terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Aventura 19: O Filho do Encantador de Cavalos, Ano 493, Parte Final


Após retornarem da missão que foram designados por Sir Amig como batedores, Sir Enrick, Lady Marion e o Barão Algar aguardam o amanhecer para iniciar o ataque com o seu exército contra a antiga cidade de Kineton, transformada agora pelos saxões em um assentamento bárbaro.

Conde Roderick: “Estas são as minhas ordens. Barão Algar prepare as suas tropas, você lutará na parede de escudos. Sir Enrick prepare a artilharia e comande os seus lanceiros e o Esquadrão da Morte. Lady Marion, quero você comandando os arqueiros. Quero fogo e trebuchets derrubando tudo pela frente. Bote fogo no rabo desses desgraçados. Vamos entrar pela porta da frente.”

Sir Amig: “Atenção Cavaleiros preparem seus soldados! Sargentos quero isso pronto em algumas horas. Vamos a guerra quando os primeiros raios de sol surgirem no leste! Temos que espantar os ratos de nossa casa!”

No acampamento tudo se intensifica. As carroças vão sendo esvaziadas e os feixes de flechas vão sendo distribuídos. Barris cheios de azeite vão sendo cheios. Os homens ajustam as suas proteções e afiam as suas armas. As armaduras dos cavalos são colocadas e os escudeiros lustram as lâminas de seus mestres com vinagre e areia, enquanto outros ajustam as correias das proteções peitorais. Os pagãos pintam o seus corpos de azul e os cristãos fazem orações. Os cavaleiros vestem suas luvas e ajustam as suas esporas.

Sir Jakin: “Enrick, Algar e Marion! Todos os Cavaleiros reúnam-se! Façam um círculo ao redor da fogueira. Que cada fio de cabelo atirado ao fogo represente um pouco de nossa humanidade que deixamos cada vez que matamos em campo de batalha. Chegou a hora amigos! Estamos juntos! Na vida ou na morte!”

Sir Dylan: “Com Lealdade e Força!”

Sir Dalan: “E Honra e Justiça!”

Sir Verius: “Aos salões ou viver para mais uma batalha!”

Sir Alain: “Com o sangue do inimigo ou o seu próprio, protegendo o seu irmão!”

Sir Amig: “Com as minhas armas trazendo a morte!”

Sir Bag “Por vocês, com as próprias mãos, arrancando a alma de meus inimigos.”

Conde Roderick: “E no final de tudo voltar se for preciso ao pó de onde viemos e para onde vamos, sem medo do que nos espera depois.”

Barão Algar: “Pelos Deuses que guiarão nossos amigos e inimigos para o outro lado do véu."

Sir Enrick: “Lutemos por nossos herdeiros e família!"

Lady Marion: “E por aqueles que nascerão no futuro em uma Logres de paz!"

Conde Roderick: “Que assim seja!”

Sir Amig: “Cavaleiros preparem-se vamos à guerra!”

Então um bando de corvos passa voando por cima do círculo de cavaleiros.

UNIDADE DE ALGAR

Algar chega em sua unidade e seus homens estão prontos. Nos seus escudos redondos foi pintado o seu brasão. Os lanceiros, homens com machados, martelos de guerra, manguais e massas o aguardam. Eles usam armaduras de couro e os mais graduados usam cotas de malha. Um grupo com vinte homens está usando peles de lobo. Em seus escudos pintaram dois olhos vermelhos com o seu próprio sangue. Muitos deles usam garras na mão da empunhadura da arma. Feitas com diversas pontas de adagas ajustadas a uma espécie de luva de ferro por cima da luva de couro. O Rosto é pintado de vermelho e os dentes da cabeça da carcaça se projetam de cima e de baixo e nas órbitas dos olhos, que um dia foi de um lobo, existem bolas de ferro prateadas gravado um martelo em uma e um corvo em outra . Todos usam machados de arremesso pequenos de duas faces e botas de peles.

Sargento Tegfryn: “Homens em forma. Barão Algar estamos prontos! Entraremos na primeira brecha que tivermos na muralha e faremos uma parede de escudos que empurrará o inimigo para dentro e fará com que esses desgraçados se arrependam de ter pisado na Britânia. Ordens meu senhor?”

Barão Algar: “Quero todos lutando como filhos de Odim! Com coragem, honra e força. Não lhes peço mais nem menos. E quando as lâminas começarem tirar vidas e homens a morrerem quero que se mantenham lutando até o fim. Logres depende disso.”

Soldados: “Sim senhor!”

UNIDADE DE ENRICK E MARION

Ali onde os lanceiros, infantes e arqueiros de Marion e Enrick se preparam, os trebuchets vão sendo montados. O Fazedor de Viúvas, O Quebrador de Almas e o Mensageiro de Hades estão com as suas partes sendo parafusadas e atadas pelos engenheiros. Os meninos arqueiros estão todos com as suas máscaras e pintados para a guerra. Até as outras unidades amigas os olham com certo receio.

Sir Bag grita no meio de seus soldados: “Tá louco que cagaço esses meninos desse jeito menina de ouro!”

Padre Carmelo: “Lady Marion! Os meninos estão prontos e os outros arqueiros de outras unidades se juntarão a nós no ataque. Teremos cinquenta homens no total.”

Marion: “Muito bem Padre!”

À distância o que parece ser o líder do Esquadrão da Morte à Cavalo olha para Enrick. Ele inclina a cabeça usando um crânio humano cortado ao meio, como máscara, envolto por panos negros. Seus escudos de pele humana são ajustados e as suas espadas cheias de óleo. Os ossos de cabeça de cavalos, carregados como estandartes, tem suas órbitas vazias, cheias da mesma substância.

Sir Bag olha com uma cara de medo e beija a lua pagã pendurada no seu pescoço. Muitos cristãos fazem o sinal da cruz com a visão da tropa infernal.

Sargento Wistan: “Sir Enrick, os trebuchets estão prontos e as carroças com barris de fogo estão carregadas. Os homens do Pântano estão preparados junto com a infantaria! Iremos empurrar os trebuchets. Os engenheiros irão esperar passar a coluna de nossa força e depois irão derrubando as árvores e calçando o caminho com madeira para as armas não atolarem no barro da floresta. Vai demorar. Mas é o único jeito!”

MARCHANDO PARA A GUERRA

Então, o pequeno exército formado por quatrocentos homens se prepara para partir. Conde Roderick montado à frente desembainha a sua espada e aponta para frente.

Conde Roderick: “Exército de Salisbury! Marche!”

Com onze cavaleiros, cinquenta arqueiros, vinte lanceiros, trezentos infantes e quinze cavaleiros do Esquadrão da Morte à Cavalo, eles deslocam-se para o norte pela antiga e desgastada estrada romana.

Conde Roderick: “Comando do batalhão de arqueiros Lady Marion! Comando da infantaria Barão Algar no flanco direito. Comando dos lanceiros, daqueles cavaleiros renascidos do inferno e artilharia, Sir Enrick no flanco esquerdo. Sir Amig comandará o centro comigo. Prestem atenção em meus comandos Cavaleiros. Não é fácil invadir um lugar! Qualquer erro e podemos por tudo a perder. Principalmente a vida da família de Sir Enrick!”

Enquanto a marcha ocorre dois a dois com os estandartes coloridos cobrindo a paisagem, o Barão Algar segue liderando em sua montaria seus infantes e incentivando seus homens.

“Sou um servo do Barão Algar
Sou um servo do demônio do norte
Para todos os nossos inimigos
Não há outro destino senão a morte”

Barão Algar: “Essa é pra você Bag!”

“Minha mãe me disse antes deu sair
Leve esse casaquinho pra não se resfriar
Meu filho, não esqueça a sua espada
Pra pegar um saxão e pregar de porrada

Somos a cria de Fenrir
Nascemos para guerra, temos uma missão
Voltar para Logres vitoriosos
Com uma trilha de saxões mortos pelo chão!”

A coluna inteira fica empolgada com as músicas e brincadeiras do Barão e conseguem esquecer por alguns instantes o medo do combate. Mesmo sabendo que muitos tombarão sobe a lâmina inimiga.

Conde Roderick: “Sir Alain e Sir Verius protegerão Marion! Sir Dalan e Jakin quero vocês com o Barão! Sir Bag e Dylan ficarão comigo e Amig. Silêncio total quando entrarmos na floresta, ouviu Algar? Sigamos em frente!”

Então a força entra na floresta. Na vanguarda seguem o Conde Roderick e Sir Amig junto com os arqueiros de Marion. Logo depois Algar e a infantaria e na retaguarda os Lanceiros. Lá atrás, lentamente, vem as armas de arremesso. Ao redor da coluna, ora na esquerda, ora na direita pode se ver, por entre as árvores e folhagens, os cavalos negros do Esquadrão da Morte à Cavalo com Sir Enrick em sua armadura negra os liderando. Padre Carmelo montado em seu pônei se aproxima do Flecha Ligeira.

Padre Carmelo: “Senhor! Senhor! É urgente. Os trebuchets não passam por aqui. E para os usarmos nesta mata fechada precisamos de uma área aberta à frente e o caminho ser calçado por tábuas. A floresta é muito úmida e a terra fica muito mole. Com o peso dessas armas nunca mais tiraríamos elas dali.”

Engenheiro Catell: “Senhor, teremos que derrubar as árvores fazendo uma trilha até perto do inimigo. Temo que o barulho os alertem. E depois ainda temos que limpar uma clareira para as armas dispararem e os braços terem mobilidade.”

Sir Amig se aproxima cavalgando vindo lá da frente: “Que confusão é essa aí atrás Enrick? O inimigo vai ouvir vocês daqui até a terra dos Pictus! Porque você não pede para o Algar cantar aquelas músicas que vinham animando os soldados, o Dalan toca e você e o Padre Carmelo dançam. Talvez o inimigo se anime e saia de dentro das muralhas. Que diabos está acontecendo?”

Sir Enrick: “Estamos com problemas para transportar os trebuchets sogro.”

Sir Amig: “Siga-me Enrick!”

Ele passa por Algar.

Sir Amig: “Venha Barão! Apesar de acharem que sabem tudo os senhores são inexperientes ainda.”

Sir Amig, Enrick e Algar vão até Marion: “Filha! Quero que pegue os dezesseis Ventos do Pântano e se desloquem sorrateiramente. Matem todas as sentinelas dos saxões. Não pode haver barulho ou perderemos o ataque surpresa. Então colocarei os homens em linha aguardando a derrubada da paliçada. Algar e Enrick vão junto para protegê-los. Entenderam bem? Cuidado, não destruam a surpresa do nosso ataque! Sem sentinelas limparemos a área para o tribuchet sem chamarmos muita atenção.”

Os dezesseis meninos arqueiros se movimentam rápido e em total silêncio. Marion os acompanha com a mesma habilidade. Algar e Enrick os acompanham a pé pelos flancos. A floresta com o chão de terra molhado e raízes grandes faz com que se caminhe com certa dificuldade. Eles se aproximam protegidos pelas árvores se ocultando atrás dos troncos das árvores, de arbustos e de pedras fundindo-se a paisagem. Os meninos sempre olhando para Marion aguardando o momento de atacar. Eles localizam quatro sentinelas conversando próximo ao portão fechado do assentamento. Seguindo o gesto da guerreira as flechas saem dos arcos em total silêncio. Atravessam em um piscar de olhos os arbusto arrancando algumas folhas e atingem os sentinelas matando-os. Um deles, em um último segundo, vê algumas máscaras. Ele fica apavorado mas morre instantaneamente. Os meninos matam a primeira vez. Ao mesmo tempo as sentinelas nas torres são mortas por Marion e Enrick, cada uma com uma flechada certeira.

O que era para ser uma proteção para os saxões passa a ser o seu ponto fraco. Silenciosamente os heróis e os Ventos do Pântano se deslocam e se posicionam atrás de troncos de carvalhos e da vasta folhagem. Novamente Marion, Enrick e os meninos atacam com as suas flechas silenciosas. Elas voam com tanta precisão e força girando em seu próprio eixo que atingem os outros quatro sentinelas embaixo na lateral da paliçada e os outros dois lanceiros da outra torre ao mesmo tempo que as cordas dos arcos voltam para a sua posição inicial.

O grupo caminha novamente. E chegam na parte de trás do assentamento onde não existe portão. Somente os lanceiros no alto da torre estão ali como sentinelas. Marion mostra para os meninos onde os alvos estão e ela e Enrick disparam. As flechas saem dos arcos de baixo para cima. Entram com uma precisão cirúrgica pela janela da torre e os corpos caem sem vida espetados um no crânio e o outro em um dos olhos.

Circulando mais uma vez protegido por samambaias e arbustos. Eles vêem os homens que estão colocados na outra lateral da paliçada. Os saxões conversam em grupo e riem. Um deles parece ter visto algo na mata e caminha na direção de Marion e seus arqueiros. Ao entrar na mata ele dá de cara com a guerreira usando a sua máscara de guerra e assustado saca a sua espada lentamente andando para trás para o lado oposto. Então olha para o lado e muito assustado dá de cara com um Vento do Pântano. Em pânico caminhando e perdido por entre as folhagens ele para na frente de Algar sem perceber a presença do cavaleiro. O Barão abaixado e oculto por um tronco caído e coberto pelas folhas de uma samambaia se levanta como um lobo saindo de uma toca e gira seu machado em um golpe em arco da direita para a esquerda. A cabeça de sua vítima voa para longe e some por entre as folhagens. O corpo do bárbaro cai inerte enquanto um esguicho de sangue borrifa o rosto do Barão. Ele olha para os garotos e solta um grunhido assassino.

Barão Algar: “Ruuuuuu!”

Os meninos arqueiros adoram. Os outros saxões olham para a mata e vão atrás do companheiro desaparecido. Eles chamam pelo bárbaro até que pisam em algo. Um deles se abaixa por entre as folhas de uma planta e ergue a cabeça de seu amigo. Os meninos e Marion se revelam. Quando vêem as máscaras do Vento do Pântano eles começam a caminhar para trás aterrorizados retirando as suas armas das bainhas. Em menos de uma batida de coração estão todos mortos. Rapidamente o Flecha Ligeira e sua mulher, Marion Stanpid de Tilshea neutralizam a última torre de vigias. As sentinelas estão todas mortas.

Eles retornam a coluna do exército de Salisbury que os aguarda há alguns quilômetros dali.

Conde Roderick: “Como foram Marion?”

Marion: “Todos mortos Conde.”

Conde Roderick: “Bom trabalho Milady! Sigamos então! Acho que agora ninguém os perturbarão enquanto transportam e preparam as clareiras para os trebuchets Sir Enrick. Quando o inimigo perceber que suas sentinelas estão mortas já vai ser tarde demais. Mãos a obra.”

Os engenheiros auxiliados pelos homens da infantaria, usam machados e derrubam árvores e calçam o caminho de barro. Os trebuchets vão sendo empurrados mata à dentro. Uma clareira é limpa e Sir Enrick posiciona todas as suas armas de artilharia. As carroças com pedras e barris incendiários cheios de azeite são descarregados. O exército de Salisbury, se posiciona para a face sul da paliçada.

Conde Roderick: “Tomem seus postos comandantes! Flancos, movam-se!”

A coluna se desmancha e os flancos começam a tomar seus lugares. No centro Conde Roderick, Sir Amig, Sir Bag e Dylan. À frente Lady Marion, com Sir Alain e Sir Verius sempre acompanhando de Urco e seus cinquenta arqueiros. Na esquerda o sargento Wistan, Padre Carmelo e cento e sessenta soldados entre lanceiros do Pântano e o Esquadrão da Morte à Cavalo. Na direita Barão Algar, Sir Dalan e Jakin e mais cento e sessenta infantes estão com Tegfryn. A paliçada alta de madeira surge à frente em um descampado cercado pela mata. Lá atrás, comandando os trebuchets, acompanhados dos engenheiros e auxiliares para carregar as armas de arremesso está Sir Enrick montado em Hefesto. Tudo está em silêncio. Só se ouve o canto dos pássaros. Então a voz de Roderick se transformar.

Conde Roderick: “Por favor Sir Enrick! Tenha a honra de iniciar o ataque com os seus trebuchets!”

Primeira Hora:

Oswalt, o escudeiro e irmão de Sir Enrick, de quatorze verões está empolgado com o início do combate.

Oswalt: “Irmão! Vou subir na árvore pra te dizer o que está acontecendo lá dentro!”

Então o menino com bastante agilidade com a espada pendurada na cintura sobe bem alto em um velho salgueiro.

Oswalt: “Lá dentro parece tudo calmo. Eles não perceberam ainda o que está acontecendo. Andam de um lado para o outro fazendo suas tarefas. É um dia normal para os malditos saxões.”

Sir Enrick: “Carregar o Quebrador de Almas! Coloquem os crânios juntos com ela. Estamos entregando para os bárbaros as almas que eles ceifaram. Atenção! Disparar!”

O trebuchet assobia enquanto o braço enorme de madeira corta o ar. Quando a enorme arma atinge o ápice, uma arremessadeira de couro solta a pedra que voa em trajetória de arco e cai em direção a paliçada inimiga. Os integrantes da força, observam as pedras passando alto por suas cabeças e comemoram quando elas atingem os portões, vergando a murada para dentro e rachando a madeira. Algumas amarras que seguravam as toras pontiagudas, que formam a murada de quatro metros de altura, estouram.

Oswalt: “Eles perceberam que algo está acontecendo irmão! Se assustaram e está uma correira lá dentro. Parecem estar se armando.”

Sir Enrick: “Quero fogo! Prepararem os barris incendiários!”

Os auxiliares rolam os barris até a arma e os evolvem na atiradeira de couro. Com tochas as acendem os transformando em bolas de fogo. Rapidamente elas são arremessadas deixando rastros de fumaça no céu. Quando se chocam contra a paliçada o óleo dos barris se espalha e fogo e fumaça tomam conta do portão. E assim O Mensageiro de Hades, o Quebrados de Almas e o Fazedor de viúvas disparam. Duas pedras acertam o flanco direito onde está Algar. Matando dez homens e assustando a tropa. Lá dentro, quando os saxões escutam o som da morte se aproximando, gritam, os cachorros latem, o gado muje e os cavalos relincham. Depois vem o som do impacto. Então vem o choro das mulheres e crianças e o silêncio novamente.

Uma parte do assentamento foi destruído e muita fumaça negra sobe ao céu. Eles observam a paliçada ardendo em chamas e o fogo se espalhando pela madeira e as cordas que as amarram sendo consumidas. Com um ruído como se fossem dezenas de árvores se quebrando e estalando a paliçada vem abaixo. Os gritos vindos lá de dentro tomam conta do lugar . A fumaça se espalha pela mata formando uma neblina de cinzas e brasa cobrindo o céu. O exército de Salisbury pode ver, por entre a cortina densa na área sem árvores, de cem metros de extensão, na entrada da cidade, uma parede de escudos se formando lá dentro.

Sir Bag: “Bom trabalho Flechinha!”

Um guerreiro saxão, montado em um cavalo Stanpid, circula a parede de escudos bárbara. Ele grita com os seus homens. Os bárbaros vão fechando uma linha, escudo com escudo. Em seu cavalo estão pendurados escalpos humanos enfeitando a cela da montaria. Dentro do assentamento a terra é úmida e preta.

Os heróis parecem conhecer o chefe inimigo. Ele é igual ao prisioneiro da torre de Bourton. Seu irmão gêmeo. Então dois jovens são trazidos à frente dos guerreiros. Um menino e uma menina. Os dois loiros. Devem ter uns onze anos. São escravos. Eles são colocados de joelho para o lado de fora, na brecha aberta pela paliçada à uma distância onde passa um cavalo. Eles choram e olham ao redor assustadas. Eles são Britânicos.

Com um machado em cada mão o Comandante saxão contorna a parede de escudos e passa com sua montaria entre os dois jovens e golpeia. As cabeças dos dois caem espirrando sangue e os corpos inertes caem de lado sem vida em espasmos e tremedeiras. Os guerreiros inimigos comemoram! Uma espécie de feiticeiro vem saltando como um louco, mostrando os dentes e a língua. Usa uma pele de urso e é todo tatuado. Até mesmo no rosto. Tem cabelos armados, preto e lisos até a cintura. Ele pega o sangue e joga nos seus guerreiros e ergue uma cabeça em cada mão e fica mostrando para os soldados do Conde que parecem estar assustados com a cena macabra.

Conde Roderick: “Calma homens! Mantenham a unidade! Terão a chance de vingança em breve!”

Sir Bag: “Desgraçados!”

Urco late enlouquecido dando voltas no mesmo lugar.

Sir Verius: “Calma rapaz! Já chegaremos lá!”

Na retaguarda Sir Enrick enfurecido olha o feiticeiro que pula, cospe e faz caretas na entrada da murada.

Sir Enrick: “Disparem um barril incendiário! Agora!”

O barril em chamas é arremessado pelo Fazedor de Viúvas. A bola de fogo se choca contra o chão, há cinco metros, antes do feiticeiro, ela se espatifa espalhando o óleo em chamas cobrindo o saxão com labaredas e atingindo atrás dez guerreiros bárbaros na parede de escudos. O feiticeiro cai se debatendo em chamas e gritando enquanto morre carbonizado junto com os soldados inimigos. Agora é o exército de Salisbury que comemora e ri. Sir Enrick, com o rosto coberto e com a sua armadura negra cavalga erguendo seu estandarte de crânio de cavalo gritando ao redor do exército de Roderick. Os homens, entusiasmados, batem as armas nos escudos.

Segunda Hora:

A segunda hora do ataque se inicia com a floresta coberta de fumaça. Todos estão com os olhos ardendo e tetando respirar em meio a cortina de cinzas e fogo. Uma parede de escudos saxônica avança protegendo a parte da paliçada que caiu. Ela é formada por quatrocentos escudos. É uma parede tripla.

Conde Roderick “Hora de trabalhar Milady! Arqueiros ao ataque!”

Marion e seus arqueiros caminham buscando melhorar o alcance de suas armas. Ela olha por entre a fumaça. Então a parede de escudos inimiga, quando percebe os arqueiros se aproximarem, se encolhe esperando o ataque da arqueira. Por entre a cortina de fumaça cinza o inimigo vê as máscaras dos Vento do Pântano. Os saxões na parede de escudo ficam ansiosos. O Comandante atrás grita com eles para manterem a posição mas pelo menos quarenta deles fogem da formação sendo mortos instantaneamente por seus próprios irmãos de armas. Marion observa o vento lateral que sopra movendo fumaça e as copas das árvores ao seu redor.

Marion: “Compensem o vento. Aponte para a direita. Puxem o ar. Segurem firme. Disparar!”

Então as flechas sobem se espalhando no céu parcialmente encoberto para a direita e caem em trajetória vertical, empurradas pelo vento, sobre a parede de escudos inimiga. Os bárbaros erguem os escudos tentando se proteger. Algumas passam pelas proteções e atingem alguns saxões que caem gemendo de dor. Nem todos morrem imediatamente e se arrastam pelo chão. Os guerreiros puxam os mortos e feridos para trás. Pelo menos trinta inimigos estão mortos.

Sir Alain: “Que a Deusa tenha piedade dessas almas! Porque nós não vamos ter!”

Uns trinta saxões se movimentam atrás da paliçada em direção ao fundo. Os heróis vêem pontas de lanças. Então, o comandante guerreiro aponta seu machado para frente. E os lanceiros correm e atiram os projéteis por cima das sua linhas. As lanças de madeira escura e pontas de aço giram no ar e caem em cima dos arqueiros de Marion. Olhando contra o céu é difícil de enxergar as lanças caindo. O som cortando o ar é assustador. Então começam os grunhidos de dor e alguns arqueiros de Logres são atingidos. Os homens feridos se arrastam com as lanças grandes enfiadas por entre as costelas e peito em poças de sangue. Alguns imploram por ajuda. Outros choram tentando arrancar o grosso projétil. Por fim a maioria vai estremecendo e morrendo. Vinte e cinco arqueiros perdem a vida.

Conde Roderick: “Recuar Marion! Barão! Hora de matar os ratos que infestam a nossa casa! Deixem Wistan com trinta infantes reserva.”

A vanguarda da parede de escudo inimiga empunha suas lanças. E as apontam surgindo por entre os escudos. Na parte de trás surgem machados, espadas e martelos de guerra.

Conde Roderick: “Sir Enrick o segundo ataque será o seu!”

Sir Amig fala baixo no ouvido do Conde que concorda.

Conde Roderick: “Eu acho que é melhor você desmontar desse cavalo e ir buscar o que é seu meu rapaz! Vá com Algar. Mas quero o de volta para fazer o ataque com o Esquadrão da Morte. Eles só obedecem à você! Levem os lanceiros do Pântano.”

Então Sir Dalan e Sir Jakin se juntam com o Barão Algar e Sir Enrick no flanco direito.

Sir Dalan: “Primo! Flecha Ligeira! Jakin! Mais uma batalha! Mais uma parede de escudos! Nos vemos lá dentro, certo?”

Dalan saca as duas espadas se alongando e girando. Dando golpes no ar.

Sir Jakin: “Vamos mandá-los jantar nos salões essa noite!”

Jakin retira os seus dois manguais e estica as correntes com as duas bolas de ferro com espinhos. Sargento Tegfryn caminha à frente de sua fileira de infantes perfilados. Alto, sem elmo, cheio de braceletes dourados, com cabelos longos loiros. Com os braços fortes saindo da armadura de ferro sem mangas e com seu machado de duas mãos ele olha nos olhos de cada homem.

Sargento Tegfryn: “Homens! Treinamos duro o inverno inteiro esperando este momento. Não esqueçam que aqueles desgraçados ali estão vendo o seu mundo ruir. Acabar! E arrancarão os seus corações para defenderem suas famílias. E tentarão levar o maior número de almas junto com eles. Mas não existe glória sem sangue. Nem vitória sem lágrimas. Atenção guerreiros de Algar! Apresentar escudos!”

Então todos os homens, com toda energia e vontade, encaixam um escudo no outro fazendo um barulho alto da madeira batendo uma na outra. E uma parede de escudos com quatro segmentos é formada.

Sargento Tegfryn: “Será uma honra Barão e Sir Enrick! O comando é de vocês!”

O Barão Algar começa a bater com as suas armas no escudo e todos os seus homens fazem igual. Eles começam a gritar em um mesmo ritmo. Então a parede de escudos começa a caminhar. E a cada passo que dão o inimigo vai deixando a sua formação mais compacta e batem com as armas nas bossas de suas proteções fazendo um som compassado. Os bárbaros começam a gritar um com o outro. A medida que os dois lados se aproximam, em meio a fumaça, a adrenalina cresce.

A parede de escudos de Algar começa a correr. Do terceiro segmento da linha inimiga os heróis percebem uma fumaça branca. Dezenas de pequenas colunas sobem lá de trás. Então a segunda linha vem para frente e uma centena de boleadeiras giram com esferas de fogo na primeira fila. E ao comando do guerreiro saxão.

Comandante Saxão: “Kill them all, unleashe the hell!”

Elas alçam vôo e vêem em alta velocidade direto para os soldados de Algar e os heróis. Tegfryn ergue a mão.

Tegfryn: “Parar! Protejam! Escudos!”

Imediatamente eles param à meio caminho de serem atingidos e se abaixam colocando os seus escudos na cabeça. Quando as esfera se chocam eles percebem que ela é de couro e está cheia de líquido. Enrick e Algar se lembram de imediato do cheiro ocre do fogo grego. Quando ela atinge os homens a esfera de couro explode e espalha o óleo pegajoso pelo escudo e pela armadura se enfiando pelas brechas das articulações e pescoço e não parando de queimar. Dez homens ao lado deles largam as armas e escudos e começam a se debater e a gritar. Logo caem e os gritos terríveis não param enquanto saem fumaça de dentro de suas armaduras. O cheiro de carne queimada invade o ar. Algar é atingido e o fogo grego lhe invade a armadura. Tegfryn o atira no chão e enfia terra dentro de suas proteções. As queimaduras lhe ferem e ardem.

A segunda leva de projéteis cai em meio aos infantes de Algar. Um guerreiro é atingido no elmo e seu cabelo começa a queimar. Ele grita enquanto os outros tentam apagar jogando terra. Mas o fogo não se estingue e uma caveira desforme e fumegante usando gibão de couro e cota de malha que não sofreram nenhum dano. E o pior. O homem parece vivo. Algar levanta cambaleante e olha para o rapaz transformado em caveira fumegante.

Soldado: “Barão! Me mate pro favor!”

Algar com o seu machado corta a cabeça aliviando o sofrimento do pobre rapaz. Na terceira vez que os saxões atacam muitos homens saem da formação e recuam assustados e com terror nos olhos. Enquanto outros caem incendiados. Sir Enrick é atingido mas as placas de sua armadura o protegem do calor e o arqueiro recebe apenas queimaduras superficiais.

Sir Enrick: “Vamos homens! Acordem, levantem! Sigam em frente!”

Lá na retaguarda Marion está ao lado de Oswalt, o irmão de Sir Enrick.

Oswalt vê aquilo tudo e diz: “Meu Deus! Tenha piedade de nós!”

E Marion percebe que ele treme de cima de seu cavalo.

Lá no descampamento entre o exército de Salisbury e o inimigo protegendo a entrada do assentamento, Algar e Enrick tentam recompor a formação para poder avançar.

Tegfryn: “Barão! Não podemos ficar parados aqui! Eles irão atirar novamente!”

Barão Algar: “Vamos! Sigam em frente! O inimigo está rindo de nós! Sejam fortes! Filhos do corvo avancem! Comigo!”

Novamente os homens de Salisbury entram em formação e iniciam a marcha seguindo Algar e aumentam a velocidade. Os saxões apoiam suas pernas atrás e levantam os escudos com as armas por cima de suas proteções. Os dois lados começam a gritar. Então vem o estrondo enchendo a floresta. Um raio cai no meio da mata próxima. Os pássaros voam dos galhos ao redor assustados e os dois lados se chocam com extrema violência.

Começa o empurra, empurra. Os guerreiros sabem que uma brecha na parede de escudos representará a morte, mesmo para um bom espadachim. Estocadas por cima dos escudos e pelos calcanhares vem de todos os lados. Cheiro de suor. Grunhidos e dentes amarelados. Rostos com barbas longas. Cusparadas. Homens tombam dos dois lados sendo substituídos. Algar e Enrick estão mais uma vez no meio do caos mortal da parede de escudos.

Sir Dalan: “Vamos homens empurrem! Força! Joguem esses filhos da puta lá para dentro!”

Sargento Tegfryn: “Como no treinamento! O homem ao lado protege e o outro estoca! Mantenham o ritmo! Lembrem que o primeiro a cansar não viverá mais um dia.”

O homem ao lado de Tegfryn cai com o joelho furado por uma lança e grita no chão de terra preta se encharcado de sangue e de líquido transparente de dentro de sua articulação.

Soldado ferido: “Meu deus! Meus deus alguém me ajude! Por favor!”

Logo uma outra lança vem e lhe fura as costelas o silenciando fazendo-o vomitar sangue.

Sargento Tegfryn: “Fechem rápido! Fechem rápido! Vamos!”

A parede de escudos de Salisbury substitui o homem morto pelo da linha de trás mantendo a formação. Algar e Enrick estão no centro do combate. Como os flancos estão protegidos porque lutam na entrada criada pelos trebuchets na paliçada, o centro passa ser o lugar onde se tem que ter mais resistência e força e é onde se vence esse tipo de combate. Também é onde os guerreiros mais fortes e experientes lutam. Dalan está na esquerda e Jakin à sua direita. A linha vai fazendo força para frente e o inimigo faz o movimento contrário. Jakin e Dalan ajudam, sem escudos, empurrando um Algar e o outro Enrick.

Sir Dalan: “Vamos primo! Força!”

Barão Algar: “Grrrrrrrrr!”

Algar medindo força com o guerreiro saxão à sua frente empurra o homem para trás que cede algum espaço na formação inimiga. O Demônio do Norte estoca com a lança sagrada no pescoço de seu adversário saindo a ponta de aço pela nuca do bárbaro que faz uma careta de dor e vira os olhos. Instantaneamente o saxão agarra a lança do Barão e puxa tentando derrubá-lo entre as duas paredes de escudos para ser trucidado pelas lâminas e martelos de guerra inimigos. Algar se desequilibra, seus joelhos cedem mas ele, mesmo com dores das queimaduras sofridas pelo fogo grego e das torturas que sofreu no ano passado consegue se erguer e puxar seu adversário que tromba contra o seu escudo e tem a lança de Algar atravessada desde sua clavícula até sair pelas costas.

Enrick leva um encontrão tão forte de seu adversário, atingido pela bossa de ferro do escudo, que se desequilibra e dá dois passos para trás. Para não cair o flecha ligeira encaixa a cabeça de seu martelo de guerra no escudo inimigo puxando e abrindo a guarda inimiga. Rapidamente uma martelada rápida acerta o meio do rosto do bárbaro, fazendo a sua barba, olhos e nariz afundarem em uma massa disforme de carne e sangue.

Sir Dalan agachado usa a espada curta na esquerda estocando os calcanhares saxões. Enquanto uma chuva de machados tenta cortar o seu braço esquerdo respingando lama. Jakin de pé o protege girando um mangual na frente e golpeando por cima. Tirando lascas dos escudos de tília do inimigo. No terceiro golpe Jakin crava a ponta da arma no lado esquerdo do saxão à sua frente e arranca, com os espinhos de aço da esfera, o olho do homem que urra de dor fazendo-o tombar com a mão no rosto cheio de sangue em um gruído agudo.

Jakin: “Grite bastardo! Arrancarei o outro se levantar a cabeça da lama!”

Sir Dalan consegue cortar o tendão de aquiles do outro homem à sua frente que cai de joelhos. Ele protegia o outro saxão que Sir Jakin abateu. Sem ter quem o proteger por cima o homem não percebe que está vulnerável. Então Dalan se levanta um pouco acima dele e por entre dois escudos ele grita para Enrick.

Sir Dalan: “Abrir!”

Em uma fração de segundo o Flecha Ligeira se desloca lateralmente. Um tempo imperceptível. O homem ao lado do outro saxão, alvo do ataque de Dalan, tenta estocar Enrick, sem espaço para golpear, com uma lança. Mas Enrick se abaixa e o golpe passa por cima de seu ombro.

Gotas de sangue fazem uma trilha molhando os escudos. Os heróis então vêem o saxão caindo para trás com uma perfuração na altura da axila, direta no coração. O que atacava Enrick volta para a sua linha da parede inimiga, enquanto o exército de Salisbury avança fazendo o inimigo recuar alguns metros para dentro do assentamento.

A parede de escudos inimiga começa a ceder e os homens liderados por Sir Enrick e o Barão Algar rompem a primeira linha. Os soldados bem treinados e bem preparados fisicamente durante o inverno tem superioridade. A brecha começa a surgir. Os saxões começam a gritar em pânico. Lá dentro as crianças e adultos se abraçam chorando e correm para o fundo da paliçada aterrorizadas. O comandante saxão com o cavalo não deixa os homens recuarem. Quando a força vai enfraquecendo e o número de homens diminuindo ele desce da montaria e entra no meio da confusão. Ele arremessa um dos seus machados que entra de lado no rosto de um infante de Algar pegando desde o olho esquerdo, nariz, arrancando o seu maxilar fazendo com que o homem caia tremendo com o choque do trauma sem boca, se afogando em sangue sumindo por entre o combate. O chefe saxão então pega um dos escudos caídos e o seu outro machado e entra na parte central do caos da batalha.

Terceira Hora:

Na terceira hora de combate o fogo, carregado pelo vento, se espalhou pela vila e por grande parte da paliçada. Existe confusão por toda parte. O pânico se instaurou lá dentro. O que era uma fazenda agora se transformou em um amontoado de escombros e morte.

Conde Roderick: “Marion, em breve a parede de escudos inimiga cairá. Aí estarão livres para atacar! Quero todos os guerreiros inimigos mortos. O saque também é de vocês homens! Sir Bag, Sir Dylan, Sir Amig, Lady Marion, Sir Verius e Sir Alain quero todos invadindo. Mas por hora guardem os seus postos, o Barão e o Flecha Ligeira ainda tem trabalho a fazer!”

Sir Amig fala com o Conde Roderick e não dá para ouvir dali o que conversam pelo barulho do combate. Então o Conde parece concordar com ele e fala.

Conde Roderick: “Marion, circule até a parte de trás da paliçada e atire, por cima da murada, nos aldeões que estão se protegendo ali. Isso acabará com a moral desses saxões que estão lutando. E será o fim deles. Provarão do próprio veneno. Depois volte para fazer o ataque frontal como infantes. Toda ajuda é necessária. Agora vá!”

Marion: “Atenção arqueiros! Comigo! Marchem!”

Marion se desloca a pé com os arqueiros. Os Vento do Pântano seguem-na em uma coluna. Os outros arqueiros sofrem para alcançá-los. Sir Verius e Sir Alain cavalgam protegendo os flancos. Urco cheira o ar. Derrepente o cachorro para e late para o alto. Marion olha para cima e só tem tempo de saltar, com grande reflexo e habilidade para a esquerda. Duas lanças são arremessadas de cima da torre e viajam na direção dela. Ao mesmo tempo Sir Alan, apoia o seu pé no estribo e salta de seu cavalo com o escudo tentando protegê-la. Sir Verius tenta manobrar o seu pônei mas é tarde demais. Uma das lanças erra o alvo e outra é desviada alguns centímetros raspando no escudo de Sir Alan. A ponta de metal rasga o bracelete de couro da arqueira abrindo um corte superficial em seu braço esquerdo. Rapidamente uma chuva de flechas disparadas, pelos Ventos do Pântano, acertam os lanceiros na torre, oito flechas cada um, que caem lá de cima um para o lado de dentro do assentamento e o outro com as costas na paliçada pontiaguda que fica transpassada em sua barriga, explodindo em sangue e tripas.
Sir Alan ajuda Marion a se levantar.

Sir Alan: “Essa foi por pouco! Está bem Milady?”

Marion: “Sim! Obrigada! Sigamos, temos uma missão para cumprir!”

Marion e seus arqueiros chegam na parte de trás da paliçada. Só se ouve uma comoção vindo lá de dentro. Os aldeões saxões não os vêem. O tiro é difícil. O alvo está encoberto pela paliçada. Os arqueiros parecem ressabiados em atacar mulheres e crianças.

Marion: “Vamos! Ataquem sem medo! São saxões! São cruéis! Eu vi o poço dos escravos cheios de britânicos sofrendo indefesos! Poderiam ser seus filhos, suas mulheres ou seus pais!”

Sir Verius: “Vamos homens! Vocês viram o que estes bastardos fizeram com todos os pobre coitados que vimos no caminho. Somos eles ou nós!”

Marion: “Será um disparo difícil. Na vertical. Mas temos que fazê-lo para poupar as vidas de nossos soldados.”

Marion observa as folhas das árvores balançando e percebe a direção do vento.

Marion: “Arqueiros! Disparar!”

Então as flechas saem quase em um ângulo de noventa graus. Sobem quase duzentos metros e começam a cair. Eles escutam os projéteis assobiando enquanto corta o ar e gritos de pavor na língua dos bárbaros. Mais de quarenta crianças, velhos e mulheres são alvejados quando as flechas mortais caem mudando o rumo da batalha.

Quando Enrick e Algar ouvem as flechas caindo e vêem por cima do combate os bárbaros sendo alvejados. Muitos saxões na parede de escudos olham para trás e ficam desesperados quando vêem suas famílias serem atacadas. A moral e a desorganização começa a deixá-los confusos em ir até lá ajudá-los ou continuar lutando. Muitos morrem tentando ver o que está acontecendo. A parede inimiga afrouxa em muitos pontos.

Algar com visão estratégica em meio ao caos percebe a oportunidade.

Barão Algar: “Vamos homens! Filhos do Corvo! Empurrem! Juntoooooos!”

O Sargento Tegfryn está posicionado mais a esquerda de Algar combatendo. O cabelo já cheio de sangue e o machado golpeando hora em cima e depois embaixo sempre tentando empurrar o inimigo para dentro do lugar.

Sargento Tegfryn: “Vamos! Lutem, Golpeiem! Abram espaço para Sir Enrick e o Barão passarem, vamos!”

Enrick e Algar sentem que o inimigo está cansando e cedendo espaço. Com muitos deles tombando. A confusão causada por Marion faz com que a linha inimiga perca sua vontade de lutar e começa a perder a formação. O cansaço dos dois lados já pode ser sentido. O suor, os músculos tremendo e queimando de esforço. Alguns homens não resistem e entregam suas vidas por exaustão. Um antebraço voa sem corpo no meio da confusão. Um cadáver preso por um homem de cada lado da força do Barão jaz inerte com o rosto desfigurado. Os heróis precisam resistir a qualquer custo para vencer. Por vezes a visão fica nublada de fadiga. E os golpes de ambos os lados ficam lentos e sem muita eficiência.

Um saxão ataca Algar com um machado. O saxão com barbas e cabelos pretos longos saindo de dentro do elmo, alto e forte como uma montanha de músculos, gira a pesada arma por cima de sua cabeça e desce com força. A lâmina enterra no escudo de Algar e na parte de dentro da proteção surge o aço afiado do machado à centímetros do rosto do Barão. Algar se aproveita e com o homem preso pela madeira de tília puxa o inimigo para frente. O bárbaro cambaleia quando a arma se solta o desequilibrando e com um gemido seco ele morre com a lança do Demônio do Norte enterrada por entre suas costelas.

Enrick Flecha Ligeira escapa de um golpe que passa rente a sua cabeça. O inimigo se curva com o peso de seu martelo. Enrick dá um chute no meio do seu rosto fazendo o homem vergar para trás e ao mesmo tempo golpeia com o seu martelo de cima para baixo em seu elmo em formato ogival. O aço se arrebenta, junto com o crânio do inimigo, que cospe dentes e tem a sua massa encefálica escorrendo pela testa até pingar pelo queixo e o homem estremecer em convulsões no chão até a morte.

Então, bem no centro, a parede de escudos inimiga, no segundo segmento, desaba. As duas pontas que sobram não tem outras almas para substituir os mortos que jazem aos seus pés. Uma brecha com não mais que cinco metros surge à frente de Algar e Enrick. O inimigo já perdeu metade de seus guerreiros.

O primeiro a pisar dentro do assentamento é Enrick vestindo a sua armadura negra, com o elmo de cavalo e a longa crina descendo do topo da cabeça até as suas costas. Na terra preta molhada de sangue ele olha para os dois lados. Só restam aqueles dois pequenos flancos tentando sobreviver. O resto dos moradores estão lá perto da paliçada do outro lado, entre muitos corpos e choro. Os infantes de Salisbury vem atrás. Alguns para a esquerda, outros para a direita atacando os saxões pelas costas, enquanto Tegfryn aguenta firme na frente com os outros infantes com as linhas que sobraram. Sir Dalan e Sir Jakin os seguem.

Conde Roderick: “Atenção homens! Vamos acabar com isso! Sargento Tegfryn avançar precisamos de espaço! Cavaleiros comigo! Preparar Carga! Wistan prepare o ataque no flanco direito!”

Sargento Tegfryn: “Sairemos no último instante Conde! Fiquem formados! Não se movam! Guardem posição! Vamos prendê-los entre as duas formações até a cavalaria chegar! Recue Sir Enrick. O Esquadrão está lhe esperando!”

Então Sir Enrick, de dentro do assentamento, olha para a retaguarda de seu exército. Ele acena para o Esquadrão da Morte à Cavalo. Todos os Cavaleiros Negros Sine Nomine preparam-se. O Flecha Ligeira assobia. Um silvo agudo e continuo que faz todos os cavalos moverem suas orelhas e olharem para o arqueiro. O Filho do Encantador de Cavalos fascina até mesmo o inimigo. Hefesto, parte em uma carga alucinada em um trote veloz como uma flecha. O Esquadrão da Morte à Cavalo segue Hefesto com as suas lâminas flamejantes bradando-as ao vento.

O Sargento Tegfryn aguarda a chegada da cavalaria lutando e olhando para trás, esperando o momento certo de sair dali. Hefesto, o corcel de batalha, trota a toda velocidade à frente. Atrás o Esquadrão da Morte com as armas em punho e por último o Conde Roderick e os outros Cavaleiros em formação o seguindo em uma carga veloz.

Conde Roderick: “Cavalaria avançar!”

Terra negra é arrancada do chão. O chão treme. As árvores ao redor viram uma mancha. O sargento Wistan corre com a infantaria reserva atrás da cavalaria e ao seu lado de batina e sandálias romanas, enlouquecido com uma gladius e um escudo nas mãos, o Padre Carmelo. Wistan está sem escudo e com uma Claymore e os seus olhos ardem em fúria. Tegfryn percebe a chegada da Cavalaria de Salisbury.

Sargento Tegfryn: “É agora! Saiam! Rápido! Saltem!”

Os infantes se jogam para o lado deixando descoberto o flanco esquerdo para a cavalaria. Os saxões não tinham visto a aproximação de Hefesto e o Esquadrão da Morte. A maioria dos inimigos ficam congelados de medo vendo as armas em chama e os cavalos negros mostrando os dentes. Alguns bárbaros descem seus escudos e armas. Outros fecham os olhos esperando o impacto. Ao mesmo tempo a infantaria de Wistan e Carmelo cai em cima do flanco direito.

Sir Dalan: “Recuar Algar! Recuem! Recuem!”

Barão Algar e Enrick junto com Dalan e Jakin saltam rolando na lama encharcada de sangue. Alguns saxões fazem o mesmo.

Algar está caído ao lado de um bárbaro ruivo. Ele é muito forte e alto como um gigante. Os dois perderam as suas armas no meio da carga da cavalaria. O saxão olha para Algar e pula no Demônio do norte tentando estrangulá-lo. O saxão, por cima, bate a cabeça de Algar na terra. O Barão tonteia e sente a sua consciência sumir. Mas ele instintivamente, sufocado, sem ar, morde o ante braço de seu inimigo que por um segundo o solta. Tempo suficiente para Algar agarrar a sua cabeça e girar quebrando o seu pescoço. O gigante saxão coloca a língua para fora e cai morto em cima do Demônio do Norte que o afasta.

Enrick se levanta ainda armado. O saxão ao seu lado armado com uma espada tenta lhe estocar. O Flecha Ligeira coloca o seu escudo nas costas e saca o seu outro martelo. Flash e Thunder agora giram em suas mãos. Quando o bárbaro o ataca, Enrick trava seus martelos por entre a lâmina da arma inimiga. Sir Enrick gira e o saxão sai desequilibrado com as mãos no chão tentando se apoiar para não cair. Girando os martelos com força Enrick golpeia o homem por todo o tronco e costas. O bárbaro cai com a espinha e costelas quebradas.

Quando a cavalaria se choca com o que sobrou do inimigo agrupado e sem formação causa uma onda de choque tão forte que praticamente nenhum deles sobrevive no flanco esquerdo. A Cavalaria atropela e desmancha os últimos focos de resistência saindo dentro do assentamento. Corpos são arremessados em uma explosão de pedaços e membros dilacerados. Os poucos que sobreviveram ainda tentam lutar no flanco direito enfrentando ataques pela retaguarda e pela frente. A infantaria de Wistan começa a abater os últimos guerreiros inimigos.

Sir Jakin: “Vamos! Não podemos deixá-los escapar para chamarem reforços! Vamos ajudar Wistan!”

Neste momento Marion chega ã frente da paliçada e vê o combate ocorrendo na sua direita. Lá dentro todos os cavaleiros tomam parte na luta contra o último foco de resistência inimiga espalhando-se por todo assentamento. Sir Bag, quebrando o pescoço de um inimigo, depois enfiando a espada no estômago de outro e batendo a cabeça de um saxão no outro se vira animado com o rosto cheio de terra e sangue.

Sir Bag: “Venha ajudar esses molengas aqui menina de ouro! Venha lutar Marion!”

Marion corre para dentro do assentamento e enfrenta os sobreviventes saxões. Os Cavaleiros da Morte à Cavalo matam os bárbaros que não conseguem reagir à eles, congelados de medo. A adrenalina da matança é tanta que Algar entra em frenesi. Tudo fica em câmera lenta enquanto as espadas cortam, o sangue voa e o inimigo cai com expressões de dor.

O guerreiros saxões começam a correr desesperado para dentro do assentamento. Não existe mais formação. A luta ocorre por todos os lugares. Os heróis vêem ao redor dezenas de bárbaros caindo degolados. Outros decapitados. Alguns atropelados. O chão vira um lamaceiro de sangue e merda. O cheiro ferroso é forte. E centenas de corvos voam em círculo em cima do assentamento.

Marion saca a sua adaga. Um bárbaro ao lado dela é um homem de cabelos e barbas pretas. Com mais de dois metros de altura. O homem com dentes faltando e outros amarelados ri quando vê que enfrentará uma mulher. Ele usa um martelo de guerra de duas mãos. Ele está suado e sujo de terra. Marion pode sentir o cheiro do suor do inimigo lhe atacando. Ele desfere um golpe tentando quebrar as costelas da guerreira. Ela salta girando no ar acompanhando a trajetória do martelo e cai do outro lado. O homem ri e de trás de sua cabeça desce mais uma vez o pesado martelo visando matá-la. Marion desliza por baixo das pernas do bárbaro e enterra a lâmina de sua adaga nas partes baixas, no meio das pernas do saxão que caminha para frente se esvaindo em sangue e gemendo de dor largando o martelo de guerra. Marion salta e pelas costas aplica um chute no mesmo ferimento causado por sua adaga. O inimigo enorme se ajoelha e cai morto com a cara na lama.

Sir Enrick então olha para a sua esquerda. O filho de Octa e ele se enxergam. O saxão está em meio aos seus poucos guerreiros de elite que sobraram, com as melhores armas e armaduras. Então ele vem caminhando com o machado e o escudo abaixados olhando fixo nos olhos do Flecha Ligeira. Os seus guerreiros vem o protegendo, dando a vida por ele. Todos eles morrem quando os dois guerreiros estão frente à frente. O chefe saxão fala em um gálico cheio de sotaque.

Oswood: “Então você é o Filho do Encantador de Cavalos?”

Sir Enrick: “Sim. E você o filho de Octa! Já derrotei seu pai uma vez e farei novamente.”

Oswood: “É o que vamos ver. Sou Oswood, o colecionador de escalpos! Em breve o seu estará enfeitando a cela de meu cavalo!”

Sir Enrick: “Se lutar igual ao seu pai lhe garanto que não estarei.”

Oswood: “Será uma honra duelar com você discípulo de Epona! Vamos ver se o aço cantará a canção da morte para você ou para mim hoje! Sem guerreiros demônios para te ajudar eu provarei para os meu povo que você é um mortal como todos nós!”

Os dois caminham em círculo de frente um para o outro. Oswood, com um passo à frente, tenta acertar com o machado o pescoço de Enrick. O Flecha Ligeira se abaixa e contra ataca com o seu martelo. O chefe saxão apara o golpe em seu escudo. Novamente ele tenta mais um golpe mas na lama mole e escorregadia de sangue ele escorrega e cai para frente. Oswood levanta o seu machado acima da cabeça e golpeia Enrick tentando acertar atrás de sua nuca para o decapitar. Mas, aproveitando o impulso o Flecha Ligeira dá uma joelhada na parte debaixo do escudo do saxão. A borda de madeira bate direito no maxilar quebrando seus dentes e destruindo o seu nariz. Com os olhos cheios de lágrimas, sangue e dor Oswood cai de costas sem escudo e arma.

Não conseguindo enxergar direito o guerreiro saxão cobre seu rosto em um reflexo de proteção e a arma de Enrick golpeia pesada em seus ante braços quebrando-os e os deixando pendurados apenas pelos tendões, batendo direto em seu peito em um barulho ceco. Oswood vira os olhos tremendo e o peito afundado com o externo quebrado. Seu coração bombeia sangue por sua boca a cada batida de seu coração. Seus rosto com os cabelos loiros espalhados cheios de sangue e terra tem espasmos e treme. Enrick o carrega lhe arrastando pelo pescoço pelo chão de terra indo na direção do poço dos escravos deixando um rastro de sangue vermelho negro. Então Oswood retira o seu punhal e o crava no seu próprio peito. Seu corpo treme inteiro, ele dá o seu último suspiro e fecha os olhos sem vida.

Ali perto Sir Dalan gira para a direita escapando da morte quando um saxão o golpeia com um machado curto. Jakin usa um dois manguais que atinge o homem nas costas. A cota de couro o protege. Mas a bola de metal fica presa. Jakin puxa o saxão que se desequilibra e cai para trás abrindo a sua guarda. Dalan salta em direção à ele cruzando as duas espadas no pescoço do bárbaro em um movimento de dentro pra fora, o decapitando.

Enrick, Marion e Algar vêem de onde estão os Cavaleiros da Cruz do Martelo matarem os últimos sobreviventes inimigos. Sir Bag do seu cavalo com um enorme martelo atinge dois homens de uma vez. O primeiro, tem a sua cabeça aberta espalhando o seus miolos e fazendo com que a força do impacto lance o homem com o crânio fraturado atingindo o rosto do saxão ao seu lado, desfigurando-o com fraturas múltiplas, matando-o instantaneamente.

Sir Verius e Sir Alain desmontam e jogam os seus escudos, rasgam suas roupas e só com uma lança, pintados de azul, correm contra o inimigo. Urco late e espuma e os acompanha enfurecido. Eles se apavoram com a coragem dos celtas protegidos apenas pelos deuses e correm. Os saxões tentam escapar para o fundo do assentamento mas os celtas arremessam as lanças que os atingem as costas tirando suas vidas. Urco se ocupa pulando nas costas do terceiro e o retalha e o desfigura enquanto o homem caído vira e tenta se proteger com as mãos. Logo com um gemido longo é asfixiado pela mordida do rotwailler direto em sua garganta e é morto.

Padre Carmelo enfrenta um saxão que ri quando o padre se aproxima barrigudo de batina com o seu escudo e a gladius nas mãos. O bárbaro golpeia e Carmelo apara o ataque no escudo que perde um pedaço. Ele cambaleia um pouco para trás assustado. O saxão ri e desfere mais um golpe arrancando mais um pedaço do escudo. Carmelo olha sério e faz o sinal da cruz. O saxão caminha rindo displicente e chuta a parte que sobrou do escudo de Carmelo que quase cai quando a proteção voa de sua mão. Então para a surpresa do bárbaro quando Carmelo irá receber o golpe de misericórdia uma lança sai pelo seu peito ele cai de joelhos e seu corpo cai sem vida para o lado. Atrás Wistan ri.

Sargento Wistan: “Tem que comer menos e treinar mais Padre!”

Carmelo: “Se você não tivesse se metido Wistan eu tinha vencido esse aí fácil! O homem lá de cima gosta de mim!”

Sir Dylan e Sir Amig atacam dois saxões. O homem é forte e alto. Ele rapidamente puxa Amig de cima do cavalo e o joga no chão o acertando com a bossa do escudo. Sir Amig cospe alguns dentes. Dylan joga o cavalo em cima do homem que vira o rosto para olhar e neste segundo Dylan vê o sangue jorrando da boca do inimigo, virando os olhos e Sir Amig ajoelhado com a espada enfiada por entre as pernas do saxão.

Sir Amig: “Esse não vai mais ter filhos!”

Tegfryn duela sozinho com um homem perto do que sobrou da paliçada. Ele usa uma espada de duas mãos. O saxão o golpeia com um martelo de guerra. Ele dá um passo atrás e a arma passa perto de seu nariz. Então ele gira visando a nuca do inimigo que se abaixa. Tegfryn vai ser golpeado nas costelas quando o saxão gira. Então ele gira junto segurando no braço do inimigo que segura o martelo e o solta até que o homem bate com a cabeça na paliçada e cai sentado tonto. Tegfryn nas costas do saxão golpeia com a espada da esquerda para a direita e eles vêem a cabeça do saxão se separar do corpo e o tronco cair inerte para o outro lado.

Conde Roderick usa poucos movimentos para luta. Mas eles são letais e eficientes. Quando ele entra no assentamento manobra o cavalo com habilidade fazendo uma curva cortando trajetória de fuga do inimigo. Aqueles que tentam passar por ele são atropelados e os outros mortos só com um golpe ágil e letal da sua espada cravejada de pérolas na guarda.

O Esquadrão da Morte à Cavalo, cruza o assentamento e passa próximo as mulheres e crianças saxônicas sobreviventes. Eles se encolhem de medo. Então toma o caminho pela paliçada derrubada e some na floresta.

Sir Bag: “Dá uma abraço no capeta por mim! Eu, hein!”

Há cem metros dali, próximo a vila do assentamento Oswalt luta com um homem maior que ele. Bem maior. Usando um avental de couro, provavelmente é um ferreiro saxão. Algar e Enrick o vêem ao longe e percebem que o cavalo de guerra do jovem escudeiro, está morto com uma machadada no meio do crânio. O rapaz está sem arma nenhum nas mãos. O saxão com um martelo enorme de guerra gira a arma por cima de sua cabeça e está pronto para matá-lo.

(RT: Essa cena foi tensa porque não era para Oswalt morrer e tudo indicava que ia!!!)

Enrick está sem o arco. Marion não percebe o que está para acontecer. O Flecha Ligeira olha com piedade para o seu irmão. Algar olha para Gungnir e prepara para lançá-la. Ele vê o outro lado do véu. As auras vermelhas dos guerreiros. A lança que parece uma arma comum fica dourada e com a estória do mundo desenhada nela. Ele enxerga o seu alvo e atira a lança de Odim. Ninguém vê a arma que cruza através do véu o espaço e surge cravada no coração do ferreiro saxão. Quem está no mundo material vê o homem cair com um buraco no tronco morto em uma poça de sangue. Algar enxerga pelo véu ela virar um corvo e voltar pousando em seu ombro materializando-se novamente em suas mãos. Quando o saxão cai perfurado pela lança diante dos pés de Oswalt o rapaz cai de joelhos em choque com os olhos fixos e com o rosto cheio de barro. Ele não aguenta e começa a chorar.

Então o combate vai diminuindo. Os último inimigos são mortos próximo ao meio dia. No lugar onde existia uma parede de escudos inimiga existe um amontoado de corpos. Lá dentro existem cadáveres espalhados por toda a área do assentamento. Os feridos são degolados. Os heróis estão imundos de fuligem, barro, suor e sangue grudado nas armaduras e cabelos. Estão bem cansados. Um soldado começa a gritar: “Vitória! Vitória!” e ergue a sua arma. E todos gritam junto com ele! “Vitória! Logres!”, “Enrick, Enrick, Enrick!”

Padre Carmelo: “Temos cento e cinquenta feridos e cem mortos mestres! Todos os guerreiros inimigos estão mortos.”

Conde Roderick: “Atenção escudeiros! Retirem os nossos feridos. Coloquem-os nas carroças e os enviem para o conde Ulfius em Silchester. Deus os protejam. São cinco dias até lá. Não sobreviverão muitos. Sir Verius escolha dez homens para escoltarem esses infelizes até lá.”

Muitos infantes sentam no chão na entrada do assentamento e bebem o primeiro gole de hidromel em seus alforges. Outros cumprimentam seus amigos com tapas nas costas. Alguns sentam em choque olhando os cadáveres. Uns andam à esmo arrastando a espada enquanto caminham sem direção. A fumaça preta e brasas se erguem enquanto os corvos pousam em cima dos mortos. Alguns homens vasculham os cadáveres em busca de coisas valiosas. Uns arqueiros quebram os dentes de ouro de um morto. Um infante corta o dedo com um anel de um bárbaro. Outro degola um inimigo ferido.

Toda a força do Conde Roderick entra no assentamento. Os sobreviventes saxões, uns cinquenta, se amontoam do outro lado, perto da paliçada. São crianças, mulheres e velhos e estão assustados. Uns choram, outros ficam agradando o corpo de parentes mortos cheio de flechas.

Conde Roderick: “Espalhem-se soldados peguem o botim! Heróis! Vejo que todos estão bem.”

Sir Amig: “Lutaram como verdadeiros Celtas! Estão todos vivos graças aos deuses e isso é o que importa! Esses infelizes vão pensar duas vezes antes de tentarem se estabelecer em Logres!”

Conde Roderick: “A decisão do que fazer com estes desgraçados é sua Sir Enrick! Afinal você tem direito sobre a vida deles depois do que fizeram com a sua família.”

Sir Enrick: “Homens! Quando retirarmos as vítimas aí de dentro joguem os saxões e os cadáveres junto com eles.”

Quando é aberto o foço dos escravos o mal cheiro que vem de dentro é enorme. As pessoas estão ali amontoadas muitos doentes e magras. A mistura de dejetos humanos e urina formou um barro no fundo. Todos eles tapam os olhos com a luminosidade. Eles imploram por ajuda. Existem crianças, mulheres e homens ali dentro. Talvez cem pessoas. Algar e Marion se põe a ajudar aquelas pobres almas a saírem dali com cordas e escadas improvisadas.

Enrick reconhece duas crianças catatônicas. Magras, pele e osso. Com as roupas em farrapos. Seus irmãos mais novos. Quase irreconhecíveis. O menino Medwin com oito anos e uma menina Gwinith de nove. O pequeno irmão do Flecha ligeira se aninha em seu colo sem dizer nada.

Gwinith aponta para o lado da torre leste e diz: “Pai!”

Oswalt pegue os irmãozinhos no colo e diz: “Vá atrás do Pai! Eu cuidarei deles!”

Enrick passa pelos animais assustados próximo ao curral. Então chega em uma construção feita inteira de barro ao norte do assentamento. Nele foi escavada uma entrada cheia de runas ritualísticas e figuras de cavalos de madeira penduradas em mobiles. Lá dentro só escuridão. Enrick retira os dois rubis de seu elmo que imitavam os olhos de um cavalo. Coloca o óleo de dentro de seu alforje nas órbitas de metal do elmo e o acende. A medida que entra naquele lugar a umidade e o barro faz a temperatura cair bastante. Um corredor estreito parece o levar para baixo.

Nas paredes de barro existem inscrições de um gigante cheio de músculos saindo fogo de seus olhos com um martelo enorme montado em um cavalo flamejante. O corredor estreito parece agora descer. Então Sir Enrick segue em frente até que sai em um salão redondo. No teto existem inscrições e desenhos de criaturas que o Flecha Ligeira viu feitas no barro lá em cima. Nas paredes imagens de sacrifícios humanos e de animais.

Sir Enrick pisa em algo que se quebra debaixo de seus pés. São ossos de cavalos e de pessoas. Um homem curvado está sentado no chão no centro da sala. Ele está vestido com uma pele de cavalo e usa na cabeça um crânio do animal.

Gondrik: “Who is there? Quem está aí? Não me façam mal! Por favor!”

Sir Enrick reconhece aquela voz. É de Gondrik Stanpid, seu pai.

Gondrik: “Filho? Meu deus! É um milagre!”

Então ele gesticula procurando Enrick e sente o elmo em forma de cabeça de cavalo.

Gondrik: “Vejo que não esqueceu de sua herança filho.”

Sir Enrick: “Não esquecerei jamais pai.”

Então quando Enrick ilumina o rosto de seu pai ele vê que Gondrik Stanpid está bastante magro. O homem que um dia foi uma fortaleza parece ter perdido mais de quarenta quilos. Está bem sujo de viver no barro com a barba e cabelos longos brancos. Enrick vê os olhos de seu pai. Eles estão fechados, cauterizados pelo fogo.

Gondrik: “Estou aqui embaixo faz tanto tempo que nem me lembro. Eles achavam que eu era uma espécie de Deus por causa de nossos cavalos. Me chamavam de Horsa. Me jogaram nesse buraco e colocaram fogo em meus olhos porque o Deus deles enxergava assim. Sacrificavam pessoas e animais e atiravam aqui embaixo e eu tinha que me alimentar disso filho. Sem enxergar nada. Perdido na escuridão da minha alma. Sua santa mãe não resistiu. Ela ficou aqui comigo até que de tão fraca e triste atravessou o véu. Para mim foi um alívio. Ela não teve que sofrer tanto, pobre coitada. Os saxões queriam que eu fizesse o encanto para que surgisse cavalos como os nossos. Achavam que era magia ou algo parecido. Por isso pouparam minha vida. Os seus irmãos meu filho. Um dos mais novos, Drust, morreu no poço dos escravos. E os outros cinco, os meninos Guodloiu (12 anos), Cyndeyrn (13 anos) , Lloyd (15 anos) e as meninas Margiad (16 anos) e Glesni (17 anos) foram levados para algum mercado de escravos e podem estar em qualquer lugar neste momento. Talvez presos aos remo de piratas, trabalhando nas plantações em Sussex, enviados a Germânia para trabalhar nas minas. Quem sabe? As meninas que deus as protejam. Não quero nem imaginar.”

Então Enrick pega o seu pai no colo e o leva para a superfície surgindo por entre a fumaça negra que já toma conta do assentamento.

Conde Roderick: “Sinto muito rapaz!”

Sir Amig: “Seu pai está ferido nos olhos mas ele está vivo filho Enrick! E os pequenos ficarão bem! Se recuperarão. São jovens ainda.”

Sir Alain: “Flecha ligeira! Em breve teremos notícias dos outros! E aí os resgataremos como fizemos com seu pai e os pequenos. Deixe que sua família fique sobe a proteção do meu clã. Fica bem longe do perigo de invasões em Carlion. Eles poderão se recuperarem lá aos cuidados de meu rei, Nanteleode. Somos celtas e a tradição nos manda cuidar de nosso povo.”

Gondrik: “Filho vá atrás dos seus outros irmãos. Não quero ser um fardo. Deixe me ir para as terras de Sir Alain.”

Sir Enrick: “Obrigado Sir Alain. Eu irei aceitar. Eu irei atrás de meus irmãos pai! Isso é uma promessa.”

Sir Bag: “Peguem a sua parte do saque. Achamos muitas coisas de valor. Desde peles roubadas até ouro e prata enterrados no grande salão. Menina de ouro, um vestidinho pra você e o outro para a minha garota, mulher vocês sabem de quem.”

Barão Algar: “Cuidado Bag!”

Enrick então caminha em direção ao cercado onde os cavalos Stanpid, roubados do Haras de seu Pai, estão. O Flecha Ligeira vai abrindo as correias das placas de proteção negra de sua armadura amassada e cheia de sangue. Uma a uma as placas vão caindo ao chão. Enrick retira o seu elmo, depois os panos que lhe envolvem o rosto e fica somente com a roupa de couro e a sua cota de malha. Atrás dele o fogo toma conta de tudo e o exército comemora a vitória. Enrick entra na área onde estão os cavalos e esfrega o barro onde elas estão. Os animais o reconhecem enquanto o Flecha Ligeira os agrada. Hefesto entra no cercado e se junta aos seus irmãos.

Sir Enrick: “Porque deuses? Espero um dia entender! Que o Martelo e a Cruz me dêem forças para suportar e ajudar aqueles que ainda estão deste lado do véu.”

Por um instante Enrick parece ter visto o ferreiro da Colina do Cavalo Branco, Wayland, caminhar por trás dos cavalos e desaparecer em um piscar de olhos.

Próximo a entrada da paliçada destruída em meio a fumaça negra, corpos amontoados e sangue.

Conde Roderick: “Escutem bem! Quero todos os cavaleiros aqui comigo. Vocês perceberam que não é fácil invadir um assentamento saxão homens! Com o nosso exército, se fôssemos de assentamento em assentamento levaríamos uma vida para expulsarmos toda essa corja. E metade de nossa força caiu só aqui nesse combate. Perderíamos muitas vidas e custaria uma fortuna.”

Sir Amig: “Exato Conde! E sem a ajuda do Patrão fica difícil de fazer o trabalho. Vocês notaram que de Cirencester em diante não vimos mais destruição? E sabem o que isso indica?”

Conde Roderick: “Que esses malditos invasores estão aqui já faz algum tempo. Provavelmente existam assentamentos assim mais para o norte. Inclusive o Rei Octa deve estar em algum lugar por aí esperando para fazer um ataque final contra todos. Precisamos de um exército grande. Então, falem para eles Amig.”

Sir Amig: “Garotos! Precisamos de mobilidade e velocidade para chegarmos em Eburacum. Com soldados atrás de nós isso é impossível. Então preparem suas coisas. Dispensem seus escudeiros e tropas. Só eu, o Conde, vocês, os Cavaleiros da Cruz do Martelo, Sir Verius e Alain seguiremos em frente.”

Conde Roderick: “Existe um porto fluvial em Leicéster. Ele pertence ao senhor do castelo de Lambor, Sir Lote. Um bom homem! Embora não saibamos como estão as coisas por lá. Temos que ir até esse lugar e pegar um barco. Em vez de levarmos mais cinco dias de viagem, a favor da correnteza, viajaremos pelo rio Trent, depois pelo Humber e estaremos em terras amigas em dois dias. ”

Marion então fica branca e enjoada e despeja o que tinha em seu estômago no chão.

Sir Amig: “Está se sentindo bem princesinha? Vão dormir um pouco porque amanhã a jornada continua! Os escudeiros estão preparando as tendas para descansarmos um pouco. O velho aqui vai pegar uma bonita prisioneira saxônica e botar a lança pra caçar Javali pra funcionar!”

Sir Enrick e os outros Cavaleiros ficam pasmos com Sir Amig que vai para a sua tenda com uma saxã.

Sir Bag: “Calma guri. Ele é dá velha guarda. De graças aos deuses que ele não vai fazer isso na nossa frente como nos tempos dos Romanos! Nunca mais íamos conseguir dormir.”