quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Aventura: 31 Londres Sitiada, Ano 504-505



Após o cerco de Oxford o ano de 503 é um golpe de brisa fresca para os Celtas. A batalha de Winterbourne Gunnet, travada ano passado enfraquecendo o inimigo, o sequestro do filho do Rei saxão Cerdic e a resistência celta fizeram com que as mortes pela peste e a fome diminuíssem bastante no último inverno. As fronteiras se moveram para o leste. Só um Rei saxão enviou seus emissários: Aescwine. Ele enviou três representantes. Na primeira vez o seu filho mais novo. Todos foram sistematicamente assassinados cada vez que adentravam o Reino de Logres. Existem boatos que foi o Bando Branco e outros dizendo ter sido a Resistência Celta. 

Oxford passou para as mãos de Lady Marion, agora também senhora de Tishea, já que Dylan ainda permanece incapaz de governar aquelas terras. Sir Enrick se estabelece permanecendo como Marshall, provando que é capaz de defender Salisbury. O Cavaleiro, agora, é o senhor de Silchester na fronteira oeste do Condado. Apesar de que se espalham rumores por todos os lados de sua origem meio saxônica. É também iniciada a reconstrução de Winterbourne Gunnet depois da Batalha.

Fazem 3 meses que acabou o cerco contra a cidade de Oxford. Sir Enrick e Lady Marion jantam no salão quando a guerreira sente uma dor aguda e uma água quente começa a descer por suas pernas. O parto ocorre com grandes dificuldades e leva mais de cinco horas. Marion perde a consciência muitas vezes. Infelizmente o bebê nasce morto. É um dia triste em Dinton. Sir Enrick enterra o pequeno recém nascido, um menino... 

Em Silchester, os moradores, a maioria romanos, parecem indiferentes à presença do Marshall, Sir Enrick Stanpid. O lugar não sofreu com fome e doenças. Porque o antigo Duque tinha se aliado ao Rei saxão Ælle desde o início da morte de Uther. Na cerimônia de investidura dessas terras, no palácio Romano de Silchester, compareceram somente quatorze senhores dos quarenta e oito que compõe o Ducado Romano. O Marshall de Logres cede um terço de Silchester ao Rei Ælle como pagamento pela aliança que garantiu a vitória em Winterbourne Gunnet. Com isso explodem algumas revoltas em algumas vilas que ficaram no novo território do Rei Saxão. Sir Enrick deixa Ælle conter essas rebeliões, já que agora é território de Sussex. Então, os Lordes de Silchester que não prestaram juramento ao Marshall são expulsos de suas terras que são cedidas imediatamente aos meio irmãos de Sir Enrick: Filho de Ælle de Sussex.

Já em Oxford ninguém deseja habitar a cidade depois do ataque desencadeado pela chave de Salomão e o massacre por seres demoníacos. Então a Senhora de Tishea implanta um centro de estudos em Oxford, inicia a construção de uma catedral e convoca os comuns a ajudarem. Com o passar dos meses os aldeões voltam a povoar as vilas próximas e a buscarem proteção dentro das muralhas da cidade.

Ano 504:

Então vêem a primavera do ano 504, as flores se abrem e as colinas ficam verdes novamente. A lavoura começa a ser preparada para o cultivo. 

Na cidade de Sarum. Após muito tempo sem cavaleiros serem investidos, a Condessa Ellen determinou que os escudeiros dos heróis fossem ordenados. No salão do castelo, Lady Marion, Sir Enrick  Sir Dalan, e os escudeiros Caulas e Oswalt estão fazendo os últimos preparativos para a cerimônia de investidura. Os dois garotos acabaram de chegar da vigília feita em Stone Range. 

Oswalt: “Que nervoso irmão! Um cagaço equivalente ao estar em uma parede de escudos. Finalmente chegou o grande dia!”

Dalan vai até o seu filho e o ajuda prendendo a sua capa com dois broches de prata no formato de uma águia de asas abertas, símbolo da sua casa. 

Oswalt: “Caulas, agora você é da família. Tem que cuidar direito de Gwinith. Nossa irmãzinha mais nova é nosso maior tesouro, agora você é um homem casado. Mas... que os deuses te protejam cunhado. Ela é osso duro de roer!”

Caulas: “É verdade! Vou tentar amigo. Com uma família assim, quem precisa de inimigo?”

Então as portas do salão do velho castelo se abrem e o Padre Pertoines, com o seu hábito marrom lhe cobrindo o pescoço e pulsos, chega.

Padre Pertoines: “Estão prontos?” 

Os heróis montam em seus Cavalos e os escudeiros seguem atrás caminhando. Pertoines Pendragon e o Druida Mylor, convidado pelo padre para participar da ordenação, seguem a pé com os seus capuzes lhes cobrindo a cabeça. O druida todo de branco e o monge de marrom. As ruas repletas de barro, já que todo o calçamento de pedra se quebrou com o tempo, e ninguém deteve o conhecimento de como fazê-lo depois dos Romanos, conta com a presença dos aldeões dos feudos de Salisbury e alguns nobres e suas famílias. Nada comparado a multidão que se acotovelava nas ruas nesses tipo de evento há dez anos. O casamento de Sir Enrick e Marion é lembrado como o último grande acontecimento em Sarum da era de Uther.

Mas, as seiscentas pessoas que estão nas ruas, mesmo esfarrapadas e sujas de barros, quando os vêem, começam a gritar e lhes aplaudir. Elas jogam flores no caminho por onde passam, sorriem e erguem as mãos tentando os alcançar. Enquanto a guarda da cidade os contém. Do alto dos cavalos os heróis podem ver as crianças nos ombros dos pais lhes acenando com lenços na cor de seus brasões. Meninas com pequenos braceletes e arcos de brinquedo imitam Lady Marion. Alguns erguem os bebês para serem tocados. 

Então eles atravessam a cidade descendo a ladeira do castelo, passam pelo quarteirão da Abadia branca. Pela primeira vez em sete anos eles percebem que não existem cadáveres nas ruas. O cheiro de carne assada e música vinda do mercado anuncia que a Condessa Ellen oferecerá uma festa também para os comuns. Então eles chegam na frente da grande catedral de Santa Maria. Primeiro entram os sacerdotes pagão e cristão. Depois os heróis e por último Caulas e Oswalt. Lá dentro Sir Bag, Sir Léo, Sir Berethor, sem poder caminhar carregado em uma liteira, Sir Warren, Arina, Sir Bruce, Sir Galardoum e Sir Dylan já estão sentados. A família de Sir Enrick está presente e Gondrik Stanpid, bem velhinho, está com eles. Todos os filhos de Dalan e suas três esposas estão presentes. Uma está sentada ao lado da outra conversando animadamente. Eles notam que todos já estão com os cabelos ficando grisalhos. Mared, a esposa de Sir Bag, está sentada com um nênem no colo. Ele aponta e mostra os dois polegares para seus amigos. Breno, filho de Oswalt, com seis anos corre, por entre os bancos. Eles notam que Sir Warren está bem velhinho, com mais de setenta verões, ele parece estar acometido de uma tremedeira constante por todo o corpo. Sir Dylan está sentado, vestido como cavaleiro, mas parece sempre olhar para o mesmo lugar. Fica prestando atenção nos vitrais, observa as velas. Não sorri, não chora... Não demonstra emoção nenhuma. O rapaz Thurman, que era o seu escudeiro, cuida dele o tempo inteiro. 

Pertoines: “Nobres de Logres! É com muita alegria que posso me dirigir perante aos senhores. Que melhor hora, quando dá investidura desses rapazes. Bispo Roger, infelizmente, nos deixou recentemente. Graças a Deus teve uma boa morte sem sofrimento. Dormiu e não acordou mais. Que ele esteja agora diante do Pai e da Mãe. Pois bem, faz algum tempo que um Pendragon não fala aos homens dessa ilha que meu pai tanto amava. Peço a Lady Marion, agora senhora de Oxford, para que agora sim, eu possa dar início ao centro de estudos naquelas terras e realizar o legado que meu pai, Rei Uther Pendragon, deixou para que eu cumprisse.” 

Lady Marion faz uma vênia em direção ao Padre.

Pertoines: “Como o Grande Rei Uther sempre viveu tentando reunir o seu povo que cultuava tanto os Deuses antigos quanto o Novo, decidi, em memória de meu pai, que o Druida Mylor, sacerdote da antiga religião que vive em Tishea, estivesse conosco, essa manhã.”

Mylor: “Por isso, eu e o Pertoines queremos representar uma nova tradição. Na verdade reviver uma antiga. Os garotos fizeram a sua vigília no círculo sagrado e serão investidos e armados aqui na Catedral de Santa Maria. Isso os tornam Cavaleiros sobe os olhos das novas e antigas crenças. Sobe os olhos do Pai e da Mãe. E digo que não se sagrarão Cavaleiros pagãos ou cristãos. Esses homens serão armados Cavaleiros Britânicos!”

Pertoines: “Carmelo, por favor, a Ferrão de Prata.”

Chama a atenção o som de cavalos chegando e quatro vultos entrarem lá atrás e sentarem nos bancos do fundo. 

Mylor: “Gostaria de chamar o Marshall e Lady Marion para dizer algumas palavras e conduzirem a cerimônia.”

Sir Enrick: “Que seja conhecido por todos os homens que eu, Sir Enrick de Tishea, para surgir pela virtude de sua honra, lealdade, valor e habilidade com armas para o mais alto ranking da cavalaria.”

Lady Marion: “Repita: Eu solenemente juro e rogo pela minha espada, defender a Condessa e obedecê-la até minha morte, bem como a honra da cavalaria e todos os homens investidos nela.”

Caulas e Oswalt repetem as palavras com cuidado.

Sir Enrick: “Não esqueçam que vocês estão ingressando em uma Ordem em que o sangue foi derramado por Logres e pelo nosso povo. Que sobrevive a cada dia. Esses companheiros de armas, que eram sobre tudo nossos amigos, tombaram cumprindo seu dever. Sir Amig, Barão Algar, Sir Allen, Sir Verius, o Príncipe Madoc, Sir Jakin, Rei Uther, Conde Roderick. Todos esses companheiros nunca deverão ser esquecidos. Que esse seja o último golpe que levará como um homem comum.”

Então Sir Enrick golpeia o rosto dos garotos com um tapa na face. Ele toca com a Ferrão de Prata no ombro de cada escudeiro. Então no altar estão as  esporas, o escudo, a espada e a armadura de cada um dos novos Cavaleiros. Um filho de Dalan que será escudeiro, e dois outros rapazes indicados por Ellen de nobres de Salisbury, se aproximam e vestem as armaduras em seus novos senhores. 

Lady Marion: “Recebam agora suas esporas. Receba seu escudo.”

Sir Enrick: “E receba sua espada para ao seu lado servir e defender. Levantem-se agora Cavaleiros da Britânia.”

Todos aplaudem empolgados.

Pertoines: “Foi um longo caminho Cavaleiros. Vocês arriscaram as suas vidas pelo Reino  e por seus antigos Senhores. Vivem na era mais negra da história de nossa terra. E agora tem uma responsabilidade maior. Tornar a ilha viva novamente e unir as duas religiões como fizeram os primeiros Cristãos de Glastonbury de José de Arimatéia e os Celtas antigos da ilha sagrada de Avalon. Agora gostaria que todos lembrassem agora de seus antigos companheiros que tombaram ao longo dos anos. Homens leais. Homens corajosos. Alguns estão sepultados aqui. Outros vivem em nossos corações. Outros nos visitam em nossos sonhos. Como dizia meu meio irmão, Madoc, mas uma vez esses salões ouvirão o lema que movia os homens que sempre nos defenderam: Força! Lealdade e Honra! ” 

BANQUETE DE COMEMORAÇÃO:

Então todos saem da igreja. Todos os aldeões aplaudem jogando pétalas de flores vermelhas representando o sangue derramado pelos cavaleiros em nome do seu povo. Chifres de hidromel circulam pelo povo que sorri e dança enquanto bardos tocam por todos os cantos da cidade. Carne assada de frango, porco e gado enchem a barriga dos famintos. Neste momento as ruas se enchem de aldeões. Na frente os novos Cavaleiros  seguem armados, ostentando os seus brasões e escudos com orgulho para se apresentarem como senhores para o seu povo. Então todo secto chega ao castelo. O salão da corte, mais uma vez, em quase dez anos está com música novamente. Todos vão entrando parabenizando os novos Cavaleiros. Existem nobres de outros feudos que só são conhecidos de vista. Devem ter umas 300 pessoas ali. Metade da capacidade do salão da corte.

Sir Warren (tremendo): “Pois é homens! Parece que para onde eu olhe eu vejo os fantasmas de Sir Amig contando uma piada. Do Rei Uther nos chamando para a guerra. De Madoc cheio de energia querendo ir atrás dos inimigos. Estão vendo. Poucos velho e crianças. Antes esse salão era cheio deles. Todos se foram pela peste e fome...”

Sir Enrick e Lady Marion sentam lá na frente, na mesa principal, junto com os novos Cavaleiros. O Druida Mylor, o Padre Pertoines e a Condessa Ellen também estão ali. Os pratos vão sendo servidos. Uma variedade maior desde que as coisas começaram a melhorar. Faisão, torta de passarinho, costela de javali ao h idromel, mingau de cevada, ensopado de coelho, truta assada e pernil de cordeiro, tudo isso regado a muita cerveja, vinho, sidra e hidromel. 

Então eles observam novamente aquela pessoas que chegaram atrasados na cerimônia entrarem no salão por entre os convidados. Agora estão sem os elmos conversando. Uma menininha de cabelos longos os acompanham. 

Arauto (bate com um bastão todo ornamentado no chão): “Atenção nobres, anuncio a chegada de Conde Robert de Sarum, Bernard Stanpid de Tishea, Ellen Stanpid de Tishea e Brian Herlews.”

Eles vão até à frente e se curvam. Bernard está com 15 verões. Ellen 8 primaveras. Brian  tem 13 verões e Robert 11. 

Bernard: “Meu Pai e Senhor! É bom estar de volta à Salisbury mais uma vez.”

Muitos se inclinam ao Conde Robert que fica envergonhado... 

Robert: “Não precisam...(coça a cabeça) Eu, eu agradeço a todos... Em nome de meu pai já falecido e de minha mãe.”

Então mancando um pouco ele se aproxima de sua mãe, Condessa Ellen e a abraça. Depois inclina a cabeça em direção aos Cavaleiros.

Ellen: “Pai e Mãe, que a deusa e o seu consorte estejam com vocês.”

Eles notam que Ellen parece madura para a sua idade e emana um ar místico e forte. Ela corre e dá um beijo em seu pai e sua mãe. Eles percebem que eles levam espadas de uma mão na cintura e logo os armeiros do castelo vem recolhê-las e pendurá-las com os seus escudos ao longo da parede junto aos dos outros convidados.

Brian: “Mãe!” 

Depois ele sorri e o seu rosto fez Marion e Enrick lembrarem de quando ele era pequeno e levado. Então ele se aproxima de sua mãe e a abraça e os dois choram sem parar.

Brian: “Estamos treinando padrinho! Espero um dia estar pronto para servir o reino junto com meus amigos.”

Sir Enrick: “Quero que sejam os melhores! Você sabe quem foi o seu pai. Não espero menos de você!”

Bernard: “Pai! A Senhora de Avalon nos deixou vir para a ordenação do Tio Oswalt. Nínive disse que era importante estarmos aqui.”

Então o banquete segue com os seus filhos contando a rotina de treinos intensos com a espada, escudos e lanças. As práticas arcanas da Deusa e as coisas estranhas que acontecem na ilha. Todos bebem e comem enquanto a música enche o salão. Muitos dançam animadamente. Então um cavaleiro romano entra pela porta usando uma cara armadura, capa vermelha e o elmo com um penacho da mesma cor. Dez centuriões os seguem. Uma ligeira discussão acontece lá na porta com os armeiros. Então o salão fica em silêncio com as vozes aumentando de tom.

Uffos: “Não deixaremos nossas armas porque não estamos aqui para beber e comemorar com vocês. Aliás não tenho motivo nenhum para isto. Meu pai está morto. Sou Uffos, filho do Duque Ulfius de Silchester e venho de Constantinopla onde servia o Imperador Anastasio  I clamar pela minha herança: As terras de meu pai.”

Sir Enrick: “O que está acontecendo? Não estou disposto a negociar as terras que me foram dadas pela Condessa para que pudéssemos proteger Logres.”  

Uffos: “Meu pai nunca ajoelhou-se perante à essa mulher. Sempre fomos civilizados diante de sua cultura primitiva e atrasada. Não permitirei que um filhote de saxão, que já soube, desrespeitou as poucas leis que sobraram nesse fim de mundo, distribuindo terras para o inimigo, fique com o que me pertence. Eu exijo um julgamento. Como herdeiro de um Duque e agora com o título de meu pai tenho autoridade para exigi-lo sobe pena de a senhora ser destituída de seus títulos pelo outros nobres da ilha se recusar a quebrar essa lei antiga. Nunca concordei com a aliança que meu pai fez com Ælle. ” 

Sir Enrick: “Onde quer chegar com isso?”

Uffos: “Duque Uffos senhor! Ou me destituíram do título também? Quero aplicar a lei mais antiga dessa ilha. O tribunal dos deuses. O julgamento pela espada. Se Sir Enrick perder as terras serão minhas e ele será preso como traidor. Como filho de um Rei inimigo, que na verdade quer destruir o pouco de civilidade que deixamos à vocês, eu o acuso Flecha Ligeira!” 

Sir Bag: “Oh, de vermelho! Você não pode participar do duelo idiota. Só um celta pode.”

Uffos: “Eu sei disso gordo! Por isso trouxe meu campeão! Senhores, vocês o conhecem!Por favor se aproxime.”

Então um Cavaleiro vestido com um manto lhe cobrindo a cabeça caminha até à frente onde estão. Ele parece mancar um pouco de uma perna. Então ele retira o capuz. A sua aparência é horrível e assustadora. O homem parece um monstro. Com a pele dilacerada. Com as gengivas mostrando seus dentes como uma caveira e seus olhos parecendo saltar das órbitas, somente com tufos de cabelos sebosos e sem alguns dedos ele mostra a língua rindo com os dentes amarelados.

Uffos: “Sobrevivente de um ataque de um javali! Deixado para trás por vocês e por Merlim para morrer na floresta. Alimentou-se de vermes e carcaças enquanto rastejava com as pernas quebradas e seu corpo rasgado e comido. Viveu na escuridão  de uma caverna com mais da metade do seu corpo destroçado. Sir Sulgen será o meu campeão!”

O homem emite um grunhido horrível.

Uffos: “Ele não pode falar. Perdeu a traqueia para os dentes de um Javali. Mas posso lhes assegurar. Ele lhes odeia mais que tudo. Gostaria de lhes lembrar que Sir Enrick, também não pode participar do duelo como eu. Ele é filho direto de sangue estrangeiro.”

Então enquanto os Cavaleiros da Cruz do Martelo se levantam para se voluntariarem uma  voz de garoto enche o salão.

Bernard: “Eu serei o campeão!” 

Todos suspiram assustados. quando Bernard, adolescente e com os primeiros fios de sua barba surgirem no rosto, se apresenta dando um passo à frente. Ele olha assustado para o homem que o encara nos olhos. O garoto parece tremer um pouco mas tenta se manter forte. Sir Sulgen dá um sorriso irônico e rouco para ele jogando a cabeça para trás de prazer.

Druida Mylor (aterrorizado): “Como a lei mais antiga determina. Uma vez declarado os campeões, os deuses põe os seus olhos sobre eles e nenhum dos dois poderão voltar atrás. Nada mais pode ser feito. Amanhã na alvorada, aos primeiro raios de sol, o julgamento pela espada será realizado e os Deuses determinarão quem terá razão.”

Condessa Ellen, pálida, joga seu corpo na cadeira, com os olhos arregalados, muito assustada. 

Sir Enrick: “Desgraçado! Se algo acontecer a meu filho vou marchar sobre Silchester e nenhum Romano viverá! Enforcarei cada um pessoalmente!”

Uffos: “Antes terão que passar pelo meu campeão!”

Condessa Ellen: “Que assim seja! Esse banquete está acabado.”

Uffos se retira do salão com o rosto cheio de orgulho e soberba.

NOITE DE ANSIEDADE: 

Todos se retiram para os seus pavilhões montados do lado de fora da cidade. Sarum está rodeada deles. A fogueira acesa no centro do acampamento da Ordem da Cruz do Martelo queima enquanto todos estão sentados em tocos de madeira.

Sir Bruce: “Devo admitir que tem que ter culhões pra fazer o que fez garoto!”

Brian: “Você é louco ou burro seu animal!”

Bernard, conformado, só ergue seus ombros concordando. 

Bernard: “Não sei o que me deu. Algum conselho pai?”

Sir Enrick: “Seja corajoso! Já que se ofereceu quero que lute e que lembre de tudo que aprendeu em Avalon. Seu coração deve ser forte." 

A noite passa com um clima pesado e lúgubre. Como se uma grande espada pendesse no alto da cabeça de todos. Bernard quase não comeu e nem falou nada. Só fica pensando e olhando para a fogueira. Todos vão dormir e Sir Enrick sonha com Hefesto o olhando do alto da Colina do Cavalo Branco. Sua mãe surge com um crucifixo de madeira no pescoço rezando ajoelhada em uma igreja de chão de terra. Um potrinho está caído no chão com o ventre aberto sendo bicado por uma águia enorme que se alimenta de sua carne em meio ao sangue fresco com cheiro ferroso. 

Pela manhã o pavilhão é aberto e Sir Bag surge com um olhar sério e preocupado. Por um momento parecia que Sir Amig ia aparecer para os acordar. 

Sir Bag: “Vamos! Levantem e preparem Bernard. Todos estão esperando no pátio do castelo.” 

Sir Caulas: “Senhora, vamos mandar arqueiros para o alto das muralhas caso o romano tente algo contra o garoto.”

Sir Enrick percebe Bernard tremendo enquanto o menino toca a fita que sua mãe lhe entregou quando se separaram em Hantonne. 

O DUELO: 

Bernard ata o cinto de sua espada à cintura e pega o escudo com o brasão de seu pai. Depois veste o elmo e caminha seguido pelos Cavaleiros da Cruz do Martelo e seus amigos. Sua irmã lhe dá um beijo e coloca um amuleto de proteção no pescoço de seu irmão. Os pavilhões ao redor da cidade estão vazios. A medida que caminham e atravessam o portão da Dama um bumbo solitário começa a soar. Dentro dos muros de Sarum os comuns parecem divididos. Alguns olham para baixo sem dizer nada. Outros falam palavras baixinho: “Que a deusa lhe proteja e lhe conceda a vitória ou uma morte boa: limpa e rápida.”

Um monge da abadia branca, que cuida da Catedral de Santa Maria, benze Bernard enquanto o garoto começa a subir a ladeira que leva a ponte levadiça do Castelo. Tudo está em silêncio. O brasão da Condessa tremula com uma leva brisa contra o céu azul no alto das torres. Quando ele entra no pátio existem muitas pessoas ali. Todos falam ao mesmo tempo quando o garoto surge e a multidão abre caminho. Ao redor do pátio, em cima da muralha, tudo está tomado por pessoas. 

Bernard vê toda aquela gente e enquanto passa por ela alguns sorriem com uma ar de lamento. Outros passam confiança. Outros riem com desdém. Ele escuta: “É tão jovem”, “Fácil como matar um coelho”, “Esse é realmente filho de um herói”

Quando chega na parte de areia e cascalho vazia o Druida Mylor está de pé ali no centro. Ele está com a cabeça coberta com o seu manto branco. O Padre Pertoines está ao seu lado. Os dois o acenam levemente com a cabeça. Condessa Ellen e Robert estão de pé próximos a grande porta do salão de audiência. Estão bastante angustiados. Robert fecha o punho, bate em seu coração e faz um gesto para que tenha força. 

Então o som de passos pesados na pedra chama a atenção de todos e de onde vieram  os Stanpides surge Duque Uffos em sua armadura romana seguido pelo horrendo Sir Sulgen. Ele passa por Bernard e escarra no chão. Os lanceiros do Duque o acompanham. Eles riem ironicamente. Do outro lado Sir Cinnor não tira os seus olhos amarelados de cima de Bernard.

Druida Mylor: “Nobres e povo de Salisbury. Estamos todos aqui como testemunhas. Sobe os olhos dos deuses novos e antigos para decidir a vitória e revelar a verdade. Sir Enrick está ciente de que se o seu... Campeão perder, perderá Silchester e o seu título de Marshall do condado? Se seu campeão for derrotado Sir Uffos, retirará as acusações e perderá Silchester para Sir Enrick.”

O Romano assente com a cabeça bem como Sir Enrick. 

Padre Pertoines: “O duelo deverá ser limpo. Sem armas sagradas. Que Deus esteja com vocês!”

Então Sir Sulgen, mancando, caminha para o centro do pátio lentamente erguendo o seu escudo. No topo do seu elmo dois cavalos marinhos de ouro, um de frente para o outro, adornam a proteção. Ele saca a sua arma. Um mangual. Mas essa arma é diferente. Ao comprido cabo pendem, presas por correntes, três bolas forjadas em aço com espinhos do tamanho de um dedo indicador de um homem adulto. Ele sorri malignamente. Sir Cinnor gira a arma. Seu peitoral de aço chamuscado brilha com a luz do sol que surge através de uma nuvem. Nas pernas ele usa proteções metálicas. Logo atrás de Bernard, no meio dos nobres, surgem Brian e Ellen menores que os adultos com os seus 11 e 8 anos. 

Brian: “Ellen, você tem aquela adaga?”

Ellen: “Sim! Está aqui! Faça bom uso!”

No centro do pátio, Sir Sulgen, todo deformado caminha em meia lua hora para um lado, hora para o outro. Então ele golpeia o ar com o mangual triplo passando perto do rosto do garoto. Ele rosna. No segundo golpe as três bolas de aço enrolam na lâmina da espada do garoto. Bernard se assusta e puxa com força o suficiente para se desvencilhar.  Sir Sulgen rosna e golpeia mais uma vez. O garoto mais leve se inclina. O mangual passa raspando em sua face. Então Bernard usa todo o seu peso contra o inimigo. Sir Sulgen se desequilibra e cai de costas. O Cavaleiro deformado olha para as pernas do garoto puxando um golpe de mangual em arco. Bernard salta enquanto o golpe passa no vazio. Então Brian reflete o sol na adaga em meia lua de Avalon nos olhos do cavaleiro deformado sem pálpebras. Por um segundo Sulgen fica cego e desesperado larga o mangual e tenta usar as mãos para fugir de costas no chão. Bernard o fura na altura do peito, arrancando um grunhido do Cavaleiro, fazendo com que a ponta da espada rasgue a carne até atingir a areia do pátio. O garoto levanta a cabeça do homem e a decapita. Com a língua de fora e uma expressão de dor o crânio é jogado por Bernard aos pés do Romano enquanto Brian, Ellen e o Conde Robert correm para abraçar o seu amigo.

Padre Pertoines (não conseguindo evitar o riso): “Os Deuses antigos e o novo decidiram pela vitória de Bernard. Que a sentença seja cumprida imediatamente! Sir Enrick é inocente de todas as acusações.”

Os nobres presentes, soldados e o povo erguem os pulsos gritando: “Muito bem!”, “Rapaz corajoso!”, “Salve os Stanpid!”. O corpo de Sir Cinnor é carregado por dois serviçais enquanto é cuspido e xingado. Sir Uffos ergue a mão pedindo silêncio com cara de poucos amigos: “Retiro as acusações feitas! As terras são suas. Lutou como um homem de verdade garoto. Lanceiros! Vamos! Tem meu respeito Marshall!”

E ele se retira pisando forte, jogando a sua capa vermelha para trás pressionando com a  mão direita a gladius presa à sua cintura. Logo depois do almoço regado a mais carnes e bebidas os meninos se despedem enquanto uma escolta de lanceiros e arqueiros de Avalon os cercam. Condessa Ellen e a Baronesa Adwen está com eles.

Conde Robert: “Adeus! Foi muito bom ter vindo pra casa e ver todos vocês.”

Ellen: “Tchau pai e mãe. Da próxima vez espero que meu irmão não nos mate do coração.”

Brian: “Mãe, acho que em breve retornaremos. A Senhora de Avalon disse ter grandes planos para todos nós.”

Bernard: “Meu pai e senhor! Desculpe por tudo...”

Sir Enrick: “Lutou muito bem garoto. Está vivo, não é? Um dia vai herdar o meu título e quero que você seja o melhor. Tenha juízo!”

Ele acena tímido enquanto os cavalos seguem pela ladeira de Sarum enquanto somem pelas ruas barrentas da cidade.

Condessa Ellen: “Difícil vê-los partir mais uma vez! Vamos ao salão do conselho. Temos que decidir coisas importantes para o futuro de Salisbury e de nossos filhos.”

SALÃO DO CONSELHO DE SARUM:

Quando passam pelo pátio vêem os serviçais jogando serragem para absorver o sangue espalhado pela areia. Lá dentro do salão sentado na mesa longa estão Sir Bag, Sir Oswald, Sir Caulas, Sir Léo, Sir Galardoum, Arina, Sir Berethor, Sir Dalan, Sir Bruce, Padre Pertoines e o Druida Mylor. 

Condessa Ellen: “Que bom, todos já estão presentes.”

Todos batem nas costas de Sir Enrick e de Marion elogiando Bernard.

Condessa Ellen: “Gostaria de falar à vocês Cavaleiros que a fome e as mortes diminuíram consideravelmente. O trabalho que vocês tem feito tem sido essencial para manter nosso povo e Salisbury vivos. Não poderia ter escolhido um Marshall melhor.”

Sir Berethor, tetraplégico, puxa a sua perna tentando se ajeitar melhor na cadeira. Respira pausadamente. 

Sir Berethor: “Amigos! Como sabem a coroa dos Pendragons está nas mãos do Cavaleiro Misterioso, líder do Bando Branco, que continua a roubar e matar por meia Britânia. Soube pelos mercadores que em quase todos os castelos o Bando libertou os prisioneiros  das masmorras. Eles imediatamente se juntaram à eles. Muitos pobres e desvalidos, que não tem nada a perder, também se juntam as suas fileiras. Dizem que o bando já soma mais de trezentos integrantes. E o pior... Eles usam uma arma mortal que está se popularizando rapidamente por entre os comuns: A besta capaz de atravessar uma armadura como se fosse feita de papel. Eles estão se tornando poderosos com ela. O Bando mata e rouba saxões e celtas sem distinção e não tem medo de nada.”

Sir Dalan: “Já no norte, Nohaut está sem Rei. Uma guerra interna entre os saxões desta região teve início pela coroa, já que Beorthric, o sem joelhos, não tem herdeiros.  Os ladrões de rosto, os Anglos, sobreviventes da Batalha de Winterbourne, permanecem ao norte de Londres escondidos entre as florestas de Quinqueroi e Landoine. Não temos muitas notícias deles.”  

Padre Pertoines: “Se permitem falar, soube que o Rei Ælle está se recuperando lentamente depois de ter quase morrido, devido as infecções dos virotes de besta que o atingiram em Winterbourne Gunnet. Seus irmãos, Senhor Flecha Ligeira, já estavam se preparando para lutar um contra o outro pela coroa de Sussex.”

Todos percebem que Sir Léo está nervoso. A Condessa Ellen olha para ele algumas vezes.

Sir Léo: “Cavaleiros! (Ele se levanta) Gostaria de lhes anunciar. Como sabem, eu sou primo distante da Condessa. E como faziam o povo antigo... E acho que vocês... E...”

Sir Bag: “Mas fala Romano!” 

Condessa Ellen: “O que Sir Léo quer nos dizer é que iremos nos casar.”

Sir Léo: “Obrigado... meu amor. Primeiro para evitarmos essa loucura de Reis e nobres de todos os lados querendo casar com Ellen por puro interesse. E por outro porque nos amamos desde pequeno e achamos que não temos que dar satisfação à mais ninguém. De minha parte saibam que renuncio o título de Conde que herdaria e que deixarei com o Conde Robert. Serei somente o consorte de Ellen. Me caso por amor não por interesse.”

Todos aplaudem o novo casal. Então a porta dupla do salão se abre e vindo do pátio um cavaleiro entra. O guarda na porta bate com a lança no chão e fala.

Arauto: “Condessa e Cavaleiros do Conselho de Salisbury lhes anuncio a chegada de Sir Alain de Carlion” 

Está com o rosto sujo e com a capa rasgada o Cavaleiro do Rei Nanteleode entra e se ajoelha com o seu corpo magro e bigode longo até o peito. 

Condessa Ellen: “Está em casa Cavaleiro, junte-se aos seus irmãos da Ordem.”

Ele se aproxima da mesa e se senta cumprimentando a todos.

Sir Alain: “Obrigado Condessa! Irmãos de armas! Venho de Lindsey. Cavalguei dez dias sem parar. O norte virou um caos. Não conseguimos negociar com o Duque Corneus. Especialmente por causa daquele filho fanático. Pois bem, o Duque está sendo atacado por todos os lados. Nohaut liderado por um dos pretendentes a coroa quer provar sua força os conquistando. Os Anglos sabendo que eles estavam indo para lá, querendo vingança, por terem matado seu antigo Rei marcharam para dentro do Condado matando e pilhando. E claro, o Rei Nanteleode quer se aproveitar disso e tenta tomar Lindsey e deixar que os bárbaros se matem. Bem! Mas não é isso que me trás até aqui irmãos de armas. Kent do Rei Aesc e Essex do Rei Aethelswith se uniram. Vossa Majestade tentou negociar com eles. Mas os malditos estão com com medo da aliança entre Salisbury e Sussex. Então milhares de bárbaros marcham nesse momento em direção ao vale do Tâmisa. Eles querem a cidade mais rica do reino. Os bárbaros querem conquistar Londres!”

Sir Galardoum: “Mas isso deixará os bárbaros ricos controlando nosso principal porto Eles ficarão tão grandes e imbatíveis quanto os Romanos. Precisamos impedir isso! Por favor Condessa!”

Arina: “Por Wotan, a Excalibur!”

Condessa Ellen: “Precisamos fazer algo e rápido. Cavaleiros! Reúnam as suas forças. Em três dias quero o exército de Salisbury formado e partindo para defender Londres. Prepararem a cidade para o ataque eminente e organizem as suas defesas. Enviarei os pássaros para ver se mais alguém atende o nosso chamado. Arauto dê o pergaminho com o meu selo para que o Marshall entregue ao conselho da cidade que governa a cidade. Boa sorte!”

Viagem dia 1: 

Ao amanhecer do terceiro dia, mais de mil guerreiros chegam à sombra das muralhas de Sarum. Os Estandartes de todos os Cavaleiros da Cruz do Martelo tremulam. Mylor e Pertoines estão juntos. As dezenas de carroças com provisões, flechas, armas, cotas e elmos sobressalentes seguem atrás.  

Sir Bag: “Bom dia Flechinha! Tudo pronto para partirmos?” 

Enquanto fazem os últimos preparativos. Verificando a quantidade de comida, bebida, as armas e equipamentos para a viagem. Pelo portão, entra um rapaz cavalgando um corcel de guerra avermelhado seguido por mais de cem homens. Sir Enrick nota que o rapaz carrega o brasão do Rei Lot, branco com um quadrado vermelho no canto esquerdo do escudo, com um lambel amarelo no topo, indicando ser o brasão do filho mais velho de um dos Reis além da muralha. Ele usa uma cota de malha reforçada, com cabelos castanhos lisos até os ombros e uma barba rala. Por cima veste uma túnica com o brasão. Ele usa nas costas uma bainha com uma claymore e na cabeça um elmo de couro. Ele se aproxima, desmonta rapidamente e se ajoelha diante de Caulas. 

Gawaine: “Senhor Caulas! Deixe me apresentar. Sou Gawaine. Filho do Rei Lot da Caledônia e de Lady Margawse. Meu pai me enviou com 150 guerreiros, que aguardam a autorização dos senhores para se juntarem ao seu exército. Está aqui uma carta de meu pai e rei.”

A carta contém o selo real de Lot: 

“Sir Caulas, envio um dos meus bens mais preciosos para você: Meu filho Gawaine. Ele é um bom rapaz. Foi treinado em armas desde pequeno e antes de me suceder ao trono preciso que se torne um homem de verdade. A avó de Gawaine, Lady  Igraine, que nos sugeriu o seu nome pra ser o Senhor de meu filho. Eles viram a sua dedicação com Lady Marion e gostaríamos que desse a mesma educação que teve ao meu herdeiro. O envio junto com meus melhores 150 guerreiros e 500 libras do tesouro real.”

Gawaine: “Senhor! Na verdade não sabia que estavam marchando para a guerra. Permita-me lhe servir. Serei fiel e darei o máximo de mim para honrar o seu nome e carregar o seu brasão.”

Sabendo da ordenação de seus antigos escudeiros, durante a manhã, chegaram alguns homens estranhos querendo falar com os heróis. Muitos oferecendo os servir e outros os seus filhos como escudeiros. Todos lordes desconhecidos, alguns suspeitos. O Padre Carmelo só acena com a cabeça mostrando quem vale e quem não vale perder tempo. Até que quando tudo está pronto para partir, um Cavaleiro chega seguido por dois rapazes jovens, com uns 12 verões. Eles apeiam.

Arina: “Quem são vocês? Já recebemos muitos interesseiros trazendo garotos para serem escudeiros. Se for isso pode dar a volta.”

O Cavaleiro com a idade de uns quarenta verões, com cabelo curto preto e cavanhaque da mesma cor se aproxima tirando o elmo com duas cabeças de um cavalo gravado dos dois lados.

Sir Ector: “Deixem me falar por favor! Viemos da Cambria. Foi uma longa viagem.”

Sir Galardoum: “Sir Ector? Meu Sogro!”

Os dois se abraçam por algum tempo emocionados. 

Sir Galardoum: “Da última vez que nos vimos, foi em meu casamento. Deixem eu o apresentar aos meus amigos. É muito bom lhe ver novamente desde que perdemos Elisa. Esse homem é um celta autêntico e um grande Cavaleiro. Era amigo de meu Pai e serviu o Rei Uther até a sua morte defendo a fronteira norte ao lado de Duque Corneus.” 

Sir Ector: “Aquilo lá está uma loucura. O caos. Trouxe meu filho porque temo por sua vida. Ele é ainda um garoto. Genro... Soube da morte de seu pai. Era um grande homem. Posso falar com o senhor, Sir Enrick?”

Sir Enrick: “Vá em frente.”

Sir Ector: “Senhor Marshall, também somos criadores de cavalos no norte. Soube que está sem escudeiro. Então trouxe meu filho Deverell para tentar a sorte. Ele é habilidoso com a espada e o escudo. Corajoso e foi criado como um Celta e sua mãe Cristã ensinou a nova religião também. Não temos muitas posses no momento já que o norte tem sido pilhado e invadido constantemente pelo Rei Romano do Norte e Malahaut, mas temos o que mais importa senhor: Lealdade, força e honra. O meu outro filho ficou em Lindsey me representando perante ao Duque Corneus.”

Os Cavaleiros olham o garoto de cabelo longo e olhos negros. Ele está todo tímido e parece que o elmo, com os cavalos gravados, é maior que sua cabeça. 

Sir Ector: “Se aproxime do Marshall, Deverell e se apresente.”

Sir Ector vai até o seu cavalo e finge ajustar a sela de seu cavalo. Então derrepente ele se vira tão rápido quanto um leão pudesse atacar. Nem Caulas e Marion vêem. Então uma adaga sai da mão do Cavaleiro em direção a Sir Enrick, ao mesmo tempo, Arina e Dalan sacam as suas armas e correm até Sir Ector.

Deverell escuta o som da adaga cortando o ar e então pula erguendo o escudo redondo. A adaga se choca contra a madeira ricocheteando e o garoto cai do outro lado rolando e se apoiando no escudo. Rapidamente mais uma adaga sai da mão de Sir Ector ao mesmo tempo que Dalan gira rápido e derruba o Cavaleiro e Arina o agarra por trás com a espada curta em seu pescoço. Agora Deverell volta  e a manobra é muito mais difícil. Quando ele rola para o outro lado Sir Enrick vê o reflexo da adaga vindo em sua direção não há mais tempo. Então o garoto atira um pequeno machado de arremesso. Ela se choca com a adaga cortando a trajetória e caindo aos pés de Bag. Tudo se passou em dois segundos. Deverell está ofegante. Com os olhos em total alerta. Ele corre até seu pai.

Deverell: “Deixem meu pai! Por favor senhor! Ele só quer o meu bem! Por favor!”

Sir Bag: “Ahahaha, muito engenhoso Sir Ector! As adagas não tem fio, nem ponta!”

Sir Ector: “Deverell treinou a vida inteira para isso! Nunca arriscaria a vida de Sir Enrick! Estamos aqui para servi-lo senhor!” 

Sir Enrick: “Depois dessa eu o acolho Deverell. Será meu escudeiro rapaz!”

 Sir Galardoum: “Hora de partirmos!”

Então a força parte marchando pela estrada real para o leste deixando Sarum para trás. A longa coluna de guerreiros, cavaleiros e arqueiros marcham pela estradada real rumo ao leste. O dia é claro e sem nuvens e o calor castiga os homens em suas cotas de malhas e armaduras. A estrada corta as pequenas colinas até que entra na Floresta Perdue. A mata alivia um pouco a marcha com o seu frescor e logo eles ouvem o som do Rio Tâmisa. Saindo da mata o pequeno exército chega em Staines. O largo rio corre  escuro à margem da cidade. À esquerda uma ponte longa leva ao Castelo de Windsor, antigo e enegrecido, com mais de uma dezena de suas torres cestavadas circulando a muralha. No centro, dentro das muralhas, existe um morro artificial e uma torre redonda enorme e bastante ampla onde ficam todas as dependências do castelo.

Ao redor da cidade estão os estandartes romanos da águia de Uffos e as tendas romanas todas organizadas milimetricamente. Os legionários comem e conversam enquanto seus lanceiros patrulham o perímetro ao redor da cidade. Um fosso com estacas ao estilo romano dá mais proteção. Tudo é muito limpo e extremamente organizado. Três soldados romanos tocam suas trompas douradas e enroladas com a boca em formato de serpentes. Então Uffos usando a sua armadura cara e polida se aproxima.

Uffos: “Senhor Marshall e Lady Marion... Boa noite! Estamos indo para Londres ajudar a defender a cidade. Recebemos um pássaro da Condessa. Tenho a palavra dela de que irei receber terras para lutar e me aliar ao exército de Salisbury. E estou disposto a me curvar a sua autoridade Marshall desde que aceite que meus legionários lutem sempre sobe o meu comando. Tenho 250 deles prontos para o combate nesse momento.”

Sir Enrick: “Terá que jurar que nos seguirá e lutará ao nosso lado.”

Uffos: “Atenção homens! Lhes digo que lutaremos ao lado desses homens. É hora de procurarmos um lugar nessa ilha e estabelecermos raízes.”

Sir Bruce: “Não é aqui que se prepara um banquete todas as noites esperando nobres viajantes?”

Sir Bag: “Sim! Vamos encher os buchos e molhar a goela com o bom hidromel de Silchester.”

Todos os escudeiros levam cavalos para a estrebaria do Castelo. Em marcha para a guerra eles precisam usar as paradas e trabalhar madrugada à dentro pintando os escudos, limpando os estandartes, tratando dos cavalos e deixando as armas equilibradas e afiadas 24 horas por dia em prontidão. Um trabalho duro mas necessário.

CASTELO DE WINDSOR:

As salas redondas da grande torre são rústicas, escuras e mal iluminadas. No salão de banquetes em uma longa mesa para mais de cinquenta pessoas existe uma variedade imensa de comida. Tortas salgadas, pernis de javali, frango, peixes, costela, faisão, enguia, mingau, frutas, vinho, sidra e hidromel. Todos vão sentando entusiasmados enquanto um servo mais velho seguido de outros dez se curvam aos nobres. Sir Bag se empanturra virando uma bandeja de prata cheia de ostras. Depois enfia dois camarões na boca com cabeça e tudo. Dá um arrotão e empurra tudo para dentro da garganta bebendo um copo de sidra.

Sir Bag: “Marion! Deveria comer esses pãezinhos de alho são os melhores.”

Arina: “Seus romanos, Duque Uffos, estão armados até os dentes.”

O Duque faz uma vênia com a cabeça.

Sir Oswalt: “É verdade, mas os ferreiros vão ter que pensar em algo mais resistente do que essas couraças romanas que usamos. Ou vinte desses desgraçados e desonrados besteiros podem mandar uma tropa inteira de Cavaleiros para a morte.”

Sir Galardoum: “Eu vi algumas dessas luvas articuladas feitas em aço que estão fazendo em Londres. Fizeram para proteger as mãos do bafo de dragão. Apagar com luvas de couro essa desgraça é suicídio.”

Sir Enrick: “Porque está quieto, Sir Léo? Desde a notícia de seu casamento anda em silêncio.”

Sir Léo: “Quero evitar falatório e que achem que estou sendo a voz da Condessa quando opino. Na verdade nada mudou o comando continua do Marshall de Salisbury.”

Sir Alain: “Meu Rei disse que fará de tudo para conseguir conquistar o norte. Se impedirmos a queda de Londres poderemos juntar as nossas forças e vir varrendo reino inimigo após reino inimigo e finalmente marcharmos para oeste e empurrarmos o leão de três cabeças para a Cornualha de onde nunca deveria ter saído.”

Dia 2:

Na madrugada ainda com as estrelas no céu enegrecido todos são despertos pelo som de cavalos e homens marchando.  Sir Enrick e Lady Marion vão espiar pela estreita seteira para ver o que está acontecendo lá embaixo. Eles vêem ao largo rio as tochas iluminando a ponte larga. A bruma fina lhes cobrindo o calcanhar e a tropa inteira de Uffos marchando para o norte enquanto o som nasce lentamente. Gawaine entra com um dos olhos roxos. 

Gawaine: “Sir Caulas, eu juro que tentei impedi-los, mas o conde Uffos insistiu que iria partir porque se surpreendesse o inimigo em terreno aberto poderia destruí-lo antes que avançasse pelo vale do Tâmisa. Me coloquei na frente do Romano mas ele me botou para dormir com um direto em minha cara. Ele disse que enquanto dormem ele resolveria o problema e vocês o agradeceriam e reconheceriam de que é tão glorioso quanto o seu pai.”

Depois de descerem para a sala de banquetes e comerem pães, queijos e frutas, regados a vinho e hidromel quente, eles partem novamente para o oeste, já com o céu azulado e limpo no calor do verão, com a longa coluna de guerreiros marchando seguidos pelas carroças na retaguarda guardada por Cavaleiros. Nem sinal dos Romanos, só o rastro, do outro lado do rio na terra revirada margeando o Tâmisa que, depois de passar à frente de Staines, faz uma curva e segue direto para Londres. A estrada real está cheia de refugiados vindo do oeste. Eles levam mulas carregando seus bens, gaiolas com aves, cachorros, pequenos rebanhos de carneiros. Eles vão abrindo caminho pela relva que margeia a estrada, que já está se tornando um caminho de terra com quase todos os paralelepípedos arrancados, para o exército passar.

Os heróis percebem muitas famílias sem nada. Várias crianças sem pais e feridos carregados em carroças. Uma mulher se aproxima de Sir Enrick pegando em suas mãos. Deverell se aproxima montado.

Deverell: “Quer que eu a afaste, Senhor?”

Sir Enrick: “Não garoto! São pessoas em dificuldades.”

Refugiada: “Sir Enrick! É o senhor mesmo? Os deuses ouviram a nossa prece.”

Eles continuam a seguir em frente e então vêem quase uma centena de corpos ao redor da estrada. Virotes fazem um roseiral de flechas fincadas no chão com penas brancas. Os corpos de mulheres, crianças e homens caídos todos crivados de projéteis jazem ali com caras horrendas de dor. As pessoas passam ali e ficam assustadas. Alguns fazem o sinal da cruz outros tocam em suas meia luas penduradas no pescoço. Então dois soldados se aproximam carregando um garoto pelos braços, um de cada lado. Um terceiro puxa um cavalo pelas rédeas. 

Soldado: “Senhora! Achamos esse garoto escondido na mata próximo aos corpos.”

O rapaz está tremendo. Eles o reconhecem:  É o escudeiro de Sir Berethor. Ele é loiro e tem cabelos longos e olhos azuis. Possui uns 11 verões. Ele é muito bonito. Aliás, é o rapaz mais bonito que já viram. Ele usa uma armadura de couro e luvas de metal articuladas. 

Bedivere: “Bedivere se apresentado Mademoselle. Sir Berethor me enviou. Depois que partiram ele achou melhor que eu fosse à guerra com os senhores. Que se eu ficasse com ele iria me tornar apenas um serviçal e que deveria me tornar um cavaleiro. O melhor cavaleiro. Parti tentando lhes alcançar com um dia de diferença. Segui pela noite mas me perdi da escuridão, passei de Staines. Cavalguei a noite inteira até encontrar com os peregrinos bem na hora do ataque do Bando Branco. Me escondi na mata sem poder fazer nada... (saem lágrimas de seus olhos). Foi horrível e não pude fazer nada. Juro que um dia farei Senhora! Eu juro!”

Lady Marion: “Calma menino! Me conte o que aconteceu.”

Bedivere: “Eles mataram, deixaram muitas crianças órfãs e roubaram os corpos. O homem usava uma balaclava branca, o líder do Bando. E ele usava a coroa dos Pendragon e matava todos com sua espada enquanto os pobre coitados gritavam e imploravam por suas vidas. Então fiquei aqui esperando o perigo passar. Exausto dormi e foi então que os soldados me acharam.”

Então ele entrega um pergaminho com o selo de Berethor para Marion.

Pergaminho: “Lady Marion, quem escreve é Sir Berethor. Depois de partirem para Londres pensei à respeito de meu escudeiro Bedivere e como o garoto não merece servir um inválido para o resto da vida. Ele é um dos mais rápidos e ágeis espadachins da sua idade e acredito que ele será um grande guerreiro quando ficar adulto. Ele é filho do fundador da cidade de Bayeux, Sir Jean, no cerco que seu marido, Sir Enrick participou na terra dos francos em 488. E foi do outro lado do canal que seu pai me pediu para trazê-lo a Britânia e me cedeu uma centena de guerreiros e fazer um juramento que estou impossibilitado de cumprir. Peço que o tome como escudeiro. É um bom garoto vindo da terra dos francos. Leal, trabalhador e corajoso.”  

PRIMEIRO DIA:

LONDRES:

A viagem continua através dos campos ao redor de Londres seguindo o Tâmisa até que  ao pôr do sol passam pela Igrejinha de Santa Brigite, atravessam uma pequena ponte de pedra em arco por cima de um riacho mal cheiroso e chegam no portão de Lud, onde no topo tremula o brasão branco com a cruz vermelha. O portão e a estrada que sempre tinha milhares de pessoas entrando e saindo está vazio. Eles vêem dezenas de barcos partindo pelo Tâmisa abarrotados de pessoas e animais. Os heróis escutam a guarda da cidade gritando da muralha: “É o Exército de Salisbury e os Cavaleiros da Cruz do Martelo!”, “Graças a Deus!”, “Sejam bem vindo!”

Os lanceiros do portão abrem caminho satisfeitos.  

Lanceiros: “Sejam bem vindos, Senhor!”

Atravessando o portão eles saem nas ruas barrentas de Londres. Merda, sujeira e cheiro de mijo misturado ao odor de comida vindo das dezenas de chaminés das tavernas e estalagens. Do lado esquerdo ergue-se a enorme igreja de São Paulo. A construção com uma torre ponte aguda única que se ergue dezenas de metros no alto contra o céu azul é impressionante. À direita uma muralha interna e do outro lado o castelo de Lud com as suas quatro torres despontando para o céu. Ali foi onde Uther foi envenenado. Os poucos comuns que ficaram na cidade caminham bebendo garrafas de hidromel e vinho pelas ruas. Bando de crianças correm pelas vielas estreitas. A maioria das casas tem dois andares. São cortiços, estalagens, casas de tolerância, locais de troca de moedas, tavernas. Uma construção com colunas romanas e uma escada que leva ao interior fumegante indica ser ali o banho público. A medida que passam as pessoas vão colocando as cabeças para fora das janelas. O burburinho é alto. 

No centro da cidade, já ao anoitecer, sobe as luzes de um milhar de archotes em suportes de ferros acessos para iluminar Londres, um Padre com o cabelo cortado como um monge, com uma roupa roxa e muitas jóias nos pescoço e em suas mãos os observa. É Hanz de Du Plain. Um homem com cabelos curtos cinzas vestido com uma roupa toda azul, com diversos anéis em seus dedos usando uma capa negra possuindo uma grande corrente com elos unidos em forma de barcos. Um terceiro veste uma toga de nobre, no estilo romano, na cor roxa, e uma grande corrente ao redor do seu pescoço unida por pequenas chaves, com o cabelo longo grisalho e um pouco acima do peso. Eles os aguardam. Ao redor deles a guarda da cidade os protegem e um cavaleiro sorri para os heróis. O comandante da milícia Londrina. Usando uma pesada cota de malha, elmo e luvas de ferro. Seu rosto é todo desfigurado e queimado, mas a barba grossa e negra esconde as cicatrizes. Mas a sua simpatia não se apagou com o tempo: Sir Brastias.   Centenas de comuns se acotovelam os cercando. O homem de toga faz uma reverência.

Avitus: “Sejam bem vindos à Londres homens de Salisbury! Cavaleiros da Cruz do Martelo! Realmente é um alívio que chegaram. Sou Avitus, o líder do conselho, tenho o título de prefeito.”

Hanz: “Bom lhes ver novamente. Espero que Deus ilumine suas armas e corações e nos protejam do mal.”

Eógan: “Sou Eógan Cavaleiros! Sou o mestre do porto da cidade.”

Avitus: “Nós três formamos o conselho que governa Londres. Por favor, Marshall e seus comandantes, sigamos até a torre branca. Temos muito o que conversar. Lá poderão lavarem-se, comerem e conversarmos um pouco.”  

Então caminhando pela cidade de Londres os lanceiros abrem caminho para passarem por entre o povo. Eles tocam as suas mãos nos heróis. Eles vêem a forca, montada ali próxima, com alguns cadáveres inchados rodando, coberto de moscas. O grupo passa pela basílica. Na verdade um templo romano antigo com um sol esculpido no triângulo de pedra acima das colunas e os touros adornando as portas.

Hanz: “Antes este prédio era um templo romano pagão. Agora ele é cristão. É a nossa basílica agora é onde o conselho da cidade se reúne.”

Lady Marion percebe que cada lugar que passa vê grupos de homens vestidos iguais os observando em meio a multidão. Eles passam pelo quarteirão Judeu, à direita eles vêem o mercado próximo ao portão que desemboca no Tâmisa e a grande ponte de Londres toda iluminada por archotes. Famosa com dezenove arcos e suas construções medievais no passadiço, ligando a parte murada da cidade a parte sul dela, desprotegida por muralhas. O grupo atravessa as ruas estreitas iluminadas por tochas no segundo andar das casas de madeira e telhado de palha. Então saem em um descampado próximo a mais um portão. Dali pode se ver a muralha. Na frente dele um monte de terra artificial relvado. 

Eógan: “Essa é a colina da torre. Aqui os nobres que não se ajustam são executados. Uma morte limpa para homens e mulheres de títulos. Decapitação pelo machado.”

A TORRE BRANCA:

Então eles se dirigem à uma muralha interna tão alta quanto a externa. Ela é cercada por um fosso. A ponte levadiça pesada desce e eles entram pelo portão gradeado que sobe. Saem no pátio do castelo branco, com quatro torres com pequenas abóbadas no topo, onde os estandartes brancos com a cruz vermelha tremulam no topo. Lá dentro existem salões enormes decorados com tapeçarias, tudo no estilo romano. Em uma delas uma capela com uma tumba. Todos os recintos são decorados com à frescos com histórias bíblicas e beirais pintados com ouro.

Hanz: “O fundador de Londres e da  Britânia: Brutus descansa aqui. Venham!”

Os heróis Celtas entram batendo as esporas contra o chão de mármore sujando grosseiramente o chão de barro. Então em uma sala de banquetes, onde todos deitam em almofadas e espreguiçadeiras, servos trazem bandejas de frutas, azeites finos, ostras, peixes, castanhas, azeitonas e vinhos tão bons quanto o beijo de uma deusa. Um bardo romano toca. Todos se deitam por ali. Bag arrota e Arina dá um soco em seu braço. Avitus sacode a cabeça. 

Avitus: “Pois bem. Com o anuncio do possível ataque Londres ficou somente com os desvalidos, desabrigados e gangues que não tem para onde ir e nem prata para pagar por uma vaga em um barco. Alguns homens da milícia já desertaram.”

Eógan: “Fora que alguns preferem não se arriscar. O Bando Branco está roubando e matando os aldeões como coelhos.”

Hanz: “Mas, afinal, onde está Conde Robert? Existem muitos boatos que está morto. Por isso desapareceu.”

Sir Enrick: “Ele está bem. Posso lhes garantir. Mas não tenho permissão para revelar o seu paradeiro.”

Eógan: “Ficamos contentes com a notícia. Vocês que conhecem bem o Arquidruida Merlim. Aquele louco. Um navio vindo do Sul, da terra de areias das pirâmides, disse que Merlim está no Egito. Que foi recebido com honrarias pelo representante do Imperador Bizantino, Justiniano I.” 

Sir Caulas: “Típico de Merlim...”

Avitus: “Bem senhores! Ao amanhecer nos encontramos na basílica para o primeiro Conselho de Guerra. Discutiremos e começaremos a organizar nossas defesas. Meus batedores regressaram. Aliás, três deles foram mortos por c ?iladas do Bando Branco. Mas aqueles que voltaram trouxeram a notícia de que temos três dias. Desfrutem da torre branca. Temos quartos para todos e boa noite.”

Então os três líderes de Londres se retiram do salão. Sir Bruce limpa a boca em uma das espreguiçadeiras de veludo.

Sir Bruce: “O que acharam desses homens?”

Sir Caulas: “Não sei... Há algo de estranho aqui... Muita riqueza nas mãos de poucos.”

Sir Galardoum: “Londres é sinônimo de ouro. Muitos quilos dela chegam através do porto. Excalibur tem rendido mais ainda com as pessoas tentando retirá-la da pedra. Esses homens estão ricos e os saxões atrapalhando os planos deles.” 

Existem dezenas de quartos na torre branca. Eles são oferecidos à eles. Mas parecem ter fechado e instantaneamente parecem ter acordado. O som da cidade e das pessoas nas ruas, logo ao amanhecer, acorda todos. Os servos servem mais comida e todos dirigem-se a Basílica.

BASÍLICA:

Dentro do antigo templo romano, onde se sacrificava bois em nome do deus Mithra, o teto é uma abóbada com um sol pintado refinadamente. Mas por cima, toscamente, foi desenhada uma cruz com o cristo. No centro do círculo onde faziam os sacrifícios existem três cadeiras onde Hanz, Avitus e Eógan estão sentados. Os heróis e seus Cavaleiros sentam nas arquibancadas de mármore, em formato de meia lua, à frente do conselho de Londres. Ainda dá para se ver os caminho feitos no mármore do chão para o sangue escoar para um pequeno buraco no centro e o elevado com uma rampa, à cima das cadeiras dos líderes, onde se colocava os bois para o sacrifício. Agora transformado em um altar cristão, feito com ouro e prata. 13 arautos com togas, posicionados atrás dos governantes Londrinos, tomam nota de tudo que é dito ali dentro.

Avitus: “Sejam bem vindos! Por favor sentem-se! Está aberto o Conselho de Guerra e defesa da cidade de Londres.”

Eógan faz um gesto para Brastias e ele lhes entrega um mapa da cidade.

Sir Brastias: “O norte da cidade é cercado por um pântano. Mesmo assim existem dois portões. O do Bispo e outro que chegam por pontes de madeira elevadas. Travar uma luta ali seria uma loucura por parte dos saxões. Marion e seus arqueiros os repeliriam facilmente enquanto o inimigo se deslocaria no lodo negro, lentamente, tentando atingir as muralhas, provavelmente, com escadas. Já o sul de Londres do outro lado do Tâmisa não possui muralhas. É a área da maioria das casas de tolerância e das Tavernas. E se vierem pela ponte de Londres será um funil no portão de Balin. Somente 20 homens lado a lado conseguiriam lutar ali e a luta se equilibraria.”

Sir Enrick: “Deixaremos alguns arqueiros ali como precaução. Tenho certeza que pelo pântano eles não virão.”

Sir Caulas: “Já o sul da cidade sem muros é indefensável. Infelizmente teremos que o abandonar.”

Lady Marion: “Realmente os locais mais vulneráveis são o leste e o oeste da cidade. Temos um castelo de cada lado para proteger a muralha. E a Catedral de São Paulo está muito próximo dela. Será um alvo fácil se eles tiverem máquinas de cerco.” 

Galardoum:  Por favor Marshall! Dê me a honra de protegê-la.” 

Sir Enrick: “Ela é toda sua paladino.”

Eógan: “Ao sul, não esqueçam do porto próximo ao portão das águas. Se o inimigo atracar ali pode tentar algo. Mesmo com o portão não sendo tão grande. A medida que alguns inimigos passarem, aos poucos podem entrar escondidos pelas centenas de vielas e abrirem os portões. O lado oeste também é fácil de se chegar. É relva e terreno firme. Igual à leste. Com torres de cerco, balistas e catapultas seria uma questão de tempo até a cidade cair. Mas, não acho que eles teriam coragem de atacar por ali Cavaleiros. A cabeça de Bran está enterrada em algum lugar próximo a muralha externa. Existe mágica protegendo o muro leste.”

Hanz: “Bobagem! Crendice! O que vai nos proteger são os anjos do senhor. Não um filho do corvo.”

Sir Brastias: “O senhor conhece a lenda. Quando Bran foi envenenado e ferido pelos Irlandeses ele pediu para que seus próprios homens o decapitassem e enterrassem a sua cabeça aqui para proteger a ilha e a cidade de Londres contra seus inimigos.” 

Hanz: “Blasfêmia!” 

Sir Brastias só sacode a cabeça  engolindo as suas palavras.

Lady Marion: “Deixarei meus arqueiros separados em pequenas unidades nas muralhas. De maneira que se precisarmos de suas flechas eu possa comandá-los para o local do ataque inimigo.”

Sir Enrick: “Farei o mesmo com a milícia próxima dos portões. Mas principalmente  deixarei a maioria no oeste da cidade. Provavelmente o ataque venha dali.

Sir Caulas: “Eu levarei os habitantes da cidade e iremos fazer buracos, molhar a terra e colocar obstáculos. Temos que deixar os trebuchets longe das muralhas.”

Avitus: “Aqui estão o número de homens, mulheres e crianças que não partiram da cidade. São 2.000 comuns. Lembrem-se que podemos contar com muitos deles para lutar. Estão aqui os números de soldados da milícia, última contagem foi feita hoje de manhã. Temos 350 homens. 100 arqueiros e 250 infantes. E os senhores?” 

Eógan: “Vamos mandar esse bando de desocupados embora Marshall? ”

Hanz: “Com essa quantidade de gente nossos depósitos de comida devem sustentar a cidade por pelo menos um mês.”

Sir Enrick: “Está certo, ficaremos só com os que estão aptos a lutar. Os outros mandaremos para o oeste. Infelizmente teremos que arriscar perdê-los para o bando branco.”

Avitus: “Então é isso senhores! Tenham um bom dia. Há muita a se fazer... Boa sorte a todos nós e que Deus nos proteja dos bárbaros.”

Quando eles estão descendo a escada do templo de Mithra um garoto de uns cinco verões, encardido, com os pés no chão e o cabelo duro de sujeira se aproxima.

Garoto: “Isto é para vocês. Não mostrem a ninguém.”

Ele some rapidamente se misturando ao povo que passa pelos heróis os cumprimentando. O menino entregou um pedaço de pano enrolado. Dentro eles acham 4 símbolos. Uma cruz, a estrela de seis pontas judaica, a meia lua de Avalon e uma espiral irlandesa. Está escrito: “À meia noite procurem, na rua da carne, o açougue de Murray Cutelo Prateado. Sejam discretos!”

GANGUES:

As ruas estreitas de Londres são escuras. Os archotes ardem no alto das casas. Mas como quase todas tem dois andares elas impedem a luz da lua. O verão abafado traz o cheiro do mar misturado ao esgoto. Bêbados e prostitutas caminham pelas vielas. Em algumas o grupo tem que se encostar na parede e dar passagem para os outros. Eles vêem um cadáver de um homem no beco. 

Sir Caulas: “Homem! Onde fica o beco da carne?”

Cidadão: “Próximo ao Portão da Água e da pedra de Londres. Ao lado do porto.”

Eles caminham. Passam por tavernas onde alguns bêbados cantam. Em uma delas eles ouvem a música da resistência celta. Em outra a da Batalha de St. Albans. Em uma estalagem um homem é jogado para fora. Um casal faz amor em um beco escuro. Na beira do canal que corre para dentro da cidade do Tâmisa, ladeado por um corrimão de madeira, eles vêem uma pedra com uma placa de ferro escrita em Latim. Existem várias vielas. Uma delas tem em sua entrada uma placa de madeira em forma de escudo com uma machadinha e um pernil toscamente desenhado. Moscas voam em grande quantidade ali e dezenas de cachorros percorrem a rua cheirando as portas das casas.

Andando pela rua estreita o cheiro de sangue e carne é forte. Eles olham as portas fechadas. Quase nenhuma tem uma indicação, já que a maioria das pessoas são analfabetas. Mas ao passar na frente de uma porta eles vêem dois cutelos cruzados pintados de branco. Um garotinho abre a porta: O mesmo que entregou a mensagem.

Garoto: “Oi! Venham”

Lá dentro está escuro mas eles vêem uma sala pequena com um balcão cheio de sangue coagulado. As moscas voam enquanto pedaços de carne penduradas ocupam todo o teto sustentado por vigas. Ele abre um alçapão no chão e uma escada de madeira surge. Ele vai na frente dizendo: 

Garoto: “Eles vieram! Os nobres vieram!”

Eles escutam um burburinho lá embaixo e aí fica tudo em silêncio. A medida que descem a luz de várias tochas iluminam de amarelo as paredes. E pelo menos trinta pessoas, todos homens, estão ali embaixo. Existe uma mesa onde alguns jogam dados. Todos se levantam quando os heróis chegam.

Eles observam que todos estão armados com adagas e cutelos. Existem 4 grupos distintos. Um são ruivos e sardentos e usam colete verde por cima do peito nu com a espiral celta tatuada. Outros tem cabelos pretos longos, com as pontas enroladas e barbas compridas. Usam um kippa negro no topo da cabeça. Outros tem o cabelo cortado como romanos. Usam sandálias e uma toga curta. Eles notam que no antebraço tem a cruz cristã tatuada. E por último, homens com a cabeça raspada. Usam peles de urso marrom e tem a deusa no centro, tatuada no pescoço, e de um lado um gamo e do outro um lobo faminto. Um dos homens de colete verde se aproxima. Ele é forte, tem cabelos vermelhos e cavanhaque da mesma cor.

Murray: “Sejam bem vindos ao porão dos quatro. Eu sou Murray. É muito bom que vieram. Essa antiga adega romana permite certa discrição em nossas reuniões e os passarinhos dos homens do conselho não nos ouvirão aqui.”

Sir Enrick: “Seja direto!”

Murray: “Primeiro deixe me apresentar meus confrades. Nós Irlandeses somos “Os Leprechauns”, responsáveis por atos de terror na cidade de Londres. Alguém precisa ser pressionado. Queime a casa dele. E quem melhor fazê-lo do que os Irlandeses? Os Judeus são os Adaga Sagradas. Assassinos que caminham nas sombras. Não existe lugar impenetrável nem presa que escape à eles. Os cristãos são conhecidos como a Mão de Deus: São Ladrões. Batedores de carteiras ou sequestradores de quem não interessa para a cidade ou ladrões de cargas que desaparecem dos navios como que por encanto. Claro que tudo entregue convenientemente aos donos daqui: Os homens do conselho. Esses últimos são os pagãos: “O Arco de Cernunnos”: São nossos cobradores das taxas de segurança. Qualquer comércio, mercador ou dono de barco tem que pagar por ela. Ou... vocês devem imaginar.”

Sir Enrick: “É claro... E o que querem conosco?”

Murray: “Não esqueçam que somos nós que mantemos o equilíbrio dessa cidade e como tal somos os parias e os marginais que mantém Londres em movimento. Enquanto os três chefões lá de cima estiverem em atividade, ganhando prata com nossos serviços, sobreviveremos. Mas!eles são substituíveis. Nós não! Chamei vocês porque sei que Sir Enrick é um dos responsáveis pela Resistência Celta e que são justos. Falam com a plebe sem pudor. Se Londres cair, caímos com ela. Nas mãos dos saxões é o fim dos quatro. Queremos ajudá-los! Conhecemos cada viela, cada esgoto que liga a cidade e cada passagem secreta.  Mas, tudo tem um preço.”

Sir Enrick: “É claro! Sempre tem um, não é mesmo?”

Murray: “Se vencermos deixarão que continuemos nosso trabalho e não nos importunarão jamais. Não importa o que acontecer. E queremos um 1/4 de tudo que os 3 do conselho ganharem com a cidade.” 

Sir Enrick: “Não posso lhes garantir lucros. Só estamos aqui para lutar. Mas posso lhes prometer que negociarei para que fiquem aqui.”

Murray: “Muito obrigado, Marshall. Em breve conversaremos mais à respeito. Por hora lhes convido a beber uma bela cerveja escura da minha terra e apreciar a música.” 

Sir Enrick: “Muito obrigado! Temos trabalho a fazer. Nos falaremos em breve.”

SEGUNDO DIA:

No dia seguinte os heróis preparam as defesas da cidade. Então eles escutam o som dos chifres de guerra soando por toda a muralha. As pessoas começam a gritar e a correr para as suas casas. Alguns trombam com eles. Sir Brastias passa correndo usando a sua armadura composta de ferro escuro. Ele some por uma rua então volta.

Sir Brastias: “Estão vindo do oeste!”

Então a guarda da cidade, em cima da muralha, vai apontando a direção para onde Lady Marion e Sir Caulas devem ir. Sir Enrick corre dando ordens reunindo os homens em direção ao portão oeste. Marion e Caulas chegam em uma das inúmeras torres quadradas. Eles sobem as escadas em caracol e saem no passadiço por entre as ameias. Logos os outros Cavaleiros da Cruz do Martelo aparecem. Lá de cima eles vêem o grande vale relvado. Algumas pequenas vilas e plantações. O dia é de céu azul. É logo depois do meio dia. 

Sargento da Muralha: “Senhora eu vi, atrás daquela colina ao norte. Parecia um bando pequeno de saxões. Perto dos salgueiros da floresta.”

Olhando à direita eles vêem quatrocentos saxões se aproximando. Eles marcham rápido, como é a característica de suas tropas. Então, vindos do norte, surgem estandartes vermelhos. Um homem a cavalo os lidera. Atrás uma tropa romana composta por 250 legionários o segue.  

Sir Caulas: “Uffos! Romano idiota!”

Então quando os saxões e os romanos, tentando alcançá-los em vão, passam próximo a mata e uma saraivada de virotes voam de dentro de Quinqueroi. E tantos os saxões quanto os romanos são atingidos. Muitos deles tombam. Pelo menos um terço dos dois lados. Então um bando sai lá de dentro. Talvez mil homens. Um cavaleiro com uma capa branca usando uma balaclava e na sua cabeça e a coroa dos Pendragon segue na frente . Ele empina o cavalo enquanto seus homens, um bando de esfarrapados com bestas, machados e martelos toscos os atacam cercando-os e matando aos montes. O líder some na mata enquanto seus homens e mulheres carregam o que podem de elmos, armas, escudos e objetos de valor e correm atrás dele. 

Ao mesmo tempo som de tambores ecoam pelo vale do Tâmisa: dezenas deles. Uffos e seus homens tentam chegar desesperadamente no portão. Os saxões formam uma parede de escudos. O cavalo de Uffos cheio de virotes no lombo tomba o jogando longe. São uns cem legionários acuados entre os bárbaros e o Bando Branco que atira ao longe com as bestas enquanto recuam. Então, vindo do leste, os heróis vêem o primeiro barco saxão surgir pela curva do Tâmisa. Depois outro e mais outro com as velas com os estandartes de corvos, de lobos, javalis e ursos desenhados. São mais de cinquenta, depois cem e mais barcos não param de surgir. Então as lanças começam a voar de dentro dos barcos em direção as muralhas. Lady Marion corre se protegendo por entre as ameias. Ela reúne seus arqueiros e atira. Alguns saxões caem dos barcos com as rajadas de flechas. Mas são muitos e não param de surgir pelo rio Tâmisa.

Sem muitas baixas eles se afastam para o leste até sair do alcance das flechas e desembarcam. Com a chegada dos barcos saxões o Bando Branco some pela floresta. 

Sir Caulas: “São 5.000 deles!”

Os primeiros saxões que desembarcam correm desordenadamente como loucos em direção a Uffos. A maioria dos romanos tentam correr pela estrada do Rei mas são massacrados. Eles vêem o cerco se fechando sobre eles e os machados, martelos, lanças e espadas os reduzem a pedaços e restos humanos. Uffos corre como um louco acompanhado de dez de seus homens. Eles o vêem, no horizonte, correndo ao longe enquanto os saxões riem e se divertem matando os legionários que ficaram para trás. O Duque se joga nas águas do Tâmisa desaparecendo rapidamente com o peso da armadura que o leva para o fundo.

Então os saxões voltam em direção aos barcos estacionados deixando mais de uma centena de corpos massacrados em poças de sangue e tripas. Logo começam a descarregar os barcos. São levados para o acampamento que está sendo armado barris com suprimentos, tendas de couro, armas, armaduras, cavalos. Eles se espalham ao redor da cidade em uma meia lua que vai do lado leste do Tâmisa até oeste. Uns duzentos bárbaros entram na igreja de Santa Brigite, fora das muralhas, e retiram as freiras que são  atiradas na terra e violadas diante dos olhos de todos. Então as levam para a Igreja novamente e ateiam fogo.

Um saxão forte como um touro caminha gritando com cada homem. Deve ser o comandante deles. Com os cabelos loiros até a cintura e um bigode do mesmo comprimento ele os encara. Ele cospe no chão e passa a mão na garganta transversalmente indicando que cada um deles será degolado. 

Imediatamente eles o reconhecem. É o comandante do navio saxão que os atacou quando levaram Merlim para a Terra dos Francos. E ele carrega uma lança nas costas: Gungnir.  

Sir Caulas: “Foi ele que matou Algar! Desgraçado!”

E todos os saxãos levantam as suas armas gritando empolgados. 

Até o cair da noite nem sinal dos reis de Essex ou de Kent apareceram.  O silêncio na cidade reflete o medo com todos enfiados em suas casas. A atmosfera é lúgubre e taciturna.

Sir Bag: “Depois que passamos fome na prisão, prefiro morrer a passar por isso novamente!”

Sir Léo: “Ninguém nunca conseguiu transpor essas muralhas. Espero que o que temos estocado sirva para alguma coisa.”

Sir Alain: “Vamos torcer pra que o Rei Nanteleode conquiste logo Malahaut e venha em nosso socorro.”

TERCEIRO DIA:

Pela manhã eles estão comendo no salão de banquetes. Lá fora o som da cidade volta a se normalizar. Alguns fazem seus negócios e outros caminham até a igreja para pedir por proteção. Então um som corta o ar. Um silvo que vai crescendo cada vez mais. Uma gritaria chega até o salão. 

Sir Enrick: “Trebuchets!”

Tudo passa muito rápido quando a parede da torre branca racha diante de seus olhos. O salão de banquetes está coberto de poeira. O som de pedras explodindo nas muralhas pode ser ouvido. Pela seteira eles vêem que as armas de arremesso estão atirando de longe. Os obstáculos de Caulas próximo à muralha funcionaram. Eles estão distantes e não conseguem atacar com eficácia. Eles também vêem o estandarte vermelho com um cavalo empinado do Rei Aesc de Kent e outro também vermelho com os três saexs empilhados em posição horizontal de Aethelswith de Essex. 

Sir Enrick: “Vamos sair da torre branca. Por hora não conseguirão nada mas se continuarem assim por dias não demorarão a colocar a muralha para baixo. Os malditos Reis saxões chegaram.”

Sir Caulas: “Merda! Eles são aliados da outra grande força inimiga!”

Antes de descer eles vêem um estandarte amarelo com um crânio sendo esmagado por uma marreta.

Sir Brastias: “Sir Helifer! Maldito mercenário desgraçado! Vende seu povo por ouro! Era o Sargento de Uther esse filho de uma cadela.”

Todos os cavaleiros da cruz do martelo, cobertos de pó, vão se levantando. Dalan segura o seu nariz quebrado.

Dalan: “De novo não!”

Sir Caulas: “Está tudo bem pai?”

Os homens do conselho tremem apavorados com as suas roupas sujas de sangue e calcário. Avitus tem um corte superficial no peito que sangra um pouco. 

Avitus: “Eu vou morrer! Eu vou morrer! Por favor! Alguém me ajuda! Ai meu Deus!”

Arina: “Vamos sair daqui rápido!”

Então, com a chegada dos Reis saxões, os ataques com Trebuchets se intensificam. A Torre Branca é atacada o dia todo. E aos poucos ela vai cedendo. À noite o silêncio mostra o medo da cidade aterrorizada sobe o cerco. Nas catedrais os cristãos rezam dia e noite. Os heróis, seus cavaleiros e o conselho se refugiam na Basílica.

QUARTO DIA:

No quarto dia mais ataques das armas de cerco contra a torre branca e a muralha leste. Por vezes eles escutam as pedras voando por cima da muralha atingindo as casas e as vielas estreitas. Eles escutam o choro de cães e outras vezes o choro de pessoas e gritos de desespero por alguém ter perdido algum ente querido. O som seco das pedras, arrancando lascas da muralha  e destruindo alguma construção, espalha o terror. Parece que uma sombra negra paira sobre a Londres sitiada.

É noite e Sir Enrick, Lady Marion e Sir Caulas caminham pelas ruas. Eles vêem alguns escombros espalhados e tudo deserto. Somente os archotes nas muralhas iluminam os sentinelas que se protegem por entre as ameias. É possível escutar o som de cantoria dos saxões acampados ao redor da cidade. A noite é escura e sem estrelas. Então eles vêem fogo riscando o céu. Bolas de bafo de dragão iluminam Londres. 

Sir Enrick: “Posicionaram os trebuchets mais ao norte!”

As bolas caem se chocando contra as casas na muralha ao norte. Gritos e pânico se instauram. Sons de crianças e cachorros latindo são ouvidos.

Arina: “É o quarteirão Judeu! Está em chamas.”

Sir Galardoum: “Meu Deus! O fogo pode se espalhar pela cidade inteira.” 

Lady Marion: “Vamos rápido!”

Sir Enrick: “Usem areia! Essa porcaria se espalhará por tudo se usarmos água.”

Incêndio:

Quando eles chegam na entrada do bairro Judeu sentem o calor emanando das vielas. Há fogo dos dois lados das ruas. Os animais correm desesperados. Eles vêem ao fundo as pessoas. Algumas com os cabelos em chamas. Outras tem o corpo nú em carne viva. As roupas foram consumidas e agora a carne arde com o maldito bafo de dragão. O cheiro de carne queimada é horrível. Centenas de moradores saem dos subterrâneos de suas casas e se aglomeram na entrada do bairro para assistir a cena infernal. A placa de madeira com o candelabro judeu fica pendurada em chamas. O fogo se espalha pelos telhados. O lugar vira um inferno mergulhado no caos. 

Sir Galardoum: “Meu deus que tragédia!”

Sir Brastias fica pálido e começa a tremer diante do fogo. Ele vai ficando com os olhos esbugalhados em pânico e ele se ajoelha com as mãos no rosto urrando. Ele é levado para longe por Sir Galardoum. 

Sir Enrick: “Atenção todos, peguem elmos, baldes, suas mãos e joguem barro e areia. Vamos rápido!”

Tudo arde em chamas. As ruas são corredores infernais. O calor é horrível. Eles suam e sentem os seus rostos queimados. Algumas casas desabam e formam uma bola de fogo. Montes de corpos carbonizados estão no chão ardendo no meio da rua. Enquanto várias outras jazem em escombros negros fumegantes apagadas por baldes de madeira, elmos dos soldados e barris do povo que luta sem cessar contra o fogo. Muitas casas vão sendo apagadas. Eles vêem ao fundo uma estrebaria. Os cavalos correm pegando fogo atropelando alguns comuns. Uma mulher grita no segundo andar: “Ajudem! Por favor, estamos presos aqui! Tem crianças!”

Sir Enrick, Lady Marion e Caulas correm cruzando as chamas. Muita fumaça e o vapor do bafo de dragão irrita garganta e olhos. No primeiro andar eles acham uma escadaria. Lá em cima uma viga cai diante deles. Caulas se perde em meio a fumaça. Eles acham a mulher com quatro crianças e as guiam para fora do lugar em chamas. Mas Caulas se perde enquanto a escada que o levou para cima desaba consumida pelas chamas. Sir Enrick retorna cruzando as chamas. Caulas, intoxicado, fica tonto e começa a sentir que vai perder a sua consciência. Sir Enrick, lá debaixo,  vê caulas passando pela porta no segundo andar procurando uma saída. 

Sir Enrick: “Salte Caulas! Olhe para a sua esquerda e você achará a porta.”

Então Caulas acha a porta e salta para o primeiro andar. Eles atravessam as chamas e logo a construção vem toda abaixo. Caulas se senta no chão tentando recuperar o ar. Cheio de queimaduras e com os olhos e gargantas irritados ele treme assustado. A mulher e três filhos choram abraçados já que um deles se perdeu e morreu lá dentro. As brasas ainda ardem e a fumaça se ergue para o céu escuro. O fogo não se espalha pela cidade mas existe morte por todos os lados. Cadáveres enegrecidos pendurados em janelas. Alguns reduzidos ao tamanho de bebês. Muito se abraçam e rezam chorando pela perda de tudo que tinham e de suas famílias. Assim começa a madrugada do quinto dia.

QUINTO DIA: 

No início da madrugada, sujos de foligem, suados e com o cheiro de carne queimada nos narizes os Cavaleiros observam o bairro semi destruído. Deverell vem até eles.

Deverell: “Senhor Marshall. Aquele garotinho esfarrapado, Adeen, deixou essa mensagem:  Vocês devem encontrar Murray no porto o mais rápido possível.”

O portão do canal está fechado. Eles passam por uma pequena ponte de pedra em arco próximo ao Portão das Águas. Um bando de mendigos está sentado próximo dali dormindo encostados um ao outro cobertos com peles de urso. Eles se levantam e se revelam. É Murray e seu bando. Existem pelo menos vinte homens nas vielas e becos ao redor. Quando eles se dão conta estão cercados pelo Bando dos Leprechauns. 

Murray: “Calma Senhores! É só por precaução! Não podemos confiar em nobres. Pelo jeito houve um estrago grande no bairro dos Judeus. Vamos direto ao assunto antes que os homens de Avitus nos encontre. Meus Leprechauns estão formando um círculo ao redor do perímetro. Se eles nos sinalizarem é hora de cairmos fora. Então, serei breve. Enquanto o inimigo atacava, um dos Adagas Sagradas se esgueirou na escuridão e passou pelos sentinelas saxões. Rastejou por entre as barracas e descobriu onde os desgraçados estocam o bafo de dragão. E sugiro que é melhor destruirmos todo o suprimento ou Londres cairá em poucos dias.”  

Sir Enrick: “Está certo... Iremos fazer isso! Se os ataques com fogo se intensificarem não sei se aguentaremos.” 

Murray: “Amanhã, mesmo horário. Venham preparados. Os bárbaros provarão do seu próprio veneno. Posso lhes guiar pelos melhor caminhos. Mas precisamos de guerreiros ao nosso lado para conseguirmos. ”

Eles escutam dos becos na escuridão sons de corvos.

Murray: “É o alerta! Alguém se aproxima.”

Então como que por encanto Murray e seus homens deslocam uma pedra e eles desaparecem rapidamente pelas galerias subterrâneas. Nos telhados vêem o bando dos Irlandeses correndo e desaparecendo. Alguns deles subindo pelos becos usando as paredes dos dois lados até alcançarem o topo. Em menos de dez batidas do coração o local está vazio.

SEXTO  DIA:

À meia noite do sexto dia eles chegam no portão das águas. Saindo dos vários becos e ruelas ao redor surgem os Irlandeses e os Judeus. Estão em quinze. Sir Caulas, Lady Marion, Sir Enrick, Sir Dalan, Sir Galardoum e dez arqueiros completam o grupo. 

Murray: “Leprechauns e Adagas sagradas. Estamos prontos para queimarem esses desgraçados. Os botes nos aguardam no cais do Tâmisa.”

Então Murray se aproxima do portão onde estão dois guardas. Eles não parecem se assustar com a presença do grupo. Murray entrega um embrulho para eles que imediatamente abrem o portão que dá para o porto na beira do Tâmisa. 

Murray: “Num cerco, um pedaço de carne vale ouro. Venham!”

A escuridão cai sobre o porto mergulhado nas brumas de Londres. Do outro lado do Rio, no lado sul da cidade sem muralhas, eles podem escutar as casas de tolerância e tavernas cheias de saxões. Os bárbaros cantam, outros riem. Choros de mulheres também são ouvidos. Algumas casas foram reduzidas a escombros por fogo. Eles embarcam em 3 botes, tiram as amarras e começam a remar contra a corrente em direção ao acampamento inimigo. 

Murray: “Alguém deve ir com um barco ir à frente guiando os outros por entre as brumas.”

Os botes adentram as brumas liderados por Sir Enrick. Só se ouvem o som dos remos enquanto os pequenos barcos avançam pela escuridão. Então derrepente os barcos encalham na margem de cascalho.

A margem está lotada com os mais de 200 barcos inimigos encalhados.  

Sir Brastias: “Todo cuidado é pouco.”

Descendo na margem barrenta, ao fundo, existem milhares de tendas parecendo uma pequena cidade. Por todo lugar eles vêem luzes de fogueiras mergulhadas nas brumas. Já é tarde da noite. Eles escutam alguns roncos de homens dormindo no interior de um dos barcos próximos. Existem sentinelas caminhando ao longo da margem. 

Sir Galardoum: “Não podemos deixá-los soar os chifres de guerra. Ou o acampamento inteiro acordará.”

Os adagas sagradas usam ganchos, em formato de meia lua, para entrar nos barcos próximos. Eles são ágeis e silenciosos. Só se escutam gemidos abafados e sons secos de corpos caindo degolados pelas estrelas de seis pontas afiadas, usadas como armas. Sir Enrick, Lady Marion e Caulas matam um sentinela cada um. Os arqueiros fazem o mesmo. Passando pela relva, os barcos ficam para trás. Algumas poucas risadas são ouvidas pelo acampamento que dorme sem desconfiar da presença dos heróis. Existem alguns capões de floresta ao redor do campo. Um dos Leprechauns se aproxima dos Cavaleiros.

Dermot: “O acampamento bloqueia a estrada que leva ao oeste. Eles guardam as provisões de bafo de Dragão na retaguarda.”

Sir Brastias: “Nessa bruma é muito fácil de nos perdermos e nos vermos em meio as linhas inimigas.”

O grupo caminha em meio as brumas. Mas Caulas se perde por um momento e então tropeça em algo. Um saxão que dormia ao lado da fogueira. O bárbaro se levanta confuso achando que Caulas é um deles. Quando  o Cavaleiro celta saca a sua espada ele percebe o perigo e os dois lutam. Por duas vezes o bárbaro tenta levar ao lábio o corno de guerra para dar o alerta. Mas Caulas consegue derrubá-lo e atravessar a sua garganta com o gume de sua espada. O homem se debate se afogando no próprio sangue até morrer.

Finalmente transpondo as brumas eles se aproximam de um foço cavado na terra de 4 metros de profundidade. Do outro lado estacas junto à um cerca de madeira de 3 metros de altura que circula a área. 

Dermot: “Está ali! Todo o estoque de Bafo de Dragão que esses desgraçados podiam guardar.”

Marion com muita agilidade salta no foço, se esgueira por entre as estacas afiadas e sobe com agilidade a murada. Lá dentro existem seis tendas. Existem 4 homens sentados no centro conversando e 4 Rottweilers circulando pelo pátio. Lady Marion fica escutando eles conversarem por algum tempo.

Sentinela 1: “Pois eu estou te falando homem, não vai demorar muito.”

Sentinela 2: “Foi o primeiro ataque usando fogo e os desgraçados entraram em pânico e já começaram a negociar.”

Sentinela 1: “As raposas sabem que não adiante bancarem os heróis. Eles tem muito mais a perder do que nós.”

Todos atravessam o foço e sobem na muralha. Sir Enrick, os 10 arqueiros e Lady Marion atiram com os seus arcos neutralizando os sentinelas. Eles entram no forte de madeira e acham dez carroças carregadas com uma centena de bolsas de couro de foca. O cheiro caustico irrita os narizes e os olhos. Eles vêem algo escondido coberto por lonas de couro gigantes. Quando se revelam são os Trebuchets dos inimigos que estão reunidos ali. Seis ao todo.

Sir Dalan: “Isso vai levar pelos ares metade do acampamento.”

Então eles olham e um som gela a alma dos heróis. Um saxão surge de uma tenda escondida na escuridão no canto do forte. Ele olha assustado e assopra um chifre de guerra. Por uma batida do coração, que mais parece uma eternidade, tudo fica em silêncio. Derrepente uma gritaria começa nas milhares de tendas do acampamento inimigo. Enquanto chifres de guerra soam por todo o lugar. O homem é morto pela flecha de Sir Enrick.

Sir Enrick: “Precisamos sair daqui e rápido! Como atearemos fogo nisso? Peguem um dos barris e corram. Abram os portões.”

Ao abrirem os portões uma multidão de saxões correm em direção ao forte. 

 Sir Caulas: “Droga! Pelo outro lado!”

Sir Galardoum: “Calma todos! Me escutem! Eu ficarei e acenderei o fogo. Não tenho mais nada. Eu quero fazê-lo e vou fazê-lo! Agora vão! Eles estão chegando!”

Lady Marion: “Vamos! Não há tempo!”

Eles saltam as muralhas. Os arqueiros, os homens de Murray, Lady Marion, Caulas e Sir Enrick. O Marshall olha para trás uma última vez e vê Galardoum pegando, fora dos portões, uma tora em chamas de uma fogueira enquanto os saxões invadem o forte. 

Os heróis saltam rapidamente para o fosso e saem do outro lado. Menos Sir Enrick e Caulas. O Marshall solta um grito de dor quando a sua perna é quebrada na queda. Lady Marion salta novamente e com a ajuda de Caulas retiram Sir Enrick de lá. Ele geme de dor enquanto guia o grupo para a margem do tâmisa ocultos pelas brumas. Então eles chegam na margem e percebem que existe uma grande movimentação dos saxões correndo para o lado oposto do acampamento.

Enquanto embarcam vêem os pássaros dos capões próximos levantarem vôo. Então tudo  parece estremecer e um som crescente como um silvo vai ficacando tão grave que causa enjôos. Uma grande explosão ilumina a noite, em meio à bruma, os cegando por alguns instantes. Um cogumelo formado por uma gigantesca bola de fogo, do tamanho de uma catedral, se ergue em direção ao céu. Ao redor o calor varre tendas e as cabanas se incendeiam. Gritos de desespero são ouvidos e uma multidão de homens correm na direção do Rio Tâmisa. Eles vêem seus corpos ardendo com as peles descolando de seus corpos. Alguns parecem monstros negros. Um geme sem o maxilar com o seu rosto reduzido à uma maça carbonizada cor de carvão enquanto corpos em chamas se amontoam ao redor dos corredores em chamas. 

Quando chegam ao porto e atravessam o Portão das Águas as pessoas acordaram assustadas com o imenso barulho gerado pela explosão. Todas as pessoas saíram de suas casas e olham para o céu alaranjado, iluminado pelas chamas incandescentes que queimam mais altas que as muralhas. Facilmente os heróis se misturam a multidão que se abraçam felizes olhando o espetáculo. Murray caminha pelo povo com um riso contido de alegria. Ele olha para trás e os cumprimenta com um aceno de cabeça antes de sumirem nas ruas de Londres. Sir Enrick é carregado pela basílica desmaiado de dor.

VINTE DIAS: 

Os dias passam. O calor só torna o cheiro forte de esgoto da cidade em algo que beira o insuportável. O tempo passa lento. Ainda não foi necessário usar as provisões reservas de comida e a cidade parece respirar um pouco aliviada depois de parte do acampamento inimigo ter sido incendiado. Metade do exército inimigo foi varrido e queimado pela explosão. Na Catedral de São Paulo é rezada uma missa em homenagem à Sir Galardoum.  Dos dois lados não existe movimento. Os saxões fazem o bloqueio da cidade e Londres aguarda. A guerra de nervos permanece sem vencedores. Os heróis se reúnem na Basílica convocados pelos três homens do conselho. Estão todos sentados esperando Avitus. 

BASÍLICA: 

Avitus, acompanhado de seus treze arautos, entra e toma o seu lugar na cadeira do conselho. Tudo que ele fala é anotado por eles. Seguido deles, usando vestes caras e com os seus dedos cheios de jóias está Hanz Duplain. 

Avitus: “Bom dia a todos! Um dos meus pardaizinhos me contou que vocês foram responsáveis pelo show de labaredas. É verdade?”

Sir Enrick, com a perna em uma tala ajudado por Deverell se senta na primeira arquibancada.

Sir Enrick: “Sim, fomos nós.”

Avitus: “Ótimo, ótimo. Confesso que estou preocupado com essa ajuda que andam recebendo. O preço pode ser alto. Todos da cidade já sabem que essas gangues estão lutando e ganhando a guerra junto com os nossos nobres. Esses marginais estão sendo endeusados pela plebe. ”

Hanz Duplain: “Para que isso não aconteça e para que as línguas grandes não saiam falando coisas que não devem Murray e cada líder dos quatro irão ser enforcados hoje à tarde. Colocaremos outros líderes nessas gangues, digamos, mais domesticados.”

Avitus: “Mais dóceis e obedientes. Lembrem-se que o conselho é soberano e é reconhecido pela sua suserana. E essa é a nossa decisão. Não podemos deixar o poder na mão dessa patuléia. No mesmo horário vocês irão supervisionar pessoalmente as defesas das muralhas. Retirem-se imediatamente.”

Lá fora, na rua principal onde existe a basílica eles conversam ao pé da escada.

Sir Bruce: “Então como é que é? Vamos deixar por isso mesmo ou...?”

Sir Enrick: “Esses homens de Murray são marginais. Nos ajudaram, eu sei. Mas acho que não temos porque nos metermos nisso. É problema de Londres.”

Sir Alain: “Infelizmente temos uma cidade pra defender. Eles escolheram um caminho clandestino e deveriam saber que isso não poderia acabar bem. Vamos temos trabalho a fazer. Se Londres cair, cairemos todos!”

Lady Marion: “Eu não sei se não deveríamos salvá-los. Algo me diz que sim.”

FIM

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