quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Aventura 37: A Batalha de Bedegraine: Ano 510 e o Preço da Magia: Ano 511



NOTA DO MESTRE: Tivemos a honra da participação do jogador Mario Márcio Felix como Padre Carmelo em nossa Round Table! Valeu irmão!


Dinton:

O dia amanhece frio em Dinton. As plantações, abaixo da colina do Motte and Baile, estão queimadas e a maioria dos objetos de valor foram levados da capela de São Paulo. Mas a cripta dos Sine Nomine serviu para proteger metade dos aldeões, a corte e a família dos Stanpids, que vivem em Dinton. O restante foi levado como escravos ou sacrificados a Wotan. 

Sir Bernard, vestido com peles, na varanda do grande salão, observa do alto, com um copo de hidromel quente nas mãos, os aldeões reconstruírem as casas de telhado de palha trançada, na vila lá embaixo. Sir Bernard vê um pássaro passar pelo alto de sua cabeça e chegar no segundo andar. Padre Carmelo, lá em cima, na soleira do quarto, recebe uma mensagem com o selo dos Pendragon. 

Padre Carmelo: “Senhor! Recebemos uma carta do novo Rei. Permita-me ler.”

Sir Bernard: “Por favor Padre, pra mim são só rabiscos que se misturam no pergaminho.”

Mensagem: 

Caro Bernard Stanpid, o Primeiro em seu Nome.

Folgo em lhe enviar essa missiva, meu amigo, informando as boa novas do reino e uma notícia grave. 

A reconstrução de Londres está sendo um sucesso. O povo e os nobres estão auxiliando com suor e libras, em grande parte graças aos esforços de Rei Arthur Pendragon. Ele está reforçando suas lanças com um coração dourado e muita coragem, apesar da pouca idade. Foi coroado em uma grande cerimonia, com tanta gente que nem os deuses poderiam contar! O dinheiro para tal festa veio do tesouro do Bando Branco, que eu,  Conde Robert, nossos escudeiros e Sir Sagramor, fomos buscar em Sussex, o que foi uma aventura por si só!

Fomos para Carlion, para o Supreme Collegium, oficializar seu reinado diante dos nobres de toda a Bretanha. Foi um dos momentos mais bonitos que já vi, mas o que seguiu depois...

O maldito Duque Sanam de Bedivere, com mais de mil homens, fez um cerco a cidade! O novo Rei, vendo que não teríamos muito mantimentos, e querendo reforçar sua autoridade, ordenou que fôssemos para a batalha!

Foi uma carnificina cruel. Lutamos bravamente, bem como o restante da Velha Guarda da Ordem da Cruz e do Martelo. Vencemos, com um gesto audaz e inteligente do Rei Arthur: ele convenceu, em meio ao combate, em pleno fosso de Carlion, ao Duque para que lhe ordenasse cavaleiro, com a própria Excalibur, para que então o Duque pudesse servir o Rei! Suas tropas de Bedivere se renderam no ato e vencemos! Contudo, tivemos algumas baixas...

Sir Brastias foi capturado e até agora não foi mais visto. Lady Arina foi morta em combate, decapitada. O senhor seu pai, Conde Enrick, se feriu gravemente tentando defender o flanco do Rei. Foi levado às pressas para Londres. Rezemos que os físicos consigam fazer alguma coisa. Duque Sanam, agora convertido a nossa causa, disse que o Rei Lot tem um grande exército na floresta de Bedegraine. Iremos nos reunir em Gloucester para atacar, e o Rei ordenou sua presença e de suas tropas. Mas sei que um Stanpid não foge à luta. Nos vemos em breve, amigo!

Boa sorte com os saxões. Se precisar de ajuda, saiba que o clã Herlews e a coroa dos Pendragon jamais negarão auxilio à quem tanto nos ajudou.

Que a Deusa o Ilumine.

Barão Brian Herlews de Winterbourne Gunnet
Carlion, outono de 510

Sir Bernard: “Padre Carmelo, prepare-se para viajarmos, o novo rei nos convocou.”

Gloucester:

No acampamento do jovem Rei Arthur, agora High king da Britânia, os feridos são levados para Londres. O exército formado por 3.500 soldados parte de Carlion em direção ao norte da Cumbria. A viagem até o norte, onde o exército rebelde está acampado, levará por volta de 20 dias. A primeira parada é nos arredores de Gloucester, Ducado pertencente ao Duque Scan, o homem que atacou Duque Enrick no Supreme Collegium em Londres, e é o senhor dessa cidade romana. O Lorde e seu exército não estão na cidade, que está trancada dia e noite, enquanto a força do Pendragon está em seus portões. Arthur solicitou à Merlim, há alguns dias, que enviasse alguns pássaros para os Lordes que possuam arqueiros. Já se passaram 2 dias e nenhum deles veio cumprir o seu juramento ao novo rei. 

Os cavaleiros de confiança do Rei Arthur, se reúnem ao redor da fogueira, enquanto pequenos flocos de neve flutuam, e os escudeiros servem vinho quente e cozido de nabo com lebre aos seus Senhores. 

Rei Arthur: “Gawaine! Não te agradeci quando ficou do meu lado em Londres. Seu pai ficou enfurecido no Supreme Collegium por você ter se recusado a seguí-lo; agora estamos indo enfrentá-lo. Você está livre para ir, se quiser.”

Gawaine: “Majestade, obrigado por me dar essa opção, mas lhe jurei lealdade. Lutei ao lado de todos os Lordes e sou escudeiro de Sir Sagramor. Aqui sei o valor de cada um. Sei que o meu lugar é junto de vocês; ao lado do meu tio.”

Rei Arthur (tocando no ombro): “É estranho, não é? Nós temos a mesma idade e você me chamando de Majestade, Senhor e Tio. Também não me acostumei com a idéia de que iremos enfrentar meu cunhado, seu pai...” 

Os dois com 18 verões riem sem graça.

Rei Arthur: “Brian, algum lorde atendeu ao chamado dos arqueiros que solicitei?” 

Barão Brian: “Poucos Majestade! Depois que perdemos Lady Marion, que os treinavam e comandavam, eles minguaram.”

Rei Arthur: “Mas notícias, Marshall! Apoiar um rei em tempos de paz sempre é fácil. São nesses tempos mais escuros que vemos quem está ao nosso lado.”

Rei Leodegrance de Cameliard: “Realmente o combate com o Rei Lot será bem mais duro. Próximo a Bedegraine tenho uma guarnição em Stafford, há três dias da estrada real, com quatrocentos arqueiros.”

Rei Arthur: “Quando estivermos próximo de lá, os convocaremos, Leodegrance.”

Dali o Barão Brian pode ver Sir Aengus Storm, o cavaleiro pai de Enora, Lady cuja qual Brian cortejou e está apaixonado. Ele veste uma das melhores armaduras de aço do exército. Uma mistura com luvas articuladas, peitoral romano e elmo fechado, toda trabalhada com raios dourados. Sua túnica é vermelha de um lado e negra do outro. Seus escudo possui um campo negro e vermelho quadriculado com um grande raio amarelo no centro. 

Barão Brian: "Accolon, o que sabe à respeito de Sir Aengus?" 

Sir Accolon: "Esse é o Senhor da Tempestade. É o nome de seu castelo ao norte de Sarum. Um dos senhores mais ricos da Britânia. Mas... Ele é um homem extremamente cruel. Não poupa um inimigo e o pior de tudo; dizem por aí que ele não os mata!"

Chegada de Sir Bernard e Padre Carmelo:

Na manhã seguinte Sir Bernard e Padre Carmelo chegam ao acampamento do jovem Rei Arthur Pendragon. Carmelo e Bernard não podem acreditar quando se deparam com 3.500 homens acampados. A força que partiu com menos de 1000 lanças teve seu contingente aumentado consideravelmente e colore com os seus pavilhões e estandartes os arredores de Gloucester. O lugar parece um formigueiro com escudeiros, cavaleiros, suas montarias e soldados preparando as suas armas e equipamentos para partirem. No centro, daquele mar de tendas, está o pavilhão real e ao redor o de seus cavaleiros e reis vassalos. Arthur e todos ali estão preparando os seus cavalos de carga e de Batalha para viajarem. 

Rei Arthur: “Vejo que recebeu minha mensagem, amigo. Como estão as coisas no oeste?” 

Sir Bernard: "Sofremos ataques dos Saxões. Muitos feudos tiveram perdas pesadas. Alguma notícia de meu pai, Majestade?"

Rei Arthur: “Aos poucos os bárbaros estão retornando ao ataque. Mas, sinto muito pelo seu pai. Ele me protegeu como pode! Não tivemos notícia mas tenho certeza que ele escapará dessa. Já cumprimentou o novo Marshall da Britânia?” 

Sir Bernard: "Parabéns Brian! O reino estará bem servido com um Herlews como Marshall."

Merlim: “Ah, aí estão vocês! (a coruja voa e pousa no ombro de Brian) Padre, Cavaleiros... Dessa vez parece que não precisarão de um barril para levar o rei com vocês. Garotos, estão recuperados? (os escudeiros concordam com um aceno de cabeça) Muito bom, porque o Rei precisará de todos vocês. Não será fácil essa jornada ao norte. Cormak, seus corvos estão cada vez mais espertos. Vocês sabem o que dizem de criar corvos, não é?”

Sir Sagramor: “Vamos homens! O Rei já está partindo... Venham!”

Merlim bate no ombro de Cormak e some por entre as tendas. Algo parece coçar no seu ombro. Quando ele olha parece ter uma marca de nascença no lugar, no formato de um corvo de asas abertas, deixando o rapaz muito impressionado.

Padre Carmelo: "Vamos trabalhar direito aí seus escudeirinhos verdes. Vamos codornas!"

Cormak: "Codorna? Eles nos chamou de codorna?"

Breno: "Chamou!"

Viagem para o norte: 

Então a grande força marcha pela estrada real. Existem dias que a caminhada é mais lenta, passando pelas estradas barrentas agora sem pavimento, e outros de deslocamento fácil, mas perigoso, em território aberto. O frio do outono castiga à todos. Ao anoitecer os carros de boi são usados como barricadas e os lanceiros protegem o perímetro do enorme acampamento. As florestas surgem à esquerda da estrada e com o passar dos dias dos dois lados dela. Os batedores trabalham da alvorada ao anoitecer. Os cavaleiros, seus escudeiros e Merlim viajam em compania do novo Rei. No décimo oitavo dia, pela manhã, o Rei Leodegrance se aproxima vindo do centro da coluna.

Rei Leodegrance: “É aqui, Majestade! A junção da estrada que leva à oeste para o meu reino. A guarnição de arqueiros está aquartelada, naquela direção, em Stafford.”

Rei Arthur: “Barão Bernard, está aqui o anel que pertencia à todos os Pendragons. Fale em meu nome, e vá até Stafford trazê-los.”

Merlim: “Majestade, sugiro que leve Sir Bernard e os garotos. Eles precisam de experiência. Existem muitos romanos na região. Carmelo deveria seguir junto com eles para traduzir.”

Rei Arthur: “Que assim seja meu bom Druida! Vão e voltem inteiro meus amigos. Nos encontraremos ao sul de Bedegraine para iniciarmos a Batalha. Que o deus novo e os antigos estejam com vocês.”

 Viagem: 

O pequeno grupo formado por Sir Bernard, o Barão Brian, seus escudeiros Cormak, Breno e o Padre Carmelo partem ao amanhecer em direção à Lambor, para depois entrarem em Cameliard. A região inteira é coberta por uma floresta de pinheiros, salgueiros e carvalhos. As trilhas, que passam através das árvores, são feitas de terra clara, coberta por folhas e bolotas que caem das árvores.

Primeiro Dia:

A região, antes pacificada pelo Rei Nanteleode e devastada pela guerra dos últimos anos, começa a florescer novamente devido a aliança com o jovem Rei Arthur. Mas as estradas estão vazias, diferente dos outros reinos. Quatro Cavaleiros se aproximam em patrulha, do lado oposto da estrada, com as mãos nos cabos de suas armas, mas quando vêem o broche da Resistência Celta eles sorriem e fazem uma reverência. Eles falam em Latim enquanto o Padre Carmelo traduz.


Sir Appius: “Boa dia Cavaleiros, vejo que levam o broche do novo rei! O que os trazem a Lambor?” 

Padre Carmelo: "Estamos indo para Stafford em nome do Rei Arthur."

Cavaleiro Romano: “Tenham cuidado porque meus homens viram tropas se movendo nas estradas de Cameliard.”

Segundo Dia: 

À noite passa com os homens se alternando como sentinelas. Pela manhã o grupo segue pela estrada e entra no Reino de Cameliard. Patrulhas de Cavaleiros passam por eles  os cumprimentando, já que ficaram conhecidos na coroação de Arthur e esses homens são jurados ao Rei Leodegrance. As estradas também estão desertas e as vilas abandonadas. No meio do dia começa a chover forte e a estrada de terra fica molhada e difícil de ser vencida. Então anoitece e os cavalos encalham na terra lamacenta expondo o grupo ao vento, chuva e barro no meio da trilha, que não mais existe, coberta pela água. 

Sir Bernard caminha buscando um abrigo. A chuva intensa e a mata com as árvores todas iguais faz com que o cavaleiro se perca e não retorne. Então o Barão Brian, o Padre Carmelo e os escudeiros Cormak e Breno deixam a trilha e se dirigem para o lado oposto ao que Bernard partiu. Ali, eles encontram casas de pedra abandonadas que formavam uma pequena vila romana. Eles entram e acendem uma fogueira para se aquecer. 

O Barão Brian parece ter ouvido um som lá fora. Ele espia pela janela da cabana.  Quando está tentando distinguir formas na escuridão uma flecha acerta o batente quase o atingindo no rosto. No meio da chuva um arqueiro se revela com um brasão no peito.  O escudo é branco com listras vermelhas. O arqueiro usa um capuz; quando o retira o homem está usando um elmo aberto com uma coroa presa no topo. Aos seus pés está Sir Bernard ajoelhado e amarrado pelos pulsos.

Arqueiro: “Bonne nuit, Celtas! Je suis Rei Ban, estão cercados! Que maldita terra é essa que não para de chover? Saiam dessa maison com as mãos para cima.” 

Barão Brian: “Parado Franco! Tenha calma. Quer travar batalha?”

Sir Bernard: “Acalmem-se todos! Não faça besteira Brian!”

Nesse momento os homens ao redor se revelam. Talvez 450 deles entre lanceiros, cavaleiros e arqueiros. O Barão Brian percebe que os arqueiros usam a túnica com o leão de Leodegrance, o rei aliado de Arthur, no peito. Os outros infantes vestem a mesma cota do Rei francês.

Rei Ban: “Escudeiros, laissez votre jeûne paresseux. Vamos tomar um vinho e comer um belo queijo no desjejum, não é? Por favor! Podem descansar Chevalier, vejo que vestem a ruína do novo Rei. Podemos sair dessa água putan? Desamarrem Sir Bernard, desculpe mon ami.”  

O grupo vai até o interior da casa enquanto a milícia se abriga nas outras.

Rei Ban: “Eu sou Rei Ban de Benoic, da terra dos francos, somos herdeiros do senhor do Castelo de St. Michel du Mont, Rei Boors. Meu irmão, que possui o mesmo nome de meu pai, também cruzou o canal para a coroação do Rei Arthur Pendragon. Mas o tempo estava terrível nessa ilha e chegamos dois dias atrasados. Estamos em seus calcanhares há duas lunes. Depois recebemos notícias de uma Bataille. Como sempre fui aliado do Rei Uther, pai du garçon, estamos aqui para fazer une alliance. Por isso meu irmão, Rei Boors da Gália, está indo a Bedegraine, junto com meu filho e 50 homens para observar o que está acontecendo e bater o terreno. Ficamos para trás porque fomos buscar ajuda com Leodegrance; soubemos que um exército rebelde estava ao norte preparando uma cilada pelos homens que fugiram na última Bataille; mas parece que o velho lion está com o seu novo Rei; Esses archers são dele. Le jovem roi está indo direto para un piège. Como se diz em celtic... PARA UMA ARMADILHA!”

Sir Bernard: “Ao amanhecer temos que partir o mais rápido possível!”

Nas primeiras luzes do dia eles seguem em direção a Bedegraine, marchando pela margem do rio Trent enquanto a chuva dá uma pausa. 

Rei Ban: “Nem sinal de nossos batedores e do meu irmão.”

Padre Carmelo: “Gostaria de sugerir duas linhas de arqueiros, Majestade! Até onde possamos enxergá-las.”

Rei Ban: “Boa idéia, meu bom prêtre!”

A milícia do Rei Ban e os heróis cavalgam por mais de três horas. Então eles surgem, boiando na água, presos nos galhos da margem lamacenta do Trent. Eles vêem um bando de lobos comendo algo, enfiados na lama, com as patas dentro da água do rio. Os animais correm para longe rosnando, com as caras cheias de sangue. Ali estão os cavalos destroçados com os seus cavaleiros mortos com ferimentos de batalhas. São mais de quarenta deles. Eles percebem serem homens do Rei Arthur. Os animais estão inchados e os cavaleiros já estão em estado de putrefação e devem ter morrido a mais de um dia.

Os homens da milícia passam pelos cadáveres prendendo a respiração para não sentirem o cheiro de morte. Então, um grupo de aldeões surgem, navegando um pequeno barco, vindo em sentido contrário. Eles reconhecem os estandartes dos Herlews e dos Stanpids.

Aldeão: “Senhor! Cuidado, pra cima do rio, está cheio de pictus. Houve batalha ontem o dia todo contra o novo Rei Arthur. Ele estava numa colina com o seu exército e estava vencendo, mas os mercenários pictus são covardes! Atacavam só os cavalos e os homens do Pendragon tiveram que recuar. Nenhum exército deixou a região e estão esperando o outro se mexer. O Rei Arthur está com um exército bem menor. Ele estão à frente. Não mais que uma hora de marcha.”

Batalha de Bedegraine:

Depois de uma hora, mais corpos descem o rio, dessa vez de pictus, com o sangue fresco deixando o rio vermelho. Então, mais corpos flutuam. Dessa vez de soldados do Rei Leodegrance e depois dos homens do Rei Alain. Então, o som de batalha começa a aumentar, a medida que se aproximam, até que avistam, por entre as árvores, uma batalha enorme acontecer. Homens pelo chão com os seus intestinos se arrastando na lama; cavalos mortos; cadáveres decapitados. Os pictus pintados de azul usando espadas, machados de pedra, lanças e escudos, lutando como selvagens, saltam das árvores. Os arqueiros que acompanham a força Franca começam a disparar causando o caos nas fileiras inimigas.

Rei Ban: “Atencion homme! Charge!”

Primeira Hora:

Então, os heróis acompanhados pela milícia do Rei Ban, formada por 450 homens, se aproximam do campo de batalha coberto pelas copas de pinheiros. 

Rei Ban: “Homens, sigam moi!” 

Eles entram pela retaguarda da batalha em carga total, que a essa altura já está no segundo dia e com as forças misturadas. Os cavaleiros de Lothian, surpreendidos, se viram no último minuto quando escutam o grito de guerra das tropas Francas se aproximarem. O ataque é forte e letal. A cavalaria passa por cima do inimigo matando todos os homens que tentam os bloquear. Brian e Bernard inspirados, seguidos por seus escudeiros, manejam suas lanças de forma mortal. Enquanto o padre Carmelo, seguindo com o seu rápido Pônei, mesmo ferido, luta matando seus inimigos com a sua gladius. 

Segunda Hora: 

Depois da carga devastadora a retaguarda inimiga se abre e as tropas do Rei Ban conseguem penetrar no centro da batalha. Dali dá pra se ver o brilho da Excalibur no meio da multidão que tenta chegar em Arthur para matá-lo. O Rei Lot e seus aliados abrem caminho por entre as linhas Britânicas matando à todos sem piedade. O combate está feroz. Os Pictus com corseletes de couro, armados com lanças, usando elmos de couro e escudos tentam bloquear o avanço da unidade comandada por Sir Bernard. 

Pictu: “Não deixem eles protegerem o Rei Lot! Serrar fileiras!”

O Barão Brian mutila com a sua espada, enquanto Cormak protege um de seus flancos abrindo a guarda do pictu com o seu escudo e cortando a sua jugular. Sir Bernard cavalga com a espada fincada no peito do inimigo sem armadura e o carrega o rasgando de baixo para cima dividindo o corpo do pictu em dois. Ao seu lado Breno Stanpid fura a garganta, com a velocidade de sua montaria, fazendo a lâmina sair pela nuca de seu inimigo enquanto Carmelo, salta com o seu cavalo abrindo cota e o peito de seu adversário. O Rei Ban combate com força. Ele usa sua espada e escudo matando os pictus ao seu redor. Sua milícia o acompanha, em formação em círculo, enquanto avançam em direção ao rei. Os heróis vêem Sir Accolon, Sir Sagramor, Sir Kay, O Rei Alain, Leodegrance, Bedivere, Sir Ector lutando como loucos, tentando proteger o Rei Arthur que está com a espada sagrada cheia de sangue. 

Terceira Hora:

Então o Rei Lot, forte e alto, fura o cerco, com a sua guarda pessoal. Seu filho, Gawaine, tenta bloqueá-lo. O Rei não tem piedade e acerta o rapaz com a espada no  meio do rosto. Ele leva a mão ao ferimento e cai de seu cavalo aos gritos, com a face coberta de sangue. 

Rei Arthur: “Desgraçado! Um homem que ataca o próprio filho não pode ser um bom rei! Duele comigo. Venha  pegar a Excalibur seu filho de uma puta!”

O Rei Lot desmonta e grita de ódio, partindo para cima do rei, e os dois iniciam uma luta feroz.

Rei Lot: “Rei sem barba! Excalibur será minha! Lhe ensinarei a não mexer com homens crescidos! Até a morte!”

Rei Arthur: “Até a morte!"

Os heróis vêem um bando de pictus, eles não usam armadura nenhuma; eles estão nus. São homens e mulheres armados com facas de pedra polida, uma e cada mão e são rápidos como demônios. Atacam como uma horda, peritos em escalar cavalos em movimento e matar seus cavaleiros. Os soldados Britânicos, a pé, são mortos degolados e afogados no próprio sangue antes que consigam dar um golpe. Eles mal conseguem acompanhar a velocidade de seus ataques. Alguns deles tentam escalar as montarias enquanto a cavalaria Franca e os heróis os golpeiam. Todos estão inspirados tentando salvar Arthur e sofrem ferimentos que são absorvidos pelas suas cotas de malha. Os heróis reagem os degolando e usando os escudos para derrubá-los, enquanto a infantaria do Rei Ban os abatem com machados e lanças.

O movimento da batalha faz o grupo chegar onde o rei Arthur está. Ele duela com Lot ferozmente, inspirado pela Excalibur. 

Lot: “Você vai sangrar, Rei sem barba! Seu merdinha! Quer ser homem lute como um.”

Então os dois cruzam espadas enquanto Arthur sente o peso dos golpes do Rei Lot, que o atinge várias vezes, até que o Rei Britânico derruba a espada sagrada. A guarda do Rei inimigo ataca os heróis e os francos, que se aproximam, com toda força. 

Quarta Hora:

Então, nesse momento o som de um chifre de guerra é ouvido. Onde os heróis estão, próximos a três grandes árvores, no lado oposto ao rei Trent, existe uma subida coberta por árvores e terra marrom; e é de lá que o som vem. Montado, um homem igual ao Rei Ban, também usando uma coroa, segue junto com os cavaleiros. Um dos cavaleiros segue na vanguarda a pé e os lidera; ele é magro e não usa escudo; seu elmo é um hound skull prateado e nele foi gravado o desenho de um braço feminino saindo da água empunhando uma espada; usa luvas articuladas; uma cota de malha coberta por uma túnica branca e no peito o brasão listrado diagonalmente em vermelho e branco. O homem está armado com uma espada longa de duas mãos. 

Rei Ban: “Grâce à Dieu! C'est mon fils! É meu filho!”

Ao estar próximo, o brilho da Excalibur atinge os heróis e eles sentem seus músculos se encherem de energia e seu coração de coragem. A guarda pessoal do Rei de Lothian é formada por homens de elite. Os mais fortes, mas bem protegidos e mais bem armados. 

Comandante Pictu: “Protejam Lot ele está capturando a Excalibur! Atacar!”

O Barão Brian é atacado por um cavaleiro inimigo que abre a sua guarda com um encontrão de seu cavalo e é atingido por um golpe de espada amaçando o seu elmo e rasgando os anéis de sua cota causando um grande hematoma em seu peito. Carmelo também é atingido e seu pescoço verte sangue. Breno corta uma das pernas de seu adversário que cai e fica pendurado pelo estribo enquanto seu cavalo corre desordenadamente. Cormak e seu Senhor, Sir Bernard, matam os outros dois cavaleiros. Num contra golpe rápido Brian e Carmelo decapitam os homens da guarda real rebelde.

Ao redor muitos homens já quebraram o cerco. Todos lutam selvagemente tentando sobreviver. Sir Kay se abaixa de um golpe e esfaqueia seu inimigo no meio das pernas. Sagramor, vomita de adrenalina e luta a pé com sua massa de guerra em formato de cabeça de urso, prendendo um homem pelo pescoço no chão, com os pés em seu pescoço, e explode a sua cabeça lançando ossos, miolos e sangue nas pernas de todos. Sir Accolon se arrasta pelo chão, muito ferido, enquanto de sua boca e nariz o sangue verte. Gawaine é arrastado pelos homens de seu pai com um corte terrível cruzando o seu rosto. Enquanto Lot babando e gritando de ódio enfia a espada no lado esquerdo do peito de Arthur. Quando a espada sai o sangue verte e escorre fumegante, enquanto o jovem Rei cai de joelhos diante do Rei rebelde, que sorri com o rosto maligno, olhando para a Excalibur caída diante de seus pés. 

Quinta Hora:

Os cavaleiros da Terras dos Francos chegam descansados e abrindo caminho. A sua carga é tão forte e inspirada, comandados pelo homem usando o elmo prateado, que ela pressiona o inimigo fazendo-os se virar em sua direção. A cavalaria franca passa pelo seu líder e então ele aproveita a brecha na linha inimiga e começa a lutar. A velocidade que o cavaleiro manipula a lâmina é impressionante. Ele mata um homem de uma lado e quando o outro o ataca ele já não está ali. A espada de um pictu é retirada com muita habilidade fazendo ela girar no ar e cair em sua outra mão. Então ele abre os braços matando um inimigo de um lado, agora desarmado, e o outro que tentava achá-lo depois do último golpe. Ao seu redor os pictus vão sendo mortos sem ao menos conseguirem causar-lhe um arranhão. 

Então eles chegam onde os heróis estão. Os Cavaleiros de Lot ficam presos no centro do combate cercados pelos Britânicos e Francos. 

Rei Lot: “Lutem! Estamos cercados! Lutem ou morreremos!”

Inspirados pela Excalibur, os heróis cantam a canção da espada. Montados, eles habilmente se movem fechando o cerco matando os últimos cavaleiros Pictus que se interpõe entre eles e o Rei rebelde. Cansados e cobertos de sangue eles gritam enquanto tentam se aproximar para salvar o Rei Arthur.

Do outro lado o cavaleiro misteriosos rola e se levanta girando e decapitando um homem todo pintado de azul. Ele se abaixa quando um machado tenta silenciá-lo. Quando o homem vai golpeá-lo o pictu percebe que está sem os dois braços e cai no chão gritando. O Cavaleiro salta e rola mais uma vez e dois pictus se esfaqueiam. O Cavaleiro derruba Lot pelas costas e ergue a sua espada de duas mãos, atrás da cabeça, para matá-lo enquanto o Rei rebelde derruba Excalibur. Então uma voz soa alto, em meio ao combate que ocorre até onde a vista alcança, dentro floresta. 

Comandante: “Parado! Se matar o nosso Rei, Gawaine será morto imediatamente.”

Então eles vêem o rapaz, na montaria de um dos Cavaleiros inimigos, cercado pela guarda pessoal de Lot, com uma adaga em seu pescoço; o ferimento em seu rosto sangra bastante e um dos olhos vaza. Arthur, em uma poça de sangue rubro, se arrasta com a Excalibur novamente em suas mãos até um grande carvalho e apoia as suas costas enquanto vê a sua vida se extinguir rapidamente. 

Rei Arthur (ergue o braço apontando com dificuldade): “Deixe meu cunhado ir! Poupem Gawaine, por favor. Não matem o rapaz...”

O Rei Lot passa por eles sem nunca lhes dar as costas. Seu escudeiro traz um cavalo e os irmãos de Gawaine os observam. O rei de Lothian sopra o corno de guerra. Seus filhos fazem o mesmo. Gawaine é jogado do cavalo com a cara no barro. Então o exército rebelde começa a se retirar em formação e em velocidade enquanto o jovem Rei Arthur cai desfalecido ao pé do grande carvalho.

Ali estendidos ficam os corpos de milhares de mortos. O choro dos feridos enche o ar e o cheiro férreo da lama de sangue abafa a mata. A batalha foi vencida mas sem dar um golpe definitivo aos rebeldes. Os corvos descem e começam a se banquetear em meio aos cadáveres. Os lobos com os seus focinhos cheios de sangue disputam nacos de carne com eles. Os vasculhadores de corpos chegam rápido remexendo em tudo e todos. Estandartes caídos servem como troféus, assim como orelhas, dentes, elmos e anéis. 

O Cavaleiro Misterioso: 

Gawaine está com o nariz quebrado e possivelmente com o rosto fraturado e cego de um olho. Arthur está pálido e bastante ferido. O ferimento pulsa em sangue vermelho e ele desmaia. 

Sir Ector: “Levem-no para o pavilhão e deixem o Rei descansar. Que deus te proteja meu filho.” 

Arthur é levado inconsciente até a retaguarda onde está o seu pavilhão, carregado pelo Barão Brian e Sir Bernard. O jovem Rei está pálido e seu sangue deixa um rastro marcando o caminho. Eles deixam o corpo do Pendragon em cima de uma mesa que se enche de cor rubra. 

Merlim: “Saiam e não entrem aqui por nada ou estarão em sérios apuros. Masson, a Chave de Salomão.”

Um francês, da corte do Rei Boors se aproxima de Merlim com um livro em suas mãos. 

Merlim: “Protegeu os pergaminhos muito bem, como lhe solicitei. Fez um bom trabalho. Transformou todos aqueles pergaminhos nesse volume. Os originais pertencerão a sua ordem para que possam protegê-los dos homens do crucifixo pendurados no pescoço.”

Todos aguardam ali fora enquanto o boato de que Arthur morreu se espalha por entre as fileiras. Os Cavaleiros do Rei escutam sussurros e começam a ver sombras caminhando, refletidas, por dentro do pavilhão real. Parecem que existem várias pessoas, contra a luz dos archotes, lá dentro. As sombras dançam em círculos cada vez mais rápidos. Algumas vezes parecem não serem humanos. Um vento sacode o pavilhão. Até que, derrepente, tudo fica calmo novamente. Todos ficam em silêncio observando enquanto os cristãos fazem o sinal da cruz. Os Cavaleiros se reúnem aguardando notícias do Pendragon.

Sir Sagremor: “Enquanto vocês buscavam os arqueiros nós fomos atacados ontem à tarde. Uma cilada no meio da floresta. Arthur nos comandou até o terreno alto e tínhamos a vantagem.”

Sir Kay: “É, mas os pictus atacaram nossos cavaleiros montados os matando. São especialistas nisso. Perdemos muitos e tivemos que recuar. Rei Lot fez o mesmo. Preparou seus homens e hoje após ao almoço nos atacou novamente.”

Conde Robert: “Não morremos por pouco...”

Accolon, bastante ferido e inconsciente, é levado em uma carroça, para as irmãs de um mosteiro próximo, que está recebendo os nobres feridos. Então o Rei Ban se aproxima seguido pelo outro Rei que possui as mesmas feições. 

Rei Ban: “Celtas, c'est mon irmão. Rei Boors de Ganis.”

Rei Boors: “Lutaram trés bien, mesa ami.”

Rei Ban: “Permitam-me presentér, mon fils!”

O Cavaleiro misterioso, que limpava a lâmina suja de sangue de sua espada, se aproxima. Ele para e fala ainda com o elmo na sua cabeça.

Cavaleiro misterioso: “Brian, Bernard e Robert? São vocês?”

Ele ergue a viseira de seu elmo prateado. 

Cavaleiro misterioso: “Sou eu! Lembram de mim?”

Então Bernard, Robert e Brian vêem o rosto do homem com a mesma idade deles. Ele retira o elmo e o coloca embaixo do braço, exatamente igual ao seu pai, Príncipe Madoc Pendragon. 

Sir Bernard: “Galahad? É você?”

Sir Lancelot: “Galahad? Esse agora é o nome do meu filho, meus amigos. Podem me chamar de Lancelot. (ele olha ao redor) É ótimo estar em casa mais uma vez.”   

Nesse momento Merlim sai do interior do pavilhão com a Chave de Salomão em suas mãos. Ele parece ter envelhecido uns 15 anos.

Merlim: “Atenção Britânicos! O Rei sobreviverá. O ferimento que teve foi somente um arranhão e uma pequena cicatriz na faz mal a nenhum grande guerreiro. Ele pediu para que se preparem para voltarmos à Londres. Reúna as tropas Barão Brian. O inverno chegará e na cidade as provisões de nossos aliados garantirão que sobrevivamos.” 

Ano 511, três meses depois:

No início do ano 511 o inverno faz com que as estradas estejam bloqueadas pela neve e pelo gelo. Londres, se ergue no vale do Tâmisa, como uma nova cidade. Desde que a cidade caiu, irrompendo em chamas, e com a fama de feiticeiro de Merlim se espalhando por todos os cantos da ilha, os saxões não ousaram se aproximar da região. Os aldeões e seus senhores retornam as suas terras e os feudos que tiveram a primeira boa colheita, antes do inverno e resistiram aos “raides” saxônicos, dividem suas provisões com os feudos que sofreram saques. Muitos comentam que o jovem Rei Arthur está curando a terra e unindo a Britânia depois de ter escapado da morte no último ano. No norte os rebeldes continuam a se recusar a dobrar seus joelhos ao jovem Rei. 

Torre Branca:

A Torre Branca está parcialmente reconstruída. Mais alguns anos será necessário para o castelo ser o que foi por centenas de anos. Os heróis e seus escudeiros estão no grande salão do castelo, sentados na mesa do conselho. A grande lareira os aquecem e os cachorros caminham entre eles. A porta de madeira se abre e Arthur entra com o peito enfaixado, caminhando lentamente. Estão todos os Cavaleiros da guarda real reunidos ali, inclusive Gawaine com uma cicatriz no rosto e com um dos olhos cauterizado. 

Rei Arthur: “Boa tarde, meus amigos. Recebi um pássaro ontem; são notícias de Silchester. As torres que seu pai construiu, Bernard, serviu como refúgio para os aldeões. Agora elas estão prontas e os arqueiros defendem as fronteiras do Ducado sem deixar os saxões entrarem. Dizem que a luta está intensa por lá. Vocês sabem que esperamos os bárbaros virem nos últimos dois anos e eles não vieram. Soube que eles estão atacando o norte nesse momento.”

Conde Robert: “Estão se cagando de medo, majestade. Quem tem Merlim tem a pica maior!”

Rei Arthur: “É verdade meu amigo. Mesmo assim estive pensando... Todos os castelos  devem ser construídos de pedra; como Tishea e Windsor. Temos os construtores franceses que sabem fazer esse trabalho. Eu ajudarei cada nobre da ilha com vinte libras. Nossos feudos estarão mais protegidos. Infelizmente Barão Brian, tenho uma notícia um pouco ruim. Sua mãe, Adwen, foi trazida de Dinton para cá; pelos cristãos; para ser julgada. Ela está nas masmorras da Catedral de São Paulo e mantida segura pela guarda real composta pelos homens do Rei Alain, Rei Leodegrance, Duque Sanam, Duque Enrick, Rei Ban e Boors. Você pode visitá-la quando quiser, meu amigo.” 

Masmorra: 

Brian, depois do almoço, caminha sozinho até a Catedral de São Paulo que está sendo reconstruída. Os guardas escoltam o Barão até as criptas e depois por um corredor que o leva até uma escada em caracol. Descendo até as masmorras escuras da Catedral, apenas algumas tochas iluminam o corredor onde caminham alguns ratos. O carcereiro, magro como um cabo de vassoura, segue na frente. O cheiro de urina e fezes é forte. Algum louco coloca o seu rosto na grade de uma das portas cuspindo no Barão. Em outra cela alguém chora. Então o carcereiro abre uma porta. A mãe de Brian, Adwen, continua bonita e com a aparência de 18 primaveras. Não parece ter envelhecido um dia. Ela se levanta de um canto escuro. 

Adwen: “Filho, é você?” 

Barão Brian: “Sim, mãe!”

De seus olhos vertem lágrimas de medo.

Adwen: “Os cristãos irão me julgar, acho que não terei chance alguma. Eu matei o Arcebispo deles; seria como matar Merlim para a nossa religião. Dizem que o novo rei é bom. É verdade?” 

Barão Brian: “Sim, mãe. Ele tem um coração de ouro.”

Adwen: “Agora meu destino está nas mãos dos bispos.” 

Os dois se abraçam por longas batidas do coração até que os guardas abrem a cela e pedem para o Barão deixar as masmorras.

Julgamento:

No dia seguinte, na praça central, Adwen é trazida das masmorras. Ela vem vestida com uma túnica branca, suja e puída. Os guardas caminham com a Baronesa carregada pelos braços. Enquanto os cristãos reunidos nas ruas, que levam até a praça, a insultam e atiram alimentos podres e pedras. Alguns a chamam de bruxa, outros de herege. Ali no centro existe um palco montado com um local para Adwen ficar ajoelhada à frente de uma mesa cheia de bispos. Na frente do palco uma grande fogueira, com uma estaca central e cordas de cânhamo para prender os pulsos da condenada, aguarda a sentença. A Baronesa Adwen sobe as escadas que levam até o palco. Os nobres estão sentados em uma espécie de camarote construído em meia lua ao redor do elevado. 

Bispo Weylin: “Baronesa Adwen! É acusada de matar o Arcebispo Dubricus e de praticar bruxaria para se manter nova e bela utilizando sacrifício humano para tal. Como se declara?”

Baronesa Adwen: “Me declaro culpada de matar o Arcebispo.”

Bispo Weylin: “Então eu a condeno a morte na fogueira, bruxa!” 

Brian, filho da acusada, se levanta indignado e salta até o palco tocando a espada presa à cintura.

Barão Brian: “Não! Eu não aceito! Matarei todos se for preciso.” 

Rei Arthur: “Esperem!” 

O Rei Arthur salta do camarote no palco abaixo fazendo uma careta de dor.

Rei Arthur: “Acalmem-se! Vou lhes dizer uma coisa: Tem algo errado aqui; muito errado. Qualquer um que sofre algo realmente ruim deseja vingança; qualquer pessoa! Mas a vingança nubla nossos sentidos; se nós mesmos julgarmos nossos inimigos pessoalmente sempre iremos condená-lo; seja ele inocente ou culpado!” 

Padre Carmelo: “Permitam-me Majestade e Bispos. O que aconteceu com o Arcebispo Dubricus não está na esfera dos Santos ou do Cristo. Está no mundo dos homens. Visto que o Arcebispo aceitou até mesmo estar com uma mulher em seu santo pavilhão. Os interesses de Dubricus eram humanos. Queria poder e ouro e para isso usou armas humanas como a traição e a cobiça. Como bem disse o nosso Rei; sempre o caminho mais fácil é o da vingança. Agora, enxergar a fundo o que aconteceu e tomar uma decisão baseada na igualdade dos ensinamentos de nossa religião, na crença de que somos irmãos, aliás não na crença, mas no fato de que somos todos filhos de Deus e que sempre podemos ter uma segunda chance, esse sim deve ser a busca das verdadeiras motivações do que levou a Baronesa a tirar a vida do Arcebispo Dubricus.”

Bispo Weylin: “Mas, não há o que se contestar. A Baronesa matou e deixou nossa Igreja sem um líder.”

Rei Arthur: “Está certo... Padre Carmelo, por favor se aproxime. Você é um bom cristão, um dos homens de fé mais inteligentes e corajosos que já conheci. Padre Carmelo sempre foi portador da espada de São Paulo, a Sanctu gladius, e a preservou, assim como a fé ao novo Deus. Por ser um exemplo bom aos homens dessa ilha. Então eu o declaro: Arcebispo da Igreja Cristã Britânica.” 

Os cristãos se dividem e cochicham. Os bispos ficam chocados com a decisão do jovem Rei: como pode um homem simples, sem nascimento elevado, romano, ser nomeado Arcebispo? Padre Carmelo parece não acreditar por um instante.

Bispo Weylin: “Como diz nosso costume ancestral: uma vida pela outro. Quem são vocês para afrontar séculos de tradição?” 

Padre Carmelo: “Somos os seguidores do novo e jovem Rei. Da Britânia nascida do sangue e fogo de nossos ancestrais. Dos que seguiam os antigos Deuses que sempre serviram nosso povo. O novo Rei Arthur que segue os passos de seu pai, o grande Uther Pendragon que desde seu reinado aceitava Cristãos e seguidores da Deusa caminhando lado a lado. Discípulos de um novo tempo nascido da anarquia e do caos. Não é, Majestade?”

Rei Arthur: “Sim, Arcebispo Carmelo! Eu peço que sejam justos, bispos da Britânia! Não, como seu Rei, mas como um homem da Britânia. Libertem a Baronesa Adwen e então nos deixem levá-los à uma era de paz e tolerância. Na igualdade, na real justiça e na união de nosso povo. Cristãos, vocês podem fazer a diferença ao lado de seus irmãos pagãos. Eu, Rei Arthur Pendragon, lhes garanto direitos e garantias reais de que serão respeitados, sejam aldeãos ou nobres, como iguais; assim, finalmente poderemos fazer da Britânia um lugar bom de se viver novamente!”

Então o povo começa a gritar: “Libertem a Baronesa Adwen!”, “Libertem a mãe do Barão!”, “Libertem-na!”

Os Bispos concordam com um aceno de cabeça. Então a baronesa Adwen é retirada dos grilhões que prendiam suas pernas e pulsos e corre em direção ao seu filho. Os dois se abraçam e choram por longas batidas do coração. 

Então a corte de Arthur deixa a praça sobe aos aplausos de todos e se dirige a Torre Branca. 

Arcebispo Carmelo: “Seu pai de criação, Sir Ector, ensinou-lhe a ler muito bem, Majestade.”

Rei Arthur: “Obrigado arcebispo! Conhece esse livro, Barão Brian? Padre Carmelo disse que foi um dos poucos que sobrou da Toca do Lobo, depois que ela foi atacada pelos saxões. Era da biblioteca de seu pai e eu e Merlim passamos a noite inteira  estudando-o para tentar salvar a Baronesa. Ele é seu novamente.” 

O livro: Aristóteles, Ética e Justiça. 

Barão Brian: “Obrigado, Majestade! Irei lê-lo e guardarei com muito carinho.”

Intrigas: 

Alguns dias depois do julgamento, corre entre o pagãos da ilha que o novo Rei Arthur privilegiou os cristãos, escolhendo um Arcebispo de sua confiança, assim como foi corado na Catedral de São Paulo; um templo cristão. 

Merlim: “Majestade, precisamos dar uma prova aos pagãos da ilha que você está ao lado deles. Em Stonehenge iremos fazer uma comemoração de Beltane, após muitos anos, à todos os seguidores da Deusa. Acho que Vossa Majestade deveria participar.”

Arthur: “Iremos Merlim. Afinal Avalon escolheu a maioria do Cavaleiros que me protegem; devo meu trono a ilha sagrada e a Senhora de Avalon.”

Beltane:

Quando vem o desgelo e as flores voltam a colorir as colinas, a comitiva real parte de Londres em direção ao Stonehenge no primeiro dia da primavera. Os pagãos o seguem em peregrinação, aos milhares, pela estrada que serpenteia as colinas. No último dia de viagem, eles cruzam a ponte de pedra romana por cima do rio Avon, passam pela Abadia de Amesbury, seguindo a estrada que desce enquanto as árvores de tília acompanham a velha estrada romana. À frente, no topo de uma colina, surge o círculo sagrado de Stonehenge, no início da tarde. O campo está todo iluminado por fogueiras. Milhares de pessoas já estão presentes e todos se ajoelham quando o novo rei se aproxima. O Rei Arthur e seus Cavaleiros são recebidos com chifres cheios de hidromel.  

Rei Arthur: “Escutem! Feliz Beltane à todos. Espero que celebrem os velhos deuses e a vida. Iremos acampar aqui mesmo homens. No meio de nosso povo.” 

Os aldeões o aplaudem entusiasmado.

Sir Sagramor: “Fiquem atentos! Não sabemos se os rebeldes tem alguém infiltrado entre o povo.”

De cima da pedra central, do círculo de pedra sagrada, vem uma voz com sotaque da Terra dos Francos afeminado. Bernard e Brian a reconhecem de imediato e falam ao mesmo tempo: “Adrien!”

Adrien: “Olá pagãos! Amigos de toda a Britânia! Rei Arthur Pendragon quanta honra; Brian e Bernard, se tornaram homens de verdade. Uh lá, lá, um gigante de ébano! É Sagramor! Muito bem; chamo todos os aldeões a participarem da primeira compétition. Um grande teste de resistência: A dança celta do tapa na cara.”

Arthur: “Escutem todos! Quero oferecer ao vencedor uma cota reforçada normanda que ganhei do Rei Boors da Terra dos Francos. Não prometemos igualdade, Cavaleiros? Então venham!”

A música toca animada enquanto os participantes, o próprio Rei Arthur, seus cavaleiros, pescadores, mineradores, pedreiros e lenhadores, dão tapas em suas próprias pernas e peito fazendo uma coreografia engraçada. O último que resistir de pé aos golpes de seu par de dança, no rosto, ganhará a competição. Então a música para. O Rei Arthur leva um tapa forte do Barão Brain, dá três passos, e cai com o rosto vermelho, já dando risada. Breno, escudeiro do Barão, acerta o rosto de Cormak que desaba. Bernard leva um tapa tão forte, das mãos calejadas de um Minerador veterano, que perde os sentidos por algumas batidas do coração. Sir Lancelot derrota Conde Robert que não consegue se equilibrar direito enquanto Carmelo cai com as pernas abertas, mostrando as suas vergonhas, com um tapa de um lenhador no meio de sua cara. Já Sagramor com a mão enorme derruba um forte e ruivo ferreiro que se espalha no chão desmaiado. A competição avança mas não tem jeito de os heróis vencerem, o enorme Minerador Zethar e o fortíssimo Sarraceno se enfrentam na final. E é o cavaleiro escuro, Sir Sagramor, que sai como o grande vencedor.

Adrien: “Palmas ao vencedor! Por favor Majestade, pode entregar o prêmio ao grande campeão!” 

O jovem Rei Arthur, com as marcas dos dedos vermelhos no meio do seu rosto, entrega a cota normanda ao forte cavaleiro vencedor.

Já no meio da tarde, todos se sentam pelo campo comendo frutas de cornucópias e bebem hidromel, sidra e vinho. O escudeiro Breno Stanpid, com os seus 13 verões, já está com a cabeça girando de hidromel e arranca gargalhadas de todos. Os aldeões, Lordes e druidas passam cumprimentando à todos. Arthur atende seu povo pacientemente; conversando com cada pessoa e escutando o que elas passaram em tempos de guerra.

Sir Lancelot: “O Rei Arthur é um bom homem, não é? Então, meus amigos, eu ainda não tive a oportunidade de contar à vocês como foi minha vida depois que deixei a ilha. Eu não sei o que minha mãe fez. Mas o fato é que deixamos Avalon as pressas e partimos em um navio mercante para a terra dos Francos. Lá fomos recebidos pelo Rei Ban que se apaixonou por ela. Eles se casaram, apesar dos padres serem contra, e ele me adotou e me criou como um verdadeiro pai. Voltei a ilha algumas vezes tentando rever uma moça, tão bela que tinha conhecido nas Brumas, certa vez quando tentava buscar o Reino de meu Avô: Oberon das Fadas. Encontrei-a. Se chamava Healing; uma fada de cabelos dourados! Linda como a noite mais estrelada e perigosa como o mar mais profundo. Nos apaixonamos e nos amamos. Vivemos um dia como se fosse uma vida e nunca mais eu a vi; quando chegamos para a coroação do novo Rei, há algumas luas, procurei por ela. Numa noite ela me visitou; disse que carregava meu fruto em seu ventre. Uma criança tão pura, filha de duas almas que viviam entre os véus, que separavam os dois mundos, que eu teria que mudar o meu nome pois ela me ultrapassará em valor. Então, passei a usar o apelido que meu pai adotivo sempre me chamou em francês: Lancelot du Lake, em celta: Guerreiro do lago.”

Então Merlim se aproxima, cochicha no ouvido do Rei Arthur e os dois saem dali juntos. Ao mesmo tempo um cavaleiro chega. Ele é Irlandês. Veste roupas caras e tem uma bonita espada incrustrada de esmeraldas. Seus cabelo é curto e vermelho e seus braços cheios de tatuagens.

Sir Lanceor: “Como vão Cavaleiros! Sou Sir Lanceor da Irlanda. Parece que seu Rei está muito ocupado, não é? Lutei muitos anos no exército de Nanteleode com os homens de meu pai. Lembro de você garoto; é Breno. Vocês é filho de Sir Oswalt? Matou um gigante! Incrível! Fiquei na Britânia por motivos do coração, meus amigos; recusei o chamado de meu pai para voltar para casa. Quando nos apaixonamos ficamos cegos e é a nossa perdição. Agora não posso mais fazer nada a respeito. Mas bebamos as mulheres amigos! Como viver sem elas?”

Então um grupo se aproxima; lanceiros usando kilte e o brasão do rei Lot escoltam uma mulher de uns 35 verões com cabelos levemente avermelhados soltos, olhos verdes e emanando uma força de uma verdadeira pagã. Dois rapazes a escoltam; Gaheris e Agravaine filhos do Rei rebelde Lot. Os Cavaleiros de Arthur os reconhecem das Batalhas dos últimos anos. 

Margawse: “Guardem sua ira para outro dia, Cavaleiros; hoje é Beltane, é dia de festa. Fui iniciada nos auspícios de Avalon quando era garota e vim renovar os meus votos a Grande Mãe de todos nós, como a maioria de vocês. Viajei de muito longe para participar dos ritos e nesse dia festivo para conhecer o meu irmão, Arthur Pendragon. Sou Margawse de Lothian, filha de Igraine, esposa do Rei Lot. Venha me dar um beijo Gawaine. Soube que é um grande guerreiro.” 

Mãe e filho se abraçam. Ela olha no ferimento em seu rosto.

Margawse: “A marca de quem escolheu essa vida meu filho. Mas, onde está o grande Rei?”

Sir Bernard: “Ele se retirou acompanhado de Merlim, minha Senhora."

Margawse: “É uma pena! Desculpem mas tenho que me retirar. As sacerdotisas me aguardam para me prepararem para os ritos.”

Em meio as comemorações uma sacerdotisa de Avalon desfila por entre os pagãos acompanhada por uma menininha. Ela  usa um vestido que flutua ao vento, assim como uma coroa de flores nos cabelos. Ela leva uma espada presa à cintura. Bernard reconhece sua madrasta e sua irmã, mesmo que pareçam por vezes etéreas e estranhas à ele, que vivem do outro lado do véu.

A Dama do Lago: "Atenção filhos dos Deuses! Eu lhes proponho um desafio vindo do outro lado do véu. Somente o melhor cavaleiro presente conseguirá, dentre vós, retirar a espada da bainha. Somente ele poderá alcançar tal honra."

Todos os presentes tentam retirar a espada em vão. Então um cavaleiro se apresenta; pela sua aparência ele aparenta ser muito pobre; usa um crucifixo de madeira no pescoço; com os anéis da sua cota cheia de remendos, sem escudeiro, com uma espada simples, sem nenhum trabalho artístico feito nela, usando um elmo, maior que sua cabeça. 

Sir Bernard: “É Balin! Lembra Brian, o rapaz meio saxão que foi acusado de roubo quando éramos crianças, no castelo de Tishea.”

Ele se aproxima, enquanto as pessoas ficam em silêncio o observando, e então retira a espada da bainha; todos suspiram quase ao mesmo tempo. A lâmina é de um vermelho carmim misturado aos padrões que lembram escamas de cobra; a empunhadura tem rubis que ornamentam os olhos de uma cabeça de um cabrito.

Dama do Lago: "É o melhor cavaleiro que encontrei. És digno de confiança e não vejo vilania em seu coração; os deuses agora olham para ti. Agora, pode me devolver a espada que foi forjada com o sangue e os ossos de meu pai; Sir Amig de Tishea?"

Sir Balin: "Não, esta espada agora me pertence, fada; caminha entre os homens procurando um ser digno de seus jogos para se divertirem as custas dos homens."

Ellen: “Não deixe ele ficar com ela, mãe.”

Bruma Prateada: "Não é sábio o que está fazendo homem. Que seja feita a sua vontade. A espada é sua, mas a Julgadora é a lâmina que irá o levar a derrocada. Com ela você matará a pessoa que mais amou em sua vida."

Sir Balin: "Que assim seja! Que Deus me proteja. De agora em diante, nesse dia de páscoa, eu me declaro o cavaleiro das duas espadas."

Nesse momento ninguém mais vê a mulher que trouxe a espada; parece ter sumido no ar e deixado um terreno cheio de água onde ela estava. 

Sir Balin: "Quem eu procurava, infelizmente, não está presente." 

Então ele vai embora dali com cara de poucos amigos.

Adrien: “Atencion, Celtas! O primeiro grande sacrifício será feito. Convoco o homem, o mais corajoso, aquele que quiser se cobrir de glórias e ganhar a atenção dos deuses nessa noite. Com o prêmio vindo de Avalon, uma sacerdotisa, a mais bela das belas podendo passar a noite ao seu lado. A arena está aberta.”

Todos correm para um buraco escavado perto do círculo sagrado. É ali que os sacrifícios serão postos no momento principal do ritual. Todos escutam os rugidos de um grande animal vindo lá de dentro. O Rei Arthur e seus cavaleiros abrem caminho até a beira do buraco e lá dentro um grande urso está de pé urrando. Uma linda mulher ruiva desce corajosamente por uma escada de corda que é içada quando ela chega lá embaixo. Ela possui olhos verdes e veste uma túnica branca. Seu corpo foi todo desenhado com runas. Um dos dois será sacrificado aos deuses. O animal se aproxima dela. Com um sorriso no rosto ela fica imóvel no centro da arena.

Um rapaz usando uma faca, um aldeão corajoso, salta lá dentro e tenta se colocar entre o urso e a moça. Então o urso dá um passo à frente e arranca com a garra a cabeça dele. O seu corpo, manchando a terra de sangue fica por longas batidas do coração em convulsões. 

O Barão Brian salta lá de cima até o fundo do poço. Todos suspiram impressionados e o sangue de todos gelam. O animal o ataca com as garras derrubando-o. Ele abre um talho no pescoço do Barão. Quando ele tenta mordê-lo o Herlews rola para o lado e desfere um golpe de espada cortando uma das garras da criatura. Mas o urso é mais rápido e usando a cabeça prensa o elmo de Brian contra as escoras de madeira que forram o buraco. A peça de aço resiste. Por algumas batidas do coração Brian sente sua visão escurecer enquanto está preso sem saída. O urso abre a boca e tenta abocanhá-lo, mas o Barão é mais rápido e enfia espada garganta adentro da criatura, fazendo a lâmina sair pelo topo da cabeça do animal que estremece e desaba diante de seus pés. Sobe os aplausos de todos Brian retira a pele do urso com a sua adaga. A sacerdotisa se aproxima, pega na mão do Barão, enquanto o leva para a mata próxima. 

TAMBORES: 

Anoitece e todos os animais (melhores cachorros, carneiros, cavalos, bois, lebres, galinhas) e prisioneiros saxões são levados para o buraco onde estava o urso. Enquanto todos dançam, ao som de duzentos tambores tocados por aldeões nus pintados todos de azul. O ritmo vai aumentando enquanto as pessoas se voluntariam para sacrificar os animais. O escudeiro Cormak salta para dentro do buraco e ajuda na matança entrando em transe.

Finalmente no início da madrugada o rito mais importante ocorre; todos se reúnem ao redor do Stonehenge. Os milhares de aldeões e nobres batem palmas compassadamente enquanto os tambores pulsam afinando o véu que separa os dois mundos. Merlim se aproxima vindo da multidão e à sua frente um homem jovem caminha. O rapaz está vestindo somente uma calça de couro de gamo dourado, sem camisa, e com a cabeça do mesmo animal, com chifres enormes no topo, com a pele cobrindo suas costas. Seu tronco e rosto estão pintados com runas célticas e espirais azuis. Ele sobe na pedra central do círculo sagrado. 

Merlim: “Mais uma vez o Sabbath da fertilidade nos alcança na roda da vida. Vamos celebrar o casamento dos Deuses. As fogueiras estão acesas. Agradecemos pelo fim da metade escura do ano, e pelo início da época da luz. Ao amanhecer o mundo pertencerá ao Deus Sol, e a metade Luz do ano terá início. Ó Deusa Mãe, rainha da noite e da Terra, ó Deus Pai, rei do dia e das florestas, eu celebro sua união enquanto a natureza se alegra num ruidoso banho de cor e vida. Aceitem meu presente, Deusa mãe e Deus pai. Em honra à sua união. Que o jovem Rei da Britânia, Arthur Pendragon seja o nosso Deus consorte. Tome a adaga sagrada de pedra lascada e cace o gamo dourado. Banhe-se no sangue do animal e busque a caverna onde a Deusa lhe aguarda. Lá, restaure a luz, para o novo mundo, que a natureza nos trará ao amanhecer. Que assim se faça!”

Então, Arthur se curva caminhando ao redor farejando o ar. Os tambores se intensificam e ele não é mais o Rei da Britânia, ele é o Deus consorte pagão. Então no caminho que passa por cima do foço, que circula o círculo de pedra, ele corre como um caçador obstinado sumindo na escuridão em direção à floresta oculta pela noite. Muitos gritam comemorando enquanto dançam ao redor do círculo sagrado enquanto outros buscam a privacidade da escuridão para fazerem amor. A bebida e a comida são encontradas por todos os lugares enquanto um boneco enorme de palha é queimado em homenagem aos Deuses. Os Cavaleiros também flertam com as beldades presentes e passam a noite com elas.

Nas últimas horas da madrugada todos se reúnem ao redor do círculo novamente. O Rei Arthur retorna. Todo arranhado, com alguns cortes no peito, sujo de sangue e com a cabeça de um grande gamo em suas mãos. Ele sobe na pedra central. Todos ficam em silêncio olhando para leste. Um pequeno pedaço do sol ilumina o horizonte deixando as nuvens baixas e o céu escuro se torna amarelado. O grande astro rei sobe e um raio de luz percorre o meio da pedra iluminando, precisamente, o Rei Arthur representando o Deus consorte; todos se ajoelham e abaixam as suas cabeças. Quando o raio deixa de iluminar a pedra, o Rei Arthur caminha por entre as pessoas ajoelhadas tocando a cabeça daqueles mais próximos à ele. Esses serão abençoados com boa sorte. Ele passa por seus amigos e toca suas testas sorrindo e deixa Stonehenge mais uma vez. 

As pessoas se levantam e se abraçam felizes, ao redor as milhares de fogueiras se extinguem e todos se preparam para ir embora. Após algum tempo, o jovem Rei Arthur chega limpo e vestido com sua túnica com o brasão dos Pendragon, acompanhado por Merlim.

Rei Arthur: “Olá amigos! Foi uma experiência incrível. Entrei na mata, meus sentidos ficaram aguçados, parecia que eu tinha sido transformado em um animal de caça. Senti o cheiro do Gamo e fui me esgueirando atrás das árvores. As estrelas pareciam diferentes; outra época, outro tempo pra lá do véu. Mas achei o animal. Foi difícil, o gamo era enorme e forte; me chifrou e me mordeu. Por fim o matei e me banhei em seu sangue. Depois vi uma luz na mata e fui até lá; era uma caverna cheia de cipós caindo pela entrada. No interior dela foram esculpidas runas pelas paredes e lá dentro, em uma pedra, uma mulher me aguardava usando uma máscara ritualística, toda pintada de espirais e estava nua. Fizemos amor, foi uma sensação tão intensa e incrível. Depois os tambores começaram a tocar me chamando para retornar ao círculo sagrado; nem sequer soube o nome dela.” 

Sir Bernard: “A sua irmã, a Rainha Margawse veio lhe conhecer.” 

Rei Arthur: “Nossa! É mesmo? É uma pena não ter-la visto... Nossa, que dia incrível.”

Todos percebem o rosto de Merlim mudar de expressão e ele comentar em silêncio consigo mesmo. 

Merlim: “A Rainha se tornará Deusa e o Rei Deus derramará sua semente que gerará o pomo que extinguirá o dragão. O preço da vida de Arthur, o preço da magia...”

Rei Arthur: “O que disse Merlim?”

Merlim: “Nada majestade! Olhe como o seu povo te ama depois de ontem. Aproveite o momento, pois mais um passo em direção a um novo tempo foi dado.”


FIM












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