que deveria ser noite. Quando saem do bosque encontram a irmã Josephine com um balde, colhendo ervas. Ela se assusta quando os vê saindo da mata e coloca a mão na altura do coração.

Irmã Josephine: “O que? Querem me matar do coração? Vocês retornaram Cavaleiros? Faz uma semana que partiram. O que querem aqui de novo?”

Sir Enrick: “O que? Uma semana? Esqueça irmã, estamos de saída.”

Sir Brastias: “Merlim estava tramando algo contra nós ali dentro. Uma semana inteira perdida. Mal posso acreditar. Sigamos até Terrabill então senhores! Preciso de tempo para pensar! Ficar aqui só nos aumentará o problema.”

E o grupo parte em direção a Cornualha.

Então no dia 6 e7 de viagem=

Os heróis, Sir Brastias e seus Cavaleiros adentram o terreno Pantanoso na região de Jagent. Atingem o rio Parret, circundado por mata. Na madrugada eles mantém vigilância.

Dia 8 e 9 viagem =

Eles entram na região de Devon, atravessando as colinas verdejantes de Blackdown, cruzando a ponte de pedra do rio Exe e adentram a floresta Morris. Ao redor da fogueira ao anoitecer Sir Brastias está com o rosto sério e preocupado. Os seus homens sentam-se a distância.

Sir Brastias: “Merlim estava desaparecido por um ano inteiro! Desde a Batalha contra Gorlois e o encanto que conjurou em Tintagel, que o rei lhe pediu, para se deitar com Igraine, o velho tinha sumido. Os servos de Tintagel me contaram que na noite anterior o seu mestre havia chegado. Era Gorlois, eles tinham certeza. E ele foi direto ao quarto de Igraine e lá fizeram amor. Pela manhã foi embora, disse que ia voltar para a batalha. Mas logo após o corpo do próprio Gorlois chegou em uma carroça. Todos temem o Rei Uther por lá. Eles dizem que Vossa Majestade usou da magia antiga para se disfarçar como o Conde e ter Igraine. E eles tem razão no que dizem. Agora! Quando chegarmos a Tintagel e dermos a notícia do que aconteceu com o seu filho. Não sei o que vai acontecer. Desde a morte de Madoc, esta criança tem sido tudo para Uther. O que vocês acham?”

Sir Enrick: “Desde que Uther casou com essa bruxa ele está louco!”

Sir Brastias: “Não se engane Flecha Ligeira. A rainha Igrane é uma das cristãs mais fervorosas da corte!”

Dia 10 de viagem:

Pela manhã o grupo cruza as charnecas amareladas de Dartmoor, com suas rochas brotando da relva, o ponto mais alto da ilha. Depois de descerem por horas até o vale, finalmente eles chegam a Terrabill. O castelo, em cima da colina, ainda tem algumas rachaduras e chamuscados do fogo. Mas todo o sinal da batalha travada ali um ano atrás desapareceu. Algar apeia de seu cavalo e faz uma oração aos deuses e aos homens mortos no combate travado ali no último ano. Enrick se recorda com tristeza o que passaram.

Eles sobem o caminho circular. A ponte levadiça desce e entram no castelo de pedra. Depois de deixar os cavalos e escudeiros eles são recebidos no salão por Sir Warren, a sala tem apenas um trono e uma longa mesa. Todos percebem que o castelo inteiro está em reformas. Servos levam madeira para todos os lados, inçam troncos e blocos de rocha com cordas. Um outro grupo de operários com cizel deixa as pedras em formato quadrado e lisas.

Sir Warren, de cabelos brancos, usando sua pele de urso marrom nos ombros, capa vermelha e uma espada bastarda na cintura os recebe todo animado:

Bem vindos a Terrabil senhores, onde o trabalho nunca para! Estamos reconstruindo tudo. Descontaminamos a água que algumas pessoas fizeram o favor de jogar uns carneiros mortos. Não é mesmo? Lutei ao lado deste rapaz aqui. Uma vez ele e um cavaleiro romano me ajudaram e depois graças a Deusa eu pude retribuir não é Barão Algar? Sentem por favor! Servos tragam comida e bebida para esses homens! Desculpem mas até o castelo ficar pronto não teremos muitos luxos por aqui. Então! Como foi a viagem?”

Barão Algar: “Não foi fácil. Tivemos problemas com os Cavaleiros de Sir Onofre de Wells. Tentaram nos matar os bastardos.”

Enrick: “Depois, mais problemas em Glastonbury. Merlim parecia estar carregando uma criança com ele.”

Sir Warren: “Aqueles insolentes de Wells! Qualquer dia perderão a independência ali e a proteção real. Então veremos quem vai rir por último! E quanto a Merlim, o Druida tem agido muito estranho nos últimos tempos.”

Então dois cavaleiros entram no salão, ao lado de um deles um grande cachorro negro os acompanham.

Cavaleiro: “Chamou senhor?”

Sir Warren: “Aproximem-se homens. Deixe-me apresentar esses cavaleiros de confiança do Conde Roderick. Estes são o Barão Algar, Lady Marion e Sir Enrick que lhes falei. Grande heróis de Sarum. Estes são Sir Verius e Sir Alain de Carlion!”

Sir Verius é um cavaleiro baixo, entroncado, cabelo ruivo, com cabelos e barbas longas até a barriga e com tatuagens celtas azuis no rosto e braços, usa uma cota de malha sem mangas, tem voz rouca e um cachorro preto o acompanha. Ele é um pouco mais velho que os heróis. É meio bruto, mas muito comunicativo: “Sou da terra dos Dobbuni senhores! É uma alegria poder lhes conhecer. Esse é Urco! É um Rotwailler. Matei o seu dono, um germânico saxão inimigo e os deuses me presentearam com um grande amigo.”

Sir Alain de Carlion, é alto e magro, usa um escudo celta oval cheio de pinturas em verde e azul. Tem cabelo liso longo castanho e um bigode comprido, usa um elmo aberto com uma crina de cavalo tingida de azul, é um homem mais sério. Devotado a religião celta: “Sir Alain de Carlion ao seu dispor! Vassalo do Rei Nanteleode de Silures. Ouvimos bastante sobre vocês! É bom saber que temos homens dignos do povo celta lutando pelo bem da Britânia!”

A comida servida é simples. Pernil e algumas frutas. Hidromel e cidra enchem as taças de madeira. Sir Brastias não fala nada desde que entrou. Não come e também não bebe. Seus homens conversam despreocupadamente, riem, contam causos.

Sir Verius: “O que diabos Sir Enrick vocês fazem em Salisbury para terem Cavalos tão rápidos? Rapaz! O Rei me contou maravilhas sobre eles!”

Sir Enrick: “É o caminho meu amigo! Quer dar uma volta em Hefesto?”

Sir Verius: “Seria uma honra! Mas, não me dou muito bem em cima de cavalos”

Barão Algar: “Aproveite! Hefesto já foi montado até mesmo por Vossa Majestade!”

Sir Alain: “E Barão, os cristãos em Logres como são?”

Barão Algar: “Fanáticos e intolerantes!”

Sir Verius: “Milaidie, todos os povos celtas tem comentado de uma guerreira que surgiu e tem comandado homens em campo de batalha e vencido guerras para o nosso povo! A Deusa não poderia nos ter mandado um presente melhor!”

Então todos no salão escutam uma discussão, uma gritaria e a porta é chutada. Quando ela abre os guardas que estavam na frente, do lado de dentro, são jogados longe. E um grupo de Cavaleiros com o brasão do Rei Uther entram no salão. Eles olham para todos. Sir Warren se levanta indignado. É Sir Filipe acompanhado pelos seus homens e Sir Mathew de Wells também com seus cavaleiros. Totalizando trinta Cavaleiros.

Sir Warren: “Mas o que é isso?”

Sir Filipe: “Quieto velho! Agora, quem manda aqui sou eu! Sir Brastias, Barão Algar, Sir Enrick e Lady Marion! São ordens do Rei! Estão convocados a nos acompanharem até Tintagel para que Vossa Majestade, Rei Uther decida o que fazer com vocês! Não esqueçam que a recusa ou resistência a comparecerem diante do Rei. Estarão violando o juramento prestado a Vossa Majestade. E somente a pena capital os aguardará. Ou seja a forca! Se tiverem sorte a decapitação! Entenderam?”

Sir Brastias pega no punho de sua espada. Sir Enrick segura em seu braço e então o Cavaleiro parece se conformar.

Sir Brastias: “Está certo! Eu irei com vocês! Quanto aos outros Cavaleiros não poderei responder em nome deles. Tenho certeza que o Rei Uther será justo conosco. Eis aqui a minha espada.”

Lady Marion: “Nós iremos com vocês!”

E todos entregam as suas armas.

Sir Mathew: “Não falei que íamos nos encontrar mais cedo ou mais tarde? Pois bem, terão o que merece.”

Sir Filipe: “Vamos para Tintagel imediatamente!”

Os outros Cavaleiros ficam em silêncio chocados com a cena. Eles sobem em seus Cavalos e seguem com uma escolta de trinta cavaleiros. A comitiva vai para o oeste em silêncio. Eles olham a costa da Cornualha. Então o enorme mar cinza surge do alto da falésia no descampado de relva verde à frente. O castelo na beira do precipício tem o brasão dos Pendragon tremulando no alto. Soa um chifre com o toque de alerta e quando o grupo se aproxima os portões da fortaleza são abertos. Quando todos chegam no pátio e apeiam de seus cavalos os outros cavaleiros se retiram. Os animais são levados para as estrebarias.

Sir Filipe: “Senhores! O Castelão irá levá-los aos seus aposentos. E de lá só poderão sair com ordens reais.”

Enquanto andam pelo antigo castelo de pedra sólida guiados por um escudeiro real os nobres que estão ali abaixam suas cabeças quando cruzam com os heróis pelos corredores e os tratam com hostilidade. Sir Brastias é levado para um quarto e eles seguem em frente. Vêem tapeçarias reais e tochas iluminando as paredes escuras antigas e percebem que todos os símbolos sagrados são da nova religião.

Até que uma garotinha sai de um corredor perpendicular à frente e para os observando. Ela os olha com um ar mórbido e sério com as mãos juntas na altura da barriga. Seus cabelos são longos crespos e negros e seus olhos da mesma cor. Ela é bem branca e deve ter uns dez anos. Usa um vestido marrom longo com tiras em X na altura do peito e sapatos pretos com fitas para amarrar.

Morgana: “Vocês são os que levaram o meu irmão? Qual o nome de vocês?”

Barão Algar: “Sou Algar Herlews este é Sir Enrick Stanpid e essa Lady Marion de Tishea Stanpid.”

Morgana: “Eu vi a estória acontecer na água da bacia de minha mãe. O que é uma forca moço?”

Barão Algar: “Uma forma horrível de morrer menina!”

Morgana: “Meu pai sofreu quando você o matou! Às vezes eu falo com ele. Ele me disse que só queria fazer o que era certo!”

Sir Enrick: “Então avise ele que matar Madoc foi um ato de covardia.”

Então uma moça de cabelos castanhos com umas dezesseis primaveras, envoltos em uma trança até a cintura. Com os olhos cor de mel, e usando um vestido bege e verde surge por onde ela veio.

Elaine: “Morgana! Então você está aí! O que está fazendo? Desculpem a minha irmã às vezes ela diz coisas que ninguém entende.”

Morgana: “Elaine, eu estava dando as boas vin...”

Elaine: “Chega, o Rei falou que não é para conversarmos com eles! Com licença.”

E Elaine leva Morgana pelos braços pelo mesmo corredor que apareceu. Então o servo do castelo abre a porta do quarto que já está preparado para recebê-los. Dentro do lugar existe uma lareira, duas camas grandes, uma mesa de madeira e uma tigela de barro em cima cheia de água. Duas taças de madeira e uma jarra feita de cerâmica foram deixados ali com quatro cadeiras. Um grande tapete cobre o chão e nas parede apenas duas tochas e um crucifixo pendurado. A janela é estreita e de vidros com barras de ferro.

Castelão: “Ordens do Rei! Vocês devem ficar aqui e aguardar até serem chamados. Trarei as refeições e o que quiserem. Há algo mais que eu posso fazer para lhes ajudar senhores?”

Lady Marion: “Mande uma mensagem para meu pai, Sir Amig em Tishea. Diga que estamos detidos em Tintagel e precisamos de ajuda.”

Castelão: “Considerem feito Senhora. Com licença!”

Então os dias vão passando e eles perdem a noção de quanto tempo estão ali. De vez em quando o Castelão vem, troca os lençóis e traz comida três vezes por dia. Ele nunca fala nada. Eles só saem tarde da noite para fazerem as suas necessidades na sala da latrina. Lá fora as folhas ficam amareladas e começam a cair das árvores. Os dias estão mais frios. Enrick fica treinando Oswalt, seu irmão e escudeiro. Até que um dia, tarde da noite, alguém abre a porta. Já é noite e Sir Elad e o Bispo Roger entram nos aposentos.

Sir Elad: “Boa noite Cavaleiros!”

Bispo Roger: “Que a paz do senhor esteja com vocês. Parece que a visita ao Rei não saiu como planejada e viemos aqui interceder junto ao Rei. O Conde Roderick nos enviou para lhes ajudar.”

Eles sentam e olham sério para os heróis.

Sir Elad: “Saibam que a situação é complicada. Sir Mathew de Wells não gosta de vocês e conta que passaram por sua cidade e somente depois de quase doze dias vocês chegaram a Terrabill. Sir Filipe encontrou vocês e Sir Brastias na mata. E disse que escutou as suas vozes conversando com Merlim. E que somente muitos dias depois apareceram. Isso parece demonstrar que as duas testemunhas dizem a verdade. O que vocês tem a dizer sobre isso garotos?”

Barão Algar: “Realmente nos encontramos com Merlim. Ele carregava um bebê. Nos encontramos com Sir Brastias que nos alertou e adentramos o bosque atrás do Druida.”

Sir Enrick: “Lá dentro Merlim usou alguma espécie de magia. Não ficamos nem três horas lá dentro. Quando saímos nos deparamos com a Madre Superiora do Convento de Salisbury.”

Marion: “E através dela descobrimos que tinham passado dez dias lá dentro.”

Sir Elad: “Você sabe Barão que não é bem visto pelos adeptos da nova religião. Já matou Padres. Matou seu irmão que era Cristão. Que já se aliou à saxões. Como sou de Sarum sei de toda estória. Que fizeram à vontade do Rei e que são Heróis para Salisbury. E que a guerra dentro de sua família foi um ato corajoso que tinha de ser feito. Isso ninguém pode negar. Por isso os cristãos irão aproveitar a oportunidade para lhes caçarem.”

Bispo Roger: “Não esqueçam então que o que decidirem fazerem ou dizerem terá consequências. Nos veremos em breve certo?”

Enquanto se preparam para dormir Algar percebe a porta entreaberta e puxa para dentro um homem velho, coberto com um capuz lhes fala.

Velho: “Calma senhor, sou amigo. Apenas um servo do castelo. Tenho uma notícia. Outros cavaleiros com os quais Merlim falou e pediu ajuda no bosque estão perto, são pelo menos doze. Sir Elad e Bispo Roger foram conversar com eles agora de manhã.”

Então ele escuta um barulho no corredor olha para os dois lados e sai. Pela manhã quando acordam um monge vem lhes trazer o café da manhã em uma bandeja de madeira. Ele está vestido com roupas pretas. Tem um crucifixo de madeira pendurado no pescoço e cabelo cortado como um franciscano.

Padre Dewi: “Bom dia senhores! Permitam-me apresentar. Eu sou o Padre Dewi! E desejo muito falar com os senhores. O Rei me mandou e o dia do julgamento se aproxima. Quero que escutem com muita atenção! Irei fazer perguntas importantes e quero que pensem bem antes de responder.”

Então o Padre Dewi faz diversas perguntas sobre o que aconteceu em Wells, se Sir Brastias é de confiança, se eles trabalhavam para Merlim. Os heróis respondem tudo de forma sincera e correta.

Padre Dewi: “Bom ,por hora é só. Acho que isso nos irá ajudar bastante. Saibam que a hora dos Deuses da Velha Religião acabou. Mas obrigado pelas respostas mesmo assim. Sabe Barão, embora estejam tentando incriminá-lo pelas coisas que fez nos últimos anos. Irei ser justo e tentar enxergar só esse fato isoladamente. Saibam que o maior defensor de vocês é o próprio Rei e ele me pediu pessoalmente para resolver essa demanda, contra a vontade até mesmo da Rainha. Estejam preparados amanhã aos primeiros raios de sol. Um julgamento os aguarda. Boa noite!”

Ao amanhecer eles comem queijo, ovos e tomam chá. Sir Filipe abre a porta.

Sir Filipe: “Bom dia senhores! Estão prontos? Então vamos!”

Sir Brastias está junto e os cumprimenta somente com um aceno de cabeça. Eles seguem pelo corredor acompanhados por quatro guardas e Sir Filipe. Após subir uma escada em caracol com janelas estreitas chegam a uma grande porta de madeira dupla. Dois guardas abrem cada uma delas. Sir Filipe entra na frente, os heróis e os guardas atrás. A sala de audiências do castelo está cheia. Com arquibancadas de madeira dos dois lados. Estão presentes nobres, cavaleiros, padres e druidas. Umas cem pessoas. Bispo Roger e Sir Elad estão entre eles. Os homens de Wells e seu Regente Sir Onofre também está ali. Os presentes os observam em silêncio.

Em um pequeno palco está o Rei Uther sentado em uma mesa longa. Na frente do palco existem cadeiras para cada um dos acusados. Atrás nas paredes existem tapeçarias com temas bíblicos como Adão e Eva, A Santa Ceia, O Dilúvio. Nas laterais suspensos do teto existem vários brasões do Rei. As tochas iluminam a sala que tem somente pequenas janelas retangulares no alto, onde alguns pombos se sentam. Uma lareira aquece o ambiente.

Do lado direito de Uther estão sentados o Arcebispo Dubricus e Duque Ulfius. No esquerdo a rainha Igraine toda vestida de preto. Uther está sério e triste. Igraine com ódio nos olhos. O Duque romano Ulfius está sério mas respeitoso. Mas o Arcebispo Dubricus olha para eles, especialmente para Algar com uma risada irônica. Algo como: “Te peguei maldito!”

Sir Filipe: “Vossa Majestade! Lhes apresento os acusados como o senhor solicitou.”

Rei Uther: “Muito bem Sir Filipe! Está dispensado por hora. Os... Acusados podem se sentarem. Primeiro gostaria de começar dizendo que é com pesar que esse julgamento está ocorrendo. Infelizmente os mais valorosos heróis do reino estão envolvidos. Os amigos mais leais que meu bom filho tinha. Tentarei ser breve e justo cavaleiros do Rei! Mas vou ser bem claro. Vocês podem me oferecer uma coisa tão valorosa e importante nos dias de hoje que poucas pessoas tem para ofertar. A simples e pura verdade! Vamos começar. Sir Brastias, gostaria de ouvir a sua versão!”

Sir Brastias: “Meu Rei! A Vossa Majestade me designou para perseguir Merlim. O mais rápido possível pois o seu filho recém nascido tinha sido roubado por ele fazia algumas horas. Reuni os homens e cavalgamos sem pista alguma para encontrá-los. Perguntamos aos servos na beira da estrada e alguns tinham visto o Druida caminhando rápido em direção a Glastonbury carregando um bebê. Seguimos para a cidade sagrada. Chegando lá as freiras disseram que ele tinha entrado no bosque na beira do Lago de Avalon. Adentramos a mata, tentando achá-lo. Até que escutamos a sua voz. Não entendemos o que ele dizia. Seguindo o som nos deparamos com Sir Enrick, o Barão Algar e Lady Marion. Mas não estavam com o Druida. E conhecendo o valor destas três pessoas eu diria que não estavam fazendo nada de errado.”

Rei Uther: “É verdade isto cavaleiros?”

Bispo Roger: “Sim é verdade!”

Grita o Bispo Roger das arquibancadas laterais.

Rei Uther: “Calma Bispo! Deixe os Cavaleiros falarem por eles mesmos. Digam, é verdade o que Sir Brastias fala?”

Barão Algar: “A mais pura verdade Majestade!”

Rei Uther: “Contem para mim o que aconteceu depois que vocês se encontraram.”

Sir Enrick: “Ajudamos Sir Brastias a procurar Merlim. Mas uma forma de magia parece ter ocorrido no interior do bosque. Nos confundiu. Achamos que eram fadas. Quando saímos tinha passado dez dias. Para nosso grupo não foi mais de três horas que ficamos ali.”

Quando acabam de falar Igraine olha com escárnio e diz.

Igraine: “Eles roubaram o meu bebê. Mate todos!”

Arcebispo Dubricus: “Em breve, minha Rainha! Nós devemos seguir as formalidades.”

Então um padre se levanta no meio das tribunas. Todos olham para ele. É Padre Carmelo.

Padre Carmelo: “Meu bom Rei! Gostaria muito de falar!”

Arcebispo Dubricus: “Você é somente um padre de aldeões. Se restrinja a sua insignificância e humildade de um servo de Deus. Um Padre esfarrapado não tem autoridade neste tribunal.”

Bispo Roger: “Padre Carmelo falará sobe minha responsabilidade. Ele era um antigo soldado de Roma e como tal conhece a retórica e leis quanto qualquer estudioso e merece respeito. Eu o convidei a vir até a corte.”

Rei Uther: “Vocês conhecem esse Padre e gostariam que ele intercedesse em seu nome?”

Marion: “Sim, meu Rei.”

Rei Uther: “Aproxime-se meu bom Padre!”

Padre Carmelo: “Obrigado Vossa Majestade! Como sempre, justo e inteligente! Nobres de Logres. Tenho servido com humildade Sir Enrick Stanpid nos últimos anos e o acompanhando em campanha. E pude conviver com o Barão Algar, Lady Marion e até mesmo Merlim. Na Batalha de Lindsey no norte trabalhei junto com o Druida e demos a nossa contribuição contra os saxões. Pois bem! Todos sabem que o poder de realizar algo. Não está ligado apenas ao ato físico de realizá-lo senhores. E sim ligado ao desejo de fazermos determinada ação. E no final das contas o que é o desejo se não a vontade de praticar alguma coisa. Mas antes o desejo está dentro do homem em uma forma de pensamento. E o ato é a materialização dele... Uma magia!”

Todos começam a falar entre si nas tribunas. Um Padre falando em magia. Rei Uther fica curioso prestando atenção.

Rei Uther: “Está dizendo Padre que a materialização de um desejo é uma forma de Magia?”

Padre Carmelo: “Ou chamaria de milagre Majestade? Calma senhores! Lhes explicarei! O desejo de Merlim, por algum motivo perdido nas brumas, de levar o filho do rei foi a sua vontade. A materialização disso foi o ato que o Druida praticou. Mas não conseguiria sozinho. E precisou usar novamente o seu desejo, a sua magia. Encontrou esses homens e os induziu a completá-la. E assim conseguiu roubar o seu amado bebê minha rainha. Eles estavam sobe influência direta de Merlim, pegos de surpresa e leais ao Rei Uther. Seus feitos falam por si. São Heróis de Logres pelo amor de Deus. É claro que esses homens estavam sobe efeito da Magia de Merlim, do desejo de um homem que sempre trabalha por caminhos misteriosos. Não sabemos se para o bem ou para o mal, ou somente pelos caprichos de sua religião.”

A comoção é grande nas tribunas. Alguns concordam, outros balançam a cabeça. Até que o Rei levanta a mão e tudo fica em silêncio novamente. Um homem em armadura romana se aproxima da tribuna. Parece calmo e tranquilo. Ele tem cabelos negros longos e cavanhaque. Leva um crucifixo de prata no pescoço. Olha para os heróis e Carmelo.

Sir Illtyd: “Meu Rei! O Padre está certo, como conselheiro espiritual lhes digo. Merlim sempre lhe ajudou quando o senhor solicitou. Não sabemos os caminhos nem as forças que movem esse homem. Somente que é fiel a Logres e ao senhor. Não esqueça de Excalibur. As Batalhas de Figsbury, Lindsey, Terrabill, A Paz de Excalibur aqui mesmo na Cornualha. Pense bem Majestade!”

Rei Uther: “Certo! Já que Merlim é inocente gostaria de escutar a opinião dos senhores. Porque diabos ele levou meu filho? Porque o Druida fez isso? Roubar o Herdeiro do Trono.”

Sir Enrick: “Talvez para protegê-lo de algo Majestade. Como disse Carmelo, ele trabalha por caminhos misteriosos e quem sabe o que pode ter visto em suas premonições. Acredito que seu filho será maior que todos nós, um Rei coberto de glória. Talvez Merlim tenha visto o mesmo e o está protegendo. Depois que me tornei cavaleiro percebi que brasões e títulos às vezes não passam de nomes e desenhos bonitos, pois a corte é tão cheia de perigos e maldade quanto uma floresta repleta de lobos e às vezes não percebemos Majestade mas o mal está ao nosso lado”

Rei Uther: “Estou inclinado a acreditar nos senhores!”

Então o Padre Dewi pede a palavra e se levanta da tribuna e começa a caminhar ao redor dos acusados. Os presentes o observam enquanto ele anda em silêncio olhando para cima e pensando. Todos podem sentir a força da personalidade do Padre fanático.

Padre Dewi: “Investiguei a questão Vossa Majestade. Perguntei aos acusados várias coisas. Falei com testemunhas e com a Madre Josephine de Glastonbury. Posso lhes garantir que esses homens não mentem. E digo mais, eles estavam tomados pela mágica de Merlim, foram confundidos pelo Druida e induzidos a ajudá-lo.”

Os homens de Wells, o Bispo Dubricus ficam vermelho de raiva falando alto até que Padre Dewi levanta a mão e todos ficam em silêncio.

Padre Dewi: “Majestade, se o senhor não expurgar a magia desta corte e deste filho do Demônio. O Rei, sua Família e toda Britânia cairá em ruínas.”

A comoção é grande e começa uma gritaria entre todos. Muitos concordam, outros discordam. E tudo vira uma confusão de palavras. Igraine fala mais alto que todos.

Igraine: “Mate o Druida Uther!”

Arcebispo Dubricus: “Estou ultrajado! Mate o filho do demônio e esses seus seguidores!”

O Rei se levanta com os seus dois metros de altura e dá um murro na mesa gritando.

Rei Uther: “Silêncio! Só eu falo aqui! Eu sei que esses homens têm muito me ajudado e a Britânia. E que Roderick, Conde da Britânia é um homem de honra e palavra. Mas também sei que este sábio monge, Dewi, que tem viajado por todo o mundo e sabe o que pensa os nobres e o meu povo e que sua opinião tem peso de ouro neste tribunal. Mas quero ouvir o outro lado também. Arcebispo Dubricus, gostaria de lhe ouvir. O que você tem a dizer? "

Dubricus dá um sorriso maldoso e levanta com imponência e soberba.

Arcebispo Dubricus: “Obrigado Majestade. Nenhum Cristão Britânico ou Romano honra o filho do demônio! Inclusive esse homem, Algar, tem um apelido...”

Rei Uther: “Chega Bispo. Não irei discutir isto agora. Entendi o seu ponto de vista e não quero que prossiga! Agora sente-se e se acalme. Deixemos a justiça reinar. Estas são as palavras do Rei de Logres. Estes homens são inocentes de traição. Eles, e todos os outros com acusações semelhantes. Mas ordeno a esses homens a ver o Bispo Dubricus para bênção e purificação da contaminação pagã imediatamente. Além disso, o tribunal determina que Merlim o Druida esta por trás disso. E sua sentença é a morte por este tribunal como um desertor e traidor da coroa, que voluntariamente e conscientemente prejudicou o trono. Mandem esta notícia para todos os cantos da Britânia. A todos os senhores e guildas para a leitura em locais públicos. Deus abençoe a todos nós. Este julgamento está encerrado. "

O Rei, Conde Ulfius e Igraine saem rapidamente pela porta no fundo do salão. Os heróis passam pelo Padre Carmelo, Sir Elad, Bispo Roger. Eles os cumprimentam sério. O Bispo Dubricus e os soldados de Wells se aproximam. São trinta guardas com lanças liderados por Sir Mathew.

Arcebispo Dubricus: “Como o rei sentenciou! Iremos cumprir a sentença de purificação imediatamente. Homens escoltem-os para a sua própria segurança.”

Então os heróis caminham com a escolta. Sir Brastias está junto. Eles chegam em uma escada em caracol para baixo e vão até as masmorras. Uma porta de ferro é aberta e lá dentro existe uma lareira acesa. Correntes descem do teto. E aparelhos de tortura existem ali.

Arcebispo Dubricus: “Sentem-se por favor! Sabem como os monges me chamam pelas costas? O Homem da água! Porque eu proibi álcool nos mosteiros por toda a Britânia. Mas sabem como os meus inimigos me chamam? O Grito de Deus! Eu estou começando uma nova prática. Um método de purificação. Uma forma de banirmos as magias e pecados através da dor. Já percebemos que todos, eu disse todos, que sofreram por Deus se arrependeram e conseguiram se voltar para a Igreja. Barão! Você sabe que o Rei os tem em grande consideração. Mas tenho autorização para purificá-los. Já vi arqueiros terem a mão deformada. Já vi guerreiros ficarem coxos e nunca mais levantarem as suas armas. Sei exatamente dos seus feitos heréticos. Lembro dos meus planos que arruinaram quando derrotaram Odirsen II. Algar você será o primeiro! Os outros, prendam-os nos grilhões. Quero eles vivos.”

Os guardas arrastam Marion, Brastias e Enrick e os prendem nos grilhões na parede. Oito homens cercam Algar e batem forte com os punhos, chutes e cabos da lança. Sua blusa é arrancada. Seu rosto e corpo ficam cheio de hematomas e corte. Semi inconsciente cada braço é preso em uma corrente e o corpo de Algar é içado em formato de X. Quando o fogo da forja que tem ali ilumina seu corpo dá para ver as dezenas de cicatrizes das batalhas e combates que participou. O Bispo olha assustado e os soldados presentes o olham com respeito. Ele sente uma dor lancinaste nas juntas. Com o sangue correndo pela sua testa, lhe atrapalhando a visão, ele tenta manter a consciência.

Arcebispo Dubricus: “Arrependa-se de seu pecado! Diga comigo! Eu matei crianças inocentes! Eu matei sacerdotes! Eu matei meu irmão! Peça perdão! Aceite Jesus!”

E as correntes vão esticando os braços de Algar acionados por uma manivela.

Barão Algar: “Nunca! Eu já aceitei meus deuses. Aceito Odim seu desgraçado!”

Arcebispo Dubricus: “Se converta pagão! Onde está a Deusa agora! Onde está Merlim para te ajudar? Você fez o que fez e tudo tem o seu preço. O Deus único te ama Algar! Aceite-o. Uma nova vida o aguarda! Você está do lado dos Deus errados. Do demônio. Tudo pode acabar e a dor cessar.”

Barão Algar: “Não, maldito! Os deuses estão em todos os lugares. Meus deuses são mais antigos!”

Enquanto isso Sir Enrick e Lady Marion se esticam nos grilhões gritam encolerizados e com ódio nos olhos. Dubricus estica as correntes com a manivela e Algar desmaia de dor. Em sua inconsciência o Barão por algum tempo pensa em se converter e que seria o alívio para as suas piores dores sofridas ali. Então o Arcebispo vai até a lareira e coloca uma foice longa, fina na ponta em formato de meia lua. Ela fica incandescente. Ele retira e encosta na pele, no meio do peito de Algar e desenha uma cruz. O cheiro de carne invade a masmorra. O corpo do Barão treme em espasmos. E a dor lancinante o arranca da inconsciência e Algar dá um grito tão potente e forte que as paredes da masmorra estremecem.

Barão Algar: “Thoooor!”

Um clarão ilumina o salão. Todos ficam cegados pela luz. Os instrumentos de tortura caem das paredes. Os soldados e todos na masmorra são jogados contra as paredes. Algar por um momento parece ter visto Odirsen II.

A força desequilibra o Bispo Dubricus que cai de frente na mesa de tortura onde Algar está suspenso em cima. E então ele esbarra nas pernas do Barão que está com os olhos em frenesi e ódio emanando um poder celestial inexplicável. No momento que o Bispo o toca, Dubricus e Algar tem uma visão de Algar atravessando com o barqueiro para o Hades. Descendo no porto feito de crânios. Vendo a pilha de tesouro dos avarentos. Lutando contra a Hidra. Depois controlando o seu medo contra Cérbero e adentrando os portões do que os cristãos chamam de inferno. Ele sente e vê tudo o que Algar viveu. O encontro com as Eríneas. Com a Deusa Nix. O duelo contra os anjos demoníacos e por fim o olhar gélido e sedutor de Samael. Por fim ele vê Sir Edgar sucumbindo a loucura e a espada de São Paulo, a Sanctu Gladius perdida e a armadura de São Miguel guardada ao lado dela. A morte de Odirsen II, de Mellion e de Madoc.

Finalmente o arcebispo cai de joelhos com as mãos na cabeça chorando em devaneios. Parece mais velho e sua pele está pálida. Ele vomita e por um momento tem a consciência de volta e dá passos para trás com muito medo. Os seus guardas estão encolhidos até que um deles destranca a porta e todos eles correm. Sir Mathew fica em choque caído com as costas na parede.

Arcebispo Dubricus: “Que Deus tenha piedade de você homem! Sinto muito!”

E Algar perde a consciência. Neste momento o Rei Uther, Padre Carmelo, Sir Elad e o Bispo Roger entram.

Rei Uther: “O que está acontecendo aqui?”

O Bispo Dubricus, corre por entre eles e foge.

Rei Uther: “Libertem-os agora Cavaleiros! Era esse ritual de purificação que esse homem queria fazer? Isso vai contra tudo que acredito! Sir Mathew! Você deveria ter vergonha de ser um cavaleiro. E saiba que agora você não é mais um!”

O Rei lhe dá um tapa no rosto com toda a força.

Rei Uther: “Eu não posso jamais punir o Arcebispo e tocar em um sacerdote. Mas você eu posso. Carcereiros! Quero estes aparelhos ocupados por este Cavaleiro o máximo de tempo que o seu corpo aguentar, este homem sim precisa deste tipo de purificação. Vamos levem Algar para o quarto, iremos tratá-lo com o respeito que merece.”

Sir Enrick se aproxima e se ajoelha perante ao rei.

Sir Enrick: “Meu Rei perdão pelas duras palavras e pelas dúvidas! É um grande homem, um Rei digno da Britânia! Continua sendo o homem que admiramos!”

Rei Uther: “Deixe disso rapaz! Vocês sempre foram leais a mim e ao meu filho. Nenhum Rei tem Cavaleiros tão heróicos e valentes!”

No quarto próximo aos aposentos reais estão reunidos Sir Elad, O Bispo Roger, Padre Carmelo, Sir Enrick e Lady Marion. Algar está dormindo exausto coberto pelos lençóis.

Sir Elad: “Eu não sei o que o Arcebispo viu mas o homem ficou transtornado. Acaba de deixar a corte.”

Padre Carmelo: “Deus novos e velhos. Sempre se manifestam de maneira que nunca vamos entender. Nada muda! Só os nomes que damos a eles. Infelizmente, agora, Merlim vai ter que provar sua inocência. Eu tinha que dar um jeito de salvá-los Sir Enrick!”

Então alguém bate na porta e uma moça muito bonita, parecida com Igraine, entra no quarto. Ela tem cabelos levemente avermelhados soltos, olhos verdes. É magra e usa um vestido bege claro com um cinto de pano verde. Nos pés sapatilhas marrons amarradas com fitas. Parece tímida carregando uma caixa cheia de ervas e vidros com líquidos de várias cores.

O Bispo Roger: “Margawse minha filha! Pode entrar! Esta é filha de Igraine. Uma boa menina.”

Margawse: “Com licença! O Rei me mandou ajudar o Barão.”

Então a menina se aproxima da cama. E pega algumas ervas. Elas são colocadas em um recipiente e macerado. Um líquido vermelho, depois um amarelo é despejado. Ela pega uma pequena adaga e abre um corte na palma da mão e despeja o seu sangue na cumbuca. Ela mexe até que vira uma pasta. E essa pasta é passada nos ferimentos abertos de Algar. Depois ela vai até a caixa novamente e retira um líquido viscoso branco. Os heróis parecem terem visto uma cobra enrolada dentro do recipiente. E ergue a cabeça do Barão e despeja o conteúdo em sua boca.

Margawse: “Acredito que por hora isso deve ajudar. Em pouco tempo o Barão estará caminhando. Infelizmente a cicatriz ficará para sempre. Com licença.”

Então os dias passam e na semana seguinte, Algar já está melhor. Exausto, mas se sentem bem. Com o dorso enfaixado já consegue caminhar pelo quarto. Um servo lhe trás um reforçado café da manhã e Sir Brastias, Sir Warren, Sir Verius e seu cachorro e Sir Alain vem lhes visitar.

Sir Brastias: “Bom dia! Como está se sentindo Barão? Os Cristãos e Pagãos souberam o que aconteceu e só falam de você. Saibam que quase todos estão do nosso lado. E quero que saibam também que ganharam um amigo! O que precisarem eu estarei a sua disposição.”

Barão Algar: “Muito obrigado!”

Sir Warren: “Oh meu rapaz! Que bom que já está melhor! Aquele Arcebispo teve o que merecia. Já mandei avisar seus tios e família de que tudo está bem agora.”

Sir Alain: “Barão! Que bom que está bem. Soube que o Rei Uther está bastante triste com o que ocorreu. E que os gritos de Sir Mathew pode ser escutado por horas próximo as masmorras do castelo.”

Barão Algar: “Coitado! Homem infeliz! Existiam outras maneiras de resolvermos nossas desavenças.”

Sir Verius: “Que bom que tudo passou. Vocês eram grande amigos do Príncipe Madoc, não eram?”

Sir Enrick: “Eras muito amigos!”

Sir Verius: “Eu o conhecia também. Era um grande homem. Uma vez ele esteve em Bristol visitando o meu clã em nome do Rei Uther. Além de me contar sobre vocês, de que eram homens corajosos e de confiança, me confessou algo. Esse segredo me arrepiou os cabelos quando soube de sua morte. Madoc me disse que existe uma Lady perdida em alguma floresta da Britânia. Ela era a sua amante. Não era uma nobre e por isso tinha que manter esse amor em segredo. Madoc teve um filho com ela.”

Marion: “Quer dizer que uma parte de Madoc ainda vive em algum lugar da Britânia!”

Sir Enrick: “Procurarei por todos os lugares!”

Não se vê mais o Rei depois dos últimos acontecimentos. Finalmente depois de meses passados na Cornualha os heróis partem no início do inverno para Sarum. As temperaturas já caem abaixo de zero. Estão juntos com Sir Elad, Padre Carmelo, Bispo Roger e uma grande guarda pessoal formada por cavaleiros cristãos do Bispo e os Cavaleiros de Sir Elad. No total quase sessenta homens. Dentre eles estão, Sir Amig, Sir Bag, Sir Dalan, Sir Jakin, Sir Dylan vieram lhes escoltar.

Marion: “Porque demorou tanto pai?”

Sir Amig: “Minha princesinha! Eu tentei. Estava muito preocupado. Tinha até organizado com os seus Pantaneiros um resgate épico genro, mas Dylan não deixou. Parece que ele estava certo, agora estaríamos sendo caçados como Merlim.”

Sir Dylan: “Eu tinha certeza que eram inocentes. E confiava na decisão do rei. Que bom que vocês estão bem!”

Sir Jakin: “Você assustou o velhote Algar!”

Barão Algar: “É, ele me assustou também!”

Sir Elad: “Chega de papo furado! Chega de Cornualha! Vamos pra casa!”

Depois de deixarem a Cornualha e atravessarem a floresta coberta de neve, próximo ao forte Vagon, um homem acampado, com um brasão azul com uma torre amarela desenhada os cumprimenta. Seu cavalo está pastando e ele deixa seu almoço cozinhando em uma panela de fogo pendente. O rapaz deve ter uns vinte verões e tem cabelos loiros crespos e compridos. Veste uma armadura de placas. Ele se aproxima curvando-se e tremendo de frio.

Sir Hirael: “Senhores! Sou Sir Hirael, estou acampado a luas aqui na estrada. Sou de Norgalles e foi me dada a tarefa de lhes acharem. Acho que o Barão e seus cavaleiros poderão me ajudar, com a sua permissão... Soube que o Barão Algar e Sir Bag já viram o rei Pellinore. É verdade senhores?”

Barão Algar: “Sim Cavaleiro! Certa vez Pellinore nos pegou desprevenidos de ceroulas nos refrescando num rio.”

Sir Bag: “Ahahahha! É verdade!”

Sir Hirael: “Graças a deus! Venho da corte das terras do Rei desaparecido. Faz muito tempo que ele abandonou a sua família. Seus irmãos tentaram manter a ordem, já que o Reino mergulhou em um caos absoluto. Esses irmãos tem sido assassinados sistematicamente e uma aliança de chefes tribais nas montanhas está tramando tomar as terras da família do Rei. Só peço uma coisa aos nobres senhores. Pellinore está encantado, amaldiçoado por algo além de nossa compreensão. Se o encontrarem contem o que falei aos senhores! É a nossa última esperança.”

Barão Algar: “Falaremos com ele rapaz!”

Sir Hirael: “Muito obrigado meu senhor!”

Quando os heróis chegam pelo portão de Damas, em Sarum, debaixo de neve, a ponte levadiça que cobre o fosso antes da muralha está sendo desobstruída pelos soldados. Eles prestam reverência. Os heróis trotam até chegar ao castelo do Conde Roderick. No salão de audiências ele está os esperando sentado em um trono na cabeceira da mesa. Comidas e bebidas estão servidas fumegantes. Os serviçais estão a postos para os servir. Um dos dois guardas da porta os anunciam batendo a lança no chão. Sir Elad, Bispo Roger entram na frente, Sir Amig e os heróis em segundo e por os seus amigos.

Conde Roderick: “Sejam bem vindos Cavaleiros! Temia que não voltassem para casa tão cedo. Ou ainda coisa pior! Vamos sentar e comer algo!”

Sir Enrick: “Obrigado Conde! É um alívio estar em casa.”

Conde Roderick: “Chegaram no momento certo. A tempestade de neve que cai lá fora, dizem os antigos, é uma das piores nos últimos anos. Mas, me contem! Dizem que os homens de Wells dificultaram bastante!”

Sir Enrick: “Voltarei para Wells com um exército de assassinos com lâminas bem afiadas!”

Conde Roderick: “Sir Onofre não perde por esperar! Qual foi o veredito do rei?”

Marion: “Nós fomos considerados inocentes. Mas Merlim, que os deuses tenham piedade do Druida, porque o Rei não teve.”

Conde Roderick: “Temo que as coisas saiam de controle. E as consequências seriam enormes para todos nós. Fazem onze anos que o Rei ascendeu ao trono. E desde então a colisão entre as religiões, essa herança maldita que os romanos deixaram para nós resolvermos, tem sido uma dor de cabeça. Minha corte é cristã, mas a luta pelo poder que está ocorrendo entre Avalon e os Convertidos está nos mergulhando em um caos. Estejam preparados para o pior! Logres está dividida. Tanto a nobreza quanto aos plebeus. Alguns estão felizes pelo Rei estar caçando Merlim e outros achando uma grande ingratidão por parte de Vossa Majestade. Mas agora descansem e comam, foi um longo período longe de casa.”

Eles baqueteiam despreocupadamente. Anoitece. Lá fora o som do vento fazem as torres assobiarem. Nas janelas estreitas no alto em formato de ogiva pode se ver a neve cair em grande quantidade.

Sir Amig: “Chegamos na hora certa!”

Então entra um homem no salão de banquetes. Sir Enrick o reconhece de imediato. É Cygnar, um homem simples de barba por fazer e cabelos desgrenhados, o velho capataz da fazenda Stanpid. Ele se curva tremendo com as mãos juntas com a barba congelada e as roupas molhadas.

Cygnar: “Sir Enrick! Venho de Epona! Meu cavalo morreu congelado há dez quilômetros daqui. Vim no meio do gelo e da neve.

Sir Enrick: “Calma homem! Fale devagar e tome essa taça de hidromel. Servos tragam uma manta a esse homem.”

Cygnar: “Precisamos de ajuda meu Senhor. Os saxões estão no norte. E fizeram um ataque rápido. Invadiram e saquearam o Haras. Levaram todos os cavalos que tínhamos. Eram quase cem. Sacrificaram pelo menos cinco aos seu deus da guerra!

Sir Enrick: “Malditos! E meus irmãos?”

Cygnar: “Os seus irmãos Sir Enrick foram levados como escravos e seu pai e mãe estão desaparecidos! E sabe quem os liderava meu senhor? O Rei Octa dos saxões! Ele está varrendo as vilas ao norte de Logres!”

Sir Enrick bate na mesa derrubando pratos e taças.

Conde Roderick larga o seu corpo na cadeira: “Meu deus o desgraçado do Octa fugiu dos calabouços de Lincoln!”

Sir Elad levantando e dando um murro na mesa: “Conde! Me dê o comando para irmos até ao norte caçá-los um por um!”

Sir Enrick: “Eu quero partir imediatamente! Acabar com a raça destes bastardos!”

Conde Roderick: “Sentem-se e acalmem-se! Sir Enrick, as guerras foram tantas que estamos com poucos homens para lutar, a corte em Tintagel está consumindo recursos, a morte do Príncipe cortou o principal canal de comunicação com Uther. Madoc era o nosso equilíbrio e estamos desamparados! E agora os saxões estão as portas de Logres.”

Sir Amig: “Precisamos de alianças Conde! O reino mais armado e preparado para nos ajudar é Malahaut! Deixem-nos irmos até lá pedir ajuda. Esses cretinos vão se arrepender do que estão fazendo!”

Conde Roderick: “Façamos assim. Eu irei pessoalmente comandar esse ride atrás do bárbaros e a ida até a cidade de Eburacum falar com o Rei de Malahaut! Infelizmente o inverno já chegou e as nevascas fecharam as estradas. É doloroso falar isso mas teremos que esperar a primavera senhores. Estamos presos pelas paredes brancas do inverno. Se sairmos para a estrada nós e os cavalos morreríamos na metade do caminho até Epona. Sinto muito pela sua família Sir Enrick! Rezemos esperando o melhor para eles.”