terça-feira, 30 de agosto de 2011

Aventura 25: A Lenda de Beowulf, Ano 498


No verão de 498, o barco dos heróis, O Fúria de Njord, depois de ter sofrido um ataque de piratas saxões, em meio à uma tempestade, perde o leme e a vela, ficando à deriva no meio do canal entre a Britânia e a Terra dos Francos. Debaixo de chuva, quando o dia vai ficando claro, o barco vai sendo gentilmente levado por uma corrente marinha e uma leve brisa.

Os sobreviventes se alimentam com um pouco de queijo e pão molhado. Alguns peixes são pegos ocasionalmente. O alimento precisa ser consumido cru porque é impossível acender fogo no convés todo molhado. Os dias são quentes e o sol queima forte. Nenhum outro barco é avistado. Assim ocorre nos três primeiros dias. Alguns guerreiros sentem o sinal da desidratação. Principalmente aqueles que foram feridos na luta contra os piratas. Grievous, o leão, parece ficar cada vez mais faminto.

No quarto dia um vento forte começa a soprar novamente do oeste para o leste. A tarde está cinzenta e abafada. As ondas começam a ficar maiores, às vezes, elas atingem a embarcação de lado. Todos percebem que dois dos marujos que tinham ferimentos mais graves ficaram em silêncio. Eles estão mortos e o leão farejando os cadáveres se alimenta de uma das pernas de um deles. Restam quinze guerreiros. Na madrugada o vento sopra muito forte e faz frio. O céu está encoberto.

Ao amanhecer do quinto dia, a temperatura está mais amena. Mais três homens, feridos em batalha, estão em silêncio. Morreram durante a madrugada. Agora eles são doze. Os corpos são atirados ao mar. Todos estão famintos e com muita sede e sentem vontade de beber água do mar desesperadamente. Mas resistem tentando manter a mente longe de pensamentos insanos.

No sexto dia, perdidos no mar, eles já não sabem onde estão. Nem sinal de pássaros, nem de terra. Só alguns peixes que saltam em cardumes. A água, nessa região, é bem escura. O vento encrespa o mar fazendo surgir dezenas de pequenas ondas que chacolham o Fúria de Njord de um lado para o outro. Um dos guerreiros grita.

Guerreiro: “Não aguento mais! Eu preciso de água! Estou ficando louco!”

Então com os próprios dentes ele rasga o seu pulso e começa a beber o próprio sangue que escorre pelo seu queixo se misturando a água do mar do convés. O corte fundo foi feito de maneira tão desesperada que em poucos minutos ele cai delirando e morre. Agora eles são onze almas perdidas. No frio da madrugada é difícil dormir. A umidade e maresia maltratam as peles dos aventureiros ressecando e cortando.

Na manhã do sétimo dia Sir Enrick e Lady Marion acordam de um sonho quase febril. Sentem os lábios quebradiços e secos. A temperatura deve estar em torno dos dez graus. Quatro guerreiros estão de pé diante do casal. Três deles com machados curtos e um outro com uma espada. Eles tem cabelos grudados de maresia e as barbas cheias de sal.

Marujo: “Temos uma maldição no mar! Sempre que se traz uma mulher à bordo algo de ruim acontece. Se acabarmos com essa aí voltaremos para casa logo.”

Um dos homens desce o machado em um golpe em arco vertical vindo de trás de suas cabeça. Marion deitada na proa do barco atira a sua boleadeira. A arma da guerreira se enrola no machado e o seu adversário puxa lateralmente Marion fazendo com que a guerreira bata com o rosto na murada. Sir Enrick salta se agarrando com ele, escapando de um golpe de espada e de outros dois machados desferidos pelos outros guerreiros. O homem bate com as costas na murada e Enrick o atira para dentro da água. Algar sentado no centro do Fúria de Njord assiste a confusão. Ele se levanta, corre por cima dos bancos e com o machado dourado abre a cabeça do marujos, que estava armado com a espada, enterrando a lâmina de seu machado de ouro até a sua espinha, matando-o. Um outro homem vê a aproximação de Algar e tenta acertá-lo, mas o Barão salta um passo para trás e o machado crava em um dos bancos arrancando lascas de madeira. Um terceiro vendo Lady Marion vulnerável a ataca com uma machada, a guerreira se esquiva e a arma enterra na murada. Sir Enrick se aproveitando de que seu inimigo lhe deu as costas lhe acerta um golpe mortal com o martelo, quebrando a sua espinha, matando-o instantaneamente. O último guerreiro de pé cercado, pelos três heróis, joga seu machado no chão e abaixa a cabeça se rendendo. Sir Enrick joga o seu martelo de guerra no chão e lhe dá um soco tão forte que quebra a sua mandíbula. O homem cai de costas batendo a cabeça num dos bancos do barco, quebrando o seu crânio com a queda, o levando a morrer em poucos minutos.

Dwyfor: “Desgraçados, enlouqueceram! Quase todos mortos. Não sei até que ponto resistiremos até todos sucumbimos.”

O restante do dia passa com todos em silêncio. A morte parece rondar o Fúria de Njord.

No meio da noite do oitavo alguns deliram de sede, fome e frio. Os corpos tremem como se não fossem resistir. A respiração congelada dos tripulantes sai esfumaça. O leão Grievous parece exausto e fraco, deve ter perdido uns dez quilos. Está muito difícil de manter a consciência. Por vezes eles parecem ver terra, mas quando se aproximam ela desaparece. Então de início, parecendo mais um delírio, eles escutam uma batida seca no casco, depois outra e mais outra. Isso faz faz com que todos despertarem do delírio febril. Quando olham na água vêem pedaços de gelos do tamanho de uma mesa batendo contra o casco. Algar e Marion capturam os pedaços de gelo para usá-los como fonte de água potável.

Ao anoitecer eles vêem o contorno de uma montanha no horizonte. O céu abre e milhares de estrelas na escuridão refletem no oceano negro ao redor. Horas se passam, amanhece e a montanha se aproxima. Quando ela está bem perto, passando pela lateral do barco, eles percebem não ser uma montanha. É um Icebergue do tamanho da catedral de Santa Maria. Todos tremem de frio ao longo do dia. O som de animais estranhos ecoam na tarde em alto mar. Eles vêem um bando de focas brancas passarem nadando acompanhando o barco. Eles comem mais peixe cru. Quando anoitece mais uma vez, eles enxergam algo estranho no céu. O céu limpo e frio parece emitir uma luminosidade como se dez mil fogueiras se espalhassem na escuridão com luzes multi coloridas. Eles observam curiosos e fascinados o estranho fenômeno.

Dwyfor: “Ull está nos observando, espero que ele nos guie para terra!”

Amanhece e já é o nono dia que eles estão a deriva. O céu está carregado de nuvens negras. Faz muito frio e eles estão exaustos e cochilam mesmo tentando se manter acordados. Por vezes com os olhos entreabertos eles olham o horizonte. Numa dessas vezes eles vêem uma faixa verde no horizonte e montanhas com os picos cobertos de neve.

Mas, então, raios rugem e o céu fica escuro, o mar vai ficando iluminado pela listras pratas de flashes que correm por entre as nuvens. O mar tem um tom cinza-ardósia. Chove forte. Ondas formam espumas e rugem como animais raivosos. Elas vão ficando mais altas. Derrepente os heróis vêem uma delas vindo do lado esquerdo do barco. Ela tem a altura de uma catedral. A onda vem deslizando como um monstro. Derrepente ela começa a se dobrar e o Fúria de Njord se encaixa no rolo da onda e o mundo fica de cabeça para baixo. Eles se sentem sem peso e começam a cair. Derrepente a água gelada machuca a pele e todos ficam em meio à escuridão. Seus pulmões tentam puxar ar mas só sentem a água salgada invadi-los. Os heróis são carregados pela força da onda enorme e vem a tona na esteira de espuma que ela deixou. Algar se agarra em um barril, Enrick acha um pedaço de madeira para conseguir flutuar usando a sua armadura pesada e Marion acha um banco que a mantém à tona. Dwyfor e Caulas também se agarram nos destroços do Fúria de Njord. Está muito frio. Eles despertam da letargia que sentiam. As ondas sobem altas. Eles olham ao redor e nem Oswalt e Grievous são avistados. Sir Enrick perdeu um de seus martelos, mas conseguiu agarrar o seu arco antes de cair do barco. Marion perdeu o arco e só ficou com a sua adaga presa em sua cintura. Algar fica desesperado pois a Gungnir, a sua lança sagrada, se perdeu no mar.

Anoitece e a chuva para. Mas os ventos sopram fortes. O céu fica estrelado e uma estrela enorme brilha por entre as milhares que cobrem o céu. A lua surge iluminando o mar escuro.

Perdido por entre as grandes ondas Sir Enrick vê algo iluminado pela lua passar debaixo de suas pernas. Algar também percebe flashes prateados passando pela água escura. Quando eles olham ao redor perceber ser dezenas delas. Algar sente uma mordida forte nas costas. Então duas serpentes marinhas saltam no rosto e outra no braço do Barão que luta só com uma mão tentando se livrar delas. Sir Enrick, sente uma debaixo de suas pernas e a outra salta em seu ombro. Uma das criaturas, com os seus dentes afiados ataca o rosto de Marion emitindo um silvo agudo. Desesperados, levando mordidas eles lutam contra os animais marinhos. Algar estrangulas duas delas, enquanto arranca a terceira de suas costas, tirando um naco de carne enorme, e a arrebenta contra o barril no qual está agarrado. Enrick sente uma mordida em suas pernas e uma dor lancinante. Ele tenta pegar a criatura mexendo suas pernas, até que consegue agarrá-la e bater a sua cabeça no pedaço de madeira usado para flutuar. A outra serpente ele arranca de seu ombro e a estrangula até os olhos negros do bicho saltar. Marion pega a sua adaga e a enfia no queixo do animal que se debate. Ela torce a sua arma e grita enquanto a criatura se contorce morrendo lentamente mexendo a boca cheia de dentes e o sangue azul marinho escorrendo pela mão da guerreira.

Os heróis, sem poder fazer nada, vêem os dentes de quatro delas morderem Syan e o puxarem para baixo. Ele volta se debatendo desarmado. Outra morde o seu ombro e a última a garganta. O rapaz sobe mais duas vezes gritando: “Deusa! Deus...! Aaaaaa!” Até que na última vez ele submerge e os heróis só vêem a mão do escudeiro, separada do corpo, boiando no mar do norte. Já Dwyfor, lutando desesperadamente, estrangula uma delas quando recebe uma mordida. O guerreiro recebe mais uma mordida na barriga debaixo da água, até que agarra uma delas e arranca a sua cabeça. Ele vira os olhos delirando. O escudeiro do Barão, Caulas, quebra o pescoço de uma das criaturas. Depois quando leva uma mordida em um dos braços morde-a arrancando um pedaço de seu couro prateado. Ela se debate e boia arrebentada sumindo na escuridão do mar.

O resto da madrugada do décimo dia se passa com os feridos tentando se mantarem acordados, apesar da dor e todos lamentando, chocados, a morte do escudeiro Syan. Eles podem ver luzes de fogueiras iluminando a costa. Logo amanhece e o grupo chega na arrebentação. Então as ondas começam a empurrá-los para a praia. Até que eles se embolam no mar todo mexido e são jogados na praia de areia negra de um fiorde. Não conseguem mover um músculo. Erguem a cabeça e vêem que depois de uma faixa com o mesmo terreno com rochas cinzas brotando do chão existem as montanhas dos dois lados com pedras escuras cobertas de neve no topo. Todos tremem de frio e estão exaustos. Depois de quase quinze dias de viagem o corpo dos heróis não resiste e eles caem inconscientes na praia.

Puxando-os da inconsciência, um cheiro de carne assada e conversas em uma língua estranha os despertam. Quando eles olham estão no mesmo local onde caíram desacordados. Eles percebem estar desarmados. Oswalt está sentado ao lado de cinco homens em silêncio coberto com uma pele de urso branco e tomando alguma bebida quente em um chifre e comendo um pedaço de uma carne vermelha com uma capa de gordura imensa e um couro preto por cima, ao redor de uma fogueira. Grievous, magro, está apoiando o queixo em seu colo enquanto o irmão de Sir Enrick lhe dá pedaços de comida. Um dos cinco homens chama a atenção dos outros para eles. O loiro com barbas longas ri e faz um gesto para se aproximarem enquanto seus homens desembaiam espadas e machados e ficam de pé. Os cavalos, menores que os Britânicos, dois bejes e três avermelhados estão ao lado deles.

Oswalt: “Irmão, graças a Deus você está vivo!”

Osric: “Havet spyttede mærkelige ting i dag!” (O mar cuspiu coisas estranhas hoje!)

E todos eles riem. Algar lembra de seu pai falando na língua de seus antepassados e entende a piada:

Osric: “Hvor er du fra?” (De onde são?)

Barão Algar: “Vi er fra Storbritannien.” (Viemos da Britânia)

Osric: “Hvordan kan du vide taler mit sprog” (Como sabe falar a minha língua?)

Barão Algar: “Min far blev født i nord” (Meu pai veio do norte)

Osric: “Então entendem gálico estrangeiros! Eu sou Osric. Compramos, vendemos e por vezes tomamos de vocês. Ahahhaa. Infelizmente alguns de nós temos que falar essa língua estranha dos celtas. Estão três dias desmaiados aí. Devem estar com fome. Venham partilhar de carne de sereia... Não está certo, como se diz no seu idioma, Baleia.”

Então Enrick, Marion, Algar, Dwyfor e Caulas se aproximam aceitando a carne e tomando hidromel para aquecer os seus corpos fracos.

Osric: “Em todos os anos tenho vivido como sentinela aqui no fim da terra e nenhum estrangeiro pode aterrar na Dinamarca sem permissão. Vocês não tem nenhuma garantia de boas-vindas. Nem disseram os seus nomes, nem de seus senhores. Até agora os considero espiões nas terras da Dinamarca."

Barão Algar: “Sou Barão Algar Herlews! Esses são Sir Enrick Stanpid e essa é Lady Marion Tishea Stanpid. Somos jurados a Condessa Ellen de Salisbury na Britânia.”

Osric: “Esses são os jarls de meu Rei. Eu os comando. O de cabelo e barba negra é Bannus. O ruivo se chama Runo. Os dois loiros são meus irmãos, Urbun e Valo. Iremos levá-los a presença do rei. Se for da vontade de meu senhor terão as suas armas devolvidas. Vamos!”

Então eles sobem em seus cavalos enquanto os heróis caminham. O grupo segue por uma trilha estreita de pedra subindo o gigantesco fiorde, que nessa época do ano, está coberto de relva verde. A vista é de tirar o fôlego. As águas azuladas lá embaixo refletem como um espelho as montanhas e o céu azul escuro sem nuvens. Lentamente eles sobem a encosta. Chegando no topo vêem o oceano infinito para oeste e para o outro lado os campos imensos verdes com pedras brancas e cinzas brotando do solo. A temperatura é mais temperada ali. O vento incomoda um pouco, mas é o suficiente para eles ficarem secos novamente. Eles caminham por algumas horas atravessando campos de trigo, cevada e centeio prósperos. Vêem vacas em um pasto distante e muitos montes arborizados. Olhando adiante em uma colina coberta de grama eles chegam em uma muralha redonda, feita de pedra.

Osric “Esse é Lethra, a sede real da Dinamarca. É o maior assentamento dessa ilha!”

Osric e seu homens desmontam e trazem as suas montarias pelas rédeas. Eles notam que existe um paliçada por dentro conferindo proteção extra ao lugar. O grande portão de madeira é aberto por duas sentinelas armados com lanças e com cotas de malha. No interior de Lethra eles vêem cinquenta construções para alojamentos, armazenamento, galpões e oficinas. Todas de pedra com telhado relvado. O som incessante de um ferreiro martelando o aço enche o ar. Mais de uma centena de Dinamarqueses entre mulheres, crianças e homens circulam levando sextos com comida, conversando, cortando lenha e curtindo peles em enormes tinas fumegantes. Enquanto os heróis passam eles os observam curiosos. Lobos são levados na coleira pelos sentinelas e rosnam para Grievous que não lhes dá atenção.

No coração de Lethra existe um salão de banquete no alto de uma colina verdejante.

Osric “Esse salão se chama Heorot! Alguns dos grandes artífices da Europa trabalharam por um ano inteiro para construí-lo. É indestrutível. Este grande salão foi construído a partir da mais poderosa madeira e reforçado com bandas de bronze. É coberto por um telhado de ouro. Vejam como brilha. A porta de carvalho é duas vezes mais alta que o mais alto homem do norte.”

Lá em cima dois homens untam com um balde cheio de gordura de baleia as dobradiças enormes.

Osric “Para abrir e fechar suave e silenciosamente. Vamos subir!”

Um par de uma enorme galhada de alce adorna a entrada principal do salão. Dois guardas com aparência feroz protegem a porta. Um terceiro usando uma capa azul, com um machado brilhante prateado e vestindo uma armadura cara, mostrando ser um homem de alta posição, se aproxima.

Wulfgar: “Eu sou Wulfgar, Príncipe dos Wylfings e sou o arauto do Rei. E vocês são?”

Barão Algar: “Somos Britânicos, Barão Algar Herlews, Sir Enrick e Lady Marion.”

Wulfgar: “Que belo animal esse aí com vocês! Só conhecia de relatos de nossos mercadores. Aguardem aqui.”
Depois de algum tempo ele retorna.

Wulfgar: “Vossa majestade irá lhes receber! Por favor sigam-me!”

Heorot é ainda mais impressionante no interior, parecendo maior do que o exterior. O salão tem cerca de quinze metros de largura e cinquenta metros de comprimento, o salão de teto alto flutua sobre um mar de fumaça. Apenas toras servem de vigas o sustentando. Um buraco em formato quadrado, no telhado, funciona como uma saída para a fumaça que se eleva de um braseiro no centro do lugar. Pinho polido cobre o resto do piso, bem como as paredes. Entalhes dourados intrincados retratam cenas da religião e das lendas locais. As mesas e os bancos são esculpidos em formas de serpente.

Os heróis percebem que o salão Heorot tem uma capacidade para centenas de guerreiros mas apenas uma fração deles está presente. Eles parecem mais fracos do que os outros homens que os acharam na praia. Manchas de sangue podem ser vistas fracas nas paredes e chão.

Barão Algar: “Parece que tiveram uma grande festa aqui.”

No final do corredor, o rei Hrothgar senta em um trono dourado. Ladeando Hrothgar estão seus jarls. Um sentado ao lado do Rei outro de pé à sua esquerda. Os dois homens parecem irmãos. Seis guerreiros estão atrás do trono armados com as melhores armaduras, machados, elmos e espadas. O Rei tem cabelos cinzas e barbas da mesma cor. Veste roupas vermelhas e uma coroa cravejadas de pedras preciosas com a runa de Odim no cento:

Hrothgar: “Aproximem-se Britânicos! Sou o Rei Hrothgar. Estão em um estado lastimável. O que os trazem a Lethra?”

Os heróis fazem uma reverência ao Rei vicking que fica muito satisfeito olhando ao redor para os seus jarls.

Barão Algar: “Levávamos o Mago Merlim para a Terra dos Francos quando fomos atacados por piratas saxões e ficamos dias à deriva até que naufragamos e chegamos as praias da Dinamarca Majestade.”

Hrothgar: “Entendo. Parece ser um dos nossos. Deixe me abraçá-lo meu bom rapaz. Seu Bisavô era um grande Guerreiro, quis o destino que você deitasse em nossas praias e voltasse as terras de seus ancestrais.”

Yrmenlaf: “Deixem-me apresentar. Sou Yrmenlaf o poeta e a voz do Rei. Existe uma profecia que a Velha Sábia Slajava declamou. Ela dizia que um filho de Thule regressaria as suas terras. E que ele se ergueria do mar com o próprio corpo e que teria compania daqueles que viviam além do horizonte, seguidores do Dragão.”

Hrothgar: “Acham que são vocês?”

Barão Algar: “Lutávamos sobe o estandarte do Dragão do Rei Uther Pendragon. Viemos de longe pelo mar e meus irmãos de armas estão comigo. Meus antepassados viveram em Zealand muito séculos. Parece que sim Majestade, somos aqueles que a profecia citou.”

Sir Enrick: “Mas exatamente o que está acontecendo aqui Majestade?”
Hrothgar: "Celtas! Existe luto em meu coração, humilhação e dor angustiante. Em Heorot meus guerreiros frequentemente ostentavam taças de hidromel, cantavam, se empanturravam e riam. Mas quis o destino que uma criatura, não sei nem como lhes contar isso, um espirito maligno, um troll maldito, começasse a perturbar o meu povo... Já se vão doze anos. Em meio à um banquete ele veio e quando a manhã trouxe a luz do dia, Heorot era um abatedouro. Que Wyrd olhe por eles. Muita morte e dor rondou os meus salões... Conversaremos sobre isso mais tarde porque essa noite vai ser diferente. Tem que ser diferente. Farei um banquete para celebrar a chegada de vocês. Devolvam as armas à esses heróis, Osric. Um filho de nossa terra voltou para casa e isso não pode passar em branco.”

Logo dois jarls se aproximam devolvendo as armas com respeito.

Hrothgar: “Mais uma vez Heorot será símbolo da alegria e da força Dinamarquesa. Essa noite será feito um banquete para lhes receber. Que a maldição vá embora com a nossa celebração. Vão com os escravos. Eles lhes oferecerão comida, água e um bom banho quente nas águas que brotam das pedras. Podem ir!”

Sobe os olhos de Grievous, deitado na borda de pedra, os heróis se banham em uma piscina natural de água quente em meio as rochas negras vulcânicas em uma colina de areia negra próxima ao assentamento. Depois de comer e descansar eles começam a se sentir revigorados novamente .

O Banquete dos Heróis:

Ao anoitecer o grande salão de banquetes está lotado com homens e mulheres. Os lobos caminham por entre as mesas e a carcaça de um grande servo é assada num braseiro. Grievous está deitado embaixo da mesa aos pés de Enrick. Mingau de cevada e Hidromel são servidos para acompanhar os pratos. Os serviçais parecem serem todos escravos pela forma que são tratados. Risadas e conversas enchem o ambiente de som. Então o rei fala em gálico e Yermelaf vai traduzindo aos ouvintes em Dinamarquês.

Hrothgar: “É com muita alegria homens da Dinamarca que recebemos os estrangeiros. Algar, filho de Odirsen I que regressa a sua terra, acompanhados por heróis e campeões da Britânia. Sir Enrick Flecha Ligeira e Marion, Filha de Avalon. Um viva para nossos aliados!”

E todos batem nas mesas com os punhos e gritam para lhes saudar.

Yrmenlaf: “Gostaria de cantar uma canção de nosso povo para vocês heróis.”

Bebam para os ventos gelados
Bebam para os lobos serem livres
Bebam para os barcos com as velas como asas
Bebam para a tempestade brava

Bebam para a última noite
E aqueles que esquentaram a nossa cama
Bebam o hidromel que aquece o coração
E o frio que clareia a percepção

Bebam pelos olhos do pai
Por Odim que os filhos nós somos
Bebam pelo aço da espada forjada
E os mistérios das runas sagradas

Bebam pelo segredo do aço
E o sangue que cai como a chuva
Bebam por Vahalla e os seu muros de ouro
E bebam por aqueles que se foram

Bebam pela glória dos campos
Onde os homens são abraçados pela morte
Agradecemos os deuses que vivem em nós todos
E a árvore da vida que trás sorte

Bebam para os ventos gelados
Bebam para os lobos serem livres
Bebam para os barcos no oceano sem destino
Odim todos nós somos os seus filhos

Todos aplaudem entusiasmados enquanto mais bebida é servida. A rainha linda, move-se sobre o salão com um copo de hidromel. Ela está vestida com um manto prateado bordado, seus olhos são azuis e os cabelos dourados. Possui um belo sorriso. Osric e seus homens estão sentados em uma das dezenas de mesas, junto com os heróis.

Osric: “Está é a rainha Wealhtheow.”

A rainha então oferece uma taça de hidromel primeiro a Hrothgar, então a seus guerreiros e, finalmente, aos Britânicos. Então todos ficam em silêncio os observando tomar o Hidromel

Sir Enrick: “Um brinde ao escudeiro Syan! Um rapaz fiel e corajoso que enfrentou a morte em alto mar.”

Todos os presentes erguem seus chifres e taças cheias de bebida e saúdam o jovem guerreiro morto pelas serpentes marinhas.

Runo, o guerreiro vicking ruivo, que os achou na praia junto com Osric se levanta da mesa e fala para todo o salão.

Runo: “Queremos que vocês contem alguns atos heroicos que realizaram. Nossos guerreiros querem saber o que já conquistaram para merecerem serem chamados de, como é mesmo a palavra na língua de vocês, heróis.”

Barão Algar: “Irei lhes contar sobre a Batalha de Saint Albans. Seguíamos nosso Rei Uther para enfrentar os malditos saxões. Chegamos a uma cidade que parecia estar deserta. Era a cidade de Saint Albans. Entramos com uma pequena tropa pelos portões e foi aí que tudo virou um caos. Dois gigantes e uma horda saxônica invadiram as ruas da cidade como uma tempestade feita de aço. Os gigantes nos encurralaram! Íamos todos morrer, mas aí um padre.”

Vicking: “Padre? Esses malditos são desprezíveis.”

Barão Algar: “Mas ele é um bom Padre!”

Vicking: “Padre bom é aquele que está na ponta de minha espada.”

Então todo o salão ri.

Barão Algar: “Pois bem! O homem nos salvou lá dentro com o braço do trebuchet apoiado na muralha e uma corda... Perdemos um grande amigo lá e todo o resto da tropa foi abatido como animais... Mas ao amanhecer, os saxões saíram da cidade e nos encontramos em campo de batalha. Os dois gigantes retornaram.”

Todos o saxões suspiram prestando atenção em cada palavra do Barão.

Barão Algar: “Então, eu enfrentei a temível criatura! Pulando em uma de suas mãos!”

Sir Enrick: “Tem certeza que foi desse jeito?”

Algar lembra quando o gigante lhe agarrou da sela de seu cavalo e ia lhe matar se Lady Marion e seus arqueiros não o tivessem libertado.

Barão Algar: “Quieto Enrick. Então! Lady Marion sentindo que minha vida corria perigo. Com apenas uma flecha.”

Sir Enrick: “Tá passando o papo!”

Barão Algar: “Cala a boca! Com seu arco acertou o olho do gigante que cai e me soltou no chão enquanto era destruído pelo nosso exército. Depois o outro caiu sobe uma tempestade de flechas comandada pela nossa grande guerreira. Mas...”

Eles riem e aplaudem enquanto mais uma rodada de comida e bebida é servida.

Barão Algar: “Mas então um antigo cavaleiro Britânico que lutava ao nosso lado surgiu. Nos atacando a traição. Acompanhado de uma mulher! Uma alma cheia de maldade e ambição. Nix, a deusa dos romanos surgiu ao seu lado, em um corpo humano e a ataquei com minha lança sagrada. A Gungnir abençoada por Odim!”

Todo o salão cospe para afastar o mal e os vickings gritam: “Odim!”, “Romano Traidor!”, “Mostre a lança! Todos queremos vê-la!”

Sir Enrick: “Ela afundou no mar! Deve estar na praia numa hora dessas.”

Barão Algar: “Não afundou não. Eu a empunhei como um filho da Dinamarca e a lancei matando a deusa e extinguindo a vida do Romano com um pedaço da sua alma roubado por ela. Infelizmente Gungnir se estilhaçou em mil pedaços. Vencemos e no final nosso Rei foi envenenado. Droga!”

Sir Enrick fala baixinho para Algar: “Algar, sobre a lança ter se despedaço é mentira!”

Algar ergue sua voz e estufa o peito olhando para todos os presentes no salão e diz.

Barão Algar: “E essa é a mais pura verdade!”

Todo o salão bate seus pratos e aplaudem erguendo seus chifres cheios de hidromel saudando os heróis. Nesse momento Sir Enrick vê Oswalt sumir com uma bonita garota loira, que servia as mesas, pela porta do salão de banquetes.

Dwyfor: “Espero que o garoto não arrume confusão Enrick.”

Sir Enrick: “Eu também.”

Então Sir Enrick decide ir atrás de seu irmão. Ele segue o casal que entra em uma das casas de paredes de grama. Sir Enrick bate na porta. Oswalt já sem camisa o atende. Atrás a garota Dinamarquesa está semi nua, com o seu corpo perfeito a amostra, deitada em uma pele de urso marrom.

Sir Enrick: “Escute garoto, eu não quero confusão aqui. Esses homens nos receberam muito bem. Sai daí e volte para o salão.”

Oswalt: “Mas irmão...”

Dinamarquesa: “Vamos Oswalt ou os Celtas não são homens suficientes para satisfazer uma mulher Dinamarquesa?”

Sir Enrick: “Somos sim minha senhora, mas não queremos confusão aqui. Tenha certeza de que ela não tenha dono rapaz.”

Oswalt concorda com um aceno de cabeça enquanto Enrick fecha a porta e deixa os dois para trás. Quando Sir Enrick retorna ao salão vê Caulas disputar uma queda de braço com uma vicking usando cota de malha, com dois metros de altura. Ela é muito forte e do tamanho de Bag. Suas bochechas rosadas e duas tranças ruivas contrastam com a sua aparência. Ela derrota muito fácil Caulas o derrubando da cadeira. Todos aplaudem e riem gritando: “Arina, Arina, Arina!”.

Uns outros quatro guerreiros estão ao redor deles batendo nas mesas torcendo e apostando pedaços de ouro de seus braceletes que eles quebram com machados.

Bannus, barba negra, um dos homens de Osric os chama.

Bannus: “Vamos estrangeiros ou estão com medo da Demônia do Norte?”

Barão Algar: “Demônia do Norte é? Vamos ver se ela merece o título!”

Arina e Algar sentam frente a frente. O Barão espera alguma resistência e se prepara. A última coisa que ele se lembra é estar sentado. Algar está estatelado no chão de pinho do salão enquanto todos ao redor riem.

Arina: “Próximo!”

Sir Enrick senta na frente da guerreira. Os dois se olham no olho enquanto se preparam para a quebra de braço. Arina começa a forçar o braço do Flecha Ligeira que sente suas forças irem embora. Ele tenta reagir e nada. Arina faz muita força tentando vencer. Mas Enrick reage e grita ao mesmo tempo até que consegue virar o jogo e bater a mão da vicking na mesa de banquetes, do outro lado, vencendo-a.

Todos aplaudem enquanto pedaços de ouro voam para a frente de Sir Enrick.

Arina: “Muito bem Celta! Gostaria de tentar guerreira Marion?”

Marion: “Vamos lá grandalhona!”

Arina cruza as mãos com Marion e aí começam a medir forças. O golpe da vicking é tão rápido que Marion sente que vai ser jogada no chão, mas Arina com o seu antebraço enorme segura a guerreira celta no ar e a coloca sentada novamente em sua cadeira.

Todos aplaudem enquanto os pedaços dos braceletes de ouro caem na frente de Arina sobe o aplauso do salão inteiro. Então um dos vickings, um homem de um metro e noventa, usando braceletes de ouro e cabelos e barbas loiras até a cintura vêm até os heróis.

Thorstein: “Então você é Algar? Sou Thorstein, quebra queixos!”

Algar só assente positivamente com a cabeça.

Thorstein: “Gostaria de lhe desfiar para um jogo que fazemos em festins como este. Eu tiro sarro de sua cara e depois é a sua vez de me responder. Acaba quando um de nós for muito aplaudido ou em socos e ponta pés!”

Barão Algar: “Pois então vamos lá!”

Thorstein: “Algar é tão corajoso, tão corajoso que às vezes se veste de vicking para espantar seus inimigos!”

Barão Algar: “Corajoso eu sou, mas mais corajoso é seu pai, que casou com sua mãe!”

Todos aplaudem e dão risadas.

Thorstein: “Algar é tão amado, mas tão amado na Britânia que fugiu nadando para a Dinamarca.”

Barão Algar: “Nada disso, vim para cá porque vim ensinar aos bárbaros um pouco de coragem.”

O som de um suspiro em coro seguido por um silêncio toma conta do salão. Mas então os vickings batem na mesa e explodem em risadas.

Thorstein: “Algar gosta tanto dos cristãos tanto que mandou tatuar uma cruz no peito para seus amigos rezarem quando não acharem uma igreja.”

Algar entende da onde vem a sua mania de escarnear os seguidores de cristo. Todo o salão imita os cristãos e alguns se ajoelham aos pés do Barão fazendo Mi, mi, mi, mi, mi.

Barão Algar: “E você meu amigo vicking Thorstein é tão cristão, tão cristão que vai transformar seu forte num convento só pra poder ser a madre superiora!"

Alguns se afogam com o hidromel, outros se jogam no chão de tanto dar risadas.

Thorstein: “Então me respondam. Quantos Algares precisam para matar um saxão? Nenhum, ele fugiu nadando para a Dinamarca!”

Barão Algar: “E quantos Thorsteins são necessários pra matar um saxão? Nenhum, ele não batem em moças indefesas..."

E todo mundo aplaude os dois enquanto Thorstein o cumprimenta.

Thorstein: “Foi uma honra amigo! Na verdade você não fugiu para Thule, veio nos libertar do mal.”

Então eles vêem duas mulheres brigando em um canto rolando por cima de uma das mesas derrubando comida e bebida. Todos riem da cena e aplaudem. Uma disputa de bebidas ocorre em outro canto do salão com dois homens caindo desmaiados e outro vomitando todo o assado que tinham comido. Um vicking se levanta, ele tem cara de poucos amigos, ele é loiro, é de meia idade. Seus cabelos estão sujos e o seu bigode é grande e mal aparado. Suas roupas estão manchadas de hidromel e cerveja. Seu rosto é cheio de rugas mas aparenta ter sido um homem bem apessoado. A bebida parece ter levado muito de seu explendor.

Unferth: “Vocês riem! Se divertem! O que pensam que estão fazendo?”

Ele tropeça e derruba um serviçal que levava uma bandeja. Todos ficam em silêncio.

Unferth: “Saia daqui seu escravo nojento. Homens morreram nesse salão! Grendel nos tomou muito mais que a nossa paz. Ele e aquela bruxa, sua mãe, devem morrer. Vocês estrangeiros podem ter tido sucesso no mundo em que vivem. Eu duvido que tenham algum aqui com Grendel, espreitando na noite, em seu próprio solo.”

Todos ficam incomodados olhando constrangidos.

Hrothgar: “Já chega! Unferth tenha respeito com nossos convidados. Mas, infelizmente meus súditos, o Jarl está certo. Guerreiros e guerreiras! Tenham uma boa noite. Sou um velho que deseja cumprir suas obrigações de marido com a minha bela rainha. O comando do Heorot é de vocês estrangeiros. Dormirão aqui. Deixarei os meus melhores homens para que nada de mal aconteça. Todos os outros vão se recolher e rezar para os Deuses nos protegerem mais uma vez.”

Então o rei levanta e de braços dados com a rainha Wealhtheow deixa o salão pelas enormes portas escoltados pelos seis guerreiros reais. Atrás deles todos se retiram quietos. Eles olham com pesar e batem nas costas dos heróis os cumprimentando. Algumas mulheres beijam seus rostos.

Unferth (bêbado): “Ficarei com vocês! (ele saca a sua espada) Hrunting lhes servirá essa noite! Em 12 anos Grendel nunca sangrou. Mas a minha lâmina foi forjada pelos gigantes e acredito que só ela poderá matá-lo se ele vier.”

Algar percebe ser uma espada vicking com uma lâmina bem forjada. Mas não existe nada de espetacular na arma.

Os archotes iluminam o grande salão. Tudo está em silêncio. Treze guerreiros estão ali presentes. Arina (guerreira) , Unferth, Bannus (Preto) , Runo (Ruivo), Valos (Loiro irmão), Urbun (Loiro irmão), Osric (Loiro irmão), Oswalt, Caulas, Dwyfor, Marion, Enrick, Algar e o Leão Grievous. O braseiro mantém o lugar aquecido enquanto a fumaça flutua, para o céu estrelado de Thule, através de um quadrado no teto. Dali dá para ver a estrela do norte. Seis homens colocam uma grande viga de carvalho atravessada por entre as duas portas. Lá fora o som do vento assobia nas soleiras das construções.

Arina: “Como querem que preparemos o salão estrangeiros?”

Sir Enrick: “Mas porque? Vocês acham que pode acontecer alguma coisa?”

Arina: “Toda noite de banquete ele veio. É melhor ficarmos de olhos abertos.”

Então eles se sentam ao redor do braseiro, na madeira do assoalho, em cima de peles de ursos.

Bannus: “Que Odim permita que vivamos mais um dia! Os últimos homens que dormiram em Heorot atravessaram Bifrost.”

Arina: “Não tenho medo de Grendel! Ele é uma criatura maior que um homem. Mas um urso também é e já matei quase uma dúzia deles.”

Lady Marion: “Eu também acho. Já enfrentei dois gigantes e venci. Grendel não será páreo para nós.”

Unferth: “Quanta asneira vocês duas falam. Da outra vez foi impossível reconhecer os cadáveres dilacerados que a criatura se banqueteou. Só sobraram as costelas com carne entre os ossos e as pernas. O gigante adora comer as cabeças. Nunca mais esquecerei o som delas sendo quebradas. Ursos não nos odeiam Arina. Nós entramos na casa deles e não o contrário. Gigantes Lady Marion, são grandes e lentos. Grendel é rápido como uma corsa.”

Runo: “Chega (cospe no chão), parem de falar besteiras, isso dá azar. Mantenham as armas à mão. Não acredito que ele venha essa noite. Ele sabe que dessa vez estamos o esperando.”

Valos: “O que sabemos é que o destino está escrito. Relaxem e aguardem. O que for para acontecer já está predestinado. Nada que fizermos mudará os fios que as fiandeiras teceram.”

O tempo vai passando. Alguns cochilam e outros conversam.

Dwyfor: “Esperem, silêncio! Vocês escutaram alguma coisa?”

Oswalt e Caulas estão sentados assustados olhando para a porta fixamente enquanto tremem ansiosos. Os lobos uivam por todo o assentamento. Derrepente eles ouvem só três deles. Depois dois e por fim os animais se calam. Eles escutam passos na grama do lado de fora entremeado pelos sons do vento. Logo tudo fica em silêncio novamente. Mas nesse momento a porta do salão parece ser tocada pelo lado de fora. Um som de alguém passando a mão na madeira. Logo o som de três chaqualhões fazem um eco no grande salão. Todos lentamente vão retirando suas armas em silêncio e devagar. Pegam os seus escudos e colocam os seus elmos lentamente e ficando de pé.

Urbun começa a falar em sua língua e Algar vai traduzindo. Todos os outros vickings falam junto com ele.

Urbun: "Se, der ser du min far … (Olhai, que ali vejo meu pai)
Se her for at se min mor, (Olhai que ali vejo minha mãe)
mine søstre og brødre … (minhas irmãs e meus irmãos...)
Se her for at se den linje af mine forfædre, (Ali vejo a linha dos meus ancestrais,)
fra begyndelsen … (desde o principio...)
Se de kalder mig, (Olhai que eles me chamam)
så jeg tager min plads hos dem, (para que eu ocupe meu lugar junto a eles)
i Hall of Valhalla, (no salão do Valhalla)
hvor den modige kan leve evigt … (onde os bravos podem viver para sempre..)

Derrepente um estrondo e as duas portas e a trava, as enormes dobradiças e tudo que a barrava voam para dentro do salão. Um pedaço grande de estilhaço da porta atinge Enrick fazendo rolar para o fundo do salão machucando o seu ombro. Um vento forte e frio vem lá de fora apagando as tochas das paredes. A única fonte de luz que ilumina as paredes do salão é o braseiro. Nas sombras todos escutam passos no piso de pinho. Tudo está mergulhado em vermelho. Por vezes eles parecem ver uma silhueta se deslocando rápido na escuridão e sombras na parede. Eles escutam um som vindo de cima.

Sir Enrick: “Ele está andando pelas vigas do teto.”

Derrepente um som seco é ouvido atrás dos guerreiros, voltados para a porta, seguido por um grito pavoroso. “Ingen! Ingen! Odim!” (Não, Não, Odim!). Eles vêem, próximo ao trono real dourado, o ruivo Runo tremendo em convulsões enquanto Grendel se revela e arranca um braço e o morde ficando com a boca e o queixo cheios de sangue. Ele arranca o outro braço e o atira contra Enrick. O Flecha Ligeira se abaixa e o membro do vicking se quebra contra a parede deixando uma marca de sangue na madeira branca. Depois ele morde o topo do crânio do guerreiro ruivo que está com os olhos esbulhados e a língua pra fora e come parte do cérebro que escorre como uma massa viscosa amarelada do crânio sem a tampa da cabeça. Valos vomita. Algar vendo a terrível cena fica tomado pelo pavor.

Osric muito corajoso rola para as costas de Grendel e grita: “Por Thor! Morra desgraçado!” Ele ataca o Troll que é atingido por trás com o seu martelo de guerra. O Gigante olha para trás sentindo o golpe e acerta o guerreiro que voa contra o trono e cai inconsciente rolando com o pesado móvel real. Unferth tenta se aproximar girando e cortando um dos joelhos da criatura. O golpe foi certeiro mas nada acontece. O guerreiro loiro Urbun faz o mesmo tentando estocar no meio das pernas do Troll e a ponta da espada não rompe a sua pele grossa. Grendel pisa e o dinamarquês rola pelo chão gemendo de dor. Caulas e Oswalt juntos atacam com as espadas com toda a força. Mas falham e são jogados para perto do braseiro com uma joelhada na cara dos dois. Os outros guerreiros tentam se movimentar para atacar a criatura. Marion, usando o arco de seu marido, Sir Enrick, dispara uma flecha no ouvido do monstro. A flecha é certeira mas não tem força suficiente para penetrar a grossa pele de Grendel. Sir Enrick corre, desvia das garras do Troll e despedaça o pé da criatura. Algar faz o mesmo do outro lado e acerta a mão do monstro com o seu machado dourado. A lâmina não tira uma gota de sangue da criatura apesar do golpe forte.

Bannus tenta sair da visão da criatura e ataca uma das pernas de Grendel. Mas o seu golpe com o machado de duas mãos, mesmo bem executado, não lhe causa dano algum. Grendel olha direto no rosto do barba negra e com as garras arranca metade do rosto do vicking o cegando do lado esquerdo e o desfigurando. Bannus cai tremendo e gritando de dor. Dá para se ver a caveira do lado esquerdo do homem. Enquanto isso Grievous salta na perna da criatura que o sacode até que o Leão é jogado quebrando uma das longas mesas e fazendo o felino levantar e rugir preparando-se para voltar a luta. Arina golpeia o outro pé de Grendell que é quebrado pela guerreira. Ele urra e manca encolerizado.

Dwyfor bate, em um dos joelhos da criatura, com o escudo. Grendel grita e arranca a proteção do guerreiro. Ainda com o braço preso nas correias ele tem seu corpo sacudido até o osso de seu braço sair de dentro da carne causando uma fratura exposta. Dwyfor grita de dor e desmaia e o gigante joga o seu corpo contra o trono caído que rola para o fundo do salão com o corpo do guerreiro. Urbun tenta atacar com a sua lança mas Grendel pega a arma com o homem pendurado enquanto quebra a lança em seu joelho. O vicking loiro rola pelo meio das pernas da criatura e some do raio de visão da criatura.

Sir Enrick: “Lâminas não adiantam de nada contra esse Troll maldito.”

Então Grendel se sentindo acuado e assustado corre e atira uma mesa em Arina arremessando a guerreira contra uma das colunas. Ela bate de costas e desmaia. O gigante olha para o lado e agarra Oswalt em uma mão que grita em pânico e com um aperto impede o irmão de Sir Enrick de respirar o levando a desmaiar e a derrubar a sua espada. Com a outra mão agarra Valos, irmão de Osric. A criatura olha para os heróis e dá um urro e corre, tão rápido que em um piscar de olhos desaparece pela porta do grande salão levando os dois guerreiros em suas mãos. Grievous some na escuridão atrás dele.

Arina se levanta segurando as costas machucadas e mancando um pouco.

Arina: “Droga! (Ela chuta o elmo de Bannus). Maldito! Desgraçado!”

Unferth com o rosto congelado de ódio e ofegante: “Eu disse que a morte rondava esses salões. Vocês viram? Nem a minha espada foi capaz de feri-lo.”

Dwyfor está desfalecido e provavelmente perderá o braço. Bannus está morto. Osric respira mal. Provavelmente tem costelas quebradas e sua respiração assobia indicando que teve os pulmões perfurados. Urbun está tetraplégico pelo pisão que recebeu. Caulas está em choque tremendo sentado em um canto do salão com as mãos cobrindo o rosto enquanto o sangue dos guerreiros assassinados vai manchando o piso de pinho branco. O cheiro de morte permeia o ar. Vem a manhã e com o som dos gritos todos os Dinamarqueses do assentamento acordam. Eles ficam chocados com a visão aterradora da morte. As mulheres e filhos dos guerreiros assassinados choram e os feridos são levados para o físico do Rei Hrothgar. Lá fora eles vêem os sentinelas e os lobos mortos e o rastro de sangue que faz um caminho por cima da paliçada e depois pela pedra branca da muralha redonda.

Sir Enrick: “Temos que ir atrás dele. Meu irmão não pode estar morto!”

Hrothgar: “Que tragédia. Porque Odim? Porque? Limpem o sangue e juntem os restos daqueles que morreram e lacrem Heorot. Esse é um lugar amaldiçoado.”

No meio da tarde, na frente do salão, uma grande pira é acesa cremando os guerreiros mortos com os seus cavalos, armas e armaduras. Algumas mulheres se sacrificam e se jogam atrás de seus maridos. Um circulo com todos os moradores do assentamento é feito ao redor do fogo. Muitas lágrimas são derramadas. Após o funeral o Rei Hrothgar se aproxima acompanhado por um guerreiro veterano.

Hrothgar: “Deixem apresentar-lhes. Esse é o Jarl Ashhere Herlews.”

O Jarl do Rei tem uns quarenta e poucos verões. Seus cabelos e barbas são grisalhos. É alto e usa uma cota de malha. Ele usa um tapa olho na vista esquerda e tem uma grande cicatriz no lado direito do rosto. Usa o martelo de Thor pendurado no pescoço.

Hrothgar: “Esse é o meu melhor guia. Ele pode lhes ajudar a achar o desgraçado. Acho que Algar irá gostar de conhecer o seu primo, também bisneto de Odir que teve um filho bastardo reconhecido por ele. Mortem Herlew era o nome dele. Ele teve um filho chamado Lars, vô de Ashhere e pai de Jesper Herlew o qual este Jarl é filho.”

Ashhere Herlews: “Como vão? É uma honra. Que Odim nos una Algar e que não nos separe na morte contra Grendel. Vamos partir, temos que aproveitar a luz do dia!”

Barão Algar: “Muito bom lhe conhecer primo! Este é Caulas, meu escudeiro, ele é um Herlews e filho do primo Dalan.”

Ashhere Herlews: “É uma honra rapaz!”

Arina: “Irei junto! Precisarão de alguém que tenha a coragem de um lobo e a força de um urso. Esperem preciso levar um pedaço de pão. Não como nada sem pão.”

Unferth: “Quero a cabeça da mãe e do filho em uma estaca! Também irei.”

Caulas sai do salão quando escuta.

Caulas: “Vamos matá-lo! Não vou deixar o meu melhor amigo nas mãos dessa criatura. Nem que seja a última coisa que eu faça!”

Sir Enrick: “Precisamos de martelos de guerra! Armas de corte são inúteis contra Grendel.”

Explorando as Terras Ermas:

O grupo parte depois do meio dia sobe os olhos dos habitantes de Lethra. Eles saem do assentamento seguindo o rastro de sangue que Grendel deixou, levando os melhores martelos que o Rei poderia prover. O grupo atravessa as grandes plantações de aveia e cevada. O dia está cinza e tem temperatura de dez graus. Depois de andarem por horas finalmente eles saem em uma charneca. Lá do meio dela vem correndo Grievous que corre pedindo carinho para Enrick. A paisagem é amarelada por causa do capim baixo e diversas pedras negras brotam do solo. Venta muito e diversos poços de água negra e escura são vistos. Árvores com o tronco quase pretos com galhos retorcidos, sem folhas, com as pontas dos ramos parecendo dedos esqueléticos crescem espaçadamente uma das outras.

Ashhere Herlews: “Essas são as Terras Ermas. O Covil de Grendel deve estar nessa região.”

Eles caminham por algumas horas. Existem alguns poços de onde sai uma fumaça mal cheirosa que cobre a charneca impedindo a visão em alguns trechos. Sir Enrick ouve o som de passos no capim seco e depois um barulho seco de pancada. O Leão levanta as suas orelhas e corre por entre a fumaça sumindo mais uma vez. Eles seguem pela paisagem inóspita. O céu cinzento trás uma garoa fina que faz a temperatura cair.

Eles se aproximam de um lago de águas negras encrespadas pelo vento gelado do norte, com uns dois quilômetros de extensão. Um pouco para dentro de sua margem existe uma ovelha presa na lama tentando sair. Na beira do lago, salivando, um grande lobo negro a espreita. Ele coloca a pata na água gelada mas não cria coragem de ir até lá e matá-la. Os animais não prestam atenção nos heróis. Existe um anão na beira do lago. Não tem cabelos e sua barba longa vai até a cintura. Ele usa um corselete de couro e braceletes do mesmo material em seus braços fortes. Está com o seu escudo nas costas e com um martelo de guerra em sua cintura. Mas está com uma corda em suas mãos, parece diferente das que eles estão acostumados a ver. Ela é prateada e parece ser de um material suave. Sua carroça puxada por bois está estacionada na margem do lago. Ele fale em Dinamarquês enquanto Algar traduz para os seus amigos.

Hogni: “Velkommen til ødemarker udenlandske! Je ger Hogni” (Bem vindo as terras ermas estrangeiros! Eu sou Hogni). Kunne hjælpe en dværg Nidavellir at indfange en sort ulv? Jeg beder denne fordel for Odim. (Poderiam ajudar um anão de Nidavellir a capturar um lobo negro? Por Odim peço esse favor) Men han skulle blive fanget i live fordi skæbnen allerede er skrevet.” (Ele deverá ser capturado vivo porque o destino já está escrito)

Os heróis ficam em dúvida se deverão se meter na contenda. Mas decidem fazer uma meia lua, com Sir Enrick e Verina no centro, e vir fechando o círculo lentamente. O Lobo negro, com o dobro do tamanho do que o normal, olha para os heróis e rosna quando começam a se aproximar. O animal fica acuado e se prepara para saltar pela meia lua e escapar. Quando o lobo pula por cima de Enrick e Verina, os dois o agarram pela pele negra tentando imobilizá-lo. Os outros guerreiros segundos saltam nele tentando pará-lo. Mas um segundo é suficiente para Sir Enrick levar uma mordida no braço. A dor é lancinaste e o Flecha Ligeira perde a consciência. Enquanto isso Hogni, o anão usa a sua corda, enrolando o enorme Lobo, de suas patas traseiras até a mandíbula. O animal rosna, arfa e treme, mas está imobilizado.

Hogni olha satisfeito, se aproxima com respeito e coloca um martelo de batalha na mão direita de Sir Enrick ferido. O braço do Flecha Ligeira está mordido e machucado. Marion se aproxima de seu marido e despeja um alforje de água do poço de Avalon em sua boca. Ao mesmo tempo ela esmaga algumas ervas e aplica no braço do Cavaleiro que lentamente volta a consciência com uma dor enorme no antebraço machucado.

Hogni: “En gave på Nidavellir den tjeneste, som ydes til guderne.” (Um presente de Nidavellir pelo favor concedido)

Então o anão com a ajuda dos heróis colocam o lobo negro na liteira da carroça. A fera se debate um pouco e rosna. Hogni sobe e antes de partir fala algo em uma língua que Algar não entende. Ashhere em silêncio com os olhos baixos concorda assim como Arina e Unferth. Então o anão parte, conduzindo a carroça, contornando a margem do lago negro sumindo por entre a bruma que sai de um buraco no solo. O cordeiro consegue se livrar da lama e corre pela margem desaparecendo em um piscar de olhos.

Ashhere Herlews: “Hogni falou na língua antiga. Aqueles que os antigos disseram ter sido ensinada pelos deuses. Ele disse: Nós e vocês somos filhos dos Deuses, perseguidos e amaldiçoados, herdeiros de tua força, portadores da tua Maldição. O povo do Dragão nos teme, mas quando o fim chegar, o Rei Dragão renascerá, trazendo fogo e destruição. Mas, não restarão nem nós nem seus filhotes e o grande lobo e o dragão se tornarão discípulos do cordeiro. Nornes Urd, Verdandi e Skuld, as três fiandeiras já sabem disso. Seus fios já estão trançados. O Ragnarock chegará e o Deus vindo do oriente prevalecerá. ”

Arina: “O que está determinado pelas três está feito. Vamos embora! Daqui a pouco a noite cairá e acampar pelas terras ermas pode ser muito perigoso.”

Sir Enrick com esforço volta a caminhar ainda meio tonto e com dores no braço. Curioso ele lança o martelo.

Sir Enrick: “Pode ser o de Thor. Ele sempre volta para o seu escolhido.”

A arma cai a frente. Caulas olha curioso e rapidamente trás para Enrick.

Verina: “Voltar ele voltou Enrick.”

Logo cai a noite e a temperatura. O grupo caminha mais alguns quilômetros e logo surge à frente uma paliçada com tochas em cima. Eles vêem na frente do portão aberto do assentamento doze karls ao redor de um estranho espetáculo. Dois homens seguram uma moça jovem, enquanto um terceiro martela forquilhas de madeira nos braços e pernas dela.

Ashhere Herlews: “Aqui é a fazenda de Cynewulf. Ele era um berserker da guarda de Hrothgar. Até o primeiro dia que Grendel visitou Heorot e o guerreiro viu seu irmão desaparecer dentro da boca do Troll. Ele enlouqueceu e fugiu para a fazenda de sua família. Mas o horror parecia segui-lo. Dizem os rumores que nos últimos 12 anos as pessoas da fazenda usam sacrifícios para apaziguar o espírito irritado de Grendel.”

Unferth os cumprimenta e fala em dinamarquês. Unferth vai traduzindo.

Cynewulf: “De skal bekymre sig om deres problemer og orlov.” (Deveriam se preocupar com os seus problemas e irem embora)

Enquanto isso a mulher chora e tenta se livrar das forquilhas.

Saral: “Hjælp mig please!” (Me ajudem por favor!)

Gizur: “Hold kæft slave!” (Quieta escrava!)

Os karls entram novamente para dentro da paliçada do assentamento. O grupo de heróis se oculta na escuridão e aguarda na charneca. A noite vai passando e nada de Grendel aparecer.

Sir Enrick: “O Troll deve estar alimentado. Não virá! Temo pela vida de Oswalt.”

A manhã vai chegando e aí os heróis decidem libertar a escrava. Sir Enrick ainda dolorido vai até lá e retira as forquilhas. Nesse momento o portão duplo da paliçada se abre e os karls, liderados por Cynewulf os atacam.

Cynewulf “Damn! Dræb dem alle!” (Malditos! Matem todos!)

Cynewulf salta sobre algar girando o seu machado pelas costas e cabeça enquanto grita. Ele deixa Algar lhe atacar lutando como Berserker. O Barão ameaça atacá-lo para esquerda, o vicking vai para a direita e Algar muda o lado do ataque o confundindo e o decapitando. Os outros Karls, são atacados com os martelos por Sir Enrick e Lady Marion. Os aldeões são mortos rapidamente com ossos e crânios esmigalhados. Arina ataca um outro karl, mas ele acerta com o pomo de sua espada no peito da guerreira que tropeça para trás. Mas antes de cair ela puxa seu adversário o atirando em uma cambalhota no ar. Ela se ajoelha e roda o seu martelo de guerra por trás de sua cabeça quebrando a coluna de seu inimigo. Unferth usa a sua espada e escudo, apara o primeiro golpe e faz uma carga em seu inimigo que tropeça e antes de atingir o solo tem a sua mão decepada. Logo uma estocada em seu pescoço o silencia. Caulas luta com a sua espada e escudo. Um aldeão o derruba mas no último segundo o escudeiro rola para o lado e o homem enterra seu machado de duas mãos na grama. Quando o karl ergue a arma novamente é tarde demais. Caulas corta sua perna do joelho para baixo. Arina ao seu lado aproveita e esmaga o crânio do homem que explode sujando de miolos a paliçada.

Depois da luta a moça fica agradecida por ser libertada. Ela é linda com umas 17 primaveras. Com cabelos loiros cacheados e olhos azuis. Ela vai até os heróis e agradece em Dinamarquês.

Saral: “Tak mine redningsmænd! Jeg er norsk og kalder Saral.” (Obrigado meus salvadores! Me chamo Saral e sou norueguesa)

O portão do assentamento é trancado e ninguém mais aparece. Exaustos por passarem a noite em claro o grupo monta um acampamento quilômetros à dentro das terras ermas. Durante a madrugada Sir Enrick de sentinela escuta os mesmos sons que ouvira no lago negro. Os uivos de lobos e o gralhar de corvos perturbam o sono no meio da manhã fria. Enquanto todos dormem embrulhados em peles de lobo cinza Saral, a escrava norueguesa salva, vem se aninhar debaixo das peles junto de Algar. O Barão sente o corpo quente dela. A garota vai ficando nua enquanto se aproxima para o beijar lentamente. Algar não resiste aos encantos da norueguesa e faz amor com ela.

Já com o sol alto eles acordam. Os guerreiros comem um pouco de enguia salgada, levada do assentamento do Rei ,e tomam um pouco de hidromel quente antes de seguir viagem.

Ashhere Herlews: “Vamos seguir em frente! Andei ao redor do acampamento e me parece que a trilha de Grendel está viva e segue em direção ao mar.”

Então eles caminham pela charneca amarelada ouvindo o som das ondas quebrando na praia. Eles chegam em um desfiladeiro de rocha cinza. Lá embaixo existe um pântano de água salgada coberto por uma bruma lúgubre. A vegetação de mangue e o cheiro de podridão sobe até a borda do rochedo. Do outro lado existe um paredão de pedras que se ergue de dentro da neblina.

Ashhere Herlews: “Parece que a trilha de Grendel acaba aqui.”

Lady Marion: “Existe uma trilha lá embaixo por entre as brumas. Temos que descer.”
Arina: “Vejam! O sal do mar e o gelo formaram uma base cobrindo as rochas. Podemos nos apoiar. Mas pode ser traiçoeira. Se pisarmos em uma delas e ela quebrar, adeus!”

Grievous deita na beira do penhasco apoia as suas patas e fica os observando. Ele não consegue descer. Saral se ajoelha ao lado dele e fica os observando descer. Algar desce, escorrega em um dos trechos quando uma pedra de sal se dissolve em sua mão. Mas o Barão se agarra e chega até o chão negro lamacento que afunda até o seu joelho. Sir Enrick vai logo depois. Ele escorrega várias vezes e com a sua agilidade reduzida por sua cota de malha pesada, tornando o trabalho de descida árduo, várias vezes ele fica dependurado e ameaçando despencar. Mas o Flecha Ligeira consegue usar a sua força a seu favor para se apoiar e chegar lá embaixo. Marion com extrema agilidade vence o paredão com segurança. Caulas, Ashhere Herlews, Arina e Unferth os seguem.

Lá embaixo a paisagem está coberta de névoa do pântano. Eles caminham lentamente em meio a água e lama negra. Por entre a neblina eles vêem Grendel os observando. Rapidamente ele some. Ao lado dele eles parecem ter visto uma mulher enorme. Na verdade a altura dela é o dobro dos heróis. Eles vislumbram rapidamente a sua feiura e o seu corpo disforme.

Unferth: “Grendel e sua mãe! Cuidado, deve ser uma armadilha!”

Quando eles entram no estreito caminho de lama preta mal cheirosa e borbulhante eles vêem dezenas de esqueletos humanos. Várias trilhas surgem os confundindo e os levando ao coração do pântano. A névoa envolve tudo ali. Alguns cadáveres com carne nos ossos apodrecem. Eles percebem mordidas em suas barrigas e crânios. O cheiro de decomposição e amônia beira o insuportável. Por entre as brumas eles vêem o sol somente como um círculo branco no alto.

Derrepente de um dos lados do caminho o som de algo grande saindo da água os assusta. Eles são molhados por aquela água fétida cheia de lama negra.

Arina grita enquanto saca o seu martelo de guerra: “Grendel! Forsigtig!” (É Grendel!Cuidado!)

Caulas e Unferth pegam os seus escudos e as espadas. Sentem pavor frente à terrível criatura. O Troll gigante os observa e em seus olhos pode se ver o ódio o dominar.

Ashhere Herlews: “Herlews!”

Ashhere grita enquanto saca seu machado e salta para dentro do banhado tentando acertar a criatura, seguido por Arina, Unferth, Algar, Marion, Enrick e Caulas. Grendel, ferido nos pés, pela luta da noite anterior, se arrasta na lama negra. Os heróis tem dificuldade em combater no chão mole e escorregadio.

A criatura bate com o punho em Caulas que voa longe que cai longe em uma velocidade incrível, quebrando braços e pernas, enquanto o escudeiro rola por entre as poças de lama do mangue. Arina se aproveita e golpeia com muita força o gigante nas costas. A criatura urra em um som gutural. Unferth tenta golpeá-lo mas Grendel lhe aplica uma cabeçada o jogando para o barro onde ele cai perdendo a sua arma. Ashhere Herlews acerta o seu martelo de guerra na costela do Troll, um lado do dorso da criatura afunda e o som de ossos quebrando é ouvido. Ele vomita sangue negro e urra. Grendel se volta enfurecido para Marion, que se movendo com muita destreza, escapa de suas garras e apoiando em uma de suas pernas acerta o outro lado das costelas que cedem enquanto a criatura se espalha na lama. Sir Enrick, ainda com o braço machucado e dolorido da mordida do lobo negro, luta com dificuldade. Grendel percebe sua proximidade e com o punho fechado acerta o Flecha Ligeira que rola, atingido pelo pesado golpe, o ferindo. O punho de Grendel cai em direção a Marion que gira pelo chão. A guerreira rola se esquivando do ataque. Algar se aproxima e acerta as costas do Troll que com um urro ensurdecedor se volta para ele. As unhas infectas, dos quatro dedos, vem como lâminas de uma espada longa em direção ao corpo de Algar. O Demônio do Norte gira lateralmente quando o gigante escorrega na lama e se espalha diante de seus olhos.

Algar levanta o martelo de guerra e desce no meio da testa de Grendel. O golpe final é forte e certeiro. O gigante se debate arfa, urra e joga barro enquanto se enterra até os joelhos na lama negra do pântano nojento. Ele vira os olhos tentando não perder os sentidos mas cambaleia. Ele parece perder a consciência mas acorda. Sem forças ele cai de joelhos em frente à Marion e em um último esforço tenta agarrá-la e afogá-la na lama. Por alguns segundos ele consegue, mas Marion escapa lisa, como um peixe de suas mãos. Grendel fica a procurando sem acreditar como ela escapou. Algar então enlouquecido pula nas costas da criatura semi morta e a mata com uma martelada certeira em sua nuca quebrando os ossos da base do crânio.

O sangue negro da criatura sai por sua cabeça e se mistura à água. Grendel se mexe, mesmo morto, em espasmos. Ashhere cumprimenta Algar com um aceno de cabeça. Sir Enrick levanta meio tonto e com os braços arranhados e vai ver Caulas caído longe do lugar onde ocorreu o combate.

Sir Enrick: “Como está garoto?”

Caulas: “Sigam em frente. Estou muito ferido. Devo ter quebrado os braços, talvez algumas costelas e uma das minhas pernas. Eu fico aqui! Deixem minha espada e meu escudo! Salvem Oswalt.”

O Covil de Grendel:

Então finalmente saindo da bruma que cobre o Pântano eles chegam do outro lado. O sol está no crepúsculo e as sombras começam a cobrir o desfiladeiro. Existe uma caverna logo à frente. Eles acendem tochas. A sua entrada cheira a bosta e lixo. Pedaços de carne e ossos putrefatos estão jogados pelo chão. Não se pode distinguir se são de pessoas ou animais. Aranhas do tamanho de ratos andam pelas paredes tecendo teias. E alguns morcegos voam passando perto de suas cabeças. Existe uma piscina no fundo do salão com o teto cheio de estalactites. A água ali dentro é mais limpa. O lago desemboca em uma entrada menor dentro da água.

Arina fica vermelha e muito irritada. Ela dá o seu martelo de guerra para Algar com os olhos baixos.

Arina: “Lort! Lort! Idiot! (Merda, Merda, Idiota!) Eu não sei nadar! Podem ir, vou voltar e ficar com Caulas!”

Barão Algar: “Está certo! Mas tenham cuidado lá Arina.”

A guerreira vicking assente com a cabeça e sai da caverna.

Então os heróis se preparam para a travessia da caverna submarina. Algar é o primeiro. Ele caminha com água até a cintura e quando chega na abertura mergulha. Ele atravessa uma passagem estreita guiado por uma tênue luz debaixo da água. Por um momento parece ter se perdido mas tocando as paredes de pedra o Barão acha o caminho certo e sai do outro lado.

O segundo a mergulhar na caverna submarina escura é Sir Enrick que arrisca usar a sua armadura pesada para nadar. Ele entra na caverna. Com dificuldade ele acha o caminho para sair, mas logo na saída ele se perde. O Flecha Ligeira segura o fôlego tentando descobrir por onde deve ir. No último instante ele consegue ver a luz em meio a água escura e sai do outro lado.

Marion mergulha, logo na entrada da caverna submarina ela se vê em meio a escuridão. A guerreira fica tensa. Ela vai cansando e sente a água invadir os seus pulmões. Com grande probabilidade de se afogar Lady Marion começa a sentir que pode ficar presa ali e morrer. Até que a guerreira olha para a sua esquerda e acha a saída para o outro lado.

Ashhere e Unferth chegam logo depois dos heróis. Quando eles erguem um pouco a cabeça para fora da água vêem uma fogueira. Centenas de ossos se espalham pelo chão. Armas, armaduras e escudos estão jogados ali enferrujados. As paredes de pedra manchadas de sangue e o chão está cheio de urina e fezes. Restos de Valos estão jogados no meio da caverna. A cabeça aberta sem cérebro com os olhos para cima e a língua branca para fora. O tronco ainda com a parte das costas inteiro com os ossos da costela abertos se projetando pra fora com nacos de carne por entre eles. Parece que a fera tirou o intestino e jogou em uma pilha que fervilha de vermes brancos no canto oposto.

Oswalt está perto dessa pilha jogado no chão não se sabe se vivo ou morto. Uma criatura branca, cadavérica, com cabelos grisalhos longos saindo da lateral da cabeça grudentos e calva em cima, com seios muxos, está abaixada no cadáver de Valos, imunda e nua, com a boca cheia de carne humana crua e sangue que verte do coração do vicking em suas mãos. Suas unhas estão pretas cheias de sangue coagulado. Ela é duas vezes mais alta que um guerreiro normal. Ela tem uma faca em suas mãos que usa pra cortar o cadáver e comer. Na verdade é uma espada curta vicking.

Então ela vê os guerreiros observando da água e vira o pescoço rápido em alerta soltando um silvo agudo e estridente. A mãe de Grendel fica agachada e os aponta a faca. Depois, muito rápida, salta para trás e vai caminhado de ré em direção ao fundo da caverna. Então ela pega uma bola de couro que estava em uma algibeira ainda no pescoço de um cadáver e atira neles. Num piscar de olhos ela arremessa uma tora em chamas que cai em uma mancha oleosa de fogo grego que flutua na água. Uma bola de fogo incandescente ilumina a caverna escura. Algar é queimado nos braços de raspão. Mas Unferth é atingido em cheio. A criatura urra com um grito estridente e gira sem rumo, insana pela caverna. O vicking se debate e se joga desesperado na água berrando de dor. O cheiro de carne queimada invade o lugar. O corpo flutua com a pele se descolando dos ossos com o impacto do corpo quente na água gelada. Unferth está morto boiando de bruços.

Barão Algar: “Desgraçada! Morra!”

Algar corre da água seguido por seus amigos e acerta um golpe na panturrilha da Troll que grita. Mas ela é rápida e dá um tapa, com a parte de dentro da mão, no Barão. Algar rola batendo nos cadáveres e ossos espalhados no chão e sente a sua cabeça bater na rocha dura. Ele olha o teto cheio de estalactites e desmaia. Marion contorna a mãe de Grendel. Escapa das unhas afiadas da criatura e esmaga suas costelas. Sir Enrick tenta se aproximar, mas a criatura pega um pedaço de lenha da fogueira e atira nele. A madeira em brasa bate em seu peito com tanta força que com o impacto joga faíscas para todos os lado derrubando o Flecha Ligeira de encontro a parede. A dor do impacto é tamanha, somada aos ferimentos sofridos pelo herói que ele também cai inconsciente.

Ashhere Herlews salta no ar com o seu martelo mas a Troll é mais rápida enfiando as unhas em sua barriga. A armadura é transpassada e o sangue brota escuro. O vicking cai de joelhos e a mãe de Grendel acerta de baixo para cima, com o punho esquerdo, o queixo do guerreiro que é jogado num canto do salão.

Marion está sozinha. Seus companheiros caídos ao redor. A Troll ferida e encolerizada salta em sua direção tentando chutá-la. Marion salta e rola pela pedra conseguindo se posicionar ao lado da Troll. A guerreira novamente golpeia com o martelo acertando a bacia da criatura que cai com o forte golpe. O corpo da Troll treme inteiro com o ferimento. Ela se debate no chão e se mija e uiva naquela imundice. Provavelmente sua bexiga foi furada por algum osso quebrado. Sua bacia deve estar esmigalhada. Ela tenta levantar mais desaba gritando com sangue saindo pela sua boca. Ela olha para o teto e parece cantar uma melodia sinistra e se curva e se levanta, se curva e se levanta... A criatura tem lágrimas nos olhos. Marion, em frenesi da batalha, começa a recitar o encantamento de Avalon:

“Morte e vida, gira a roca, o destino escreve assim
As fiandeiras vão tecendo os caminhos de carmim
Me perdoe meu irmão se te levo dessa vida
Que a deusa te receba e que cure sua ferida
Viveremos em outros tempos, tão perdidos na memória
E poderá cobrar de mim e escrevermos nova estória”

Então a mãe de Grendel tenta pegá-la mas está sem força. Marion no peito da criatura deitada e com uma força descomunal golpeia com o martelo. Não se sabe quanto tempo ela continua a golpear. Mas, no final de tudo a cabeça da Troll está desfigurada em uma maça de ossos, sangue negro e miolos espalhados por toda a caverna.

Quando Marion sai de seu frenesi deixa o seu martelo cair da mão e vai até Ashhere. O guerreiro senta segurando seu ventre e faz uma careta de dor.

Ashhere Herlews: “Me ajudem por favor! Dói muito!”

Quando ela vê o abdômen de Ashhere percebe que as quatro perfurações das unhas infectadas são profundas e mortais. Ele vai ficando branco, começa a tremer e a suar frio. Então dá um suspiro e ele vira os olhos e sua cabeça cai para o lado e seus olhos ficam fixos, sem vida. Marion se lamenta e vai até Sir Enrick, seu marido. Ela o ajuda a sentar e ajuda a recobrar os sentidos lentamente, enfaixando seu braço ferido. Algar também é assistido pela guerreira que enfaixa a sua cabeça e cuida de suas queimaduras.

Ela se aproxima de Oswalt deitado no chão. Ele respira e está amarrado e amordaçado com cipós. Marion nota que ele não tem mais os dois dedos da mão esquerda e uma das orelhas. Oswalt fica em silêncio quando é desamarrado. Ele está em choque. Seu braços, rosto e pescoço estão arranhados por ele ter sido arrastado pelo chão da caverna.
Oswalt tremendo: “Vamos embora daqui! Vamos embora...”

Algar usa a fogueira da Troll morta e faz uma pira queimando o corpo de seu primo Ashhere Herlews. Depois de algum tempo e de recobrarem as forças eles partem daquele lugar maldito. Antes de saírem pela caverna submarina Oswalt olha para trás e observa o lugar com tristeza. Ele cospe para afastar o mal e entra na água. Os heróis já sabem como voltar pelo caminho submerso e chegam com facilidade do outro lado da caverna submarina. Saem dali e chegam em uma das trilhas do Pântano onde está Caulas e Arina. Ao redor deles existem umas oito serpentes marinhas, como aquelas que os atacaram no mar. Os dois guerreiros estão um apoiado nas costas do outro. A espada curta de Arina suja de sangue azul marinho e os dois comem tranquilamente os pães que a guerreira trouxe em sua algibeira presa na cintura e tomando Hidromel de seu alforge.

Arina: “E os outros?”

Barão Algar: “Estão mortos.”

Arina: “Odim nem sempre é justo! Aqueles que não retornaram estão nos salões comemorando a essa hora. O que é para ser, já foi tecido! O destino é inexorável.”

E escorre uma lágrima de seus olhos. Caulas mesmo sem poder se mexer com uma das pernas quebradas dá a mão para Oswalt de pé à sua frente.

Caulas: “Bom te ver novamente Oswalt!”

Oswalt: “É bom estar vivo amigo. Me faltam alguns dedos mas ainda posso levantar um escudo.”

Caulas: “É bom mesmo! Arina teve trabalho mas ela luta melhor que o Bag!”

Arina: “Quem é Bag?”

Sir Enrick: “Um grande guerreiro de nossas terras.”

Arina mexe os ombros meio confusa. Eles fazem uma maca com cordas trançadas e galhos para remover Caulas. Antes de partir Algar arranca um dente do cadáver de Grendel. Uma das trilhas que eles seguem leva à uma outra caverna. Na verdade um túnel que sai do outro lado na praia. Grievous está ali embaixo, sujo de lama e sal do paredão, os esperando, se lambendo na porta, junto com a norueguesa Saral.

Oswalt agradando o bicho: “Achou um caminho é?”

O leão pede carinho para o escudeiro. Eles andam com água pelos tornozelos e saem na praia de areia negra e cascalhos. O mar mexido com o vento soprando forte e encrespando o mar de cor cinza abaixa um pouco a temperatura.

Arina: “Vamos pela costa.”

Eles caminham horas pela praia. Cai o crepúsculo, a noite fica escura, cansados e exaustos eles seguem até o amanhecer sem dormir. Até que avistam a falésia onde foram achados pelos guerreiros do Rei. Eles sobem, passam novamente pelas plantações e vêem a muralha circular de pedra subindo a trilha até a colina. No alto eles podem ver o grande salão do Rei Hrothgar com o telhado de ouro reluzindo ao sol. Os sentinelas soam a trombeta e os moradores do assentamento correm para os receber. Na frente vem o Rei Hrothgar e atrás os seus poucos guerreiros. Dwyfor só com a parte de cima do braço embrulhado em um tecido os acena com a única mão que lhe sobrou. Yrmenlaf, o poeta do Rei, está ao lado dele. Ao lado direito do Rei a bonita rainha Wealhtheow de braços dados com ele. Hrothgar olha melancólico mas satisfeito.

Hrothgar: “Vejo que nem todos regressaram.”

Os heróis assentem com a cabeça.

Hrothgar: “Estão junto de seus antepassados agora. Melhor que todos nós. Sentiremos a falta deles e celebraremos os seus nomes. Ashhere e Unferth serão lembrados como heróis da Dinamarca e suas famílias viverão em fartura até o resto de suas vidas. O destino está escrito, melhor o encontrarmos com o aço em nossas mãos.”

As mulheres e filhos dos guerreiros emocionados se curvam diante do rei.

Barão Algar: “Grendel e sua mãe estão mortos. Seu povo está livre para viver em paz majestade. Está aqui o dente do maldito para lhe provar.”

Todos suspiram espantados quando vêem aquele pedaço marrom e mau cheiroso, na forma de um quadrado todo irregular do tamanho de uma espada curta, nas mãos do Barão.

Hrothgar: “Até ontem, eu duvidava que nossas aflições iriam ser remediadas. Pelos menos durante o meu tempo de vida. Mas esses guerreiros nos defenderam contra nosso mau. Não tenham dúvida que iremos honrá-los, com o nosso tesouro. Vocês escreveram o seu nome na história da Dinamarca. Vocês pelos seus atos e pelas as suas próprias mãos serão coroados com a honra eterna. Devemos pedir ao Pai Odim suas bençãos sobre vocês! Como os Deuses nos sorriram duas vezes, trazendo a tempestade com os heróis aos portões de Heorot e fazendo com que esses heróis acabassem com o horror que nos assombrava todas as noites, eu gostaria de lhes recompensar.”

Ele bate palmas e dois guerreiros vem carregando um baú. O Rei o abre. Existem seiscentas libras em barras de ouro no baú.

Hrothgar: “Algar como é filho de nossa terra. Na praia onde foram achados deixei um presente para você. Um Drakkar. Não esqueça de tirar o lobo que mandei esculpir para colocar na proa quando estiver próximo da terra firme, não queremos espantar os espíritos. Levará toda a tripulação com você. São bons homens. Imbatíveis no mar. São cinquenta hábeis remadores e guerreiros Dinamarqueses. Suas famílias os seguirão para Britânia em outro barco. Ajoelhem-se guerreiros! Sir Enrick, Lady Marion eu os ordeno Karls e serão considerados nobres e heróis respeitados por toda Thule.”

São entregues braceletes dourados para cada um de vocês com runas desenhadas simbolizando Odim.

Hrothgar: “Demônio do Norte! Barão da Britânia! Filho de Odirsen I Herlews! Filho da terra onde o gelo eterno vive. Lugar onde Reina Odim e seus filhos. Onde o céu se ilumina com a Aurora Boreal quando as Valkirias vestem as suas armaduras e onde o trovão tem o poder do martelo. Em Thule para sobrevivermos é preciso viver como um lobo e pensar como um lobo. Pois, aquele que na sua essência é um lobo aqui prevalece. Algar lhe concedo o nosso título máximo de protetor de Zealand e com grande honra lhe ordeno, Beowulf da Dinamarca!”

Todos aplaudem entusiasmados enquanto o Rei recebe uma pele de lobo branco de um escravo e cobre Algar que ergue a sua cabeça e vê, contrastando com o céu cinza, dois corvos voando por cima do assentamento.

Arina: “Amigos gostaria de lhes pedir uma coisa! Se me aceitarem, chegou a hora de eu conhecer a terra verde dos celtas. ”

Sir Enrick: “Não precisava nem pedir Arina! É claro que é bem vinda!”

Hrothgar: “Mas filha...”

Ela se ajoelha diante do rei e pega a mão de Hrothgar.

Arina: “Pai, não era para eles saberem. Não quero ser tratada diferente. Chegou a hora de seguir meu caminho e conquistar a minha glória em nome do aço e de Odim.”

Hrothgar: “Então vá guerreira e só volte coberta de glória e ouro!”

Arina: “Sim meu pai!”

Barão Algar: “Majestade. Um dia o sangue Dinamarquês foi embora com meus antepassados para a Britânia e um dia o seu sangue real retornará, coberto de feitos e glória para a Dinamarca.”

Então Hrothgar levanta a sua filha curvada diante dele. Ela abraça o Rei e depois se curva fazendo uma reverência a rainha.

Naquele mesmo dia os heróis partem da Dinamarca. Do Barco eles vêem em cima da falésia os Dinamarqueses os acenando, com os lobos cinzas entre eles, enquanto o vento sopra. Algar antes de entrar no barco olha na areia e vê algo brilhando. Enterrada no cascalho negro coberta pelo mar raso, em meio a maré baixa, está Gungnir, a sua lança sagrada.

Barão Algar: “Aí está você! Vamos voltar para casa.”

Antes de subir a bordo Algar beija na boca de Saral se despedindo dela. Assim o barco viking, no final do verão, parte rumo a Britânia levando os heróis. Eles ainda viram uma última vez a aurora boreal, os blocos de gelo e as focas do mar do norte. Dois mil anos depois os Dinamarqueses e homens de outras terras ainda contam a lenda de Beowulf escrita pelo poeta do Rei Hrothgar, Yrmenlaf. Algar nunca mais retornou a Dinamarca.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

Aventura 24: E Merlim deixa a ilha..., Ano 498


Nos lares Britânicos, por toda a ilha, o Natal de 497 foi simples. A pouca comida, a fome e a pobreza gerada por causa das invasões bárbaras e dos pesados tributos, impostos pelos reis saxões, tornaram a vida muito difícil na Britânia. Muitas revoltas se espalham pelos feudos. Em Salisbury não é diferente. Os Saxões não saquearam as terras mas o preço pela paz tem sido alto. Somente pequenos incidentes na fronteiras ocorrem de ambos os lados e são punidos pelos próprios senhores bárbaros. A fome e as doenças se espalham por todos os lugares.

Nas terras do Barão Algar não tem sido diferente. O Feudo de Pitton e de Winterbourne Stoke estão nas mãos de rebeldes. Durante o inverno Lady Sofia, mãe da Baronesa Adwen, esposa de Algar, não resistiu e faleceu de peste. Os senhores dos feudos tentam fazer com que seu povo não passe fome sacrificando os animais de criação. Em Dinton, no feudo de Sir Enrick, muitos aldeões morreram de fome apesar de o casal de heróis mandarem abater até mesmo os cavalos de batalha. Tempos difíceis para os Britânicos.

No início da Primavera de 498, mais uma vez, em Winterburne Gunnet uma carroça com a Runa da Resistência celta, pintada com sangue, é deixada por entre as brumas nas primeiras horas da manhã. Na liteira é encontrado cinquenta libras em um baú, barris com frutas, carnes e peixes desidratados, quinze ovelhas e quatorze cabeças de gado amarradas umas nas outras em um carvalho próximo ao feudo principal de Algar. Uma flecha perfurando um pergaminho preso na carroça contém a seguinte mensagem.

Mensagem:

Meu Nobre Barão. Mais uma vez a ajuda veio até você. Desta vez tributos de sangue tiveram de ser pagos. A ajuda dos Deuses ao nosso povo começam a ter um preço. O sangue de alguns está sendo derramado para que o de muitos outros continuem a correr. Mas esse preço ainda é pequeno perto da força e da coragem de nosso povo. Não devemos temer e nem nos intimidar. Precisamos ser fortes e nos unirmos cada vez mais. Para isso aqueles que se rendem a essa escória usurpadora devem ser mortos e seus bens devem ser dados aos filhos legítimos dessa terra. Mais uma vez Barão faça bom uso desses espólios e os divida com sabedoria. Contamos com sua bondade e justiça.

Estaremos lhe observando de perto.

Assinado: Resistência celta.

No meio da primavera de 498 o Barão Algar, Sir Enrick e Lady Marion reuniram suas forças e iniciaram uma campanha rumo aos Feudos rebelados do Barão para retomá-los. Arweinnyd Gwich, administrador de Winterbourne Stoke está junto com eles. O plano é sufocar a rebelião primeiro nesse feudo e depois continuar o ride até Pitton.

Winterbourne Stoke

A pequena força formada pela Ordem dos Cavaleiros da Cruz do Martelo está acampada há cinco dias, tentando negociar uma saída pacífica, próxima à Stone Range. No centro está a grande tenda de comando de Algar e ao redor as dos Cavaleiros da Cruz do Martelo. Depois em um círculo maior os arqueiros e por último os infantes. Eles trouxeram cem homens ao todo. O Arquidruida Merlim faz compania à eles.

É uma noite estrelada e os heróis sentam em pedaços de troncos ao redor da fogueira. O leão Grievous está deitado ao lado de Sir Enrick brincando com um osso de cabeça de gado. Dali eles podem ver Winterbourne Stoke e atrás do feudo a floresta de Modron´s. Um largo e profundo afluente do Rio Avon corre do norte para o sul. O único acesso aos portões do Feudo é uma ponte de madeira com dez metros de largura e de trinta metros de comprimento. Ao lado dela existe uma robusta torre de proteção para arqueiros construída em pedra. Do outro lado da ponte existe cento e cinquenta metros de relva, onde os rebeldes estão acampados à frente do feudo. Há dias eles bebem. A maioria dos homens com cabelos longos e barbas vestem túnicas marrons esfarrapadas amarradas na cintura por uma corda. Os aldeões estão armados com arcos rústicos, lanças de caça, foices, machados de cortar lenha e espadas enferrujadas. No alto da torre existem seis homens com lanças e arcos. Nenhum deles usam armaduras. Poucos vestem cotas de malha ou um elmo e os que usam provavelmente roubaram dos soldados durante a revolta. Metade dos rebeldes tem escudos grosseiramente cortados e totalizam duzentos homens.

Por vezes os rebeldes com a cabeça cheia de sidra vem até a entrada da ponte e mostram a bunda, xingam e cospem. Antes do anoitecer eles queimam o brasão de Algar próximo a ponte. Os soldados do Barão respondem, mostram as armas e suas vergonhas. As cabeças dos guardas de Winterbourne Stoke, que tentaram reagir à rebelião, estão fincadas em lanças em cima da paliçada. A entrada da ponte, que sai no descampado à frente do portão do feudo, tem vários sacos de terra formando uma barricada.

Sir Amig: “Pobres desgraçados! Serão trucidados!”

Sir Bag: “Vai ser uma carnificina. Será como pescar em um barril Algar.”

Sir Dylan: “É, mas aquela torre e a ponte favorece os rebeldes. E você se cuide Oswalt tem o Breno agora para cuidar e uma esposa bonita para te esquentar a cama. Nada de loucura!”

Oswalt concorda positivamente com um aceno de cabeça.

Sir Dalan: “Precisamos de um plano de ataque primo se ficarmos presos nas barragens de sacos de terra estamos mortos. Não podemos demorar para resolvermos essa situação. Com a morte negra se espalhando por aí, ficarmos acampados mais cinco dias aqui seria suicídio.”

Merlim: “Você tem razão Dalan e todo cuidado é pouco! Quando homens estão dispostos a darem as suas vidas por uma causa, realmente é porque o mundo deles deve ter ruido. Lembram-se dos Pictus contra os Romanos?”

Arweinnyd (administrador do feudo): “Sim Merlim! Só não esqueçam que esses servos sempre foram boas pessoas. Estão desesperados, só isso. Tenho certeza de que se eles vencessem o conflito, o que é bastante improvável, essas terras com certeza cairiam nas mãos dos Saxões. Não teriam forças para mantê-las. Já aconteceu com dezenas de Feudos em Logres nos últimos anos.”

Sir Amig: “Sim! Não esqueçam que primeiro temos que atravessar a ponte. Então a barricada tem que ser retirada e a torre ser tomada. Tudo isso enquanto lutarmos contra os rebeldes.”

Sir Verius: “Está certo! Precisamos de um bom plano de ataque. O que propõe cavaleiros?”

Sir Berethor: “Nossos batedores viram que ao anoitecer eles colocam sentinelas para cuidar das barricadas.”

Sir Enrick: “Acredito que precisamos tomar a torre primeiro.”

Lady Marion: “Usarei meus arqueiros. Os Vento do Pântano podem tentar fazê-lo da margem do rio.”

Sir Amig: “Será difícil acertá-los. Estarão no alto e protegidos pelas ameias de pedra.”

Lady Marion: “Eu acredito que consigamos fazer.”

Sir Enrick: “Usar trebuchets levará dias.”

Barão Algar: “Que seja então. Marion abrirá o ataque, depois Sir Enrick com o Esquadrão da Morte à Cavalo seguirão para a ponte. Eu irei com os meus homens na segunda linha, depois a infantaria e os arqueiros de Marion.”

No início da noite, já com as estrelas no céu, os heróis dão as ordens para as forças se prepararem. Todo o acampamento se agita com a ansiedade do combate que virá. Os arqueiros se preparam testando as cordas e a madeira dos arcos. Cada um deles examina com cuidado cada flecha verificando se as penas estão bem colocadas e se os projéteis estão retos. O infantes preparam as suas lanças, escudos, martelos, maças e machados. Ajustam o elmo e as suas armaduras de couro e braceletes. Os Cavaleiros vestem os seus peitorais, suas cotas de malha e peles de urso e lobo por cima. Os escudeiros preparam os cavalos e quando os Cavaleiros montam, os garotos lhes dão os escudos recém pintados com os seus brasões.

Sir Enrick vê os três Sini Nomine sobreviventes da Batalha de Saint Albans próximo a Stone Range. Mas quando olha novamente detrás dos seus cavalos negros mais dois deles surgem. O Cavaleiro com o crânio no rosto inclina a cabeça o cumprimentando. Ele aponta para o caixão deixado próximo à eles. Sir Enrick vai até lá e diante dos homens de negro, com a ajuda de Oswalt, veste a armadura negra com o elmo em formato de cabeça de cavalo.

Próximo a tenda de comando alaranjada, com o lobo pintado nas paredes de couro curtido do pavilhão, os Heddlu Dduwies de Algar, homens com o rosto pintado de vermelho e a pele de lobo cobrindo seus corpos, retocam com o seu próprio sangue os olhos de lobo pintados em seu escudo. Eles preparam as suas garras de ferro e seus machados de arremesso.

Já Marion e os Vento do Pântano, com os garotos já transformados em homens, vestem as suas máscaras e afiam as suas gladius. Para pedir proteção eles beijam o símbolo da Deusa queimado na frente de seus arcos.

Então Marion e os dez arqueiros deixam o acampamento sobe os olhos de seus companheiros de armas. Eles caminham quase um quilômetro até a margem do rio. Os sentinelas à distância, sentados ao redor de uma fogueira, atrás das barricadas, não percebem nada. Do outro lado da margem Marion ordena um ataque com as flechas em trajetória em arco. A primeira rajada com dez flechas alça vôo em direção ao topo da torre. A maioria dos projéteis batem nas ameias e outros passam diretamente para o outro lado. Rapidamente os seis rebeldes lá em cima respondem com os arcos de caça rústicos. A maioria das flechas rebeldes nem conseguem atravessar para o outro lado e caem no rio. Os arqueiros de Marion riem e os provocam. Mas surpreendentemente uma saraivada de lanças são atiradas lá de cima. Os Ventos do Pântano tentam abrir a formação em linha mas tudo ocorre muito rápido. Cinco deles são atingidos mortalmente e caem na barranca do rio. A força do Barão fica em silêncio assistindo a cena. Marion sente que seus arqueiros sobreviventes estão prontos para correr em debandada.

Lady Marion: “Eles estão mortos. Vocês cresceram juntos, eram irmãos e são como filhos para mim. Temos um trabalho a fazer! Preparem-se, por eles! Preparar, mirar, disparar!”

E as cinco flechas mais a de Marion alçam vôo com extrema precisão. No acampamento rebelde eles escutam os seis arqueiros do alto da torre gritarem antes de caírem mortos. A força do Barão comemora. Os rebeldes acampados se olham assustados.

Líder Rebelde: “Perdemos a torre! Perdemos a torre! Peguem as armas! Estamos mortos!”

Então o Barão ordena que a sua força comece a marchar em direção à ponte. Sir Enrick e os Cavaleiros da Morte à Cavalo seguem na vanguarda com as suas armas e os estandartes de caveira de cavalo em chamas. Algar e seus cavaleiros seguem atrás. A infantaria e Marion com os seus arqueiros o seguem na retaguarda. Quando Sir Enrick e seus Cavaleiros Negros chegam nas barricadas o Flecha Ligeira atira o estandarte, como uma lança, próximo aos sentinelas, fincando-o no chão. Os homens apavorados saem correndo em direção oposta. Então os Cavaleiros Sine Nomine descem de seus cavalos e começam a retirar as sacas de terra que formam a barricada. Ao mesmo tempo os rebeldes começam a correr em direção à eles. Eles rolam as barricadas para dentro do Rio e os rebeldes chegam atacando a entrada da ponte.

Quando o inimigo avista os Cavaleiros Negros que lutam desmontados eles recuam assustados. Tempo suficiente para Sir Enrick se jogar contra a primeira linha inimiga junto com os Sine Nomine empunhando suas espadas flamejantes e seus escudos de pele humana. O sangue começa a jorrar enquanto o inimigo recua apavorado pelas figuras vestindo negro. Sir Enrick mata o primeiro rebelde abrindo a sua guarda com o escudo, derrubando-o e esmagando o seu crânio com uma martelada. Isso abre caminho para as outras unidades. Algar e seus Heddlu Dduwies começam a flanqueá-los com as garras de aço e golpeando com os seus machados curtos. Os rebeldes vão caindo mortos aos montes enquanto eles giram e matam como lobos. A infantaria ataca sem formação buscando contato com o inimigo agora espalhado por todo o descampado na frente de Winterbourne Stoke. Marion apoia a luta disparando em alguns grupos de inimigos isolados.

Os Rebeldes todos desordenados tentam reagir com as ferramentas de cultivo na mão. Com foices, espadas velhas, lanças de caça e machados de cortar lenha. Os aldeões sujos, magros, doentes e famintos começam a ser sobrepujados. Mas, próximo, um dos infantes do exército do Barão é trucidado por clavas e pedras. O homem clama por piedade mas os aldeões o espancam até o seu corpo tremer em convulsões. Do outro lado Tegfryn, sargento de Algar, e seus homens matam os aldeões como se fossem galinhas. Eles avançam girando o machado cortando cabeças, arrancando braços e espalhando a morte. Muitos deles correm em pânico se jogando no rio e outros para a floresta atrás do feudo. Mas poucos escapam. Sir Bag, Sir Amig e Dylan encurralam perto da paliçada um grupo de homens que jogam as suas armas e se rendem de joelhos. Oswalt, Caulas e Syan com os seus cavalos contornam os prisioneiros. Os que tentam os atacar são mortos como exemplos. Eles deixam alguns fugir mas mantém outros presos enquanto cavalgam em círculo ao redor deles. Sir Berethor com o rosto com um corte grande, feito por um ancinho, estrangula um homem caído no chão que ainda vivo segura a arma que atacou o cavaleiro romano. Sir Dalan gira cercado por muitos rebeldes, eles os cutucam com lanças de caça, enquanto o Cavaleiro apara com o seu escudo e ataca com as sua espada. Vai matando um por um, até que só sobram metade deles que jogam as suas armas e se ajoelham se rendendo.

Na noite sem lua, depois de uma hora de luta o Barão Algar e sua unidade de elite rompem o flanco direito dos rebeldes abrindo uma brecha que faz com que ele e uma grande parte da infantaria se movam para trás do inimigo os atacando por todos os lados. Sem ter como lutar e podendo ser trucidados os rebeldes se entregam atirando as suas armas. Quase cem rebeldes jazem no campo. A maioria deles feridos se arrastando com os corpos cortados, com membros amputados e ossos quebrados por entre os mortos. O som de gemidos e choros de dor invade a planície. A força do Barão perde vinte homens dos cem que formavam o seu pequeno exército.

Sir Amig comanda os lanceiros fazendo com que todos os aldeões sobreviventes que lutavam entrem no feudo. As famílias dos rebeldes pedem misericórdia enquanto eles aguardam o seu destino. Lá dentro de Winterbourne Stoke os heróis vêem muitos corpos inchados, mortos pela peste. Ratos correm de um lado ao outro. Os cachorros magros e também doentes caminham a esmo. O Motte and Bailey, no alto da colina, está queimado. Os prisioneiros sobreviventes são trazidos e colocados sentados. Os infantes os cercam apontando lanças. Eles estão feridos e tremem de medo. Alguns vomitam de tensão e ansiedade, outros rezam e choram. Os Cavaleiros da Cruz do Martelo se aproximam e se cumprimentam com um aceno de cabeça. Os arqueiros de Marion se sentam na relva abalados com a morte de seus irmãos de armas.

Sir Amig: “Deixem esses desgraçados aí, não os deixem fugir.”

Arweinnyd Gwich: “O que faremos com os prisioneiros meu Barão?”

Barão Algar: “Traga-me os líderes e os coloquem em fila na paliçada. Arqueiros se posicionem na frente destes infelizes.”

Três homens, com as cabeças baixas, são trazidos até Algar e colocados em fila. O Barão caminha encarando um a um enquanto acende o seu longo cachimbo.

Barão Algar: “Então vocês foram os líderes desse absurdo. Tenho só uma pergunta para vocês. Estão escutando os feridos chorarem lá fora e morrerem? Quem foi que matou aqueles homens?”

Líder Rebelde: “Fomos nós Senhor.”

Barão Algar: “Exatamente! Seus idiotas! O que queriam que eu fizesse, deixasse com que ficassem com as terras? Arqueiros preparar para atirar!”

Neste momento os lanceiros do Barão precisam fazer uma barreira para deter as mulheres e crianças que gritam desesperadas implorando pela vida de seus maridos e pais.

Líder Rebelde: “Por favor senhor! Estamos passando fome, todos estão morrendo. Tenha piedade.”

Barão Algar: “Todos estamos passando por necessidade. Perdi uma filha ano passado. Tegfryn! Prenda esses homens e jogue no calabouço de Winterbourne Gunnet. Arqueiros estão dispensados.”

Suas esposas choram agradecidas.

Barão Algar: “Arweinnyd, em breve virei morar por algum tempo em Winterburne Stoke. Deixarei uma parte de meus soldados aqui para manter a paz e em breve reconstruirei a casa grande.”

Arweinnyd: “Muito bem meu senhor. Será muito bom lhe receber aqui.”

Barão Algar: “Povo de Winterbourne Stoke estou lhes dando alguns dinares para que recomecem as suas vidas. Prometo que dias melhores virão. Homens! Nosso trabalho está feito, vamos embora!”

Pitton:

Então o pequeno exército de Algar deixa Winterbourne Stoke e segue para o feudo de Pitton marchando para leste. Eles cruzam o campo passando por Stone Range e atravessam um riacho pela ponte romana antiga em arco. Os vários assentamentos próximo ao rio estão abandonados. Os poucos que sobraram tem poucas pessoas e elas estão na misérias, magras, doentes e tristes. Poucas crianças são vistas. A maioria padeceu pela morte negra. Existem muitas covas coletivas. Alguns padres caminham por entre as casinhas de parede de pedra e teto de palha trançada. Eles rezam dia e noite pedindo um milagre. A força segue em frente e passa pelos muros de Winterbourne Gunnet. Logo à frente um Cavaleiro se aproxima em velocidade. Ele traz no peito um brasão azul com duas torres. Quando retira o elmo é o Capitão Taran, administrador de Pitton, ele faz uma reverência.

Capitão Taran: “Senhores, Milady! Os seguidores de Cristo, liderados pelo padre Marcus estão ao redor de Pitton. Fui até lá pedir para que se entregassem e não reagissem para evitarmos um massacre. Mas não adiantou. Eles abriram os portões e fizeram um círculo ao redor do Feudo.”

Então eles se aproximam pelo grande campo coberto de relva baixa já tarde da noite. Poucas pedras brotam do chão. No horizonte eles vêem as muralhas de pedra do feudo e mais de uma centena de servos fazendo um círculo ao redor do lugar. A medida que chegam próximos eles podem escutar as cantorias e orações. Eles tem velas em suas mãos. Mulheres, crianças, velhos e homens são liderados por um padre de batina marrom com a cabeça raspada. Uma grande cruz de madeira foi erguida na entrada do Feudo.

Sir Amig: “Não esqueçam que eles mataram e expulsaram daqui, todos os seguidores da antiga religião.”

Sir Bag: “Vamos mandar esses aí dar um alô pra Jesus pessoalmente Algar.”

Sir Dylan: “Calma! Um massacre não é certo. Estas pessoas estão desarmadas. ”

Sir Verius: “Droga!”

Urco late e gira excitado em círculo. O leão Grievous, ao lado do cavalo de Sir Enrick, ruge e balança a cauda nervosamente.

Sir Berethor: “O que faremos então?”

Barão Algar: “Eu irei conversar com eles. Marion e Enrick, venham.”

Merlim: “Eu vou com vocês.”

Quando os quatro pagãos se aproximam os rebeldes se ajoelham e cantam mais forte. O padre faz o sinal da cruz e os servos o imitam.

Padre Marcus: “Vejam! Deus enviou o Demônio e o Satanás para combatermos!”

Os soldados do Barão riem a distância.

Merlim: “Satanás! Me satisfaço com o título de Merlim da Britânia Padre. Já está de bom tamanho! Vamos resolver isso logo. Preciso deixar a ilha e vocês estão me atrasando bons cristãos.”

Padre Marcus: “Blasfêmia! Há fome, doenças e miséria por todo reino. Onde estão os seus deuses? Vocês amaldiçoaram essas terras com os seus rituais de sangue. Já vai tarde, ser infernal!”

E todos os aldeões fazem o sinal da cruz e dizem: “Amém!”

Padre Marcus: “O Cristo voltará! A data é o ano 500. Tudo mudará! Mas ele poderá não regressar se vocês pagãos estiverem cultuando o deus antigo. Ele morreu por vocês também! E nós morreremos como ele se for preciso... Como mártires de Jesus!”

Inicia-se gritos fanáticos e uma comoção. Então o Arquidruida ergue a mão. Aí o Merlim da Bretanha se transformar. A sua voz profunda e sombras emanam do seu corpo. Parece que o vento começou a soprar mais forte. A impressão é que o velho está mais alto e forte.

Merlim: “Silêncio!”

Todos ali ficam quietos e intimidados pelo poder do Merlim da Bretanha e as velas apagam. Até mesmo Algar, Enrick e Marion ficam petrificados de medo.

Merlim: “A nossas crenças são tão antigas quanto as fundações da terra. Mais profundas e escuras que o mar. Mais fortes e altas que as montanhas. Infelizmente vocês não entenderam nada do que o seu mestre lhes ensinou e agora tudo se resume em medo e ouro. Já que tocou no assunto... Padre Marcus, não é? Deixe eu lhe contar algo que não está escrito nesse seu livro sagrado mutilado que vocês deixaram só o que lhes era conveniente. Povo da Britânia! Não neguem seus ancestrais! Suas raízes devem ser tão fortes como a de um Carvalho de mil anos. Se perderem isso então não terão nada. Deixem me lhes passar o que me foi contado pela nossa tradição há milhares de anos e aí vocês serão livres para decidirem.”

Então a voz do Druida se transforma e todos se acalmam como que hipnotizados pelo seu carisma.

Merlim: “Houve um tempo em que a ilha esteve completamente sozinha no mundo. Não haviam outros países; apenas a Britânia e um vasto mar coberto por uma espessa bruma. Nesse tempo haviam doze tribos, doze reis e doze círculos de pedra e apenas doze deuses. Estes deuses caminhavam pela terra tal como nós, e Bei, um deles, chegou até a casar com uma humana. Outros deuses, no entanto, que sentiam inveja dos doze que governavam a Bretanha desceram das estrelas e tentaram roubar a ilha dos doze deuses, e as doze tribos sofreram durante as batalhas. Uma lança arremessada por um deus podia matar uma pessoa sem mirá-la e nenhum escudo terreno era capaz de deter a espada de um deles; por isso, os doze deuses, em virtude do amor que sentiam pelos seus antepassados, deram às doze tribos doze Tesouros. Cada Tesouro deveria ser guardado num castelo real e a presença do Tesouro impediria que as lanças dos deuses atingissem o castelo ou qualquer um dos seus habitantes. Eles estavam ocultos. Alguns nem sabemos exatamente o que eram. Os deuses nos deram uma espada, uma tiara, um broche, uma ferradura, um bracelete, um elmo, um martelo, uma capa, uma lança, um escudo, um chifre, um fruto de dragão e um anel. Doze objetos comuns, e tudo o que os deuses nos pediram foi que os preservássemos. Muitos deles já estão entre nós novamente e outros foram levados por outros povos e dado outros nomes. ”

O Merlim olha para os heróis. Todos os rebeldes estão calados ouvindo a história atentos com os seus rostos sofridos.

Merlim: “Mas graças ao grande amor que Bei sentia por uma mulher terrena, presenteou-a com um décimo terceiro Tesouro. Um caldeirão. Mostrou para ela onde ele ficava. E disse-lhe que sempre que começasse a envelhecer apenas tinha de ir até ele, esquentar a água do poço sagrado de Avalon e jogá-la sobe o seu corpo para recuperar a juventude. Desse modo poderia caminhar ao lado de Bei para sempre, no auge da sua beleza. Mas a localização do caldeirão foi esquecido, e a amada de Bei envelheceu e morreu e Bei cheio de tristeza e dor rogou-nos uma maldição. Essa maldição foi a existência de outros países e outros povos, embora Bei tivesse prometido que se próximo de um Samain, voltássemos a reunir os doze Tesouros das doze tribos, o Caldeirão e realizássemos os ritos adequados, os doze deuses viriam de novo em nosso auxílio e expulsariam o invasor. E esse conhecimento é a minha herança antes de eu partir.”

Então todos os servos abaixam a cabeça e choram e imploram: “Tenham piedade!”, “A vida está difícil”, “Não nos mate por favor!”. O Padre fica sem ação e se joga aos pés de Algar.

Padre Marcus: “Perdão senhor! Mostre a sua bondade!”

Merlim: “Agora é com vocês Cavaleiros!”

E o Arquidruida Merlim deixa o feudo e vai se juntar ao exército de Algar que se aproxima de Pitton.

Capitão Tara: “Barão! O que quer que façamos?”

Barão Algar: “Levem todo esse povo para dentro.”

Sir Amig: “Esse Padre andava fazendo o que queria por aqui.”

Sir Bag: “Queimando gente! Todos os pagãos foram mortos por esses loucos ano passado.”

Dentro do feudo as condições de vida estão péssimas. Ainda existem restos de fogueiras onde os pagãos foram executados. As casas dos seguidores da deusa foram saqueadas e o forte de colina virou uma grande igreja.

Barão Algar: “Enrick e Marion. Comprariam uma briga com a Igreja?”

Sir Enrick: “Já não temos uma Algar?”

Marion sorri ironicamente concordando positivamente com a cabeça.

O Barão Algar desce de seu cavalo de batalha e atira o Padre no chão que fica prostrado e tremendo. Os lanceiros contém os cristão que imploram pela vida do sacerdote.

Barão Algar: “Fale ao povo seu idiota, que você estava errado e que eles devem se acalmar e fazer o que pedimos. Ou lhe mandarei direto para o inferno.”

Padre Marcus: “Se acalmem todos! Estou diante da morte meu povo e estou pronto! Como nosso mestre, o Cristo...”

Barão Algar: “A idéia não era essa idiota! Pensa que transformarei você em um Mártir. Tragam uma corda, prendam-no e o atirem no calabouço de Winterbourn Gunnet. Caminhará até lá para dar exemplo infeliz.”

Sir Amig: “Que corda meu rapaz! Vamos usar o método antigo. Homens coloquem as correntes nesse Padre e o levem da minha frente antes que faça uma grande merda.”

Barão Algar: “Escutem meu povo. Merlim lhes contou algo importante hoje e temos uma esperança. Um recomeço. Faremos de tudo para que consigamos os doze tesouros e uma nova era se iniciará para a Britânia. Confiem em mim!”

E todos os aldeões assentem com a cabeça. Algumas tropas são deixadas ali para manter a ordem. Enquanto os heróis deixam Pitton e dispensam os soldados para retornar para as suas terras, um mensageiro de Sarum se aproxima à cavalo. Ele levanta poeira pelo campo a toda velocidade.

Mensageiro: “Senhores! Que bom que os encontrei. Já faz uma semana que os procuro. Trago-lhes uma mensagem da Condessa Ellen.”

Ele entrega um pergaminho enrolado e selado com o brasão da cidade em cera vermelha.

Mensagem: “Cavaleiros de Sarum! Com urgência convoco o conselho de Salisbury. Chegou a época dos tributos serem cobrados pelo inimigo. Acredito que teremos sérios problemas. Compareçam o mais rápido possível.”

Merlim: “Ótimo! Irei aproveitar para me despedir da Condessa!”

Barão Algar: “Vamos Cavaleiros da Cruz do Martelo, sigamos em frente para Sarum.”

Sarum:

No caminho, para a capital de Salisbury, no meio da noite, começa a chover tornando as estradas barrentas. Nenhum bando de saxões é visto próximo aos feudos e vilas. Logo eles atravessam a ponte romana do Rio Bourne, ao sul da planície de São George. Os coletores do pedágio os cumprimentam. As muralhas antigas de Sarum surgem logo à frente. Os andaimes estão contornando o lado oposto da cidade e dezenas de mestres construtores com martelos e cinzais martelam as pedras. Um pouco mais da metade da nova construção já foi realizada dando um contraste com as pedras enegrecidas antigas com as novas, acinzentadas. O grupo passa pela ponte levadiça e os guardas. No interior o povo empobrecido abaixa as suas cabeças em sinal de respeito. Muitos estão assustados com a presença de Merlim que olha para frente sem dar atenção à eles. Os monges param e ficam olhando boquiabertos o sacerdote da ilha sagrada desfilar pelas ruas. A quantidade de desocupados e bêbados jogados pela cidade, cachorros magros, merda e urina espalhados ao longo das ruas, cheias de ratos, chama a atenção e torna o ar carregado. A Runa da Vitória da Resistência Celta está pintada em várias casas e até mesmo na nova muralha. Eles sobem a rampa de paralelepípedos molhada e cheia de terra preta, passam pelo foço, pela ponte levadiça do castelo, e entram no pátio.

Condessa Ellen os aguarda no salão de audiências. Ela penteia os cabelos de Robert que está vestido de túnica bege, amarrado com um cinto de couro na cintura e no peito o brasão de Sarum. O pequeno sorri para os heróis e lhes acena. Três amas levam o garoto, que ainda manca, pela porta atrás do trono. A Condessa lhe dá um beijo antes de sair. Sir Léo já está presente assim como Sir Lycus que os cumprimentam.

Condessa Ellen: “Podem entrar cavaleiros sentem-se por favor! Merlim! É uma honra lhes receber em Sarum.”

Merlim: “A honra é minha Condessa! Vejo que Robert cresce forte e feliz. Isso é um bom preságio. Acredito que estão bem protegidos por esses cavaleiros. Por isso estou deixando a ilha. Voltarei na hora certa. Quando um dos tesouros Britânicos retornar para as mãos de seu verdadeiro portador.”

Condessa Ellen: “E será bem recebido quando voltar a ilha meu bom druida.”

O Padre Tewi, de pé atrás da Condessa, olha para Merlim com um sorriso de alegria pela sua partida.

Merlim: “Aproveite enquanto pode padre.”

NOTÍCIAS

Sir Léo: “Tenho notícias do oeste amigos. O Rei Idres da Cornualha declarou guerra a Devon. Nesse momento provavelmente mais uma região está sobe o seu domínio. Inclusive nossa missão para conseguirmos as pedras para as muralhas foi muito difícil. Encontramos os aldeões fugindo do oeste. Muitos encontraram a morte na floresta Selwood que está cheio de salteadores e mercenários procurando por trabalho. Bag e eu perdemos nossos escudeiros em uma dessas escaramuças tentando salvar alguns deles. ”

RESISTÊNCIA CELTA

Condessa Ellen: “Sobre a Resistência Celta...Vocês sabem que alguns nobres me procuraram temendo ser atacados. Dizem que se o levante errar e matar inocentes qualquer um de nós poderíamos ser vítimas. Por isso proibi a música e a runa. Mas parece que foi em vão. Um bardo foi punido, surgiu outro e depois outro. Nós não temos controle sobre isso. O que acham deles?”

Sir Amig: “Acho que temos que lutar Senhora!”

Sir Lycus: “Temo pela segurança de todos nós. Souberam de Sir Sefnyn? Ele estava desaparecido faz algumas luas. Não jurou fidelidade à Condessa, não pagou os tributos de prata e gado e dizem que negociava com o rei saxão Cerdic. Mas um caçador o achou em uma caverna nas montanhas a oeste do forte Vagon. Ele morava em uma caverna com a sua família protegido por seus homens. Pelo jeito tinha levado todo os seus bens para lá. Havia animais de criação, comida e prata. Acharam o corpo de sua esposa e seus dois filhos, ainda crianças, queimados. Parece que houve luta. Todos os sentinelas foram mortos. Acharam ainda o corpo em decomposição de dois aldeões vestidos como Cernnuno com a máscara e a Runa da vitória pintada. Mas o mais assustador é que a armadura do cavaleiro morto estava montada completa assistindo a cena e as cinzas dos ossos calcinados, retorcida pelo calor das chamas que consumiu o corpo de seu dono e por cima do elmo a máscara da Resistência Celta. Todo o resto parece ter sido levado.”

Sir Enrick: “Isso parece ter sido trabalho de um profissional!”

Merlim dá uma risada irônica.

Barão Algar: “O que foi druida? Confesso que os temo também.”

Merlim: “Nada Barão, nada...”

Lady Marion: “Eles parecem brutais. Mataram crianças e mulheres.”

IMPOSTOS

Condessa Ellen: “Cavaleiros! Logres está com um grande problema. Aliás três. Sussex do Rei Ælle, Wessex do Rei Cerdic e Essex do Rei Aethelswith estão nos pressionando. Os três reis bárbaros querem tributos esse ano. Não pagá-los significa sermos atacados como foram nossos vizinhos. Nossos exércitos continuam enfraquecidos. Sem muito ouro muitos desertaram. Temos poucos homens para defendermos nossas terras.”

Sir Berethor: “Permita me falar Condessa! Esses Saxões não se gostam. Dizem que falam sarcasticamente um do outro e tentam cobrar os impostos nos reinos vizinhos os ameaçando sem conversarem entre eles.”

Sir Lycus: “Senhores, pelo osso de Saint Albans. Esses desgraçados não negociam. Temos que nos proteger. Como defenderemos nossas terras? Com uma negativa na cara desse bárbaros vai ecoar pelos Reinos saxônicos?”

Sir Dylan: “Uma aliança?”

Sir Amig: “Nunca Dylan! Fecha essa boca suja filho!”

Sir Dalan: “E vendermos a alma pra um dos reis bárbaros. Qual seria o próximo passo? Nossas filhas casarem com eles? Falarmos seus idioma?”

Merlim em um canto afagando a juba de Grievous sorri com a ironia enquanto observa no alto as pequenas janelas em ogiva com pombas e corvos pousados nos beirais. A conversa vira um burburinho com todo mundo falando ao mesmo tempo.

Condessa Ellen: “Calma senhores! Receberei nos próximos dias a visita dos embaixadores de cada um desses reis. Eles não virão pessoalmente esse ano. Temem um ao outro ou serem assassinados nas estradas. Pois bem! Gostaria de ouvi-los Senhores e Milaidie!”

Sir Amig: “Sou contra qualquer aliança com esses filhos de uma cadela. Lutei a vida inteira contra esses porcos.”

Lady Marion: “Meu pai tem razão!”

Barão Algar: “Podemos pagar alguns deles e fazer uma aliança com outros.”

Sir Enrick: “Quem é o mais forte deles?”

Sir Lycus: “Sem dúvida Ælle, Rei de Sussex é o mais forte dos três. Está há muito tempo na ilha. É Rei daquelas terras desde 477.”

Sir Enrick: “Então só nos resta fazermos a aliança com o desgraçado.”

Sir Berethor: “Eu irei falar com o Conde Ulfius se precisar. Ele é aliado do Rei de Sussex. Somos romanos e nos entenderemos.”

Condessa Ellen: “Muito bem! Farei o seguinte. Preparem-se senhores, o começo do ano que vêm trará de qualquer maneira a guerra contra um desses animais. Talvez tenha chegado o tempo de reagirmos. Com a chegada da Resistência Celta o nosso povo parece estar se unindo. Faremos a aliança com Ælle e pagaremos o tributo à Aethelswith de Essex. Não pagaremos nada ao Rei Cerdic. Ele é o mais fraco em número de homens. E além do mais, tenho uma idéia que em breve saberão... Ele não perde por esperar.”

Todos os cavaleiros começam a bater na longa mesa gritando: “Muito bem!”, “Vamos pegá-los!”, “Colocaremos esses desgraçados em seu lugar!”

Condessa Ellen: “Sir Berethor, Sir Léo e Sir Lycus vão até Duque Ulfius negociar com Ælle. Sir Bag, Sir Dalan, Sir Amig e Sir Dylan serão responsáveis pelo confisco da prata e do gado. Padre Tewi, estou lhe designando para investigar quem está por trás desta tal Resistência Celta. Barão, Sir Enrick e Lady Marion levarão Merlim para a terra dos Francos.”

Merlim: “Condessa se nos permite gostaríamos de dormir aqui esta noite. Amanhã iremos até Donchester, já que perdemos a nossa saída para o mar. O barco do Barão já nos aguarda lá. Espero que Algar nos leve até o outro lado do canal sem nos matar.”

Sir Bag: “Vai esperando!”

Barão Algar: “Oh, que é isso Bag?”

Condessa Ellen: “Ahahahah! É claro Merlim! O salão é seu essa noite Arquidruida.”

Apesar de se recusarem a pagar um tributo de prata e gado para um dos Reis saxões o tesouro dos cavaleiros diminuiu consideravelmente com o pagamento duplo aos outros líderes bárbaros. A pobreza aumenta cada dia, reduzindo a produção das lavouras e as melícias de cada senhor. As fronteiras, do que sobrou de Logres, estão cada vez mais frágeis e suscetíveis a sofrer invasões inimigas.

Pela manhã. Enquanto os escudeiros preparam as montarias e os cavalos de carga com as armas, escudos e equipamentos de caça e cozinha, o Padre Carmelo vem até Sir Enrick. Ele está com o braço quebrado.

Padre Carmelo: “Senhor! Poderia lhe falar em particular? Recebemos a resposta da mensagem que o Senhor enviou ao Rei Idres da Cornualha.”

Sir Enrick: “Leia Carmelo.”

Padre Carmelo: (mensagem do Rei Idres): “Sir Enrick, recebi sua mensagem. Estou indo buscar o que é meu antes de Gorlois nos empurrar para o Sul da Cornualha. Uma aliança com Logres seria interessante pois estrategicamente poderíamos marchar sobre os saxões. Mas tenho uma condição. Tenho um filho com vinte e nove verões, Príncipe Mark. Soube que tem uma filha, Ellen. Apesar de ter poucas primaveras jure casá-la com ele daqui há alguns anos e teremos uma aliança. Esses são os meus termos para que se tornem meus Vassalos.”

Lady Marion: “Eu ouvi bem Enrick? Eu não quero que nossa filha case com um velho barrigudo da Cornualha.”

Barão Algar: “Mas seria uma aliança importante para nós! Qualquer um não pensaria duas vezes.”

Sir Enrick: “Exato, precisamos fazer algo!”

Lady Marion: “Não aceito! É nossa filha e é errado.”

Sir Enrick: “Então irei fazer uma contra proposta. Oferecerei minha irmã. Mandarei a resposta em breve Carmelo.”

Padre Carmelo: “Sim meu Senhor. Antes de partir também gostaria de dizer que aquela garotinha que foi resgatada do feudo de Sir Edgar está bem agora. Está sendo criada por mim e por uma moça da aldeia. Ela voltou a falar depois de poucos meses e parece ser diferente... Parece ter o dom da visão. Ela disse se chamar Nimue e é bem esperta. Os animais parecem ser atraídos por ela...”

Sir Enrick: “Muito bem! Cuide dela Padre, parece ser uma boa criança. Mantenha esse braço quebrado imobilizado. Até a volta.”

Pela manhã a comitiva parte. Os três heróis, seus escudeiros, Merlim e o Leão Grievous. O Arquidruida cavalga um corcel negro e está vestido todo de azul. Na cintura, ele leva, a meia lua de prata afiada, símbolo de Avalon. As cheias começaram e eles cruzam alguns terrenos alagados. Sinal de que no verão essas terras estarão férteis mais uma vez e mais saxões tentarão conquistá-las. Logo surge à frente a floresta de Modron. As árvores se erguem altas. Salgueiros, tília, carvalhos crescem às dezenas a cada quilômetro e as folhagens envolvem seus troncos. A estrada está cheia de barro preto escorregadio, fazendo com que a viagem transcorra mais lentamente. Nem sinal de aldeões e nem de saxões. Depois de algum tempo eles sentem um cheiro forte. O cheiro de cadáveres em decomposição. Próximo a estrada real, por entre as árvores, existe uma clareira e um grande buraco foi aberto. Pelo menos cem corpos jazem em seu interior.

Merlim: “Covas coletivas, que os deuses os recebam bem. A peste pelo menos é justa. Não escolhe títulos e nem classe social.”

Primeira Parada:

Logo anoitece e os escudeiros armam o acampamento na beira de um rio próximo à uma antiga ponte romana. A temperatura é agradável. Merlim se senta ao redor da fogueira com os heróis enquanto os garotos assam duas trutas que pescaram no rio. O Leão fica deitado cochilando.

Merlim: “Sabe Enrick. Não sei se já pensou a respeito. Mas já desconfiou que o anel de seu pai não era bem o que você pensava? E quando digo seu pai você sabe bem de quem estou falando.”

Barão Algar: “Como assim?”

Merlim: “Ahahahah. Calma Barão, em tempo! Ou você acha, Enrick, que cavalos assim brotam de árvores ou é o capim de Epona. Ou a água quem sabe? Ah sim, a água! Então porque os cachorros também não eram grandes, fortes e especiais. Aquele anel Enrick é um dos 12 tesouros. Mas isso você já devia ter desconfiado. Fique atento, talvez exista sinais de que ele ande por aí. Mais perto do que você possa imaginar. É necessário reunirmos todos o mais rápido possível.”

Sir Enrick: “Sim Merlim. Desconfio que esteja nas mãos dos Usurpadores. Na verdade com o pai deles, Sir Medrod. Os malditos de Oxford não perdem por esperar.”

Cai a madrugada e os heróis se alternam como sentinelas. A noite de primavera na floresta, próxima ao rio, é cheia de insetos. Mas a temperatura está agradável. O céu começa a ficar azulado com a chegada da manhã. Marion monta guarda na frente da tenda de Algar. O último turno ficou com a guerreira. As estrelas ainda brilham no céu enquanto da fogueira só sobram as brasas e uma fumaça final que sobe. Grievous saiu para caçar e ainda não voltou. Então Marion escuta sons de cascos de cavalos se aproximarem e passos na floresta vindo de todos os lados da mata. Um cavaleiro se revela. Ele usa o brasão da Cornualha bordado no peito. É o Cavaleiro que tinha falado com Sir Enrick e Lady Marion há um ano e que procurava Igrane depois de ter sido expulso da Cornualha por Idres. Marion se levanta com o seu arco fazendo mira no peito do homem.

Sir Sulgen: “Parados, vocês estão cercados! Em nome de Igrane, entreguem o velho e viverão! Clamo a cabeça de Merlim para levá-la a rainha de Logres! Existe uma pena dada pelo Rei Uther que nunca foi cumprida!”

Então todos no acampamento acordam e saem lá pra fora com as suas armas em punho. Sir Enrick é o primeiro a aparecer. Merlim vai até lá fora e de roupas cinzas de dormir, apoiado em seu cajado, olha para o rosto de Sir Sulgen. O druida leva um frasco amarelado em suas mãos e o despeja aos pés do cavalo do homem. Muitas gotas molham os pêlos das patas avermelhadas do animal.

Merlim: “Bom dia Sulgen! Líquido de um velho que não teve uma boa noite de sono. Vejo que despatriado e sem ter quem o servir o levou a fazer a vontade de uma coadjuvante da estória.”

Sir Sulgen: “Calado velho! Dobre a língua para falar de mim.”

Merlim: “Um rei morto é um rei deposto. Igrane já cumpriu o seu papel. Aliás cumpriu muito bem diga-se de passagem.”

Sir Sulgen: “Rendam-se ou meus arqueiros e cavaleiros darão cabo de vocês.”

Então o Merlim da Bretanha olha ao redor e dá uma piscadela para os heróis.

Merlim: “Será que um pobre druida não pode pelo menos juntar as suas coisas?”

Cinnor concorda mau humorado com a cabeça e Merlim entra na tenda. Sai com várias algibeiras e alforges e vai até o seu cavalo. Levanta e derruba tudo. Tenta juntar as coisas e derruba algumas delas e isso leva pelo menos vinte minutos. Marion tenta ajudá-lo mas nada parece apressar o Arquidruida.

Sir Sulgen: “Vamos velho!”

Então, derrepente, um som de grito vem da direita: “Arrrrrgh!” e dois arqueiros correm da mata apavorados para o acampamento. Merlim aproveita o momento de distração e levanta o seu cajado acertando Sir Sulgen que cai da sela do cavalo no líquido amarelo. Vindo da mata, a toda velocidade e colocando os dois arqueiros para correr em pânico, surge um grande javali macho. O animal entra no acampamento com o foucinho e os dentes cheios de sangue. Ele deve ter uns trezentos quilos e um metro e meio de altura. Os heróis escutam vozes vindas da mata.

Cavaleiro 1: “Merlim conjurou um javali! Feiticeiro maldito!”

Cavaleiro 2: “Lodiam foi morto por esse bicho do inferno! Vamos embora antes que nos transforme em algo terrível!”

Merlim: “Algar e Marion! Ataquem agora!”

Marion não pensa duas vezes, puxa a corda de seu arco, prende a respiração e acerta uma flecha por entre as costelas do arqueiro inimigo que passa correndo por ela. O homem tropeça e geme de dor, mas se levanta apavorado desaparecendo na mata deixando um rastro de sangue. O outro arqueiro tenta passar por Algar mas ele é muito rápido e com um giro do machado pesado decapita o homem. O corpo ainda corre alguns passos sem cabeça até desabar sem vida mais à frente.

O Javali continua a atacar Sir Cinnor, sujo do líquido amarelo, levantando o homem do chão com os dentes e o lançando por cima de seu corpo enorme. A fera está enlouquecida. O Cavaleiro cai com cortes nas mãos e parece ter perdido alguns dedos. O grande Javali ataca mais uma vez lhe ferindo o rosto.

Merlim: “Vamos embora, logo vai sobrar pra nós! Deixem as coisas aí, peguem os cavalos. Eu sabia que o estrato de javali fêmea no cio um dia me serviria de alguma coisa.”

Os heróis e seus escudeiros montam rápido e se embreiam na mata. Depois de se afastarem e ouvirem os gritos terríveis do cavaleiro sendo atacado ficar cada vez mais baixo eles escutam mais sons no meio do mato. Então eles seguem em frente saindo na margem do Rio, em frente à uma ponte.

Dois arqueiros estão do outro lado na direção de Donchester. Um deles cambaleia com o ventre aberto e Grievous, com a sua grande juba, salta em cima dele o devorando sem piedade. O outro homem tremendo, tira uma flecha de sua alijava, olhando para Sir Enrick encaixando o projétil e preparando para alvejá-lo. O Flecha Ligeira mostra porque ganhou esses apelido dos saxões. Em um piscar de olhos ele saca uma flecha e dispara antes de seu inimigo. O tiro é certeiro e entra no olho direito do homem que morre instantaneamente.

Então eles atravessam a ponte de pedra e seguem em direção à Donchester. O Leão deixa o cadáver do homem para trás e os segue com a cara cheia de sangue pedindo carinho à Sir Enrick.

Merlim: “Igraine está colocando suas manguinhas de fora novamente! Vai pensar duas vezes antes de nos incomodar novamente.”

Donchester:

Depois de algum tempo uma praia de cascalhos surge à frente. Ao fundo um braço de mar. Do outro lado, à margem da água azul escura, a cidade portuária de Donchester sobe o céu cinza e o calor que abafa a ilha nessa época do ano. Seus estandartes Romanos tremulam no alto da muralha em V que se abre para o mar. O porto não está muito movimentado. Poucos barcos estão atracados.

Merlim: “Já existiram melhores dias nesta cidade. Vamos!”

Eles contornam o braço de mar com os cavalos pisando no cascalho até que chegam nos portões. É meio dia. Dois centuriões com armaduras enferrujadas e lanças desgastadas se colocam cada um de um lado do portão.

Centurião: “O que querem em Dorchester Cavaleiros?”

Barão Algar: “Estamos de partida para a Terra dos Francos. Meu barco Fúria de Njord está atracado aqui.”

Centurião: “Está certo! Não são permitidos cavalos, muito menos um leão. Se forem viajar com o animal terão que pegá-lo com o barco na margem fora da cidade senhor. As montarias deverão ser deixadas na estrebaria da cidade. A taxa de entrada são dez dinares para cada um.”

Lady Marion: “Syan, fique com Grievous na margem do lado de fora ao sul. Pegaremos vocês lá.”

Logo que eles entram pelos portões vêem a cidade com poucas pessoas. A maioria são mendigos bêbados e pedintes com crianças de colo. Eles estão muito magros, todos sujos, com as roupas esfarrapadas e pés no chão. Gangues de crianças andam para cima e para baixo nas ruas de casas romanas todas quebradas e remendadas com barro. As tavernas parecem abandonadas enquanto cachorros e gatos andam pelas ruas. Eles notam que existem poucos soldados, não viram mais que cinco andando com armaduras e armas enferrujadas.

Logo que chegam na praça central um bando de mendigos os cercam com as mãos para cima. São mais de vinte ao redor deles. Todos pedem ao mesmo tempo. Os cavalos ficam presos sem ter como ir para frente ou para trás. Marion vê um menino tentando roubar a sua adaga, mas ela segura o pulso do rapaz e a toma de volta. Ao mesmo tempo um velho mendigo se esgueira e rouba a algibeira com a última prata que sobrou do tesouro do Barão. Algar lhe aplica um soco tão forte que o homem cai semi morto na calçada. Uma mulher pega um dos martelos de guerra de Sir Enrick, o flash, e corre. O Cavaleiro abre caminho em meio a pequena multidão e usa o peito de Hefesto, seu cavalo de batalha, derrubando-a. Oswalt desce e pega o martelo da mulher e entrega para o seu irmão. Então Merlim levanta o seu cajado e grita.

Merlim: “Parem seus tolos! Tenham dignidade! Roubar não lhes ajudará!”

Mendigo: “Mas estamos famintos Druida!”

Merlim: “Eu sei disso. Todos sabemos. Façamos assim, sigam a estrada real e logo depois da ponte encontrarão um cavalo que poderão vender, provavelmente um javali que poderão caçar e um cavaleiro que poderão ajudar. Existe um pavilhão do nosso querido Barão que foi deixado lá. Por favor tragam para Dorchester. O nosso herói precisa dele para defender a Britânia e o deixem aos cuidados dos cavalariços da estrebaria. Se o homem estiver vivo o ajudem, mas poderão ficar com o que ele tiver de valor. Se estiver morto, bem vocês sabem. Mas dividam ou o Merlim da Bretanha saberá pelos poderes misticos quem não me obedeceram e serão transformados em sapos e condenados a viver nos pântanos comendo moscas.”

Os mendigos se encolhem de medo. O Druida passa o cajado por cima da cabeça deles.

Merlim: “Está lançado o feitiço! Podem ir! Que a Deusa os protejam.”

E os mendigos saem agradecendo com a cabeça baixa em direção ao portão da cidade e elaborando um plano para conseguir fazer o que Merlim os ordenou enquanto o Druida dá uma piscadela para os heróis.

Merlim: “Ah, ali estão as estrebarias.”

Uma construção de paredes brancas retangular que deve ter capacidade para cem cavalos ergue-se à direita. Logo um rapaz, vestindo sandálias e uma túnica romana, pega os seus cavalos e os leva para dentro da estrabaria.

Cavalariço: “Senhor são 10 dinares por cavalo por semana senhor. São os 4 cavalos de batalha, os 2 de carga, e os 3 dos escudeiros. Total de 90 dinares.”

Barão Algar: “Está certo! Que droga!”

Atravessando o Canal:

Seguindo as indicações das placas de madeira em forma de escudos pendentes das casas eles chegam a pé no porto da cidade. O oficial, usando uma capa preta desbotada e com a armadura enferrujada, se aproxima com mais dois guardas.

Oficial: “Senhores! O que desejam?”

Barão Algar: “Meu barco é aquele ali. Estamos de partida para o outro lado do canal.”

Oficial: “Está certo, os senhores precisam pagar as taxas portuárias. A chegada e partida de nossos portos custam uma libra.”

Barão Algar: “De novo! Romanos sangue sugas. Tome aqui essa maldita libra.”

O grupo chega no porto de madeira e o barco Fúria de Njord, do Barão Algar, está atracado. A tripulação está preparando o navio. Eles prestam reverência quando os heróis se aproximam.

Dwyfor: “Barão, é uma honra Senhor. Estamos prontos para zarpar. Os ventos estão favoráveis, acredito que amanhã chegaremos na Terra dos Francos. Podem subir a bordo.”

Então todos os homens se posicionam nos remos. Dois marujos, um na proa e outro na poupa da embarcação retiram as cordas que prendem a embarcação. Todos os marujos retiram as suas armaduras de couro, suas cotas de malha e elmos e os deixam debaixo do banco junto com as suas armas.

Dwyfor: “O comando é seu Barão!”

Barão Algar: “Atenção homens! Preparar remos. Só o lado direito. Manobrem!”

Usando a correnteza a seu favor o Fúria de Njord começa a se deslocar por entre o braço de mar de águas calmas.

Barão Algar: “Remos esquerdos e direitos na água! Remem! Remem! Remem!”

Lentamente o Fúria de Njord manobra e vira a proa deslizando para a margem fora da cidade. Syan espera com o Leão. Os homens colocam os seus escudos pendurados na murada enquanto os dois saltam para dentro da embarcação. Então Algar vira o leme para a direita e o Fúria de Njord responde virando a proa para o sul. A água passando pelo casco raiado estabiliza o navio pegando velocidade nas marolas do braço de mar. Logo à frente surge a arrebentação e depois o grande mar aberto e escuro da costa Britânica. Grievous percebendo a presença de água começa a tremer e se encolhe embaixo de um dos bancos do barco escondendo a cara por entre as patas.

As ondas mexidas do canal balançam o barco que salta na espuma da arrebentação enquanto as gaivotas voam no alto. Algar puxa o leme um pouco pra a esquerda e o Fúria de Njord responde prontamente encarando as ondas de frente. Logo a costa vai ficando para trás enquanto em mar aberto, no dia quente, as formações de nuvens pesadas se aglomeram. Ondas altas como colinas de água levam o barco hora para cima, hora para baixo. A carranca de lobo é colocada na proa por Caulas. Algar olha o vento e a correnteza.

Barão Algar: “Abrir vela!”

Então a grande vela com o brasão de Algar, vermelho e azul com o martelo no centro, se enche de ar e o barco corre riscando o mar como o filho do vento. Algar olha para o sol e faz as correções da rota manobrando o leme. Logo eles só vêem água ao redor e rumam em direção ao sul com um bom vento.

Oswalt: “Irmão! Você já esteve na terra dos francos, não é? E como foi?”

Sir Enrick: “Foi aqui que Algar me salvou de ser morto ao pé de uma escada invadindo a cidade de Bayeux. Era um escudeiro, novo, recém saído do mato.”

Caulas: “É lá que o Tio mandou aqueles padres falarem direto com o seu deus!”

Algar fala da polpa do barco apoiado no grande leme do barco.

Barão Algar: “Tem coisas que temos que fazer na guerra que não podemos nos orgulhar mas que tem que ser feitas rapaz.”

Syan: “Milaidie! É verdade que os Druidas daqui são muito poderosos?”

Lady Marion: “Sim e generosos! São grandes discípulos da Deusa.”

Merlim: “E sábios não é Marion? A magia existe na Terra dos Francos tal qual na Britânia e tão poderosa quanto.”

Eles comem queijo com um pouco de pão preto e alguns goles de hidromel enquanto as estrelas surgem no céu. O sol se pondo à esquerda ilumina de dourado as nuvens pesadas da chuva que formam uma cortina de água no horizonte formando um arco-íris. Um grande cardume de peixes pula à frente do barco como se tivesse fugindo de algo.

Syan: “Estranho!”

Então sem ninguém esperar o Barco sacode de um lado para o outro. Eles sentem uma leve pancada sobe os seus pés, depois uma mais forte e uma terceira que os arrancam dos bancos. Marion rola pelo convés e bate com as suas costas na borda do navio. Enrick e Algar caem mas não se machucam. O Fúria de Njord é levantado por uma onda alta e se posiciona de lado. Isso faz com que o o barco comece a girar sem controle. Então o Navio levanta quase que inteiro da água, estala com as suas armações de madeira cedendo sobe seu próprio peso. Então, como algo que estivesse embaixo do casco sumisse, ele bate mais uma vez na água, jogando Caulas contra a borda, o fazendo dar uma cambalhota e o atirando para fora no mar. Eles ouvem o som do corpo do escudeiro batendo na água.

Dwyfor: “Homem ao mar! Homem ao mar!”

O garoto por vezes desaparece por entre as ondas por hora se afasta e outras vezes a onda o empurra para mais perto. O barco flutua novamente por entre as colinas de água.

Algar não pensa duas vezes, olha para o mar escuro e iluminado pela fraca lanterna penduradas no convés se atira no mar e nada em direção ao escudeiro. Caulas desesperado se agarra no Barão o empurrando para baixo. Mas Algar corajosamente agarra o rapaz pelo cabelo e nada com a outra mão até o Fúria. Seus amigos os ajudam a retornar ao convés. Seguro novamente Caulas encharcado treme assustado e tosse sem parar.

Caulas: “Obrigado Tio! Graças a Deusa!”

Merlim retira um frasco e dá para o rapaz beber. Ele fica com os olhos vidrados em choque pela proximidade da morte.

Merlim: “Tome! Isso irá lhe ajudar rapaz.”

Então tudo volta a se acalmar. Grievous continua escondido embaixo de um dos bancos tremendo. Ao lado do barco eles vêem as costas negras de um grande animal marinho, um forte esguicho de água salgada sai de suas costas. A criatura é tão longa quanto a muralha de um castelo e ela submerge levantando a cauda, do tamanho de um cavalo, sumindo nas águas profundas do mar.

Dwyfor: “Maldita criatura! Limpando o costado no fundo de nosso barco!”

Merlim: “Elas são muito parecidas conosco.”

Barão Algar: “Como assim?”

Merlim: “Cuidam dos filhotes como nós.”

Algar só dá de ombros não entendendo muito bem as palavras do Arquidruida. O dia passa, anoitece e cai a madrugada. E apesar do incidente, embalado pela vela, o navio segue em frente. Os homens bebem um pouco de hidromel e dormem por entre os bancos com os remos recolhidos.

Dwyfor: “Vá dormir um pouco barão! Estamos em segurança. A tempestade parece ter desviado para o continente. Eu assumo daqui em diante.”

A madrugada passa tranquila com o céu estrelado refletindo nas colinas de água negra. Nas primeiras luzes da manhã os heróis são acordados com o grito de um dos remadores da proa: “Terra dos Francos.”

Dwyfor: “O leme é seu Barão! Foi uma noite tranquila. Caulas já está melhor.”

O Fúria de Njord vai movendo a sua proa em direção a praia com Algar levando o leme para a esquerda fazendo com que o barco siga a favor da arrebentação.

Barão Algar: “Atenção homens! Recolher vela! Remos! Todos juntos!”

Surfando e descendo as ondas cortando a água azul marinha quase negra em meio a espuma a embarcação segue até o raso. O enorme paredão da Falésia se ergue à diante. A praia de cascalho, antes dela, vai ficando mais próxima até que o Fúria de Njord encalha à dez metros da terra. Merlim vai pegando seus baús, pendurando no pescoço, suas algibeiras de couro cheias de frascos e com a ajuda de seu cajado desce com a água salgada e as pequenas ondas quebrando na altura de seu joelho.

Merlim: “Terra dos Francos! Lugar de mulheres belas, homens não tão homens e vinhos doces como a boca de uma fada... Ah bem, lá vem eles.”

Então um grupo de cavaleiros, seis deles, surgem descendo a encosta mais baixa da falésia, montando cavalos negros e carregando estandartes coloridos. As montarias vêem arrancando tufos de areia e cascalhos. O líder, o cavaleiro mais velho, com barbas ruivas e cabelos longos até abaixo da cintura, com uma cicatriz vertical em um dos olhos, carrega no braço esquerdo o escudo em formato de ogiva azul com a flor de liz dourada. Todos eles tem cruzes de prata penduradas no pescoço. Os cavalos entram no mar com água até a metade das patas e os homens retiram as suas espadas das bainhas.

Rei Clovis I: “Qui êtes-vous Chevaliers?”

Lady Marion, criada e treinada na frança, traduz tudo para Sir Enrick e o Barão Algar.

Sir Enrick: “Como posso ter medo de alguém que fala uma língua assim?”

Lady Marion: “Quieto Enrick! Ele disse: Quem são vocês Cavaleiros?”

Merlim: “Nous sommes brittanique mounsieur. Mon nom est Merlim et ce sont les héros de ma terre et vous?”

Lady Marion: “Merlim respondeu para eles: Nós somos Britânicos meu Senhor. Meu nome é Merlim e estes são os heróis de minha terra.”

Rei Clovis I: “Je suis le roi Clovis Premier du maison mérovingienne!”

Barão Algar: “Merovíngio! Eu entendi! Ããã, Mounsieur.”

Sir Enrick: “Eu também! Merovíngio.”

Lady Marion: “Calados! O homem disse ser O Rei Clóvis I da Casa Merovíngia.”

Merlim: “C'est un honneur de vous rencontrer majesté.”

Lady Marion: “Merlim disse que é uma honra o encontrar.”

Então Merlim e o Rei Clóvis I não se aguentam e começam a rir.

Rei Clovis I: “Bienvenue à la Gaule vieil ami! Permettez-moi de vous aider.”

Lady Marion: “Parecem ser velhos amigos. O Rei disse: Bem vindo a gália velho amigo. Permita-me lhe ajudar.”

Sir Enrick: “Aí tem coisa!”

Então, no próprio Cavalo do primeiro Rei Merovíngio Clóvis, Merlim sobe na garupa.

Merlim: “Obrigado meus amigos! Nos vemos em um, ou cinco ou dez anos! Ahahahah! No dia que todos os tesouros da Britânia estiverem reunidos novamente. E esse é um fardo que terão de carregar sozinhos. Surgirá uma força na Britânia e ela mudará tudo. Então, Au revoir! Vejo vocês novamente quando a bigorna golpear o martelo.”

Lady Marion: “Au revoir!”

Então os cavaleiros partem subindo a falésia e desaparecem.

Sir Enrick: “Como assim? Não vão nos convidar nem para secar os pés? Odeio esse velho.”

Caulas: “Quem era tio?”

Barão Algar: “É o Rei de tudo isso aqui sobrinho. O primeiro Rei Franco cristão.”

Então eles esperam a subida da maré até que o Fúria de Njord flutue. A tripulação desce do barco e o empurra. Logo o barco se lança a alto mar novamente. Perto do meio dia eles seguem para o norte de volta à Britânia. O barco navega o dia inteiro em mar tranquilo. Logo a noite cai e vai escurecendo. Pequenos relâmpagos são visto no oeste como na noite anterior. O vento sopra desta direção. As ondas começam a crescer e o vento a aumentar de força. As horas passam e os relâmpagos parecem mais próximos e a temperatura vai caindo rapidamente.

Dwyfor olhando para cima: “Parece que teremos chuva senhor.”

Barão Algar: “Todo cuidado é pouco.”

Passa pelo menos uma hora e então a chuva começa a cair e os trovões cortam o céu iluminando a noite. Primeiro uma chuva fina que depois se transforma em uma tormenta de verão. A visibilidade é pequena. Algar tenta enxergar por entre a escuridão e a água grossa que cai. Todos estão encharcados. O mar joga o barco hora pra cima hora para baixo. Através do trovões e dos sons do vento Marion parece ter ouvido tambores de guerra ressoando. Os olhos da guerreira buscam por entre a chuva e a água do mar que quebra forte contra o costado do Fúria. Então ela vê por entre as colinas de água uma lanterna na proa de um navio iluminando uma carranca demoníaca. E o barco some atrás de uma onda que se ergue.

Lady Marion: “Olhem! Um barco!”

Todos olham e não enxergam nada até que o mar se ergue novamente e vindo do norte à direita do Fúria de Njord surge um navio menor, cruzando rápido o mar.

Sir Enrick: “Piratas saxões!”

Remador: “Contei pelo menos quarenta remos!”

Quando os raios cortam o céu iluminando a chuva e as nuvens baixas pode se ver os elmos pontudos e a bandeira de um grande javali, Ing, o deus saxão dos mares.

Dwyfor: “Precisamos fugir Barão! Nós temos a vantagem do número maior de remos e eles a do peso menor. Atenção Homens! Armaduras, escudos e armas à mão.”

Todos começam a vestir suas cotas de malha e armaduras de couro. Colocam os seus elmos. Algar faz o mesmo e retorna rapidamente para o leme.

Barão Algar: “Remos e vela a toda velocidade!”

O Fúria de Njord manobra buscando a proteção por entre as ondas e surfando, mantendo o barco inimigo longe. As horas vão passando e a perseguição continua. Na proa do outro barco um saxão loiro usando um bonito elmo prata e dourado gesticula e incentiva os seus homens.

Então o saxão olha para trás e balança a cabeça afirmativamente. Parece ter dado uma ordem. Os raios caem no mar iluminando o horizonte. Os heróis escutam, trazido pelo vento, o grito de Wotan! Wotan! Wotan! A vela branca e vermelha com o javali desenhado está cheia de vento e derrepente outra menor por baixo da principal se infla. Os saxões cantam enquanto o Drakkar pega muita velocidade e se aproxima. Eles podem ver os bárbaros com os seus machados, espadas e cotas de malha. Eles xingam, riem e cospem enquanto os barcos se emparelham subindo e descendo ondas altas. Os saxões giram os ganchos de abordagem se preparando para atirá-los.

Dwyfor: “Atenção homens preparar para o combate! Apresentar armas! Seremos abordados.”

Os ganchos voam até a murada. Muitos deles se engancham arrancando lascas de madeira. Um dos marinheiros do Fúria de Njord é atingido nas costas por um dele e é puxado para o mar. Os dois navios se aproximam e se chocam quebrando os remos e fazendo o leme do barco de Algar saltar e cair no mar. O homem que estava preso ao gancho gritando na água com o ombro transpassado é esmagado pelo choque entre os dois navios. Alguns homens de ambos os barcos caem desaparecendo na água negra no meio da tormenta. Com o impacto Sir Enrick se agarra no mastro principal e Marion nos braços de seu marido. Algar não tem a mesma sorte e é atirado, com o solavanco, para fora do seu barco.

Os saxões pulam para o convés como um enxame. Um marujo é estripado com um sax (espada curta saxônica), em um corte em meia lua, colocando seus intestinos para fora. Uma cabeça, não se sabe se bárbara ou celta, voa e cai na água. O comandante saxão fica no barco observando tudo.

Seis guerreiros inimigos saltam para dentro do Fúria golpeando Sir Enrick e Marion com a bossa do escudo tentando desequilibrá-los por entre os bancos. Existe pouco espaço para combater no barco lotado de inimigos. Com as ondas fica impossível ficar de pé. Sir Enrick cai por entre os bancos mesmo assim conseguido golpear os joelhos do saxão que cai prostrado com uma fratura exposta aos berros. O outro à sua frente ergue e desce o machado com ódio. O golpe acerta a armadura do Cavaleiro que ergue o punho para se proteger.

Marion tenta apunhalar duas vezes um saxão mas ele desvia e com uma lança a acerta abrindo caminho em sua cota de malha e causando uma sensação de queimadura enquanto a ponta de aço rasga a carne da guerreira. Mais um golpe de um inimigo vindo da sua direita com um martelo de guerra tenta a acertar mas Marion dá um passo para o lado, rápida como um felino, e o martelo despedaça um dos bancos.

Algar sente seu corpo bater na água do mar. Usando armadura e cota de malha ele afunda rápido como uma pedra. Desesperadamente ele tenta nadar mas é impossível. O peso é enorme. Submerso ele não enxerga nada debaixo da água, com os pulmões sem ar, em total desespero. Em um último momento iluminado pelo clarão de um raio ele vê várias cordas presas ao seu barco que arrebentaram. Os ganchos de abordagem lançados pelo inimigo. Afundando ele passa por um deles e o agarra.

A luta continua sangrenta no convés. A tripulação Celta reage, mas os saxões parecem estar por todos os lados. Sir Enrick não consegue se levantar com o barco saltando nas ondas. Mas seu inimigo na hora de desferir um golpe com o machado também cai quando o Cavaleiro lhe aplica uma chave com as pernas. Enrick salta no peito do homem e martela as suas mãos que tentam proteger o rosto enquanto são quebradas e depois a sua cabeça que do lado direito inteiro é só uma massa de miolos e sangue.

Marion, atira sua boleadeira que se enrola no pescoço do lanceiro saxão e a bola de pedra bate com toda força o cegando do lado esquerdo e fazendo o seu olho vazar. O homem se curva gritando de dor enquanto a guerreira o degola.

O Barão Algar se agarra na corda presa ao seu barco. Ele é arrastado, enquanto enche seus pulmões de ar.

Enrick salta sobre um banco e golpeia o saxão com o martelo de batalha que tentava matar Marion. Sir Enrick, com o seu martelo menor, golpeia nas mãos do bárbaro que deixa cair sua arma e o empurra com o escudo redondo para fora da murada. O corpo do homem dá uma cambalhota pela borda do barco e some no mar escuro. Os navios enganchados giram enquanto são empurrados para o leste. Alguns homens caem quando as ondas grandes, formadas pelo vento que sopra forte, sacode a embarcação. A tempestade fica tão forte que os navios começam a girar cada vez mais rápidos até que as cordas se arrebentam. No escuro e em meio a chuva grossa e o mar alto que quebra contra o costado é difícil enxergar muita coisa. Mais muitos saxões tentam pular de volta para o seu barco. Mas de um terço deles caem na água com o balanço dos barcos sumindo nas ondas escuras de quatro metros. Poucos piratas ficam no convés do Fúria de Njord.

Dwyfor: “Matem todos!”

Então a vela se enche de vento e impulsiona o Fúria que surfa nas ondas agora com mais de seis metros de altura. Uma rajada forte atinge o mastro que se quebra e voa com a vela sumindo na escuridão. Caulas e Syan atacam dois saxões. Oswalt com um hematoma na maçã do rosto luta com um pirata bem maior que ele. Dwyfor usando dois machados pequenos arremessa um deles matando o que lutava com Oswalt, o escudeiro então se esgueira pelas costas de dois inimigos que lutam com os seus companheiros, retira a sua adaga e mata os homens, um com a espada que sai pela barriga em uma mistura de merda e sangue o outro degolado quando o irmão de Sir Enrick o imobiliza pelas costas jogando o corpo do homem no mar. O barco inimigo passa por eles em sentido contrário. O comandante saxão bate no peito em sinal de cumprimento e eles somem por entre as altas ondas na escuridão.

Logo os saxões, deixados para trás no convés, são mortos e jogados no mar. O Fúria de Njord está recheado de cadáveres boiando na água do mar que entra com o estouro das ondas grandes. O cheiro de sangue e bosta enjoa a todos e os gritos de homens na água são ouvidos por todos os lados. Logo o som vai diminuindo até que só fica o som da chuva. Sir Enrick e Marion procuram Algar no convés e não o acham.

Barão Algar: “Me ajudem! Aqui no mar seus minhocas!”

Todos se apoiam na murada e começam a rir. Então os escudeiros puxam o Barão para o deck do Fúria novamente.

Barão Algar: “Essa foi por pouco!”

Dwyfor: “Bárbaros desgraçados! Perdemos quase todos os remos. Só cinco deles estão intactos e não nos servirão de nada. Estamos a deriva sem vela e leme e perdemos treze homens. Eram fiéis. Nem sei como contarei as suas esposas. Agora temos dez homens mais nós. Somos dezessete almas atravessando essa tormenta de verão! Manannan (Deus dos mares Celtas) nos proteja.”

O Fúria de Njord empurrado pela chuva e o vento faz com que os heróis percam a noção de direção. A madrugada passa com o barco a deriva surfando as ondas, que como montanhas de água, os levam hora para baixo hora para cima. Todos estão nauseados. Ao amanhecer a tormenta diminui. As ondas ficam mais baixas mas nada de avistarem a costa Britânica. O destino é incerto...

Continua...