terça-feira, 26 de abril de 2011

Aventura 21: O Fim da Era de Uther e a Batalha de St. Albans, Ano 495


Então chega o ano de 495. O inverno em Carlion foi rigoroso. Os heróis e seus amigos ficaram na corte do Rei Nanteleod. Passaram os dias treinando, jogando e descansando. Quando as estradas finalmente descongelam, e a primavera torna tudo verde novamente, a guerra bate as portas do Reino amigo.

Em uma manhã, no início da Primavera, Marion acorda antes de todos vestindo uma camisola azul. Está cheio de água no colchão de capim onde dormia e ela sente dores e contrações. Lembrando dos ensinamentos dos Druidas ela sai do castelo e vai até o bosque. Serenamente Marion entra em um lago de águas transparentes. Sentindo a presença de sua mãe e da deusa lentamente nasce seu neném, uma menina. Ela retorna serena para o castelo com a criança em seu colo. Todos acordam no salão de hóspedes.

Sir Dylan: “Que os deuses a abençoem irmã e que essa criança seja bem vinda! É um dia muito feliz em meio esta confusão toda. Sou agora tio, Algar!”

Barão Algar: “Sim! E que a Ellen seja bonita como a mãe e forte como o pai. Porque Enrick, você é muito feio.”

Todos riem enquanto Sir Enrick abraça as duas e as levanta do chão.

Sir Amig: “E eu sou o vozão agora! E dizem que Vô é pra estragar. Quando estiver maior os mimos virão!”

Sir Dylan: “Mas pai, você nos criou na disciplina. E aquela estória de me deixar na neve de castigo?”

Sir Amig: “Outros tempos filho! Chegou a hora de deixar o Flechinha e a Princesinha cuidar de suas crias. Eu vou levar pra andar a cavalo. Roubar frutas do feudo de Bag. Ensinar a se defender. Roubar da cachinha do Padre Carmelo e se você reclamar ainda tenho autoridade pra te mandar pra neve seu falastrão!”

Sir Dylan: “Tá bom pai! Chega! Um brinde a minha sobrinha. Vida longa e que viva numa época de paz!”

Todos os outros os cumprimentam. Então Sir Alain entra pelo salão afobado, com as botas cheias de terra.

Sir Alain: “Parabéns pela bela criança! Mas Amigos, infelizmente a guerra chegou em Escavalon. As tribos das montanhas de Pembroke, os lordes de Estragales e os filhos do Rei Canan estão travando combates sangrentos. As terras estão sem os seus senhores. Alguns clãs já tomaram nossas terras no oeste e marcham para cá. Nossos soldados e cavaleiros terão que lutar. Não poderemos ajudá-los homens de Logres, desculpem! Temos que proteger a nossa própria casa. Tudo virou de pernas para o ar.”

Conde Roderick: “Cavaleiros! Foi um longo inverno. Preparem-se, partiremos após ao almoço. Precisamos ir pra casa. Por todo Reino há guerras. A Britânia está mergulhada em conflitos por todos os lados. De qualquer forma obrigado Sir Alain. Castelão Real peça ao Comandante Kirk preparar a viagem de regresso. Em dois dias estaremos em casa.”

Então após uma refeição eles vão até o porto onde chegaram. Louise e sua tripulação os aguardam. Um pônei da montanha vem sendo puxado por um cavalariço e em cima do bonito cavalo está Gondrik Stanpid. O homem cego escuta a voz de Sir Enrick e dá um sorriso.

Gondrik: “Olá filho! O Rei Guallonir mandou lembranças. Ao meu pedido me trouxeram até a fronteira e me deixaram ali até que os Cavaleiros da patrulha do Rei Nanteleod me acharam e me trouxeram.”

Capitão Kirk: “Mestres! Como vão? Cidade amigável. Foi um bom inverno! Mulheres bonitas e limpas! Esses malditos jogos de azar que Sir Bag me viciou não me fizeram bem. Tirando algumas doenças no parque de diversões foi muito divertido ficar por aqui. O barco está pronto para zarpar.”

Então o Rei, vestindo uma armadura completa com escamas de ouro e prata, acompanhado pelos nobres de sua corte se aproxima dos heróis.

Rei Nanteleod: “É uma pena terem que partir. Mas infelizmente existem guerras sendo travadas por todos os lados. Espero que os Deuses nos dêem forças para enfrentarmos essa provação. Estamos sem aliados também. Na hora que deveríamos nos unir os Reinos vizinhos perderam seus líderes e ficamos sozinhos.”

Eles vêem no oeste fumaça negra levantando-se para o céu.

Conde Roderick: “E os saxões irão se aproveitar disso. Pode ter certeza Vossa Majestade. Muito obrigado, tem minha eterna gratidão pela sua hospitalidade grande Rei Nanteleod!”

Então o Rei vai até cada um dos heróis.

Rei Nanteleod: “Como foram bons hóspedes gostaria de ofertar alguns tesouros de meu Reino. Para Milady, que é a estrela mais brilhante do céu de Logres, gostaria de lhe presentear com esse broche celta de Morrigan. Deusa das batalhas. Dizem os antigos que ela mata seus inimigos com só um toque, como suas flechas em batalha Milady. Se vir um corvo sobrevoando o campo de batalha e pousar próximo de alguém é o sinal que a deusa envia predizendo que aquela pessoa morrerá em combate e pode ter certeza que é ela, Morrigan, e suas profecias não falham.”

Marion, com o seu bebê enrolado junto ao seu peito, preso por uma pele de raposa vermelha, se curva enquanto o Rei prende o broche na alça de couro de seu corselete de couro.

Rei Nanteleod: “Barão! O que dar de presente para um homem que tem a lança de Odim? Que defende a verdade como um exemplo para todos os Cavaleiros. Talvez a única coisa que lhe falte para um guerreiro do norte, um barco de guerra. Está vendo aquele ali com vinte remos? É todo seu. E a tripulação é formada por homens bons, leais e corajosos. Suas famílias também estão a bordo e irão com eles. Lutarão sempre ao seu lado. Não esqueça que todos foram voluntários para lhe servir.”

Os homens estão vestindo peles e todos são tatuados no braço e na metade do rosto no estilo celta. Suas mulheres e filhos estão junto com eles.

Comandante Dwyfor: “Barão! Estamos prontos para lutar pelo senhor!”

Rei Nanteleod: “Sir Enrick, Flecha Ligeira! Homem dos Cavalos sagrados e do arco mortal. Existe uma lenda em nossas terras de que um homem que é abençoado pelos deuses deve estar pronto para servi-los. Meu presente é essa capa. Dizem que o povo da floresta a costurou com fios especiais e que o próprio Gwydion os ensinou a abençoá-la. Dentro da mata, poucos poderão lhe ver se aproximar. Serás mais letal que um chacal meu amigo!”

E a capa verde com espirais prateadas é presa pelo próprio rei no ombro de Sir Enrick.

Então todos sobem a bordo. As pessoas da corte acostumados com a presença dos homens de Logres acenam. Dalan beija ardentemente uma mulher grávida sobe a rampa de madeira e pula para dentro da embarcação antes dela zarpar. O céu está cinza encoberto pelas nuvens. Mais uma vez Louise, puxada por barcos à remos, deixa o porto e com as velas abertas desliza rápido pelo rio Usk. Carlion logo desaparece no horizonte e logo vencem a arrebentação e se lançam em alto mar. O Barco de guerra fica para trás e some no horizonte cinza naquele dia abafado de verão.

Kirk: “Quero todas as velas abertas! Estamos de volta ao mar homens!”

Kirk vai corrigindo no leme a trajetória da embarcação sempre mantendo à esquerda a costa Britânica. Conde Roderick se retira para descansar no porão. Os cavalos relincham assustados com a velocidade e balanço do navio.

Sir Amig: “Droga de barco maldito!”

Urco chora e se apoia no colo de Sir Amig.

Sir Verius: “Urco está mariado! Odeia barco igual você amigo.”

Sir Bag: “Eu gosto! Poderia comer de tudo em alto mar. Um pernil com gordura amarela pingando e buchada recheada com cevada.”

Sir Amig: “Droga Bag!”

Sir Amig vira para a murada e vomita.

Sir Dylan: “Irmã, se entendi o Rei ensinou que você deve prestar atenção nos sinais de Morrigan. Se qualquer pássaro negro chegar perto de mim vou arrancar a cabeça do bicho nem que seja com os dentes.”

Sir Jakin: “Algar seu filho já deve ter nascido e Brian já está com cinco anos. Em breve terá que começar o seu treinamento para Pagem e as formalidades da corte. Pra não ficar derrubando armaduras e comendo maçãs dos Duques Britânia à fora. O que espera do seu menino?”

Barão Algar: “Eu espero que Brian seja um grande guerreiro. E que seja educado e que continue honrando as nossa linhagem do norte e dos celtas da Britânia.”

Sir Dalan: “Primo! Qual o nome que você dará ao barco que ganhou?”

Barão Algar: “Em homenagem ao deus dos mares de meus antepassado do norte: Fúria de Njord.”

No segundo dia no mar o barco Louise se aproxima da costa da Cornualha. O castelo de Tintagel está lá no alto da falésia onde as ondas quebram. As bandeiras azuis com o Brasão dos Pendragon não estão asteadas.

Conde Roderick: “O Rei não está em Tintagel. A corte deve ter ido para outro lugar. Mas para onde foram?”

A noite passa tranquila em alto mar até que no dia seguinte o barco atraca em Hantonne. Quase vinte barcos aguardavam para atracar. A bandeira do Conde Roderick lhes dá preferência. O barco é amarrado ao cais pelos marinheiros que saltam de Louise e os Cavalos vão sendo retirados pelos homens que trabalham nas docas por uma rampa de madeira. Depois do barco ser esvaziado o grupo prepara as suas montarias. Estão colocando as selas e os arreios nos animais, carregando as algibeiras presas no lombo dos cavalos com os seus pertences e pendurando os escudos e armas. O porto está lotado de aldeões com os seus pertences e marujos os ajudando a subir nos bracos. Então uma mulher se aproxima com uma criança pelas mãos mas ninguém lhe dá atenção. Ela vai até Sir Enrick.

Irwen: “Meu senhor!”

Ela diz de cabeça baixa

Sir Bag: “Xiiii!”

Sir Dalan para Algar: “Depois eu que não sei manter meu peru dentro das calças.”

A moça usa roupas de aldeã bem simples e o menino é loiro com os cabelos espalhados. Magrinho e mal vestido com a camisa furada e os pés descalços no chão. Seus olhos verdes olham com curiosidade para Sir Enrick. Ele deve ter uns sete verões de idade.

Irwen: “Sir Enrick, este é o seu filho meu senhor! Faça como eu te ensinei Uren!”

O menino todo tímido se aproxima envergonhado

Uren: “Meu Pai! É uma honr... (Ele olha para sua mãe que diz: “Vai!”) Honra te conhecer meu senhor!”

Ele não consegue tirar os olhos de Hefesto e o cavalo vira e passa o rosto nele.

Irwen: “Meu senhor! Poderia levar Urien com vocês? (O menino olha assustado) Eu não tenho como cuidá-lo. Não temos dinheiro pra partir com a chegada da guerra.”

Sir Amig: “Vem cá filho! Um instante! Com licença, senh..., milai... mulher da vida! Esse menino é seu mesmo guri?”

Sir Enrick: “Sim...”

Sir Amig: “Sempre o pinto em primeiro lugar não é seu malandro? Olha só! Madoc era bastardo. Se quiser levar o garoto, tem minha aprovação. Marion você e o seu marido devem decidir.”

Marion: “Vamos levar o garoto Enrick.”
Uren chora quando sente que vai perder a sua mãe. E ela, também chorando, se abaixa até ele e enxuga as lágrimas do seu rostinho.

Irwen: “Filho! É para o seu bem. Um dia você vai entender. Eu te amo, nunca esqueça disso.”

E ela tira uma das fitas coloridas enroladas em seu cabelo e amarra no pulso de Urien.

Irwen: “Eu estarei sempre com você filho.”

Eles escutam alguém chorando. É Sir Bag.

Sir Bag: “Essa maresia faz um mal para os meus olhos rapaz!”

Enrick: “Uren! Você é meu filho e um Stanpid. Terá uma nova vida e um novo nome. Se chamará Bernard, como seu bisavô.”

Então Enrick coloca o garoto montado à sua frente em Hefesto. Com toda a comitiva pronta eles partem de Hantonne para Sarum. As ruas estão cheias de marujos vindo pra lá e pra cá. Eles notam que os barcos atracam. Não descarregam nenhuma carga. As pessoas pagam para as tripulações, sobem à bordo, e rapidamente deixam a cidade. Todos as embarcações dirigem-se para o Sul. Pela trilha simples que leva até Sarum o grupo não encontra, nem vêem ninguém. As pequenas vilas de camponeses estão abandonadas. Feudo após feudo tudo está deserto e abandonado. Em alguns nem prepararam as terras para serem cultivadas, outros deixaram até os animais para trás.

Sir Amig: “É a guerra garotos! Um ano fora e o que nos sobrou de Logres foi medo e cidades fantasmas.”

No final da tarde, ao pôr do sol, o grupo avista as muralhas de Sarum e um exército gigante, com pelo menos 6500 lanças, acampado ao redor da sede do poder do condado de Salisbury. As bandeiras do Rei Uther estão tremulando acima do brasão do Conde Roderick.

Conde Roderick: “A corte do Rei está aqui. Em breve descobriremos se isso é bom ou ruim.”

Então eles chegam a cidade de Sarum. Quando passam pelo caminho que leva ao portão leste todos os soldados acampados ali ajoelham-se lhes prestando saudação. Eles vêem brasões dos Lordes da Cornualha, de Wells, Bristol, Duque Ulfius de Silchester, O Brasão do falcão, de Sir Flannedrius, um estandarte xadrez azul e preto dos Pictus com os homens de kilte bebendo barris e mais barris de hidromel, Sir Bellias e Briant, tios de Algar, Sir Warren, Sir Brastias e Sir Leo. E muitos outros que eles não conhecem.

Quando entram na cidade, passando pela ponte levadiça em cima do foço, ela está muito cheia. Inclusive tem que descer dos cavalos para conseguirem andar por ali. Enquanto caminham, os guardas da cidade, quando os reconhecem vão abrindo caminho até a rua de paralelepípedos que leva ao castelo, no alto do monte, na parte central de Sarum. Quando os portões do castelo são abertos o Sargento da guarda da muralha vêem os receber.

Sargento: “Meu Conde! Seja bem vindo a sua casa. Quase todos os nobres sobreviventes do ataque dos saxões estão na cidade. Está um verdadeiro caos. A população praticamente triplicou. Em alguns quarterões temos doenças, pouca comida e o consumo de água está racionado. Vossa Majestade chegou há alguns dias. Os celeiros reais não estão vencendo alimentar tantas pessoas.”

Fora do salão de audiência centenas de cavaleiros se acotovelam pra fora. Dentro existem mais de duzentos lordes, vestidos com as suas armaduras e armados, de pé por todo o salão. Quando os heróis entram todos abrem caminho. Eles prestam reverência para o Conde Roderick que vai até a frente.

Conde Roderick: “Como vão todos?”

Sir Elad: “Que bom que estão de volta e vivos Cavaleiros! Sejam bem vindo!”

Então a porta ao fundo se abre e Uther entra. Todos ficam impressionados. O homem alto e forte, cheio de tatuagens e emanando poder não existe mais. Virou um homem fraco, sua barba longa branca no rosto inteiro o deixa ainda mais velho. Ele se apoia em um cavalariço que o ajuda a sentar em um trono. Todos se ajoelham. Ele tosse.

Rei Uther: “Deixem de besteira! Levantem-se! Conde Roderick, Sir Enrick, Marion, Barão Algar! Sejam bem vindos. Fazem três anos que não nos vemos. Roderick, sou todo ouvidos para saber o que aconteceu no norte e como escaparam de lá com vida.”

Conde Roderick: “Meu Rei! Fizemos o máximo para conseguirmos aliados. Mas a Britânia está um caos. Invasões e guerras entre clãs por toda a parte. Os deuses parecem estar nos abandonando.”

Rei Uther: “Sei. Falem Cavaleiros! Quero detalhes! Todos os homens nesta sala querem saber o que está acontecendo pelo Reino!”

Barão Algar: “Os saxões possuem assentamentos na ilha. Já cultivam a terra e criam o seu próprio gado. Tem o apoio dos Reis do Norte e parecem cada vez mais fortes.”

Rei Uther: “Entendo! Realmente o que me contam confirmam nossos temores. Estes malditos Reis do norte só queriam um motivo para tomar as nossas terras. Desgraçados!”

Uther tosse e se afoga.

Conde Roderick: “Cavaleiros presentes! Gostaria de lhes dizer que descobrimos que Eburacum deu abrigo neste inverno para os saxões. Lá eles reuniram uma forças bárbara nunca vista na Britânia e há semanas vêem descendo para o Sul pilhando novamente as terras já enfraquecidas. Há rumores de que já estão em Logres e Octa os lidera.”

Sir Amig: “São apenas saxões homens! Já os vencemos uma vez e os derrotaremos novamente. Eles nem são espertos suficientes para lutarem em cima de um cavalo!”

Todo o salão ri. Uther e os heróis são os únicos que ficam sérios.

Rei Uther: “Certo homens! Aguardem minhas ordens!”

Ele se levanta com dificuldade.

Rei Uther: “Em breve os convocarei para o conselho de guerra.”

O Rei se retira mancando e com esforço, com a ajuda do Conde Roderick e um Cavalariço. Então no meio daquelas centenas de cavaleiros surge o gigante pictu coberto de tatuagens, ruivo, com a barba na cintura entrelaçada, usando o seu kilte e o cinto com caveira de prata. Bruce vem os abraçar.

Bruce: “Grandes heróis de Logres. Milaidie! Quer dizer que iremos pra guerra juntos mais uma vez?”

Enrick: “Claro Bruce! E como você e seus homens conseguiram chegar aqui com meia ilha dominada pelos bárbaros?”

Bruce: “Sir Bruce pra vocês agora! O Rei Uther foi muito generoso e soube apreciar o valor de um homem de verdade! É bom lhes ver! A muralha romana não deixou esses saxões chegarem até o norte. Então tivemos que vir de barco.”

Sir Bellias: “Sobrinho Algar! Já faz algum tempo que não o vejo. Trouxe a Baronesa e Brian pra cá. Achei mais seguro. Eles estão no salão da corte. Vamos até lá?”

No salão da corte quando os heróis entram o guarda na porta os anunciam. A sala iluminada por tochas está animada com os bardos escoceses tocando as gaitas de fole e as famílias dos nobres conversando e bebendo. Outros dançam, as crianças correm e os cachorros circulam por entre eles. Existem umas mil pessoas ali. Adwen estava dançando com Brian e os dois vem correndo receber o barão. Ela olha bem pra Algar e dá um tapa no seu rosto.

Adwen: “Um ano Algar! Um longo ano!”

E então ela o abraça e lhe dá um belo beijo na boca. Brian com cinco anos tem o cabelo comprido e preso em uma trança até as costas. É bem ruivo e sardento. Ele puxa Algar pela mão.

Brian: “Pai! Venha conhecer Heilin!”

Então em uma das compridas mesas uma dama de compania está com um bebê no colo.

Brian: “Minha irmãzinha!”

Adwen: “Ela tem quase uma primavera de idade Algar!”

Algar pega a sua filhinha no colo, com cuidado, e a beija emocionado. Eles ficam sentados comendo e bebendo enquanto os seus cavaleiros encontram-se com as suas famílias e amigos. Dalan beija cada filho. Sir Bag some e junto com ele a esposa jovenzinha de Sir Elad. Brian, arteiro, não para de correr e brinca com os cachorros e as outras crianças. Dá um tapa na cara de um, rola com Urco pelo chão brincando de luta e derruba um cálice no colo de Sir Amig que fica vermelho de raiva.

Sir Amig: “Mas que guri! Algar! Esse moleque encheu de vinho minhas partes!”

Sir Warren: “Sir Enrick, Algar, Mi Lady! Dois anos, hein? Garotos, só queria saber com o Rei vai lutar doente desse jeito! Só se fala isso na corte. Estão todos bebendo e fingindo que não está acontecendo nada, mas ninguém tem certeza qual será o futuro de todos nós. Os infelizes aldeões então, estão mortos, mas ainda não sabem disso.”

Adwen: “Algar, Tegfryn já trouxe os seus homens e estão acampados próximo as muralhas. Marion e Enrick, Padre Carmelo e Wistan também estão com suas forças prontas para lutar.”

Sir Briant: “Sobrinho! Parabéns pela filhinha linda! Sir Enrick e Marion! Ganharam dois de uma vez. Que sejam felizes, saudáveis e fortes!”

Sir Jakin: “Amigos! Amigos! Vocês não sabem da última. Estava conversando com um Cavaleiro do Duque Ulfius. Sabem quem está aliado aos saxões? Aquele desgraçado do Syagrius. Lembram? O pretor de Bayeux! Depois que o filho da puta foi derrotado e soube que Uther está fraco e da morte de Madoc, que dizem que ele odiava com todas as suas forças, o romano tem buscado nas florestas, o suposto filho do Príncipe querendo matá-lo. E mais, fez uma aliança com os saxões querendo Sarum para ele. Disse que quando tomar a cidade e a queimará até as fundações, como Nero fez uma vez com roma.”

Então já tarde da noite, os nobres dormem no salão da corte, convertido rapidamente pelas dezenas de servos em um dormitório. A noite passa tranquila. Todos acordam com o som da voz rouca e a batida de porta de Amig.

Sir Amig: “Acordem bando de vagabundos, coloquem suas armaduras. Peguem as suas armas. O Rei vai falar. Encontro vocês no portão do tolo.”

Então, com os primeiros raios de sol Rei todos dirigem-se para a frente do portão leste da Cidade. Aproximadamente seis mil e quinhentos homens, sendo mil e quinhentos cavaleiros e cinco mil infantes se acotovelam embaixo da muralha aguardando o pronunciamento do Rei. Do lado de dentro da cidade, o moradores e familiares dos nobres, quase o triplo desse número lotam as ruas, formando um mar de pessoas. Saindo de uma das torres no passadiço da grande muralha de pedra surge Uther. Ele raspou a sua barba e caminha sem a ajuda de ninguém. Está usando sua armadura reluzente mais uma vez forjada em ferro e ouro. Ele parece brilhar com a sua força como nos velhos tempos. Com Excalibur na cintura e a coroa antiga toda cravejada de metais nobres e runas, com um dragão com olhos de rubis vermelhos cravejados, ele observa ao seu redor lá de cima. A tatuagem de dragão nos braços fortes estão descoradas, mas mostra que o Rei é um líder celta respeitado há muitos anos. Ele ergue os braços e todos ficam em silêncio imediatamente.

Rei Uther: “Fiéis súditos! Filhos da Britânia. Filhos e senhores dessa terra que cheguei há quinze anos enviado por meu pai, Constantino dos Romanos. Eu e meu irmão Ambrósio viemos expulsar os saxões. Eles não está mais entre nós e eu ainda não acabei o que me foi ordenado. Essa ilha que me deu filhos e que aprendi a amar mas que também me tomou o que me era mais raro e precioso. Talvez o único amor verdadeiro que os Reis podem ter. O amor de um filho. Infelizmente isso eu não tenho mais... Depois perdi o segundo herdeiro roubado pela pessoa que mais confiava. E isso levou a julgamento os melhores homens que sempre lutaram ao meu lado e em meu nome. Aqueles que julgam os atos do Rei não sabem quão solitário é o poder. Quando a decisão de um homem que não pode confiar em ninguém deve tomar atitudes que afetarão a vida de todos. Nunca é fácil mandar almas para morrerem e destruir famílias pensando em um bem maior. Mas um Rei sempre dever ter em mente a existência de Logres, a segurança e a vida da maioria. O sacrifício de muitos é a única maneira do reino existir. Sempre foi assim! Irmãos da Britânia! Cemyrics! Eu os convoco mais uma vez. Dizem que é o final do mundo. E talvez seja mesmo! E mais uma vez homens, como o seu Rei, cavalgarei a frente de nosso exército e enfrentarei o inimigo com toda dor e fúria empunhando a minha lâmina e me lançarei contra a tempestade de lanças e escudos mortais. Quanto a mim, podem ter certeza que levarei quantas almas saxônicas puderem comigo. Nem que seja pela última vez e no outono de nossa Era mergulharei na escuridão coberto de sangue e glória! Levantem-se Cavaleiros de Logres! Levantem-se homens bravos! Nossas famílias precisam de nós e cada filho e pai que tombar no campo de batalha deixará o triplo de lágrimas, viúvas e órfãos do lado bárbaro! Exército de Logres preparem-se, vamos encarar o fim do nosso mundo como bravos guerreiros! A guerra nos espera logo atrás das colinas. Atenção filhos de Logres marchem para o nosso destino! Escrevam seu nome na estória! Força, Lealdade e Honra!”

Todos gritam com as armas em mãos! Uma saudação que não para, ensurdecedora. O Rei se retira rápido e some no interior de uma das torres quadradas da muralha. Lá embaixo os escudeiros vão preparando as montarias. As famílias saem pelo portão e vem abraçar cada herói. Todos estão com lágrimas nos olhos. A Baronesa Adwen beija Algar com o bebê no colo enquanto Brian o abraça a perna. Dalan beija cada um dos nove filhos. Sir Bag olha a distância sua amante e ela retribui com lágrimas nos olhos. O bebê de Enrick e Marion fica no colo de uma das irmãs do Flecha Ligeira e o menino Uren assustado olha para eles. Gondrik abraça Enrick junto com os seus irmãos.

Gondrik: “Acabe com eles filho!”

E assim acontece com os milhares de guerreiros preparados para partir para a guerra. Então cada cavaleiro dirige-se as suas tropas.

TROPAS DE ALGAR:

Tegfryn: “Atenção homens, em forma!”

Todos os guerreiros se perfilam e dão o grito de Guerra: “Demônio do Norte! Da Britânia! Prontos para matar! Da toca do lobo, Das sombras da noite até o fim, Algar! Algar Algar!”

Tegfryn: “Como vai meu senhor? Estamos prontos pra lutar. Conheci a tripulação e parecem ser bons homens. Tomei a liberdade de os enviar ao porto de Londres mais ao norte para onde marcharemos. Se precisar usá-los, Barão, mandamos um mensageiro os convocar e eles poderão nos ajudar a combater se houver algum rio próximo do inimigo. O comando é todo seu meu senhor!”

Barão Algar: “Vocês ouviram o Rei! É hora de cada um se sacrificar para um novo futuro de paz! Estejam prontos homens porque o Demônio do Norte sempre esteve.”

TROPAS DE ENRICK:

Quando Enrick e Marion chegam ali todos batem suas armas nos escudos os saudando. Os arqueiros batem as flechas em seus arcos.

Padre Carmelo: “Senhor Flecha Ligeira! Que alegria! Senhora! Parabéns pelos filhos! Que atitude nobre trazer Uren para o seu lar. O homem lá de cima deve estar satisfeito. Todos os aldeões e servos só tem comentado suas atitudes bondosas.”
Wistan: “Sir Enrick e Lady Marion! Arqueiros, lanceiros e infantes estão prontos.”

Então Marion vai até eles. Os arqueiros, os Vento do Pântano, já estão usando suas máscaras. Com os seus cabelos compridos e ossos enfeitando as pontas eles usam armaduras de couro sem mangas cobertas com peles de urso. Ajustam seus braceletes de couro longos até o cotovelo para se protegerem dos golpes de espadas e das cordas dos arcos. Cada um leva uma adaga na cintura para luta corpo a corpo, presos num cinturão com a bainha e fivela com a espiral tríplice celta. As calças são de camurça e as botas de pele de urso com fitas permitem marchar longas distâncias. Sir Bag olha lá de longe e faz uma cara de medo e toca em seu martelo de Thor. Os homens do Pântano também se preparam com as suas lanças e com a cara pintada de terra negra.

Padre Carmelo: “Eles estavam ansiosos para lhe ver senhora! Sir Enrick, Os Sine Nomine estão ali!”

Nas sombras de um pequeno bosque fora do acampamento, os cavaleiros negros estão montados em silêncio. O homem de face de caveira só inclina a cabeça e aponta para o chão. Uma caixa negra sem inscrições jaz na relva. Sir Enrick sabe o que tem dentro e vai até eles.

Enrick: “Escutem Esquadrão da Morte à Cavalo. Saibam que não fui eu que os escolhi e sim vocês que me escolheram para ser um de vocês. Iremos lutar mais uma vez lado a lado. Chegou a hora da vingança”

Então Oswalt se aproxima e ajuda a armar Enrick colocando primeiro a cota de malha, depois, com cuidado, cada peça do peitoral da armadura esmaltada negra e ajustando cada correia das proteções. Depois o gorjal ao redor do pescoço. Veste as manoplas, as proteções das pernas e braços e por fim o elmo de cavalo com a crina branca até as costas.

Sir Amig: “Atenção garotos! Partiremos em direção ao ducado de Ulfius em Silchester. Relatos de pessoas em fuga dizem que o Rei Octa invadiu a floresta Sauvage. Antes atacou Bourton libertando o seu filho, torturando e decapitando todos. Só Sir Medrod sobreviveu com alguns poucos infantes e chegou agora a pouco ao acampamento sobe o estandarte do búfalo com a notícia. Depois rumaram para Oxford, pilharam e escravizaram aos montes. Tudo indica que marcham em direção a Sussex e tentarão anexar todos os territórios de Logres até lá. Malditos! Precisamos mostrar à eles que manda nesta ilha.”

Então o exército Real parte. Os mil e quinhentos cavaleiros seguem em escolta ao redor dos cinco mil infantes. Todos marcham em silêncio observando movimentos no horizonte. É uma tarde quente e úmida. O som dos milhares de cavalos e dos passos dos homens indo para a guerra ecoam por todo o lugar com milhares de brasões coloridos, cavalos, cobertos com as cores de seus lordes, carroças com artilharia, cavalos de carga, escudeiros e um secto de mulheres cristãs e druidas os seguindo para curar os feridos e acalmar as almas daqueles que vão morrer. Os vasculhadores de corpos, esfarrapados e sujos caminham a distância e os cavaleiros negros com os seus estandartes macabros e os escudos de pele humana cavalgam por entre eles. Na Vanguarda lidera o Rei Uther, com os seus cabelos, agora brancos, com cinquenta verões de idade. Na sua esquerda Conde Roderick e na outra Duque Ulfius. Sir Brastias e a guarda pessoal real com cinquenta cavaleiros os cercam com o dragão pintado nos escudos sobe o estandarte azul com a tríplice coroa. Todos usam uma fita preta amarrada no braço direito em homenagem a Madoc.

Os heróis de Logres e os cavaleiros cavalgam juntos no flanco da esquerda, que segue no final da coluna formada pelo exército real. Eles viajam ao lado de suas tropas e dos Cavaleiros da Cruz do Martelo. Sir Verius, Sir Elad, Sir Bruce e Sir Amig os acompanham. Urco vai em uma das carroças com os Trebuchets e Carmelo atrás.

Sir Jakin: “Quer dizer que aquela Praga do Syagrius está combatendo com os saxões?”

Barão Algar: “Aquele filho da puta vai ter o que merece. Arrogante! Matou milhares de pessoas por seus caprichos. Maldito!”

Sir Dylan: “Parece que todo o norte está com os bárbaros. Lindsey, Malahaut, Cambenet. Todos querem a cabeça de Uther em uma bandeja de prata. Com tantos aliados esses bárbaros filhos de uma cadela devem ter muitos homens marchando. Dizem que as cidades estão sendo conquistadas facilmente. Algumas nem tentam lutar. Simplesmente abrem os portões e se entregam.”

Anoitece e o exército acampa. É uma noite quente e estrelada de verão. O cheiro do mato e os sons dos animais por toda parte anunciam a estação. O exército pernoita ao redor do monte onde o castelo de Windsor se ergue imponente próximo ao Rio Tâmisa no ducado de Ulfius, delimitado por uma paliçada de madeira alta. Aqui as pessoas ainda mantém os hábitos Romanos e se vestem igual ao antigo invasor. Mas poucas são vistas. Enquanto os escudeiros erguem as tendas e preparam o jantar. O Arauto real chega montado. Milhares de fogueiras cobrem a área ao redor da muralha.

Arauto Real: “Atenção Nobres! Devido ao grande número de Cavaleiros, o Castelo está restrito ao Rei e ao alto comando. Os outros nobres deverão passar a noite em suas tendas de campanha.”

Sir Amig: “Ah que droga! E os mosquitos já começaram o festim!”

Uma grande fogueira foi colocada no centro onde as tendas dos Cavaleiros da Cruz do Martelo foram armadas, uma das milhares acesas ao redor da cidade. Os Cavalos estão ao lado delas. Todos sentam em círculo próximo a elas. Dalan dedilha seu Alaúde. Jakin deita olhando as estrelas. Urco coça as costas na terra. Hidromel circula em chifres ornados com prata e estanho. Sir Dalan, Sir Bag, Sir Amig, Sir Dylan, Sir Verius estão ali sentados comendo pedaços de carneiro assado. Centenas de infantes fazem a vigia ao redor do acampamento. No centro estão as tendas do alto comando, depois em círculos ao redor dessa área os Cavaleiros. Depois no terceiro os arqueiros. E os infantes circulando todo o resto.

Sir Dylan: “Estava lembrando dos companheiros que já perdemos. Eram todos bons homens! Quais vocês sentem mais falta?”

Sir Enrick: “Sem dúvida Madoc!”

Sir Bag: “Sinto falta do Príncipe. Da bondade do Sir Alein. E de quando os Cavaleiros da Cruz do Martelo achavam que o mundo era justo.”

Sir Amig: “Já perdi a mulher que deus a tenha. E uma constelação de estrelas como essa de amigos e soldados mortos. Só me resta lutar e tentar levar duas destas constelações de inimigos antes de tombar.”

Oswalt: “Irmão, você acredita mesmo que muitos de nós morrerão?”

Sir Enrick: “Você participará de uma batalha irmão! A única coisa certa que sabemos é que muitos de nós estarão mortos.”

Caulas: “Os padres dizem que Alein era um humilde fazendeiro que se sagrou cavaleiro. E que o devem segui-lo. Mas parece que o paladino sempre foi um nobre não é?”

Sir Amig: “Sempre foi! Esses romanos. E em vez de Alein usam a palavra na língua antiga deles para fazendeiro. Um absurdo! Como é mesmo? Alforje? ”

Dylan: “George Pai”

Sir Amig: “Isso! Agora o nosso amigo virou um tal de São George! Credo que nome mais feio! Prefiro Santo Alein. Já existia um culto romano pagão a um fazendeiro caçador de dragões! Agora esses cagalhões pegaram nosso Alien pra George!”

Sir Galardoum, cavaleiro loiro com cabelos longos e olhos verdes, sem barba se aproxima vestido com sua armadura completa prateada e um crucifixo gravado no centro. São Jorge está pintado em seu brasão no peito. Ele chega seguido por dois servos rolando um barril: “Primos! Trouxe um barril de sidra! Acho que precisamos de um trago antes de caçar esses animais. O que vocês acham? Octa e os reis do Norte juntos. Syagrius comandando um batalhão inteiro de Romanos. Nesta noite de verão, parece até que existe paz para os homens. Aquelas terras que defendíamos foram todas tomadas novamente. Todas aquelas vilas e a cidade que passamos à noite, ano passado, foram queimadas até as cinzas. Quase ninguém sobreviveu. Esses merdas desses saxões prenderam dentro das igrejas os servos e puseram fogo. Os pobre coitados nem tiveram chance. Até hoje acordo com os seus gritos. E eram tantos, tantos inimigos que não pudemos fazer nada. Pareciam um mar de lobos famintos. Nestes ataques não vi o Rei Octa só hordas de guerreiros matando tudo que se mexia à sua frente.”

Então lá ao longe no horizonte eles vêem nuvens baixas e luzes amareladas de chamas refletindo. Uma coluna grossa de fumaça sobe cobrindo o céu estrelado. Mesmo há quilômetros podem ver faíscas subindo para o céu. Um homem no escuro se aproxima coberto com um manto azul marinho e caminhando apoiado em um cajado.

Uther: “Mais uma cidade cai em Logres!”

Ele retira o capuz. É o Rei Uther. Todos se ajoelham.

Uther: “Parem com isso. Não quero formalidades. Estou andando para as fileiras para ver se todos estão bem. Hoje eu gostaria de ser tratado como um de vocês. Estão todos assustados. Quem não estaria? Mas, sabem homens. É nesses momentos que sabemos quem somos. O medo faz bem. Nos mantém espertos. Em alerta.”

Barão Algar: “Sabe Majestade. Meu pai contava que Odim usava um manto azul marinho e caminhava apoiado em um cajado quando queria levar suas palavras aos seus guerreiros antes de um combate.”

Uther: “Mesmo Algar? Espero ser tão bravo quanto ele! Estamos em uma posição difícil.”
Sir Amig: “Patrão! Beba conosco!”

Uther aceita, dá um gole e tosse. Respira fundo, parece meio pálido mas continua.

Uther: “Sinto muita falta disso! Ser apenas um Cavaleiro. Sentar ao redor da fogueira. Beber e conversar. Estar no comando realmente é abrir mão de tudo isso. Da família, dos amigos verdadeiros. Eu gostaria de compartilhar algo com vocês. Algo que não falei para ninguém. Talvez seja difícil de entender minhas ações e como Rei não teria que dar satisfações de meus atos. Mas acho que pela lealdade que sempre tiveram comigo e tudo que fizeram por Madoc eu devo isso aos senhores. Concordam? Bem. Quando eu conheci Igraine no banquete de Gorlois. Na batalha de Lindsey. Realmente eu perdi a cabeça. E como dizem os padres. Atirem a primeira pedra que nunca se sentiu assim. Mas, no cerco em Terrabill quando parti para Tintagel não agi sozinho. Avalon me mandou uma mensagem na noite anterior. Merlim sumiu por alguns dias e trouxe a mensagem de Nineve. Ela dizia que a sacerdotisa tinha visto no poço sagrado o destino da Britânia e que ele estava forjado na minha união com Igrane. E que eu deveria escrever a estória e poupar anos de mortes e sangue deitando-se com a mulher de Gorlois aquela noite. Ela dizia também que eu teria que dar algo em troca, mas não dizia o que. E foi assim que aconteceu. O que eu não podia prever era aquele ataque ousado e suicida que Gorlois fez. Claro que no início deu certo, pegou todos nós de surpresa. Enfraquecidos do jeito que o inimigo estava era claro para mim que não ousariam lutar conosco. Mataram muitos dos nossos, mas no final acabaram todos mortos. Como tudo tem seu preço, Madoc foi morto. Foi o meu tributo aos deuses. Era ele que dei em troca involuntariamente. Sacrifiquei meu filho pelo bem da Britânia sem saber. Um rei, um Reino, uma terra. Essa é a única maneira de termos paz. Mesmo assim isso me corrói noite após noite. (ele olha fixo para a fogueira) E ainda Merlim me leva o outro filho. Foi como perder dois braços. Poderia estar louco uma hora dessas, mas a Rainha tem me ajudado muito. Ela tem o seu valor. É isso então Cavaleiros da Cruz do Martelo! Amanhã partiremos cedo. Descansem. Tenho que visitar outros homens valorosos como vocês. E é em direção aquela coluna de fumaça que iremos. A cidade de Saint Albans. Boa noite!”

Então o Rei se cobre novamente com o capuz de seu manto e se retira.

Sir Jakin: “Nossa! Por essa eu não esperava!”

Sir Verius: “O homem tem os seus motivos. O que acharam?”

Barão Algar: “Parece que mais uma vez somos um joguete na mão de Avalon. Não dá pra saber os motivos que os representantes da Deusa agem.”

Então todos vão se recolher. Apesar de os brilhos das chamas ao norte deixarem todos ansiosos e inquietos a noite passa tranquila. O acampamento fica silencioso até ao amanhecer. Quando acordam, com as trombetas reais, os escudeiros já estão cozinhando nas panelas de ferro no tripé. Então todos preparam os seus armamentos, armaduras, cotas de malha. Os escudeiros afiam as espadas e machados dos seus senhores. As armaduras dos cavalos são postas. Os arqueiros verificam os seus equipamentos e a longa coluna de guerreiros parte mais uma vez em direção aos sinais de combate da noite anterior.

Arauto Real: “Barão Algar! O Rei solicitou que o senhor e os Cavaleiros da Cruz do Martelo sigam à frente buscando contato com o inimigo.”

Nessa região centenas de colinas se estendem até o horizonte. As Colinas Chiltern.

Sir Dalan: “Qual a formação de sortida?”

Barão Algar: “Formação em flecha! Enrick e Marion atrás e ao centro com os arcos.”

Logo que o grupo sobe uma colina não conseguem visualizar o que vem depois. No topo de uma pode se ver muitas outras. Parece tudo deserto. As estradinhas de terra que sobem e descem as Chilterns estão vazias. Lá no fundo a grossa coluna de fumaça, que não se extingue, contrasta com o céu azul. Eles seguem em frente até que bem distante, surgem pequenos pontos descendo uma das colinas. Parecem ser pessoas e elas tem pressa. Aproximando-se o grupo pode ouvir gritos e trote de cavalos. Logo os perdem de vista por alguns instantes quando o grupo desce uma das colinas. Então surge em um pequeno vale, por entre duas delas, um grupo de uns quinze homens correndo. Alguns poucos com escudos redondos, cabelos e barbas longas. Eles usam armaduras de couro, braceletes, martelos pendurados no pescoço, elmos abertos e peles de urso por cima. Eles são seguidos por um cavaleiro Romano e mais dez outros montados e se aproximam rapidamente. Para correr mais rápido eles jogam os escudos.

Os Romanos também sacam as suas armas. O que parece ser o comandante com a armadura toda ornamentada, usando uma capa vermelha saca duas gladius e cavalga sem as mãos.

Sir Dalan: “Um pra um Cavaleiros! Cuidado homens!”

Sir Jakin retira um de seus manguais e o escudo redondo pendurado em seu cavalo: “Quais as ordens Algar?”

Barão Algar: “Ataque total! Cargaaaa!”

Os primeiros que eles encontram no vale são os guerreiros a pé. Marion dispara seu arco e logo um saxão tomba morto com a garganta atravessada. Enrick acerta o topo da cabeça de outro bárbaro, com o seu martelo de guerra, que rola e é atropelado por Hefesto. Algar faz a carga mas o bárbaro desvia. O Barão retorna e acerta o rosto do saxão expondo a retaguarda aos cavaleiros romanos que se aproximam. Mas curiosamente eles não o atacam. Enquanto isso Sir Dalan está fazendo uma carga para cima do Comandante Romano. Sir Jakin, manobra o seu cavalo por trás de sua guarda pessoal. Sir Bag, atira um elmo com uma cabeça dentro, que acabou de arrancar de um saxão com tanta força em um dos Cavaleiros inimigos que o homem cai com a cara estraçalhada e sem dentes. Alguns saxões ainda vivem e fazem um círculo um de costas para o outro. Então os heróis vêem os cavaleiros Romanos tocarem os seus cavalos em cima deles e os matarem sem piedade cortando pescoços, arremessando gladius nas jugulares, quebrando clavículas com os seus escudos quadrados e atropelando os dois últimos que estavam de pé.

Comandante Romano: “Alto Cavaleiros da Cruz do Martelo!”

Ele empina o cavalo branco cheios de respingos de sangue em frenesi pela luta.

Barão Algar: “Cessem o ataque Cavaleiros!”

Comandante Romano: “Calma todos! Guardem suas lâminas para o sangue saxão.”
Todos os cavaleiros romanos guardam as suas armas imediatamente. O que ficou no chão senta na grama do vale no pé da colina. Outro Romano desce e o ajuda limpando o rosto cortado e o nariz quebrado. Agora os heróis podem ver melhor o comandante Romano. Ele guarda suas duas gladius cruzadas na cintura.

Sir Berethor: “Não estão me reconhecendo?”

Então ele retira o elmo e eles vêem o rosto jovem do Cavaleiro quando ele desce de seu cavalo.

Sir Berethor: “Sir Berethor! Sobrevivente do cerco de Bayeux. Ex-escudeiro de Sir Edgar. Direto da terra dos francos ao seu dispor mais uma vez Sir Algar. Não reconhecem um amigo quando o vê?”

Sir Bag o abraça levantando-o e todos os outros o cumprimentam.

Sir Dalan: “Quase te matei amigo!”

Sir Berethor: “Ou eu poderia ser mais rápido e ter te matado, não é? Foi uma longa jornada até aqui. Atravessamos o canal quando soube da invasão. Estou há sete longos anos juntando esses homens leais e lutando contra Syagrius na Terra dos Francos. O homem sem terras pilhou, matou e torturou centenas de pessoas. Rouba as vilas, estupra as mulheres, torna a vida daquele povo sofrido um inferno. Eles estão sem líderes do outro lado do mar e as terras não tem senhores nem fronteiras bem definidas. Como Cavaleiro é o meu dever defender os fracos. E onde está meu grande amigo Sir Hervis?”

Sir Enrick: “Houve uma guerra civil. Algar lutou contra seu irmão Odirsen II.”

Barão Algar: “E descobrimos que Hervis era um agente duplo. Era meio irmão de Algar e nos espionava para Odirsen II. Foi morto na batalha.”

Sir Berethor: “Meu Deus, sinto muito! O mundo é muito injusto mesmo. E Sir Alein?”

Sir Enrick: “Tombou na primeira carga desse combate. Ele foi um herói lutando contra a cavalaria de Odirsen II tentando cercar o exército inimigo.”

Sir Berethor: “É uma época cruel a que vivemos. Tenho informações importantes para o Rei. Vocês podem me escoltar até ele?”

Então eles cavalgam para o sul para encontrar o exército real.

Sir Berethor: “Eu ouvi certo Algar? É um Barão agora? O Demônio do Norte? Quem diria! Como foi isso?”

Barão Algar: “Houve um torneio em Logres e eu venci as justas. Vou difícil mas a recompensa valeu a pena.”

Sir Berethor: “Bom, já eu fiquei em coma quase um ano. Semi morto depois da batalha. Acharam o meu corpo e só viram que eu respirava quando me jogaram na vala com centenas de corpos depois da batalha. Me recuperei. Levei quase um ano para levantar uma espada novamente. O tempo passou. Casei com uma mulher, Denise e decidi ficar do outro lado do canal juntando ouro para voltar. Sem um rei e sem ter como lhes mandar notícias não foi fácil pagar pela minha travessia e de meus homens. Mas sabem que quando Syagrius veio para ilha lutar com os saxões eu decidi segui-lo. Este homem é o mau caminhando entre os homens. Gastei tudo que juntei nesses anos e eu e mais mil guerreiros mercenários francos, contratados por mim e sobe meu comando desembarcamos na ilha há duas semanas. Ontem travamos nossa primeira batalha contra os saxões. Só sobramos eu e esses poucos homens. Mas conseguimos empurrar o inimigo para o norte em Saint Albans. Os que não conseguiram escapar correram para o sul e os últimos bárbaros eram estes. Perseguimos e matamos todos os outros. Preciso falar com Vossa Majestade o mais rápido possível.”

Quando os heróis retornam já encontram no final do dia o acampamento do exército real. As fogueiras já estão acessas. São 6500 homens mais os escudeiros e pagens totalizando quase a população de uma cidade grande da Britânia. Eles entram pelos corredores entre as tendas. Muitos comem e os que os vêem lhes cumprimentam. O lugar está cheio. Os homens caminham pelas trilhas entre as tendas de um lado pro outro conversando e bebendo. Então eles chegam na área de acampamento onde os seus brasões tremulam com o vento no final da tarde.

Sir Amig: “Ora! Ora! Já fazendo amizades! Quem são esses Romanos que trouxeram para serem mais algumas bocas para alimentarmos?”

Marion: “Pai! É Berethor que lutava ao lado dos rapazes antes de eu chegar na ilha.”

Sir Amig: “Berethor! Quem diria! Vivo meu rapaz. Em Bayeux escapei da morte também. Que bom que está aqui! É que tivemos muitos problemas com romanos nos últimos tempos não é rapazes? Vocês são bem vindos.”

Sir Berethor: “Preciso ver o Rei! E o que eu contar, vocês não irão gostar.”

Sir Amig: “Vamos então! Berethor, Enrick, Algar e Marion sigam-me.”

Então eles se dirigem até o centro do acampamento. Sir Brastias e seus homens estão ao redor das tendas do alto comando.

Sir Brastias: “Boa noite senhores! Bom ver vocês cavaleiros! Aguardem enquanto o arauto os anuncia!”

Depois de uns minutos ele volta.

Sir Brastias: “Certo! Deixem os passar!”

Eles entram na tenda enorme toda decorada com candelabros, tapeçarias, tapetes, um falcão peregrino em um poleiro e armaduras. Uma dezena de Cavaleiros fazem a segurança do Rei ali dentro. O trono está ao fundo e na frente dele uma mesa longa. Estão sentados o Rei Uther, Sir Elad, Conde Ulfius e Conde Roderick. O alto comando está lendo papéis, discutindo e tomando hidromel. O físico real parece administrar uma dose de remédio fumegante injetado com uma agulha de madeira na jugular do Rei.

Rei Uther: “Sejam bem vindos Cavaleiros! Por favor entrem. O que os trazem aqui?”

Berethor se aproxima de Uther com a mão em sua gladius. Os guardas olham assustados. Mas ele se ajoelha com a cabeça baixa, aos pés de Uther, oferecendo a sua espada ao rei.

Sir Amig: “Este é Berethor, antigo escudeiro de Sir Edgar, o louco.”

Rei Uther: “Quer matar os meus homens de susto. É bom tê-lo de volta Berethor! Como vê a ordem perdeu bons homens. Chegou em boa hora meu rapaz.”

Sir Berethor: “Vossa Majestade! Tenho algumas notícias. Eu e meus homens nos encontramos com a Vanguarda do exército inimigo. A proporção era oito saxões contra um Cavaleiro sobe o meu comando. Lutamos contra eles seis horas sem cessar até ao anoitecer. Estávamos vencendo, mas a segunda leva de inimigos não parava de chegar. Eu calculo que o exército saxão deve ser enorme, muito maior que o nosso. Talvez dez mil lanças. Aguentamos o que podíamos. Eles desciam para o norte e repelimos o ataque. Eles então recuaram para Saint Albans. Mas é aí que começaram os nossos problemas.”

Rei Uther: “Dez mil lanças. Saint Albans fica cercada de mata. Se eles recuarem para o norte da cidade lutarão com as costas protegidas pela floresta. E aí terão uma vantagem enorme contra nós.”

Sir Berethor: “Meu Rei, o senhor não está entendendo. Nossos problemas começaram porque algo terrível saiu de suas fileiras. E ele investiu contra nós liderados por ninguém menos que meu antigo mestre, Sir Edgar dos Romanos. E matou quase todos os meus homens. Só sobraram esses que estão comigo. Perdi quase mil almas senhor! Tudo estremecia enquanto na escuridão meus homens gritavam e morriam. Essa coisa parecia valer por um flanco inteiro de um exército! E escutem, isto é muito importante. Dizem que Sir Edgar ficou louco. Soube que ele estava recolhido em um mosteiro próximo a Glastonbury. Quando cheguei na Britânia, visitei o lugar procurando-o, mas ele tinha partido. Um monge me confidenciou que Edgar o contou que ele sonhava com NIX, uma espécie de deusa romana, que o perseguia em seus sonhos. Contou que uma vez ele e a mulher se encontraram no mundo subterrâneo. O que para mim já parecia loucura, onde ela querendo-o como consorte roubou, seduzindo-o, um pedaço da alma de Edgar sugada através de sua boca. E este pedaço da essência de Sir Edgar ainda estava com NIX quando ele deixou o outro lado do véu. Ele passou a vagar como um louco no mundo material. Até que perdido ele afundou em sua fraqueza e ela sugou a sua alma por inteiro. Dizem que ele é um morto vivo, um mero instrumento na mão dessa bruxa que quer a destruição de nossa Deusa para ela tomar o seu lugar.”

Sir Amig: “Por isso as cidades tem caído com facilidade! Forças além de nossa compreensão e traidores. Temos que pensar em algo para destruí-los.”

Conde Roderick: “Então temos, Sir Edgar em um flanco. Provavelmente o Pretor Syagrius no outro e o Rei Octa no centro. Uns 10.000 inimigos sedentos e famintos como lobos no inverno. Acho que concordamos que não será uma tarefa fácil.”

Rei Uther: “Malditos! (bate com o punho na mesa) Estamos sem saída. Desgraçados!Certo, estão dispensados. Pela manhã marcharemos para Saint Albans. Tentem descansar. Precisamos de todas as forças para enfrentarmos esse momento.”

SAINT ALBANS

Amanhece e logo as ordens chegam pelos arautos por todo acampamento. Sir Amig entra na tenda já usando a sua armadura completa de guerra prateada com um grande cabrito da montanha no peitoral.

Sir Amig: “Acordem! Hora de mexerem estas bundas brancas e caçarmos esses bárbaros escrotos!”

Então, todos os homens das mais variadas unidades começam a se preparar. Arcos e flechas são testados. Lanças com as pontas de metal são fixadas. O som do aço sendo afiado e o cheiro de tinta dando os últimos retoques nos símbolos pintados no escudos permeiam o ar. Os escudeiros ajudam os seus mestres com cada placa de suas armaduras. Cada amarra de couro é preparada com muito cuidado. Os cavalos também são vestidos com as suas proteções metálicas. E um silêncio paira sobe o acampamento que se prepara para a guerra. Alguns golpeiam com as suas armas se aquecendo. Outros ajoelham-se com as suas espadas e machados colocadas na vertical no chão e oram. Outros bebem e desejam sorte.

Oswalt: “Chegou a hora irmão! Que os deuses nos protejam!”

Então do centro do acampamento onde está a tenda real vem as ordens de comando gritadas de um homem para o outro. “Façam um círculo! O Rei vai falar!”

Então cada homem integrante do exército real fica ao redor da tenda de comando. O Rei Uther está em cima de seu corcel negro de batalha. Eles espera todos ficarem em silêncio. Ele está usando a sua armadura real. E no seu ombro um escudo pequeno com o brasão de Madoc que são dois dragões amarelos sobe o fundo verde, com uma faixa também amarela transversal e no alto do escudo uma coroa vermelha invertida estilizada. Dá para escutar o som de um alfinete cair.

Rei Uther: “Irmãos de Guerra, aqui estamos mais uma vez! Para todos nós! Rei e seus fiéis soldados que defendem Logres não há esperança. Quando marchamos para o campo de batalha muitos de nós não voltarão e seremos apenas uma lembrança na memória daqueles que amamos e daqueles que tiveram uma vez um sonho de liberdade frente aos invasores e dos povos que desejam a paz. Lutemos por Logres e pela nossa liberdade. Não pensando em nós e sim em nossos descendentes. Não esqueçam que para aqueles que amamos espalhados por todos recantos do Reino nós somos a esperança. Mesmo com os nossos escudos quebrados, com as lâminas cegas e com as flechas voando sem direção! Porque muitos de nós estarão mortos e cruzarão de cabeça erguida a ponte de espadas. Mas não temam. Somos filhos da Britânia e também somos pais dos filhos desta terra. E este é o dia irmãos. Hoje! Lutaremos por nossos descendentes, lutaremos pelos nossos amigos. E se for preciso, morreremos por nossos filhos e famílias. Quando os braços estiverem exaustos de golpear e sentirmos que falharemos ainda assim resistam homens. Não abandonem seus corações. Porque uma vez vislumbrei o segredo do aço e me foi revelado que a mesma mão que o empunha e tira vidas é aquela que afaga e salva a quem amamos! Por Madoc e por todos aqueles que nos foram arrancados sem piedade lutem.(Ele retira a Excalibur e grita). Looooooogres!”

Todos erguem as suas armas e gritam a pleno pulmões o nome do reino.

Então os sargentos organizam as suas unidades e o exército de Uther marcha. Na vanguarda o Rei e a guarda pessoal real, comandada por Sir Brastias. No centro Conde Ulfius e na retaguarda Conde Roderick. Os mil e quinhentos cavaleiros cercam os infantes e arqueiros. E os milhares de estandartes coloridos cobrem as colinas. O dia está cinza e abafado. O som da marcha enche a paisagem. Uma a uma elas são vencidas pelas estradinhas de terra que sobem e descem serpenteando o campo verde Britânico. Até que depois da hora do almoço o exército vê do alto do último monte uma cidade enorme no vale abaixo.

Ela é do tamanho de Sarum. Deve ter uns 7000 habitantes. Com uma muralha alta romana de pedra, com torres de arqueiros ao longo da estrutura. Dá pra se ver umas cinco catedrais lá de cima. E atrás da cidade o Rio Tea. Um longo fosso circula toda a extensão do lugar. As ruas são de paralelepípedo. A direita existe um castelo de pedra bem protegido. Mas o lugar parece deserto, nem sinal de habitantes nem de saxões. Nem os estandartes tremulam das torres de vigia e no castelo, nem sinal de fumaça e nem de vítimas.

Sir Amig: “Saint Albans! Onde o melhor amigo de Algar vive. O Arcebispo Dubricus mora aqui pagão! Aqui é a cede do poder cristão da Britânia. Que tal você ir até lá e pedir hospitalidade?”

Sir Dalan: “E voltar sem a cabeça!

Todos riem. O arauto se aproxima trazendo as ordens da vanguarda.

Arauto: “O Rei ordenou que todo o exército desça até a planície e que todos fiquem em alertas para ataques surpresas.”

Eles avançam mais um pouco. O lugar é um descampado coberto de relva verde com dois quilômetro até as muralhas de pedra romanas. Existem duas estradas de terra. Uma delas aparenta dar em um portão à esquerda e a outra desemboca na direita em uma torre alta. Então o Rei convoca os heróis. Quando chegam até o Rei, Uther está confabulando com Conde Ulfius e Roderick.

Rei Uther: “Sir Enrick, Lady Marion, Barão Algar e seus cavaleiros chequem os portões! Tenham cuidado! Só observem. Muito Cuidado! Qualquer coisa estranha me comuniquem imediatamente. Não entrem em combate. Ainda não estou com as tropas prontas. Levará algum tempo até termos a formação necessária.”

Sir Bruce: “Permita-me ir junto Majestade!”

Rei Uther: “Pode ir Sir Bruce! Mas não morram, isso é uma ordem! Atenção arautos! Preparem as linhas para o combate. Arqueiros à frente, lanceiros atrás. Infantaria se posicionem. Flancos esquerdo e direito estejam prontos. Quero a cavalaria na vanguarda.”

Todos os milhares de homens se movimentam e começam a se organizar com os arautos reais levando as ordens de comando por todas as fileiras e levantando bandeiras sinalizando o lugar que cada unidade deverá ficar.

PORTÕES DA CIDADE

O grupo com onze cavaleiros de logres e os dez Sine Nomine, em seus cavalos negros, seguem pela estrada de terra larga. A medida que se aproximam, sobe o céu cinza da Britânia, vêem a muralha ficar cada vez maior. E olhando para trás observam o exército de Uther se posicionando. Quando chegam na borda do enorme fosso se deparam com uma revelação intrigante. Os dois portões de quatro metros de altura, duplos, estão abertos e a ponte levadiça abaixada. Nenhum movimento lá dentro, nem nas muralhas e nem nas torres. Só uma dúzia de cachorros se coçam e caminham à esmo próximo a entrada.

Dylan: “Um convite!”

Sir Bag: “Entramos?”

Sir Bruce: “É claro!”

Sir Verius montado em um pônei com Urco: “Só se for agora!”

Sir Jakin: “Calma homens! Pode ser uma armadilha!”

Sir Dylan: “Uma vez lá dentro deste labirinto de casas pode não haver volta.”

Sir Enrick: “Eu vou! Sigam-me Cavaleiros da Morte à Cavalo.”

Sir Enrick e seus homem entram pela cidade e não encontram nada. Apenas casas remexidas e um cheiro ruim.

Então eles retornam quando o grande exército já está perfilado.

Rei Uther: “E então Cavaleiros? O que nos espera?”

Barão Algar: “Portões abertos Majestade. Destruímos os mecanismos da ponte levadiça se precisarmos entrar na cidade e não sermos barrados.”

Rei Uther: “Um convite para entrarmos! Muito fácil! Se eu for ambicioso entraremos agora. Se os malditos estão lá dentro, um cerco seria complicado. A cidade é enorme. As terras não foram cultivadas e estamos sem muitas provisões. Essa batalha deve ser decidida rapidamente ou a fome e a doença nos derrotará. Os deuses sempre amaldiçoam um exército grande.”

Conde Roderick: “Não esqueça majestade, que os saxões podem querer que armemos um cerco e depois que estivermos acampados podem nos atacar de surpresa, como lobos traiçoeiros.”

Então a notícia de que a cidade está deserta e os portões abertos corre rápida pelas fileiras e logo um grupo de cavaleiros se aproxima. Liderando-os, Sir Onofre e os Cavaleiros de Wells. Os vinte homens circulam com as suas montarias o lugar onde os heróis e o Rei estão.

Sir Onofre: “Meu Rei! Somos homens de cristo. Bem sabes que o Arcebispo é nosso aliado e que em Saint Albans estão as relíquias sagradas da igreja. Deixe-nos entrar na cidade Vossa Majestade. Não podemos deixá-las em mãos de bárbaros. E se o inimigo estiver lá dentro os enfrentaremos com a nossa fé e ajuda de nosso senhor. As tropas Reais já estarão prontas e se eles estiverem lá dentro atrairemos os pagãos para campo aberto. Precisamos acabar com isso logo Majestade!”

Uther olha para baixo. Depois para as muralhas da cidade. Suspira.
Rei Uther: “Droga. Está bem! Não esqueçam homens. Estamos do mesmo lado. Pagãos e Cristãos devem unirem-se por Logres. Barão e seus Cavaleiros sigam com Sir Onofre. Levem mil homens da infantaria simples. Quero as tropas de elite aqui. Ao menor contato com o inimigo recuem e tentem os atrair para campo aberto. Sir Amig você fica, preciso que preparem os homens para o combate. O comando é seu Barão!”

Sir Amig: “Como queira Majestade. Antes de irem garotos. Vou dar o melhor conselho para vocês. Deixem seus cavalos. Lá dentro, não servirão de nada.”

Sir Onofre: “Velho tolo! Cavaleiros sem cavalos são como uma tripulação sem um barco!”

Sir Amig: “Ou uma tripulação sem a cabeça! Que não lhe arranco agora, porque seria mais fácil do que enganar um aldeão com uma dessas relíquias falsas que quer tanto proteger. Mais tarde saberemos quem tinha razão. Se for uma armadilha ficarão sem ter como escapar lá de dentro idiotas.”

Sir Onofre vira o seu cavalo passando rente à Sir Amig jogando terra no veterano que só sacode a cabeça negativamente.

Metade do dia já havia passado quando os trinta cavaleiros sobe a liderança de Algar e 900 infantes e 100 arqueiros se aproximam da muralha. Os Heróis, os Cavaleiros da Cruz do Martelo, caminham e Sir Onofre segue na frente com os seus homens montados. Ao passar pelo portão principal eles passam pelo lado de uma grande torre redonda. No lado direito existe uma pequena igreja e na esquerda uma grande Abadia. Os mil homens seguem dois a dois lotando a rua. Aos poucos eles vão circulando a igreja. Sir Onofre sem dar a mínima satisfação desmonta de seu cavalo e entra no templo cristão seguido pelos seus cavaleiros que deixam as suas montarias amarradas na frente. Os homens de Wells fazem o sinal da cruz quando entram na antiga construção.

Sir Onofre: “Miseráveis! Profanos!”

Algar entra atrás dos homens e vê uns doze monges crucifixados atrás do altar principal. Os cadáveres estão flechados e o seu sangue negro coagulado no mármore branco do chão da catedral.

Então eles continuam a avançar pelas ruas e chegam na praça principal. Existem duas igrejas. Uma de cada lado da praça. Novamente os Cavaleiros de Wells entram nos templos. Metade dos homens em uma e o restante na outra. Então sons reverberam pelo chão e fumaça preta começa a subir de trás das construções ao sul. As casas de madeira vibram e os pedaços das pedras da fachada caem em cima de alguns homens. Os Heróis estão no centro da praça. Ao redor os guerreiros seguram as suas armas e observam, sem saber ao certo, o que está acontecendo. Dá para se perceber o medo em seus olhos. O cheiro de carniça, como se centenas de cadáveres em decomposição abafassem o ar, deixam todos enjoados.

Sir Enrick: Esse cheiro eu conheço, é um gigante!”

Sir Jakin: “Pela deusa, não! São dois gigantes!”

Dois gigantes com as suas cabeças erguendo-se a altura das igrejas maiores passam por trás da Abadia. Eles vêem por entre um beco um deles passar e sumir. Logo outro do lado oposto faz o mesmo. Eles os vêem da cintura pra cima. Seus olhos parecem humanos mas seu corpo é todo deformado. Suas mãos tem unhas negras enormes e faltam alguns dedos. Suas costelas são cobertas por uma carne infecciosa purulenta e alguns órgãos estão expostos por entre elas. Seu maxilar é deslocado para a direita e seus dentes são podres e a língua é negra. O corpo com partes sem pele em carne viva emana um cheiro de carniça forte. Metade de seu crânio deformado é coberto por tufos de cabelos sebosos. Então o pânico se instaura por entre a infantaria. Alguns se pisoteiam tentando recuar e outros ficam congelados de medo. A grande confusão impede os homens de voltarem.

Todos vêem as criaturas carregando algo. Nas mãos, de cada uma, enfaixadas com cipós, existem dois barcos em chamas. Os gigantes então atiram as embarcações enormes de cinquenta remos como se fossem de papel. Elas passam por cima da praça assobiando e deixando um rastro de fumaça atingindo as duas igrejas da entrada da cidade. O impacto é forte e parte delas desaba e as casas de madeira são atingida por uma tonelada de óleo fermente que estava no interior das embarcações espalhando o fogo por todos os lados. Os gritos de pavor enchem as ruas.

Sir Dylan: “Pelos Deuses! Bloquearam a saída! Estamos todos mortos!”

A gritaria começa entre os soldados que não sabem o que fazer. O lugar está lotado pela multidão de infantes. Alguns tentam fugir mas a quantidade de gente naquela praça torna a tarefa impossível. O caos está instaurado. E aí começam a voar pedaços de casas, pedras e escombros arremessados na praça pelas criaturas. Os pedaços de casa atingidos com os arremessos voam para todos os lados com tanta violência que mutilam e decapitam os soldados as dezenas. Sangue, partes de braços e corpos cortados ao meio estão por toda parte. Existem pedaços de cadáveres até mesmo nos telhados. Pelo menos um terço dos homens são mortos assim. Algar é atingido por vários entulhos de pedra que formavam uma casa o atirando longe. Marion também é atingida por escombros de vigas de um telhado, que se despedaçou nas paredes de uma das igrejas, ferindo-a.

Então, com um grito de guerra vindo do norte da cidade, milhares de saxões correm em direção ao centro da praça. Eles surgem de todos os lados, de todas as vielas. Armados com machados, martelos e lanças. Uma torrente de morte e dor. Logo quatro deles chegam. Os outros Cavaleiros da Cruz do Martelo também entram em escaramuças com a onda de inimigos que se aproxima tirando vidas. Marion salta com a sua boleadeira e puxa o seu adversário com ela. Quando o homem se aproxima a mortal guerreira lhe estoca com a sua gladius. Enrick golpeia com o seu martelo abatendo dois inimigos com violência. Um quebrando a têmpora com uma martelada e o outro explodindo a sua cabeça no paralelepípedo da rua. Algar com a boça de seu escudo derruba um dos bárbaros e no chão o transpassa a garganta. Mas a tormenta de saxões não para de chegar. Milhares de homens tomam a parte central cercando-os. Os homens de Sir Onofre lutam. Dez deles já tombaram. Seus cavalos foram abatidos cada um por uma dezena de lâminas e com os cavaleiros no chão os heróis vêem as tripas voando e o sangue em esguichos espirrando. O som da morte, dos gritos dos homens assassinados, é ensurdecedor. Sem espaço para manobrarem os Cavalos, os Cavaleiros de Wells são abatidos como moscas. Os heróis sentem o sangue molhando seus pés.

Sir Bag desarmado quebra o pescoço de um saxão e gira o corpo morto do inimigo atingindo outro bárbaro. Depois faz uma carga derrubando um terceiro e com um pedaço de uma viga explode o crânio de adversário, no chão, como uma melancia. Berethor arremessa uma adaga matando um saxão e depois gira com a gladius degolando dois bárbaros de uma vez. No final do giro bate com o escudo quadrado na cara de outro e com a borda acerta a nuca de seu inimigo que estava de quatro no chão, matando-o e enchendo o rosto do Cavaleiro Romano com respingos de sangue.

Sir Berethor “Precisamos sair daqui ou vamos morrer!”

Então os dois gigantes se aproximam. Cada um por uma rua. Alguns homens correm, outros tentam os atingir com as lanças no tornozelo. Um dos gigantes grita de dor e pisa em dez deles de uma vez. O outro pega Sir Onofre que tentava achar espaço para fazer uma carga com o seu cavalo. Ele está com uma urna na mão. Provavelmente uma relíquia cristã achada na igreja. Mas é agarrado pela criatura com a mão do tamanho de uma casa que morde a sua cabeça. Logo depois a cospe com elmo e tudo. O tronco decapitado sem vida, do Cavaleiro, é atirado em mais cinco guerreiros que são mortos com o impacto. Mais da metade dos homens de Uther que entraram ali já estão mortos nesse momento. Merda, sangue, pedaços de gente mancham de vermelho as casas e vielas. O sangue corre pelas calçadas como chuva.

Então no meio da confusão eles ouvem um grito. É a voz de Carmelo. “Venham mestres, corram! Salvem suas vidas!” Os heróis vêem na muralha norte o padre de pé no passadiço, o trebuchet apoiado na construção do lado de fora, por entre as ameias de pedra e uma corda amarrada nele até o chão junto a muralha. Eles correm pelo descampado entre a cidade e a construção. Um grupo de cinquenta saxões os seguem. Sir Jakin, Dalan, Bag, Dylan, Oswalt, Sir Verius e Urco os acompanham. A medida que eles avançam por entre a fumaça que vem da direita, onde um grande incêndio se espalha, uma chuva de lanças cai sobe suas cabeças. Nenhuma os atinge. Então eles chegam na base da muralha. Marion sobe pela corda rapidamente seguida por Algar e depois Enrick. Então eles escutam o som de arcos sendo puxados e flechas zunindo. Quando olham para cima vêem as máscaras dos Ventos do Pântano. Os saxões que os perseguiam vão caindo um a um. Os que não são atingidos se assustam com a aparência dos jovens guerreiros e recuam por algum tempo. As máscaras e os tiros certeiros os mantem à distância.

Padre Carmelo: “Sejam bem vindos mestres! Desçam rápido pelo braço do Fazedor de Viúvas.”

Usando o longo braço do Trebuchet, eles chegam facilmente do outro lado do poço de proteção da cidade. O grande exército de Uther está boquiaberto olhando tudo. Um por um os Cavaleiros vão chegando. Urco sem ter como subir é deixado para trás. Sir Verius fica desesperado, mas as lanças passam zunindo por sobe a sua cabeça e uma abre um corte em seu braço. Os Ventos do Pântano continuam a atirar. Então os passos dos gigantes começam a vir na direção da muralha. Ao mesmo tempo dezenas de lanças começam a fazer barulho se chocando contra o muro de pedra do lado de dentro.

Padre Carmelo: “Hora de descermos Ventos do Pântano! Os gigantes estão se movimentando pra cá!”

Então com muita agilidade eles descem rápido. Por último o Padre, meio desajeitado, tropeçando na batina.

Padre Carmelo: “Corram todos rápido!”

Enquanto se afastam uma casa grande se choca onde os Vento do Pântano estavam. As lascas explodem para todos os lados. Quando estão à uma distância segura eles reparam que estão cheios de cortes, arranhões e sujos de sangue. Enquanto voltam para a linha do exército do Rei, colocada há um quilômetro e meio da cidade, o Padre os olha com lágrimas nos olhos. Um Cavaleiro parece estar faltando.

Padre Carmelo: “Desculpem senhores! Não havia mais tempo, ele já tinha sido atingido por três lanças e não conseguiu subir com o braço ainda machucado. Jakin está ao lado dos seus antepassados agora.”

Algar triste se lembra do rapaz que, quando conheceu, era um escudeiro salvo pela sacerdotisa pagã. Tinha sido atacado por um gigante e estava entre a vida e a morte. Algar o tinha ajudado. Jakin jurou vassalagem à Algar e tinha se tornado um grande guerreiro que lutava com dois manguais e fazia parte dos Cavaleiros da Cruz do Martelo.

No verão abafado, no início da noite começa a chover. Quando eles chegam nas suas linhas o rosto de todos os homens é de tristeza. Os cinco mil e quinhentos homens estão chocados com a matança. Alguns, até mesmo veteranos estão com lágrimas nos olhos. A fumaça sobe de dentro da cidade. E os gritos de pânico e dor duram por mais algum tempo. Logo tudo fica em silêncio novamente. Uma pedra vinda de dentro do muro atinge o fazedor de viúvas e quebra o Trebuchet ao meio. Algum tempo depois milhares de saxões aparecem nas muralhas atirando as cabeças dos soldados assassinados. Eles riem e fazem sinais ofensivos. O Rei Octa surge no centro e ao seu lado Syagrius e Sir Edgar com um rosto de satisfação usando a sua imponente armadura sagrada os observa enquanto trovões caem no fim de tarde cinzento.

Rei Uther: “Não será fácil homens mas esses bárbaros vão se arrepender de terem nascido! Preparem acampamento. Fiquem com as suas armas prontas homens. Eles não virão no meio da noite. Seria fácil equilibrarmos as forças na escuridão e eles perderiam a vantagem numérica. Estejam prontos ao amanhecer. Invadiremos a cidade!”

Então o Rei se retira para a tenda de comando chutando tudo que vê pela frente. Dê dentro da tenda eles escutam gritos do rei e barulho de quebradeira. Os milhares de escudeiros trabalham armando as tendas no sopé das colinas há dois quilômetros das muralhas. Os arqueiros e cavaleiros fazem uma barreira de proteção. As carroças também são colocadas como barricadas. Dentro da tenda eles bebem hidromel e comem mingau de aveia. A atmosfera é de tristeza e silêncio. Todo acampamento está quieto. Lá dentro da cidade se ouve cantoria e comemorações.

Sir Amig: “Aproveitem seus desgraçados! Comemorem malditos! Vamos ver quem vai rir por último.”

Sir Berethor: “Mil almas! Perdemos mil almas!”

Sir Dylan: “Um brinde a Sir Jakin e seus manguais! E bebamos aos homens que tombaram hoje à tarde. Que Morrigan os recebam ao lado dos grandes heróis!”

Sir Dalan: “Precisamos dar um jeito nesses gigantes desgraçados. Eles vão passar por cima de nossos homens como se fossem formigas.”

Sir Bag: “Não esqueça do amigo de Algar com a Sanctu Gladius e a armadura sagrada! E se não fossem aqueles desgraçados daqueles reis do norte que alimentaram e deram abrigo para esses nojentos a estória iria ser diferente.”
Sir Verius: “Rei Octa! Esse homem vai fazer de tudo para nos matar. Eles não terão misericórdia. Cada guerreiro saxão sabe disso. Eu acredito que essa é uma batalha final. Decidirá o nosso futuro por muitos anos. A Urco! Fiel amigo e companheiro de batalha!”

Oswalt: “Irmão! Pensei que você ia morrer lá dentro. Foi horrível. Como vou sobreviver ? Parece que toda vez eu serei morto como uma mosca quando estou no meio do caos.”

Sir Enrick: “Porque você se acha especial rapaz? Todos nos sentimos assim. Com você não será diferente! Chega de reclamar!”

Então o jovem escudeiro, irmão de Enrick, fica quieto pensando nas palavras sábias de seu irmão.

Sir Warren: “Boa noite! Venham, o Rei mandou-lhes chamar! O Rei Octa mandou um mensageiro!”

Então eles entram na tenda real. A guarda pessoal do rei cerca o local. Lá dentro em frente ao Rei está um saxão e Dickson, o tradutor de Uther. Também estão o Duque Ulfius, o Conde Roderick e Sir Amig. A decoração e a maioria das tapeçarias e mobílias estão quebradas pela fúria do Rei. O bárbaro está com os cabelos presos por uma trança. Seu cabelo preto e liso é perfumado e enfeitado com anéis de ouro. Sua armadura com o peitoral tem o Lobo de Octa e seu elmo prateado e dourado indica ser um nobre. Possui um longo cavanhaque. Enrick o reconhece, é Beorthric, o filho de Octa. O homem que o arqueiro encontrou preso em uma torre em Bourton.

Uther: “Fiquem e escutem. Diga a esse bárbaro para falar rápido o que quer. Não estou de bom humor.”

Dickson: “Ele disse que seu pai, o Rei Octa, conquistador da Britânia está disposto a negociar a sua rendição! Para evitar a aniquilação total de seu exército e a sua morte Majestade.”

Uther: “Ah sim! E o qual seriam os termos dessa proposta tão generosa de seu Rei?”

Dickson: “Retire-se imediatamente do campo de batalha. Será permitido partir de barco para longe da ilha com a sua família ou com quem quiser. Então deixará o tesouro real e pouparemos seu povo desde que nos paguem ouro e parte de suas colheitas.”

Uther (gritando): “Desgraçado! Filho de uma puta! Vem em minha presença cuspir em meu título de Pendragon seu merda! Traduza isso agora!”

Dickson engole seco.

Uther: “Vamos! Traduza rapaz!”

Beorthric ri sarcasticamente quando escuta a tradução.

Uther: “Poderia mandar você voltar com palavras ofensiva ao seu Rei, mas farei melhor! Conhecem esse homem Cavaleiros? Ele lhe tomou algo Sir Enrick. Esse escroto é Beorthric! O Filho de Octa que estava preso em Bourton. Ele é todo seu para fazerem o que acharem melhor! Traduza isso Dickson: Você e seu pai não são nada pra mim. Amanhã à noite tomarei meu hidromel dentro do crânio de Octa e seu corpo e o dele serão dado aos meu cachorros que depois cagarão os seus restos como os merdas que são!”

Beorthric, desarmado, fica com os olhos saindo das órbitas de tanto ódio e cólera.

Beorthric fala com um sotaque carregado: “Somos muitos! Vocês não tem chance! Estão mortos! Só ainda não decidiram fechar os olhos estrume Britânico. Além do mais temos um refém, o Cavaleiro que ficou para trás. Se eu não retornar ainda essa noite ele será morto.”

Então Enrick pega o saxão pelo gorjal de sua armadura e lhe dá um soco com a sua mão enluvada em metal negro. Beorthric cai no chão com o nariz sangrando. Enrick pega sua adaga e a mão do bárbaro para arrancar o anel que o bárbaro tinha pedido em troca da informação do paradeiro de seu pai meses atrás. Mas não existe nenhum em seus dedos.

Beorthric: “Filho de Horsa! Eu sei que foi você que matou meu irmão, Oswood. Aquele menino desgraçado que traduzia o idioma afeminado que vocês falam pegou o anel para ele quando você deixou no chão da torre. Quando meu pai me libertou o garoto já tinha fugido.”

Então Enrick tomado pelo ódio grita: “Horsaaaa!” e com o seu martelo de guerra quebra os dois joelhos do filho de Octa que desmaia de dor.

Enrick: “Mandem esse saco de estrume de volta para as muralhas.”

A madrugada passa silenciosa. A chuva cai a noite inteira. Os arqueiros protegem seus arcos e cordas de cânhamo. O hidromel corre pelas fileiras para dar coragem. Todos estão tensos e assustados. Uma fina bruma cobre os dois quilômetros que se estendem entre as fileiras do exército real e as muralhas de Saint Albans até o largo rio Tea, quando o sol surge abafando a umidade da noite anterior. As fileiras estão sentadas na lama, debaixo da chuva, espalhados pelo campo. Os heróis dormem nas tendas de campanha.

SONHOS :

Algar: Jakin surge com um corvo pousado em seu ombro. Eles estão em um lugar enevoado. Jakin: “Onde estou?. Não sei bem ao certo o que aconteceu Algar. Me vejo perdido. Estava num momento em Saint Albans e depois não lembro de nada. Foi como ter mergulhado em uma banheira de água quente. E neste momento alguém me disse que a ajuda virá do outro lado do véu. Que o erro que cometeu, que você sempre se culpa, não foi um erro e sim uma maneira de o destino preparar os eventos para serem cumpridos na cadeia de acontecimentos através daquela decisão tomada há anos atrás.”

Enrick: Uma mulher surge em cima da colina do cavalo branco. Ela é ruiva de cabelos encaracolados e monta Hefesto. Tatuagens azuis em espirais cobrem o seu corpo nu e ela leva um arco nos ombros. Ela diz: “Quanto mais alta a criatura, maior o tombo. A morte virá como o som de um trovão.” E Enrick vê milhares de pequenos dragões sendo mortos por um grande lobo. E um dragão vermelho cai com um golpe de um martelo de guerra. Morto por um leão de três cabeças.

Marion: Marion está na frança e vê o futuro. Castelos diferentes com torres redondas enormes com cúpulas azuis. Vê homens partindo para terras distantes com cruzes vermelhas em suas armaduras, tão fechadas e prateadas que não se vê um centímetro de seus corpos. E também vê várias mulheres de armadura e espadas em seus cavalos. Elas carregam um estandarte com os desenhos das flechas, do martelo e os bodes de chifre enrolado de seu pai com a faixa transversal amarela. A deusa está pintada na bandeira. Ela está toda de azul, a cor dos celtas, usando um véu na cabeça. Sua mãe aparece e diz: “Esse é o seu legado filha!” Estas são as suas filhas de armas, aquelas que levarão seu estandarte para outra terra sagrada, onde as areias cobrem a terra. Os deuses arrumam sempre uma forma de sobreviverem e viverão em seus feitos. A Grande Deusa se transformará, como tudo na natureza, na mãe do Cristo para continuar vivendo entre os homens e você a ajudará.”

Sir Amig: “Acordem! Os tambores dos bárbaros estão soando. A guerra está para começar! Que os deuses estejam conosco! Se reúnam lá fora, tenho algumas palavras pra vocês.”

Quando todos os Cavaleiros da Cruz do Martelo se reúnem Sir Amig está sério vestido para o combate.

Sir Amig: “Ajoelhem-se todos com as suas armas. Nunca fui bom com as palavras mas acho que hoje é o dia de vomitar algumas em cima de vocês. Como já perceberam essa será a batalha mais difícil que travamos nessa boa terra. Realmente estes desgraçados querem nos derrotar e acham que podem fazê-lo. Eu digo a vocês, tão certo quanto um homem se perde por uma mulher bonita, muitos morrerão hoje. Mas não corro de traidores e muito menos de gigantes. Corro de mulheres que dizem que fiz filhos nelas e cobradores de impostos. As primeiras são mais perigosas que Octa e os seus homens. Quero dizer que esse é o fim de uma era garotos. A jornada foi longa. Perdemos muitos amigos, mas conquistamos outros. Aqui estamos neste campo de batalha prontos mais uma vez para darmos nossa vida pelo Rei e pelo irmão de armas ao seu lado. Porque somos os Cavaleiros da Cruz do Martelo e nada poderá nos deter. Por Madoc! Força, Lealdade e Honra! Agora chega de frescura e vamos matar saxões!”

As batidas dos tambores saxônicos não param. Os gritos de dentro da cidade e a cantoria é incessante. A maioria dos infantes e arqueiros reais dormem pelo chão mesmo. Todos vão sendo acordados pelos seus sargentos e companheiros de armas. As carroças que faziam as barricadas são trazidas para a retaguarda e tendas de socorro são armadas enquanto as mulheres curandeiras vestidas de azul fazem uma oração a Deusa da cura, Brigit. Alguns sacerdotes cristãos e druidas caminham pelas fileiras abençoando os homens. O Rei Uther caminha por entre suas tropas, batendo no ombro de seus homens os incentivando. Verifica um arco, depois ajusta uma alça de escudo de um infante que fica muito feliz com a ajuda do Rei. As flechas vão sendo distribuídas e as armas são afiadas mais uma vez. Os milhares de cavalos e cavaleiros aquecem-se dando trotes ligeiros e golpeando o ar com as suas armas. Uther chega até os heróis. Ele tosse e está bem pálido.

Rei Uther: “Prontos homens? Mais uma batalha não é? Ontem não foi fácil, mas espero que hoje os bons ventos soprem a nosso favor. Deixe me ver esse machado Algar! Que bela arma Cavaleiro. Bruta como a mão que a empunha, mas eficiente. Milaidie tenho um pedido e como nunca se nega um pedido do Rei. Gostaria que você e os Vento do Pântano quando tiverem uma oportunidade ataquem um dos gigantes. Eles serão um problema para nossas tropas. Quero Enrick e Algar na Cavalaria atacando o outro. Preciso de um mar de cavaleiros contra essas malditas criaturas. Homens experientes como vocês farão a diferença. Marion, comandará todos os arqueiros. Uma grande responsabilidade senhora. Deposito minhas esperanças em vocês. Boa caçada”

Então os arautos do rei posicionam bandeiras com as linhas que formarão o exército. O Rei Uther organizou suas forças da seguinte maneira. Na frente os 1470 cavaleiros. A maioria com as suas armaduras com proteções de metal para realizar e suportar a carga. Eles e seus cavalos pesadamente protegidos brilham debaixo do céu azul sem nuvens. Seus escudeiros trazem os seus elmos. Na segunda linha os 400 arqueiros com as suas armaduras de couro e elmos abertos pontudos. E na terceira 3500 infantes. Dentre eles os lanceiros, alabardeiros, infantaria pesada usando armaduras, escudos e espadas. Infantaria leve com suas cotas de malha machados curtos, escudos redondos e martelos. E também em menor número os guerreiros celtas, só com armaduras de couro, pintados de azul, com punhais, boleadeiras, cordas para enforcamento e arcos. Por último estão os escudeiros armados com escudos e espadas. Os Comandantes estão na frente de seus flancos. Os dois Trebuchets são empurrados na retaguarda um de cada lado do exército. Uma fina bruma vinda do rio cobre a cidade e o campo de batalha. Ao comando do som dos chifres de batalha as unidades tomam as suas posições e começam a avançar. Os sargentos vão gritando ordens para as suas unidades, não deixando as linhas se misturarem, até que há 500 metros das muralhas Uther ergue a mão enluvada e a formação do exército para com os seus milhares de estandartes coloridos. Lá atrás fica a retaguarda, com as tendas de socorro, há dois quilômetros no pé das colinas. Tudo está em silêncio.

Os tambores soam e os passos dos gigantes são ouvidos. A cantoria dos saxões acaba. O som dos portões e dos entulhos sendo removidos é ouvido. A marcha de milhares de homens é sentida no compasso da percussão e dos passos lentos das criaturas. 9000 saxões com os seus estandartes de madeira e ossos de touros, de lobos e de ursos invadem lentamente a planície. Lá atrás os gigantes caminham guiados por correntes presas em seus pescoços e domados com chicotes e varetas cada um por dez bárbaros. Na vanguarda inimiga, mulheres, crianças e padres Britânicos caminham de cabeça baixa. Eles param longe do acalce das flechas de Marion. Dá para se ouvir um alfinete cair. A tensão é máxima. A visão dos reféns e das criaturas deixam todos apreensivos.

Os gigantes ficam ofegantes olhando o inimigo até que eles urram e todos os saxões gritam juntos batendo nos escudos redondos as suas armas. O som ecoa pela planície como um estrondo de mil raios. O pavor toma conta dos homens do exército do Rei Uther. A linha com pelo menos mil aldeões Britânicos é ajoelhada e aos berros de clemência e choros os bárbaros tiram seus punhais e todas são sacrificados. Eles se afogam em seu próprio sangue, com as traqueias cortadas, e uns cinquenta feiticeiros saxões saltam por entre os cadáveres enquanto lentamente eles se debatem como peixes fora dá água e morrem. Todo o campo de batalha fica em silêncio mortal enquanto os bárbaros pintam seus rostos com o sangue inimigo. Os druidas se adiantam e entoam palavras sagradas apontam com os seus cajados e cospem no chão fazendo um contra feitiço. Alguns deles queimam crânios descarnados e mostram a linha saxônica que se cala. Os padres oram ajoelhados de mãos dadas liderados por Carmelo.

PRIMEIRA HORA DE COMBATE

Rei Uther: “Cavalaria! Apresentem-se para o combate!”

Sir Elad, comandante da cavalaria real, ergue a mão enluvada e dá o sinal. E todos os cavalos dão um passo à frente ao mesmo tempo. O que cala o inimigo que começa a formar um parede de escudos com três mil homens na vanguarda.

Sir Bag: “Eu quero transformar em pó os ossos desses escrotos!”

Sir Dalan: “Força companheiros! Nos render jamais!”

Sir Amig: “Prefiro a morte do que fugir! Se tiver que tombar que seja hoje! E não velho em uma cama!”

Sir Enrick: “Cavaleiros da Morte à Cavalo! Acendam suas lâminas. Chegou a hora da vingança.”

Rei Uther: “Cavaleiros do Rei! Apresentar armas!”

Então todos pegam as suas armas. Os saxões ficam atrás de seus escudos posicionados. As lanças surgem por cima das proteções bárbaras como um espinheiro.

Rei Uther: “Cavalaria, marche!”

E os cavalos começam a trotar em velocidade baixa, todos juntos, o trote na relva facilita a condução das montarias.

Sir Elad: “Mantenham a linha! Juntos! Não ataquem sem minha ordem! Acelerar!”

Os cavalos vão aumentando a velocidade gradualmente, os quase 1500 cavalos estremessem o campo de batalha deixando uma esteira de relvas arrancadas pelo peso dos cascos. Os heróis estão no meio do som ensurdecedor da enorme carga. A boca seca, o coração disparado, a respiração ofegante. Tudo estremece. Mas no meio do trajeto o sangue gela. Os gigantes surgem da retaguarda. Eles contornam as fileiras um pela esquerda e outro pela direita. Eles começam a correr para o meio do campo e seus passos soam como gigantescos tambores tocados pelos deuses. Tomados pela sensação de invencibilidade a primeira linha da infantaria saxônica, formada por 3000 homens enlouquecidos, os seguem desordenadamente. As criaturas urram e babam espalhando gotas amarelas enormes de suas peles purulentas pelo gramado.

Sir Elad: “Aguentem firme! Ponta de Flecha! Cavalguem para a morte malditos! Por Morrigan! Loooogres!”

Os dez Cavaleiros Negros de Sir Enrick, com as lâminas em chamas, com os cavalos espumando avançam e formam como se fosse a ponta de uma seta. Sir Enrick lidera uma mar de Cavalos e Cavaleiros. Então, como uma explosão, os dois exércitos se chocam com extrema violência.

ATAQUE DOS ARQUEIROS DE MARION

Marion vê a Cavalaria Real se aproximando dos inimigos. Todos prendem a respiração esperando o impacto.

Rei Uther: “Marion à frente, atacar. Aproveitem que eles estão distraídos e neutralize um dos gigantes e rápido”

Marion: “Sim meu Rei!”

Então ela se vira para os seus homens. Desce de seu cavalo branco e fala:

“Arqueiros! Chegou a hora do grande dia. Na luta pelo poder é preciso vencer o inimigo. O inimigo não tem rosto, não tem passado, nem emoções. A honra é o grande tesouro do guerreiro. É difícil conquistá-la e mantê-la. Só os verdadeiros conseguem. Se for necessário matem, se for necessário morram. Meus fiéis arqueiros! Tenham fé e acreditem na Deusa pois é ela quem guia a alma e o coração. O guerreiro que tem fé vai muito além do que seus olhos enxergam. O guerreiro que tem fé é grandioso, corajoso e ousado. Os que não tem, apenas acreditam em seus olhos. Tudo que fazemos na vida, reflete na eternidade! Não viemos para morrer e nem para vencer, mas para mostrar a nossa força, a nossa coragem. Homens e mulheres esse é o grande dia. O dia que se lembrarão. Pois a glória é eterna. Lealdade, força e honra! É o lema do verdadeiro guerreiro.”

Todos os arqueiros gritam cheio de vontade de lutar e vão caminhando procurando achar o alcance de seus arcos. Eles mantém os olhos em Marion. Então a guerreira fala alto e sua voz se ergue diante do campo de batalha mesmo com o som ensurdecedor dos homens se chocando à frente. Então os 400 arqueiros miram para o céu azul preparando uma trajetória parabólica.

Marion: “Atenção homens! Preparar flechas! Segurem, segurem, segurem, segurem, disparar!”

As flechas assobiam cortando o ar e cobrindo com a sua sombra a relva abaixo. O tiro é certeiro. As trezentas flechas acertam o peito do gigante e a criatura urra de dor se debatendo com as flechadas. Mas as sua pele grossa é como uma couraça. Apesar de muitas terem o atingido ela permanece de pé. O sangue negro vindo do tronco escorre pelas pernas da criatura. Ela caminha cambaleante. Então um assobio no céu e os Trebuchets comandados pelo Padre Carmelo começam a disparar. Os barris de fogo voam. Dois deles passam por cima das cabeças das criaturas. Um caindo na infantaria que vem correndo matando trinta inimigos queimados, quando o azeite em chamas se espalha com o impacto e o outro atinge em cheio o peito do gigante, que tropeça e cai se debatendo, pegando fogo e se contorcendo pelas queimaduras no descampado entre os dois exércitos. Então ele para e com o rosto e tronco pegando fogo rola sobre a sua própria infantaria, que vem correndo ao seu redor, matando uma centena de homens. Mas a criatura ainda está viva e se levanta enfurecida. Os soldados gritam aterrorizados enquanto Padre Carmelo olha pra o céu e faz o sinal da cruz. O cheiro de carniça queimada invade o campo de batalha enquanto o gigante, enlouquecido de dor, corre com o peito fumegante em direção aos arqueiros de Marion.

A outra enorme criatura se aproxima veloz e abaixa o ombro e chocando-se contra o centro da cavalaria que também vem em alta velocidade na direção contrária. Enrick, Algar e seus cavaleiros estão no esquerdo. Os homens do centro morrem instantaneamente. Duzentos deles são mortos com o impacto do ombro da criatura. Alguns são arremessados dezenas de metros para trás e outros esmagados pelos pés do Gigante dos tamanho de barcos e tão pesados quanto dez cavalos. Por pouco Sir Elad sobrevive achando espaço para desviar no último momento.

Sir Elad: “O cerquem! Atacar o gigante! Atacar os gigante!”

Então mil homens cercam as criatura como um gigantesco enxame de abelhas. Enquanto com tapas e ponta pés mais cavalos e cavaleiros tem seus ossos quebrados e esmagados. Pedaços de corpos abertos voam e sangue se espalha por todos os lados. Mesmo com cortes em seus pés e tornozelos nenhuma arma consegue ferir mortalmente a criatura. O número de Cavaleiros do Rei Uther vai diminuindo rapidamente, quase metade dos homens estão mortos. Muitos cavalos entram em pânico disparando em direção a infantaria inimiga, sendo mortos por lanças. O caos e a morte invade o campo de batalha quando a infantaria saxônica, com o número dobrado de inimigos, se aproxima e os cercam preparando-se para atacar os cavaleiros pelas costas, ocupados com a enorme criatura de sete metros de altura.

Sir Amig: “Precisamos matá-lo e rápido! Vamos homens, não fraquejem!”

Com alguns espaços no meio daquela multidão de cavalos, que diminui a cada segundo, Enrick e Algar conseguem chegar perto da criatura que os cavaleiros atacam. Ao redor das pernas do gigante parece uma torrente de cavalos e cavaleiros. Desesperadamente os dois heróis golpeiam com suas armas a criatura mas nada parece feri-la. Os guerreiros vão sendo trucidados e voam golpeados pelo Gigante para todos os lados. A criatura enxerga Algar no meio da confusão. Ela o agarra e o trás para perto de sua boca e urra em seu rosto mostrando seus dentes podres enormes. Zonzo e sem forças o Barão toca o seu chifre de batalha e a criatura por um segundo parece tontear. Enrick desesperado dispara uma flechada no meio das pernas do Gigante que grita de dor e se abaixa. Mas nada parece neutralizá-la.

Sir Amig: “Essa coisa vai esmagar Algar! Ela vai matá-lo!”

Percebendo que o Barão poderá ser morto a qualquer momento a heroína observa o vento e avalia a distância.

Marion: “Virar para esquerda! Flechas! Atenção disparar!”

Centenas de flechas alçam vôo novamente e de baixo para baixo cobrem as costas do gigante. Finalmente a criatura cambaleia como se estivesse bêbada. Ela pisa em alguns animais com os seus cavaleiros caídos que feridos não conseguem escapar. Ela cai de joelhos. Vomita litros de sangue negro e arfa e larga Algar. Enquanto isso centenas de cavaleiros cercam o Gigante e o atinge com lanças, espadas e machados no ventre. O gigante cai de bruços e estremece inteiro. Com um bafo putrefato ele suspira em um som agonizante horrível. O deslocamento de ar derruba muitos dos homens do Rei. Pode se escutar o coração do gigante retumbando e diminuindo o ritmo até que finalmente ele morre.

Padre Carmelo desesperado atira mais uma vez com os trebuchets. O outro gigante ainda vivo se abaixa e um barril incendiário cai atrás das linhas inimigas próximo ao rio. Os arqueiros se assustam quando o gigante, percebendo de onde vem aqueles pequenos insetos que o machucam os olham enfurecido. Ele caminha, com o peito fumegante, esmagando uma parte do circulo de cavaleiros, na direção de Marion e seus arqueiros. Os homens comandados pela filha de Avalon começam a recuar se preparando para fugir.

Marion: “Lembrem-se de minhas palavras! Eu não me moverei! Eu não correrei! Ou eu ou essa criatura sobreviverá esse combate, lutarei até o final e ficarei aqui, viva ou morta! Pela Deusa!”

Então Marion usando toda a força de Avalon prepara mais um ataque contra a besta que se aproxima. Os seus homens se olham e mantém a formação depois das palavras da heroína. Então os quatrocentos arqueiros se preparam para atirar no alvo em movimento. A trajetória é de baixo para cima. As flechas saem dos arcos retesados e a criatura coloca a mão na frente do rosto tentando se proteger.

O Gigante toma flechadas por todo o corpo. Um dos olhos é furado. Ele já não enxerga direito para onde vai e começa a andar em direção ao flanco direito de Marion. E quando chega ali ele pisa e chuta cem arqueiros. Os corpos viram uma massa de sangue no chão e outros voam se chocando contra os homens na retaguarda matando-os instantaneamente. Então já sem forças ele cambaleia e vomita uma gosma amarela pútrida criando uma poça fumegante entre os arqueiros e o exército de Uther. Então o gigante sucumbe e cai com um som alto como se dezenas de árvores se chocassem contra o solo. Todo exército grita. Marion! Marion! Marion! Marion!

Final da Primeira Hora de combate: Sobrevivem somente quinhentos cavaleiros e a primeira leva da infantaria saxônica chega onde os heróis enfrentavam os gigantes. O cheiro de carniça das criaturas e das barrigas estouradas de milhares de cavaleiros e cavalos causam náuseas. O campo de batalha vira um inferno escorregadio de lâminas, sangue e tripas. A proporção é de 4 inimigos para 1 guerreiro de Logres.

SEGUNDA HORA DE COMBATE

Nas primeiras horas daquela manhã de céu azul enevoado e brumas, muitos corpos dos homens de Logres cobrem o campo de batalha. Os corvos já voam aos montes lá no alto. Na retaguarda Marion vê a chegada da infantaria do Rei Saxão e os cavaleiros cercados.

Rei Uther “Marion! Flanqueie e se movimente para a direita e atire de lá! Arautos, mandem a ordem para Carmelo apoiá-los com os trebuchets para impedir que o inimigo avance nos arqueiros! Infantaria pesada e alabardaremos (500 homens) marcha rápida! Apoiem os cavaleiros!”

Quando os arqueiros começam a movimentação Carmelo ordena os disparos dos Trebuchets. E os barris em chamas assobiam deixando um rastro de fumaça negra no céu. Quando eles caem vão formando uma cortina de fumaça e fogo impedindo, por hora, que a infantaria inimiga veja o avanço dos arqueiros.

ESCARAMUÇAS NO CENTRO DA BATALHA

No centro do campo de batalha em volta do cadáver do gigante a infantaria saxônica alcança os 500 cavaleiros sobreviventes. E eles chegam com força em bandos desorganizados gritando. Não existe formação de combate. Só o caos e o som das armas cortando o ar.

Sir Berethor: “Fiquem juntos! Não dispersem! Não os deixem cercar! 4 inimigos pra 1 de nós! Coragem! ”

Oito saxões cercam o Barão Algar e Sir Enrick. Eles bradam machados, martelos e lanças. Se aproximam tentando acertar o cavalo e derrubá-los para os estriparem no chão. E logo isso acontece com dois cavaleiros de Sir Galardoum, primo de Algar. Os cavalos com as patas quebradas caem e logo as lâminas mutilam os homens que primeiro tem os seus escudos com São George pintado despedaçados e que ficam como uma massa irreconhecível de órgãos e tendões cortados por machados ensopados de sangue.

Logo o inimigo ataca os dois Heróis. Enrick vai os abatendo com o martelo enquanto seu cavalo, Hefesto é ferido. Com Algar acontece o mesmo. Marion a distância, por entre a fumaça vislumbra o combate e os localiza. A arqueira consegue efetuar alguns disparos matando alguns deles. O Cavalo de Algar é atingido por um machado saxão e ferido empina jogando o Barão que se fere quando cai no solo. Mas o herói mata um dos inimigos e o outro mede forças com ele. Até que Algar o transpassa com a lança na altura do peito o matando. Enrick usa o seu cavalo que luta esmagando o seu inimigo com as patas dianteiras. Logo os oito bárbaros estão mortos.

Final da segunda hora de combate: As armaduras dos animais estão amaçadas e cobertas de sangue de cavalo. Os corpos ao redor dos heróis vão se amontoando. Saxões, cavalos e nobres de Logres com as suas armaduras abertas, rasgadas e quebradas jazem ao lado de seus brasões com olhos abertos e expressões de dor. Alguns estão desfigurados do pescoço para cima. Outros sem membros. Alguns tremem nos últimos momentos de vida até que são pisoteados e deixam esse mundo em um piscar de olhos.

Próximo dali Sir Dalan luta sem escudos e com as duas espadas. Ele avança com o seu cavalo e degola um homem. Depois gira a curta para trás na mão esquerda e enterra na clavícula de outro. Sir Bag gira o martelo de batalha acertando o queixo de um saxão de baixo para cima o levantando do chão. Sir Amig deixa o seu escudo junto ao peito. Leva golpes de frente de dois inimigos. Quando eles estão perto tentando lhe arrancar da sela de seu cavalo ele estoca com a espada matando um saxão, perfurando-o da traqueia até a nuca mas o outro agarra a sua perna. Ele o prende com a borda do escudo e corta o antebraço do inimigo. Sir Dylan foi derrubado de seu cavalo. Lutando com a sua espada bastarda ele gira a arma abrindo uma área de defesa. Os quatro saxões se aproximam. Ele mantém as costas no gigante evitando golpes na retaguarda. Quando o primeiro ataca ele gira e acerta os dois joelhos por trás do homem que cai. O segundo gira mas é tarde, a espada fura sua espinha e sai pela barriga espalhando sangue e merda. O terceiro acerta sua armadura e ele cai de joelhos. Berethor joga uma gladius no peito do homem. E Dalan atira sua espada curta matando o quarto atacante. Sir Dalan: “Disponha amigo! Levante-se.” A luta continua desequilibrada a favor do inimigo. Eles não param de chegar. Algar segura um corcel de batalha sem cavaleiro e o monta.

TERCEIRA HORA DE COMBATE

Na terceira hora de combate Marion e seus arqueiros estão flanqueando o inimigo, que forma um círculo ao redor dos Cavaleiros sobreviventes, protegidos por uma parede de fogo que não para de ser alimentada por Carmelo. A fumaça preta se espalha, para cima do campo de batalha, pelo vento que acompanha o rio Tea de leste para oeste. Marion vê a infantaria de Logres chegar para apoiar os Cavaleiros de Uther.

Alguns saxões da vanguarda olham para Marion, acompanhada pelos Ventos do Pântano, surgindo por entre a fumaça. Eles estão no centro com as suas máscaras. Os saxões estão com os olhos arregalados. A lenda de uma mulher guerreira abençoada por Merlim vinda do outro lado do mar que guia uma legião saído do Hella já se espalhou por entre os bárbaros. Alguns dizem que ela é uma demônia invencível conjurada por Merlim. Quase duzentos guerreiros inimigos correm para retaguarda temendo mais um ataque da guerreira.

Os arqueiros estão apreensivos com as bolas de fogo zunindo por cima de suas cabeças e temerosos pela possibilidade de receberem um ataque lateral da segunda linha da infantaria inimiga. Sentindo a força emanando da personalidade de sua comandante os arqueiros preparam mais uma saraivada de flechas. Puxam os seus arcos até a tensão máxima. Então ao comando da guerreira, mais uma vez, quatrocentas flechas alçam vôo. Dessa vez mais rente ao inimigo flanqueado que não percebe a presença dos arqueiros ali. E elas vêem rápidas, silenciosas e mortais. Dos 3000 saxões da primeira linha da infantaria 1400 permanecem de pé cercando os 500 cavaleiros sobreviventes no centro do campo de batalha. Marion vê os saxões fortes com as suas armaduras de couro, inúteis aos finos projéteis, caírem aos montes se empilhando, cheio de flechas, formando uma barricada de cadáveres.

ESCARAMUÇAS NO CENTRO DA BATALHA

Enrick e Algar vêem a infantaria enviada por Uther chegar até eles. Os bravos infantes preenchem os espaços e se jogam no combate com muita disposição. Olhando pra direita eles podem ver, a metade esquerda do cerco inimigo desabando, muitos deles recuando acovardados sem poder lutar contra os arqueiros de Marion. Por causa do fogo e do incessante ataque dos trebuchets a segunda onda dos saxões começa a contornar o combate pelo outro lado. Sir Edgar, o louco, com a sua armadura romana e a espada sagrada em suas mãos lidera-os. Do alto da muralha de Saint Albans, no lugar que Carmelo os resgatou na noite anterior, surge uma mulher toda de negro que observa a matança com um sorriso de prazer no rosto. Ela atrai a atenção de todos os homens no campo de batalha como que por magia. Quando ela vê uma morte mais violenta, não importa para que lado, ela sorri e se delicia com a cena mostrando a língua e passando as mãos no pescoço.

Algar a reconhece: É NIX. Os cabelos da deusa são negros como a noite, sua pele clara como a lua e as estrelas, seus olhos são azuis e sombrios como o vento gélido de inverno, seus lábios carmim e sensuais e seu corpo escultural. Seu ventre, seios, nádegas, pernas e rosto são perfeitos. Algar vê que a sua aura tem cor negra como a noite e dezenas de almas em lamento vaporizam-se do corpo da deusa. Algar começa a sentir a cicatriz antiga doer novamente e se lembra que NIX perseguiu seu antigo amigo, Sir Edgar, em seus sonhos, até se encontrarem no mundo subterrâneo onde ela querendo-o como consorte roubou, seduzindo-o, um pedaço da alma do Cavaleiro sugada através de sua boca. Foi impedida de roubá-la inteira por um dos guardiões de Samael que queria ver os heróis em seus salões demoníacos. Mas este pedaço da essência de Sir Edgar ainda está com NIX e o levou a vagar louco no mundo material até ela roubar a sua alma por inteiro o tornando um morto vivo sobe o seu comando.

Com a chegada de reforços e os arcos de Marion disparando sem cessar a vantagem do inimigo cai de 2 para 1. Mesmo assim abriram caminho por entre seis infantes de Logres dois guerreiros bárbaros Bersekers girando machado do tamanho de um homem. Eles esperam os infantes atacarem e depois que os homens falhavam os dois os arrancam os braços, com outro golpe a cabeça e por fim antes de cair dividem os homens ao meio. Tudo isso em meio a gritos, cusparadas e caretas. Eles os vêem e sorriem satisfeitos. Acompanhados deles, mais dois lanceiros saxões os atacam espumando de raiva.

A luta contra os Bersekers é difícil. Os seus machados abrem uma área de proteção girando sobe as suas cabeças. Marion os localiza novamente e atira várias flechas. Mesmo com elas transpassando o inimigo eles continuam atacando Enrick e Algar. O Barão é ferido nos braços. Sua cota de malha é cortada e o sangue brota. Enrick golpeia o forte bárbaro no rosto e mesmo com um dos olhos destruído pelo Cavaleiro ele continua a lutar em frenesi. Até que mais uma flecha o acerta e o herói desfere vários golpes com o martelo que vai destruindo o seu rosto. O Berserker cai de joelhos e é atropelado por Hefesto. Algar se livra dos dois lanceiros derrubando um e matando o outro com a lança perfurando o seu rosto e o desfigurando-o. Quando o último se levanta é tarde demais. Uma flecha de Marion o acerta nas costas matando-o. Algar leva mais um golpe do Berserker. Fica tonto mas se mantém em pé com a sua armadura absorvendo o impacto. Então Algar gira com os braço abertos. O Berserker com o machado pesado, tentando erguê-lo, é mas lento e a lança do Barão o estoca pelas costas saindo pela barriga. Enrick com dois golpes de martelo mata os dois últimos lanceiros.

Final da terceira hora de combate: É por volta de dez da manhã quando em um ato de desespero o Rei Uther ordena que 2500 infantes avancem pela esquerda de seu exército liderados por Conde Roderick para interceptar Sir Edgar antes das forças de Logres receberem um ataque lateral mortal. Ainda 1000 homens nas tropas reservas de Uther aguardam e assistem ansiosos o combate. Quando os heróis liquidam seus inimigos vêem Sir Dalan lutando com outro Berserker. O saxão deixa Dalan girar para um lado. Pula quando Dalan tenta lhe acertar de novo por baixo. O Cavaleiro de Logres começa a se desconcentrar quando o homem canta e sorri enquanto nenhum golpe de suas duas espadas o acertam. Quando o Berserker dá um passo para o lado e desfere uma machadada ela atinge tão forte as costas de Dalan que o atira, com a armadura quebrada nas costas e com um grande corte, no meio do caos à frente. Dalan some. O Berserker também desaparece com suas dezenas de anéis forjados com pedaços de espada de inimigos importantes derrotados, não sem antes, matar três infantes girando o seu machado com tanta força e velocidade por cima da cabeça quebrando os seus escudo e cortando os seus estômagos ao mesmo tempo.

QUARTA HORA DE COMBATE

Sir Edgar, o Louco e Conde Roderick se encontram no campo de batalha. Os dois flancos se chocam. O som dos escudos de madeira formam um estrondo parecido com o de um raio. A Sanctu Gladius brilha como algo vivo. E o Romano tira vida aos montes daquele lado do combate. A lâmina de sua espada parece inspirar seus aliados e corta armaduras e corpos como se fossem manteiga. Sua armadura parece indestrutível e os heróis não sabem se é o sol, mas ela parece emitir luz a cada golpe levado. O Cavaleiro Romano possuído por NIX parece invencível. O flanco esquerdo comandado por Conde Roderick vai sendo varrido. Os gritos de dor e morte ficam altos, seguidos pela correria e gemidos de pavor da morte certa. Aquele lado do campo de batalha vira uma carnificina. Então Roderick e Edgar se encontram. Sir Edgar não possue uma expressão no rosto. O Conde se mantém forte. Mas contra armas sagradas e armaduras divinas nada se pode fazer. Com um golpe da espada Sanctu Gladius direto, debaixo de sua axila e um chiado de prazer de NIX, que parece invadir a planície, Roderick cai de sua montaria. Sem comando o flanco esquerdo se desorganiza mais ainda. Todos os homens, as dezenas atacam Edgar, e as armas se quebram quando se chocam contra a sua armadura. Nada parece matar o Romano. A derrota está próxima.

O Barão Algar percebendo o que ocorre à sua esquerda olha para a sua lança.

Barão Algar: "Maldito Edgard! Não posso deixar que continue a sujar sua honra! Sua alma corrompida deve ser liberta das garras das trevas, e só há uma coisa a ser feita. Me perdoe, meu amigo..."

Então Algar com a sua lança sagrada, Gungnir, olha para Sir Edgar e depois para NIX que está no alto da muralha. NIX pressente o perigo e o olha nos olhos lá de cima. Algar sente o mal emanar e o atinge a alma. Vislumbra os piores momentos de sua vida e começa a entrar em pânico. Mas o Barão se mantém forte. Ele vê por entre o véu a aura negra da Deusa emanando crânios de seu corpo e a forma de Sir Edgar sobreposta em vermelho carmim. Então Algar atira a sua lança em direção a NIX. Quando a forma humana da deusa é atingida ela grita. Frágil como qualquer corpo feminino ela cai de joelhos com a boca cheia de sangue e se desequilibra por entre as ameias da muralha desabando morta lá de cima. Uma energia forte se espalha por trezentos e sessenta graus paralisando o combate por alguns segundos. A alma vermelha de Edgar se liberta e some no infinito. Todos ficam desorientados. Imediatamente o corpo de Sir Edgar cai de seu cavalo, em meio a batalha no flanco esquerdo, como se o seu coração parasse instantaneamente. Branco com os braços moles, a Sanctu Gladius cai de suas mãos e ele some atrás da multidão que combate ali. Imediatamente os saxões de Sir Edgar parecem perder as forças e sem a liderança da espada sagrada fraquejam. Os infantes sobreviventes de Sarum atacam novamente e equilibram a luta. Bruce e seus homens, alguns deles o seguindo atrás, tocam gaitas de fole, não esperam ordem alguma e correm para lá. Os pictus lutam com as suas claymores arrancando cabeças e braços romanos. Uther respira aliviado por alguns breve momentos.

Finalmente os temores dos arqueiros de Marion se concretizam e os saxões organizam o contra ataque. Por entre as chamas eles se aproximam da parede de fogo e do outro lado trezentos deles arremessam lanças tentando matá-los. Mas Marion comanda seus homens com mais rapidez e varre o inimigo com flechas por entre a fumaça negra matando todos eles. No Centro da Batalha as lutas se dispersaram. A chegada da infantaria e os arqueiros de Marion levaram a proporção do combate de um pra um. Ainda existem 3000 homens na reserva das tropas inimigas. Então a voz de Uther ecoa forte.

Rei Uther: “Infantaria! Avançar! Ataque total! Ataque total!”
E o Rei desembainha a Excalibur. Com um brilho de luz forte a espada sagrada se ergue no campo de batalha. Parece que atraídos por um encantamento todos os milhares de homens lutando olham para lá. Os saxões se assustam com a força de Uther empinando o seu cavalo de batalha. E o Rei cavalga na frente dos 1.000 homens que o seguem da retaguarda com o Duque Ulfius, Sir Brastias e a Guarda Real.

Rei Uther: “Venham Cavaleiros da Cruz do Martelo! Ainda existem forças nesse velho corpo! Morteeeeee!”

Imediatamente o Rei Octa, na retaguarda, ao lado de Syagrius, também parte em um ataque massivo seguido de seus aliados. Os homens dos dois lados que lutavam no centro se juntam ao combate. Mais da metade dos participantes que iniciaram a batalha estão mortos aos milhares. Um tapete de cadáveres humanos estourados e contorcidos junto de cavalos com os seus intestinos a mostra cobrem a relva verde. A fumaça negra ergue-se sobe o campo soprando de leste para oeste. Mais uma vez o choque entre as duas forças será forte. Octa vem montado em um cavalo Stanpid e armado com o seu grande machado de guerra.

Sir Elad: “Vamos Cavaleiros! Protejam o Rei! Não é possível uma carga com tantos cadáveres espalhados no chão! Tentem manter a formação. À frente teremos um terreno livre de obstáculos.”

Cavalos tropeçarem nos corpos e caírem por cima de seus Cavaleiros quebrando suas espinhas e matando-os instantaneamente. Enrick e Algar juntam-se ao rei.
Os cavaleiros francos de Syagrius vem cavalgando na direção dos heróis usando suas armaduras romanas. Como uma justa eles se chocarão um contra o outro. Com os seus cavalos pisando em alguns mortos e saltando algumas carcaças de cavalo, atrás dos escudos, eles tentam se proteger. Num espaço sem corpos à frente de onde começou o primeiro ataque, os dois lados começam a pegar velocidade que somada ao inimigo vindo em direção oposta é tamanha que quando se cruzam só golpeiam uma mancha.

Hefesto, mais uma vez, lidera a ponta de lança. Espumando e voando como o vento. Eles escutam “Sun of Horsa”. Vultos passam tão rápido que os Cavaleiros torcem para ter acertado pelos menos algo na primeira passagem. Então Sir Enrick sente acertar algo e olha para trás. Um Cavaleiro Romano esguicha sangue de seu rosto quebrado pendurado em seu estribo. Algar acerta a sua lança no meio do peito de seu adversário que rola pela relva enquanto é atropelado pela cavalaria que vinha atrás.

Final da quarta hora de combate: No final da quarta hora de combate o ataque é total. Os dois lados partem para a batalha final. Seus Reis e todos os seguidores se envolvem na luta. Ainda seis mil homens, somado os dois lados, combatem. Só resta o caos. Um guerreiro saxão com um martelo de duas mãos quebra a clavícula de um soldado de Logres. O homem apavorado, sem poder erguer a sua espada, tenta recuar segurando o braço com uma fratura exposta. Ele cambaleia de dor até que o bárbaro chega e nem se dá o trabalho de matá-lo com a arma. Ele estrangula o homem indefeso até a morte. Sir Verius lutando no chão, ataca esse inimigo girando por cima da cabeça seu machado de duas mãos com tamanha força que quando ele acerta a cabeça do homem a lâmina é enterrada até o meio do peito do bárbaro. Sir Verius grita: “Urco!” Mas logo se lembra que o seu cachorro está morto dando-lhe mais ódio e o levando a decapitar outro homem próximo a ele. Padre Carmelo grita desesperado da retaguarda.
Carmelo: “Os barris de fogo acabaram! Os barris de fogo acabaram! Que Deus te proteja Milaidie!”

Neste momento as bolas de fogo de Carmelo param de formar a barreira flamejante. Os arqueiros olham assustados enquanto o fogo se estingue e os saxões sacam as suas armas e levantam os seus escudos com um riso irônico e olhar assassino. Eles gritam: “Thunooooor!”

QUINTA HORA DE COMBATE

No início da quinta hora, Marion vê uns mil saxões que se aproximam da retaguarda inimiga, com lanças de arremesso, machados e martelos de guerra. Estão muito bem armados e protegidos com cotas de malha e escudos redondos. Vestem peles de urso negra e são muito altos e fortes. Eles tem sangue em suas armas, braços e rostos e aproveitam que a parede de fogo que os protegia se extinguiu e correm na direção dos arqueiros. São dez da manhã e a bruma da manhã ainda cobre o rio.

Então Marion escuta o som de um tambor. A heroína vê surgindo, do lado direito, um barco de cinquenta remos. Ele sobe o rio seguido por outro barco. Então quando está próximo ela reconhece o Brasão de Algar no primeiro e no segundo com as velas rasgadas o de Odirsen II. O comandante do primeiro barco, um homem com cabelo raspado de armadura de couro sem mangas, cheio de tatuagens, acena para Marion e seus homens correrem para lá.

Marion: “Retirada! Retirada! Sigam-me homens!”

Então Lady Marion e os arqueiros começam a correr em direção ao barco que começa a manobrar e encostar no barranco. As tripulações composta por pelo menos cem guerreiros, cada uma, incentivam para que eles consigam escapar da tormenta saxônica. Os bárbaros a seguem. Mas os arqueiros mais leves e rápidos chegam ao primeiro barco pulando do barranco para dentro e os que restaram para o convés do segundo.

Dwyfor: “Bem vindo a bordo Milaidie! Zarpar! Bumbos! Remem! Remem! Remem! Senhora, a mensagem do sargento Tegfryn se atrasou com as estradas bloqueadas pelos saxões. Mas estamos aqui e os marujos do porto de Londres me deram uma idéia. Sigamos o plano senhores! A propósito sou Dwyfor! Comandante do barco do Barão Algar.”

Os barcos com os seus costados bem baixo, sobrecarregados, partem antes da chegada dos saxões. E algumas lanças atingem a borda deles, outras caem na água. Marion reconhece o barco com a cabeça de dragão que vem atrás. É o navio que estava perdido nas brumas que eles encontraram na viagem de volta à Logres. A bordo, no barco de trás, duzentos arqueiros de Avalon com os seus mantos brancos e a meia lua azul tatuada na testa aguardam o combate.

Dwyfor: “Minha senhora, encontramos esses homens do outro navio nas brumas da manhã na entrada do rio. Disseram que estavam perdidos e que Merlim os enviou para ajudar Algar a escrever a estória. Então, como o sargento Tegfryn nos ordenou viemos o mais rápido possível de Londres.”

ESCARAMUÇAS NO CENTRO DA BATALHA

Depois que derrotaram os cavaleiros de Syagrius o comandante Romano junta-se ao Rei Octa que vêm da retaguarda. Agora, não existe mais formações de combate e nem flancos. Tudo se mistura e vira um caos por todos os lados do campo de batalha. Os Reis entram no combate. As guardas pessoais os protegem. Sir Brastias com o seu grupo de um lado e os Cavaleiros da Cruz do Martelo e Syagrius do outro com os seus romanos, muito bem armados e protegidos com armaduras completas matando todos que tentam se aproximar. Os grupos, montados, seguem até o centro do campo de batalha, próximo ao corpo de um dos gigantes, até que se encontram, os guerreiros de elite entram em um combate encarniçado e violento. As duas infantarias lutam com tudo que tem. A vitória não chega para nenhum dos lados. Nada está decidido. A desvantagem ainda é de 2 para 1 a favor dos bárbaros. Com dois mil homens de Logres combatendo exaustos e quatro mil saxões selvagens tentando vencer à todo custo.

Todos vêem Uther e Octa apontarem um para o outro suas armas. O saxão é um homem forte e alto com cabelos longos ruivos crespos e barba cobrindo todo o rosto. Usa cota de malha e neste momento ele fecha o seu elmo, em formato de um rosto frio e assustador, cobrindo toda a sua face. No seu escudo está pintado o símbolo do lobo. Leva um machado de duas faces com o cabo todo esculpido com crânios. Nenhum dos integrantes das guardas se entrometem na frente dos dois reis que desmontam simultaneamente. Então os dois se aproximam e golpeiam um ao outro. As armas se cruzam, aço com aço, emitindo um som agudo e os dois Reis medem forças, iniciando um duelo infernal de vida e morte que decidirá o futuro da Britânia.

Sir Amig: “O combate é corpo a corpo garotos! Ataquem! Mesmo com o escudo rachado e as armas sem cortes. Seus músculos estão fracos mais o coração deve estar forte! Por Madoc, por Jakin, por Alein, por Urco, Cavaleiros da Cruz do Martelo sejam os emissários da morte!”

Sir Brastias: “Peguem o Romano Algar! Ele vai contornar nossas fileiras e nos atacar por trás!”

Enquanto Sir Brastias, Sir Elad e seus homens se encarregam da guarda pessoal de Octa. Enrick, Algar e os Cavaleiros da Cruz do Martelo, lideramos por Sir Amig entram em combate com os sobreviventes das justas da hora anterior com Syagrius. O Pretor Romano para e diz do alto de seu cavalo.

Syagrius: “Ataquem esses filhos de uma cadela sarnenta! Tirem-os de nosso caminho! Perdi tudo por causa deles e do Príncipe Bastardo que está no inferno numa hora dessas. Juntem-se a eles traidores. Sarum queimará junto com suas famílias!”

Então Sir Enrick e o Barão Algar duelam contra os cavaleiros Romanos. Armados com gladius eles golpeiam tentando subjugar os heróis. Os quatro à cavalo duelam sem cessar. Uma espada corta o pescoço de Algar que retribui com uma estocada de lança aparada pelo escudo do romano. Até que o Barão em um movimento circular faz com que a espada romana voe das mãos de seu inimigo que tenta recuar. Mas logo tem a sua garganta perfurada pela ponta da lança do herói. Sir Enrick manobra Hefesto tentando conseguir uma posição de ataque melhor. O Romano tenta o pegar de costas mas Enrick emparelha com ele. Então desce o seu martelo com força e raiva. Primeiro o ombro do inimigo é atingido fazendo-o perder a sua espada. E Enrick continua a golpear até que seu adversário leva uma martelada no meio do peito estraçalhando seu externo, depois destruindo sua armadura e quebrando suas costelas. O homem cai desfalecido em cima de sua montaria enquanto o cavalo sem condutor se afasta da luta. O Pretor Romano Syagrius se aproxima de Sir Enrick.

Syagrius: “Eu lembro muito bem quando vocês me humilharam depois da batalha em Bayeux e não me acompanharam na perseguição de Claudas. Por isso fui derrotado e perdi tudo. Pelo explendor da Roma que um dia trouxe as leis para essa terra mataremos vocês e levaremos suas cabeças como exemplo para outros traidores! O que fizeram com a sua família foi pouco Flecha Ligeira!”

Sir Enrick fica com os olhos ardendo em fúria e grita: “Horsaaaaaa!” Saltando de sua sela, usando o estribo de apoio tentando derrubar o comandante romano. Mas o homem desvia e ri quando o herói cai do outro lado. Mesmo com a armadura Sir Enrick rola pelo chão não se ferindo. Enquanto Syagrius olha com deboche para Enrick, Algar se aproveita e usa o seu cavalo para trombar com a lateral da montaria do Romano, atirando o homem para fora da sua cela. Em um instante, como um chacal raivoso, Sir Enrick golpeia esmagando o elmo de seu adversário com a borda de seu escudo. O golpe é tão forte que as feições do romano se desmantelam em uma massa de ossos moídos e sangue. Os olhos de Syagrius ficam vidrados em choque. Ele cai de bruços, enquanto Enrick enfurecido puxa o romano pelos cabelos e não para de golpeá-lo provocando uma fratura exposta no ante braço do inimigo que em convulsões treme na relva que vai formando uma poça de sangue ao redor. Syagrius se afoga, com seus pulmões perfurados pelas costelas quebradas, enquanto um dos olhos vaza e o homem respira com dificuldade. Então Enrick com ódio levanta o homem pelo gorjal e lhe dá tantas marteladas no rosto que o Romano mesmo morto treme em espasmos.

Então Sir Enrick escuta um som de cavalo se aproximando. É Sir Medrod. Enrick nota que mesmo o homem não tendo uma das mãos, ele tem na outra um machado pequeno e cavalga em sua direção. Sem elmo, com uns quarenta verões, com metade do rosto queimado, sem cabelos e cheio de cicatrizes, o antigo Regente de Bourton, que chamava a cidade de Nova Oxford, vem decidido. Então ele arremessa um machado de duas faces de uma mão que passa rente a cabeça de Sir Enrick e acerta um saxão que vinha sorrateiramente pelo seu ponto cego do outro lado do Herói. O bárbaro cai com a arma enterrada no peito cuspindo sangue e chiando de dor.

Sir Medrod: “Tome mais cuidado cavaleiro!”

Sir Enrick assustado bate continência para o veterano que se afasta sumindo em meio ao combate.

Final da quinta hora de combate: O Rei Uther e o Rei Octa lutam com tudo que tem. Eles giram e se estudam. Uther golpeia. O saxão bloqueia e contra ataca. Uther perdendo uma lasca do seu escudo se defende.

Sir Amig e Sir Elad lutam juntos. Sir Elad fala: “Pelos velhos tempos!” e os dois com os cavalos um de costas pro outro esperam. Os Cavaleiros inimigos romanos atacam. Dois para cada um. Rapidamente caem mortos quando eles falam: “Agora” e saltam para frente deixando os quatro no centro. Eles se movimentam em meia lua matando os dois primeiros com golpes certeiros nas costelas abrindo suas armaduras e cruzando pegando os dois últimos de costas. Um leva um corte de espada bastarda na nuca desferido por Amig e o outro a ponta enterrada na sua bacia até sair pelas partes baixas. Com um chiado horrível o homem cai morto. Eles se encontram de frente: “Esses tem que comer muito bucho de carneiro recheado pra vencer os velhos aqui.”

Sir Dalan reaparece e Sir Dylan já está com os seu inimigo neutralizados. Dylan está com o seu elmo escancarado e o sangue verte do super cílio pelo rosto. Sir Brastias e a guarda pessoal do rei combate com os saxões da elite de Octa. Mas aí algo ocorre. Eles olham para a retaguarda e surge um bando de infantes bárbaros que rolam dez barris em uma pequena descida imperceptível pela relva verde. Os recipientes de madeira vazam uma substância com cheiro ocre deixando uma trilha atrás deles.
Sir Verius: “Corram! Fogo gregooooo!”

Derrepente tochas surgem e são arremessadas e elas acendem a trilha formada pela substância. É muito tarde para Enrick e Algar saírem dali cercados de barris. O fogo corre rápido como uma serpente de chamas e quando atinge os barris rolando próximo ao centro a mistura incandescente explode. Os heróis são cegados por um clarão e a quinze metros dali o deslocamento de ar atira-os longe. Os cavalos sem seus cavaleiros correm em disparada por causa do fogo com quatro metros de altura. Eles enxergam com dificuldade. Escutam um silvo agudo e não ouvem quase nada. Vêem suas peles do braço descoladas parcialmente por queimaduras em alguns pontos e sentem que suas barbas e cabelos estão queimados. Quando a bola incandescente de fogo com quatro metros de altura diminui Enrick e Algar vêem no centro do campo de batalha Sir Brastias com a armadura pegando fogo rolando no chão, a guarda pessoal do Rei e os saxões que lutavam com eles em chamas. Uther e Octa também caem perdendo suas armas, escudos e elmos e rolam no chão tentando apagar o fogo de seus corpos. No centro sobram cinquenta cavaleiros caídos. Outros tentam controlar suas montarias em disparada se afastando das linhas. Existem corpos carbonizados no centro da explosão por todos os lados e o cheiro de carne queimada é nauseante. A luta continua no flanco esquerdo e uns mil homens de logres e mil e quinhentos saxões espalhados por todos os lados combatem há horas sem cessar.

SEXTA HORA DE COMBATE

No início da sexta hora do barco Marion vê um clarão de trás das muralhas de Saint Albans e um cogumelo de fogo se levantar. Dwyfor, o comandante, grita e as embarcações começam a remar ao contrário e encostam no cais da cidade. O portão que leva ao interior das muralhas não possue portas.

Dwyfor: “Minha senhora! Esse é a única maneira de entrarmos em Saint Albans. Temos duzentos arqueiros enviados de Avalon e os que lutavam com a senhora. Se atravessarmos a cidade sairemos na retaguarda inimiga e os cercaremos. Por favor, queremos ter a honra da senhora nos liderar até lá!”

Marion: “Está certo! Vamos dar um basta nesses bárbaros! Sigamos em frente!”

Todos descem no cais de madeira. Cem mercenários, formado por Britânicos, Irlandeses e cem arqueiros de Avalon se juntam aos outros homens que já lutavam com Marion. A tripulação do segundo barco não desce. Com o vento da explosão a bruma se dispersa. Como num sonho a embarcação e seus homens somem junto com ela. Um dos arqueiros de Avalon se aproxima.

Arqueiros Avalon: “Merlim nos enviou senhora! Disse para esperarmos na embocadura do rio na primeira lua cheia que iríamos encontrar os homens do mar que viviam nas brumas. Isso já faz um ano. E desde então esperamos em um acampamento. O inverno não foi fácil. O druida mandou lhe a seguinte mensagem: Rei Uther não está nesse mundo faz algum tempo e sua era se encerra cedo ou tarde. Mas Avalon deve viver e ele está trabalhando pra isso. Por hora resta a filha de Morrigan ajudar a banir o filhos da nova era. Pois ainda não é a hora dos bárbaros reinarem.”

Da passagem na muralha em arco Dwyfor fala.

Dwyfor: “Vamos senhora temos pouco tempo!”

Todos sacam as suas espadas e machados e entram em Saint Albans.

ESCARAMUÇAS NO CENTRO DA BATALHA

Sem saber direito o que aconteceu Enrick e Algar retomam a consciência. O som da batalha diminuiu. Ao redor muito fogo e corpos.

Sir Dylan: “Não enxergo nada!”

Do outro lado, enquanto Tegfryn e Wistan lutam no flanco esquerdo ao lado dos Pictus, e com os homens do Pântano, mil guerreiros se enfrentam. Queimados e com as suas armaduras chamuscadas, as barbas duras queimadas, os Cavaleiros de Enrick, muitos deles com as roupas em chamas, continuam a lutar alucinadamente matando o que se vê na frente. Alguns deles caem mortos tomados pelo fogo combatendo até o fim.

Uther parece fraco e tosse sem parar e a Excalibur não está com ele. Octa se levanta. Ajoelhado Uther olha para o Rei saxão que tenta ficar de pé. O bárbaro cambaleia e pega o seu pesado machado de duas mãos e consegue se firmar abrindo as pernas. Tenta erguer a sua arma e não consegue na primeira tentativa. Uther tosse mais uma vez e olha ao redor tentando ficar consciente. Ele parece ter envelhecido novamente uns trinta verões. Ele olha Octa contra a luz do sol e coloca o seu braço na frente tentando enxergá-lo. Sir Brastias está caído a distância com o corpo fumegante enegrecido tentando respirar. O fogo se extingue deixando uma cortina de fumaça negra cobrindo tudo. Não há tempo de ajudar ao rei.

Mas Algar e Enrick olham para o lado. Entre eles e Uther existem 10 metros e ali enxergam Excalibur caída, brilhando na grama. Do outro lado na mesma distância um saxão cheio de anéis e braceletes os encara. Ele olha para os heróis e tenta chegar antes deles na Excalibur. Os outros cavaleiros ao redor e os saxões mais distantes começam a torcer por seus campeões.

Sir Berethor: “Vamos guerreiros celtas! Vocês podem! Peguem a espada sagrada, salvem a Britânia!”

Algar e Enrick se arrastam feridos e queimados tentando chegar na espada sagrada. O saxão do outro lado, cheio de cortes e hematomas também faz o mesmo. Por um momento Algar fraqueja e o bárbaro e Enrick estão à mesma distância. Até que em um último esforço, Enrick dá um passo à frente saltando e agarrando a arma dada pela Dama do Lago. Então o herói ergue a Excalibur. Por um segundo ela o fascina. A energia que emana da arma de aço perfeito e polido o hipnotiza. Sir Enrick sente na alma que ela carrega os princípios da criação e das fundações da terra. Dos mistérios dos lagos mais profundos e da sabedoria antiga dos deuses. O heróis vê o deus e a deusa se abraçando. O sol e a lua se fundindo e surgindo a criação. Animais pequenos. Depois enormes como dragões e o homem. Então Uther é atraído pela energia de sua espada e acha, no meio da confusão, Sir Enrick. Ele muito fraco e pálido olha para o seu Cavaleiro erguendo a mão. Ao mesmo tempo Octa leva, com a força que lhe sobrou, o machado atrás de sua cabeça para desferir o golpe de misericórdia em Uther. Mas Sir Enrick arremessa a espada e a Excalibur corta o ar em uma trajetória perfeita em arco procurando o seu mestre e o punho da arma, como que por um encantamento, se acomoda perfeitamente nas mãos do Rei. Octa desfere o seu golpe de misericórdia. Uther com suas últimas forças segura a espada na horizontal. Quando o machado golpeia ele quebra como se fosse feito de bronze. Então Uther enfia a espada na barriga de Octa furando sua armadura de couro e entrando em sua barriga. Uther ajoelhado pega nos ombros do Rei inimigo e vai lhe puxando, uma, duas, três vezes, enquanto o homem com os olhos esbugalhados geme de dor. Até que a lâmina brilhante da espada sagrada sai pelas costas de Octa cortando a sua espinha saindo um líquido transparente viscoso e depois sangue. Ele torce a espada sagrada. O Rei Uther puxa, em um último esforço a Excalibur e empurra com o seu pé o saxão que desaba morto, vomitando sangue, com os olhos fixos de barriga para cima. Uther cai desmaiado para trás. Um corvo pousa no ferimento de Octa e começa a comê-lo enquanto outro pousa no ombro do Rei Uther.

Neste momento todos estão de pé e uns oitocentos inimigos surgem de todos os lados num último esforço para matar o Pendragon desfalecido.

Sir Amig: “Cerquem o Rei! Protejam o Rei! Pelos Deuses! Aguentem firme!”

Heroicamente quatrocentos homens de Logres ficam ao redor de seu rei. E o inimigo vêm caminhando lentamente.

Sir Galardoum com queimaduras, hematomas e cortes: “São 2 por 1! Sem piedade ou seremos comida para os corvos!”

MARION E SEUS ARQUEIROS

O silêncio dentro da cidade contrasta com o que ocorre do outro lado das muralhas. As milhares de casas estão desertas. Existe lixo jogado pelas ruas. Restos de comida e muitos corpos enforcados e jogados pela sarjeta. Os saxões acampavam ali e deixaram para trás as panelas, baús e carroças. O grupo liderado por Marion caminha seguindo para o norte. Quando passam pela parte central Marion vê as casas destruídas pelo combate na noite anterior. Um milhar de corpos em decomposição e o cheiro abafado de podridão é sentido por toda cidade coberta por centenas de corvos pretos. O grupo de Marion vê muitos feridos caídos ali no chão. São saxões que se arrastaram do combate lá para dentro. Eles não fazem nada. Ficam se contorcendo e gemendo de dor. Muitos outros estão mortos pelo caminho.
Dwyfor: “O que quer que faça com eles minha senhora?”

Marion: “Matem todos!”

Então vindo de uma viela, eles dão de cara com o inimigo. São os sentinelas do espólio e dos pertences tomados do povo Britânico que estão guardados em uma grande casa da cidade. Eles correm bradando as sua armas. Um saxão com uma espada de meia guarda e um escudo ataca Marion. A guerreira salta com uma cambalhota para trás enquanto arremessa a adaga que fere seu inimigo. O saxão perdido com a velocidade da Heroína golpeia novamente. Ela gira e retira dois punhais com os quais fura as laterais do dorso de seu inimigo que se esvai em sangue em um grunhido. Mas o homem forte gira seu escudo e em um golpe antes de morrer acerta a guerreira com a parte de dentro de sua lâmina fazendo-a girar e cair inconsciente.
Final da sexta hora de combate: No final da sexta hora todos os guerreiros estão exaustos. As armas já estão avariadas e desgastadas. As armaduras quebradas, os escudos rachados. A exaustão toma conta de todos. O Rei precisa ser protegido. Marion está inconsciente na retaguarda inimiga. E o flanco esquerdo luta sem definição de vitória. Milhares de mortos e feridos se espalham pelo campo de batalha. Os corvos se banqueteiam. As carcaças dos gigantes caídos exalam um cheiro abafado de podridão e a fumaça preta irrita as gargantas e olhos.

SÉTIMA HORA DE COMBATE

No início da sétima hora Enrick e Algar estão mais uma vez cercados de inimigos por todos os lados. Os saxões caminham lentamente fechando um cerco sobre os Cavaleiros restantes onde Uther está caído.

Sir Amig: “Façam um circulo envolta do Rei. Parede de escudos! Não se entreguem! Matem a vontade! O combate vai ser duro. Precisamos de um milagre.”

Sir Bag: “Venham desgraçados. Irei arrancar a cabeça de todos se for preciso. O Rei deve viver! Excalibur não deve cair nas mãos dos desgraçados. ”

Então os bárbaros se aproximam e golpeiam. São dois guerreiros para cada um. E parece que continuará a vir inimigos até algo mudar o destino do combate ou matarem os Cavaleiros e o Rei. Quando os dois primeiros saxões trombam contra Sir Enrick, o Cavaleiro dá um passo para frente e puxa os bárbaros para dentro do círculo. O herói grita: “Horsaaaa!” e com ódio esmaga os dois homens com marteladas, lhes quebrando ossos, crânios, braços e pescoços fazendo um caldo amarelo e vermelho de sangue e miolos pelo chão. Enrick ergue um dos corpos e joga para fora do círculos nos inimigos que se aproximavam. O Barão Algar com a sua lança e escudo mede forças com os dois inimigos. Um dos homens tenta lhe acertar o tornozelo mas o guerreiro é mais esperto e recua se abaixando cortando o tendão de aquiles de um fazendo o bárbaro cair e ser trucidado por machados, espadas e lanças do resto da parede de escudos e o outro homem que tentouo estocar por baixo é transpassado no maxilar e Algar vê sua lança sair pelo topo da cabeça do inimigo que revira os olhos e coloca a língua pra fora manchando sua barba loira de sangue na agonia da morte.

MARION E SEUS ARQUEIROS

Marion acorda com o Capitão Dwyfor lhe trazendo a consciência novamente. Ele achou, pendurado na cintura da guerreira, o bornel cheio de água do poço que a guerreira pegou em Glastonbury e deu de beber a heroína. Ela acorda com dores e tentando manter a consciência.

Dwyfor: “Senhora acorde! Há uma guerra para vencer!”

Ela com muito esforço responde.

Marion: “Sigamos para as muralha. Atacaremos de lá!”

Marion carregada por Dwyfor e um Arqueiro Druida de Avalon acompanhada por seus homens chega no extremo norte da cidade de Saint Albans. Na esquerda existe uma torre que dá acesso a muralha. Rapidamente Dwyfor e sua tripulação de quarenta homens pegam uma viga, arremessada pelos Gigantes na noite anterior, e usando-a como aríete derrubam a porta de madeira de carvalho. Eles sobem rapidamente pela escada de pedra em caracol até que chegam no passadiço largo da muralha. Lá de cima, por entre os dentes de pedra, eles se deparam com uma cena incrível. No fundo e a direita um combate indefinido. Por um momento eles vêem um homem de batina correr dos trebuchets que estão na esquerda e com uma espada entrar na luta. É o Padre Carmelo. Eles também avistam Tegfryn e Wistan no meio do caos comandando os escudeiros. Mil e quinhentos homens lutam ali sem perceberem o que está ocorrendo na parte central. Um círculo com os cavaleiros de logres e duas vezes vezes mais guerreiros saxões os cercam. No centro Excalibur brilha e o corpo de Uther está caído ao lado do Rei saxão morto. Uma mancha negra do tamanho de uma catedral, fumegante, existe à direita deles. E as duas carcaças enormes dos gigantes estão caídas mais para trás.

Marion: “Me levantem por favor!”

Então Marion bastante ferida é levada até as ameias da muralha e ela entoa palavras tão antigas quanto a própria Britânia:

“Morte e vida, gira a roca, o destino escreve assim
As fiandeiras vão tecendo os caminhos de carmim
Me perdoe meu irmão se te levo dessa vida
Que a deusa te receba e que cure sua ferida
Viveremos em outros tempos, tão perdidos na memória
E poderá cobrar de mim e escrevermos nova estória”

E Marion sem força desmaia. Então os arqueiros de Avalon com os seus mantos brancos e com a meia lua azul tatuada na testa pegam os seus arcos longos consagrados. Os Ventos do Pântano também se preparam para atirar. Os arcos vergam todos ao mesmo tempo e as flechas com penas brancas dos druidas e as de penas negras de corvo dos Ventos do Pântano voam. As dos arqueiros de Avalon vêm tão rápidas sem fazer nenhum som e quase que instantaneamente muitos saxões caem. Por um momento um brilho luminoso parece acompanhar a trajetória até o alvo. As do Vento do Pântano chegam logo depois com extrema precisão e frieza. E por último quase dois segundos depois as dos outros arqueiros.

Final da sétima hora de combate: No final da sétima hora quando quase metade dos inimigos começam a cair e morrer eles ficam assustados. Os arqueiros de Marion conseguem equilibrar a luta mais uma vez. Lá ao fundo da planície mais de cinco mil crianças e mulheres saxônicas fogem para o norte. Sir Bag e Sir Verius lutam um ao lado do outro. E os dois fazem uma dupla interessante com Bag enorme lutando ao lado do pequeno Verius. Em um momento do combate os inimigos eram tantos que Sir Bag precisa de algo para golpear no seu lado esquerdo. Então não pensa duas vezes, com o machado de duas faces mata dois homens e com a mão esquerda pega Verius pelo gorjal de sua armadura. Sir Verius grita: “Não conte pra Sir Enrick!” e quando seu corpo atinge o inimigo o guerreiro celta aproveita a energia do golpe de Bag e com o machado arranca a cabeça de outro Saxão.

OITAVA HORA DE COMBATE

Sir Amig: “Agora é a desforra! Homem a homem! Avancem a formação! Dez passos a frente e ataquem. E continuem empurrando ! Marion está os mandando para o inferno!”

Depois de algum tempo da chegada de Carmelo o flanco esquerdo saxão desaba. Os bárbaros começam a correr em direção ao rio não aguentando a pressão da infantaria de Logres. Oswalt e Bruce perseguem o inimigo no meio da multidão. Cheios de hematomas e cortes mas com raiva nos olhos. Ao lado dele Padre Carmelo corre com a sua Gladius na mão. O inimigo pula no rio tentando escapar e muito deles se afogam. Outros correm para o norte. Eles são mortos um a um e quinhentos homens de Logres que sobreviveram ao embate transformam a margem do rio em um abatedouro manchando de vermelho as águas. Centenas de cadáveres boiam, descendo a correnteza.

Os Cavaleiros continuam a proteger o Rei. Agora bem reduzido o inimigo pela primeira vez em oito horas de combate fica em desvantagem.

Sir Amig: “Arranquem a pele desses desgraçados! Falta pouco! Não façam prisioneiros! Acabem com esse inferno de uma vez!”

Diz Sir Amig aparando um golpe de um martelo em seu escudo e enfiando a espada na barriga do inimigo.

Os saxões que sobreviveram ao ataque de Marion, de cima das muralhas, se vêem agora sozinhos. Diante dos melhores guerreiros de Logres. Quase toda infantaria ali no centro foi perdida. Os Cavaleiros melhores armados, protegidos e treinados sobreviveram e agora atacam em maior número. Nos olhos do inimigo o terror e a decepção. Os bárbaros tinham certeza que iriam vencer. Então Algar e Enrick atacam um saxão. O Barão perfura o homem com a lança furando a barriga e o Cavaleiro martelando o rosto do inimigo várias vezes afundando a face do bárbaro. Algar força a sua lança até cortar o tronco do homem que rasga carne e arrebenta ossos arrancando tripas e sangue. Marion está pronta para dar o golpe final no inimigo. Os saxões estão prestes a sofrer a maior derrota da estória da Britânia.

Então mais uma tempestade de flechas em trajetória em arco atinge os saxões. Os corpos vão caindo enquanto são atingidos e aqueles que não sofrem ferimentos tentam entender o que está acontecendo. E quando eles percebem que a diferença no combate sobe de 4 pra 1 e logo depois de 6 para 1 com a chegada da infantaria do flanco esquerdo eles começam a correr desesperados para todos os lados tentando salvar as suas vidas. Todos os arqueiros e tripulação do barco se ajoelham prestando reverência a heroína inconsciente. Por todo o campo de batalha todos começam a comemorar e a se abraçar enquanto as poucas centenas de saxões, dos 9.000 homens que começaram o combate, correm para o norte. Sir Enrick vê o filho de Octa, Beorthric, deixar o campo de batalha liderando alguns homens, sumindo pela floresta ao norte da cidade.

Do exército real mil homens estão de pé e eles começam a erguer as suas armas e a gritar Uther! Vitória! Logres! Outros sentam pondo o rosto por entre as mãos tremendo. O bando de vasculhadores de corpos e centenas de corvos enchem a planície. Alguns homens choram e outros caminham em choque. Milhares de soldados dos dois lados se contorcem ainda vivos. Os saxões vão sendo sacrificados pelos infantes. Sir Dalan é carregado e colocado em uma carroça. Suas costas estão abertas e bastante machucadas. Está inconsciente e sangra bastante. As mulheres de azul tentam atendê-lo estancando o sangue com sangue sugas e panos de linho. A carroça vai se enchendo de vermelho. Os poucos Cavaleiros negros de Enrick somem no horizonte enquanto mais da metade deles ardem em chamas mortos.

Sir Bag: “Foi uma honra Verius!”

Sir Verius: “Quando precisar alguém para arremessar contra um bando de saxões pode contar comigo grandalhão!”

Sir Amig: “Corram desgraçados! Quando quiserem passar o verão em Logres novamente é só nos avisar!”

Sir Dylan está sentado no chão sorrindo com o braço esquerdo quebrado e com a testa cortada enchendo seu rosto de sangue.

Sir Dylan: “Ganhamos irmãos! Ganhamos! Não sei se conseguirei lutar novamente mais estamos vivos e Logres também.”

Dwyfor chega trazendo Marion em seus braços seguida por seus arqueiros. Sir Enrick pega a arqueira no colo.

Marion: “Vencemos Enrick?”

Sir Enrick: “Você venceu minha Lua.”

Sir Bag: “Menina de Ouro! Mais uma vitória! Minhas luvas!”

E Bag se ajoelha.

Sir Berethor: “Foi como lutar no meio de um furacão! (ele cai de joelhos exausto) A vitória é nossa amigos! Melhor, de Marion! Seguirei sua esposa até para lutar no inferno se for preciso.”

Dwyfor: “Digo o mesmo! Realmente foi uma honra senhora!”

Então Carmelo vem caminhando abraçado com Bruce e Oswalt. A batina marrom do padre toda rasgada, cheio de cortes nos braços e rosto. Um dos olhos fechados por um hematoma e quando ele sorri lhe faltam dois dentes. Os três guerreiros tomam um chifre de hidromel que pertencia à um saxão. Eles riem. Estão muito feridos e bêbados. Bruce tira um pedaço da flauta de uma gaita de fole quebrada e dá uma assoprada. Sai um som ridículo e ele se curva e diz: “Obrigado, obrigado!”

Oswalt: “Foi horrível, assustador e maravilhoso ao mesmo tempo! Se não fosse Carmelo estaríamos mortos a essa hora.”

Bruce: “Essas batalhas aqui são bem...”

Sir Amig: “Difíceis? Mortais? Sangrentas?”

Bruce sem dar o braço a torcer: “Divertidas!” E ele cai sentado.

Padre Carmelo: “Vencemos mestres! Não sentia isso desde que era legionário! Que sensação. As almas deixando esse mundo. O inimigo a um passo de vencer. Mas aqui estamos! Tive sorte. Quando entrei na luta o homem lá de cima me ajudou. Levei um golpe tão forte no rosto que cai com a cara no chão e bem debaixo do nariz estava isso aqui.”

Ele tira debaixo da batina uma gladius.

Padre Carmelo: “Senhores essa era a espada do Romano São Paulo! Essa é a Sanctu Gladius! E ela nos deu a vitória!”

Os cristão se ajoelham. O Rei Uther se levanta fraco apoiado por Sir Warren e o tio de Algar, Sir Flannedrius, enquanto guarda Excalibur na cintura. Logo uma multidão de discípulas da deusa Brigit e dos moradores, que tinham fugidos de Saint Albans, chegam e o cercam.

Rei Uther: “Discípulos! O nosso povo poderá desfrutar da paz por um bom tempo. Nossos principais comandantes estão feridos ou mortos. Então Barão, tenho uma ordem, o comando é seu. Coloque os infantes para remover os feridos. Dêem um jeito nos corpos dos cristãos e pagãos. Descubram quais dos nossos nobres ainda vivem. Procurem o saque desses desgraçados. E matem todos os saxões feridos que encontrarem. Depois partiremos para Londres. Uma vitória assim não deve passar em vão. Banquetearemos lá ao anoitecer. Por hora preciso de assistência de meus físicos. Ah, sim. Mandem uma mensagem as nossas famílias em Sarum de que estão livres do mal e em paz e que nos encontrem lá. Foi uma grande vitória senhores.”

Sir Bag: “E o que vamos fazer com esses gigantes Algar?”

Sir Amig: “Quem matou que dê um jeito neles! Ehehehhe.”

Barão Algar: “Dêem um enterro decente para cada homem de acordo com as suas crenças. Retirem a arcada de um dos gigantes, usarei na entrada do meu salão de banquetes, e queimem essas carcaças fedorentas.”

O Rei sai tremendo e amparado pelos Cavaleiros. Com toda a adrenalina e excitação da vitória os heróis não pararam ainda para olhar ao redor. E se deparam com uma cena infernal. O custo da paz. Com treze mil corpos de mortos e feridos se espalhando naquela planície de dois quilômetros e na mesma proporção os corvos cobrindo o chão. Estandartes caídos dão cor a cena. Os dois gigantes jazem no meio do campo deixando a relva com um palmo de sangue negro fedido ao redor deles. Enquanto o cheiro do verão abafado torna quase insuportável estar ali. Os heróis tem todos os tipos de ferimentos que um guerreiro poderia sofrer. Estão cansados, sujos de terra e sangue, suados e com queimaduras. Os músculos estão doloridos.

Tegfryn: “Meu senhor! Foi incrível! Um combate digno dos deuses! Achamos Conde Roderick no flanco esquerdo e ele não está morto. Inclusive só fala no banquete da vitória. Ficou inconsciente por um tempo mais os lanceiros de Sir Enrick o salvaram. Já Sir Elad não tenho boas notícias. Achamos com vida, mas ele não resistiu aos ferimentos e acaba de falecer. Sir Brastias teve todo o seu corpo queimado. Está lutando pela a sua vida, assim como Duque Ulfius que teve seus ossos todos quebrados por ter ficado preso no estribo na hora da explosão e seu cavalo disparar o arrastando para a retaguarda. Dos nossos 6.500 homens, 1500 estão bem. Temos 3.000 feridos e 2.000 mortos. Foi uma batalha violenta meu senhor. Nem sinal do corpo de Sir Edgar e de sua mulher.”

Sargento Wistan: “Senhor Flecha Ligeira! Achamos! Achamos! Estávamos verificando as casas de Saint Albans e descobrimos um tesouro para o senhor.”

Então vem correndo lá das muralhas dois jovens. Cyndeyrn 13 e Margiad 16 os dois irmãos de Enrick que também tinham sido capturados pelos saxões. Eles estão sujos, magros mas com um sorriso no rosto. Oswalt também corre em direção à eles e todos se abraçam chorando. Urco vem logo atrás latindo e pulando no colo de Sir Verius que o abraço dando risada.

Sir Verius: “Seu vira lata! Quer me matar do coração! Que bom que está vivo companheiro!”

Sargento Wistan: “Infelizmente achamos o corpo de Sir Jakin e ele estava no mesmo lugar que tinha tombado ontem à noite.”

Sir Enrick tirando as sua proteções negras de braços e pernas se aproxima do cadáver de Octa e com sua adaga decapita o Rei saxão. O Cavaleiro com o crânio ruivo do inimigo de Logres ergue a cabeça do bárbaro pelos cabelos e a levanta gritando: “Horsaaaa! Horsaaaa! Horsaaaa!”

Os sobreviventes da batalha comemoram e gritam erguendo as suas armas quando vêem a cena.

LONDRES

Então, no final da tarde a pequena comitiva com os quinhentos sobreviventes da batalha partem para Londres. O Rei Uther já se sentindo melhor cavalga à frente. Ao seu lado, amarrada no cavalo, para todos verem, a cabeça de Octa. Os heróis e os Cavaleiros da Cruz do Martelo seguem na Vanguarda como a sua guarda pessoal. Já que a oficial foi aniquilada em combate. Os cinquenta Cavaleiros sobreviventes seguem atrás. A medida que passam pela estrada Romana os aldeões se ajoelham e depois aplaudem. Apesar de tantas mortes é um dia de alegria e alívio para o povo de Logres. A cidade já está esperando pela comitiva e é o maior lugar que Sir Enrick já tinha visto.

Londres é dividida em bairros pobres, ricos e dos nobres. Dois grandes castelos existem dentro dos muros bem protegidos por fossos e torres. O rio Tâmisa corta a cidade ao meio. Eles vêem um porto com dezenas de barcos atracados e outros tantos esperando para atracar e descarregar as toneladas de cargas trazidas de todas as partes do mundo conhecido. Três mercados movimentados existem ali. Negociam armas, animais, especiarias, produtos exóticos, escravos, vinhos, hidromel, cerveja e tudo que existe de valor. A gigantesca catedral de São Paulo se ergue imponente no lado oeste da cidade. A famosa ponte de Londres com dezenove arcos e suas construções medievais no passadiço, liga a parte murada da cidade a parte sul dela.

Toda a população está nas ruas e quando atravessam o portão, um dos seis que margeiam a muralha os sinos começam a tocar. Crianças, adultos, mulheres, pobres, ricos, marinheiros, prostitutas, padres, druidas todos estão ali. Muitos dançam e comemoram felizes. Quando chegam no enorme castelo todos os nobres estão os aguardando. Inclusive as suas famílias. Os seus filhos, a Baronesa Adwen, o pai e irmãos de Sir Enrick. Todos choram aliviados e correm para o pátio enquanto o Rei abraça Igrane e lhe dá um beijo. Os infantes se espalham pelas ruas e comemoram com o povo. E as estórias de heroísmo se espalham pela cidade.

BANQUETE

No enorme salão de banquete existem poucos cavaleiros perto do que deveria ter. A maioria morreu. Mais existe música e alegria. Na verdade o alívio está no rosto de todos. Cerveja, hidromel e comida a vontade é servida. As reservas dos celeiros reais foram abertas. O Rei Uther mandou servir carnes e bebidas por toda Londres. Conde Roderick entra apoiado, com a cabeça enfaixada, e o rosto todo inchado de ferimentos. Ele caminha carregado por um pagem. Senta-se na mesa longa principal ao lado do Rei e olha para os heróis com satisfação. Sua esposa Condessa Ellen está feliz ao seu lado. Todos riem enquanto comem e bebem. Estórias do combate e das coisas que aconteceram são lembradas. Todos estão bêbados e rindo cantando músicas enquanto batem nas mesas marcando o ritmo. Os enteados do Rei estão presentes. Morgana, Elaine e Margawse.

Berethor: “Enrick! Quando o vi da última vez era um guri do mato. Agora... ”

Amig: “Continua sendo um guri do mato mas que dá porrada graças aos deuses. Ahahahah!”

Bag: “Eu gostaria de dizer que Verius foi bastante útil!”

Verius: “Bag!”

Bag: “Digamos que voava em campo de Batalha!”

Dylan: “Confesso que o hidromel tirou minha dor. Aquele berserker maldito! Vou ter pesadelos com ele por algum tempo. Achei que cruzaria a ponte de espadas.”

Sir Amig: “Dizem que o Barão estava na mão do Gigante.”

Galardoum: “Pela cara dele, enquanto Marion corria para salvá-lo, já estava pensando que desculpa ia dar para Jesus se fosse mandado para o céu em vez do Vahalla.”

Todos riem.

Bruce: “Esse padre Carmelo Enrick. Sem ele seríamos um bando de pagãos no inferno numa hora dessas, ahahaha! E o seu irmão Oswalt! Será um grande guerreiro rapaz.”

Enrick: “Um brinde a nossa heroína. Aquela que salvou o nosso dia. Minha esposa: Marion!”

E todo o salão aplaude entusiasmado.

FIM DE UMA ERA

Então com certa dificuldade, devido aos ferimentos, o Rei Uther se levanta.

Rei Uther: “Súditos! Heróis! Pessoas que se sacrificam para que seu povo possa ter uma vida melhor. Me lembro muito bem de quando conheci cada um de vocês. Ocupar o lugar de líder cercado de tão grandes homens e mulheres não é fácil. Mais a vida é feita de acertos e erros. Não esqueçamos dos heróis que tombaram hoje e muitos que neste momento estão lutando pelas suas vidas. Homens tão dedicados quanto nós. Oremos por Sir Elad e Sir Jakin, que nos deixaram bravamente nesta tarde. Duque Ulfius e Sir Brastias que estão em estado grave. Pensemos naqueles que nos deixaram. Meu querido filho Madoc e Santo Alein, Paladino que sempre foi fiel aos seus amigos. E que todos tenham na lembrança a figura da mãe de Sir Enrick. Que suas mortes não sejam em vão. Vocês deram as suas cotas de sacrifício em cada hora deste combate que travamos. Outros deram até mais. Perdemos familiares e amigos. Mas esperamos dias melhores com a ajuda do Deus novo e dos Deuses de outrora. Que a estória nos faça justiça! Um brinde senhores! Força, Lealdade e Honra!”

Então todos erguem as taças e tomam o hidromel.

Mas algo parece estar errado com o Rei... Igraine dá um grito horroroso. Uther começa a se engasgar. Fica branco, seus olhos começam a verter sangue. Ele parece sem ar. Ele cai e se apoia na mesa. E derrepente ao seu lado o mesmo acontece com o Conde Roderick. Eles viram os olhos. Vomitam sangue. Roderick cai no colo de sua esposa Ellen. Todos gritam e correm para a mesa principal. A gritaria e a comoção toma conta do lugar. Sir Bellias, tio de Algar corre até o Conde.

Sir Bellias: “Pelos deuses Conde Roderick está morto!”

Todos começam a gritar. O Rei Uther cambaleante segura Excalibur em sua mãos e tenta manter seus olhos abertos e a muito custo se levanta. Ele consegue caminhar e vai a arrastando pelo salão. Igraine tenta ajudá-lo e grita em desespero.

Rei Uther: “Cale-se mulher. Não me toquem! Isso é uma ordem do seu Rei!”

O Rei, com os olhos vidrados caminha pelos corredores do castelo e todos o seguem. Uther chega nas ruas. Todo o povo que estava dançando para imediatamente chocados com a visão do Rei cambaleante e abrem caminho. Todos ficam em silêncio enquanto Uther caminha aos tropeços. Os heróis o seguem. Ele entra na Catedral de São Paulo do outro lado da rua e atravessa a nave da Igreja com passos inseguros. O povo o segue em silêncio. O Barão Algar, Sir Enrick e Lady Marion seguem ao redor o protegendo. Os Cavaleiros da Cruz do Martelo vem logo atrás. Ele passa por uma porta lateral próximo do altar e sai em um jardim. Atrás, uma multidão e os nobres, todos misturados, todos em silêncio. O Rei vomita mais uma vez. Pedaços de seu estômago saem. Uther cai de joelhos. Mas agarra Excalibur e consegue se levantar a usando como apoio. Ele caminha até uma pedra enegrecida antiga que existe ali.

Em um último esforço o grande Rei Uther ergue a Excalibur com a ponta para baixo e com as duas mãos vai empurrando a espada sagrada contra a pedra tremendo fazendo muita força usando o que lhe resta de vida. Determinado como o Rei que sempre foi ele não desiste.

Uther: “Cumpra o seu destino Britânia! Pois o meu está selado em pedra e aço!”

A rocha cede e Excalibur, então, entra na rocha sólida e brilha.

Derrepente o aço se apaga. O Rei Uther, então, desaba em cima da pedra. Por um momento ele respira... Parece que dá para ouvir os seus batimentos. A respiração diminui até que para completamente. O Rei está morto. Todos se ajoelham e ficam em silêncio.

Igraine se joga diante do corpo de Uther e chora com as mãos no rosto. Derrepente as pessoas começam a gritar. “O Rei está morto. O Rei está morto!” E a notícia se espalha por toda Londres. A festa acabou.

FUNERAL REAL

A noite no castelo passa lenta e triste. Quase ninguém consegue dormir. Os principais líderes de Logres, apesar da vitória heroica contra os bárbaros, ou morreram ou estão semi mortos. No dia seguinte todo o povo e milhares de aldeões, druidas e padres seguem a comitiva até Stone Range. Os heróis e todos os lordes acompanham a carroça aberta com o corpo de Uther. Suas tatuagens parecem ter se apagado e a sua armadura cor chumbo e a coroa com o dragão e olhos de rubi está sobe sua cabeça. Igraine está ao seu lado e chora muito. A viagem leva o dia inteiro. No final da tarde com o céu vermelho a pequena comitiva, já que muitos morreram e os aldeões fugiram da ilha, chega no círculo sagrado de pedras. Ao lado da sepultura de Madoc o Rei é enterrado. A sua coroa é retirada e deixada aos cuidados de Algar. Padres e Druidas lhes prestam homenagem. Nem sinal dos seguidores de Avalon.

Depois os heróis cavalgam para Sarum e na Catedral de Santa Maria, sobe as lágrimas do povo, Conde Roderick e Sir Elad são enterrados no lado oposto do túmulo de Santo Alein, desde então conhecido como São George. Bispo Roger conduz a cerimônia cristã. Estão todos chocados. Em uma colina próxima da cidade é queimado em uma pira funerária, como os heróis antigos, o corpo de Sir Jakin. Após a cerimônia, na saída da catedral, Sir Amig fala para cada Cavaleiro da Cruz do Martelo.

Sir Amig: “Nos encontraremos no feudo do Barão, certo? Nos vemos ao anoitecer em Winterburne Gunnet.”

WINTERBURNE GUNNET

Estão presentes no salão de banquetes do Barão Algar: Sir Bag, Sir Dalan, Sir Dylan, Sir Berethor, Sir Amig, Sir Dylan e os Heróis.

Sir Amig: “Garotos! Estou aqui para lhes falar algo importante. Os principais Lordes de Logres estão mortos ou lutando pela vida. As cidades principais não possuem líderes. Algar é no momento o nobre de maior Hierarquia em Salisbury. Mas não pensem que isso é bom. Somos dez Cavaleiros. Quase todos os outros membros da cavalaria de Salisbury atravessaram o véu. Nossas terras nunca tiveram tão desprotegidas quanto agora. Agora só existem feudos e cidades independentes. O Reino ruiu com Uther e as fronteiras estão abertas. Ao redor todos os reinos estão dominados por Reis saxões que estão neste momento desembarcando na ilha. Não existem mais leis. Somente a espada. O caos chegou e a era da anarquia é a nossa realidade. Que os Deuses antigos não nos abandonem, porque iremos precisar deles.”

E assim acabou a era do Grande Rei Uther e a terra doente e sem líderes mergulhou no caos. Os deuses antigos parecem ter virado as costas para os Cemyrics depois do novo Deus uno surgir entre os homens na ilha. Um dos piores capítulos da estória da Britânia tem início.